UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Ciências Econômicas - Departamento de Ciências Econômicas Microeconomia III Prof. Edson Domingues Segunda Prova – 35 pontos 1) (12 pontos) A função de utilidade da renda de um indivíduo é u ( z ) = z , em que z é um valor monetário. O indivíduo possui um emprego que paga um salário fixo de R$1600. Ele tem a possibilidade de largar esse emprego e gerenciar um empreendimento que permite um ganho de R$2500 sob condições favoráveis e R$900 sob condições desfavoráveis. A probabilidade de cada uma dessas situações é igual (50% de chance para cada). Assuma que o indivíduo toma suas decisões envolvendo risco de acordo com uma função de utilidade esperada. a) Calcule o valor esperado da renda no empreendimento de risco e a sua utilidade esperada. Discuta se o indivíduo irá largar o emprego de salário fixo e assumir o empreendimento de risco. b) Caracterize a atitude do indivíduo quanto a risco (avesso, propenso ou neutro) a partir do conceito de prêmio de risco. c) Mostre como o grau de aversão do indivíduo em relação a risco muda com a riqueza (utilize o coeficiente de aversão a risco dado por –u”(z)/u’(z) ) a) O valor esperado do empreendimento é igual a: VE=0,5(2500)+0,5(900)=1250+450=1700 Utilidade esperada = 0,5 (2500)1/2 + 0,5 (900)1/2=25+15=40 A utilidade do emprego de salário fixo é (1600)1/2 = 40 O agente está indiferente entre o emprego de salário fixo e o empreendimento, uma vez que os dois geram a mesma utilidade esperada. b) O prêmio de risco (PR) corresponde à diferença entre o valor esperado da loteria e o valor do equivalente de certeza (EC). Esse prêmio mede o montante de renda do qual o agente abre mão para se tornar indiferente entre a loteria e um resultado certo. u(EC) = Utilidade esperada u(EC) = 40 (EC)1/2 = 40, logo EC=R$1600 Como o valor esperado da loteria é R$ 1700, o prêmio de risco é dado por PR=VE-EC=1700-1600=100 Prêmio de risco positivo significa indivíduo avesso a risco. Se fosse negativo, ele deveria receber uma quantia monetária para sair da loteria c) O coeficiente de aversão a risco CAI com o aumento da riqueza: u' ( z) = 1 −1 / 2 z 2 1 u" ( z ) = − z − 3 / 2 4 1 −3 / 2 z u" ( z ) 1 z −2 d (CA) CA( z ) = − =− 4 = 2 z −1 / 2 z −3 / 2 = → = − z −3 < 0 1 −1 / 2 u'( z) 4 2 dz − z 2 2) (12 pontos) Uma cidade tem 2000 habitantes, os quais consomem apenas um bem privado. Será construído nesta cidade um bem público: uma piscina. Suponha que 1000 habitantes tenham a função de utilidade U ( X i , G ) = X i + 30 ln(G ) , e os demais possuem função de utilidade U ( X i , G ) = X i + 70 ln(G ) , em que X i é a quantidade do bem privado consumido pelo indivíduo i e G é o tamanho da piscina, em m 2 . Suponha que o preço do bem privado é R$ 1 e o custo de construção da piscina é dado por C (G ) = 5G 2 . Responda: a) Interprete a condição de eficiência de Pareto para a provisão do bem público nesse problema. b) Qual o valor de G (tamanho da piscina) que é Pareto eficiente? Qual o custo total e marginal de construção dessa piscina? c) Se o governo pudesse cobrar um imposto de cada indivíduo para financiar a construção da piscina, qual deveria ser seu valor? Existe algum mecanismo de contribuição voluntária de forma a que os indivíduos pudessem viabilizar a construção da piscina. a) A soma das taxas marginais de substituição deve ser igual ao custo marginal de produção do bem público: 2000 CMg (G ) TMS i = ∑ 1 i =1 Ela decorre da externalidade gerada pela provisão do bem público e do fato de que todos os agentes consomem a totalidade do bem, daí a soma dos benefícios marginais deve igualar o custo marginal do bem público na provisão eficiente do bem público b) Adotando A para os primeiros 100 indivíduos e B para os outros 100. Assim: TMS A = Cond 30 / G 30 70 / G 70 TMS B = = = 1 1 G G de eficiencia de Pareto : 1000TMS A + 1000TMS B = CMg (G ) P 30 70 10G + 1000 = 1 G G 30.000 + 70.000 = 10G → 100.000 = 10G 2 → G = 100 G C (100) = 5.(100) 2 = 50.000 CMg (G ) 1000TMS A + 1000TMS B = P 1000.0,3 + 1000.0,7 = 1000 300 + 700 = 1000 1000 O tamanho da piscina deve ser de 100m2. O custo total é de R$ 50.000 e o custo marginal é de R$1.000. b) O pagamento pode ser proporcional ao benefício marginal, então os 1000 indivíduos do tipo A devem arcar com 30% do custo e os 1000 indivíduos do tipo B devem arcar com 70% do custo, que é a proporção do benefício para cada tipo. Assim, o custo de cada indivíduo deve ser 0,3.50.000/1.000=15 e o de cada indivíduo do segundo tipo deveria ser 0,7.50.000/1.000=35. Em geral, mecanismos de votação ou contribuição voluntária não chegam a um tamanho eficiente desse bem porque é um bem público e os agentes tendem a pegar carona. 3) (12 pontos) Com relação ao conceito de externalidades e escolha sob incerteza, responda e justifique (respostas sem justificativa não serão consideradas): a) A instalação de uma fábrica de automóveis numa cidade do interior causou um aumento geral nos preços dos imóveis, devido ao influxo de operários. Pode-se então dizer que a instalação da fábrica representou uma externalidade para os moradores da cidade? b) O estudo elementar, garantido pela Constituição Federal, é um bem público? c) O que significa a hipótese de independência na escolha sob incerteza? Quais suas implicações para a forma da função de utilidade esperada? a) Falso. Uma externalidade na produção ou consumo ocorre quando não existe um mercado de trocas para aquele bem específico. No caso particular do problema ocorreu um excesso de demanda que se traduziu em elevação do nível de preços. b) Falso. Bens públicos são caracterizados por duas propriedades: não rivais e não excludentes. A propriedade de não excludência significa que o bem público não pode ser restrito a um grupo específico de pessoas. A propriedade de não rivalidade significa que a quantidade consumida de determinado bem não altera a disponibilidade de bens existente para os demais indivíduos. A educação é um bem privado em geral financiado e produzido pelo setor público. A racionalidade econômica que explica a intervenção governamental neste setor diz respeito ao objetivo de maximização de bem estar e não está relacionada à natureza de bem público. c) Sob condições de incerteza há uma espécie natural de independência entre os diferentes resultados porque eles possuem a característica de serem consumidos de maneira separada – em diferentes estados da natureza. As escolhas que as pessoas desejam fazer num estado devem independer das escolhas planejadas em outros estados. Essa hipótese de independência implica que a função de utilidade do consumo contingente terá uma estrutura especial, que é a aditividade na utilidade das diferentes cestas contingentes.