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RETIRO DO MÊS DE SETEMBRO
23º DOMINGO DO TEMPO COMUM
Leituras:
Isaías 35,4-7a
Salmo 146 (145)
Tiago 2,1-5
Marcos 7,31-37
1. Roteiro para a oração
a) Antes de começar prepare o ambiente como de costume: uma mesa com toalha, a Bíblia, uma vela, se
possível cadeiras em círculo...
b) Alguém acende a vela, enquanto se canta o refrão meditativo:
“Indo e vindo trevas e luz tudo é graça, Deus nos conduz”.
c) Pessoas previamente preparadas proclamam o evangelho, a primeira leitura e por fim a segunda.
d) Leitura e oração pessoal.
e) Partilha da experiência orante em grupo.
f) Canto: Salmo 146, convite a bendizer o Deus libertador que “faz justiça aos oprimidos, alimenta os famintos,
abre os olhos aos cegos, levanta os caídos, protege os estrangeiros, ampara os órfãos e as viúvas”.
g) Terminar com o Pai Nosso e a oração da liturgia do dia: “Ó Deus, Pai de bondade, que nos redimistes e
adotastes como filhos e filhas, concedei aos que creem no Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna. Por
nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”.
2. Aprofundando os textos bíblicos
Marcos 7,31-37 apresenta a cura do surdo-gago na Decápole (dez cidades), região marginalizada por ser
povoada principalmente de gentios. Enquanto anunciava a Boa Nova do Reino de Deus, “levaram a Jesus um
surdo que falava com dificuldade e suplicaram que impusesse a mão sobre ele”. O testemunho dos que aderiram
a Jesus e se deixaram transformar por sua palavra conduz outras pessoas no caminho do seguimento.
Jesus leva a pessoa longe da multidão, da ideologia dominante que considera os enfermos impuros e pecadores.
A maneira como a pessoa é curada, na intimidade com Jesus, transformada pela vida nova que oferece, revela o
caminho para ser discípulo missionário. Jesus “colocou os dedos nos ouvidos da pessoa e com saliva tocou-lhe
a língua. Olhou para o céu, suspirou e disse: Efatá, isto é, Abra-se”. Ao levantar os olhos ao céu, ele revela a
confiança no Pai e ensina a permanecer em comunhão com Deus para realizar a missão com eficácia.
Ao comunicar a força da vida divina que abre os ouvidos e os corações das pessoas, Jesus realiza plenamente a
esperança messiânica de salvação anunciada em Is 35,5-6. Assim, ele manifesta o Deus que vem ao encontro do
ser humano, para libertá-lo e conduzi-lo no caminho da vida nova do amor e comunhão com o Pai e os irmãos.
Suas palavras e gestos levam ao compromisso com o Reino, a abrir o coração para acolher o seu projeto a
serviço da vida plena. A experiência com Jesus e sua palavra de salvação conduz o surdo-gago a ouvir e a falar
perfeitamente, diferente das autoridades dos judeus e também dos discípulos que têm dificuldade de escutar e
compreender (8,14-21).
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Como o leproso em 1,40-45, a pessoa libertada não permanece em silêncio; testemunha a alegria do encontro
com o Senhor que abre os ouvidos para a escuta e solta a língua para o anúncio de sua palavra, tornando os
excluídos protagonistas de um mundo novo, sem preconceitos. A Boa Nova do Reino de Deus manifesta-se por
si mesma, através da prática libertadora de Cristo. A identidade de Jesus será revelada plenamente no mistério
da cruz: o Messias é o Crucificado, o servidor que entrega a vida pela libertação. Todos estavam maravilhados,
e diziam: “Ele fez bem todas as coisas, faz os surdos ouvir e os mudos falar”. A ação de Jesus, que faz abrir o
coração à comunhão com Deus e aos irmãos, renova a criação (Gn 1,31).
Isaías 35,4-7a anuncia o tempo novo da salvação ao povo desanimado, sem perspectiva de transformação da
realidade. O profeta desperta a esperança, a coragem para exercer a missão com a confiança na presença do
Senhor. Os cegos contemplando a luz, os surdos ouvindo, os coxos saltando e os mudos cantando com alegria
indicam a ação de Deus, que oferece vida nova e abundante aos mais sofridos.
Tiago 2,1-5 mostra que a adesão a Jesus implica em evitar toda forma de discriminação. Cristo glorificado
ensina a não marginalizar de modo especial os pequenos e os pobres: “Deus escolheu os pobres deste mundo
para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam”. Deus tem predileção pelos pobres,
os que abrem o coração para acolher o dom da salvação revelado na pessoa de Jesus Cristo.
3. “Permanecei no meu amor, para dar muitos frutos” (cf. Jo 15,8-9)
A celebração da memória de São Jerônimo no dia 30 de setembro, que traduziu a Bíblia do hebraico, do
aramaico e do grego para o latim, levou a dedicar um tempo especial à Bíblia ao longo desse mês. Nos últimos
anos, o aprofundamento foi sobre os evangelhos: Marcos em 2012, Mateus 2013, Lucas 2014 e, agora, João em
2015. A reflexão do Frei Moacir Casagrande nos conduz ao encontro com a Palavra do Mestre Jesus, para
produzirmos frutos em abundância na missão (o texto completo está na Convergência, 484).
Permanecer
Os sinóticos insistem na “exousia” = poder, destacando as obras de resgate, tais como: expulsar espíritos
impuros, curar doenças e enfermidades (Mt 10,1; Mc 3,15), mas João insiste no “ménein” = permanecer e no
“ágape” = amor oblativo. Segundo João, o poder de evangelização está no testemunho de comunhão com Jesus
e com os discípulos de Jesus. O principal argumento da evangelização é o amor gratuito praticado na
convivência.
A palavra grega “ménein” é traduzida comumente por ficar, também por morar, mas a tradução mais exata é
permanecer. Ela tem um significado muito importante no evangelho segundo João:1 67 das 79 vezes que ocorre
no Segundo Testamento está nos escritos de São João. Permanecer é fazer algo que favoreça o estar juntos;
estabelecer morada, conviver, partilhar, colocar-se em comum. Permanecer é a melhor expressão da vida em
comunidade. Segundo João (15,1-17), só produz frutos quem permanece em Cristo. Segundo Mc 3,14, Jesus
constituiu doze para que “permanecessem com ele e para enviá-los a pregar”. Em Lc 19,5 Jesus disse a Zaqueu
que precisava “permanecer na casa dele”. Zaqueu o acolheu e mudou de vida (19,8). Em Emaús, primeiro Jesus
se ofereceu para caminhar com eles, agora são eles que oferecem seu espaço, pedem a permanência de Jesus
(24,31-35).
Permanecer, conviver com Jesus faz a diferença, é caminho de duas mãos. Ele quer permanecer, conviver
conosco, mas também nós precisamos querer permanecer com ele. Este é um dom e um desafio. Assumindo o
desafio, construímos e experimentamos o dom.
Permanecer como e para quê?
Neste sentido é paradigmática a alegoria da videira (Jo 15,1-17). Somente nesta perícope a palavra
“permanecer” aparece onze vezes. A VIDEIRA, que foi símbolo de Israel (Sl 80,9; Is 5,1-7; Jr 2,21; Os 10,1),
em João apresenta-se como o novo Povo de Deus. Insiste em mostrar como esta nova comunidade se relaciona
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“Ménein” aparece 52 vezes nos evangelhos, quarenta das quais no evangelho segundo João: Jo 1,32.33.38.39; 2,12; 3,36; 4,40.40;
5,38; 6,27.56; 7,9; 8,31.35.35; 9,41; 10,40; 11,6.54; 12,24.34,46; 14,10.17.25; 15,4.4.4.5.6.7.7.9.10.10.16; 19,31; 21,22.23. As outras
ocorrências estão em Mt 10,11; 11,23; 26,38; Mc 6,10; 14,34; e Lc 1,56; 8,27; 9,4; 10,7; 19,5; 24,29.29. João ainda usa esta expressão
27 vezes em suas cartas.
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com Deus no meio do mundo, o texto pode ser estendido até 16,33. A videira antiga, Israel, foi infiel e, por sua
infidelidade persistente, destruída. Não foi Deus que a destruiu, foi a própria infidelidade que a implodiu. A
nova videira é formada e cultivada em torno do Messias = Jesus Cristo. Ele é a videira verdadeira e nele
prevalece a eternidade. Ele é a videira obediente ao Pai, que nele permanece e produzirá muito fruto.
Fruto era o que Javé esperava de Israel, mas só obteve alguns, e estes, intragáveis (Jr 2,21). Fruto é o que a
nova comunidade precisa produzir (Jo 15,2-4.8.16). Ela poderá ser bem-sucedida se permanecer em Jesus, se
deixar que Jesus a pode/cultive, se responder positivamente à escolha = chamado de Jesus, se permanecer no
envio de Jesus. Isso acontece na via da doação, da vida alimentada no amor ágape (Jo 15,10-11). A glorificação
do Pai acontece pela produção de frutos/obras. A primeira delas é o amor mútuo (15,8.12). Ela não somente
precisa produzir frutos, mas produzir (muitos) frutos em abundância (15,2.4). Isso só acontece pela comunhão
com Jesus (15,5) e pela aceitação da poda (15,2), feita apelo Pai, nos ramos que somos nós. Pelo Pai sim,
porque Jesus, o Filho, não corta nem poda, pois não foi para isso que ele veio.
O ramo que não produz fruto é insensato/rebelde com a seiva que recebe, só consome, não multiplica, por isso
será arrancado, mas aquele que produz fruto é limpado/podado. A poda é fator de limpeza das impurezas para
favorecer ao máximo a missão, isto é, a abundância. A seiva/vitalidade da nossa vida depende absolutamente da
comunhão com Jesus, assim como Jesus nos diz ter com o Pai. Isto evidencia que a fonte não somos nós, é
Deus, e que nós somos chamados, na verdade, a exercer uma parceria.
Na alegoria da videira, a nova comunidade não se sustenta por si mesma. Ela não depende de instituição, mas
da participação na vida de Jesus, da comunicação do seu Espírito. É uma luz importante que se acende: A
comunhão das criaturas depende do cultivo da verdadeira comunhão com o Criador. Esta não é apenas uma
tarefa, é o jeito de viver o Reino de Deus. Se não conseguirmos comungar entre nós é porque a nossa comunhão
com Deus está falha.
A missão é produzir frutos em abundância (Jo 15,8)
Isso corresponde à vida em abundância (10,10). Assim como o Filho = Jesus corresponde ao Pai em sua missão,
assim o (a) discípulo (a) corresponde, em sua missão, ao Filho Jesus. A alternativa ao mundo opressor, que se
basta a si mesmo, é a sociedade do amor mútuo, expressão de vida e ambiente de liberdade, aberta para alcançar
a humanidade inteira2 e, porque não, toda a criação.
Jesus realiza os mandamentos do Pai expressando seu amor para com ele. Os discípulos realizam os de Jesus,
recebidos do Pai, expressando seu amor para com Jesus, permanecem assim, vinculados ao Pai.
Este novo modo de expor a relação entre o Pai, ele e os discípulos, tira toda a ambiguidade ao vínculo expresso
antes sob a figura da videira. Ela se realiza mediante um amor que é resposta ao seu amor; “Não fostes vós que
me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes fruto, e para que o vosso
fruto permaneça” (cf. Jo 15,16). Jesus exclui expressamente o amor e a adesão centrados na própria pessoa.
Trata-se de uma amizade que chega ao ponto de dar a vida por seus amigos. E não só pelos amigos, mas por
todos, e não por um momento apenas, mas para sempre (Jo 13,1.26; Mc 14,24). Os discípulos não são
assalariados, contratados para realizar trabalho mediante recompensa, são amigos que aderem livremente à
proposta de Jesus, compartilham de sua alegria, de sua intimidade e de sua própria missão.3
Refrão meditativo: “Permanecei em mim é teu pedido Senhor. Eu ficarei em vós é tua promessa de amor”!
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Cf. MATEUS, J.; BARRETO, J.O evangelho de São João. São Paulo: Paulus, 1989, p. 627.
Ibidem, p. 636.
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