A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA O USO DA
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO: A REALIDADE DO CURSO DE
PEDAGOGIA DA UN IVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRAN DE DO
NORTE
Aleksandre Saraiva Dantas
RESUMO
Esse trabalho analisa como o curso de Pedagogia UERN realiza a formação inicial de
professores para o uso da informática na educação. Discute o nível de preparo dos alunos
para o trabalho com a informática e suas percepções acerca do uso da informática na
educação, buscando ainda conhecer como esses alunos avaliam a sua formação para o uso
da informática. Faz uso de recursos metodológicos variados, que são: a revisão de literatura,
a aplicação de questionários com os alunos e a análise documental. Os alunos reconhecem
que a informática pode contribuir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem e que
é importante o professor saber utilizá-la adequadamente. Porém, mesmo cursando uma
disciplina destinada à formação para o trabalho com a informática na educação, os alunos
ressaltam que não se sentem preparados para realizar essa utilização, afirmando que o
curso de Pedagogia não os prepara adequadamente para esse uso. Não se discute essa
problemática de modo sistemático e com a profundidade necessária. A discussão ocorre
apenas através de uma disciplina que, devido ao pouco tempo disponível, não articula
adequadamente a teoria com a prática. O tratamento inadequado dessas questões inviabiliza
a formação de professores com as competências necessárias para uma utilização
consciente das vantagens, dos limites, dos cuidados e das implicações do uso da
informática no ambiente escolar.
Palavras-chave: Formação inicial, professor, informática, educação, pedagogia.
RÉSUMÉ
Ce document examine la façon dont le cours de Pédagogie de l’UERN réalise la
formation initiale des enseignants pour l'utilisation des ordinateurs dans le processus
éducatif. Il discute le niveau de préparation des étudiants aux ordinateurs et de leurs
perceptions quant à l'utilisation des ordinateurs en éducation, et étudie comment ces
étudiants évaluent leur formation à l'utilisation des ordinateurs. Il utilise diverses
ressources méthodologiques : une revue de la littérature, l'application de questionnaires aux
élèves et l'analyse de documents. Les étudiants reconnaissent que les technologies de
l'information peuvent contribuer à améliorer les processus d'enseignementapprentissage, et qu’il est important que l’enseignant sache l'utiliser correctement.
Toutefois, même en suivant une discipline de formation au travaille sur ordinateur dans
l'enseignement, les étudiants soulignent qu’ils ne se sentent pas préparés, précisant que le
cours de Pédagogie ne prépare pas suffisamment à cet usage. Ce problème n’est pas discuté
de façon systématique et avec la profondeur nécessaire ; le débat ne se produit que par le
biais d'une discipline qui, en raison de la brièveté du temps disponible, ne permet pas
d'articuler la théorie et la pratique. Le traitement inadéquat de ces questions ne permet pas la
formation des enseignants aux compétences nécessaires pour une utilisation consciente des
avantages, des limites des précautions nécessaires, et des implications de l'utilisation des
ordinateurs dans l'environnement scolaire.
Mots-clés: formation initiale, enseignant, informatique, éducation, pédagogie.
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1 – INTRODUÇÃO
Nas últimas três décadas, tem-se percebido um desenvolvimento exponencial das
tecnologias de comunicação e informação (TCI), que estão assumindo uma importância
fundamental para o
desenvolvimento das mais diversas atividades (saúde, lazer,
trabalho, educação etc.), proporcionando
rapidez, comodidade e segurança para seus
usuários.
Segundo Bolzan (1998), esta revolução tecnológica tem provocado modificações nos
mais variados campos da ação humana, não deixando de fora a educação e,
consequentemente, os professores, que se veem diante da necessidade de adotar novos
modelos de ensino, que possam atender a estas transformações.
As mudanças que estão ocorrendo nas mais diversas relações sociais evidenciam a
necessidade de construção de um novo paradigma educacional em que aprender a
conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto com outras pessoas e aprender a ser,
passam a ser o foco do processo de aprendizagem. Essas novas demandas apresentadas à
educação passam a exigir novas posturas da escola e provocam mudanças no papel do
professor que, mais que ensinar, tem que construir caminhos para fazer aprender.
Com o aperfeiçoamento e a popularização dos recursos computacionais e diante do
argumento
de
que
“As
tecnologias
de
informação,
desde
a
televisão
até
os
computadores e todas as suas combinações, abrem oportunidades sem precedentes para a
ação a fim de melhorar a qualidade do ambiente de aprendizagem, [...]” (PAPERT,
1994, p. 6), ainda na década de 80, começam a surgir algumas iniciativas visando
promover a utilização da informática em atividades educacionais.
Assim, a escola e os professores se veem diante do que pode ser considerado um grande
desafio
e,
ao
mesmo
tempo,
uma grande oportunidade:
utilizar os
recursos
disponibilizados pela informática para construir e difundir conhecimentos, centrando seus
esforços
nos
processos
de
criação,
gestão
e
regulação
das
situações
de
aprendizagem.
Percebendo a possibilidade de utilizar a informática como ferramenta pedagógica, já na
década de 90, o MEC implantou o PROINFO, através da Portaria no 522, de 09 de abril de
1997. De acordo com esta portaria o PROINFO foi criado “[...] com a finalidade de
disseminar o uso pedagógico das tecnologias de informática e
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telecomunicações nas escolas públicas de ensino fundamental e médio pertencentes às redes
estadual e municipal”. (BRASIL, 1997, p. 01).
À medida que a informática ganha espaço na escola, o professor passa a se ver diante
de novas e inúmeras possibilidades de acesso à informação e de abordagem dos conteúdos,
podendo se libertar das tarefas repetitivas e concentrar-se nos aspectos mais relevantes da
aprendizagem, porém, torna-se necessário que o professor desenvolva novas habilidades
para mover-se nesse mundo, sendo capaz de analisar os meios à sua disposição e fazer suas
escolhas tendo como referencial algo mais que o senso comum.
Como afirma Lion (1997), o professor deve conhecer o “para que” de cada
tecnologia, avaliando suas virtudes e limitações, além de ter firmeza com relação às
propostas pedagógicas que fundamentam a sua incorporação, o que implica em deixar de
lado os mitos e preconceitos acerca da tecnologia, conferindo-lhe novo significado e sentido.
É fundamental que os professores que vão fazer uso destas tecnologias tenham
capacidade de reconhecer tanto as vantagens, as limitações e os cuidados que devem ser
tomados, como também as implicações do uso destas tecnologias para a educação, em
particular, e para a sociedade, como um todo, para que esses instrumentos possibilitem uma
melhora efetiva da qualidade do processo educativo.
Diante de tudo o que foi exposto até o momento, pode-se perceber a importância dos
professores utilizarem a informática na educação, como estratégia para elevar a
qualidade da aprendizagem dos seus alunos e atender às novas exigências sociais,
econômicas e culturais que se apresentam à educação. Porém, grande parte dos
professores apresenta dificuldades e até mesmo resistência ao uso destas tecnologias na sua
prática educativa.
Para Libâneo (1998), essas resistências existem porque não são trabalhadas nos
processos de formação inicial e contínua do professor e que isso poderia ocorrer a partir da
integração das TCI aos currículos, possibilitando o desenvolvimento de habilidades e a
formação de atitudes favoráveis ao emprego destas tecnologias.
Belloni (1998) afirma que no atual contexto educacional, faz-se necessário redefinir o papel
do educador e transformar totalmente sua formação inicial e continuada que, ao que tudo
indica, deve se pautar na pesquisa e na reflexão constante sobre a prática
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pedagógica, pois sem uma formação condizente, o professor não terá condições de
resolver problemas cuja complexidade excede sua competência.
O próprio MEC deseja propor modificações nos cursos de licenciatura, “[...] para
introduzir a tecnologia, não como nova disciplina, mas como parte integrante de um
currículo modernizado.” (MERCADO, 1999, p. 21)
Stahl (1997) considera que muitos questionamentos podem ser feitos com relação ao tipo
de formação que vem sendo oferecida aos professores, afirmando que os professores
que irão atuar no terceiro milênio recebem uma formação semelhante àquela fornecida décadas
atrás, caracterizada por ignorar a maioria dos avanços científicos ocorridos no mundo e
pela falta de relação entre a formação e as condições reais onde os professores irão atuar.
Diante das evidências de que a informática pode ajudar o professor e a escola a
atenderem as novas demandas que vêm se apresentando para a educação, da constatação que
diversas instituições públicas e particulares de ensino vêm se apropriando dessa tecnologia,
da necessidade de uma formação que possibilite ao professor utilizá-la adequadamente e
de que pouco se discute a formação de professores para o trabalho com esta tecnologia,
decidimos analisar a questão da formação inicial do professor para o uso da informática no
curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Desse modo, esta pesquisa busca responder as seguintes questões:
a) O curso de Pedagogia da UERN prepara o futuro professor para a utilização da
informática em suas atividades de ensino?
b) De que maneira essa preparação está ocorrendo?
c) Como os alunos que estão concluindo o curso de Pedagogia da UERN percebem as
possibilidades oferecidas pela informática?
d) Os alunos se consideram preparados para utilizar a informática?
e) Como os alunos avaliam a sua formação inicial para o uso da informática?
Assim, o desenvolvimento deste trabalho busca atingir os seguintes objetivos:
a) Analisar se/ como o curso de Pedagogia da UERN está promovendo a formação inicial
dos professores para o uso da informática na educação;
b) Identificar até que ponto a informática é valorizada pelo curso de Pedagogia da
UERN;
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c) Conhecer as percepções dos alunos do curso de Pedagogia da UERN acerca do uso da
informática na educação;
d) Conhecer como os alunos que estão concluindo o curso de Pedagogia da UERN
avaliam a sua formação para o uso da informática;
Para isso, fizemos uso de estratégias metodológicas diversas que são:
a)
Revisão de literatura acerca da formação inicial de professores e da utilização da
informática na educação;
b)
Aplicação de questionários com os alunos que estão concluindo o curso de
Pedagogia da UERN;
c)
Análise da grade curricular do curso de Pedagogia e das ementas das disciplinas
voltadas para o uso da informática na educação;
Antes de apresentar os resultados da pesquisa, consideramos necessário conhecer um
pouco da história do curso de Pedagogia, destacando o perfil do profissional que a faculdade
deseja formar, assim como, os objetivos do curso.
2 - O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO
GRAN DE DO N ORTE
O curso de Pedagogia da UERN teve sua criação em 1968 e seu reconhecimento em
1973, iniciando suas atividades com a oferta de duas habilitações: Administração Escolar
e Magistério das Matérias Pedagógicas do Ensino de Segundo Grau. Posteriormente
ocorreu uma ampliação do curso com mais duas habilitações em Supervisão Pedagógica
e Orientação Educacional, passando, dessa forma, a compor uma estrutura curricular com
quatro habilitações para a atuação de profissionais na área de Educação.
De acordo com Morais (2002), a reflexão acadêmica desenvolvida em nível nacional fez
com
que
os
cursos
de
Pedagogia
passassem
a
discutir
seus
currículos
e
compreendessem que as divisões em habilitações estavam ocasionando uma formação
fragmentada e descontextualizada da realidade social, ou seja, os profissionais formados nos
cursos de Pedagogia estavam recebendo uma formação técnica desvinculada de uma formação
política. Neste sentido, as reflexões e propostas apontadas pela nova estrutura curricular foram
em busca de uma formação onde as dimensões técnicas e políticas estivessem juntas, em
que o curso pudesse formar profissionais que fossem capazes de resolver e propor alternativas
para os problemas que dizem respeito à prática educativa.
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Assim, em 1994 o curso de Pedagogia da UERN iniciou seu processo de discussão
e encaminhamento da reformulação curricular. Concluído o projeto de reformulação, o curso
de Pedagogia local implantou o seu novo currículo em 1995, substituindo as quatro
habilitações do antigo currículo por uma única habilitação – Magistério em Educação
Infantil e Séries iniciais do Ensino Fundamental.
Em 1998, a habilitação determinada na reformulação curricular de 1995 sofre
modificações em virtude das exigências legais da disciplina Prática de Ensino, devido à
obrigatoriedade do cumprimento de 300 horas didáticas, restringindo assim, a atuação da
formação profissional para as séries iniciais. Por esta razão, a habilitação do curso de Pedagogia
passou a se denominar: Magistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental.
Segundo o Catálogo dos cursos de graduação 2000/2001, esta habilitação tem o
objetivo de formar professores para o “[...] exercício de uma práxis educativa capaz de
contribuir para a contínua construção de um projeto político-pedagógico que contemple a
formação de cidadãos críticos que saibam lutar pelo bem-estar individual e coletivo.” (UERN,
2000, p. 101)
Depois de se conhecer algumas das características do curso em questão, vejamos agora
as falas e dados dos alunos, bem como sua análise e interpretação.
3 – ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
Na primeira parte do questionário respondido por 20 alunos, procurou-se conhecer as
opiniões desses alunos acerca das contribuições que o uso da informática poderia oferecer
para o trabalho do professor e para a aprendizagem dos alunos das séries iniciais do
ensino fundamental, com quem os alunos do curso de Pedagogia irão desenvolver suas
futuras práticas profissionais.
Nesse sentido, os 20 alunos (100,0%) foram unânimes em afirmar que o uso da
informática por parte do professor em suas atividades contribui para a melhoria do
processo ensino-aprendizagem.
Ao justificar essa opinião, cinco alunos (25,0%) afirmam que o uso da informática na
educação
aumenta
a
motivação/interesse
dos
alunos,
cinco
alunos
(25,0%)
consideram que esse uso ajuda a diversificar as atividades, três alunos (15,0%)
consideram que esse uso ajuda a promover
a inclusão digital, dois alunos (10,0%)
consideram que, ao utilizar a informática, o professor estimula a criatividade dos alunos
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e um aluno (5,0%) cita a possibilidade de desenvolver uma maior interação entre o professor
e os alunos e de facilitar o acesso ao conhecimento. Além disso, quatro alunos (20,0%) não
apresentaram justificativas.
É importante destacar que, mesmo considerando que o uso da informática pode
contribuir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem, alguns alunos fazem
ressalvas a essa contribuição, afirmando que isso poderá ocorrer,
“Desde que este recurso seja trabalhado de forma interdisciplinar e não isoladamente como
técnica.” (Discente 17)
Dentre as justificativas apresentadas pelos alunos, consideramos importante destacar a
possibilidade de promover a inclusão digital e de facilitar o acesso ao conhecimento. Esse
destaque se deve ao fato de acreditarmos que, ao incorporar a informática às atividades
de ensino, a escola poderia promover a democratização do acesso à informação e às
variadas formas de produção e disseminação do conhecimento. Além disso, indivíduos
pertencentes a grupos sociais menos favorecidos, passariam
a ter acesso a essas
tecnologias e a beneficiar-se de sua utilização nas atividades de ensino. Desse modo, a
utilização da informática na educação poderia contribuir para a redução dos riscos de
acentuação das desigualdades sociais.
Os 20 alunos (100,0%) afirmam que é importante o professor saber como utilizar
adequadamente
a
informática na educação e justificam essa opinião através de
afirmações como:
“Se o professor for capacitado então a aprendizagem será real.” (Discente 07)
“Claro, pois o recurso se não for direcionado de forma adequada não tem muita
contribuição.” (Discente 13)
Apesar de reconhecer que a informática pode contribuir para a melhoria do processo
ensino-aprendizagem e que é importante o professor saber utilizá-la adequadamente, 14 alunos
(70,0%) afirmam que não se sentem preparados para realizar esse uso.
Mesmo cursando uma disciplina específica (Informática na educação) destinada à
preparação para o trabalho com a informática na educação, os alunos ressaltam que não se
sentem preparados para realizar essa utilização afirmando que:
“Pois ainda não tenho a prática da informática, ficando em alguns momentos perdida.
Preciso praticar mais.” (Discente 04)
“Porque não fui capacitada para isso.” (Discente 02)
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Apenas 6 alunos (30,0%) afirmam que estão preparados para utilizar a informática em
suas futuras atividades de ensino. Porém, mesmo quem afirma que se sente preparado
para realizar essa utilização ressalta que:
“Ou melhor, um pouco, acho que tenho que aprender um pouco mais. As aulas do
professor foram boas, mas não tenho muito acesso, o que dificulta.” (Discente 06)
“Mais ou menos, admito que preciso me aperfeiçoar mais.” (Discente 12)
A constatação de que a maioria dos alunos não se sente preparada para utilizar a
informática nas suas futuras atividades profissionais é preocupante, pois sem uma
preparação adequada dos professores para o uso desta tecnologia, corre-se o risco de se
confrontar com velhas práticas, mais caras e com um caráter pretensamente moderno.
Nesse sentido, deve-se ter clareza que a simples introdução da tecnologia não é capaz
de modificar as concepções do professor acerca das questões pedagógicas nem melhorar a
qualidade da aprendizagem dos alunos.
O uso de meios tecnológicos de ensino, incluindo os computadores,
não garante por si que os alunos ou as alunas desenvolvam estratégias
para aprender a aprender, nem incentivam o desenvolvimento das
habilidades cognitivas de ordem superior. A qualidade educativa
destes meios de ensino depende, mais do que de suas características
técnicas, do uso ou exploração didático que realize o docente e do
contexto em que se desenvolve. (LIGUORI, 1997, p. 90)
Entre os 20 alunos que responderam ao questionário, 15 alunos (75,0%) afirmam que o
curso de Pedagogia não prepara o seu aluno para o uso da informática na sua futura prática
docente e apenas cinco alunos (25,0%) consideram que o curso de Pedagogia realiza essa
preparação.
De acordo com 14 alunos a formação para o uso da informática nas suas atividades de
ensino é feita pela disciplina Informática na educação. Dois alunos citam ainda as disciplinas
voltadas para o ensino de Matemática, Ciências, Geografia e Língua Portuguesa. É
preocupante perceber que cinco alunos (25,0%) não souberam identificar disciplinas que
abordam essa temática dentro do curso.
A inserção de uma disciplina específica para a formação do futuro professor para o uso da
informática na educação revela a preocupação com esse aspecto da formação e poderia
significar um caminho para que o curso de Pedagogia promovesse essa discussão.
Porém, não se percebe uma articulação entre essa disciplina e as demais disciplinas do
curso.
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Na realidade, o professor da disciplina Informática na educação é vinculado ao curso de
Ciências da Computação, sendo cedido para lecionar essa disciplina no curso de Pedagogia,
sem que para isso tenha um contato adequado com a realidade deste curso. Não se está
querendo questionar a qualidade dos professores que lecionam tais disciplinas. O que se
questiona é o nível de interação dessa disciplina com as outras disciplinas específicas do
curso.
Além disso, a disciplina Informática na educação é oferecida no último período, de modo
que os alunos perdem a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos na disciplina
em outras atividades ao longo do curso.
Ao avaliarem essa formação, quatro alunos (20,0%) consideram que a formação para o
uso da informática na educação realizada pelo curso de Pedagogia é inexistente;
11 alunos (55,0%) consideram que essa formação é insuficiente para as suas
necessidades e cinco alunos (25,0%) consideram essa formação regular. Nenhum aluno
considera a formação para o uso da informática fornecida pelo curso de Pedagogia boa ou
muito boa.
Esses dados são preocupantes, pois sem uma formação consistente o professor
poderá se ver dominado pelas novas tecnologias, utilizando-as, no máximo, para ilustrar suas
aulas e correndo o risco de ver estas tecnologias promoverem o aumento das diferenças
sociais e de aprendizagem.
Além disso, o tratamento adequado dessa questão se revela importante, pois
Os professores que sabem o que as novidades tecnológicas aportam,
bem como seus perigos e limites, podem decidir, com conhecimento
de causa, dar- lhes um amplo espaço em sua classe, ou utilizá-los de
modo marginal. Neste último caso, não será por ignorância, mas
porque pesaram prós e contras, depois julgaram que não valia a
pena, dado o nível de seus alunos, da disciplina considerada e do
estado das tecnologias. (PERRENOUD, 2000, p.
138)
Nesse sentido, perguntamos como ocorre essa preparação aos alunos que afirmaram que
o curso de Pedagogia realiza essa a formação para o uso da informática na educação.
De um modo geral os alunos afirmam que os professores utilizam aulas teóricas e
práticas voltadas para o uso adequado da informática.
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É importante destacar que mesmo entre os alunos que afirmam que o curso de
Pedagogia prepara os alunos para o uso da informática na educação existem ressalvas que
podem ser percebidas em afirmações como:
“Com teorias e práticas, mesmo com o déficit que existe em nossa Universidade nos
laboratórios.” (Discente 01)
Essa afirmação evidencia a insuficiência de recursos tecnológicos disponibilizados. O
curso de Pedagogia não possui um laboratório de informática. Assim, o professor solicita o
laboratório do curso de Ciências da Computação, que não possui computadores
suficientes para todos os alunos.
Normalmente a turma é dividida em grupos de acordo com o número de
computadores. Outra estratégia utilizada é a utilização de um mesmo computador por mais
de um aluno durante o desenvolvimento das atividades.
Para concluir, perguntamos aos alunos se existe laboratório de informática na escola em
que eles estavam realizando os estágios supervisionados.
13 alunos (65,0%) afirmam que a
escola
em que
realizam
os
estágios
supervisionados não possui laboratório de informática e sete alunos (35,0%) afirmam que a
escola em que realizam essas atividades possui laboratório de informática, o que evidencia
que a maioria das escolas ainda não disponibiliza essa tecnologia para utilização por
parte dos professores.
Porém, apenas três (42,86%) desses sete alunos utilizam o laboratório par realizar
atividades das disciplinas que lecionam.
Apesar de estagiarem em escolas que possuem laboratório de informática, quatro alunos
(57,14%) não utilizam esse ambiente e justificam essa não utilização ao afirmar que:
“Porque infelizmente não temos pessoas técnicas para que possa instalar programas, fazer
consertos, etc....” (Discente 01)
“Porque não é oferecido é apenas par dizer que existe na escola.” (Discente 02)
“Porque o meu trabalho é voltado para a sala de aula, não faço uso do computador.”
(Discente 06)
“Ainda está sendo montado.” (Discente 07)
Essas justificativas demonstram que os problemas inerentes ao uso da informática na
educação ultrapassam a questão da formação docente, pois muitas escolas que possuem
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laboratórios enfrentam muitos problemas de ordem técnica (falta de manutenção dos
computadores, número insuficiente de computadores, falta de um profissional que
acompanhe as atividades no laboratório etc.) para a efetiva utilização desse espaço no
ambiente escolar.
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo desse trabalho procuramos analisar como o curso de Pedagogia UERN realiza
a formação inicial de professores para o uso da informática na educação. Procuramos
discutir o nível de preparo dos alunos para o trabalho com a informática e suas percepções
acerca do uso da informática na educação, buscando ainda conhecer como esses alunos
avaliam a sua formação para o uso da informática.
Tomando como referência as opiniões dos alunos que estão concluindo o curso de
Pedagogia UERN, fizemos uso de recursos metodológicos variados, como: a revisão de
literatura acerca da relação
entre tecnologia, sociedade e educação, da formação de
professores e da utilização da informática na educação; a aplicação de questionários com os
alunos; a análise da grade curricular do curso de Pedagogia e das ementas das disciplinas
voltadas para o uso da informática na educação.
Assim, conseguimos constatar que os alunos reconhecem que a informática pode
contribuir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem e que é importante o
professor saber utilizá-la adequadamente. Porém, mesmo cursando uma disciplina
destinada à formação para o trabalho com a informática na educação, os alunos
ressaltam que não se sentem preparados para realizar essa utilização, afirmando que o curso
de Pedagogia não os prepara adequadamente para esse uso.
O curso Pedagogia da UERN não discute, de modo sistemático e com a
profundidade necessária, a problemática do uso da informática na educação, seja no âmbito
das implicações pedagógicas ou das implicações sociais. Quando esta discussão ocorre, ela se
dá em momentos isolados, através de uma disciplina que, devido ao pouco tempo disponível,
não articula adequadamente a teoria com a prática detendo-se, na maior parte do tempo,
em uma discussão teórica sobre acerca do tema, com poucos momentos dedicados à
prática. Além disso, essa prática se limita a uma simples aproximação com a tecnologia,
pois muitos alunos apresentam limitações no uso da informática que demandariam um
tempo muito maior do que a disciplina dispõe para serem solucionadas.
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Não se deseja concluir este trabalho prescrevendo receitas que poderiam resolver
os problemas inerentes à formação inicial do professor que irá atuar nas séries iniciais do
ensino fundamental, mas apresentar alguns elementos cuja reflexão pode ajudar os
responsáveis pelo curso de Pedagogia da UERN a encontrar um caminho para resolver os
problemas inerentes à formação do professor para o trabalho com a informática.
O curso de Pedagogia da UERN precisa promover uma maior articulação entre as
atividades
desenvolvidas pelos professores que ministram a disciplina Informática na
educação e as atividades
das demais disciplinas do curso. Além disso, a disciplina
Informática na educação poderia ser oferecida no início das atividades do curso, de modo
que os alunos poderiam aplicar os conhecimentos adquiridos na disciplina em outras
atividades ao longo do curso.
O curso de Pedagogia deveria dispor de um laboratório de informática para as
atividades do
curso, com uma quantidade de computadores que permitisse uma
utilização adequada durante as atividades com o uso dessa tecnologia.
É necessária uma maior articulação entre o curso de Pedagogia e as escolas em que
atuarão os seus licenciandos e, também, com o mundo da comunicação e da informação. Além
disso, é preciso superar a dicotomia entre teoria e prática na formação para o uso da
informática, preparando o professor para utilizá-la com o objetivo de desenvolver novas
práticas, que o ajude a superar as limitações inerentes ao processo educativo na atualidade,
atendendo às demandas que lhe são apresentadas.
Por último, o curso de Pedagogia precisa desenvolver atividades de pesquisa
voltadas para a utilização pedagógica da informática, articulando esta pesquisa às
atividades de ensino, para que se possa discutir e verificar a validade da teoria
apresentada pelas pesquisas, garantindo a qualidade e a aplicabilidade do conhecimento
produzido sobre a utilização da informática na educação, visto que muitas questões ainda
devem ser respondidas para que se possa formar professores com as competências necessárias
para uma utilização consciente das vantagens, dos limites, dos cuidados e das implicações do
uso da informática no ambiente escolar.
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5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
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PAPERT, Seymour. A máquina das crianças: repensando a escola na era da
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PERRENOUD, Philippe. 10 novas competências para ensinar. Trad. Patrícia Chittoni
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