A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA O USO DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO: A REALIDADE DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UN IVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRAN DE DO NORTE Aleksandre Saraiva Dantas RESUMO Esse trabalho analisa como o curso de Pedagogia UERN realiza a formação inicial de professores para o uso da informática na educação. Discute o nível de preparo dos alunos para o trabalho com a informática e suas percepções acerca do uso da informática na educação, buscando ainda conhecer como esses alunos avaliam a sua formação para o uso da informática. Faz uso de recursos metodológicos variados, que são: a revisão de literatura, a aplicação de questionários com os alunos e a análise documental. Os alunos reconhecem que a informática pode contribuir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem e que é importante o professor saber utilizá-la adequadamente. Porém, mesmo cursando uma disciplina destinada à formação para o trabalho com a informática na educação, os alunos ressaltam que não se sentem preparados para realizar essa utilização, afirmando que o curso de Pedagogia não os prepara adequadamente para esse uso. Não se discute essa problemática de modo sistemático e com a profundidade necessária. A discussão ocorre apenas através de uma disciplina que, devido ao pouco tempo disponível, não articula adequadamente a teoria com a prática. O tratamento inadequado dessas questões inviabiliza a formação de professores com as competências necessárias para uma utilização consciente das vantagens, dos limites, dos cuidados e das implicações do uso da informática no ambiente escolar. Palavras-chave: Formação inicial, professor, informática, educação, pedagogia. RÉSUMÉ Ce document examine la façon dont le cours de Pédagogie de l’UERN réalise la formation initiale des enseignants pour l'utilisation des ordinateurs dans le processus éducatif. Il discute le niveau de préparation des étudiants aux ordinateurs et de leurs perceptions quant à l'utilisation des ordinateurs en éducation, et étudie comment ces étudiants évaluent leur formation à l'utilisation des ordinateurs. Il utilise diverses ressources méthodologiques : une revue de la littérature, l'application de questionnaires aux élèves et l'analyse de documents. Les étudiants reconnaissent que les technologies de l'information peuvent contribuer à améliorer les processus d'enseignementapprentissage, et qu’il est important que l’enseignant sache l'utiliser correctement. Toutefois, même en suivant une discipline de formation au travaille sur ordinateur dans l'enseignement, les étudiants soulignent qu’ils ne se sentent pas préparés, précisant que le cours de Pédagogie ne prépare pas suffisamment à cet usage. Ce problème n’est pas discuté de façon systématique et avec la profondeur nécessaire ; le débat ne se produit que par le biais d'une discipline qui, en raison de la brièveté du temps disponible, ne permet pas d'articuler la théorie et la pratique. Le traitement inadéquat de ces questions ne permet pas la formation des enseignants aux compétences nécessaires pour une utilisation consciente des avantages, des limites des précautions nécessaires, et des implications de l'utilisation des ordinateurs dans l'environnement scolaire. Mots-clés: formation initiale, enseignant, informatique, éducation, pédagogie. 2 1 – INTRODUÇÃO Nas últimas três décadas, tem-se percebido um desenvolvimento exponencial das tecnologias de comunicação e informação (TCI), que estão assumindo uma importância fundamental para o desenvolvimento das mais diversas atividades (saúde, lazer, trabalho, educação etc.), proporcionando rapidez, comodidade e segurança para seus usuários. Segundo Bolzan (1998), esta revolução tecnológica tem provocado modificações nos mais variados campos da ação humana, não deixando de fora a educação e, consequentemente, os professores, que se veem diante da necessidade de adotar novos modelos de ensino, que possam atender a estas transformações. As mudanças que estão ocorrendo nas mais diversas relações sociais evidenciam a necessidade de construção de um novo paradigma educacional em que aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto com outras pessoas e aprender a ser, passam a ser o foco do processo de aprendizagem. Essas novas demandas apresentadas à educação passam a exigir novas posturas da escola e provocam mudanças no papel do professor que, mais que ensinar, tem que construir caminhos para fazer aprender. Com o aperfeiçoamento e a popularização dos recursos computacionais e diante do argumento de que “As tecnologias de informação, desde a televisão até os computadores e todas as suas combinações, abrem oportunidades sem precedentes para a ação a fim de melhorar a qualidade do ambiente de aprendizagem, [...]” (PAPERT, 1994, p. 6), ainda na década de 80, começam a surgir algumas iniciativas visando promover a utilização da informática em atividades educacionais. Assim, a escola e os professores se veem diante do que pode ser considerado um grande desafio e, ao mesmo tempo, uma grande oportunidade: utilizar os recursos disponibilizados pela informática para construir e difundir conhecimentos, centrando seus esforços nos processos de criação, gestão e regulação das situações de aprendizagem. Percebendo a possibilidade de utilizar a informática como ferramenta pedagógica, já na década de 90, o MEC implantou o PROINFO, através da Portaria no 522, de 09 de abril de 1997. De acordo com esta portaria o PROINFO foi criado “[...] com a finalidade de disseminar o uso pedagógico das tecnologias de informática e 2 3 telecomunicações nas escolas públicas de ensino fundamental e médio pertencentes às redes estadual e municipal”. (BRASIL, 1997, p. 01). À medida que a informática ganha espaço na escola, o professor passa a se ver diante de novas e inúmeras possibilidades de acesso à informação e de abordagem dos conteúdos, podendo se libertar das tarefas repetitivas e concentrar-se nos aspectos mais relevantes da aprendizagem, porém, torna-se necessário que o professor desenvolva novas habilidades para mover-se nesse mundo, sendo capaz de analisar os meios à sua disposição e fazer suas escolhas tendo como referencial algo mais que o senso comum. Como afirma Lion (1997), o professor deve conhecer o “para que” de cada tecnologia, avaliando suas virtudes e limitações, além de ter firmeza com relação às propostas pedagógicas que fundamentam a sua incorporação, o que implica em deixar de lado os mitos e preconceitos acerca da tecnologia, conferindo-lhe novo significado e sentido. É fundamental que os professores que vão fazer uso destas tecnologias tenham capacidade de reconhecer tanto as vantagens, as limitações e os cuidados que devem ser tomados, como também as implicações do uso destas tecnologias para a educação, em particular, e para a sociedade, como um todo, para que esses instrumentos possibilitem uma melhora efetiva da qualidade do processo educativo. Diante de tudo o que foi exposto até o momento, pode-se perceber a importância dos professores utilizarem a informática na educação, como estratégia para elevar a qualidade da aprendizagem dos seus alunos e atender às novas exigências sociais, econômicas e culturais que se apresentam à educação. Porém, grande parte dos professores apresenta dificuldades e até mesmo resistência ao uso destas tecnologias na sua prática educativa. Para Libâneo (1998), essas resistências existem porque não são trabalhadas nos processos de formação inicial e contínua do professor e que isso poderia ocorrer a partir da integração das TCI aos currículos, possibilitando o desenvolvimento de habilidades e a formação de atitudes favoráveis ao emprego destas tecnologias. Belloni (1998) afirma que no atual contexto educacional, faz-se necessário redefinir o papel do educador e transformar totalmente sua formação inicial e continuada que, ao que tudo indica, deve se pautar na pesquisa e na reflexão constante sobre a prática 3 4 pedagógica, pois sem uma formação condizente, o professor não terá condições de resolver problemas cuja complexidade excede sua competência. O próprio MEC deseja propor modificações nos cursos de licenciatura, “[...] para introduzir a tecnologia, não como nova disciplina, mas como parte integrante de um currículo modernizado.” (MERCADO, 1999, p. 21) Stahl (1997) considera que muitos questionamentos podem ser feitos com relação ao tipo de formação que vem sendo oferecida aos professores, afirmando que os professores que irão atuar no terceiro milênio recebem uma formação semelhante àquela fornecida décadas atrás, caracterizada por ignorar a maioria dos avanços científicos ocorridos no mundo e pela falta de relação entre a formação e as condições reais onde os professores irão atuar. Diante das evidências de que a informática pode ajudar o professor e a escola a atenderem as novas demandas que vêm se apresentando para a educação, da constatação que diversas instituições públicas e particulares de ensino vêm se apropriando dessa tecnologia, da necessidade de uma formação que possibilite ao professor utilizá-la adequadamente e de que pouco se discute a formação de professores para o trabalho com esta tecnologia, decidimos analisar a questão da formação inicial do professor para o uso da informática no curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Desse modo, esta pesquisa busca responder as seguintes questões: a) O curso de Pedagogia da UERN prepara o futuro professor para a utilização da informática em suas atividades de ensino? b) De que maneira essa preparação está ocorrendo? c) Como os alunos que estão concluindo o curso de Pedagogia da UERN percebem as possibilidades oferecidas pela informática? d) Os alunos se consideram preparados para utilizar a informática? e) Como os alunos avaliam a sua formação inicial para o uso da informática? Assim, o desenvolvimento deste trabalho busca atingir os seguintes objetivos: a) Analisar se/ como o curso de Pedagogia da UERN está promovendo a formação inicial dos professores para o uso da informática na educação; b) Identificar até que ponto a informática é valorizada pelo curso de Pedagogia da UERN; 4 5 c) Conhecer as percepções dos alunos do curso de Pedagogia da UERN acerca do uso da informática na educação; d) Conhecer como os alunos que estão concluindo o curso de Pedagogia da UERN avaliam a sua formação para o uso da informática; Para isso, fizemos uso de estratégias metodológicas diversas que são: a) Revisão de literatura acerca da formação inicial de professores e da utilização da informática na educação; b) Aplicação de questionários com os alunos que estão concluindo o curso de Pedagogia da UERN; c) Análise da grade curricular do curso de Pedagogia e das ementas das disciplinas voltadas para o uso da informática na educação; Antes de apresentar os resultados da pesquisa, consideramos necessário conhecer um pouco da história do curso de Pedagogia, destacando o perfil do profissional que a faculdade deseja formar, assim como, os objetivos do curso. 2 - O CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRAN DE DO N ORTE O curso de Pedagogia da UERN teve sua criação em 1968 e seu reconhecimento em 1973, iniciando suas atividades com a oferta de duas habilitações: Administração Escolar e Magistério das Matérias Pedagógicas do Ensino de Segundo Grau. Posteriormente ocorreu uma ampliação do curso com mais duas habilitações em Supervisão Pedagógica e Orientação Educacional, passando, dessa forma, a compor uma estrutura curricular com quatro habilitações para a atuação de profissionais na área de Educação. De acordo com Morais (2002), a reflexão acadêmica desenvolvida em nível nacional fez com que os cursos de Pedagogia passassem a discutir seus currículos e compreendessem que as divisões em habilitações estavam ocasionando uma formação fragmentada e descontextualizada da realidade social, ou seja, os profissionais formados nos cursos de Pedagogia estavam recebendo uma formação técnica desvinculada de uma formação política. Neste sentido, as reflexões e propostas apontadas pela nova estrutura curricular foram em busca de uma formação onde as dimensões técnicas e políticas estivessem juntas, em que o curso pudesse formar profissionais que fossem capazes de resolver e propor alternativas para os problemas que dizem respeito à prática educativa. 5 6 Assim, em 1994 o curso de Pedagogia da UERN iniciou seu processo de discussão e encaminhamento da reformulação curricular. Concluído o projeto de reformulação, o curso de Pedagogia local implantou o seu novo currículo em 1995, substituindo as quatro habilitações do antigo currículo por uma única habilitação – Magistério em Educação Infantil e Séries iniciais do Ensino Fundamental. Em 1998, a habilitação determinada na reformulação curricular de 1995 sofre modificações em virtude das exigências legais da disciplina Prática de Ensino, devido à obrigatoriedade do cumprimento de 300 horas didáticas, restringindo assim, a atuação da formação profissional para as séries iniciais. Por esta razão, a habilitação do curso de Pedagogia passou a se denominar: Magistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Segundo o Catálogo dos cursos de graduação 2000/2001, esta habilitação tem o objetivo de formar professores para o “[...] exercício de uma práxis educativa capaz de contribuir para a contínua construção de um projeto político-pedagógico que contemple a formação de cidadãos críticos que saibam lutar pelo bem-estar individual e coletivo.” (UERN, 2000, p. 101) Depois de se conhecer algumas das características do curso em questão, vejamos agora as falas e dados dos alunos, bem como sua análise e interpretação. 3 – ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS Na primeira parte do questionário respondido por 20 alunos, procurou-se conhecer as opiniões desses alunos acerca das contribuições que o uso da informática poderia oferecer para o trabalho do professor e para a aprendizagem dos alunos das séries iniciais do ensino fundamental, com quem os alunos do curso de Pedagogia irão desenvolver suas futuras práticas profissionais. Nesse sentido, os 20 alunos (100,0%) foram unânimes em afirmar que o uso da informática por parte do professor em suas atividades contribui para a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Ao justificar essa opinião, cinco alunos (25,0%) afirmam que o uso da informática na educação aumenta a motivação/interesse dos alunos, cinco alunos (25,0%) consideram que esse uso ajuda a diversificar as atividades, três alunos (15,0%) consideram que esse uso ajuda a promover a inclusão digital, dois alunos (10,0%) consideram que, ao utilizar a informática, o professor estimula a criatividade dos alunos 6 7 e um aluno (5,0%) cita a possibilidade de desenvolver uma maior interação entre o professor e os alunos e de facilitar o acesso ao conhecimento. Além disso, quatro alunos (20,0%) não apresentaram justificativas. É importante destacar que, mesmo considerando que o uso da informática pode contribuir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem, alguns alunos fazem ressalvas a essa contribuição, afirmando que isso poderá ocorrer, “Desde que este recurso seja trabalhado de forma interdisciplinar e não isoladamente como técnica.” (Discente 17) Dentre as justificativas apresentadas pelos alunos, consideramos importante destacar a possibilidade de promover a inclusão digital e de facilitar o acesso ao conhecimento. Esse destaque se deve ao fato de acreditarmos que, ao incorporar a informática às atividades de ensino, a escola poderia promover a democratização do acesso à informação e às variadas formas de produção e disseminação do conhecimento. Além disso, indivíduos pertencentes a grupos sociais menos favorecidos, passariam a ter acesso a essas tecnologias e a beneficiar-se de sua utilização nas atividades de ensino. Desse modo, a utilização da informática na educação poderia contribuir para a redução dos riscos de acentuação das desigualdades sociais. Os 20 alunos (100,0%) afirmam que é importante o professor saber como utilizar adequadamente a informática na educação e justificam essa opinião através de afirmações como: “Se o professor for capacitado então a aprendizagem será real.” (Discente 07) “Claro, pois o recurso se não for direcionado de forma adequada não tem muita contribuição.” (Discente 13) Apesar de reconhecer que a informática pode contribuir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem e que é importante o professor saber utilizá-la adequadamente, 14 alunos (70,0%) afirmam que não se sentem preparados para realizar esse uso. Mesmo cursando uma disciplina específica (Informática na educação) destinada à preparação para o trabalho com a informática na educação, os alunos ressaltam que não se sentem preparados para realizar essa utilização afirmando que: “Pois ainda não tenho a prática da informática, ficando em alguns momentos perdida. Preciso praticar mais.” (Discente 04) “Porque não fui capacitada para isso.” (Discente 02) 7 8 Apenas 6 alunos (30,0%) afirmam que estão preparados para utilizar a informática em suas futuras atividades de ensino. Porém, mesmo quem afirma que se sente preparado para realizar essa utilização ressalta que: “Ou melhor, um pouco, acho que tenho que aprender um pouco mais. As aulas do professor foram boas, mas não tenho muito acesso, o que dificulta.” (Discente 06) “Mais ou menos, admito que preciso me aperfeiçoar mais.” (Discente 12) A constatação de que a maioria dos alunos não se sente preparada para utilizar a informática nas suas futuras atividades profissionais é preocupante, pois sem uma preparação adequada dos professores para o uso desta tecnologia, corre-se o risco de se confrontar com velhas práticas, mais caras e com um caráter pretensamente moderno. Nesse sentido, deve-se ter clareza que a simples introdução da tecnologia não é capaz de modificar as concepções do professor acerca das questões pedagógicas nem melhorar a qualidade da aprendizagem dos alunos. O uso de meios tecnológicos de ensino, incluindo os computadores, não garante por si que os alunos ou as alunas desenvolvam estratégias para aprender a aprender, nem incentivam o desenvolvimento das habilidades cognitivas de ordem superior. A qualidade educativa destes meios de ensino depende, mais do que de suas características técnicas, do uso ou exploração didático que realize o docente e do contexto em que se desenvolve. (LIGUORI, 1997, p. 90) Entre os 20 alunos que responderam ao questionário, 15 alunos (75,0%) afirmam que o curso de Pedagogia não prepara o seu aluno para o uso da informática na sua futura prática docente e apenas cinco alunos (25,0%) consideram que o curso de Pedagogia realiza essa preparação. De acordo com 14 alunos a formação para o uso da informática nas suas atividades de ensino é feita pela disciplina Informática na educação. Dois alunos citam ainda as disciplinas voltadas para o ensino de Matemática, Ciências, Geografia e Língua Portuguesa. É preocupante perceber que cinco alunos (25,0%) não souberam identificar disciplinas que abordam essa temática dentro do curso. A inserção de uma disciplina específica para a formação do futuro professor para o uso da informática na educação revela a preocupação com esse aspecto da formação e poderia significar um caminho para que o curso de Pedagogia promovesse essa discussão. Porém, não se percebe uma articulação entre essa disciplina e as demais disciplinas do curso. 8 9 Na realidade, o professor da disciplina Informática na educação é vinculado ao curso de Ciências da Computação, sendo cedido para lecionar essa disciplina no curso de Pedagogia, sem que para isso tenha um contato adequado com a realidade deste curso. Não se está querendo questionar a qualidade dos professores que lecionam tais disciplinas. O que se questiona é o nível de interação dessa disciplina com as outras disciplinas específicas do curso. Além disso, a disciplina Informática na educação é oferecida no último período, de modo que os alunos perdem a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos na disciplina em outras atividades ao longo do curso. Ao avaliarem essa formação, quatro alunos (20,0%) consideram que a formação para o uso da informática na educação realizada pelo curso de Pedagogia é inexistente; 11 alunos (55,0%) consideram que essa formação é insuficiente para as suas necessidades e cinco alunos (25,0%) consideram essa formação regular. Nenhum aluno considera a formação para o uso da informática fornecida pelo curso de Pedagogia boa ou muito boa. Esses dados são preocupantes, pois sem uma formação consistente o professor poderá se ver dominado pelas novas tecnologias, utilizando-as, no máximo, para ilustrar suas aulas e correndo o risco de ver estas tecnologias promoverem o aumento das diferenças sociais e de aprendizagem. Além disso, o tratamento adequado dessa questão se revela importante, pois Os professores que sabem o que as novidades tecnológicas aportam, bem como seus perigos e limites, podem decidir, com conhecimento de causa, dar- lhes um amplo espaço em sua classe, ou utilizá-los de modo marginal. Neste último caso, não será por ignorância, mas porque pesaram prós e contras, depois julgaram que não valia a pena, dado o nível de seus alunos, da disciplina considerada e do estado das tecnologias. (PERRENOUD, 2000, p. 138) Nesse sentido, perguntamos como ocorre essa preparação aos alunos que afirmaram que o curso de Pedagogia realiza essa a formação para o uso da informática na educação. De um modo geral os alunos afirmam que os professores utilizam aulas teóricas e práticas voltadas para o uso adequado da informática. 9 10 É importante destacar que mesmo entre os alunos que afirmam que o curso de Pedagogia prepara os alunos para o uso da informática na educação existem ressalvas que podem ser percebidas em afirmações como: “Com teorias e práticas, mesmo com o déficit que existe em nossa Universidade nos laboratórios.” (Discente 01) Essa afirmação evidencia a insuficiência de recursos tecnológicos disponibilizados. O curso de Pedagogia não possui um laboratório de informática. Assim, o professor solicita o laboratório do curso de Ciências da Computação, que não possui computadores suficientes para todos os alunos. Normalmente a turma é dividida em grupos de acordo com o número de computadores. Outra estratégia utilizada é a utilização de um mesmo computador por mais de um aluno durante o desenvolvimento das atividades. Para concluir, perguntamos aos alunos se existe laboratório de informática na escola em que eles estavam realizando os estágios supervisionados. 13 alunos (65,0%) afirmam que a escola em que realizam os estágios supervisionados não possui laboratório de informática e sete alunos (35,0%) afirmam que a escola em que realizam essas atividades possui laboratório de informática, o que evidencia que a maioria das escolas ainda não disponibiliza essa tecnologia para utilização por parte dos professores. Porém, apenas três (42,86%) desses sete alunos utilizam o laboratório par realizar atividades das disciplinas que lecionam. Apesar de estagiarem em escolas que possuem laboratório de informática, quatro alunos (57,14%) não utilizam esse ambiente e justificam essa não utilização ao afirmar que: “Porque infelizmente não temos pessoas técnicas para que possa instalar programas, fazer consertos, etc....” (Discente 01) “Porque não é oferecido é apenas par dizer que existe na escola.” (Discente 02) “Porque o meu trabalho é voltado para a sala de aula, não faço uso do computador.” (Discente 06) “Ainda está sendo montado.” (Discente 07) Essas justificativas demonstram que os problemas inerentes ao uso da informática na educação ultrapassam a questão da formação docente, pois muitas escolas que possuem 10 11 laboratórios enfrentam muitos problemas de ordem técnica (falta de manutenção dos computadores, número insuficiente de computadores, falta de um profissional que acompanhe as atividades no laboratório etc.) para a efetiva utilização desse espaço no ambiente escolar. 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo desse trabalho procuramos analisar como o curso de Pedagogia UERN realiza a formação inicial de professores para o uso da informática na educação. Procuramos discutir o nível de preparo dos alunos para o trabalho com a informática e suas percepções acerca do uso da informática na educação, buscando ainda conhecer como esses alunos avaliam a sua formação para o uso da informática. Tomando como referência as opiniões dos alunos que estão concluindo o curso de Pedagogia UERN, fizemos uso de recursos metodológicos variados, como: a revisão de literatura acerca da relação entre tecnologia, sociedade e educação, da formação de professores e da utilização da informática na educação; a aplicação de questionários com os alunos; a análise da grade curricular do curso de Pedagogia e das ementas das disciplinas voltadas para o uso da informática na educação. Assim, conseguimos constatar que os alunos reconhecem que a informática pode contribuir para a melhoria do processo ensino-aprendizagem e que é importante o professor saber utilizá-la adequadamente. Porém, mesmo cursando uma disciplina destinada à formação para o trabalho com a informática na educação, os alunos ressaltam que não se sentem preparados para realizar essa utilização, afirmando que o curso de Pedagogia não os prepara adequadamente para esse uso. O curso Pedagogia da UERN não discute, de modo sistemático e com a profundidade necessária, a problemática do uso da informática na educação, seja no âmbito das implicações pedagógicas ou das implicações sociais. Quando esta discussão ocorre, ela se dá em momentos isolados, através de uma disciplina que, devido ao pouco tempo disponível, não articula adequadamente a teoria com a prática detendo-se, na maior parte do tempo, em uma discussão teórica sobre acerca do tema, com poucos momentos dedicados à prática. Além disso, essa prática se limita a uma simples aproximação com a tecnologia, pois muitos alunos apresentam limitações no uso da informática que demandariam um tempo muito maior do que a disciplina dispõe para serem solucionadas. 11 13 Não se deseja concluir este trabalho prescrevendo receitas que poderiam resolver os problemas inerentes à formação inicial do professor que irá atuar nas séries iniciais do ensino fundamental, mas apresentar alguns elementos cuja reflexão pode ajudar os responsáveis pelo curso de Pedagogia da UERN a encontrar um caminho para resolver os problemas inerentes à formação do professor para o trabalho com a informática. O curso de Pedagogia da UERN precisa promover uma maior articulação entre as atividades desenvolvidas pelos professores que ministram a disciplina Informática na educação e as atividades das demais disciplinas do curso. Além disso, a disciplina Informática na educação poderia ser oferecida no início das atividades do curso, de modo que os alunos poderiam aplicar os conhecimentos adquiridos na disciplina em outras atividades ao longo do curso. O curso de Pedagogia deveria dispor de um laboratório de informática para as atividades do curso, com uma quantidade de computadores que permitisse uma utilização adequada durante as atividades com o uso dessa tecnologia. É necessária uma maior articulação entre o curso de Pedagogia e as escolas em que atuarão os seus licenciandos e, também, com o mundo da comunicação e da informação. Além disso, é preciso superar a dicotomia entre teoria e prática na formação para o uso da informática, preparando o professor para utilizá-la com o objetivo de desenvolver novas práticas, que o ajude a superar as limitações inerentes ao processo educativo na atualidade, atendendo às demandas que lhe são apresentadas. Por último, o curso de Pedagogia precisa desenvolver atividades de pesquisa voltadas para a utilização pedagógica da informática, articulando esta pesquisa às atividades de ensino, para que se possa discutir e verificar a validade da teoria apresentada pelas pesquisas, garantindo a qualidade e a aplicabilidade do conhecimento produzido sobre a utilização da informática na educação, visto que muitas questões ainda devem ser respondidas para que se possa formar professores com as competências necessárias para uma utilização consciente das vantagens, dos limites, dos cuidados e das implicações do uso da informática no ambiente escolar. 12 5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 13 BELLONI, Maria Luiza. Tecnologia e formação de professores: rumo a uma pedagogia pósmoderna?. In: Educação & Sociedade, Campinas-SP: CEDES, ano XIX, no 65, p. 143-162, dez. 1998. BOLZAN, Regina de Fátima Fructuoso de Andrade. O conhecimento tecnológico e o paradigma educacional. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Centro Tecnológico/PPGEP. Florianópolis: UFSC, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Portaria no 522, 1997. LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e profissão docente. 2. ed. São Paulo: Editora Cortez, 1998. (Coleção Questões da Nossa Época). MERCADO, Luís Paulo Leopoldo. Formação continuada de professores e novas tecnologias. Maceió: EDUFAL, 1999. MORAIS, Maria do Socorro Feitosa de. Gênero e educação: uma análise da formação inicial de professores/ as da Faculdade de educação da UERN. Monografia (Especialização em Pluralidade Cultural e Orientação Sexual) – Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró-RN, 2002. LIGUORI, Laura M. As novas tecnologias da informação e da comunicação no campo dos velhos problemas e desafios educacionais. In: LITWIN, Edith (Org.). Tecnologia educacional: política, histórias e propostas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 7897. LION, Carina Gabriela. Mitos e realidades na tecnologia educacional. In: LITWIN, Edith (Org.). Tecnologia educacional: política, histórias e propostas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. p. 23-36. PAPERT, Seymour. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Trad. Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. PERRENOUD, Philippe. 10 novas competências para ensinar. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. Capítulo 8, Utilizar novas tecnologias. p. 125-139. STAHL, Marimar M.. Formação de professores para uso das novas tecnologias de comunicação e informação. In: CANDAU, Vera Maria (Org.). Magistério: construção cotidiana. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1997. p. 292-317. UERN/Pró-Reitoria de Ensino de Graduação. Catálogo dos cursos de graduação 2000/2001. Mossoró-RN: UERN/PROEG, 2000. 13 This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only. This page will not be added after purchasing Win2PDF.