Congreso Iberoamericano de las Lenguas en la Educación y en la
Cultura / IV Congreso Leer.es
Salamanca, España, 5 al 7 de septiembre de 2012
O cinema como meio narrativo: uma aproximação ao
herói épico medieval na versão cinematográfica El Cid do
cineasta Anthony Mann
Priscila Martins 1
Sección: El cine como medio narrativo
1
Universidade Federal de Alfenas Unifal/ MG [email protected]
Resumo
Entre suas inúmeras temáticas, o cinema se caracteriza também como meio
narrativo por recriar e representar na tela realidades históricas. Através de seus
sofisticados recursos audiovisuais estilísticos e suas formas de argumentação, o cinema
materializa signos verbos-icônicos produzindo efeitos de realidade que fisgam o
espectador em um envolvente mundo imagético, tornando o cinema uma fascinante
linguagem de caráter recreativa que marca o século XX e a cultura audiovisual
contemporânea.
Os filmes de caráter histórico abordam e recriam contextos e personagens que se
relacionam com a história dos povos e nações, e também adaptam enredos advindos de
mitos, lendas e/ou de antigos escritos narrativos transcodificados ao contexto
contemporâneo, possibilitando aportes significativos para a compreensão das ideias, do
passado (memória), da formação sociocultural e histórica dos cidadãos.
Neste contexto, surge a recriação cinematográfica El Cid (1961), dirigida por
Anthony Mann, baseada no cantar de gesta anônimo Poema de Mio Cid, considerado um
ícone da épica medieval espanhola do século XII, o qual narra as façanhas e virtudes do
cavaleiro Rodrigo Diaz de Vivar (Al Sayeed ou El Cid Campeador) que viveu num período
histórico caracterizado pela convivência entre cristãos e mouros.
A versão cinematográfica faz alusão direta à figura épica da personagem principal
El Cid, acentuando a imagem popular do valoroso e valente guerreiro castelhano e
reafirmando suas virtudes, sua postura sábia, seus valores cristãos e fidelidade aos seus
preceitos do ideário da época por intermédio de uma trama e amálgama de história
medieval e literatura épica espanhola.
Com base nas releituras que o cinema pode fazer de momentos históricos e
realidades sociais e os estudos de Pujals e Romea (2001), Palma (2004), Spina (2007),
Stam (2008), entre alguns autores pesquisados, o presente trabalho objetiva estudar e
analisar a obra fílmica El Cid como um meio narrativo das virtudes e valores do herói
épico medieval.
Palavras- Chave: cinema, história, literatura, herói épico medieval.
1 1. Introdução
O ato de expressar-se contando uma história, uma lenda, um mito ou relatando um
fato é característico do homem como ser social que, por sua vez, tem buscado constantes
aprimoramentos de técnicas ao longo da história para relatar as mais diferentes
realidades por meio da narrativa oral e/ou escrita. Os recursos visuais, por exemplo, têm
marcado esse constante aprimoramento onde o cinema ocupa um lugar de destaque.
O Cinematógrafo apresentado pelos irmãos Lumière, em 1895, inaugurou uma
nova fase no campo da representação que se deu pela captura de imagens e seu
conseguinte movimento projetado ao público, fato que inaugurou o primeiro passo da
trajetória do cinema. Hoje, o cinema, caracterizado pela multiplicidade de técnicas e
imagens animadas, ganha notoriedade pela sua capacidade de envolver e aguçar a
sensibilidade do espectador, por meio de suas diferentes vozes narrativas.
Essa diversidade de vozes narrativas produzidas pelo cinema podem recriar
realidades históricas, recontar lendas, reconstruir personagens como, por exemplo,
heróis, e atualizar “matrizes culturais muito antigas, que se encontram nos mitos e
também nas novelas medievais” (Palma, 2004, p.11). E neste sentido se aproxima da
abordagem postulada por Costa Campos y Dias Francisco (2010, p.7) que afirmam que
cineastas podem ser historiadores, usando esta última palavra para designar pessoas que
confrontam os vestígios do passado, documentos, lendas, histórias orais e escritas e os
usam para contar enredos que fazem sentido para nós no presente.
Desde a perspectiva assinalada, a produção cinematográfica El Cid (1961), do
estadunidense Anthony Mann, se caracteriza por recriar cinematograficamente uma
realidade épica medieval retratada no cantar de gesta Poema de Mio Cid, obra anônima
da épica medieval espanhola do século XII, que narra os feitios e façanhas e do cavaleiro
Rodrigo Diaz de Vivar – Al Sayeed ou El Cid Campeador – que viveu na Espanha num
período histórico caracterizado pela convivência entre cristãos e mouros. A ideia da
organização feudal medieval durante os séculos XI e XII consistia, basicamente, na
submissão de vassalos campesinos a um senhor guerreiro que oferecia proteção pela
troca de uma parte daquilo que eles cultivavam. Enquanto a ocupação principal do senhor
feudal era a guerra contra os mouros (no caso da Espanha) a dos vassalos era rural, e
voltada, fundamentalmente, para o cultivo da terra.
No âmbito deste estudo, podemos afirmar que o heroísmo épico protagonizado por
Rodrigo Dias de Vivar na narrativa fílmica El Cid, adaptou o mundo narrado descrito pelo
Poema e o focou, por meio da linguagem e efeitos cinematográficos, na figura e na
imagem guerreiro/heroica de El Cid. A produção de Anthony Mann foi alvo de muitas
críticas, principalmente, no que dizia respeito ao conceito de fidelidade à obra de
referencia. Mas, de maneira muito peculiar, a adaptação remontou aspectos
preponderantes do Poema, ressignificou, transcodificou e popularizou os valores do herói
medieval de maneira muito significativa e que interessaram abordar no trabalho.
2 A produção de Mann faz referencia direta à figura heroica do cavaleiro Rodrigo Diaz
de Vivar, mais conhecido por seu cognome El Cid Campeador que quer dizer “o senhor
vencedor de batalhas”, o que já demonstra o caráter do herói. Sob a perspectiva de
que o cinema pode reler e representar diferentes contextos histórico-sociais e literários, o
presente trabalho objetivando o desenvolvimento de um estudo exploratório do filme El
Cid (1961) dirigido por Mann, pretende focar e analisar a obra fílmica El Cid como um
meio narrativo dos valores do herói épico medieval, retratando a época em questão.
Com base nas releituras que o cinema pode fazer de momentos históricos e
realidades sociais, o presente estudo tem como texto base a edição crítica do Poema de
Mio Cid, sob a responsabilidade de Colin Smith (2001), abordagens histórico-medievais
voltadas à Península Ibérica de Valdeón Baruque (2006) e Carrasco & Etalini (2009), e
também alguns autores na linha dos estudos de literatura comparada como Pujals e
Romea (2001), Palma (2004) e Stam (2008).
2. O herói no cantar e versão cinematográfica de Mann
As novas formas de linguagens impulsionadas pelo desenvolvimento de novas
técnicas, assim como todo discurso, se vinculam com outros meios diversos de
representação surgidos ao longo da história humana. Como bem afirma Palma (2004):
O homem é um ser complexo, percebe e recria o mundo pela sintaxe dos sentidos,
sentimentos, razão e emoção. O seu percurso de criação é marcado pelo seu
desenvolvimento e incorporação de novas formas de expressão, novas linguagens e
tecnologias (...) .As linguagens se cruzam, se reportam, se equivalem e isto não é um
fato novo. (p. 8)
Neste aspecto, a versão cinematográfica El Cid (1961) de Mann, reporta a imagem
de Rodrigo Diaz sob um foco que dialoga com os valores do herói épico medieval; dentre
eles, se podem destacar: valentia para guerrear, honra e fama, “sapientia” frente às
adversidades, generosidade, justiça e fidelidade.
O cantar de gesta Poema de Mio Cid, poema anônimo da épica medieval espanhola
do século XII, insere-se no universo da cultura e sociedade medieval espanhola e tem
como personagem principal o cavaleiro Rodrigo Diaz de Vivar que fazia parte da corte de
Alfonso VI, rei de Leão e Castela. A cópia do cantar Poema de Mio Cid, feita pelo copista
Per Abbat, datada do século XII, apresenta uma narrativa que se inicia com o desterro do
herói decretado pelo rei Alfonso VI e a partir disso, se foca à ascensão da personagem,
Rodrigo Diaz, que sai de Burgos com seus vassalos em busca de meios para sobreviver.
É uma obra que narra o mundo social e guerreiro medieval. Ela é fruto de uma época
em que os ideais cristãos, principalmente na região de Leão e Castela, sustentavam uma
constante busca pela concretização de um Estado unificado. Esses ideais caracterizavam
o contexto guerreiro peninsular onde os cavaleiros assumiam uma função fundamental
que era o fato de defender seu senhor por meio do juramento suserania/vassalagem,
cabendo-lhes, também, defender a fé cristã. Essas tarefas determinavam a postura dos
3 heróis, pois ao executá-las com maestria, conforme enfatiza Cairns (1994), fazia com que
se propagasse sua fama, um requisito indispensável aos grandes cavaleiros, e
acrescenta:
lo que más deseaban los guerreros era la fama, más incluso que los anillos de oro o
las armas ricamente decoradas que les regalaban sus señores. Sí, gracias a sus actos
(y, por supuesto, a su generosidad), conseguían que un juglar cantara sus alabanzas,
eso quería decir que su nombre estaba entre los de los grandes guerreros: no había
logro mayor al que un hombre pudiera aspirar. (p.6)
Pelos seus feitos, no cenário de guerreiros medievais, El Cid se tornou um protótipo
de cavaleiro que chamou atenção de juglares, corte, povo, etc. reis, escritores. Principais
responsáveis pela sua fama ao longo do tempo, os versos épicos do Poema de Mio Cid
narram suas façanhas como guerreiro valente, generoso, cristão e sábio.
A estrutura formal do poema permitiu aos estudiosos de literatura classificá-lo como
um cantar de gesta. Esses cantares narravam as proezas dos grandes guerreiros e eram
compostos pelo mester de juglaría de maneira “didática” para serem recitados aos
ouvintes; desse modo, esse tipo de obra atingia uma grande parte do povo daquela
época. Sobre este gênero, já se pode afirmar que se trata de um “encontro durável e
massivo da epopeia com a política” (Álvares, 2006, p.6).
O herói épico medieval constitui-se como tal por suas ações desenvolvidas em prol
das causas de sua sociedade. A submissão do herói à corte e a uma entidade divina eram
atitudes chaves para que os guerreiros fossem louvados como bons exemplos e dignos
de êxito em suas batalhas. Em uma época feudal e, consequentemente, subdividida numa
forte estratificação social como a que viveu Rodrigo Díaz, século XI, emerge um ideal de
homogeneidade tanto monárquica, quanto religiosa, e neste contexto, os guerreiros
assumiam um papel crucial que se caracterizava pela expansão territorial e cristã.
A personagem em questão habitava um mundo medieval particularmente peninsular
em que cristãos conviviam e disputavam territórios com mouros. Ser guerreiro e herói
implicava defender uma causa e batalhar por ela. Ao mencionar sobre os heróis
característicos dos cantares de gesta, Álvares (2006) constata que o herói pertence:
a um grupo definido por solidariedades orgânicas e comunitárias: laços de família e de
parentesco, de corporação, de dependência vassálica. Identificado com a comunidade
nacional e incondicionalmente devotado à sua causa, o herói da canção de gesta
constitui, a par do estilo paratáxico e formulaico, a marca da conexão deste gênero
medieval com a formação de uma nação a montante da emergência do estado, ou
seja, no sentido em que a nação dá corpo à identidade étnica, linguística e territorial
de uma comunidade. (p.6)
É nesse sentido que assume grande relevância a figura de El Cid Campeador, pois
se trata de um guerreiro que luta por causas justas, que é fiel ao seu senhor e aos
princípios cristãos. Os valores como fidelidade e honra, tão presentes no Poema,
colaboram na construção da imagem desse herói guerreiro cristão medieval.
É tomando por base essa imagem do guerreiro, e que mostra o cantar de gesta, que
a narrativa fílmica ítalo-estadunidense, El Cid, reporta aspectos preponderantes da
4 personagem Rodrigo Diaz, como herói medieval. O discurso cinematográfico recria uma
época em que ser um cavaleiro reconhecido implicava defender e batalhar para apaziguar
e livrar a Península Ibérica de seus temores. O filme El Cid protagonizou, pela
identificação principal da sua personagem, uma aproximação à história medieval do
século XII cujo objetivo era “reconquistar” tanto a honra, quanto o poder para a monarquia
cristã. Segundo De Costa (1997), havia todo um ritual voltado ao cavalheiro:
é dada a espada, que é feita à semelhança da cruz, para significar que assim como
nosso Senhor Jesus Cristo venceu a morte na cruz na qual tínhamos caído pelo
pecado de nosso pai Adão, assim o cavaleiro deve vencer e destruir os inimigos da
cruz com a espada. E porque a espada é cortante em cada parte, e cavalaria existe
para manter a justiça, e justiça é dar a cada um o seu direito, por isso a espada do
cavaleiro significa que o cavaleiro mantém a cavalaria e a justiça com a espada.
(p.232)
A narrativa começa a desenrolar-se ao espectador com a voz de um narrador, e
depois já entram em cena os personagens. A ordem dos episódios no filme é organizada,
desde a abertura da narrativa com a chegada da personagem principal para capturar
mouros que incendiaram uma pequena igreja, até o ápice da conquista de El Cid. A trama
se pauta em diversos relatos sobre a vida da personagem, como, por exemplo, o
Juramento de Santa Gadea. A produção de Mann selecionou as disputas históricas que
fizeram El Cid um guerreiro famoso, como o duelo por Calahorra, que lhe conferiu o título
de Campeador e a guerra contra o emir ou chefe mulçumano Ben Yussuf, pela cidade de
Valencia. O discurso cinematográfico focou-se em sua generalidade, na qualidade de
guerreiro épico tipicamente cristão que fez de El Cid o herói da Reconquista. As cenas
fisgam o espectador na tela cinematográfica que o transporta diretamente ao contexto
medieval; desde a indumentária, paisagens, a caracterização dos palácios, as batalhas da
cavalaria, os duelos, até a simples caracterização de ferramentas e objetos como a
espada rude do herói.
A versão fílmica retrata a personagem épica e heroica de Rodrigo Diaz reconstruindo
sua imagem por meio de uma meticulosa combinação de linguagens; com uma trama
diferente da apresentada pela obra literária, a narrativa cinematográfica busca fortalecer a
figura heroica de Rodrigo e assim ressalta seus principais feitos, sempre valorizando sua
bravura e sua coragem.
O episódio em que se assiste o duelo entre El Cid e o Conde Gormáz (interpretado
pelo ator Andrew Cruickshank) é carregado de sentido pelo fato de a personagem
principal, Rodrigo Díaz objetivar manter sua honra frente a toda corte e a sociedade. Um
cavaleiro medieval digno não podia viver em paz se sua honra fosse atingida como é o
caso do Campeador.
Proteger a sociedade dos inimigos avaros e violentos e, principalmente mouros
gananciosos como o emir Ben Yussuf, foi um dos requisitos do herói mais trabalhados na
versão cinematográfica. A prova disto, nos minutos iniciais da narração fílmica, o
espectador pode contemplar a imagem de um padre (interpretado pelo ator Tullio
Carminatti) rogando frente a uma igreja saqueada e queimada para que a entidade divina
enviasse alguém que os pudesse salvar do mal que aprisionava o seu povo, nesse
instante entra em cena o cavalheiro, ou seja, Rodrigo Diaz, a personagem principal do
5 filme (interpretado por Charlton Heston) para ajudar os desprotegidos, dentre eles o
próprio padre e o povo simples reunido; daí a compreensão subentendida sobre a missão
do herói.
Tanto no cantar de gesta, assim como no filme, a figura de Rodrigo Diaz está
associada aos valores de uma sociedade medieval na qual se realçam a honra, a
fidelidade, a justiça e uma completa submissão ao rei e aos princípios cristãos. A missão
de lutar para defender a sociedade dos males que a atemorizavam consistia em uma
virtude primordial para que se propagasse a fama dos guerreiros. Segundo Cairns(1994):
La Iglesia (…) practicaba que la lucha y la matanza podían ser buenas si se utilizaban
para proteger al pueblo y la obra de Dios del ataque enemigo. Así, a un guerrero
cristiano le resultaba muy fácil pensar, cuando luchaba por su rey y su pueblo, que
estaba haciendo el bien. (p.7)
O cinema e seus múltiplos recursos se caracterizam em uma de suas dimensões, por
contar histórias. Sua linguagem aborda os elementos essenciais de uma narrativa,
estando contidos o narrador, os personagens, os acontecimentos, o tempo, a
caracterização do espaço. Integrando este universo narrativo, a obra de Mann focou o
herói medieval, Rodrigo Diaz a fim de aproximar sua trama a um contexto tipicamente
medieval. Caracterizou seus personagens e os inseriu numa trama cujo tempo se
reconstrói no reinado de Fernando III e Alfonso VI.
3. Conclusão
Literatura e cinema são diferentes signos, e como tais carregam um material
ideológico-representativo, um recorte de interpretações do mundo histórico. A arte
cinematográfica acentuou a imagem heroica de El Cid popularizando-a por intermédio do
seu discurso inserido numa trama peculiar que alude a diversos relatos sobre Rodrigo
Diaz de Vivar, mas que se foca no aspecto heroico medieval dado pelo cantar a esse
cavaleiro da corte castelhana.
A narrativa fílmica usou de seus recursos cinematográficos para retratar um contexto
histórico chave para caracterizar e interpretar El Cid, no qual a imagem de Rodrigo Diaz
foi tecida como a de um homem expressivo pela sua coragem e pelos seus valores
feudais.
O cinema utilizou seus meios como a imagem, o roteiro adaptado do Poema, a
gestualidade, o mover das câmeras para elaborar as cenas, baseadas nos mais diversos
relatos sobre cavaleiro medieval e voltou seu foco ao heroísmo medieval deste cavaleiro
na corte castelhana. Sendo o cinema também uma narrativa, Pellegrini et al. (2003)
apontam que:
Quem narra escolhe o momento em que uma informação é dada e por meio de que
canal isso é feito. Há uma ordem das coisas no espaço e tempo vivido pelas
personagens, e há o que vem antes e o que vem depois ao nosso olhar de
espectadores, seja na tela, no palco ou no texto. (p. 64)
6 No filme El Cid a ordem pela qual os episódios são apresentados ao espectador
descreve a vida de um herói medieval que ajuda uma sociedade fragilizada, divida e
atemorizada pelo mal provocado a guerra entre cristãos e mouros. Esse herói não era
dotado de poderes sobrenaturais, mas se assemelhava a todos os demais cavaleiros por
estar submisso à mesma sorte e drama do destino; o que o diferenciava dos demais,
eram suas fortes convicções e seus princípios. É através de atitudes como as de
obedecer seu senhor, Alfonso VI, rei de Leão e Castela, e ser devoto à cristandade que
se enfatiza valores típicos na personagem como: fidelidade às autoridades constituídas,
bravura e coragem para defender a fé e fazer justiça, honestidade para com o próximo.
El Cid ficou conhecido por suas façanhas em prol da cristandade, e sendo um nobre
cristão, por seus valores distintos era aludido como “o que nasceu em boa hora”. A
submissão do herói a uma entidade divina e a ajuda desta o propiciaram bons êxitos em
suas batalhas, na defesa dos ideais cristãos e em sua trajetória. Esses bons êxitos
confirmaram-lhe suas virtudes, seus valores conferindo-lhe, portanto, o título de herói
épico medieval.
Ambas as narrativas, a literária e a cinematográfica tecem a figura do herói como uma
esperança para sociedade, um modelo a ser seguido, um vassalo fiel, um homem
exemplar, um cavaleiro dinâmico, enfim, tecem a personagem de Rodrigo Diaz de Vivar
com os fios da popularidade que propagam seus feitos exemplares.
Esses valores fizeram com que a figura de El Cid Campeador se destacasse como
cavaleiro e, juntamente aos seus grandes feitos, ele fosse elevado ao posto de herói
nacional. Sua imagem épica o eternizou como um grande cavaleiro cristão. A
personagem Rodrigo Diaz fez parte de uma realidade que se caracterizava pela
necessidade de construir modelos, de exaltar e propagar bons costumes e exemplos
cristãos. A versão cinematográfica El Cid de Anthonny Mann reporta essa necessidade,
tornando o filme inesquecível no sentido de reconstruir a fama do guerreiro e herói
medieval cristão do século XI.
4.
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Extraído
o
14
de
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Valdeón Baruque, Julio (2006). La Reconquista. El Concepto de España: unidad y
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