Domingo de Páscoa Homilia meditada para a Família Salesiana P. J. Rocha Monteiro, sdb VI Domingo de Páscoa Jo 15,9-17 1. Introdução A mensagem central: a alegria com o Ressuscitado. Depois de cinco semanas de Páscoa e quando faltam duas para o Pentecostes, a Oração Coleta pede a “Deus omnipotente a graça de viver dignamente estes dias de alegria em honra de Cristo ressuscitado”. Sete semanas para uma festa pode parecer-nos longo, mas é o coração de todo o ano. Vale a pena que o vivamos em plenitude. As três leituras insistem num único tema: o amor. O amor que Deus tem por nós; o amor que se manifestou em Jesus Cristo; o amor que devemos ter uns pelos outros; um amor universal, sem fronteiras, por todo e qualquer homem. Também Maria de Nazaré, a Senhora de maio, a Senhora Imaculada Auxiliadora e a Senhora de Fátima, nas nuances dos seus títulos são um alento novo a celebrar a Páscoa e a esperar o Espírito Santo. Nossa Senhora de Fátima insiste de modo particular na conversão do coração, ou seja, numa mudança de vida cuja meta é a santidade. 2. Cenário de despedida Estamos na ceia de Quinta-feira do mês de Nisan do ano trinta. A festa da Páscoa está muito próxima e a cidade está cheia de forasteiros. Jesus também está na cidade com o Seu grupo de discípulos. O clima é denso. Querem eliminar Jesus. Trata-se duma ceia de despedida e Jesus vai deixar o Seu testamento sagrado. Nele figuram os apóstolos como testemunhas do Seu Reino. 3. Deus é amor O tema de hoje é a continuação do domingo passado, onde se falava de Cristo como videira e de nós como sarmentos e éramos convidados a “permanecer unidos à videia correndo em nós a seiva divina” que nos transforma em cachos dourados de uvas para Deus Santo. A palavra “amor” volta a aparecer nove vezes e a palavra “amigos” três vezes. Agora Jesus dá a sequência completa do projeto do amor cristão: “Como me amou o Pai, também Eu vos amei. Permanecei no Meu amor. Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor, como Eu guardei os mandamentos do Meu Pai e permaneço no Seu amor. Falei-vos estas coisas, para que a Minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa. É este o Meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos. Vós sois Meus amigos, se fizerdes as coisas que Eu vos mando. Não mais vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor, mas chamei-vos amigos, porque todas as coisas que ouvi do Meu Pai vo-las dei a conhecer. Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi e vos constituí para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, para que tudo o que pedirdes ao Pai em Meu nome, Ele vos dê. Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros (Jo 15,9-17). 4. Harmonia de palavras à volta do amor São muitos os termos que nos convidam aos afetos, ao calor humano, emocional, à entrega total de si, à grandeza do irmão e da comunidade. Guardar os mandamentos e dar a própria vida é exigência do amor. Cada frase deste Evangelho é um mundo que merece ser meditado, contemplado, saboreado. Cada expressão abre um horizonte de mistério, sublinhando que ali está a fonte e o essencial do cristianismo. O amor é vida, aquilo que não morre, o que permanece para sempre. O amor abre um horizonte de mistério; é nele que está a fonte e o essencial do cristianismo. 5. “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei” “É este pequeno ‘como’ que me perturba e me encosta à parede! Sim, mas é também este ‘amar como Ele nos ama’ que me encanta e seduz, como fogo que queima, inquieta, aquece, ilumina, desacomoda, preenche, devora, orienta... Só o amor de Jesus é a medida de um amor sem medidas! Este amor é fonte e dom, maravilha de um contágio excessivo, que antecipa e provoca o nosso amor! Aquele ‘como’ indica a qualidade do verdadeiro amor: desproporcional, gratuito e infinito” (Sementes do Evangelho). É-nos proposto um caminho de comunhão, um crescimento na intimidade. Permanecer neste segredo fascina-me, faz-me permanecer no Seu amor. 1 Jo 4, 7-10 6. Deus é amor A reflexão de João leva-nos ao coração e à fonte da caridade. A afirmação central do texto é que «Deus é amor» (v. 8), e esta certeza manifestou-se no mistério da Encarnação do Filho: «Deus enviou ao mundo o Seu Filho.» (v. 9a) Daí deriva que o homem aprende a amar vendo a Deus que entrega o Filho «para que vivêssemos por Ele», (v. 9b) Não é o homem que procura e ama a Deus, mas é Deus que, desde sempre, procura apaixonadamente o homem (cf. v. 10). O homem que se sente amado e «perseguido» pelo amor de Deus reencontra finalmente a sua vocação fundamental no amor como Ele nos amou. Só quem se sente amado pode vencer o seu egoísmo e pode dar o que por sua vez recebeu. Amando os irmãos demonstramos que conhecemos a Deus. Act. 10,25-26.34-35.44-48 7. Conversão de Cornélio A conversão de Cornélio representa uma etapa fundamental na abertura da Igreja aos pagãos. Se é verdade que o acontecimento foi importante para Cornélio e para a sua família, muito mais o foi para Pedro e para a comunidade cristã, a qual, a partir desse momento, começa a tomar consciência do valor universal da Salvação. 8. Chamaste-me amigo Olhei-te nos olhos e neles vi as cores do céu, o brilho do regato. Tocaste-me, curaste-me, moldaste-me, tiraste-me da minha solidão. Sabia que existias mas não me tinha dado conta de que Tu me pertencias. Meu coração não resistiu porque me trataste com ternura, algo que há muito não sentia. Descobri o nome novo do meu Criador: a alegria. Deixei-me inebriar por ela e, sem perceber, passei a morar em Deus. Três planos de amor O amor do Pai por Seu Filho Jesus Cristo, O amor de Jesus pelos homens, O amor-dos-homens entre si. Deixai-me cantar meu canto de louvor: Alegria, festa, vigília ao luar. Deixai-me ser campo arado ao calor, Lavrado, regado pela água da serra, Epopeia do amor. Permanecei em mim Eu permanecerei em vós. Como posso ficar nesta brisa Se estou sempre a partir? Este é o meu mandamento: Amai-vos como Eu vos amei. Como vou saber o como? Ser amigo de Jesus é ser Sua testemunha Da vida divina que em nós germina. Ser amigo de Jesus é guardar Seus mandamentos, É amar os Meus irmãos mesmo em pensamento. Os instantes salpicados de cor, O mar e o céu azul, policromia. A noite vem, e no lar, com pais e filhos, há alegria, A festa, o encanto, o calor, a nova vida. Polifonia do amor. Preciso de ti, irmão tolerante, amável; O teu afeto é meu alimento e meu sustento. A tua alegria terna, carinhosa, em flor, Como da rosa vermelha desfolhada, Deixará em mim o aroma do teu amor. Amo-Te meu Deus e meu Rei. Teu amor é como o sol e a lua a esconder-se; Meu amor é como a era que sobe que sobe... Sem tino, sem destino, a perder-se!... Amar não é emoção ou sentimento; Sua nascente é o ardor do Evangelho. Amar é ser paixão, esquecimento, Dar perdão, a água, o pão e o tempo. Solidariedade, filantropia, altruísmos, Parentes pobres, modernos, do amor; Porque o amor que nos vem de Jesus, É a plenitude de todos os humanismos. “Não vos chamo servos mas amigos”. Quem diria tamanha dádiva eu receber? Sentir este aroma delirante em êxtase, A abrir pérolas divinizantes no entardecer, Lá longe, na madrugada dormente de meu Pai. J. Rocha Monteiro in “Palavra ardente”