PAINEL PRESBITERIAL DA PARÓQUIA SANTA RITA DE CÁSSIA ICONOSTASE Antes de uma exegese completa sobre o painel presbiterial pintado nesta paróquia, quero primeiro diferenciar arte sacra da arte religiosa e também o ícone do ídolo. Arte religiosa é todo aquele objeto de devoção pessoal. Por exemplo: aquela imagem de São Judas Tadeu ou de São Sebastião feita de gesso e posta em cima de um oratório em sua casa, aquele quadro do sagrado coração de Jesus e do Sagrado coração de Maria pendurados na parede de sua sala ou até mesmo o quadro da Santa Ceia pendurados na parede de sua cozinha são tipos de arte religiosa, é para uso devocional seu e de sua família. Já a arte sacra, obrigatoriamente, deve se encontrar dentro do espaço sagrado: castiçais, candelabros, imagens talhadas em madeira, a arte pintada no painel presbiterial e até mesmo o banco onde sentamos são tipos de arte sacra, e unidos formam o templo maior que é a casa do Pai – a nossa casa. Falaremos agora sobre a iconografia. A iconografia é a arte precursora de toda e qualquer arte cristã, e tem como seu primeiro artista o nosso evangelista São Lucas que, provavelmente, não conheceu Jesus em vida, mas, escrevia e pintava tudo o que ouvia pela própria boca de Nossa Senhora, dos Apóstolos e das pessoas que tiveram a graça de acompanhar a passagem em vida do Filho de Deus, aqui, na terra. O que ele escreveu temos até hoje registrado, que é o Evangelho de São Lucas, porém, não temos a honra de poder venerar suas pinturas iconográficas, pois foram perdidas durante a perseguição aos cristãos e devido à própria ação do tempo. Depois da morte e ressurreição de Jesus a iconografia se coloca como um excelente meio de evangelização, sendo esta também uma expressão artística dos primeiros anos cristãos; portanto, são inaceitáveis as críticas que os católicos recebem de outras religiões cristãs, afirmando que prestamos culto aos ícones e imagens, ou simplesmente os adoramos como a um ídolo. Para que não haja mais nem uma dúvida sobre este assunto quero aqui, de uma vez por todas, diferenciar o ícone do ídolo. O ídolo atrai o espectador e captura o seu olhar. Assim não o deixa ir além da imagem dada, tornando-se para esta pessoa um deus. Já o ícone nos abre o olhar e nos transporta deste para um outro plano que não está ao alcance da visão e muito menos ao toque das mãos. Por isso não o temos como um objeto de adoração e sim de veneração, porque unido a interpretação de sua simbologia, tem o dever de funcionar como a fumaça de um incenso, que sobe aos céus, aproximando assim o vaidoso coração humano ao humilde coração de Deus. Na certeza de termos a arte sacra iconográfica como uma antecipação do reino dos céus, venho agora falar sobre a simbologia representada neste painel presbiterial. Logo ao primeiro olhar, avistamos o Cristo crucificado e aos pés de sua cruz, Santa Rita de Cássia, a santa das causas impossíveis. Santa Rita de Cássia foi uma das maiores devotas que a Igreja já teve quando nos referimos às chagas de Cristo, e por isso o artista aqui, nesta obra, quis representá-la com um cálice aparando, cuidadosamente, o sangue da chaga abe rta do peito de Cristo. Santa Rita meditava muitas horas na Paixão de Cristo, meditava nos insultos, nos desprezos, nas ingratidões que sofreu em seu caminho ao Calvário. Durante a quaresma do ano 1443, foi à Cássia um pregador chamado Santiago de Monte Brandone, que deu um sermão sobre a Paixão de Cristo, o que tocou tanto a Rita que ao retornar ao monastério pediu, fervorosamente, ao Senhor ser participante de seus sofrimentos na cruz. De um modo especial exercitava-se na contemplação dos mistérios da Paixão e Morte de Jesus; a tanto chegou o seu amor na consideração das dores de Jesus que, um dia, prostrada aos pés do Crucificado, pediu amorosamente ao Senhor que lhe fizesse sentir um pouco daquela imensa dor que Ele havia sofrido pregado na cruz. Conforme a história, da coroa que cingia a cabeça da imagem do Redentor, desprendeu-se, então, um espinho, que se cravou na fronte da Santa como podemos ver nesta imagem, e que lhe causava intensíssimas dores que acompanharam a Santa até sua morte. Rita ficou confinada em uma cama os últimos anos de sua vida. Alguns meses antes de morrer, uma prima a visitou no mosteiro e ela perguntou à prima, se esta poderia fazer-lhe um favor. Rita pediu uma rosa do jardim da casa de sua família, perto de Rocaporena. Só que era por volta do mês de janeiro e as colinas de Cássia estavam cobertas de neve. Mesmo assim, quando a prima estava passando pela casa de Rita, ela descobriu uma rosa já toda florida em seu esplendor e, imediatamente, a levou para a Santa que já estava morrendo. Rita aceitou a rosa fora de estação como um sinal de que, mesmo na terra fria e sombria de Rocaporena - terra que abrigava os corpos de seu marido e dos dois filhos - havia o calor humano e a fragrância de uma rosa. Deus havia respondido às orações de Rita e trouxe os seus entes mais queridos da morte à vida eterna. Baseado neste fato, o artista, também quis representá- la, nesta obra, oferecendo uma rosa ao Cristo crucificado. Também um anjo localizado na parte esquerda do contemplador da obra, oferece à Santa Rita uma coroa de rosas. Do lado direito da obra encontramos pintada na vertical, uma frase em italiano muito conhecida de santa Rita (Se avete fede nel signore, nulla è impossibile) que em bom português significa: se tivermos fé no Senhor, nada será impossível. No centro superior da obra avistamos, também, duas mãos, uma negra e outra branca que representam o nosso Deus que é Pai de todas as raças. Estas mesmas mãos enviam o Espírito Santo em forma de pomba, que paira levemente sobre a cabeça de Cristo. Logo podemos afirmar que nesta obra está representada a Santíssima Trindade. Dentro da aureola de Cristo, assim como em todos os seus ícones, encontramos uma cruz que a chamamos de cruz mansural, ou seja, cruz do cordeiro manso, e dentro desta mesma cruz percebemos um trigrama grego formado pelas letras WON que significa que Deus está presente na imagem de Jesus, ou seja Cristo é o ícone visível de Deus para nós, literalmente significam: "Aquele que é", Deus revelado a Moisés no monte Sinai. Também do lado direito do painel avistamos Nossa Senhora do Carmo que é padroeira da diocese de Paracatu. Assim como em todo ícone de Nossa Senhora do Carmo, ela tem o menino Jesus em seus braços, que com sua mão esque rda segura juntamente com sua Virgem Mãe um escapulário. Já na mão direita do Menino Jesus, visualizamos um rolo da Nova Lei, a lei do amor, que representa o Evangelho, o qual Jesus revelou ao mundo e a humanidade deve seguir. Nossa Senhora tem o seu olhar fixo no Menino Jesus, porque até para ela, Cristo foi o centro de tudo. Ao determos o olhar para a cabeça e ombros de Nossa Senhora, ire mos identificar três estelas que, na iconografia, representam Maria, Virge m antes, durante e após o parto. Também do lado do ombro direito do menino Jesus, encontramos um tetragrama grego, que literalmente significam, IC Jesus e XC Cristo (Ιησος Χριστος). Em Nossa Senhora também encontramos outro tetragrama formados pelas letras, MP OY que significam mãe de Deus (Θεοτόκος). As cores azuis e verdes que formam o fundo da obra também têm um significado: as tonalidades em azul representam a divindade do Nosso Senhor e as tonalidades em verde representam, na obra, a humanidade. Por isso o sangue das chagas dos pés de Cristo é derramado para lavar os pecados do seu povo. Separado do painel central da Igreja, avistamos no sacrário produzido, artesanalmente, pelo artista, a figura do Pelicano no ninho com seus filhotes. A ave do pelicano simboliza a Eucaristia, Cristo que se imola pela humanidade. Quando o pelicano não tem comida para os filhos, então, ele pica o próprio peito até sangrar para dar o seu sangue para alimentar os filhotes. Nas laterais de onde se encontra o sacrário, avistamos os arcanjos, Gabriel que segura com sua mão esquerda a Eucaristia e com a mão direita uma trombeta anunciando o Cristo; e do outro lado, Rafael que com sua mão direita segura uma vela e com a esque rda um turíbulo, glorificando o Cristo com incenso. Por fim, quero pedir ao Nosso Senhor Jesus Cristo que através da intercessão de Santa Rita de Cássia e de Nossa Senhora do Carmo e sobre a proteção dos arcanjos Gabriel e Rafael, nos conceda ter o coração mais puro e contrito para quiçá um dia possamos contemplar a verdadeira face de Deus, que é a própria face de seu filho, nosso Senhor e Salvador. “O ícone é um anjo! Ele é mais do que uma mensagem, ele é o mensageiro”. (Jean Yves Leloup) Laecio Gomes Teixeira Artista Sacro Pe. Antonio Eduardo de Oliveira Pároco Guarda Mor, 21 de novembro de 2010.