IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem
I Encontro Internacional de Estudos da Imagem
07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR
O eterno judeu - o uso do cinema para a construção da
imagem judaica pelo governo nacional-socialista
Renata Aparecida Frigeri1
Resumo
Quando a segunda guerra mundial chegou ao fim, o horror encontrado pelos russos nos
campos nazistas de concentração e extermínio chocaram a humanidade e deu-se início a uma
busca pela compreensão de como aquilo teria sido possível. Este artigo trilha um caminho
através da película O Eterno Judeu, de 1940, do diretor Fritz Hippler, para tentar entender
como os alemães foram imersos através do cinema totalitário para construir a imagem do
povo judeu e apoiar o governo nacional-socialista, de Adolf Hitler, a partir de 1933. A
película O Eterno Judeu, apresentada como documentário em todas as cidades da Alemanha e
em alguns países já conquistados após o início da 2ª guerra mundial, tinha como objetivo
instilar crença, colocar a população contra qualquer judeu e incitar o ódio. A base para
elaboração desta pesquisa está concentrado na filosofia de Hannah Arendt (1999), Elias
Canetti (1995) e Siegfried Kracauer (1988).
Palavras-chave: O Eterno Judeu; Cinema totalitário; Propaganda.
Abstract
When World War II ended, the horror found by the Russians in Nazi camps concentration and
extermination shocked the humanity and has begun a search for understanding of how it
would have been possible. This article walk a path by The Eternal Jew, produced in 1940, by
director Fritz Hippler, to try to understand how the Germans were immersed through film
totalitarian to build the image of the Jewish people and support the National Socialist
government of Adolf Hitler starting from 1933. The film The Eternal Jew, presented as
documentary in all cities of Germany and in some countries already conquered after the start
of World War II, was intended to instill belief, putting the population versus any Jew and
inciting hatred. The foundation for development of this study is concentrated in on the
philosophy of Hannah Arendt (1999), Elias Canetti (1995) and Siegfried Kracauer (1988).
Key-words: The Eternal Jew; Cinema totalitarian; Propaganda.
Introdução
Ao final da 2ª Guerra Mundial a humanidade entrou em choque ao descobrir as
atrocidades cometidas pelo governo nazista durante os 12 anos de governo de Adolf Hitler e
se perguntava: como Hitler conseguiu manipular e conduzir um país inteiro e como tantas
pessoas foram mortas? Os alemães sabiam o que sucedia nos ditos reassentamentos ao Leste?
1
Mestranda em Comunicação Visual pela Universidade Estadual de Londrina, Especialista em Práxis e Discurso
Fotográfico (2007) pela mesma Instituição e Graduada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda pela
Universidade Estadual do Centro-Oeste (2005). E-mail: [email protected]
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Para trilhar um caminho de compreensão é preciso entender a situação econômica e política
da Alemanha antes de Hitler subir ao poder e como ele conduziu e manipulou a mente de cada
cidadão.
O período entre as duas grandes guerras mundiais, que definiram o percurso do
século XX, foi marcado por uma Europa economicamente frágil, pela ascensão econômica
dos Estados Unidos da América, pelo surgimento de regimes ditatoriais ao redor do mundo2 e,
principalmente, pelo Tratado de Versalhes, assinado ao final da 1ª Guerra Mundial, que
impunha uma série de responsabilidades e restrições à Alemanha, causando um
descontentamento geral na população e, consequentemente, levando à queda da República de
Weimar e a popularização do nazismo. Para Canetti (1995), Hitler jamais teria alcançado seu
objetivo se o tratado de Versalhes não houvesse dissolvido o exército dos alemães:
A proibição do serviço militar obrigatório é o nascimento do nacional-socialismo.
[...] O partido substitui o exército, e, ao primeiro, não se impõem fronteiras no
interior da nação. Cada alemão – homem, mulher, criança, soldado ou civil – pode
tornar-se um nacional-socialista [...]. (CANETTI, 1995, p. 179).
Apesar
das
adversidades
econômicas
e
políticas,
o
cinema
cresceu
significativamente neste período entre-guerras e a Alemanha produziu uma quantidade
considerável de obras que ficaram marcadas na história do cinema mundial. Em 1930,
segundo Kracauer (1988), o cinema alemão ramificou-se em duas vertentes principais: uma
que produzia películas com alto nível artístico3, defendia explicitamente o socialismo e era
contra o regime autoritário, porém esses filmes não dialogavam entre si e, principalmente, não
convenciam a população; a outra vertente, além de as obras estarem claramente interrelacionadas, buscavam a figura de um líder a ser seguido4, procuravam um herói e como a
população alemã continha pré-disposição ao sistema totalitário, os filmes deste segundo grupo
eram mais convincentes e mais sedutores.
[...] a preponderância de inclinações autoritárias foi um fator decisivo a seu favor.
Amplas camadas da população, inclusive parte da intelectualidade, estavam
2
Com a crise de 1929, a população perdeu a confiança na forma de governo liberal e com isso vários ditadores
se instalaram ao redor do mundo. Na Europa, países como Itália, Portugal, Espanha e a própria Alemanha
sucumbiram a governos ditatoriais por consequência da crise econômica.
3
São exemplos de filmes deste primeiro grupo: Senhoritas em Uniforme, Terra de Ninguém e Tragédia na Mina.
4
São exemplos de filmes deste segundo grupo: Guerra – Flagelo de Deus, O Batalhão da Morte e Os
Nibelungos.
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predispostas psicologicamente para a espécie de sistema que Hitler oferecia.
(KRACAUER, 1988, p. 313).
Em 1934, após se autoproclamar o “Führer” (líder), uma das providências
imediatas de Hitler foi a renovação da arte alemã, através da criação da Casa da Arte Alemã e
do incentivo financeiro a filmes produzidos com temática alemã-nazista, com objetivo de
valorizar os artistas nacionais. Fez parte da política de entretenimento nazista levar o cinema a
cidades que não possuíam um.
Além das películas de entretenimento, a principal meta de Joseph Goebbels era a
produção e distribuição de filmes políticos, normalmente apresentados como documentários,
com a finalidade de persuadir e educar as massas. Para Nichols (2009), a apresentação de uma
película apresentada como documentário tem como objetivo instilar a crença no espectador,
dar a ele um direcionamento, uma verdade. Essas películas tinham como objetivo educar as
mentes alemãs, repetidas a exaustão, determinariam o comportamento desejado pelo governo
nazista para o seu povo.
Antissemitismo e propaganda - A película O Eterno Judeu
O antissemitismo sempre esteve presente nos discursos de Hitler, mesmo antes de
chegar ao poder, no entanto, três momentos foram decisivos para a ampla propagação do
antissemitismo entre os alemães: a promulgação das Leis de Nuremberg5, em 1935; a
destruição de lojas judaicas, conhecida como a Noite dos Cristais6, em 1938; e a exibição
pública do filme O Eterno Judeu, em 1940.
5
Publicadas em 1935, as Leis de Nuremberg continham os seguintes artigos: Art. 1º 1) São proibidos os
casamentos entre judeus e cidadãos de sangue alemão ou aparentado. Os casamentos celebrados apesar dessa
proibição são nulos e de nenhum efeito, mesmo que tenham sido contraídos no estrangeiro para iludir a aplicação
desta lei. 2) Só o procurador pode propor a declaração de nulidade. Art. 2º - As relações extra-matrimoniais
entre Judeus e cidadãos de sangue alemão ou aparentado são proibidas. Art. 3º - Os Judeus são proibidos de
terem como criados em sua casa cidadãos de sangue alemão ou aparentado com menos de 45 anos. Art. 4º - 1)
Os Judeus ficam proibidos de içar a bandeira nacional do Reich e de envergarem as cores do Reich. 2) Mas são
autorizados a engalanarem-se com as cores judaicas. O exercício dessa autorização é protegido pelo Estado. Art.
5º - 1) Quem infringir o artigo 1º será condenado a trabalhos forçados. 3) Quem infringir os arts. 3º e 4º será
condenado à prisão que poderá ir até um ano e multa, ou a uma ou outra destas duas penas. Art. 6º - O Ministro
do Interior do Reich, com o assentimento do representante do Führer e do Ministro da Justiça, publicarão as
disposições jurídicas e administrativas necessárias à aplicação desta lei.
6
Em 1938, policiais da SS, vestidos de civis, iniciaram uma destruição de lojas judaicas e sinagogas. Ao menos
91 judeus foram mortos e 30 mil foram levados para campos de concentração, foram destruídas 7500 lojas
judaicas e 1600 sinagogas.
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Para Arendt (1989), as leis de Nuremberg oficializavam o que na prática já
acontecia, o único artigo que causou um verdadeiro impacto foi o terceiro, que proibia judeus
de terem como criados em suas casas cidadãos de sangue alemão ou aparentado com menos
de 45 anos. Para Canetti (1995), a exclusão gradativa dos judeus da sociedade alemã foi um
processo encontrado por Hitler para recuperar a autoestima da população alemã, que vivia sob
efeitos da alta inflação e do desemprego, ambos também consequências do tratado de
Versalhes:
Nenhuma desvalorização repentina da pessoa humana é jamais esquecida; ela é
demasiado dolorosa. É carregada pela vida toda, a não ser que se possa descarregá-la
sobre alguém. [...] A tendência natural é, então, encontrar algo que valha ainda
menos, algo que se possa desdenhar na mesma medida em que se foi desprezado.
[...] Aí, então, pode-se jogá-lo fora ou amassá-lo feito papel. O objeto que Hitler
encontrou para tanto, durante a inflação alemã, foram os judeus. (CANETTI, 1995,
p. 185).
A destruição de inúmeras lojas e sinagogas em 1938 fez com que os judeus ricos
migrassem da Alemanha para outros países ou mesmo outros continentes. Mas foi a exibição
pública do filme O Eterno Judeu que apresentou para a população a verdadeira intenção do
governo nacional-socialista. Produzido em 1940, o filme de Fritz Hippler, parece antecipar as
futuras mortes em larga escala, nas câmaras de gás, ao comparar judeus com ratos. Para a
divulgação da película, foi criada uma exposição com o mesmo nome do filme, que também
visava preparar o espectador para as cenas que encontraria no cinema.
Figura 1 – Cartazes de divulgação do filme O Eterno Judeu
Fonte: <http://www.calvin.edu/academic/cas/gpa/>. Acesso em: 10 dez. 2012
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O governo totalitário alemão, comandado e centralizado em Hitler, não teve
apenas um personagem que pudesse responder por todo o horror do período nazista. Para
Bauman (1998) as raízes desse horror devem ser procuradas e serão encontradas na obsessão
de Hitler, na subserviência dos seus capangas, na crueldade dos seus seguidores e na
corrupção moral semeada por suas ideias, além disso pode-se encontrar essas raízes em
aspectos peculiares da história da Alemanha e na particular indiferença moral do alemão
comum.
A solução final, expressão suave criada pelo governo nacional-socialista, para o
extermínio do povo judeu, foi assinada com a data de 1º de setembro de 1939, ou seja, um ano
antes da divulgação deste filme, mas é a mesma data em que a Alemanha invade a Polônia e
dá início a 2ª Guerra Mundial. Nesse período, os policiais da SS já assassinavam judeus por
fuzilamento, mas as câmaras de gás, responsáveis pelas mortes em ampla escala ainda não
existiam.
A película O Eterno Judeu, apresentada como documentário em todas as cidades
da Alemanha e em alguns países já conquistados após o início da 2ª guerra mundial, tinha
como objetivo instilar crença, colocar a população contra qualquer judeu e incitar o ódio. A
trajetória percorrida para despertar estes sentimentos na população em geral vai ao encontro
de direcionamentos dados aos alemães pelo governo nacional-socialista durante os sete anos
de governo anteriores ao filme: limpeza, trabalho e partilha.
Nos discursos públicos de Hitler e nos filmes educativos, distribuídos por todo o
território alemão, estes três temas estão sempre presentes. Pode-se citar, por exemplo, O
Triunfo da Vontade7 (1934), filme obrigatório para todos os estudantes, exibido também em
todas as salas de cinema do país em 1935 que, além de registrar o Encontro do Partido
Nacional Socialista, também pregava a limpeza, o trabalho e a partilha entre os alemães,
através das demonstrações representadas e discursos realizados por Hitler.
Neste sentido, a película O Eterno Judeu caracteriza o povo judeu em sentido
oposto ao que se buscava para o povo alemão. Ao considerar esses três subtemas como eixo
central, pode-se observar a condução presente através da narrativa, assim como a sua escolha
lexical, que não pode ser considerada aleatória ou inocente, mas uma escolha intencional,
buscando evidenciar características opostas a política definida pelo governo nacional-
7
Filme concebido e dirigido por Leni Reifenstahl, registra o encontro do partido nacional-socialista na cidade de
Nuremberg.
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socialista para os alemães, para dessa forma induzir o interlocutor e o predispor a seu favor.
Estes subtemas podem ser observados abaixo nas figuras 2, 3 e 4:
Figura 2 – Frames do filme O Eterno Judeu. Legenda (da esquerda para a direita): “Uma praga que ameaça a saúde do
povo ariano”; “Mas eles [os judeus] vivem por gerações nas mesmas casas sujas e infestadas de insetos”; “Numa linguagem
direta, os lares judeus são imundos e descuidados.”
Fonte: O Eterno Judeu (1940)
A figura 2 representa o ideal de limpeza, aqui no seu sentido mais literal, refere-se
apenas a condições de higiene. Peter Cohen afirma em Arquitetura da Destruição (1992) que
o governo nacional-socialista fez uma ampla campanha para que os alemães tornassem suas
casas e ambientes de trabalho mais limpos a partir dos primeiros meses de governo de Adolf
Hitler; filmes como O Triunfo da Vontade (1934) também representam este ideal através das
cenas onde ficam acampados os membros da Juventude Hitlerista.
Então a contraposição da condição retratada no filme do que seria um lar judeu,
através de cenas ilustradas com a aproximação da câmera em insetos nas paredes de uma casa,
demonstra ao espectador o perigo que aquele povo poderia oferecer ao alemão; tem o objetivo
de criar repulsa no espectador.
A próxima imagem (figura 3) refere-se ao demonstrativo de trabalho, também em
uma oposição judeu x alemão para reforçar o estereótipo de que o primeiro é diferente do
segundo: o governo de Hitler incentivou o trabalho manual, em fábricas e construções desde
1933, ou seja, a comparação com o realizado pelo judeu, denominado como comerciante ou
negociador, dá ao espectador a noção de “trabalho preguiçoso”, que não objetiva fazer esforço
físico para obter lucro. O demonstrativo do filme de imagens de comércios de rua até chegar
ao banqueiro pretende mostrar que todas as camadas sociais do povo judeu percorrem o
mesmo caminho.
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Figura 3 – Frames do filme O Eterno Judeu. Legenda (da esquerda para a direita): “Um ariano tem um senso de valor para
todas as atividades... ”; “Ele quer criar algo de valor: alimento ou roupa, casas ou máquinas.”; “[o judeu] Ele compra e
vende, mas não produz nada”; “Os judeus são um povo sem camponeses nem trabalhadores, uma raça de parasitas”; “A
produção ele deixa para os trabalhadores e camponeses da nação hospedeira”; “Seus rostos mostram as antigas
características do parasita perpétuo: o eterno judeu.”
Fonte: O Eterno Judeu (1940)
De acordo com Arendt (1989), dois grupos foram decisivos para que Hitler
conquistasse a população: os jovens e os desempregados – ambos sensíveis a uma propaganda
esperançosa e totalitária; quando Hitler foi nomeado chanceler da Alemanha, sua promessa
era a renovação política e econômica. Com a alta inflação que assolava a Alemanha no
período entre guerras, o número de desempregados era bastante significativo e o incentivo ao
trabalho, com aumento de número de fábricas por todo o país, foi vital para que Hitler
conquistasse de vez a população. Em oposição aos alemães, o povo judeu é retratado no filme
como “negociantes que nada produzem”.
A situação econômica da Alemanha no período entre-guerras era bastante
delicada, já que a inflação estava alta e a sua consequência foi o desemprego e a fome. Uma
solução encontrada pelo governo nacional-socialista para controlar as elevadas taxas de
miséria do país era o discurso de partilha, que se refere tanto aos ideais como ao dinheiro,
apregoada pelo governo nacional-socialista tem relação direta com o exército: a luta de todos
os alemães pelo ideal comum. Na película de 1940 (figura 4), demonstra-se os judeus como
individualistas e egoístas, novamente o oposto do que seria almejado para o povo alemão.
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Figura 4 – Frames do filme O Eterno Judeu. Legenda (da esquerda para a direita): “Com eles, o egoísmo individual não está
a serviço de dignos objetivos comuns”; “Ao contrário, a moralidade judia, numa grosseira contradição aos conceitos éticos
arianos”; “proclama o desenfreado egoísmo de todo judeu como uma lei divina”; “Sua religião faz da vigarice e da usura
uma obrigação”; “Então, para os judeus, fazer negócios é algo sagrado”; “Para o judeu só há uma coisa de valor:
dinheiro.”
Fonte: O Eterno Judeu (1940)
Para Canetti (1995), o demonstrativo de que os judeus dominavam
financeiramente o mundo, “quando ninguém mais sabia lidar com o dinheiro”, fato que é
exaustivamente repetido na película, foi um fator decisivo para despertar o ódio aos judeus
entre a população em geral, que havia sido prejudicada pelos efeitos inflacionários
decorrentes da 1ª Guerra Mundial.
Após apresentar a trilogia limpeza-trabalho-partilha em que opõe o alemão ao
judeu, com a intenção de desprezar um e valorizar outro, O Eterno Judeu mostra a imigração
deste povo pelo mundo, assim como a pulverização dos ratos pelos continentes, traçando um
paralelo entre ratos e judeus:
[Os ratos] Eles são espertos, covardes e cruéis e geralmente surgem em gigantescas
multidões. Eles representam os elementos de dissimulação e destruição subterrânea
entre os animais da mesma maneira que os judeus fazem na humanidade. [...] A
Alemanha tem feito uma limpeza de judeus. Modo de pensar judeu e sangue judeu
nunca mais poluirão a nação germânica. Sob a liderança de Adolf Hitler, a
Alemanha hasteou a bandeira de guerra contra o eterno judeu. [...] A eterna lei da
natureza, mantendo a pureza racial, é o legado que o movimento Nacional Socialista
deixa para a nação germânica para sempre. Neste espírito, o povo unificado alemão
marcha para o futuro”. (O ETERNO JUDEU, 1940)
A película ainda afirma que eles são responsáveis pelas organizações criminosas e
prostituição por todo o mundo, despreza sua arte e nomina-a como “degenerada”, critica
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intelectuais judeus famosos como Karl Marx e Albert Einstein, tenta a todo o custo desprezar
e denegrir o povo judeu e induzir o espectador do filme a uma conclusão.
Considerações Finais
Os campos de concentração representaram o horror e a barbárie que foi o governo
nazista através de um meticuloso plano para exterminar os judeus de toda a Europa. Arendt
(1989) destaca que os campos dos regimes totalitários servem como laboratórios, onde se
demonstra a crença fundamental do totalitarismo, onde tudo é possível. Comparadas a esta,
todas as outras experiências têm importância secundária, inclusive as barbáries médicas.
Mas o desemprego e a alta inflação que dissipavam a Alemanha no início da
década de 30 foram fundamentais para que o Partido Nacional Socialista conquistasse novos
adeptos e se espalhasse pela Alemanha; a crise de 1929 foi decisiva para que a população não
desejasse mais um governo liberal como Weimar; esses fatores tornaram o povo alemão
propenso a aceitar um governo totalitário como o de Hitler e sua propaganda.
Após a tomada de poder pelo partido nacional-socialista, por meio de Hitler, era
preciso envolver toda a população naquele espetáculo da esperança em dias melhores e o
cinema foi o meio escolhido para levar a todas as cidades da Alemanha os ideais do novo
governo. Então o cinema projetou o partido nacional-socialista como a verdade, mostrou a
população como deveria agir e comportar-se, seduziu os alemães e criou ideais de uma
Alemanha forte, com empregos e com a inflação controlada.
No período pós-guerra, um jornal alemão – o Frankfurter Rundschau, fez a
pergunta óbvia “Por que tantas pessoas que deviam conhecer o passado do promotor-chefe,
por exemplo, se calaram?” e o próprio jornal respondeu “Porque essas pessoas também se
sentiam incriminadas” (ARENDT, 1999, p. 29). Não se pode deixar de notar que o nazismo
teve apoio popular, as mais diversas camadas sociais e profissionais estiveram ao lado do
governo nacional-socialista e todos os extratos da sociedade após o final da guerra ainda
estavam repletos de funcionários que fizeram parte daquele governo. Apesar disso, para
Arendt (1989), os meros simpatizantes, ou seja, a grande massa populacional germânica não
sabia exatamente o que acontecia, assim como só as formações da SS sabiam que os judeus
seriam exterminados no início da década de 40, período de lançamento da película O Eterno
Judeu; o terror e o absurdo das câmaras causavam a incredulidade da população em geral, até
mesmo dos judeus.
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Referências Bibliográficas:
ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo: antissemitismo, imperialismo, totalitarismo.
Trad: Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
________________. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. Trad:
José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Trad: Marcus Penchel. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1998.
CANETTI, Elias. Massa e Poder. Trad: Sérgio Tellaroli. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
KRACAUER, Siegfried. De Caligari a Hitler: uma história psicológica do cinema alemão.
Trad: Tereza Ottoni. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.
NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. Trad: Mônica Saddy Martins, 4. Ed.
Campinas, SP: Papirus, 2009.
Filmografia:
ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO. Direção: Peter Cohen. Narração: Bruno Ganz.
Alemanha: Versátil Home Video, 1989 / 1992. 1 DVD. (121 min.).
O ETERNO JUDEU. Direção e Roteiro: Fritz Hippler. Alemanha: Continental Home Vídeo,
1940. Arquivo Digital. (65min.).
O TRIUNFO DA VONTADE. Direção: Leni Riefenstahl. Roteiro: Walter Ruttmann.
Alemanha: Continental Home Vídeo, 1934. 1 DVD. (110 min.).
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