2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA
LÍNGUA PORTUGUESA – Questões de 01 a 20
Instrução: leia o texto abaixo para responder às questões de números 01 a 05.
Síndrome do excesso de informação
O eterno sentimento humano de ansiedade diante do desconhecido começa a
tomar uma forma óbvia nestes tempos em que a informação vale mais que
qualquer outra coisa. As pessoas hoje parecem estar sofrendo porque não
conseguem assimilar tudo que é produzido para aplacar a sede da humanidade por
mais conhecimento.
Com toda ansiedade, a angústia típica de nosso tempo machuca. Seu
componente de irracionalidade é irrelevante para quem se sente mal. O escritório
de estatísticas da Inglaterra divulgou recentemente uma pesquisa que é ao mesmo
tempo um diagnóstico. Cerca de um sexto dos ingleses entre 16 e 74 anos se
sente incapaz de absorver todo o conhecimento com que esbarra no cotidiano. Isso
provoca tal desconforto que muitos apresentam desordens neurológicas. O
problema é mais sério entre os jovens e as mulheres. Quem foi diagnosticado com
a síndrome do excesso de informação tem dificuldade até para adormecer. O sono
não vem, espantado por uma atitude de alerta anormal da pessoa que sofre. Ela
simplesmente não quer dormir para não perder tempo e continuar consumindo
informações. Os médicos ingleses descobriram que as pessoas com quadro agudo
dessa síndrome são assoladas por um sentimento constante de obsolescência, a
sensação de que estão se tornando inúteis, imprestáveis, ultrapassadas. A maioria
não expressa sintomas tão sérios. O que as persegue é uma sensação de
desconforto - o que já é bastante ruim.
O ambulatório de Ansiedade da USP ainda não pesquisa a ansiedade de
informação especificamente. Mas tem atendido um número crescente de ansiosos
que mencionam como causa das suas apreensões a incapacidade de absorver
informações ao ritmo que consideram ideal. "Ler e aprender sempre foi tido como
algo bom, algo que devíamos fazer cada vez mais. Não sabíamos que haveria um
limite para isso. Está acontecendo com a informação o mesmo que já acontece
com o hábito alimentar. Em vez de ficarmos bem nutridos, estamos ficando obesos
de informação", diz Anna Verônica Mautner, psicanalista em São Paulo.
BAPTISTA, Cristina. Veja. São Paulo:
Abril. Set. 2001. Fragmento
1)
Pela composição do texto apresentado, podemos chegar à conclusão de que
se trata, tipicamente,
a)
b)
c)
d)
de uma notícia jornalística - um texto narrativo, portanto.
de um manifesto popular - assim, um texto descritivo - apelativo.
de um relato pessoal-logo, um texto levemente informativo.
de uma exposição - um texto de divulgação, com informações objetivas.
SISTEMA EQUIPE DE ENSINO
GABARITO 1
1
LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014
2)
O tema desenvolvido no texto se centra na abordagem de um problema que
a)
b)
c)
d)
3)
O fragmento que representa o núcleo central do conteúdo do texto é:
a)
b)
c)
d)
4)
precisa ser entendido como uma palavra invariável.
requer que conheçamos sua origem etimológica.
necessita que se recorra a partes anteriores do texto.
supõe que temos ciência de sua composição fonológica.
No trecho a seguir:
"Em vez de ficarmos bem nutridos, estamos ficando obesos de informação". O
fragmento destacado
a)
b)
c)
d)
2
"O ambulatório de Ansiedade da USP ainda não pesquisa a ansiedade de
informação".
"As pessoas hoje parecem estar sofrendo porque não conseguem
assimilar tudo que é produzido".
"A maioria não expressa sintomas tão sérios. O que as persegue é uma
sensação de desconforto - o que já é bastante ruim".
"Ler e aprender sempre foi tido como algo bom, algo que devíamos fazer
cada vez mais".
Analise o segmento: "Não sabíamos que haveria um limite para isso". O item
destacado, para ser interpretado com êxito,
a)
b)
c)
d)
5)
atinge as pessoas com um menor grau de escolarização.
é mais comum entre pessoas das sociedades europeias.
é exclusivo dos grupos humanos pertencentes a atualidade.
envolve o ritmo acelerado da produção do conhecimento.
exemplifica uma aliteração.
manteve seu sentido literal.
produz um efeito de ambiguidade.
constitui uma linguagem figurada.
GABARITO 1
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6)
Leia:
Morte no terreno
O corpo do jovem desaparecido, à noite, foi encontrado morto, quinta-feira,
próximo ao terreno baldio, no parque dos Timbiras, no saco plástico, jogado junto
com outros dejetos. O saco foi achado por policiais, pois os catadores de lixo que
frequentavam o local não alegaram nada. A família de Frederico Silva, sabendo
que naquele dia haviam encontrado um cadáver ali, apressou-se em comparecer
no Lixão, admitindo que ele havia sumido após a festa da vizinhança e que não
havia motivo para isso acontecer.
Assinale a alternativa que apresenta análise INADEQUADA do texto:
a)
b)
c)
d)
7)
Como se trata de texto a ser veiculado em jornal, o uso de "quinta-feira" é
informação suficiente para que o leitor precise a data do acontecimento.
Com o uso do artigo em "próximo ao terreno baldio", pode-se concluir que
o parque dos Timbiras possui um único terreno baldio.
O uso do artigo em "no saco plástico" mostra que o autor está tratando
está informação como sendo de conhecimento do leitor.
A segunda utilização do vocábulo "saco" não apresenta inadequação, pois
o leitor já tivera conhecimento da existência de um saco.
Leia:
Destino atroz
Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando os
escreve e, por último, quando declamam os seus versos.
(Mário Quintana)
O pronome pessoal do caso oblíquo os se refere:
a)
b)
c)
d)
ao sofrimento do poeta.
aos sentimentos do poeta.
a três vezes.
aos versos do poeta.
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GABARITO 1
3
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8)
Leia:
"Em casa há muita paz por um domingo assim.
A mulher dorme, os filhos brincam, a chuva cai...
Esqueço-me de quem sou para sentir-me pai
E ouço na sala, num silêncio ermo e sem fim
Um relógio bater, e outro dentro de mim...”
(Vinícius de Morais)
A preposição por, que aparece no primeiro verso, equivale à seguinte palavra
ou expressão:
a)
b)
c)
d)
9)
por causa de
antes de
em relação a
pois é
Leia:
Pais e adultos em geral são incompetentes para entender o que vai pela
cabeça das crianças; estas, por sua vez, são incapazes de detectar o que se
esconde sob os gestos e as frases dos mais velhos. Na zona cinzenta que reúne
essas duas conhecidas limitações, reside o objeto de "Quarto de Menina", estréia
literária da psicanalista carioca Lívia Garcia Roza.
Luciana: oito anos, filha única de pais separados, é inteligente, sapeca, sem
papas na língua e mora com o pai, intelectual, pacato, caladão, professor de
filosofia. É ela a narradora do livro. Ao longo de 180 páginas, relata o seu cotidiano,
que se limita, aqui, ao próprio quarto, à biblioteca do pai, à sala e à casa da mãe. [
... ]
Apesar disso, não se trata de uma obra para crianças. A construção híbrida
da narrativa descarta episódios mais banais ou preocupações que seriam em tese
mais comuns às crianças, dando destaque para os diálogos, seja entre Luciana e
os pais, seja entre a garota e suas bonecas. (...)
(Normalidade do cotidiano, Folha de S.Paulo, 15.10.95, p. 5-11)
As expressões a seguir poderiam substituir a expressão "Apesar disso" (no
início do terceiro parágrafo) sem causar alteração essencial no significado da
frase, à exceção de:
a)
b)
c)
d)
4
Contudo
No entanto
Todavia
Portanto
GABARITO 1
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Leia o texto para responder às questões de números 10 a 13.
Um debate sobre a diversidade na escola reuniu alguns dos maiores nomes da
educação mundial na atualidade.
Trecho I
Carlos Alberto Torres
O tema da diversidade tem a ver com o tema identidade. Portanto, quando
você discute diversidade , um tema que cabe muito no pensamento pós modernista, está discutindo o tema da diversidade não só com ideias contrapostas,
mas também em identidades que se mexem, que se juntam em uma só pessoa. E
este é um processo de aprendizagem. Uma segunda afirmação é que a diversidade
está relacionada com a questão da educação e do poder. Se a diversidade fosse a
simples descrição demográfica da realidade e a realidade fosse uma boa
articulação dessa descrição demográfica em termos de constante articulação
democrática, você não sentiria muito a presença do tema diversidade neste
instante. Há o termo diversidade porque há uma diversidade e que implica o uso e
o abuso de poder, de uma perspective ética, religiosa, de raça, de classe. [...]
Trecho II
O tema da diversidade, como tantos outros, hoje em dia, abre muitas versões
possíveis de projeto educativo e de projeto político e social. É uma bandeira pela
qual temos que reivindicar, e pela qual temos reivindicado há muitos anos, a
necessidade de reconhecer que há distinções, grupos, valores distintos, e que a
escola deve adequar - se às necessidades de cada grupo. Porém, o tema da
diversidade também pode dar lugar a uma série de coisas indesejadas.
Revista Pátio. Diversidade na educação: limites e possibilidades.
Ano V, n. 20, fev./abr., p.29. Adaptado.
10) No fragmento "[...] está discutindo o tema da diversidade não só em ideias
contrapostas, mas também em identidades que se mexem, que se juntam
em uma só pessoa". Pode - se concluir que
( ) A expressão "não só [...] mas também" apresenta um acréscimo na
direção argumentativa do texto, funcionando como pista para o que o
autor quer dizer.
( ) o sujeito de "está discutindo [...] em identidades" está indeterminado na
oração e interfere no sentido do texto.
( ) as expressões "[...] que se mexem, que se juntam [... ]". além de
exercerem uma função sintática oracional, desempenham também uma
função discursiva na sequência do texto.
Analise as proposições anteriores coloque V para verdadeiras e F para as
falsas e marque a alternativa correta.
a)
b)
c)
d)
VVF
VFV
FVF
VFF
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GABARITO 1
5
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11) O termo em destaque em "E este é um processo de aprendizagem", faz
referência
a)
b)
c)
d)
ao enunciado que antecede e acrescenta uma informação conclusiva e
conceitual.
apenas ao enunciado "um tema que cabe bem no pensamento pós modernista" e introduz um esclarecimento do que foi dito.
as "ideias contrapostas" e pressupõe uma relação de contradição.
ao “Tema da diversidade” e anuncia a progressividade do texto.
12) Em "O tema da diversidade, como tantos outros, [...]" a expressão em
destaque pode ser considerada como
I.
Termo explicativo, com valor sintático, pois explica algo a mais em razão do
enunciado fundamental.
II. Construção que apresenta relação causal, tendo em vista ser introduzida pela
preposição "como".
III. Um sintagma, com sentido opinativo, que apresenta relação de comparação
com a expressão anterior.
IV. expressão intercalada de valor enumerativo que estabelece uma referência
comparativa genérica.
Marque a alternativa a seguir que apresenta a (s) proposição (ões)
VERDADEIRA (S).
a)
b)
c)
d)
I, III e IV.
II, apenas.
II e III.
I e III, apenas.
13) Em “[...] há distinções, grupos, valores distintos [...]", pode - se concluir que há
( ) um encadeamento de palavras que constrói a materialidade significativa
do texto.
( ) uma intencionalidade interlocutiva que desencadeia uma gradação
textual, colaborando com a coerência do texto.
( ) uma repetição de unidades lexicais, com função reducionista no foco da
informação.
( ) um conjunto de palavras contextualizadas que funcionam na organização
do texto.
Analise as proposições anteriores, e assinale V para as verdadeiras e F para
as falsas.
a)
b)
c)
d)
6
VFFV
VVFV
FVFV
VFVF
GABARITO 1
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Leia o texto para responder às questões de números 14 a 17.
Sensações Alheias
Não alcancei mais nada, e para o fim arrependi-me do pedido: devia ter
seguido o conselho de Capitu. Então, como eu quisesse ir para dentro, prima
Justina reteve-me alguns minutos falando do calor e da próxima festa de
Conceição, dos meus velhos oratórios e finalmente de Capitu. Não disse mal dela;
ao contrário, insinuou-me que podia vir a ser uma moça bonita. Eu, que já a achava
lindíssima, bradaria que era a mais bela criatura do mundo, se o receio me não
fizesse discreto. Entretanto, como prima Justina se metesse a elogiar-lhe os
modos, a gravidade, os costumes, o trabalhar para os seus, o amor que tinha a
minha mãe, tudo isto me acendeu a ponto de elogiá-la também. Quando não era
com palavras, era com o gesto de aprovação que dava a cada uma das asserções
da outra, e certamente com a felicidade que devia iluminar-me a cara. Não adverti
que assim confirmava a denúncia de José Dias, ouvida por ela, à tarde, na sala de
visitas, se é que também ela não desconfiava já. Só pensei nisso na cama. Só
então senti que os olhos de prima Justina, quando eu falava, pareciam apalpar-me,
ouvir-me, cheirar-me, gostar-me, fazer o ofício de todos os sentidos. Ciúmes não
podiam ser; entre um pirralho da minha idade e uma viúva quarentona não havia
lugar para ciúmes. É certo que após algum tempo, modificou os elogios a Capitu, e
até lhe fez algumas críticas, disse-me que era um pouco trêfega e olhava por baixo;
mas ainda assim, não creio que fossem ciúmes. Crio antes... sim... sim, creio isto.
Creio que prima Justina achou no espetáculo das sensações alheias uma
ressurreição vaga das próprias. Também se goza por influição dos lábios que
narram.
(ASSIS, Macho de. Dom Casmurro. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1988)
OBS: Bentinho é o narrador personagem do texto acima
14) Em "(...) é certamente com a felicidade que devia iluminar-me a cara" o verbo "devia"
forma com "iluminar" uma locução verbal, acrescentando-lhe a ideia de:
a)
b)
c)
d)
necessidade;
probabilidade;
obrigação;
indiferença;
15) O verbo "ser", que por duas vezes aparece no trecho "Quando não era com
palavras, era com o gesto de aprovação q dava a cada uma das asserções da
outra (...)", está empregado em substituição de verbo anteriormente expresso,
ao qual se refere e cujo sentido passa a ter. No trecho ele está substituindo:
a)
b)
c)
d)
insinuava;
acendia;
bradava;
elogiava;
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GABARITO 1
7
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16) Durante o tempo em que prima Justina elogiou as qualidades de Capitu, o
personagem-narrador:
a)
b)
c)
d)
com receio de se trair, permaneceu calado e indiferente;
pensava intimamente que ela dizia tudo aquilo movida mais pelo ciúme do
que pela verdade;
dizia que Capitu era lindíssima, a mais bela criatura do mundo;
limitava-se a concordar e a apoiar dissimuladamente com gestos as
palavras da outra;
17) No trecho "Não adverti que assim confirmava a denúncia de José Dias (...)”
aparece a palavra assim, que faz parte do grupo de instrumentos linguísticos
que ligam partes do discurso e promovem a coesão do texto. Ela remete a
algo que já foi dito, isto é, ao contexto anterior. No presente caso refere-se:
a)
b)
c)
d)
aos elogios feitos por prima Justina;
ao pedido de ajuda feito à prima Justina para não ser mandado ao
seminário;
à maneira como Bentinho reagira diante dos elogios de Justina e Capitu;
ao fato de Bentinho não ter seguido o conselho dado por Capitu;
18) Em “Se descobrissem a desmoralização que reina dentro de mim”, a forma
verbal destacada está no modo:
a)
b)
c)
d)
indicativo.
imperativo.
apelativo.
subjuntivo.
19) Leia:
“Quando você... aqui, estaremos a seu dispor”
“Quando você... nosso amigo de infância, convide-o para o evento.”
Nas orações acima, as lacunas podem ser preenchidas adequadamente por:
a)
b)
c)
d)
8
vir e ver
vier e vir
ver e vir
vier e ver
GABARITO 1
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20) Assinale a alternativa que preenche CORRETA e respectivamente as lacunas
das frases apresentadas.
“Mesmo que nós..., não conseguiríamos que eles... os papéis que os chefes...
em segredo.”
a)
b)
c)
d)
Interviéssemos, requeressem, mantêm
Intervíssemos, requeressem, mantém
Interviéssemos, requisessem, mantêm
Interíssemos, requisessem, mantém
SISTEMA EQUIPE DE ENSINO
GABARITO 1
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LITERATURA – Questões de 21 a 40
21) (ENEM) Leia o texto a seguir, de Eugênio de Castro, poeta simbolista, para
responder a questão
Epígrafe: inscrição colocada no ponto mais alto.
Murmúrio de água na clepsidra gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante,
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre…
Homem que fazes tu? Para quê tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa
Eugénio de Castro (n. em Coimbra a 4 Março de 1869; m. em
Coimbra, a 17 de Agosto de 1944)
Nesse poema, o que leva o poeta a questionar determinadas ações humanas
(versos 6 e 7) é a :
a)
b)
c)
d)
10
brevidade da vida.
infantilidade do ser humano.
destruição da natureza.
exaltação da violência.
GABARITO 1
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22) (UFTM) Leia o texto, para responder a questão.
[Jerônimo] Tomou conta da direção de todo o serviço, e em boa hora o fez,
porque dia a dia a sua influência se foi sentindo no progresso do trabalho. Com o
seu exemplo os companheiros tornavam-se igualmente sérios e zelosos. Ele não
admitia relaxamentos, nem podia consentir que um preguiçoso se demorasse ali
tomando o lugar de quem precisava ganhar o pão.
Acordava todos os dias às quatro horas da manhã, fazia antes dos outros a
sua lavagem à bica do pátio, socava-se depois com uma boa palangana de caldo
de unto, acompanhada de um pão de quatro; e, em mangas de camisa de riscado,
a cabeça ao vento, os grossos pés sem meias metidos em um formidável par de
chinelos de couro cru, seguia para a pedreira.
A sua picareta era para os companheiros o toque de reunir. Aquela ferramenta
movida por um pulso de Hércules valia bem os clarins de um regimento tocando
alvorada.
Jerônimo só voltava a casa ao descair da tarde, morto de fome e de fadiga. A
mulher preparava-lhe sempre para o jantar alguma das comidas da terra deles. E
ali, naquela estreita salinha, sossegada e humilde, gozavam os dois, ao lado um do
outro, a paz feliz dos simples, o voluptuoso prazer do descanso após um dia inteiro
de canseiras ao sol.
Passaram-se semanas. Uma transformação, lenta e profunda, operava-se
nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num
trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: faziase contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavamlhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus
primitivos sonhos de ambição; para idealizar felicidades novas, picantes e
violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de
guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso
resignando-se, vencido , às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que
o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os
conquistadores aventureiros.
(Aluísio Azevedo, O cortiço. Texto editado)
Considere as seguintes afirmações sobre esse texto.
I.
O perfil de Jerônimo é traçado pela descrição de seus hábitos e atitudes,
flagrando diferentes facetas do comportamento desse personagem.
II. A transformação que se operava em Jerônimo revelava nele o emergir da
sensualidade, em detrimento da razão.
III. O trecho expõe a tese sociológica abraçada pelo Naturalismo, segundo a
qual o homem é produto do meio.
IV. O texto tem caráter informativo, haja vista que nele se empregam figuras
de linguagem e palavras em sentido conotativo.
Deve-se concluir que estão CORRETAS as afirmações:
a)
b)
c)
d)
I e II, apenas.
II, III e IV, apenas.
I, II e III, apenas.
I, II, III e IV.
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LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014
23) (ENEM)
DO TÍTULO
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da
Central, um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu.
Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou
recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem
inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os
olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e
metesse os versos no bolso.
— Continue, disse eu acordando.
— Já acabei, murmurou ele.
— São muito bonitos.
Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do
gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e
acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam de meus
hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso
me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade. E eles, por graça, chamamme assim, alguns em bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jantar com você.” —
“Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas
essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo.” —“Meu
caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá
aqui na cidade; dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça”.
Não consulte dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão,
mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por
ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não
achei melhor título para a minha narração; se não tiver daqui até o fim do livro; vai
este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E
com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros
que apenas terão isso dos seus autores: alguns nem tanto.
(Machado de Assis. Dom Casmurro. Cap. I.)
O esclarecimento dos sentidos da palavra “casmurro” indica, em Machado de
Assis:
a)
b)
c)
d)
12
A valorização de um modelo narrativo pautado pela fidelidade à realidade.
A intenção de, através da erudição, educar o seu leitor.
A tendência de refletir e comentar a respeito da própria escrita.
A preocupação em criar um estilo despojado, direto e simples.
GABARITO 1
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24) (ENEM)
No século XIX, Charles Darwin descobriu que somos filhos de macacos. Sob o
impacto de sua própria conclusão, o autor de A Origem das Espécies ocultou,
durante certo tempo, a sua teoria da evolução. Ele vivia doente, queixando-se de
intensas dores de cabeça, derramando-se em vômitos e contraindo-se em
palpitações cardíacas. Sofria os efeitos de um conflito íntimo, como quem somatiza
um drama de consciência. Darwin, que sonhara ser sacerdote, fora levado por
caminhos que o tornaram autor de uma teoria que, como a astronomia de
Copérnico e Galileu, faria a Igreja vociferar também no século XIX. Chegou a
confidenciar a seu amigo Joseph Hooker que, ao admitir o parentesco entre o ser
humano e os símios, ficou-lhe o sentimento de culpa de quem comete um crime,
um verdadeiro parricídio — o assassinato de Adão.
(Revista Caros Amigos)
Influenciados pelas ideias de Darwin, os representantes do Naturalismo,
movimento literário do século XIX, comparavam os seres humanos a animais.
Os trechos abaixo foram extraídos da obra O Cortiço, cujo autor, Aluísio
Azevedo, foi o maior representante do Naturalismo no Brasil. Assinale a
alternativa em que essa característica, conhecida como zoomorfização, NÃO
esteja presente:
a)
b)
c)
d)
“A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais,
bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca.”
“ “A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a ‘Machona’,
portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal
do campo.”
“... uma negrinha virgem, chamada Leonor, muito ligeira e viva, lisa e seca
como um moleque, conhecendo de orelha, sem lhe faltar um termo, a
vasta tecnologia da obscenidade...”
“Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo
branco, curto e duro, como escova, barba e bigode do mesmo teor; muito
macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da
pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre...”
SISTEMA EQUIPE DE ENSINO
GABARITO 1
13
LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014
25) Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas
a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas
de chumbo.
[...].
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuavase; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que
enchia todo o cortiço.
Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e
rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentiase naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras
que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer
animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
AZEVEDO, Aluísio. “O cortiço”. 15 ed.
São Paulo: Ática, 1984. p. 28-29.
Assinale a alternativa que NÃO corresponde a uma possível leitura do
fragmento citado:
a)
b)
c)
d)
14
No texto, o narrador enfatiza a força do coletivo. Todo o cortiço é
apresentado como um personagem que, aos poucos, acorda como uma
colméia humana.
O texto apresenta um dinamismo descritivo, ao enfatizar os elementos
visuais, olfativos e auditivos.
Observa-se, no discurso de Aluísio Azevedo, pela constante utilização de
metáforas e sinestesias, uma preocupação em apresentar elementos
descritivos que comprovem a sua tese determinista.
Através da descrição do despertar do cortiço, o narrador apresenta os
elementos
introspectivos
dos
personagens,
procurando
criar
correspondências entre o mundo físico e o metafísico.
GABARITO 1
SISTEMA EQUIPE DE ENSINO
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26) (ENEM–2010)
Negrinha
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha
escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe
escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha,
sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não
gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos
padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu.
Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali
bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo.
Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas,
esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.
Ótima, a dona Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva.
[...]
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da
escravidão, fora senhora de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir
cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo – essa
indecência de negro igual.
LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I.
Os cem melhores contos brasileiros do século.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento).
A narrativa focaliza um momento histórico-social de focaliza um momento
histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-se, no
contexto, pela:
a)
b)
c)
d)
falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as
amigas.
ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças.
resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no
final do texto.
rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com
castigos.
27) Leia o poema abaixo
Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregada a' tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava...
O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,
Que, perfume e dano, refulgia e voava.
SISTEMA EQUIPE DE ENSINO
GABARITO 1
15
LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014
Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?
E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?!
(Olavo Bilac, POESIAS)
Indique a alternativa que NÃO ESTÁ de acordo com o poema.
a)
b)
c)
d)
O tema básico das estrofes é o amor irrealizado, que causa sofrimentos
ao poeta.
O poeta parnasiano privilegiou a forma, a maneira mais perfeita que
encontrou para efetivar sua arte, mesmo que, para isso, ele tivesse que
sacrificar suas emoções. Nesse sentido, os versos de Olavo Bilac são
uma crítica ao Parnasianismo.
O poeta fala da luta entre idéias e palavras e entre forma e conteúdo,
quando estes fracassam ao traduzirem nossos sentimentos. As estrofes
citadas são um derramamento da alma sobre essa luta, contrariando os
preceitos parnasianos de contenção lírica.
O verso “E a Palavra pesada abafa a Idéia leve” contém uma antítese,
que representa a contradição entre forma e conteúdo exposta pelo poeta.
28) (UFR-RJ)
O despertar do cortiço
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente, uma
aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a
cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns
cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as
saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos
braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o
alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo,
ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força
as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas das mãos. As
portas das latrinas não descansavam
AZEVEDO, Aluísio.O cortiço,São Paulo: Martins, 1968, p. 43.
São características desse texto, consideradas típicas do Naturalismo, entre
outras:
a)
b)
c)
d)
16
o idealismo, o comportamento determinista.
a ênfase no aspecto material da vida, o comportamento sofisticado.
as comparações dos seres humanos com animais, a promiscuidade.
a representação objetiva da vida, o endeusamento do ser humano.
GABARITO 1
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2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA
29) (UFSM-RS) Leia o soneto a seguir:
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto dos Anjos, Eu, Rio de Janeiro, Livr. São José, 1965.
A partir desse soneto, é CORRETO afirmar:
I.
Ao se definir como filho do carbono e do amoníaco, o eu lírico desce ao
limite inferior da materialidade biológica pois, pensando em termos de
átomos (carbono) e moléculas (amoníaco), que são estudados pela
Química, constata-se uma dimensão onde não existe qualquer resquício
de alma ou de espírito.
II. O amoníaco, no soneto, é uma metáfora de alma, pois, segundo o eu
lírico, o homem é composto de corpo (carbono) e alma (amoníaco) e, no
fim da vida, o corpo (orgânico) acaba, apodrece, enquanto a alma
(inorgânica) mantém-se intacta.
III. O soneto principia descrevendo as origens da vida e termina descrevendo
o destino final do ser humano; retrata o ciclo da vida e da morte,
permeado de dor, de sofrimento e da presença constante e ameaçadora
da morte inevitável.
Está (ão) correta(s)
a)
b)
c)
d)
apenas III
apenas I e II
apenas I e III
apenas II e III
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GABARITO 1
17
LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014
30) Analise este fragmento de Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrito por
Machado de Assis:
“Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica;
vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu
tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e
nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os
ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram,
gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...”
Considere o fragmento machadiano, sua obra, o período literário ao qual
pertence, as características de sua produção, assim como o contexto histórico,
político e social da época, e assinale a única alternativa INCORRETA.
a)
b)
c)
d)
18
A ironia, uma das características machadianas, está expressa nesse
fragmento especialmente em “tu amas a narração direta e nutrida, o estilo
regular e fluente”.
Machado de Assis, um dos nomes mais significativos do Realismo
Brasileiro, neste fragmento, estabelece uma relação crítica do narrador
com o leitor.
A “narração direta e nutrida” e “o estilo regular e fluente” - preferidos pelo
leitor e criticados pelo narrador - remetem ao estilo adotado pelo
Romantismo.
Embora neste fragmento haja uma crítica implícita ao Romantismo, foi
nesse período literário que Machado de Assis teve intensa produção e se
notabilizou como escritor.
GABARITO 1
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2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA
Instrução: leia os textos 1 e 2 para responder às questões de números 31 e
32.
Texto 1
E viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia, surgir de ombros e
braços nus, para dançar. A lua destoldara-se nesse momento, envolvendo-a na sua
cama de prata, a cujo refulgir os meneios da mestiça melhor se acentuavam,
cheios de uma graça irresistível, simples, primitiva, feita toda de pecado, toda de
paraíso, com muito de serpente e muito de mulher.
(Aluísio de Azevedo. O cortiço, 1999.)
Texto 2
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu
Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a
asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque
como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do
Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e
nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as
primeiras águas.
(José de Alencar. Iracema, 2005.)
31) (UFTM–2012) Comparando a descrição de Rita e de Iracema, é CORRETO
afirmar que
a)
b)
c)
d)
ocorre a caracterização das personagens tendo a natureza como pano de
fundo, traduzindo o ideal de que a melhor vida se vive de forma simples,
sem luxos, junto à natureza, desfrutando o que ela oferece. Os ambientes
em que as personagens vivem refletem, portanto, o bucolismo e as insere
no Arcadismo.
existe uma erotização flagrante na caracterização da primeira
personagem, viés compatível com a literatura naturalista, que vê o homem
movido por seus instintos mais primários no que diz respeito à
sexualidade. O mesmo não ocorre com a segunda, cuja descrição se
funda na idealização, comum aos românticos.
perpassa a caracterização de ambas as personagens idéia amplamente
recorrente no Romantismo brasileiro, ou seja, a concepção de mulher
acima do bem e do mal. As mulheres são vistas como seres com
qualidades morais e espirituais superiores às dos homens, o que as torna
inacessíveis a estes.
há, em ambas, um grande apelo ao aspecto mais instintivo e animalesco
do ser humano, o que as faz surgirem no texto como mulheres atraentes e
sedutoras, naturalmente superiores aos homens, visão literária
amplamente recorrente na prosa realista.
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GABARITO 1
19
LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014
32) (UFTM–2012) A passagem – A lua destoldara-se nesse momento,
envolvendo-a na sua cama de prata, a cujo refulgir os meneios da mestiça
melhor se acentuavam, cheios de uma graça irresistível [...]. –, sem prejuízo
de sentido e das relações gramaticais definidas no enunciado, em normapadrão da língua portuguesa, equivale a:
a)
b)
c)
d)
Os meneios da mestiça, cheios de uma graça irresistível, melhor se
acentuavam ao refulgir da lua, que se destoldara nesse momento,
envolvendo-a na sua cama de prata.
A mestiça, cheia de uma graça irresistível, fazia meneios cujos se
acentuavam à lua e ao seu refulgir que tinha-se destoldado nesse
momento, envolvendo-a na cama de prata.
A lua, envolvida na cama da mestiça, tinha-se destoldado nesse
momento, e o refulgir da mestiça melhor se acentuavam a ele, por
estarem cheios de uma graça irresistível.
Envolvida na cama de prata da lua, que destoldara-se nesse momento e
que o refulgir dos meneios da mestiça melhor se acentuavam, esta estava
cheia de uma graça irresistível.
33) (UFSM - 2012) A respeito de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, classifique as
afirmações seguintes como verdadeiras (V) ou falsas (F).
( ) O texto aponta a análise minuciosa da sociedade, como se as situações
envolvendo as personagens do romance fossem observadas através de
uma lupa, o que implica o detalhamento e a objetividade evidentes na
obra.
( ) A profunda análise do coletivo e focada em figuras marginalizadas, as
quais se orientam pelo instinto, não racionalmente, o que atesta o pendor
cientificista de Azevedo nesse romance naturalista, embora não ocorra a
animalização das personagens.
( ) O meio e o contexto histórico, para os naturalistas, têm total influência
sobre os homens, o que explica a postura de João Romão, Rita Baiana e
Jerônimo, personagens apresentadas pelo narrador como produto da
raça e do meio.
A sequência CORRETA é
a)
b)
c)
d)
20
V – F – V.
F – V – F.
V – V – V.
V – F – F.
GABARITO 1
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34) Leia e analise a poesia Via Láctea, de Olavo Bilac.
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” Eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
Com relação à poesia, só NÃO está adequado o que se afirma em:
a)
b)
c)
d)
Há um diálogo entre o eu-poético que, dominado pelo sentimento
amoroso, conversa e entende as estrelas e o “outro”, racionalista, que não
entende a metafísica que há em conversar com as estrelas.
O poeta utilizou discurso direto, identificado em três situações distintas
(primeira, terceira e última estrofe), marcadas pelo emprego de aspas.
Bilac utiliza o encadeamento, um recurso frequente na construção do
texto parnasiano que consiste em colocar no verso seguinte uma ou mais
palavras que completem o sentido do verso anterior, como ocorre, por
exemplo, nos versos 1 e 2; 6 e 7.
Bilac utiliza apenas rima rica em sua poesia, já que a rima rara resulta de
uma combinação muito especial de diferentes categorias gramaticais.
35) Leia os textos para resolver a questão.
Texto I
Mais claro e fino do que as finas pratas
o som da tua voz deliciava…
Na dolência velada das sonatas
como um perfume a tudo perfumava.
Era um som feito luz, eram volatas
em lânguida espiral que iluminava,
brancas sonoridades de cascatas…
Tanta harmonia melancolizava.
Cruz e Sousa
Observação – volatas: progressão de notas musicais dolência: sofrimento
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GABARITO 1
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LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014
Texto II
Antes de tudo, a Música. Preza
Portanto o Ímpar. Só cabe usar
O que é mais vago e solúvel no ar,
Sem nada em si que pousa ou que pesa.
Verlaine (Trad. de Augusto de Campos)
A leitura do Texto I confirma que:
a)
b)
c)
d)
o eu lírico expressa sua particular percepção do som inebriante de uma
orquestra de vozes harmoniosas, como prova o uso da expressão
dolência velada das sonatas(v.3).
o poeta expressa subjetivamente a impressão que lhe causava o som da
voz do interlocutor, conforme se pode compreender da leitura do verso 2.
o autor descreve com metáforas sombrias o cantar melancólico de sua
musa, por isso afirma, no verso 8, que “Tanta harmonia melancolizava”.
o eu lírico tem uma visão idealizada da falecida amada; daí o uso do
verbo no passado imperfeito (deliciava, perfumava etc.).
Para responder às questões 36 e 37, leia o trecho a seguir de “O cortiço”, de
Aluísio Azevedo.
Jerônimo bebeu um bom trago de parati, mudou de roupa e deitou-se na cama
de Rita.
– Vem pra cá... disse, um pouco rouco.
– Espera! espera! O café está quase pronto!
E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante da perfumosa
bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores (...)
Depois, atirou fora a saia e, só de camisa, lançou-se contra o seu amado, num
frenesi de desejo doído.
Jerônimo, ao senti-la inteira nos seus braços; ao sentir na sua pele a carne quente
daquela brasileira; ao sentir inundar-se o rosto e as espáduas, num eflúvio de
baunilha e cumaru, a onda negra e fria da cabeleira da mulata; ao sentir
esmagarem-se no seu largo e peludo colo de cavouqueiro os dois globos túmidos e
macios, e nas suas coxas as coxas dela; sua alma derreteu-se, fervendo e
borbulhando como um metal ao fogo, e saiu-lhe pela boca, pelos olhos, por todos
os poros do corpo, escandescente, em brasa, queimando-lhe as próprias carnes e
arrancando-lhe gemidos surdos, soluços irreprimíveis, que lhe sacudiam os
membros, fibra por fibra, numa agonia extrema, sobrenatural, uma agonia de anjos
violentados por diabos, entre a vermelhidão cruenta das labaredas do inferno.
36) (Unifesp) Pode-se afirmar que o enlace amoroso entre Jerônimo e Rita, próprio
à visão naturalista, consiste:
a)
b)
c)
d)
22
na condenação do sexo e consequente reafirmação dos preceitos morais.
na apresentação dos instintos contidos, sem exploração da plena
sexualidade.
na apresentação do amor idealizado e revestido de certo erotismo.
na descrição do ser humano sob a ótica do erótico e animalesco.
GABARITO 1
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37) (Unifesp) O cortiço, obra naturalista:
a)
b)
c)
d)
traduziu a sensualidade humana na ótica do objetivismo científico, o que
se alinha à grande preocupação espiritual.
fez análises muito subjetivas da realidade, pouco alinhadas ao
cientificismo predominante na época.
tratou de temas de patologia social, pouco explorados nas escolas
literárias que o precederam.
explorou as mazelas humanas de forma a incitar a busca por valores
éticos e morais.
38) Leia o poema abaixo e responda ao que se pede.
As mãos da morte
Mãos de finada, aquelas mãos de neve,
De tons marfíneos, de ossatura rica,
Pairando no ar, num gesto brando e leve,
Que parece ordenar, mas que suplica.
Erguem-se ao longe como se as eleve
Alguém que ante os altares sacrifica:
Mãos que consagram, mãos que partem breve,
Mas cuja sombra nos meus olhos fica...
Mãos de esperança para as almas loucas,
Brumosas mãos que vêm brancas, distantes,
Fechar ao mesmo tempo tantas bocas...
Sinto-as agora ao luar, descendo juntas,
Grandes, magoadas, pálidas, tateantes,
Cerrando os olhos das visões defuntas...
GUIMARAENS, Alphonsus de. Poesia. RJ: Agir, 1976.
Assinale a alternativa CORRETA.
a)
b)
c)
d)
Nos versos “Mãos de finada, aquelas mãos de neve, / De tons marfíneos,
de ossatura rica,” há o emprego de sinestesia, figura de linguagem
amplamente utilizada no Simbolismo.
É característica da poesia de Alphonsus de Guimaraens, o abandono da
temática intimista em favor de temas universais.
O poeta vale-se da metonímia como o principal recurso estruturador de
seu texto.
O poema apresenta características simbolistas como o registro nebuloso
da realidade, aliteração, misticismo e referências à cor branca.
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GABARITO 1
23
LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014
39) (PUC-RS) Para responder à questão, leia o fragmento do romance O cortiço,
de Aluísio Azevedo, e as afirmativas que seguem.
E maldizia soluçando a hora em que saíra da sua terra; essa boa terra
cansada, velha como que enferma; essa boa terra tranquila, sem sobressaltos nem
desvarios de juventude. Sim, lá os campos eram frios e melancólicos, de um verde
alourado e quieto, e não ardentes e esmeraldinos e afogados em tanto sol e em
tanto perfume como o deste inferno, onde em cada folha que se pisa há debaixo
um réptil venenoso, como em cada flor que desabotoa e em cada moscardo que
adeja há um vírus de lascívia. Lá, nos saudosos campos da sua terra, não se ouvia
em noites de lua clara roncar a onça e o maracajá, nem pela manhã ao romper do
dia, rilhava o bando truculento das queixadas, lá não varava pelas florestas a anta
feia e terrível, quebrando árvores; lá a sucuruju não chocalhava a sua campainha
fúnebre, anunciando a morte, nem a coral esperava traidora o viajante descuidado
para lhe dar o bote certeiro e decisivo; 4lá o seu homem não seria anavalhado pelo
ciúme de um capoeira; lá Jerônimo seria ainda o mesmo esposo casto, silencioso e
meigo; seria o mesmo lavrador triste e contemplativo como o gado que à tarde
levanta para o céu de opala o seu olhar humilde, compungido e bíblico.
I.
A diferença entre a velha e a nova terra é marcada pela força da natureza
que transforma a vida e o comportamento do homem.
II. Expressões como “cansada”, “enferma”, “frios e melancólicos”, nas
referências 1, 2 e 3, respectivamente, assumem uma conotação positiva
para a mulher de Jerônimo, ao definirem o espaço da felicidade perdida
na velha terra.
III. As ações dos animais, pintadas com os tons fortes do Naturalismo,
narram os perigos que Jerônimo e sua mulher vivem na selva.
IV. A expressão “lá”, nas referências 4 e 5, indica o espaço das virtudes do
marido, da paz doméstica e de uma vida simples e tranquila.
Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão CORRETAS apenas:
a)
b)
c)
d)
24
I e III.
II e III.
III e IV.
I, II e IV.
GABARITO 1
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40) (UFOP) Leia com atenção o seguinte texto:
Como uma cascavel que se enroscava,
A cidade dos lázaros dormia...
Somente, na metrópole vazia,
Minha cabeça autônoma pensava!
Mordia-me a obsessão má de que havia,
Sob os meus pés, na terra onde eu pisava,
Um fígado doente que sangrava
E uma garganta de órfã que gemia!
Tentava compreender com as conceptivas
Funções do encéfalo as substâncias vivas
Que nem Spencer, nem Haeckel compreenderam...
E via em mim, coberto de desgraças,
O resultado de bilhões de raças
Que há muitos anos desapareceram!
(ANJOS, Augusto dos. Eu: poesias. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1998. p. 61)
Assinale a alternativa INCORRETA.
a)
b)
c)
d)
É possível observar, na construção desse texto, uma tal concentração no
conteúdo que faz com que a forma fique bastante negligenciada.
Observa-se uma tendência bastante forte para a exploração de temas
mórbidos e patológicos como nos demais poemas de Augusto dos Anjos.
Apresenta o poema um pendor para a representação de um cientificismo,
mesmo que o impulso lírico seja uma constante presença.
Faz-se notar um pessimismo que, na sua exacerbação, acaba
caminhando para um quase total aniquilamento.
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