2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA LÍNGUA PORTUGUESA – Questões de 01 a 20 Instrução: leia o texto abaixo para responder às questões de números 01 a 05. Síndrome do excesso de informação O eterno sentimento humano de ansiedade diante do desconhecido começa a tomar uma forma óbvia nestes tempos em que a informação vale mais que qualquer outra coisa. As pessoas hoje parecem estar sofrendo porque não conseguem assimilar tudo que é produzido para aplacar a sede da humanidade por mais conhecimento. Com toda ansiedade, a angústia típica de nosso tempo machuca. Seu componente de irracionalidade é irrelevante para quem se sente mal. O escritório de estatísticas da Inglaterra divulgou recentemente uma pesquisa que é ao mesmo tempo um diagnóstico. Cerca de um sexto dos ingleses entre 16 e 74 anos se sente incapaz de absorver todo o conhecimento com que esbarra no cotidiano. Isso provoca tal desconforto que muitos apresentam desordens neurológicas. O problema é mais sério entre os jovens e as mulheres. Quem foi diagnosticado com a síndrome do excesso de informação tem dificuldade até para adormecer. O sono não vem, espantado por uma atitude de alerta anormal da pessoa que sofre. Ela simplesmente não quer dormir para não perder tempo e continuar consumindo informações. Os médicos ingleses descobriram que as pessoas com quadro agudo dessa síndrome são assoladas por um sentimento constante de obsolescência, a sensação de que estão se tornando inúteis, imprestáveis, ultrapassadas. A maioria não expressa sintomas tão sérios. O que as persegue é uma sensação de desconforto - o que já é bastante ruim. O ambulatório de Ansiedade da USP ainda não pesquisa a ansiedade de informação especificamente. Mas tem atendido um número crescente de ansiosos que mencionam como causa das suas apreensões a incapacidade de absorver informações ao ritmo que consideram ideal. "Ler e aprender sempre foi tido como algo bom, algo que devíamos fazer cada vez mais. Não sabíamos que haveria um limite para isso. Está acontecendo com a informação o mesmo que já acontece com o hábito alimentar. Em vez de ficarmos bem nutridos, estamos ficando obesos de informação", diz Anna Verônica Mautner, psicanalista em São Paulo. BAPTISTA, Cristina. Veja. São Paulo: Abril. Set. 2001. Fragmento 1) Pela composição do texto apresentado, podemos chegar à conclusão de que se trata, tipicamente, a) b) c) d) de uma notícia jornalística - um texto narrativo, portanto. de um manifesto popular - assim, um texto descritivo - apelativo. de um relato pessoal-logo, um texto levemente informativo. de uma exposição - um texto de divulgação, com informações objetivas. SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 1 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 2) O tema desenvolvido no texto se centra na abordagem de um problema que a) b) c) d) 3) O fragmento que representa o núcleo central do conteúdo do texto é: a) b) c) d) 4) precisa ser entendido como uma palavra invariável. requer que conheçamos sua origem etimológica. necessita que se recorra a partes anteriores do texto. supõe que temos ciência de sua composição fonológica. No trecho a seguir: "Em vez de ficarmos bem nutridos, estamos ficando obesos de informação". O fragmento destacado a) b) c) d) 2 "O ambulatório de Ansiedade da USP ainda não pesquisa a ansiedade de informação". "As pessoas hoje parecem estar sofrendo porque não conseguem assimilar tudo que é produzido". "A maioria não expressa sintomas tão sérios. O que as persegue é uma sensação de desconforto - o que já é bastante ruim". "Ler e aprender sempre foi tido como algo bom, algo que devíamos fazer cada vez mais". Analise o segmento: "Não sabíamos que haveria um limite para isso". O item destacado, para ser interpretado com êxito, a) b) c) d) 5) atinge as pessoas com um menor grau de escolarização. é mais comum entre pessoas das sociedades europeias. é exclusivo dos grupos humanos pertencentes a atualidade. envolve o ritmo acelerado da produção do conhecimento. exemplifica uma aliteração. manteve seu sentido literal. produz um efeito de ambiguidade. constitui uma linguagem figurada. GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 6) Leia: Morte no terreno O corpo do jovem desaparecido, à noite, foi encontrado morto, quinta-feira, próximo ao terreno baldio, no parque dos Timbiras, no saco plástico, jogado junto com outros dejetos. O saco foi achado por policiais, pois os catadores de lixo que frequentavam o local não alegaram nada. A família de Frederico Silva, sabendo que naquele dia haviam encontrado um cadáver ali, apressou-se em comparecer no Lixão, admitindo que ele havia sumido após a festa da vizinhança e que não havia motivo para isso acontecer. Assinale a alternativa que apresenta análise INADEQUADA do texto: a) b) c) d) 7) Como se trata de texto a ser veiculado em jornal, o uso de "quinta-feira" é informação suficiente para que o leitor precise a data do acontecimento. Com o uso do artigo em "próximo ao terreno baldio", pode-se concluir que o parque dos Timbiras possui um único terreno baldio. O uso do artigo em "no saco plástico" mostra que o autor está tratando está informação como sendo de conhecimento do leitor. A segunda utilização do vocábulo "saco" não apresenta inadequação, pois o leitor já tivera conhecimento da existência de um saco. Leia: Destino atroz Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando os escreve e, por último, quando declamam os seus versos. (Mário Quintana) O pronome pessoal do caso oblíquo os se refere: a) b) c) d) ao sofrimento do poeta. aos sentimentos do poeta. a três vezes. aos versos do poeta. SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 3 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 8) Leia: "Em casa há muita paz por um domingo assim. A mulher dorme, os filhos brincam, a chuva cai... Esqueço-me de quem sou para sentir-me pai E ouço na sala, num silêncio ermo e sem fim Um relógio bater, e outro dentro de mim...” (Vinícius de Morais) A preposição por, que aparece no primeiro verso, equivale à seguinte palavra ou expressão: a) b) c) d) 9) por causa de antes de em relação a pois é Leia: Pais e adultos em geral são incompetentes para entender o que vai pela cabeça das crianças; estas, por sua vez, são incapazes de detectar o que se esconde sob os gestos e as frases dos mais velhos. Na zona cinzenta que reúne essas duas conhecidas limitações, reside o objeto de "Quarto de Menina", estréia literária da psicanalista carioca Lívia Garcia Roza. Luciana: oito anos, filha única de pais separados, é inteligente, sapeca, sem papas na língua e mora com o pai, intelectual, pacato, caladão, professor de filosofia. É ela a narradora do livro. Ao longo de 180 páginas, relata o seu cotidiano, que se limita, aqui, ao próprio quarto, à biblioteca do pai, à sala e à casa da mãe. [ ... ] Apesar disso, não se trata de uma obra para crianças. A construção híbrida da narrativa descarta episódios mais banais ou preocupações que seriam em tese mais comuns às crianças, dando destaque para os diálogos, seja entre Luciana e os pais, seja entre a garota e suas bonecas. (...) (Normalidade do cotidiano, Folha de S.Paulo, 15.10.95, p. 5-11) As expressões a seguir poderiam substituir a expressão "Apesar disso" (no início do terceiro parágrafo) sem causar alteração essencial no significado da frase, à exceção de: a) b) c) d) 4 Contudo No entanto Todavia Portanto GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA Leia o texto para responder às questões de números 10 a 13. Um debate sobre a diversidade na escola reuniu alguns dos maiores nomes da educação mundial na atualidade. Trecho I Carlos Alberto Torres O tema da diversidade tem a ver com o tema identidade. Portanto, quando você discute diversidade , um tema que cabe muito no pensamento pós modernista, está discutindo o tema da diversidade não só com ideias contrapostas, mas também em identidades que se mexem, que se juntam em uma só pessoa. E este é um processo de aprendizagem. Uma segunda afirmação é que a diversidade está relacionada com a questão da educação e do poder. Se a diversidade fosse a simples descrição demográfica da realidade e a realidade fosse uma boa articulação dessa descrição demográfica em termos de constante articulação democrática, você não sentiria muito a presença do tema diversidade neste instante. Há o termo diversidade porque há uma diversidade e que implica o uso e o abuso de poder, de uma perspective ética, religiosa, de raça, de classe. [...] Trecho II O tema da diversidade, como tantos outros, hoje em dia, abre muitas versões possíveis de projeto educativo e de projeto político e social. É uma bandeira pela qual temos que reivindicar, e pela qual temos reivindicado há muitos anos, a necessidade de reconhecer que há distinções, grupos, valores distintos, e que a escola deve adequar - se às necessidades de cada grupo. Porém, o tema da diversidade também pode dar lugar a uma série de coisas indesejadas. Revista Pátio. Diversidade na educação: limites e possibilidades. Ano V, n. 20, fev./abr., p.29. Adaptado. 10) No fragmento "[...] está discutindo o tema da diversidade não só em ideias contrapostas, mas também em identidades que se mexem, que se juntam em uma só pessoa". Pode - se concluir que ( ) A expressão "não só [...] mas também" apresenta um acréscimo na direção argumentativa do texto, funcionando como pista para o que o autor quer dizer. ( ) o sujeito de "está discutindo [...] em identidades" está indeterminado na oração e interfere no sentido do texto. ( ) as expressões "[...] que se mexem, que se juntam [... ]". além de exercerem uma função sintática oracional, desempenham também uma função discursiva na sequência do texto. Analise as proposições anteriores coloque V para verdadeiras e F para as falsas e marque a alternativa correta. a) b) c) d) VVF VFV FVF VFF SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 5 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 11) O termo em destaque em "E este é um processo de aprendizagem", faz referência a) b) c) d) ao enunciado que antecede e acrescenta uma informação conclusiva e conceitual. apenas ao enunciado "um tema que cabe bem no pensamento pós modernista" e introduz um esclarecimento do que foi dito. as "ideias contrapostas" e pressupõe uma relação de contradição. ao “Tema da diversidade” e anuncia a progressividade do texto. 12) Em "O tema da diversidade, como tantos outros, [...]" a expressão em destaque pode ser considerada como I. Termo explicativo, com valor sintático, pois explica algo a mais em razão do enunciado fundamental. II. Construção que apresenta relação causal, tendo em vista ser introduzida pela preposição "como". III. Um sintagma, com sentido opinativo, que apresenta relação de comparação com a expressão anterior. IV. expressão intercalada de valor enumerativo que estabelece uma referência comparativa genérica. Marque a alternativa a seguir que apresenta a (s) proposição (ões) VERDADEIRA (S). a) b) c) d) I, III e IV. II, apenas. II e III. I e III, apenas. 13) Em “[...] há distinções, grupos, valores distintos [...]", pode - se concluir que há ( ) um encadeamento de palavras que constrói a materialidade significativa do texto. ( ) uma intencionalidade interlocutiva que desencadeia uma gradação textual, colaborando com a coerência do texto. ( ) uma repetição de unidades lexicais, com função reducionista no foco da informação. ( ) um conjunto de palavras contextualizadas que funcionam na organização do texto. Analise as proposições anteriores, e assinale V para as verdadeiras e F para as falsas. a) b) c) d) 6 VFFV VVFV FVFV VFVF GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA Leia o texto para responder às questões de números 14 a 17. Sensações Alheias Não alcancei mais nada, e para o fim arrependi-me do pedido: devia ter seguido o conselho de Capitu. Então, como eu quisesse ir para dentro, prima Justina reteve-me alguns minutos falando do calor e da próxima festa de Conceição, dos meus velhos oratórios e finalmente de Capitu. Não disse mal dela; ao contrário, insinuou-me que podia vir a ser uma moça bonita. Eu, que já a achava lindíssima, bradaria que era a mais bela criatura do mundo, se o receio me não fizesse discreto. Entretanto, como prima Justina se metesse a elogiar-lhe os modos, a gravidade, os costumes, o trabalhar para os seus, o amor que tinha a minha mãe, tudo isto me acendeu a ponto de elogiá-la também. Quando não era com palavras, era com o gesto de aprovação que dava a cada uma das asserções da outra, e certamente com a felicidade que devia iluminar-me a cara. Não adverti que assim confirmava a denúncia de José Dias, ouvida por ela, à tarde, na sala de visitas, se é que também ela não desconfiava já. Só pensei nisso na cama. Só então senti que os olhos de prima Justina, quando eu falava, pareciam apalpar-me, ouvir-me, cheirar-me, gostar-me, fazer o ofício de todos os sentidos. Ciúmes não podiam ser; entre um pirralho da minha idade e uma viúva quarentona não havia lugar para ciúmes. É certo que após algum tempo, modificou os elogios a Capitu, e até lhe fez algumas críticas, disse-me que era um pouco trêfega e olhava por baixo; mas ainda assim, não creio que fossem ciúmes. Crio antes... sim... sim, creio isto. Creio que prima Justina achou no espetáculo das sensações alheias uma ressurreição vaga das próprias. Também se goza por influição dos lábios que narram. (ASSIS, Macho de. Dom Casmurro. Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1988) OBS: Bentinho é o narrador personagem do texto acima 14) Em "(...) é certamente com a felicidade que devia iluminar-me a cara" o verbo "devia" forma com "iluminar" uma locução verbal, acrescentando-lhe a ideia de: a) b) c) d) necessidade; probabilidade; obrigação; indiferença; 15) O verbo "ser", que por duas vezes aparece no trecho "Quando não era com palavras, era com o gesto de aprovação q dava a cada uma das asserções da outra (...)", está empregado em substituição de verbo anteriormente expresso, ao qual se refere e cujo sentido passa a ter. No trecho ele está substituindo: a) b) c) d) insinuava; acendia; bradava; elogiava; SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 7 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 16) Durante o tempo em que prima Justina elogiou as qualidades de Capitu, o personagem-narrador: a) b) c) d) com receio de se trair, permaneceu calado e indiferente; pensava intimamente que ela dizia tudo aquilo movida mais pelo ciúme do que pela verdade; dizia que Capitu era lindíssima, a mais bela criatura do mundo; limitava-se a concordar e a apoiar dissimuladamente com gestos as palavras da outra; 17) No trecho "Não adverti que assim confirmava a denúncia de José Dias (...)” aparece a palavra assim, que faz parte do grupo de instrumentos linguísticos que ligam partes do discurso e promovem a coesão do texto. Ela remete a algo que já foi dito, isto é, ao contexto anterior. No presente caso refere-se: a) b) c) d) aos elogios feitos por prima Justina; ao pedido de ajuda feito à prima Justina para não ser mandado ao seminário; à maneira como Bentinho reagira diante dos elogios de Justina e Capitu; ao fato de Bentinho não ter seguido o conselho dado por Capitu; 18) Em “Se descobrissem a desmoralização que reina dentro de mim”, a forma verbal destacada está no modo: a) b) c) d) indicativo. imperativo. apelativo. subjuntivo. 19) Leia: “Quando você... aqui, estaremos a seu dispor” “Quando você... nosso amigo de infância, convide-o para o evento.” Nas orações acima, as lacunas podem ser preenchidas adequadamente por: a) b) c) d) 8 vir e ver vier e vir ver e vir vier e ver GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 20) Assinale a alternativa que preenche CORRETA e respectivamente as lacunas das frases apresentadas. “Mesmo que nós..., não conseguiríamos que eles... os papéis que os chefes... em segredo.” a) b) c) d) Interviéssemos, requeressem, mantêm Intervíssemos, requeressem, mantém Interviéssemos, requisessem, mantêm Interíssemos, requisessem, mantém SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 9 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 LITERATURA – Questões de 21 a 40 21) (ENEM) Leia o texto a seguir, de Eugênio de Castro, poeta simbolista, para responder a questão Epígrafe: inscrição colocada no ponto mais alto. Murmúrio de água na clepsidra gotejante, Lentas gotas de som no relógio da torre, Fio de areia na ampulheta vigilante, Leve sombra azulando a pedra do quadrante, Assim se escoa a hora, assim se vive e morre… Homem que fazes tu? Para quê tanta lida, Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça? Procuremos somente a Beleza, que a vida É um punhado infantil de areia ressequida, Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa Eugénio de Castro (n. em Coimbra a 4 Março de 1869; m. em Coimbra, a 17 de Agosto de 1944) Nesse poema, o que leva o poeta a questionar determinadas ações humanas (versos 6 e 7) é a : a) b) c) d) 10 brevidade da vida. infantilidade do ser humano. destruição da natureza. exaltação da violência. GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 22) (UFTM) Leia o texto, para responder a questão. [Jerônimo] Tomou conta da direção de todo o serviço, e em boa hora o fez, porque dia a dia a sua influência se foi sentindo no progresso do trabalho. Com o seu exemplo os companheiros tornavam-se igualmente sérios e zelosos. Ele não admitia relaxamentos, nem podia consentir que um preguiçoso se demorasse ali tomando o lugar de quem precisava ganhar o pão. Acordava todos os dias às quatro horas da manhã, fazia antes dos outros a sua lavagem à bica do pátio, socava-se depois com uma boa palangana de caldo de unto, acompanhada de um pão de quatro; e, em mangas de camisa de riscado, a cabeça ao vento, os grossos pés sem meias metidos em um formidável par de chinelos de couro cru, seguia para a pedreira. A sua picareta era para os companheiros o toque de reunir. Aquela ferramenta movida por um pulso de Hércules valia bem os clarins de um regimento tocando alvorada. Jerônimo só voltava a casa ao descair da tarde, morto de fome e de fadiga. A mulher preparava-lhe sempre para o jantar alguma das comidas da terra deles. E ali, naquela estreita salinha, sossegada e humilde, gozavam os dois, ao lado um do outro, a paz feliz dos simples, o voluptuoso prazer do descanso após um dia inteiro de canseiras ao sol. Passaram-se semanas. Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: faziase contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavamlhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição; para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso resignando-se, vencido , às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros. (Aluísio Azevedo, O cortiço. Texto editado) Considere as seguintes afirmações sobre esse texto. I. O perfil de Jerônimo é traçado pela descrição de seus hábitos e atitudes, flagrando diferentes facetas do comportamento desse personagem. II. A transformação que se operava em Jerônimo revelava nele o emergir da sensualidade, em detrimento da razão. III. O trecho expõe a tese sociológica abraçada pelo Naturalismo, segundo a qual o homem é produto do meio. IV. O texto tem caráter informativo, haja vista que nele se empregam figuras de linguagem e palavras em sentido conotativo. Deve-se concluir que estão CORRETAS as afirmações: a) b) c) d) I e II, apenas. II, III e IV, apenas. I, II e III, apenas. I, II, III e IV. SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 11 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 23) (ENEM) DO TÍTULO Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central, um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso. — Continue, disse eu acordando. — Já acabei, murmurou ele. — São muito bonitos. Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam de meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade. E eles, por graça, chamamme assim, alguns em bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jantar com você.” — “Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo.” —“Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça”. Não consulte dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver daqui até o fim do livro; vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores: alguns nem tanto. (Machado de Assis. Dom Casmurro. Cap. I.) O esclarecimento dos sentidos da palavra “casmurro” indica, em Machado de Assis: a) b) c) d) 12 A valorização de um modelo narrativo pautado pela fidelidade à realidade. A intenção de, através da erudição, educar o seu leitor. A tendência de refletir e comentar a respeito da própria escrita. A preocupação em criar um estilo despojado, direto e simples. GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 24) (ENEM) No século XIX, Charles Darwin descobriu que somos filhos de macacos. Sob o impacto de sua própria conclusão, o autor de A Origem das Espécies ocultou, durante certo tempo, a sua teoria da evolução. Ele vivia doente, queixando-se de intensas dores de cabeça, derramando-se em vômitos e contraindo-se em palpitações cardíacas. Sofria os efeitos de um conflito íntimo, como quem somatiza um drama de consciência. Darwin, que sonhara ser sacerdote, fora levado por caminhos que o tornaram autor de uma teoria que, como a astronomia de Copérnico e Galileu, faria a Igreja vociferar também no século XIX. Chegou a confidenciar a seu amigo Joseph Hooker que, ao admitir o parentesco entre o ser humano e os símios, ficou-lhe o sentimento de culpa de quem comete um crime, um verdadeiro parricídio — o assassinato de Adão. (Revista Caros Amigos) Influenciados pelas ideias de Darwin, os representantes do Naturalismo, movimento literário do século XIX, comparavam os seres humanos a animais. Os trechos abaixo foram extraídos da obra O Cortiço, cujo autor, Aluísio Azevedo, foi o maior representante do Naturalismo no Brasil. Assinale a alternativa em que essa característica, conhecida como zoomorfização, NÃO esteja presente: a) b) c) d) “A filha tinha quinze anos, a pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos dentes, olhos luxuriosos de macaca.” “ “A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a ‘Machona’, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo.” “... uma negrinha virgem, chamada Leonor, muito ligeira e viva, lisa e seca como um moleque, conhecendo de orelha, sem lhe faltar um termo, a vasta tecnologia da obscenidade...” “Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro, como escova, barba e bigode do mesmo teor; muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre...” SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 13 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 25) Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. [...]. O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuavase; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentiase naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra. AZEVEDO, Aluísio. “O cortiço”. 15 ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-29. Assinale a alternativa que NÃO corresponde a uma possível leitura do fragmento citado: a) b) c) d) 14 No texto, o narrador enfatiza a força do coletivo. Todo o cortiço é apresentado como um personagem que, aos poucos, acorda como uma colméia humana. O texto apresenta um dinamismo descritivo, ao enfatizar os elementos visuais, olfativos e auditivos. Observa-se, no discurso de Aluísio Azevedo, pela constante utilização de metáforas e sinestesias, uma preocupação em apresentar elementos descritivos que comprovem a sua tese determinista. Através da descrição do despertar do cortiço, o narrador apresenta os elementos introspectivos dos personagens, procurando criar correspondências entre o mundo físico e o metafísico. GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 26) (ENEM–2010) Negrinha Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças. Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo. Ótima, a dona Inácia. Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. [...] A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo – essa indecência de negro igual. LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento). A narrativa focaliza um momento histórico-social de focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-se, no contexto, pela: a) b) c) d) falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas. ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças. resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto. rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos. 27) Leia o poema abaixo Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava, O que a boca não diz, o que a mão não escreve? - Ardes, sangras, pregada a' tua cruz, e, em breve, Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava... O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava: A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve... E a Palavra pesada abafa a Idéia leve, Que, perfume e dano, refulgia e voava. SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 15 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 Quem o molde achará para a expressão de tudo? Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta? E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo? E as palavras de fé que nunca foram ditas? E as confissões de amor que morrem na garganta?! (Olavo Bilac, POESIAS) Indique a alternativa que NÃO ESTÁ de acordo com o poema. a) b) c) d) O tema básico das estrofes é o amor irrealizado, que causa sofrimentos ao poeta. O poeta parnasiano privilegiou a forma, a maneira mais perfeita que encontrou para efetivar sua arte, mesmo que, para isso, ele tivesse que sacrificar suas emoções. Nesse sentido, os versos de Olavo Bilac são uma crítica ao Parnasianismo. O poeta fala da luta entre idéias e palavras e entre forma e conteúdo, quando estes fracassam ao traduzirem nossos sentimentos. As estrofes citadas são um derramamento da alma sobre essa luta, contrariando os preceitos parnasianos de contenção lírica. O verso “E a Palavra pesada abafa a Idéia leve” contém uma antítese, que representa a contradição entre forma e conteúdo exposta pelo poeta. 28) (UFR-RJ) O despertar do cortiço Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente, uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas das mãos. As portas das latrinas não descansavam AZEVEDO, Aluísio.O cortiço,São Paulo: Martins, 1968, p. 43. São características desse texto, consideradas típicas do Naturalismo, entre outras: a) b) c) d) 16 o idealismo, o comportamento determinista. a ênfase no aspecto material da vida, o comportamento sofisticado. as comparações dos seres humanos com animais, a promiscuidade. a representação objetiva da vida, o endeusamento do ser humano. GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 29) (UFSM-RS) Leia o soneto a seguir: Psicologia de um vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênesis da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância… Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme — este operário das ruínas — Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há-de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! Augusto dos Anjos, Eu, Rio de Janeiro, Livr. São José, 1965. A partir desse soneto, é CORRETO afirmar: I. Ao se definir como filho do carbono e do amoníaco, o eu lírico desce ao limite inferior da materialidade biológica pois, pensando em termos de átomos (carbono) e moléculas (amoníaco), que são estudados pela Química, constata-se uma dimensão onde não existe qualquer resquício de alma ou de espírito. II. O amoníaco, no soneto, é uma metáfora de alma, pois, segundo o eu lírico, o homem é composto de corpo (carbono) e alma (amoníaco) e, no fim da vida, o corpo (orgânico) acaba, apodrece, enquanto a alma (inorgânica) mantém-se intacta. III. O soneto principia descrevendo as origens da vida e termina descrevendo o destino final do ser humano; retrata o ciclo da vida e da morte, permeado de dor, de sofrimento e da presença constante e ameaçadora da morte inevitável. Está (ão) correta(s) a) b) c) d) apenas III apenas I e II apenas I e III apenas II e III SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 17 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 30) Analise este fragmento de Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrito por Machado de Assis: “Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...” Considere o fragmento machadiano, sua obra, o período literário ao qual pertence, as características de sua produção, assim como o contexto histórico, político e social da época, e assinale a única alternativa INCORRETA. a) b) c) d) 18 A ironia, uma das características machadianas, está expressa nesse fragmento especialmente em “tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente”. Machado de Assis, um dos nomes mais significativos do Realismo Brasileiro, neste fragmento, estabelece uma relação crítica do narrador com o leitor. A “narração direta e nutrida” e “o estilo regular e fluente” - preferidos pelo leitor e criticados pelo narrador - remetem ao estilo adotado pelo Romantismo. Embora neste fragmento haja uma crítica implícita ao Romantismo, foi nesse período literário que Machado de Assis teve intensa produção e se notabilizou como escritor. GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA Instrução: leia os textos 1 e 2 para responder às questões de números 31 e 32. Texto 1 E viu a Rita Baiana, que fora trocar o vestido por uma saia, surgir de ombros e braços nus, para dançar. A lua destoldara-se nesse momento, envolvendo-a na sua cama de prata, a cujo refulgir os meneios da mestiça melhor se acentuavam, cheios de uma graça irresistível, simples, primitiva, feita toda de pecado, toda de paraíso, com muito de serpente e muito de mulher. (Aluísio de Azevedo. O cortiço, 1999.) Texto 2 Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. (José de Alencar. Iracema, 2005.) 31) (UFTM–2012) Comparando a descrição de Rita e de Iracema, é CORRETO afirmar que a) b) c) d) ocorre a caracterização das personagens tendo a natureza como pano de fundo, traduzindo o ideal de que a melhor vida se vive de forma simples, sem luxos, junto à natureza, desfrutando o que ela oferece. Os ambientes em que as personagens vivem refletem, portanto, o bucolismo e as insere no Arcadismo. existe uma erotização flagrante na caracterização da primeira personagem, viés compatível com a literatura naturalista, que vê o homem movido por seus instintos mais primários no que diz respeito à sexualidade. O mesmo não ocorre com a segunda, cuja descrição se funda na idealização, comum aos românticos. perpassa a caracterização de ambas as personagens idéia amplamente recorrente no Romantismo brasileiro, ou seja, a concepção de mulher acima do bem e do mal. As mulheres são vistas como seres com qualidades morais e espirituais superiores às dos homens, o que as torna inacessíveis a estes. há, em ambas, um grande apelo ao aspecto mais instintivo e animalesco do ser humano, o que as faz surgirem no texto como mulheres atraentes e sedutoras, naturalmente superiores aos homens, visão literária amplamente recorrente na prosa realista. SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 19 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 32) (UFTM–2012) A passagem – A lua destoldara-se nesse momento, envolvendo-a na sua cama de prata, a cujo refulgir os meneios da mestiça melhor se acentuavam, cheios de uma graça irresistível [...]. –, sem prejuízo de sentido e das relações gramaticais definidas no enunciado, em normapadrão da língua portuguesa, equivale a: a) b) c) d) Os meneios da mestiça, cheios de uma graça irresistível, melhor se acentuavam ao refulgir da lua, que se destoldara nesse momento, envolvendo-a na sua cama de prata. A mestiça, cheia de uma graça irresistível, fazia meneios cujos se acentuavam à lua e ao seu refulgir que tinha-se destoldado nesse momento, envolvendo-a na cama de prata. A lua, envolvida na cama da mestiça, tinha-se destoldado nesse momento, e o refulgir da mestiça melhor se acentuavam a ele, por estarem cheios de uma graça irresistível. Envolvida na cama de prata da lua, que destoldara-se nesse momento e que o refulgir dos meneios da mestiça melhor se acentuavam, esta estava cheia de uma graça irresistível. 33) (UFSM - 2012) A respeito de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, classifique as afirmações seguintes como verdadeiras (V) ou falsas (F). ( ) O texto aponta a análise minuciosa da sociedade, como se as situações envolvendo as personagens do romance fossem observadas através de uma lupa, o que implica o detalhamento e a objetividade evidentes na obra. ( ) A profunda análise do coletivo e focada em figuras marginalizadas, as quais se orientam pelo instinto, não racionalmente, o que atesta o pendor cientificista de Azevedo nesse romance naturalista, embora não ocorra a animalização das personagens. ( ) O meio e o contexto histórico, para os naturalistas, têm total influência sobre os homens, o que explica a postura de João Romão, Rita Baiana e Jerônimo, personagens apresentadas pelo narrador como produto da raça e do meio. A sequência CORRETA é a) b) c) d) 20 V – F – V. F – V – F. V – V – V. V – F – F. GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 34) Leia e analise a poesia Via Láctea, de Olavo Bilac. “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” Eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas”. Com relação à poesia, só NÃO está adequado o que se afirma em: a) b) c) d) Há um diálogo entre o eu-poético que, dominado pelo sentimento amoroso, conversa e entende as estrelas e o “outro”, racionalista, que não entende a metafísica que há em conversar com as estrelas. O poeta utilizou discurso direto, identificado em três situações distintas (primeira, terceira e última estrofe), marcadas pelo emprego de aspas. Bilac utiliza o encadeamento, um recurso frequente na construção do texto parnasiano que consiste em colocar no verso seguinte uma ou mais palavras que completem o sentido do verso anterior, como ocorre, por exemplo, nos versos 1 e 2; 6 e 7. Bilac utiliza apenas rima rica em sua poesia, já que a rima rara resulta de uma combinação muito especial de diferentes categorias gramaticais. 35) Leia os textos para resolver a questão. Texto I Mais claro e fino do que as finas pratas o som da tua voz deliciava… Na dolência velada das sonatas como um perfume a tudo perfumava. Era um som feito luz, eram volatas em lânguida espiral que iluminava, brancas sonoridades de cascatas… Tanta harmonia melancolizava. Cruz e Sousa Observação – volatas: progressão de notas musicais dolência: sofrimento SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 21 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 Texto II Antes de tudo, a Música. Preza Portanto o Ímpar. Só cabe usar O que é mais vago e solúvel no ar, Sem nada em si que pousa ou que pesa. Verlaine (Trad. de Augusto de Campos) A leitura do Texto I confirma que: a) b) c) d) o eu lírico expressa sua particular percepção do som inebriante de uma orquestra de vozes harmoniosas, como prova o uso da expressão dolência velada das sonatas(v.3). o poeta expressa subjetivamente a impressão que lhe causava o som da voz do interlocutor, conforme se pode compreender da leitura do verso 2. o autor descreve com metáforas sombrias o cantar melancólico de sua musa, por isso afirma, no verso 8, que “Tanta harmonia melancolizava”. o eu lírico tem uma visão idealizada da falecida amada; daí o uso do verbo no passado imperfeito (deliciava, perfumava etc.). Para responder às questões 36 e 37, leia o trecho a seguir de “O cortiço”, de Aluísio Azevedo. Jerônimo bebeu um bom trago de parati, mudou de roupa e deitou-se na cama de Rita. – Vem pra cá... disse, um pouco rouco. – Espera! espera! O café está quase pronto! E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante da perfumosa bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores (...) Depois, atirou fora a saia e, só de camisa, lançou-se contra o seu amado, num frenesi de desejo doído. Jerônimo, ao senti-la inteira nos seus braços; ao sentir na sua pele a carne quente daquela brasileira; ao sentir inundar-se o rosto e as espáduas, num eflúvio de baunilha e cumaru, a onda negra e fria da cabeleira da mulata; ao sentir esmagarem-se no seu largo e peludo colo de cavouqueiro os dois globos túmidos e macios, e nas suas coxas as coxas dela; sua alma derreteu-se, fervendo e borbulhando como um metal ao fogo, e saiu-lhe pela boca, pelos olhos, por todos os poros do corpo, escandescente, em brasa, queimando-lhe as próprias carnes e arrancando-lhe gemidos surdos, soluços irreprimíveis, que lhe sacudiam os membros, fibra por fibra, numa agonia extrema, sobrenatural, uma agonia de anjos violentados por diabos, entre a vermelhidão cruenta das labaredas do inferno. 36) (Unifesp) Pode-se afirmar que o enlace amoroso entre Jerônimo e Rita, próprio à visão naturalista, consiste: a) b) c) d) 22 na condenação do sexo e consequente reafirmação dos preceitos morais. na apresentação dos instintos contidos, sem exploração da plena sexualidade. na apresentação do amor idealizado e revestido de certo erotismo. na descrição do ser humano sob a ótica do erótico e animalesco. GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 37) (Unifesp) O cortiço, obra naturalista: a) b) c) d) traduziu a sensualidade humana na ótica do objetivismo científico, o que se alinha à grande preocupação espiritual. fez análises muito subjetivas da realidade, pouco alinhadas ao cientificismo predominante na época. tratou de temas de patologia social, pouco explorados nas escolas literárias que o precederam. explorou as mazelas humanas de forma a incitar a busca por valores éticos e morais. 38) Leia o poema abaixo e responda ao que se pede. As mãos da morte Mãos de finada, aquelas mãos de neve, De tons marfíneos, de ossatura rica, Pairando no ar, num gesto brando e leve, Que parece ordenar, mas que suplica. Erguem-se ao longe como se as eleve Alguém que ante os altares sacrifica: Mãos que consagram, mãos que partem breve, Mas cuja sombra nos meus olhos fica... Mãos de esperança para as almas loucas, Brumosas mãos que vêm brancas, distantes, Fechar ao mesmo tempo tantas bocas... Sinto-as agora ao luar, descendo juntas, Grandes, magoadas, pálidas, tateantes, Cerrando os olhos das visões defuntas... GUIMARAENS, Alphonsus de. Poesia. RJ: Agir, 1976. Assinale a alternativa CORRETA. a) b) c) d) Nos versos “Mãos de finada, aquelas mãos de neve, / De tons marfíneos, de ossatura rica,” há o emprego de sinestesia, figura de linguagem amplamente utilizada no Simbolismo. É característica da poesia de Alphonsus de Guimaraens, o abandono da temática intimista em favor de temas universais. O poeta vale-se da metonímia como o principal recurso estruturador de seu texto. O poema apresenta características simbolistas como o registro nebuloso da realidade, aliteração, misticismo e referências à cor branca. SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 23 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 39) (PUC-RS) Para responder à questão, leia o fragmento do romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, e as afirmativas que seguem. E maldizia soluçando a hora em que saíra da sua terra; essa boa terra cansada, velha como que enferma; essa boa terra tranquila, sem sobressaltos nem desvarios de juventude. Sim, lá os campos eram frios e melancólicos, de um verde alourado e quieto, e não ardentes e esmeraldinos e afogados em tanto sol e em tanto perfume como o deste inferno, onde em cada folha que se pisa há debaixo um réptil venenoso, como em cada flor que desabotoa e em cada moscardo que adeja há um vírus de lascívia. Lá, nos saudosos campos da sua terra, não se ouvia em noites de lua clara roncar a onça e o maracajá, nem pela manhã ao romper do dia, rilhava o bando truculento das queixadas, lá não varava pelas florestas a anta feia e terrível, quebrando árvores; lá a sucuruju não chocalhava a sua campainha fúnebre, anunciando a morte, nem a coral esperava traidora o viajante descuidado para lhe dar o bote certeiro e decisivo; 4lá o seu homem não seria anavalhado pelo ciúme de um capoeira; lá Jerônimo seria ainda o mesmo esposo casto, silencioso e meigo; seria o mesmo lavrador triste e contemplativo como o gado que à tarde levanta para o céu de opala o seu olhar humilde, compungido e bíblico. I. A diferença entre a velha e a nova terra é marcada pela força da natureza que transforma a vida e o comportamento do homem. II. Expressões como “cansada”, “enferma”, “frios e melancólicos”, nas referências 1, 2 e 3, respectivamente, assumem uma conotação positiva para a mulher de Jerônimo, ao definirem o espaço da felicidade perdida na velha terra. III. As ações dos animais, pintadas com os tons fortes do Naturalismo, narram os perigos que Jerônimo e sua mulher vivem na selva. IV. A expressão “lá”, nas referências 4 e 5, indica o espaço das virtudes do marido, da paz doméstica e de uma vida simples e tranquila. Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão CORRETAS apenas: a) b) c) d) 24 I e III. II e III. III e IV. I, II e IV. GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 40) (UFOP) Leia com atenção o seguinte texto: Como uma cascavel que se enroscava, A cidade dos lázaros dormia... Somente, na metrópole vazia, Minha cabeça autônoma pensava! Mordia-me a obsessão má de que havia, Sob os meus pés, na terra onde eu pisava, Um fígado doente que sangrava E uma garganta de órfã que gemia! Tentava compreender com as conceptivas Funções do encéfalo as substâncias vivas Que nem Spencer, nem Haeckel compreenderam... E via em mim, coberto de desgraças, O resultado de bilhões de raças Que há muitos anos desapareceram! (ANJOS, Augusto dos. Eu: poesias. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1998. p. 61) Assinale a alternativa INCORRETA. a) b) c) d) É possível observar, na construção desse texto, uma tal concentração no conteúdo que faz com que a forma fique bastante negligenciada. Observa-se uma tendência bastante forte para a exploração de temas mórbidos e patológicos como nos demais poemas de Augusto dos Anjos. Apresenta o poema um pendor para a representação de um cientificismo, mesmo que o impulso lírico seja uma constante presença. Faz-se notar um pessimismo que, na sua exacerbação, acaba caminhando para um quase total aniquilamento. SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 25 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 26 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO 2ª Série – 2014 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA SISTEMA EQUIPE DE ENSINO GABARITO 1 27 LINGUA PORTUGUESA – LITERATURA 2ª Série – 2014 28 GABARITO 1 SISTEMA EQUIPE DE ENSINO