1 RODAS DE LEITURA NA BIBLIOTECA DO CAC: RELATO DE EXPERIÊNCIA ARIANA SOUZA DE ASSIS DA SILVA RESUMO Contar, ouvir, ler e analisar a trajetória do CAC, pode ser uma experiência que nos ajude a pensar sobre a construção de possibilidades de promover a inclusão, dos excluídos do acesso à leitura. É preciso lançar olhar sobre as pistas. Logo é impossível ser professor sem ler e sem escrever. E é através da minha experiência como bolsista no CAC que venho analisar a importância da leitura e da escrita, não somente para as crianças que participam do CPLP, mas para nós futuros profissionais da educação, que temos a responsabilidade de educar e ensinar, com atos e palavras. A cada dia fazemos história, falando ou não, agindo ou não, até quando estamos em silêncio fazemos história. A partir deste trabalho, relatar, analisar e fazer uma nova história, a fim de que profissionais da educação venham conhecer e saber que é possível um local onde o conhecimento é ensinado através da leitura, que não há lugar específico para se ensinar a ler e o que é a leitura? É possível ler sem saber decodificar as letras? Como um ambiente não formal, pode influenciar na formação de estudantes? É a partir dos relatos de rodas de leituras que é feito essas reflexões, sobre como podemos obter o habito da leitura, reconhecendo o valor de uma leitura literária. PALAVRAS-CHAVE: biblioteca – leitura – relato de experiência – prática pedagógica 1. INTRODUÇÃO O ato de ler é uma constante no dia a dia. A todo momento somos provocados por manchetes de jornais, propagandas de marketing, outdoors nas ruas. Os brasileiros lêem para se manter informados sobre o cotidiano, para saber o que está acontecendo ao seu redor. Entretanto, ao serem questionados quantos livros eles lêem por ano, a média é menos de dois livros. A pesquisa realizada em 2008 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) detalha o perfil de leitores ativos no Brasil, um índice preocupante a ser superado pelo Ministério de Cultura através de incentivos a projetos que estimule o ato de ler livros, seja ele romances, poesias, policial, livros de auto-ajuda, bíblicos, o gênero e tamanho é o que menos importa. Criar no brasileiro o hábito de ler por prazer, despertando a paixão pelos livros, pelas histórias a serem desvendadas, conhecer o pensamento do autor através das palavras escritas por eles grafadas em vários papéis, parceria esta que só a leitura é capaz de proporcionar. É de suma importância a familiarização com o livro e a leitura, trabalho sério e constante de incentivo, não só em conhecer uma ou outra biblioteca, mas tornar a leitura um hábito. Foucambert (1994) define que “Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas respostas podem ser encontradas na escrita, significa poder ter acesso a essa escrita, significa construir um resposta que integra parte das novas informações ao que já se é.” (p.5) 2 Os projetos incentivados pelo Ministério de Cultura são variados, são pontos de leitura em metrô, incentivo para bibliotecas através de premiações e equipamentos de escritório, criação de novas bibliotecas, feiras de livros, bienais, encontros e eventos literários, com estes investimentos o índice de leitura no Brasil deverá aumentar, oferecendo acesso aos livros para os mais diversos públicos, iniciativas importantes de investimentos de formação de mediadores de leitura, professores e bibliotecários que através desta formação são capazes de fomentar a leitura por todo o país, transformando a leitura em uma prática social, criando hábito de escutar histórias, favorecendo momentos de prazer em grupo, enriquecendo o imaginário de quem lê e escuta e valorizando o livro como fonte de entretenimento e conhecimento. Frente ao que é um dos direitos fundamentais garantido nas disposições preliminares do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). É dever da família, comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade a efetivação, entre outros direitos, do direito à cultura e lazer. A execução deste direito favorece o desenvolvimento pleno da criança em todas as fases da sua infância, tornando o no futuro um jovem leitor, despertando desde cedo o gosto pela leitura e mais, o tornando multiplicador da leitura, deixando de ser apenas um leitor ouvinte, mas o tornando ledor. Em 2010 o Ministério de Educação e Cultura promoveu “Ponto de Leitura – 100 Anos de Machado de Assis” que premiava 514 pontos de leitura premiando com um acervo de 650 exemplares de literatura brasileira, estrangeira, infantil e juvenil, um computador, impressora e mobília para biblioteca. O Centro de Promoção de Leitura e Pesquisa (CPLP) do Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti (CAC), foi um dos selecionados a ganhar o prêmio, por ser um estabelecimento sem fins lucrativo desenvolvendo a leitura como fonte de conhecimento e prazer, o MEC relacionou 514 pontos de leituras que desenvolvia projetos inovadores e ousados, capazes de auxiliar na formação de leitores no Brasil. Neste sentido, a elaboração deste trabalho pretende apresentar e analisar a experiência do projeto de iniciação à docência “Roda de leitura: Constituindo uma comunidade de leitores e escritores na Baixada Fluminense” oferecida pelo Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - CAp/UERJ em parceria com o Centro de Atividades Comunitária de São João de Meriti (CAC). Destaco que o projeto surgiu para atender uma demanda da comunidade entorno do CAC com a proposta de redimensionar o efeito multiplicador da formação de leitores, ampliando a experiência de intervenção com os alunos da escola do CAC à experiência de intervenção na comunidade. 3 Fundado desde 1987 através de um movimento popular o projeto tem com um dos objetivos, na área da educação desenvolver um trabalho com os alunos que subsidie um processo alternativo de formação de professores, em 1989, o CAC fundou uma escola de educação infantil e um programa alternativo de formação para professores, desenvolvendo a importância da interação entre sujeitos e desses com os diferentes objetos de conhecimento. Por esta localidade ter poucas possibilidades da comunidade ter acesso aos livros, surgiu o Centro de Promoção da Leitura e Pesquisa – CPLP, onde foi construído com apoio financeiro da Fundação E, K. Kellog uma biblioteca com acervo diversificado de livros que atendesse a comunidade e os professores, desenvolvendo uma programação variada de atividades. A proposta visava redimensionar o efeito multiplicador da formação de leitores, ampliando a experiência de intervenção com os alunos da escola à experiência de intervenção na comunidade. Desde a sua implantação, o Centro de Promoção de Leitura e Pesquisa vem desenvolvendo um programa de ações, com crianças, adolescentes, adultos, estudantes de magistério e professores da região que envolve rodas de leituras, cursos, orientação de pesquisas, eventos literários e empréstimos de livros. O CAC é um centro de formação de leitores e escritores, que traz em sua proposta oferecer uma formação diferenciada, cujo o objetivo vai além de promover o hábito da prática leitora em uma comunidade de baixa renda em São João de Meriti, mas também por meio de grupos de estudos dirigidos e cursos na área de letramento a complementação de conhecimentos teóricos para as estudantes universitárias e professoras voluntárias participantes do projeto de Iniciação à Docência . É realizado rodas de leitura na biblioteca que se constitui como Centro de Promoção de Leitura e Pesquisa (CPLP) onde é realizado o processo de planejamento, realização e reflexão da atividade realizada, faz com que analisemos nossas relações com a leitura, seja ela pedagógica, literária ou informativa, já que nós remete a ler e recontar novas histórias junto com as crianças. Para que esta prática seja constante em sua vida, o projeto: Roda de leitura: constituindo uma comunidade de leitores e escritores na Baixada Fluminense” realizado no CAC, tende a transformar a leitura literária uma atividade cotidiana, para uma escola de ensino fundamental e para a comunidade ao redor, já que as crianças formam valores a partir de bons modelos, assim ter professores e mediadores que fazem desta prática um prazer é fundamental para que elas se adéqüem ao hábito da leitura. 4 1. LEITURA: É VIAJAR EM QUALQUER LUGAR Quando o tema é leitura, não há local especifico, todo local se torna apropriado quando se trata de ler, explorar cada palavra e interpretar, há momentos de leituras feitas até em ônibus que esquecemos onde estamos e somos transferidos para o local descrito pelo autor, entretanto quando a abordagem é o local de incentivo a leitura, muitos pensam apenas em locais formais como escola, onde o professor ensina a ler e a escrever, definidas na Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No entanto, é alarmante a pesquisa realizada pela CBL, entre os mais de 189 milhões de brasileiros, há cerca de 26 milhões de leitores ativos que lêem pelo menos três livros por ano, onde a média deveria de ser entre 5 a 8 livros por capita, como ocorre na Europa, o índice nos relata o déficit desses leitores. Será que só a escola tem a obrigação de fomentar a leitura literária? Sabendo que não é somente os espaços formais que definem um perfil de leitor ativo, que temos presenciado participação do Governo em fomentar os Pontos de Culturas e organizações que participam deste embate, a fim de modificar os quadros de pesquisas e poder dizer que o Brasil é um país de leitores, para isso espaços não formais, tem sido reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), afim de que esses espaços permaneçam a ampliar seus projetos que possibilitem discutir as leituras, pesquisas e estudos para que desenvolva nos brasileiros a curiosidade e o desejo de ir além. 2. CENTRO DE PROMOÇÃO DE LEITURA E PESQUISA (CPLP) Neste capítulo venho apresentar do Centro de Promoção de Leitura e Pesquisa realizado no CAC e como este espaço tem fomentado a leitura para as crianças que participam desse ambiente e para os profissionais que atuam como ledoras e pesquisadoras. Oferecer a leitura com métodos apropriados favorece o aprendizado além de incrementar a leitura no cotidiano de quem participa de uma roda de leitura, conhecer a biblioteca não apenas o espaço físico, mas ter o prazer de poder interagir participando das rodas, fazendo empréstimo de livros, e dando sugestões de leitura, é um meio onde a criança passa a interagir com as histórias contadas nos livros. O Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti está localizado na Baixada Fluminense no Município de São João de Meriti, desde sua fundação em 1987 vem desenvolvendo trabalhos pedagógicos que interem o sujeitos aos mais diversos objetos de conhecimento. Em torno do CAC a população é desfavorecida financeiramente, que sofrem 5 com condições de moradias precárias, falta de estrutura familiar, acesso restrito a cultura e por ser uma localidade com poucos locais de acesso aos livros, construíram o Centro de Promoção da Leitura e Pesquisa – CPLP, um projeto que atende a comunidade e aos professores, com o intuito de multiplicar a formação de leitores e escritores, através de grupos de estudos, cursos, orientação de pesquisas, eventos literários, rodas de leituras e empréstimos de livros. Há vinte e um anos que o CAC oferece a comunidade, uma escola de educação infantil e o 1º segmento do Ensino fundamental e um programa de formação de professores. Durante esse processo é visível o avanço, enquanto leitoras, nas crianças que participam da escola do CAC e/ou do CPLP. Destaco, também, o crescimento da qualidade da intervenção pedagógica da equipe de profissionais que atuam na instituição e de outros professores que participam de suas ações. Consta em seu estatuto que um dos seus objetivos é contribuir com ações que visem a possibilidade de melhorar as condições de vida da população e oferecer serviços à comunidade, com ampla participação comunitária. Em 1995, foi possível implantar o projeto do CPLP através de um apoio financeiro da Fundação W.K. Kelloggs, onde foi realizado a ampliação de uma saleta para uma biblioteca com cerca de dois mil exemplares de livros literários, infantis, pedagógicos, gibis e revistas (no apêndice 1 segue a foto desta construção). Habitualmente o grupo de estudo no CPLP que se reúne na biblioteca do CAC, discute questões sobre a leitura, como deve ser realizada uma roda de leitura? Qual congresso tem sido realizado em que o tema central tem sido a leitura, e quais os debates foram realizados nestes congressos? O que cada estudante aprendeu indo a estes congressos? Que aprendizados têm a compartilhar um com os outros? Quais livros escolhidos para as rodas de leituras que as crianças que participaram interagiram mais? Por quê? Como a organização da biblioteca tem favorecido para o desenvolvimento destas crianças? Os mediadores têm feitos relatos sobre as rodas? O que as mesmas têm a destacar para o grupo? Essas e outras questões são levantadas, para que todos os envolvidos compartilhem seus conhecimentos e discutam sobre os pontos centrais de uma boa leitura e as suas reações. Em um dos momentos do grupo de estudo é relatado a importância de ler com a entonação e pontuação adequada, os diferentes textos dos gêneros previstos, planejamento das rodas de leitura com as crianças e debatido aspectos teóricos com base nos elementos que são trazidos da prática, mesmo que pareça óbvio esse tipo de informação infelizmente ocorre em algumas salas, leituras realizadas desordenadamente sem a entonação devida, dificultando a compreensão de quem a ouve. 6 Os esquema de gênero auxiliam tanto os leitor quanto os escritores. Suas formas características auxiliam os leitores, proporcionando-lhes base para a previsão de como será o teto, de como uma novela será dividida em capítulos,de determinado modo, de como um artigo cientifico seguira um certo formato, de que uma carta observará certa convenções. (SMITH, 1989.Pág.60) Utilizar de procedimentos que favoreçam a compreensão do texto, como antecipação, inferência e verificação, que nas situações de leituras de textos memorizados ou conhecido ajustam o falado ao escrito, mostrando interesse no manuseio dos livros de histórias, gibis e revistas, para que as crianças que participam da roda possa alcançar o objetivo da leitura Mesmo que ocorram momentos em que tenha que interromper a leitura para responder algum questionamento ou solicitar que cada um espere sua vez, a roda é um momento de aprendizado não somente de leitura, mas de saber esperar e que cada um tem a sua vez e que na hora da leitura é necessário atenção para que se possa entender o que o autor quer nos dizer. Em uma comunidade, onde pouquíssimos atos de leitores são presenciados, as rodas de leitura favorecem o avanço da zona de desenvolvimento real à zona de desenvolvimento potencial, a mediação estabelecida, vai atuar neste processo. Vygotsky (1989:97) define zona de desenvolvimento proximal como: [...] a zona de desenvolvimento proximal. Ela é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (p.32) É nesse espaço de interação em que há o momento de troca, onde a fomentação da leitura ocorre de forma natural, espontânea, sem que seja necessário a obrigação da leitura, como é um local onde há várias leitores interagindo com o espaço as crianças quando entram no CPLP se sentem a vontade de sentar no sofá e pegar um gibi ou uma revista para ler, quando não abrem um livro e folheiam suas páginas, mesmo que ainda não apresentem a leitura convencional alfabética, eles fazem suas leituras de imagens e ilustrações ou recontos de histórias já ouvidas. Além dos debates sobre leituras são elaborados projeto que favoreçam a comunidade a serem executados no espaço, no CPLP ocorre os projetos: “Além dos muros: ações de formação no Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti”, coordenado pela Professora Marliza Bodê de Morais, através da parceria da Universidade do Estado do Rio de Janeiro por meio do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-UERJ) com 7 o Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti (CAC), onde é discutido a importância da formação continuada e a alfabetização e letramento em sala de aula que tem como objetivo diluir uma didática de alfabetização coerente com a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino de Língua Portuguesa. É realizado o curso “Alfabetização em contexto de letramento”. O Projeto Lendo Recicac que desenvolve atividades no CAC com objetivo de conscientizar a comunidade sobre a necessidade de reciclar, as possíveis oportunidades de geração de renda com a coleta seletiva e as criações de brinquedos. Coordenado pela Professora Icléa Lages, foi executado em parceria com o projeto de Iniciação à Docência “Roda de Leitura: Constituindo uma Comunidade de leitores e escritores na Baixada Fluminense” coordenado pela Professora Maria da Conceição Rosa (Nalu), em execução na biblioteca do CAC em parceria com Instituto de Aplicação da UERJ. Atendendo a crianças e adolescentes da localidade, tendo como objetivo: ampliar as atividades de leitura visando favorecer a melhoria da competência de intervenção no processo de aprendizagem da língua escrita dos moradores do bairro, em especial as crianças e adolescentes, através de rodas de leituras que contribuam com a construção de um contexto de letramento, assim como, subsidiar a formação das estudantes universitárias envolvidas no processo, através da reflexão teórica articulada à ação prática. 3. LER - LINGUAGEM, ESTUDO E REFLEXÃO Foi atuando como bolsista no que pude perceber a importância da leitura para a formação do professor e sua atuação em sala de aula. No processo a leitura e a escrita começam a ter outros objetivos, outros significados. A competência escritora vai se ampliando a partir da escrita de relatos sobre as rodas, pois além de descrever o que ocorre nas rodas as mediadoras passam a escrever artigos sobre leitura para apresentações em simpósios e congressos, desenvolvendo a habilidade da escrita. O compartilhar dos textos parece ter um papel importante nesse processo de motivação e valorização do escrever, no qual participam seis estudantes universitárias que dirigem rodas de leitura em um espaço agradável, confortável e atraente para o leitor. Durante as rodas com as crianças, uma estudante dirige a leitura e outra faz anotações para o relatório que é feito após cada encontro. A interação dos participantes é constante, argumentam, criticam e debatem sobre as leituras, fazendo questão de levar para suas casas os livros clássicos de contos infantis, demonstrando o prazer da leitura aos seus familiares e 8 vizinhos e compartilhando esta prática com cada um ao seu redor. Pode-se considerar então que uma criança lê, quando esta entende o que o texto retrata. Pois quando esta apenas decodifica e não compreende, não se pode afirmar que houve leitura. É neste espaço, nesta distância que a intervenção de um mediador1 é importante, pois são áreas em que se age sobre o que o sujeito está próximo de aprender e que com ajuda conseguirá realizar. A atuação das estudantes universitárias que dirigem as rodas de leitura, as “ledoras”, criam a oportunidade das crianças terem modelos de referência, ao interagirem com usuários da leitura, que lêem para elas ouvirem, que fazem anotações, utilizando a escrita como forma de registro. As crianças imitam, mas não apenas copiam, fazem uma reinterpretação do que observam. Numa perspectiva vygostskyana, imitar “não é mera cópia de modelo, mas reconstrução individual daquilo que é observado nos outros” (OLIVEIRA, 1995:63). Não somos apenas nós estudantes que aprendemos com o grupo de estudos e passamos a imitar as nossas coordenadoras, mas, ao conduzirmos as rodas nos tornamos alvo de observações e de imitação, ocorreu em 2009 um fato que intrigou as participantes do projeto, pois nós não solicitamos nenhum tipo de material, mas observamos que uma aluna da comunidade que participa frequentemente das rodas passou levar consigo um caderno e uma caneta, então a questionamos sobre o que ela tanto escrevia em seu caderno, a mesma respondeu que relatava o nome do livro, autor e editora e escrevia suas criticas, além de imitar o nosso gesto e postura de relatar o que ocorre nas rodas, ela interage e reconstrói o que observa. É através dessa interação que nós ledoras e organizadoras desse processo que nós refletimos e transformamos as nossas práticas de leitura e escritas, reavaliando o que foi proposto e reconstruindo as nossas práticas leitoras. Em outra pesquisa (ROSA, 2002) sobre a instituição é mencionada a possibilidade de compreender o trabalho com a leitura sob uma nova perspectiva que aponta a importância do reencontro, ou do encontro, com a literatura infantil como provocador da vontade de ler dos professores para os alunos. É na preparação das rodas e no contato com elas que as vão estabelecendo uma relação diferenciada com a leitura, que antes não havia ou revendo esta relação: a leitura por prazer. 1 Posso definir mediador sendo o que provoca avanço intelectuais fazendo os participantes deixarem de serem espectadores e fazendo-os interagir com a leitura, neste espaço os mediadores são as universitárias que ao lerem os livros, fazem paradas estratégicas e perguntam sobre o que os alunos acham sobre a leitura ou o que irá acontecer a seguir fazendo que os mesmos pensem em alternativas, estimulando a criatividade e a interpretação. 9 3.1 LER PARA ESCREVER É através do envolvimento com as rodas de leitura e da necessidade de registrar o processo que as narrativas vão sendo escritas. Escrever é um processo árduo para o grupo, mas a prática da escrita de relatos parece abrir a porta para que a produção textual se inicie. O relato, embora ainda considerado pouco científico, vem ocupando um papel de destaque no processo de apropriação do ato escritor. Como aponta Cifali (1998) narrar é visto ainda como a forma como pessoas sem bagagem teórica dão testemunho do que lhes sucedeu. Seria apenas a matéria bruta da experiência, talvez apenas descrição. “Fala-se muito de identidade profissional; que o relato – condição da memória – contribui para sua construção, isto raramente é evocado.” (Cifali, 1998:113). Para escrever um relato é preciso selecionar o que será contado. Como eleger algo a contar? O que na história vivida é elegível para ser narrado? O que é preciso compreender narrando? O que escolho para escrever e para tornar público? Que critérios utilizo para selecionar o que contar? Bruner (2001) ao investigar a narrativa como um modo de pensamento e como veículo de produção de significado, alerta para a importância desta na coesão da cultura tanto quanto o é na estruturação do indivíduo. Entretanto, o modo de pensamento valorizado pela ciência é o lógico-científico. Há uma insensibilidade na lógica: vai-se até onde as nossas premissas e conclusões e observações nos levam, deixando-se de lado alguns enganos a que até mesmo os lógicos estão propensos. Os cientistas, talvez por acreditarem em histórias familiares para preencher as lacunas do seu conhecimento, têm maior dificuldade na prática. Mas sua salvação é eliminar as histórias quando estas podem ser substituídas por causas. (BRUNER, 1998). É no compartilhar dos relatos produzidos que o trabalho vai se configurando e a segurança e prazer no escrever vão se revelando. Ter objetivos claros e destinatários para compartilhar os textos no processo transformam a produção escrita que cada vez mais vai adquirindo coerência em busca de uma competência maior. Resultados destas práticas são artigos apresentados em congressos nacionais e internacionais escritos pelas participantes desse projeto, artigo relatando experiências vividas no espaço e suas contribuições para o seu aprendizado profissional. RODA DE LEITURA: LENDO RECICAC escrito por: Ariana Souza de Assis Da Silva – CAp/UERJ, teve o objetivo de registrar o evento, a pesquisa e analisar de forma que possamos perceber se as metas foram alcançadas e como as crianças e 10 adolescentes reagiram sobre o reaproveitamento do lixo. Que repercussões a leitura causa nas crianças a participação nas rodas de leitura? É possível usar a leitura como ferramenta educacional para conscientização da necessidade de reciclar o lixo? ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FORMANDO PARA O FUTURO escrita por: Carolina Grigolli Cerdeira CAp/UERJ e Ariana Souza de Assis da Silva - CAp/UERJ onde relataram uma pesquisa realizada por um grupo de graduandos em pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (UERJ/FEBF), sobre as causas do fracasso escolar no processo de alfabetização. “RODAS DE LEITURA: CONSTITUINDO UMA COMUNIDADE DE LEITORES E ESCRITORES NA BAIXADA FLUMINENSE escrita e apresentada por: Maria da Conceição de Carvalho Rosa (Nalu), Renata Pereira Bravin, Soliete Ribeiro da Silva, Barbara Bruna de Souza Francisco,Verônica Rodrigues dos Santos, Ariana Souza de Assis Da Silva e Brasília Echart Vieira. As autoras relataram e apresentaram a experiência de um grupo de estudantes universitárias, moradoras da Baixada Fluminense, periferia do Rio de Janeiro, que desenvolvem rodas de leitura com crianças e adolescentes que vivem ao redor do Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti - CAC, buscando tornar a leitura uma realidade presente no local. Participaram do 17° COLE em 2009, VI Simpósio Educação Sociedade Contemporânea: Desafios e Propostas em 2009, III Congresso Internacional Cotidiano Diálogo sobre Diálogos em 2010, IV Seminário Vozes da Educação:Formação de Professores/as – Narrativas, políticas e memórias em 2010. O que antes parecia difícil ou até mesmo impossível de se ter algum dia algum artigo publicado hoje em dia se tornou real e prazeroso, ler para escrever. O gosto de contar é idêntico ao de escrever – e os primeiros narradores são os antepassados anônimos de todos os escritores. O gosto de ouvir é como o gosto de ler. Assim,as bibliotecas, antes de serem infinitas estantes, com vozes presas dentro dos livros, foram vivas e humanas, rumorosas, com gestos, canções, danças entreameadas às narrativas ( MEIRELLES,1984. Pág.49) Contar, ouvir, ler e analisar a trajetória do CAC, pode ser uma experiência que nos ajude a pensar sobre a construção de possibilidades de promover a inclusão, dos excluídos do acesso à leitura. É preciso lançar olhar sobre as pistas. Logo é impossível ser professor sem ler e sem escrever. Destacar que a leitura não é somente a decodificação de letras sem nenhum sentido no final para quem as lê, ou depois de uma leitura, criar imensos questionários de interpretações 11 de textos, questionários estes, que às vezes não leva o leitor a interpretar nada, só o faz desanimar de ler. Profissionais da educação precisam entender que a biblioteca ou sala de leituras tem que ser um espaço que incentive o prazer pelo conhecimento e que não somente as crianças tem que aprender a obter o prazer pela leitura, mas, que todos os profissionais que atuam na área de educação, devem reconhecer o verdadeiro valor de uma leitura literária, não devemos nunca abandonar o prazer de ler, e que este só é constituído paulatinamente. Referências bibliográficas BRUNER, J. Realidade mental, mundos possíveis. Porto Alegre. Artmed,1998. __________. A cultura da educação. 2001 CIFALI, M.. Conduta clínica, formação e escrita. In: PERRENOUD, P. et alli. 2001. Formando professores profissionais. Quais estratégias? Quais competências? Porto Alegre. Artmed. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam.23ª. ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989. MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. 3ª edição. Rio de Janeiro:Nov Fronteira,1984. OLIVEIRA, M. 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