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RODAS DE LEITURA NA BIBLIOTECA DO CAC: RELATO DE EXPERIÊNCIA
ARIANA SOUZA DE ASSIS DA SILVA
RESUMO
Contar, ouvir, ler e analisar a trajetória do CAC, pode ser uma experiência que nos ajude a
pensar sobre a construção de possibilidades de promover a inclusão, dos excluídos do acesso à leitura.
É preciso lançar olhar sobre as pistas. Logo é impossível ser professor sem ler e sem escrever. E é
através da minha experiência como bolsista no CAC que venho analisar a importância da leitura e da
escrita, não somente para as crianças que participam do CPLP, mas para nós futuros profissionais da
educação, que temos a responsabilidade de educar e ensinar, com atos e palavras. A cada dia fazemos
história, falando ou não, agindo ou não, até quando estamos em silêncio fazemos história. A partir
deste trabalho, relatar, analisar e fazer uma nova história, a fim de que profissionais da educação
venham conhecer e saber que é possível um local onde o conhecimento é ensinado através da leitura,
que não há lugar específico para se ensinar a ler e o que é a leitura? É possível ler sem saber
decodificar as letras? Como um ambiente não formal, pode influenciar na formação de estudantes? É a
partir dos relatos de rodas de leituras que é feito essas reflexões, sobre como podemos obter o habito
da leitura, reconhecendo o valor de uma leitura literária.
PALAVRAS-CHAVE: biblioteca – leitura – relato de experiência – prática pedagógica
1.
INTRODUÇÃO
O ato de ler é uma constante no dia a dia. A todo momento somos provocados por
manchetes de jornais, propagandas de marketing, outdoors nas ruas. Os brasileiros lêem para
se manter informados sobre o cotidiano, para saber o que está acontecendo ao seu redor.
Entretanto, ao serem questionados quantos livros eles lêem por ano, a média é menos de dois
livros. A pesquisa realizada em 2008 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) detalha o perfil
de leitores ativos no Brasil, um índice preocupante a ser superado pelo Ministério de Cultura
através de incentivos a projetos que estimule o ato de ler livros, seja ele romances, poesias,
policial, livros de auto-ajuda, bíblicos, o gênero e tamanho é o que menos importa. Criar no
brasileiro o hábito de ler por prazer, despertando a paixão pelos livros, pelas histórias a serem
desvendadas, conhecer o pensamento do autor através das palavras escritas por eles grafadas
em vários papéis, parceria esta que só a leitura é capaz de proporcionar.
É de suma importância a familiarização com o livro e a leitura, trabalho sério e
constante de incentivo, não só em conhecer uma ou outra biblioteca, mas tornar a leitura um
hábito. Foucambert (1994) define que “Ler significa ser questionado pelo mundo e por si
mesmo, significa que certas respostas podem ser encontradas na escrita, significa poder ter
acesso a essa escrita, significa construir um resposta que integra parte das novas informações
ao que já se é.” (p.5)
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Os projetos incentivados pelo Ministério de Cultura são variados, são pontos de leitura
em metrô, incentivo para bibliotecas através de premiações e equipamentos de escritório,
criação de novas bibliotecas, feiras de livros, bienais, encontros e eventos literários, com estes
investimentos o índice de leitura no Brasil deverá aumentar, oferecendo acesso aos livros para
os mais diversos públicos, iniciativas importantes de investimentos de formação de
mediadores de leitura, professores e bibliotecários que através desta formação são capazes de
fomentar a leitura por todo o país, transformando a leitura em uma prática social, criando
hábito de escutar histórias, favorecendo momentos de prazer em grupo, enriquecendo o
imaginário de quem lê e escuta e valorizando o livro como fonte de entretenimento e
conhecimento.
Frente ao que é um dos direitos fundamentais garantido nas disposições preliminares
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). É dever da família, comunidade, da
sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade a efetivação, entre
outros direitos, do direito à cultura e lazer. A execução deste direito favorece o
desenvolvimento pleno da criança em todas as fases da sua infância, tornando o no futuro um
jovem leitor, despertando desde cedo o gosto pela leitura e mais, o tornando multiplicador da
leitura, deixando de ser apenas um leitor ouvinte, mas o tornando ledor.
Em 2010 o Ministério de Educação e Cultura promoveu “Ponto de Leitura – 100 Anos
de Machado de Assis” que premiava 514 pontos de leitura premiando com um acervo de 650
exemplares de literatura brasileira, estrangeira, infantil e juvenil, um computador, impressora
e mobília para biblioteca. O Centro de Promoção de Leitura e Pesquisa (CPLP) do Centro de
Atividades Comunitárias de São João de Meriti (CAC), foi um dos selecionados a ganhar o
prêmio, por ser um estabelecimento sem fins lucrativo desenvolvendo a leitura como fonte de
conhecimento e prazer, o MEC relacionou 514 pontos de leituras que desenvolvia projetos
inovadores e ousados, capazes de auxiliar na formação de leitores no Brasil.
Neste sentido, a elaboração deste trabalho pretende apresentar e analisar a experiência
do projeto de iniciação à docência “Roda de leitura: Constituindo uma comunidade de leitores
e escritores na Baixada Fluminense” oferecida pelo Colégio de Aplicação Fernando
Rodrigues da Silveira da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - CAp/UERJ em parceria
com o Centro de Atividades Comunitária de São João de Meriti (CAC).
Destaco que o projeto surgiu para atender uma demanda da comunidade entorno do
CAC com a proposta de redimensionar o efeito multiplicador da formação de leitores,
ampliando a experiência de intervenção com os alunos da escola do CAC à experiência de
intervenção na comunidade.
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Fundado desde 1987 através de um movimento popular o projeto tem com um dos
objetivos, na área da educação desenvolver um trabalho com os alunos que subsidie um
processo alternativo de formação de professores, em 1989, o CAC fundou uma escola de
educação infantil e um programa alternativo de formação para professores, desenvolvendo a
importância da interação entre sujeitos e desses com os diferentes objetos de conhecimento.
Por esta localidade ter poucas possibilidades da comunidade ter acesso aos livros,
surgiu o Centro de Promoção da Leitura e Pesquisa – CPLP, onde foi construído com apoio
financeiro da Fundação E, K. Kellog uma biblioteca com acervo diversificado de livros que
atendesse a comunidade e os professores, desenvolvendo uma programação variada de
atividades. A proposta visava redimensionar o efeito multiplicador da formação de leitores,
ampliando a experiência de intervenção com os alunos da escola à experiência de intervenção
na comunidade.
Desde a sua implantação, o Centro de Promoção de Leitura e Pesquisa vem
desenvolvendo um programa de ações, com crianças, adolescentes, adultos, estudantes de
magistério e professores da região que envolve rodas de leituras, cursos, orientação de
pesquisas, eventos literários e empréstimos de livros.
O CAC é um centro de formação de leitores e escritores, que traz em sua proposta
oferecer uma formação diferenciada, cujo o objetivo vai além de promover o hábito da prática
leitora em uma comunidade de baixa renda em São João de Meriti, mas também por meio de
grupos de estudos dirigidos
e cursos na área de letramento a complementação de
conhecimentos teóricos para as estudantes universitárias e professoras voluntárias
participantes do projeto de Iniciação à Docência .
É realizado rodas de leitura na biblioteca que se constitui como Centro de Promoção
de Leitura e Pesquisa (CPLP) onde é realizado o processo de planejamento, realização e
reflexão da atividade realizada, faz com que analisemos nossas relações com a leitura, seja ela
pedagógica, literária ou informativa, já que nós remete a ler e recontar novas histórias junto
com as crianças.
Para que esta prática seja constante em sua vida, o projeto: Roda de leitura:
constituindo uma comunidade de leitores e escritores na Baixada Fluminense” realizado no
CAC, tende a transformar a leitura literária uma atividade cotidiana, para uma escola de
ensino fundamental e para a comunidade ao redor, já que as crianças formam valores a partir
de bons modelos, assim ter professores e mediadores que fazem desta prática um prazer é
fundamental para que elas se adéqüem ao hábito da leitura.
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1.
LEITURA: É VIAJAR EM QUALQUER LUGAR
Quando o tema é leitura, não há local especifico, todo local se torna apropriado
quando se trata de ler, explorar cada palavra e interpretar, há momentos de leituras feitas até
em ônibus que esquecemos onde estamos e somos transferidos para o local descrito pelo
autor, entretanto quando a abordagem é o local de incentivo a leitura, muitos pensam apenas
em locais formais como escola, onde o professor ensina a ler e a escrever, definidas na Lei
9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No entanto, é alarmante a pesquisa
realizada pela CBL, entre os mais de 189 milhões de brasileiros, há cerca de 26 milhões de
leitores ativos que lêem pelo menos três livros por ano, onde a média deveria de ser entre 5 a
8 livros por capita, como ocorre na Europa, o índice nos relata o déficit desses leitores. Será
que só a escola tem a obrigação de fomentar a leitura literária?
Sabendo que não é somente os espaços formais que definem um perfil de leitor ativo,
que temos presenciado participação do Governo em fomentar os Pontos de Culturas e
organizações que participam deste embate, a fim de modificar os quadros de pesquisas e
poder dizer que o Brasil é um país de leitores, para isso espaços não formais, tem sido
reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), afim de que esses espaços
permaneçam a ampliar seus projetos que possibilitem discutir as leituras, pesquisas e estudos
para que desenvolva nos brasileiros a curiosidade e o desejo de ir além.
2.
CENTRO DE PROMOÇÃO DE LEITURA E PESQUISA (CPLP)
Neste capítulo venho apresentar do Centro de Promoção de Leitura e Pesquisa
realizado no CAC e como este espaço tem fomentado a leitura para as crianças que participam
desse ambiente e para os profissionais que atuam como ledoras e pesquisadoras.
Oferecer a leitura com métodos apropriados favorece o aprendizado além de
incrementar a leitura no cotidiano de quem participa de uma roda de leitura, conhecer a
biblioteca não apenas o espaço físico, mas ter o prazer de poder interagir participando das
rodas, fazendo empréstimo de livros, e dando sugestões de leitura, é um meio onde a criança
passa a interagir com as histórias contadas nos livros.
O Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti está localizado na
Baixada Fluminense no Município de São João de Meriti, desde sua fundação em 1987 vem
desenvolvendo trabalhos pedagógicos que interem o sujeitos aos mais diversos objetos de
conhecimento. Em torno do CAC a população é desfavorecida financeiramente, que sofrem
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com condições de moradias precárias, falta de estrutura familiar, acesso restrito a cultura e por
ser uma localidade com poucos locais de acesso aos livros, construíram o Centro de Promoção
da Leitura e Pesquisa – CPLP, um projeto que atende a comunidade e aos professores, com o
intuito de multiplicar a formação de leitores e escritores, através de grupos de estudos, cursos,
orientação de pesquisas, eventos literários, rodas de leituras e empréstimos de livros.
Há vinte e um anos que o CAC oferece a comunidade, uma escola de educação infantil
e o 1º segmento do Ensino fundamental e um programa de formação de professores. Durante
esse processo é visível o avanço, enquanto leitoras, nas crianças que participam da escola do
CAC e/ou do CPLP. Destaco, também, o crescimento da qualidade da intervenção pedagógica
da equipe de profissionais que atuam na instituição e de outros professores que participam de
suas ações.
Consta em seu estatuto que um dos seus objetivos é contribuir com ações que visem a
possibilidade de melhorar as condições de vida da população e oferecer serviços à
comunidade, com ampla participação comunitária.
Em 1995, foi possível implantar o projeto do CPLP através de um apoio financeiro da
Fundação W.K. Kelloggs, onde foi realizado a ampliação de uma saleta para uma biblioteca
com cerca de dois mil exemplares de livros literários, infantis, pedagógicos, gibis e revistas
(no apêndice 1 segue a foto desta construção).
Habitualmente o grupo de estudo no CPLP que se reúne na biblioteca do CAC, discute
questões sobre a leitura, como deve ser realizada uma roda de leitura? Qual congresso tem
sido realizado em que o tema central tem sido a leitura, e quais os debates foram realizados
nestes congressos? O que cada estudante aprendeu indo a estes congressos? Que aprendizados
têm a compartilhar um com os outros? Quais livros escolhidos para as rodas de leituras que as
crianças que participaram interagiram mais? Por quê? Como a organização da biblioteca tem
favorecido para o desenvolvimento destas crianças? Os mediadores têm feitos relatos sobre as
rodas? O que as mesmas têm a destacar para o grupo? Essas e outras questões são levantadas,
para que todos os envolvidos compartilhem seus conhecimentos e discutam sobre os pontos
centrais de uma boa leitura e as suas reações.
Em um dos momentos do grupo de estudo é relatado a importância de ler com a
entonação e pontuação adequada, os diferentes textos dos gêneros previstos, planejamento das
rodas de leitura com as crianças e debatido aspectos teóricos com base nos elementos que são
trazidos da prática, mesmo que pareça óbvio esse tipo de informação infelizmente ocorre em
algumas salas, leituras realizadas desordenadamente sem a entonação devida, dificultando a
compreensão de quem a ouve.
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Os esquema de gênero auxiliam tanto os leitor quanto os escritores. Suas formas
características auxiliam os leitores, proporcionando-lhes base para a previsão de
como será o teto, de como uma novela será dividida em capítulos,de determinado
modo, de como um artigo cientifico seguira um certo formato, de que uma carta
observará certa convenções. (SMITH, 1989.Pág.60)
Utilizar de procedimentos que favoreçam a compreensão do texto, como antecipação,
inferência e verificação, que nas situações de leituras de textos memorizados ou conhecido
ajustam o falado ao escrito, mostrando interesse no manuseio dos livros de histórias, gibis e
revistas, para que as crianças que participam da roda possa alcançar o objetivo da leitura
Mesmo que ocorram momentos em que tenha que interromper a leitura para responder
algum questionamento ou solicitar que cada um espere sua vez, a roda é um momento de
aprendizado não somente de leitura, mas de saber esperar e que cada um tem a sua vez e que
na hora da leitura é necessário atenção para que se possa entender o que o autor quer nos
dizer.
Em uma comunidade, onde pouquíssimos atos de leitores são presenciados, as rodas
de leitura favorecem o avanço da zona de desenvolvimento real à zona de desenvolvimento
potencial, a mediação estabelecida, vai atuar neste processo.
Vygotsky (1989:97) define zona de desenvolvimento proximal como:
[...] a zona de desenvolvimento proximal. Ela é a distância entre o nível de
desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente
de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da
solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com
companheiros mais capazes. (p.32)
É nesse espaço de interação em que há o momento de troca, onde a fomentação da
leitura ocorre de forma natural, espontânea, sem que seja necessário a obrigação da leitura,
como é um local onde há várias leitores interagindo com o espaço as crianças quando entram
no CPLP se sentem a vontade de sentar no sofá e pegar um gibi ou uma revista para ler,
quando não abrem um livro e folheiam suas páginas, mesmo que ainda não apresentem a
leitura convencional alfabética, eles fazem suas leituras de imagens e ilustrações ou recontos
de histórias já ouvidas.
Além dos debates sobre leituras são elaborados projeto que favoreçam a comunidade a
serem executados no espaço, no CPLP ocorre os projetos: “Além dos muros: ações de
formação no Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti”, coordenado pela
Professora Marliza Bodê de Morais, através da parceria da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro por meio do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-UERJ) com
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o Centro de Atividades Comunitárias de São João de Meriti (CAC), onde é discutido a
importância da formação continuada e a alfabetização e letramento em sala de aula que tem
como objetivo diluir uma didática de alfabetização coerente com a proposta dos Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino de Língua Portuguesa.
É realizado o curso
“Alfabetização em contexto de letramento”.
O Projeto Lendo Recicac que desenvolve atividades no CAC com objetivo de
conscientizar a comunidade sobre a necessidade de reciclar, as possíveis oportunidades de
geração de renda com a coleta seletiva e as criações de brinquedos. Coordenado pela
Professora Icléa Lages, foi executado em parceria com o projeto de Iniciação à Docência
“Roda de Leitura: Constituindo uma Comunidade de leitores e escritores na Baixada
Fluminense” coordenado pela Professora Maria da Conceição Rosa (Nalu), em execução na
biblioteca do CAC em parceria com Instituto de Aplicação da UERJ. Atendendo a crianças e
adolescentes da localidade, tendo como objetivo: ampliar as atividades de leitura visando
favorecer a melhoria da competência de intervenção no processo de aprendizagem da língua
escrita dos moradores do bairro, em especial as crianças e adolescentes, através de rodas de
leituras que contribuam com a construção de um contexto de letramento, assim como,
subsidiar a formação das estudantes universitárias envolvidas no processo, através da reflexão
teórica articulada à ação prática.
3.
LER - LINGUAGEM, ESTUDO E REFLEXÃO
Foi atuando como bolsista no que pude perceber a importância da leitura para a
formação do professor e sua atuação em sala de aula. No processo a leitura e a escrita
começam a ter outros objetivos, outros significados. A competência escritora vai se
ampliando a partir da escrita de relatos sobre as rodas, pois além de descrever o que ocorre
nas rodas as mediadoras passam a escrever artigos sobre leitura para apresentações em
simpósios e congressos, desenvolvendo a habilidade da escrita. O compartilhar dos textos
parece ter um papel importante nesse processo de motivação e valorização do escrever, no
qual participam seis estudantes universitárias que dirigem rodas de leitura em um espaço
agradável, confortável e atraente para o leitor.
Durante as rodas com as crianças, uma estudante dirige a leitura e outra faz anotações
para o relatório que é feito após cada encontro. A interação dos participantes é constante,
argumentam, criticam e debatem sobre as leituras, fazendo questão de levar para suas casas os
livros clássicos de contos infantis, demonstrando o prazer da leitura aos seus familiares e
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vizinhos e compartilhando esta prática com cada um ao seu redor. Pode-se considerar então
que uma criança lê, quando esta entende o que o texto retrata. Pois quando esta apenas
decodifica e não compreende, não se pode afirmar que houve leitura.
É neste espaço, nesta distância que a intervenção de um mediador1 é importante, pois
são áreas em que se age sobre o que o sujeito está próximo de aprender e que com ajuda
conseguirá realizar.
A atuação das estudantes universitárias que dirigem as rodas de leitura, as “ledoras”,
criam a oportunidade das crianças terem modelos de referência, ao interagirem com usuários
da leitura, que lêem para elas ouvirem, que fazem anotações, utilizando a escrita como forma
de registro. As crianças imitam, mas não apenas copiam, fazem uma reinterpretação do que
observam. Numa perspectiva vygostskyana, imitar “não é mera cópia de modelo, mas
reconstrução individual daquilo que é observado nos outros” (OLIVEIRA, 1995:63).
Não somos apenas nós estudantes que aprendemos com o grupo de estudos e passamos
a imitar as nossas coordenadoras, mas, ao conduzirmos as rodas nos tornamos alvo de
observações e de imitação, ocorreu em 2009 um fato que intrigou as participantes do projeto,
pois nós não solicitamos nenhum tipo de material, mas observamos que uma aluna da
comunidade que participa frequentemente das rodas passou levar consigo um caderno e uma
caneta, então a questionamos sobre o que ela tanto escrevia em seu caderno, a mesma
respondeu que relatava o nome do livro, autor e editora e escrevia suas criticas, além de
imitar o nosso gesto e postura de relatar o que ocorre nas rodas, ela interage e reconstrói o que
observa. É através dessa interação que nós ledoras e organizadoras desse processo que nós
refletimos e transformamos as nossas práticas de leitura e escritas, reavaliando o que foi
proposto e reconstruindo as nossas práticas leitoras.
Em outra pesquisa (ROSA, 2002) sobre a instituição é mencionada a possibilidade de
compreender o trabalho com a leitura sob uma nova perspectiva que aponta a importância do
reencontro, ou do encontro, com a literatura infantil como provocador da vontade de ler dos
professores para os alunos.
É na preparação das rodas e no contato com elas que as vão estabelecendo uma relação
diferenciada com a leitura, que antes não havia ou revendo esta relação: a leitura por prazer.
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Posso definir mediador sendo o que provoca avanço intelectuais fazendo os participantes deixarem de serem espectadores e fazendo-os
interagir com a leitura, neste espaço os mediadores são as universitárias que ao lerem os livros, fazem paradas estratégicas e perguntam sobre
o que os alunos acham sobre a leitura ou o que irá acontecer a seguir fazendo que os mesmos pensem em alternativas, estimulando a
criatividade e a interpretação.
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3.1
LER PARA ESCREVER
É através do envolvimento com as rodas de leitura e da necessidade de registrar o
processo que as narrativas vão sendo escritas. Escrever é um processo árduo para o grupo,
mas a prática da escrita de relatos parece abrir a porta para que a produção textual se inicie.
O relato, embora ainda considerado pouco científico, vem ocupando um papel de
destaque no processo de apropriação do ato escritor. Como aponta Cifali (1998) narrar é visto
ainda como a forma como pessoas sem bagagem teórica dão testemunho do que lhes sucedeu.
Seria apenas a matéria bruta da experiência, talvez apenas descrição. “Fala-se muito de
identidade profissional; que o relato – condição da memória – contribui para sua construção,
isto raramente é evocado.” (Cifali, 1998:113).
Para escrever um relato é preciso selecionar o que será contado. Como eleger algo a
contar? O que na história vivida é elegível para ser narrado? O que é preciso compreender
narrando? O que escolho para escrever e para tornar público? Que critérios utilizo para
selecionar o que contar?
Bruner (2001) ao investigar a narrativa como um modo de pensamento e como veículo
de produção de significado, alerta para a importância desta na coesão da cultura tanto quanto
o é na estruturação do indivíduo. Entretanto, o modo de pensamento valorizado pela ciência é
o lógico-científico.
Há uma insensibilidade na lógica: vai-se até onde as nossas premissas e conclusões e
observações nos levam, deixando-se de lado alguns enganos a que até mesmo os
lógicos estão propensos. Os cientistas, talvez por acreditarem em histórias familiares
para preencher as lacunas do seu conhecimento, têm maior dificuldade na prática.
Mas sua salvação é eliminar as histórias quando estas podem ser substituídas por
causas. (BRUNER, 1998).
É no compartilhar dos relatos produzidos que o trabalho vai se configurando e a
segurança e prazer no escrever vão se revelando. Ter objetivos claros e destinatários para
compartilhar os textos no processo transformam a produção escrita que cada vez mais vai
adquirindo coerência em busca de uma competência maior. Resultados destas práticas são
artigos apresentados em congressos nacionais e internacionais escritos pelas participantes
desse projeto, artigo relatando experiências vividas no espaço e suas contribuições para o seu
aprendizado profissional. RODA DE LEITURA: LENDO RECICAC escrito por: Ariana
Souza de Assis Da Silva – CAp/UERJ, teve o objetivo de registrar o evento, a pesquisa e
analisar de forma que possamos perceber se as metas foram alcançadas e como as crianças e
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adolescentes reagiram sobre o reaproveitamento do lixo. Que repercussões a leitura causa nas
crianças a participação nas rodas de leitura? É possível usar a leitura como ferramenta
educacional para conscientização da necessidade de reciclar o lixo?
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: FORMANDO PARA O FUTURO escrita
por: Carolina Grigolli Cerdeira CAp/UERJ e Ariana Souza de Assis da Silva - CAp/UERJ
onde relataram uma pesquisa realizada por um grupo de graduandos em pedagogia da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense
(UERJ/FEBF), sobre as causas do fracasso escolar no processo de alfabetização.
“RODAS DE LEITURA: CONSTITUINDO UMA COMUNIDADE DE LEITORES
E ESCRITORES NA BAIXADA FLUMINENSE escrita e apresentada por: Maria da
Conceição de Carvalho Rosa (Nalu), Renata Pereira Bravin, Soliete Ribeiro da Silva, Barbara
Bruna de Souza Francisco,Verônica Rodrigues dos Santos, Ariana Souza de Assis Da Silva e
Brasília Echart Vieira. As autoras relataram e apresentaram a experiência de um grupo de
estudantes universitárias, moradoras da Baixada Fluminense, periferia do Rio de Janeiro, que
desenvolvem rodas de leitura com crianças e adolescentes que vivem ao redor do Centro de
Atividades Comunitárias de São João de Meriti - CAC, buscando tornar a leitura uma
realidade presente no local.
Participaram do 17° COLE em 2009, VI Simpósio Educação Sociedade
Contemporânea: Desafios e Propostas em 2009, III Congresso Internacional Cotidiano
Diálogo sobre Diálogos em 2010, IV Seminário Vozes da Educação:Formação de
Professores/as – Narrativas, políticas e memórias em 2010.
O que antes parecia difícil ou até mesmo impossível de se ter algum dia algum artigo
publicado hoje em dia se tornou real e prazeroso, ler para escrever.
O gosto de contar é idêntico ao de escrever – e os primeiros narradores são os
antepassados anônimos de todos os escritores. O gosto de ouvir é como o gosto de
ler. Assim,as bibliotecas, antes de serem infinitas estantes, com vozes presas dentro
dos livros, foram vivas e humanas, rumorosas, com gestos, canções, danças
entreameadas às narrativas ( MEIRELLES,1984. Pág.49)
Contar, ouvir, ler e analisar a trajetória do CAC, pode ser uma experiência que nos
ajude a pensar sobre a construção de possibilidades de promover a inclusão, dos excluídos do
acesso à leitura. É preciso lançar olhar sobre as pistas. Logo é impossível ser professor sem
ler e sem escrever.
Destacar que a leitura não é somente a decodificação de letras sem nenhum sentido no
final para quem as lê, ou depois de uma leitura, criar imensos questionários de interpretações
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de textos, questionários estes, que às vezes não leva o leitor a interpretar nada, só o faz
desanimar de ler.
Profissionais da educação precisam entender que a biblioteca ou sala de leituras tem
que ser um espaço que incentive o prazer pelo conhecimento e que não somente as crianças
tem que aprender a obter o prazer pela leitura, mas, que todos os profissionais que atuam na
área de educação, devem reconhecer o verdadeiro valor de uma leitura literária, não devemos
nunca abandonar o prazer de ler, e que este só é constituído paulatinamente.
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crianças gostam. Bauru: USC, 1992.
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rodas de leitura na biblioteca do cac relato de experiência