João Gualberto Calatrone (Zebão) – Nasceu em 7 de janeiro de 1951, em Nova Venécia (ES), filho de Clotildio calatrone e Osória de Lima Calatrone. Desaparecido em 14 de outubro de 1973. Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)). Integrante do Destacamento A – Helenira Resende, da Guerrilha do Araguaia. Como estudante secundarista, teve grande atuação política no seu estado natal. Formou-se como técnico de contabilidade. m 1970, foi residir em uma região próxima ao rio Araguaia, no Sudeste do Pará, em uma posse denominada “Chega com Leito”, perto de Brejo Grande, onde adotou o nome de Zebão e se destacou como tropeiro e mateiro. Com seu jeito calado, ouvia mais que falava, mas sempre tinha uma solução para os problemas difíceis que apareciam. Tinha grande capacidade para improvisações. Arildo Valadão (Ari) – Nasceu em 28 de dezembro de 1948, em Itaici (ES). Era filho de Altivo Valadão de Andrade e Helena Almochdice Valadão. Desaparecido em 24 de novembro de 1973. Militante do Partido Comunista do Brasil (PcdoB). Integrante do Destacamento C da Guerrilha do Araguaia. Estudo até a conclusão do 2º grau (atual ensino médio) em Cachoeiro do Itapemirim (ES) e, em 1968, ingressou no Instituto de Física da UFRJ. Aí conheceu Áurea Elisa Pereira Valadão, colega de turma, com quem se casou em fevereiro de 1970, também desaparecida na Guerrilha do Araguaia. Moravam em um pequeno apartamento no Catete, no Rio de Janeiro, e mantinham-se com uma bolsa de estudos do CNPq e com o que ele ganhava como monitor. Foi presidente do diretório acadêmico de sua escola, em 1968. Nesse período, passou a militar no PcdoB com Áurea e um colega da faculdade, Antônio de Pádua Costa, o Piauí, desaparecido na Guerrilha do Araguaia em março de 1974. Perseguido pelos órgãos de repressão política, que invadiram o apartamento onde morava, passou a viver com Áurea na clandestinidade, tendo viajado para o Sudeste do Pará no segundo semestre de 1970, indo morar em Caianos, localidade próxima ao rio Araguaia. De acordo com o Relatório Arroyo, escrito pelo dirigente do PcdoB Ângelo Arroyo, que escapou do cerco militar à região da Guerrilha do Araguaia em 1074: No dia 24 (novembro de 1973), quando voltavam de um contato com a massa, os companheiros Ari (Arildo Valadão), Raul (Antônio Teodoro de Castro) e Jonas (morador) da região) pararam próximo de uma grota. Ari e Raul se aproximaram da grota para melhor se orientarem. Jonas ficou de guarda, perto das mochilas. Ouviu-se um tiro e Ari caiu. Em seguida, ouviram-se mais dois tiros. Raul correu. O comando do Destacamento BC, que também ouvira os tiros, enviou quatro companheiro para pesquisar o que teria havido. Logo adiante, esses companheiros encontraram o corpo de Ari sem a cabeça. Sua arma, rifle 44, seu bornal e sua bússola tinham sido levados. As mochilas de Ari, Jonas e Raul estavam lá. Raul voltou pela manhã ao acampamento e Jonas desapareceu. O relatório do Ministério da Marinha encaminhado ao ministro da Justiça, Maurício Corrêa, em 1993, diz que ele foi morto em 24 de novembro de 1974 (observe-se que o dia e mês estão corretos, mas não o ano). Em declaração prestada ao Ministério Público Federal, em 19 de julho de 2001, o exguia do Exército Sinézio Martins Ribeiro afirmou: O primeiro tiroteio do Exército foi no Pau Preto onde foi morto o Ari; que o depoente estava presente; que Ari não atirou; que Ari teve sua cabeça cortada e levada para a base do Exército em Xambioá; que nesse dia só havia uma equipe de 5 soldados, o comandante era o Piau e os Guias eram Iomar Galego, Raimundo Baixinho e o depoente; que a grota do Pau Preto fica dentro do castanhal do Almir Morares; que isto se deu num encontro casual, que não viram piseiro nem tiveram informações; que após a retirada da cabeça a colocaram num saco plástico e voltaram a pé, até a base do Paulista (Nemer Kouri), na beira do Xambioazinho, junto a OP-2; que a cabeça foi entregue ao Dr. César, do Exército. Em matéria do jornalista Vasconcelos Quadros intitulada “Memorial Araguaia” e publicada em No Mínimo, de 20 de janeiro de 2005, temos: Jonas teria permanecido nove meses na guerrilha e só se rendeu no final de 1973 para ser trocado pelo pai, José Gonçalves, preso e torturado porque o filho havia aderido à subversão. No período em que atuou na guerrilha participou de confrontos com os militares. Na declaração que será encaminhada á Comissão de Anistia são citados dois episódios: o ataque a um pelotão do Exército na localidade chamada Embaubal e a emboscada na região de Gameleira, em 24 de novembro de 1973, em que cairia junto com outros dois guerrilheiros. Surpreendidos por três guias das Forças Armadas, Ioma (Iomar), Baixinho e Cinézio (Sinézio), Jonas, o cearense Antônio Teodoro de Castro, o Raul, ex-estudante de farmácia e bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desaparecido desde 24 de dezembro de 1973, e o capixaba Arildo Valadão, o Ari, estudante do Instituto de Física da UFRJ, foram emboscados numa grota enquanto abriam uma picada a facão. O primeiro a ser atingido foi Ari, que levou um tiro no tórax e foi morto. Raul correu e foi atingido por um tiro nas costas. Jonas conta que, com o impacto do tiro, Raul caiu, rolou para a parte baixa do terreno e em seguida levantou, desaparecendo na mata. Jonas ficaria sabendo depois que a bala teria acertado um prato de esmalte que o guerrilheiro carregava na mochila presa às costas. Encurralado, mas escondido, lê diz que teria assistido os guias cortarem a cabeça de Ari para levá-la à base militar – um procedimento comum entre militares e mateiros que caçavam os guerrilheiros. Os corpos eram abandonados no local, enterrados ou não, e a cabeça era levada para identificação. “Diante dos meus olhos, decapitaram o Ari. Amarraram pés e mão e penduraram num vara-pau. Saíram dizendo que queriam a minha cabeça, que na época já valia CR$ 5.000,00”, relata Jonas. (...) Em sua homenagem, a cidade de São Paulo deu o nome de Arildo a uma rua situada no bairro Cidade Ademar. Também foi homenageado pelas cidades de Campinas (SP), que deu seu nome a uma rua na vila Esperança, e Belo Horizonte, no bairro de Braúnas. Se nome consta da lista de desaparecidos políticos do anexo I, da Lei 9.140/95. Na CEMDP, seu caso foi protocolado com o número 202/96. Marcos José de Lima (Zezinho, Ari) – Nasceu em 3 de novembro de 1947, em Beira Rio, município de Nova Venécia (ES), filho de Sebastião José de Lima e Lusia D’Assumpção de Lima. Desaparecido em 20 de dezembro de 1973. Militante do Partido Comunista do Brasil (PcdoB). Integrante do Destacamento A – Helenira Resende, da Guerrilha do Araguaia. Era operário e ferreiro. Em 1970, foi viver na localidade de Chega com Jeito, próximo a Brejo Grande, perto do rio Araguaia, no Sudeste do Pará, com o objetivo de participar do movimento guerrilheiro, trabalhando como ferreiro, consertando armas. O Relatório Arroyo, escrito pelo dirigente do PcdoB Ângelo Arroyo, que escapou do cerco militar à região da Guerrilha do Araguaia em 1974, referiu-se ao seu desaparecimento: J. (Ângelo Arroyo) decidiu enviar Ari (Marcos José de Lima e Mané (Rodolfo de Carvalho Troiano) par apanhar farinha num depósito próximo. Mané ficou aguardando Ari a uma certa distância. Como Ari demorasse, Joça (Líbero Giancarlo Castiglia), que havia chegado, foi até o depósito e não encontrou o Ari. No local do depósito estava apenas o saco plástico que Ari havia levado para trazer a farinha. A impressão que se teve é que ele fugiu, pois não apareceu nem no acampamento, nem nas referências(20 de dezembro de 1973). Os relatórios dos ministérios militares entregues ao ministro da Justiça, Maurício Corrêa, em 1993, afirmam não possuir registros a seu respeito. No entanto, nas fichas entregues anonimamente por um militar ao jornal O Globo, em 1996, temos: “’Ari Armeiro’ – preso na Transamazônica, em 26 Dez. 73, após haver desertado - era o armeiro dos Destacamentos e conhece os depósitos e oficinas da CM”. No livro vestígios do Araguaia, podemos ler: Ari (Marco José de Lima) (sic) também impressionava o povo. Era o responsável pelo reparo e a manutenção dos armamentos e fazia isso muito bem, apesar de que estava construindo um avião para a guerrilha, tanto que os companheiros iam a São Domingos em busca de lataria. Este é um dos casos em que não se conseguiu muitas informações. Em uma das diversas vezes em que a Comissão de Familiares de mortos e Desaparecidos Políticos esteve na região, moradores disseram que ele teria sido morto e enterrado na fossa construída no local conhecido como “Chega com jeito”. Em 1996, realizou-se uma busca no local coma Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF). Localizada a fossa, procedeu-se a escavação, mas não foi encontrada nenhuma ossada. Seu nome consta na lista de desaparecidos políticos do anexo I, da Lei 9.140/95. Na CEMDP, seu caso foi registrado com o número 050/96. Para homenageá-lo, seu nome foi dado a uma rua no Residencial Cosmo, em Campinas (SP). José Maurílio Patrício (Manoel) – Nasceu em 13 de setembro de 1944, em São João de Petrópolis (ES), filho de Joaquim Patrício e Izaura de Souza. Desaparecido em outubro de 1974. Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Integrante do destacamento B da Guerrilha do Araguaia. Fez o 1º ano primário no Colégio Singular, em São João de Petrópolis, em 1954. No ano seguinte foi para o Grupo Escolar do Colégio Agrícola de Santa Tereza, onde terminou o curso. Continuou na mesma escola no curso de iniciação agrícola e, em seguida, fez o curso de técnico agrícola, formando-se em 1996. Era considerado muito alegre, solidário e inteligente. Em 1967, mudou-se para o Rio de janeiro para estudar na Universidade Rural, onde fez o curso de educação técnica. Em 1968, foi preso no XXX Congresso da UNE, em Ibiúna (SP). Com a edição do AI-5, em dezembro daquele ano, pela intensidade da repressão política, passou a viver na clandestinidade. Mais tarde, mudou-se para o Sudeste do Pará, indo mora próximo ao rio Araguaia, nas margens do rio Gameleira. Consta a seguinte citação a seu respeito no relatório Arroyo, documento escrito pelo dirigente do PCdoB Ângelo Arroyo que escapou do cerco militar à região da guerrilha em 1974: Junto com Suely Kamayano (sic) havia saído antes do dia 25/12/73, para buscar Cilon (da Cunha Brum) e José Lima Piauhy Dourado. Deveriam retornar dia 28/11, ao local onde houve o tiroteio do dia 25/12. Desde o relatado, não foram mais vistos. Relatório do mInistério da Marinha entregue ao ministro da Justiça, Maurício Corrêa, em 1993, afirma que “(...) foi morto em out./74, na região de Saranzal”. Seu nome consta da lista de desaparecidos políticos do anexo I da lei 9.140/95. Na CEMDP, o seu caso foi protocolado como número 199/96. Em sua homenagem, a cidade de Campinas (SP) deu seu nome a uma rua localizada no bairro Residencial Cosmo I. Orlando a Bonfim Júnior – Nasceu em 14 de janeiro de 1915, em Santa Teresa (ES), filho de Orlando da Silva Rosa Bonfim e de Maria Gasparini Bonfim. Desaparecido em 8 de outubro de 1975. Dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Orlando Bonfim Júnior era casado com Sinésia de Cravalho Bonfim e pai de seis filhos: Regina, Orlando, Roberto, Olga, Sérgio e Beatriz. Fez seus primeiros estudos em Vitória (ES). Mudou-se para Belo Horizonte (MG), onde fez o curso de direito na UFMG e exercia as atividades de jornalista no Estado de Minas, jornal de grande circulação, do qual, ainda jovem, foi secretário. Foi um dos signatários do “Manifesto dos Mineiros”, em 1943. Dirigiu jornais partidários e advogava gratuitamente. Elegeu-se vereador em Belo Horizonte nas eleições de 1946 e tornou-se líder do PCB na Câmara Municipal. Em1958, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a trabalhar na Imprensa Popular. Foi jornalista até o golpe de 1964, quando o jornal que dirigia na capital carioca, chamado Novos Rumos, foi fechado. Antes do golpe, uma das participações políticas mais marcantes de Orlando ocorreu na greve dos operários, morou com eles e foi lá que, procurado vivo ou morto, conseguiu cobertura de casa em casa, escondendo-se da polícia. Segundo depoimento de amigos e familiares, era uma pessoa de caráter sincero e franco. Sua convivência era a mesma em qualquer nível social: era respeitado tanto no meio operário, como entre os políticos e intelectuais. Era um espírito aberto e admirado por todos que desfrutavam do seu convívio. Em 8 de outubro de 1975, sua família ficou sobressaltada por um telefonema anônimo, em que alguém, dizendo-se tratar de “um amigo de seu pai”, comunicou a um dos filhos a prisão de Orlando e pedia que a família contratasse um advogado e comunicasse o fato à Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Imediatamente, sua família e o Comitê Central do PCB mobilizaram-se para localizá-lo. Na mesma noite, o jornalista Elio Gaspari telefonou para o Palácio do Planalto, pedindo informações ao general Golbery do Couto e Silva. A ABI foi avisada e indicou o advogado Humberto Jansen Machado, que impetrou um habeas corpus junto ao STM. No dia 13, o advogado entrou com uma petição na 2ª Auditoria da Marinha, onde Bonfim tinha um mandado de prisão preventiva decretado. Cartas foram enviadas ao MDB, ao ministro da Justiça e a parlamentares. O deputado Getúlio Dias, na liderança da oposição na Câmara, anunciou a prisão, e o deputado Cantídio Sampaio, respondendo pela liderança da Arena, prometeu pedir informações ao governo. Uma autoridade em Brasília prometeu elucidar o desaparecimento de Orlando em 72 horas. Passaram-se horas, dias, anos e Orlando nunca foi encontrado, apesar dos esforços do MDB e de entidades coma Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Movimento pela Anistia, a Comissão Justiça e Paz (CJP) do Rio de Janeiro e de São Paulo, o Cardeal D. Eugênio Sales e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – entidade da qual Orlando Bonfim era membro pela seção Minas Gerais. Todos os instrumentos legais foram acionados. Até 1975, antes de ser preso, escreveu para a mãe afirmando estar bem de saúde e defendeu o caminho escolhido, tão difícil e longe dos que amava. Isto desmente a repressão, que insinuava que ele não estava desaparecido, mas sim na União Soviética. Em 31 de outubro, a família recebeu a informação, vinda de amigos e de áreas militares, de que ele estava preso no DOI-CODI/RJ. Todos os contatos foram retomados. Novas cartas foram despachadas e a ABI, solicitada, enviou um pedido de informação ao comandante do I Exército, general Reynaldo Mello de Almeida. Mas, 11 dias depois, o I Exército informou que ele não estava e nunca estivera lá. A resposta de outras áreas militares seria idêntica, ninguém assumia sua prisão. Em 27 de novembro surgiu o primeiro boato. Como sempre, a origem era de “fontes militares”. A redação do jornal O Estado de S. Paulo recebeu um telefonema anônimo informando que Orlando Bonfim estava morto. No mesmo dia, a sucursal carioca da Folha de S. Paulo recebia um telex informando sua morte na prisão, durante interrogatório. Sua prisão e seu desaparecimento são consequência da “Operação radar”, uma grande ofensiva do Exército, iniciada em 1973, para dizimar a direção do PCB13. De acordo com declarações do ex-sargento do DOI-CODI/SP, Marival Dias Chaves do Canto, à revista Veja, de 18 de novembro de 1992: “Orlando Bonfim Júnior, da cúpula do PCB, está no rio de Avaré. Bonfim foi preso no Rio de Janeiro pelo Destacamento de Operações e de Informações de São Paulo e levado para o cárcere na rodovia Castelo Branco”. Foi morto e jogado “no rio debaixo de uma ponte que fica na estrada que liga a cidade de Avaré, no interior de São Paulo, à Rodovia Castello Branco (...). Existe ali um cemitério debaixo d’água”, afirma o ex-sargento. A revista Veja informou que se trata da rodovia SP-255. Ainda segundo Marival, havia um centro clandestino de torturas na estrada de Itapevi, cidade da região Metropolitana de São Paulo. Em documento encontrado do DOPS/SP, lê-se: 14/7/64 – Cassado pelo AI-1 de 1964; 1/6/71 – Foi condenado a 7 anos de prisão pela Auditoria da 4ª RM. 22/9/78 - O Conselho Permanente de Justiça da 2ª Auditoria da Marinha o absolveu por insuficiência de provas. Seu nome consta da lista de desaparecidos políticos doa nexo I, da lei 9.140/95. Seu caso foi protocolado com o número 095/96, da CEMDP. Em sua homenagem, a cidade de Belo Horizonte deu o seu nome a uma rua no bairro Planalto. Em 21 de junho de 1988, foi instituído pela Assembléia Legislativa do Espírito Santo o Prêmio Orlando Bonfim Júnior de Direitos Humanos. Lincoln Bicalho - Nasceu em São José do Calçado no Espírito Santo no dia 25 de maio de 1945, filho de Maria Augusta Bicalho Roque e José Sarmento Roque. Cursou o primário no Grupo Escolar Bodart Júnior de Rio Novo do Sul e o Ginásio no Colégio Estadual do Espírito Santo em Vitória, onde tirou primeiro lugar, conseguindo com isto cursar o segundo grau no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro. Foi aprovado para todas as faculdades de medicina do Estado do Rio de Janeiro, chegando a cursar um ano desta disciplina na Faculdade Nacional de Medicina. Após esse ano, trancou a matrícula, passando a cursar Sociologia também na Faculdade Nacional. Formou-se sociólogo em 1967, quando foi contratado professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Em abril de 1968, por suas atividades políticas, foi compulsoriamente aposentado. Trabalhou ainda como sociólogo no SESC (Serviço Social do Comércio) até passar a viver na clandestinidade em 1972. Após esta data continuou realizando trabalhos para esta e outras instituições utilizando nome de terceiros. Antes de passar à clandestinidade, foi preso várias vezes. Participou do Programa Nacional de Alfabetização e integrou o Comitê Estadual e o Comitê Central do PC do Brasil. Deixou marcas por toda a sua vida estudantil, profissional e política, seja por sua paciência e persuasão nas discussões intelectuais ou por sua genialidade, carinho e carisma em suas diversas e intensas relações pessoais. Lincoln desapareceu em 13 de março de 1973. De imediato, a família percorreu os órgãos policiais à procura de informações. Após uma incansável busca, pediram ajuda à CNBB. Em 21 de março divulgou-se a notícia de que Lincoln fora morto ao resistir à prisão em um choque armado no Campo de São Cristóvão. Após sucessivas idas e vindas ao Ministério do Exército, informaram que o corpo poderia ser encontrado no IML. O corpo apresentava inúmeras marcas de tortura e foi mantido fora da geladeira do dia 22 para o dia 23 de março. Tais fatores, juntamente com as pressões dos órgãos de segurança, dificultaram o reconhecimento e obrigaram a família a realizar o enterro imediatamente, sem ao menos velar seu ente querido. Os algozes da repressão não aliviaram a perseguição a Lincoln sequer na hora de seu enterro, que contou com a incômoda presença de “olheiros”, que verificavam atentamente quais dos presentes poderiam também ser enquadrados como subversivos. Hoje se sabe que foi preso em frente à Igreja de São João de Meriti onde tinha um ponto marcado com um companheiro. No momento, a família move um processo responsabilizando a União pelo cruel assassinato de Lincoln. A versão oficial da repressão afirma que morreu “ao reagir às Forças de Segurança”, sendo seu corpo encontrado ao lado do Pavilhão de São Cristóvão (RJ) , em 13 de março de 1973, com mais de 15 tiros. Seu cadáver entrou no IML/ RJ, no mesmo dia como desconhecido, pela Guia N° 15 do DOPS. A necrópsia, realizada no dia seguinte pelos Drs. Gracho Guimarães Silveira e Jorge Nunes Amorim, confirma a falsa versão oficial da repressão de que foi morto em tiroteio. Foi reconhecido, segundo documento n° 437 do DOPS/RJ, em 16 de março de 1973, pelas impressões digitais e retirado por seu irmão, sendo enterrado pela família, em 23 de março no Cemitério Jardim da Saudade (RJ). No laudo de perícia de local há a seguinte afirmação: “... com o cadáver, ou nas proximidades, não foram encontrados quaisquer documentos, pertences ou outros elementos materiais...”. As fotos de perícias de local mostram claramente sinais de torturas nos olhos e lábios. O que é confirmado pelas declarações do preso político José Auri Pinheiro, em Auditoria Militar, à época, que denuncia as torturas sofridas por Lincoln. Sua morte foi publicada pelo “O Globo” e “Jornal do Brasil”, de 22 de março de 1973, sob os respectivos títulos: “Terrorista reage à prisão e é morto a tiros na rua” e “Autoridades de Segurança informam sobre a morte de um militante do PC do B .