Pró-Reitoria de Graduação Curso de Engenharia Ambiental Trabalho de Conclusão de Curso CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DO TALUDE DE SOLO RESIDUAL EM ARDÓSIA RODOVIA DF 180 SAMAMBAIA – GAMA Autor: Silas Silveira dos Santos Orientador: DR. Murilo Torres Gomes Coorientador : Eng. Ambiental Paulo Sergio Pereira Brasília - DF 2012 2 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DO TALUDE DE SOLO RESIDUAL EM ARDÓSIA RODOVIA DF 180 SAMAMBAIA – GAMA Silas Silveira dos Santos Professor Orientador – Dr. Murilo Torres Gomes Coorientador : Eng. Ambiental Paulo Sergio Pereira Curso de Graduação em Engenharia Ambiental – Universidade Católica de Brasília RESUMO A pesquisa apresenta os resultados oriundos de uma investigação dos processos de instabilidade de talude em solo residual de ardósia, que levam à erosão e deslizamento em rodovia. Este estudo combinou diferentes ferramentas de investigação e de caracterização geológica – geotécnica. A pesquisa foi aplicada na rodovia DF 180 sentido Samambaia – Gama entre os quilômetros 1 e 2, próximo ao viaduto de interseção com BR 060, DF - Brasil. As principais etapas da pesquisa abrangeram levantamentos e ensaios de campo, realização de ensaios laboratoriais (análise granulométrica por sedimentação, infiltração, resistência a penetração, umidade natural e higroscópica, determinação da massa específica e limites de consistência). Com resultados geotécnicos das duas amostras de campo dos pontos 1 e 2, foi possível estabelecer que no ponto 1, o solo é argiloso, mais intemperizado, pouco espesso, menos resistente e de fácil desagregação, além de ser menos duro com limite de liquidez e plasticidade altos. Estes fatores influenciam no processo erosivo desenvolvido na trincheira que ocorre na parte superior do talude. No ponto 2, por sua vez, o solo é residual ardósia (saprolito), siltoso, mais resistente, menos poroso, compactado, com limite de liquidez e plasticidade baixos. Características que produzem neste solo uma menor vulnerabilidade a ocorrências de erosão superficial. Contudo, a elevada inclinação do talude (50°) e a alta intensidade de chuvas aceleram o processo de ravinamento e formação de sulcos. A partir da identificação das causas dos processos de instabilização foram sugeridas medidas preventivas e corretivas que vão desde correção na geometria do talude (retaludamento), até a implantação de sistemas de drenagem superficial (canaletas e escadas hidráulicas). Como também utilização de biomantas e cobertura vegetal. Palavras – chaves: Talude, Erosão, Deslizamento Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção ao título de Bacharel em Engenharia Ambiental. O artigo foi aprovado por: Dr. Murilo Torres Gomes – Orientador e Prof. Msc. Renata Conciani – Examinador. Brasília, 29 de novembro de 2012. 3 ABSTRACT The present research shows the results from an investigation about the instability processes on a slope made up by residual soil originated from slate, which causes erosion and landslides on a road. This study combined different tools of investigation and geological-geotechnical characterization. The research was done on the DF-180 highway, towards Samambaia-Gama between the 1 and 2 kilometers, next to the viaduct which intersects with the BR 060, in DF – Brazil. The main research phases included field research and tests, laboratory exams (analysis of grain size by sedimentation, infiltration, resistance to penetration, natural and hygroscopic moisture, specific mass determination, consistence limit, liquidity and plasticity). With the geotechnical results of the two field samples from the points 1 and 2, it was possible determine that in the point 1, the soil is made up of clay, more weathered, less thick, less resistant and of easy disintegration, as well is less hard and with higher plasticity and liquidity limits. Those factors influenced for an erosive process developed on the trench that occurs on the higher part of the slope. On the point 2, on its turn, the soil is residual slate (saprolite), silty, more resistant, less porous, compacted, with lower liquidity and plasticity limits. Those characteristics produce on this soil a lower vulnerability to surface erosion occurrences. However, the higher sloping angle (50°) and the high rain intensity accelerated the erosion process and groove formation. From the identification of the causes of the instability processes it was suggested preventive and corrective measures which ranges from the slope geometry readjustment (re-sloping), up to a surface draining system implantation (specific draining grooves and hydraulic steps). It must be also used biocovers and vegetal covers Key - words: Slope, erosion, Slip 4 1. INTRODUÇÄO O estudo de instabilidade em taludes e encostas com a finalidade de minimizar os processos de deslizamento e conseqüentes impactos gerados à sociedade, nas cidades localizadas em áreas de relevo ondulado a forte ondulado (regiões serranas) e em cortes de rodovias e ferrovias, têm adquirido significativa relevância em regiões de clima tropical. Tal relevância deve-se à presença de formação de solos muito espessos, devido à grande quantidade de chuvas e às temperaturas elevadas e à grande quantidade de fraturas nas rochas que são vias que permitem a penetração da água (solução lixiviante) elevando o grau de alteração e consequente instabilidade do sistema solo/rocha. O estudo, em especial, dos taludes rodoviários (criados em função da implantação das rodovias) tem se destacado, principalmente no Brasil, pois a principal forma de transporte para o escoamento da produção agrícola, de bens e serviços é realizado por transporte rodoviário. Assim, importantes rodovias brasileiras apresentam muitos taludes afetados por escorregamento e diversas formas de erosões de diferentes magnitudes. Como consequência os problemas de instabilidade vão desde escorregamentos localizados até catastróficas, que resultam do movimento de grandes volumes de solo e de rocha, provocando danos pessoais e econômicos, além da paralisação das atividades operacionais, e interrupção do trânsito. (ABGE, 1998). Taludes ou encostas naturais são definidos como superfícies inclinadas de maciços terrosos, rochosos ou mistos (solo e rocha), originados de processos geológicos e geomorfológicos diversos que podem sofrer modificações antrópicas, tais como deslizamentos e introdução de cargas. (ABGE, 1998). Os primeiros estudos sobre escorregamentos remontam há mais de 2000 anos, em países como China e Japão. A análise do controle de instabilidade de talude e encostas têm seu amplo desenvolvimento com grandes obras da Geologia de Engenharia. (Augusto Filho &Virgilio, 1998). 5 2. JUSTIFICATIVA O presente trabalho pesquisou o processo de instabilidade de um talude de solo residual em ardósia, na rodovia DF 180, utilizando-se de uma investigação geológicageotécnica em escala local. Esta área foi selecionada em função deste trecho da Rodovia DF 180 apresentar um talude em solo residual com altura significativa (acima de 12 metros), apresentando sérios problemas de instabilidade, associados a processos erosivos que, no período chuvoso é intensificado, ocorrendo em consequência, forte carreamento de sedimentos finos para dentro da faixa de rolamento da rodovia. Estes sedimentos geram riscos de acidentes, atrapalham o trânsito de pessoas e produtos, principalmente nesta região onde estão sendo criados e incentivados pelo Governo do Distrito Federal, grandes galpões para armazenamento de cargas e produtos de abastecimento que chegam de todas as partes do país, evitando, assim, que os caminhões tenham que entrar na cidade de Brasília, diminuindo significantemente o tráfego de veículos pesados e melhorando o trânsito e o consequente engarrafamento das vias de acesso à Brasília, principalmente nos horários de pico. No período chuvoso máquinas e caminhões são contratados pelo DER-DF (Departamento de Estrada e Rodagem) para retirar os sedimentos depositados na pista de rolamento da rodovia. 2.1. Objetivo da pesquisa: A pesquisa tem como objetivo geral reconhecer os agentes, causas e condicionantes atuantes no processo de instabilidade do solo residual por erosão hídrica no talude na rodovia DF 180, bem como, propor ações mitigadoras. Para atingir o objetivo principal, vários objetivos específicos necessitam ser cumpridos, entre eles: Estudo de caracterização física do solo residual do talude através de ensaios geotécnicos (granulometria, infiltração, limites de consistência, umidade natural e higroscópica, massa específica e resistência à penetração). Medição das direções e índices de fraturas. Propor, em função dos resultados dos ensaios físicos, medidas de correção para a mitigação dos impactos. 6 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A presente revisão bibliográfica esta dividida em duas partes, a primeira aborda alguns conceitos e formas mais frequentes de erosões em taludes. A segunda parte diz respeito à classificação de processos de instabilidade e fatores condicionantes. Define-se por erosão o processo de desagregação e remoção de partículas do solo ou de fragmentos e partículas de rochas, pela ação combinada da gravidade com água, vento, gelo e organismos (plantas e animais) (SALOMÃO e IWASA, 1995). Erosão pode ser entendida como o processo de desagregação, transporte e deposição de partículas componentes do solo determinados pela ação do vento e mais especificamente, pela água (BERTONI e LOMBADI NETO, 1993). 3.1. Formas de erosão: Erosão pluvial por arrastamento caracteriza-se pelo deslocamento de partículas pela ação viva das águas. Estas águas que arrastam as partículas podem ser os rios ou enxurradas. Erosão interna (piping) ocorre internamente ao maciço de solo. Isto é, esta forma de erosão só é percebida na superfície quando existe subsidência (recalques) de grande magnitude devido ao afundamento dos canais formados no solo. Em geral, esta forma de erosão é visível apenas em taludes de canais e barragens ou taludes de voçorocas. (CONCIANI, 2008). Erosão eólica causada pelo vento é claramente sentida nas regiões costeiras ou desérticas onde as dunas evidenciam este processo. Entretanto, a erosão eólica está presente em todas as regiões brasileiras. A erosão eólica ocorre também em morros e paredões rochosos. Neste caso o vento destaca partículas de rocha e as carrega para longe do seu local de origem. Nas grandes áreas agrícolas que estão se abrindo nos cerrados do Centro Oeste, Norte e do Nordeste esta forma de erosão chega superar a erosão hídrica laminar. (CONCIANI, 2008). Erosão marinha é causada pelo impacto das águas dos mares e oceanos sobre os solos e rochas da costa. Esta forma de erosão é acentuada nas épocas do ano em que as correntes marinhas estão escavando o solo. Chega a ver diversas construções costeiras com bares, restaurantes e vias sendo carregadas pelas águas. Em outras épocas a mesma área que sofreu escavação passa a ser local de deposição de material escavado (CONCIANI, 2008). 7 3.2. Classificações de processos de instabilização. Para os escorregamentos ou movimentos de encostas, existem inúmeras classificações. Dentre os trabalhos que tratam de forma completa a evolução, critérios e restrições dos sistemas destacam-se o de Varnes (1958, 1978), Nieble (1976), Tuner e Schuster (1996). Sendo a classificação de Varnes (1978) a mais utilizada. De forma geral, as classificações baseiam-se na combinação dos seguintes critérios básicos: Velocidade, direção e ocorrência dos deslocamentos; Natureza do material instabilizado, solo, rocha, detritos, depósitos, estrutura e conteúdo de água; Geometria das massas movimentadas; Modalidade de deformação do movimento. 3.3. Fatores condicionantes De forma genérica, pode-se afirmar que a deflagração das instabilizações de taludes e encostas é controlada por uma cadeia de eventos, muitas vezes cíclico, que tem sua origem com a formação da própria rocha e toda sua geologia e geomorfologia subsequente, como movimentos de tectônicos, intemperismo, erosão e ação antrópica. Guidicini e Nibele (1976) utilizam a terminologia de agentes e causas de instabilização para discutir esses condicionantes, entendendo como causa o modo de atuação de um determinado agente na instabilização de um talude ou encosta. Os agentes deflagradores são divididos em predisponentes e afetivos. Os agentes predisponentes referem-se a um conjunto de características naturais intrínsecas dos terrenos. Os agentes efetivos são diretamente responsáveis pelo deslocamento das instabilizações do talude ou da encosta, incluindo a ação antrópica. Varnes (1978) discute os principais condicionantes e mecanismos de deflagração dos escorregamentos, reconhecendo os fatores que aumentam as solicitações e os que diminuem a resistência dos terrenos, com os respectivos fenômenos naturais e antrópico a que estão associados tais como: Características climáticas, com destaque para o regime pluviométrico; Características e distribuição das matérias que compõe o substrato /taludes; 8 Características geomorfológicas, com destaque para a inclinação, amplitude e forma do perfil das encostas; Regime das águas de superfície e subsuperficie; Características do uso e ocupação. 3.3.1. Água de subsuperficie A dinâmica das águas de subsuperfícies é uma das principais responsáveis pela deflagração dos movimentos de encosta, atuando tanto no momento das solicitações,como na redução da resistência dos terrenos. Erosão subterrânea retrogressiva, piping, também associada à dinâmica de águas subsuperficiais, pode induzir à instabilização de taludes e encostas de maciços terrosos. 3.3.2. Cobertura vegetal O papel da cobertura vegetal no balanço hídrico implica numa dinâmica da água nos taludes e encostas naturais, condicionantes de instabilizações. Gray e Leiser (1982) atribuem os seguintes efeitos favoráveis e desfavoráveis da cobertura vegetal em relação à estabilidade das encostas: 3.3.2.1. Efeitos favoráveis: Redistribuição da água proveniente das chuvas: as copas das árvores impedem, em parte, o impacto direto da chuva na superfície do terreno diminuindo a quantidade efetiva de água que se infiltra. Acréscimo da resistência do solo devido as raízes: reforço mecânico e escoramento. 3.3.2.2. Efeitos desfavoráveis: Efeito alavanca: Força cisalhante transferida pelos troncos das árvores ao terreno, quando as copas são atingidas por ventos. Efeito cunha: pressão lateral causada pelas raízes ao penetrar as fendas, fissuras e canais do solo ou rocha. 9 3.3.3. Ação antrópica O homem constitui o mais importante agente modificador da dinâmica das encostas. O avanço das diversas formas de uso e ocupação, para áreas naturalmente suscetíveis aos movimentos gravitacionais de massa, aceleram e ampliam os processos instabilização. As principais interferências antrópicas indutoras de escorregamentos são apresentadas a seguir: Remoção da cobertura vegetal Execução de cortes com geometria inadequada (altura e inclinação) Lançamentos de entulho e lixo nas encostas Vibrações produzidas por tráfegos pesado. 10 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1. Área de estudo A área de estudo abrange o trecho da rodovia DF180 sentido Samambaia – Gama entre os quilômetros 1 e 2, próximo ao viaduto de interseção com BR 060. Figura 1 – Imagem satélite (Google Earth-2010) e Arcgis 2010 O Distrito Federal apresenta uma série litológica bastante antiga, Grupo Paranoá datado do Proterozoico Médio (1350 a 950 milhões de anos) (FARIA, 1995). Esse Grupo é de formação detrítica deposicional de origem marinha rasa, apresentando uma espessura média de 1.600 m, limitando-se com o Grupo Bambuí no topo e com Grupo Araí na Base (FARIA, op.cit). Sobre o aspecto geomorfológico quatro unidades caracterizam a área: Pediplano Contagem / Rodeador; o Pediplano de Brasília; Depressão Interplanaltica Pediplana; e Planícies Aluviais e Alveolares (CODEPLAN, 1984). De acordo como a classificação de koppen, o clima da região é o tropical com a concentração da precipitação pluviométrica no período de verão. Os meses mais chuvosos são 11 novembro, dezembro e janeiro, sendo que a época de seca ocorre nos meses de inverso, ou seja, de julho a agosto (CODEPLAN,1984). Os solos da região possuem diversas variações do Latossolo Vermelho-Escuro, do Latossolo Vermelho-Amarelo, do Podzólico Vermelho-Amarelo equivalente eutrófico, de terra roxa estruturada similar, do Cambissolo, de Solos Aluviais, de Solos Hidromórfico, de Laterita, Hidromorfita, de Podzol Hidromórfico, de Areia Quartzosa e de Brunizem Avermelhado (EMBRAPA, 1978). 4.2. Descrição dos ensaios em campo As amostras de solo foram coletadas por meio de trado manual em dois pontos, no ponto 1 ao topo do talude correspondente ao Cambissolo, final do horizonte B. Neste ponto os primeiros 50 cm não foram coletados por não apresentar a camada superficial, sendo coletadas amostras de 0,5 m até 1,10 m. No ponto 2 foi coletado na parte inferior do talude, solo residual de ardósia, correspondo ao Cambissolo, horizonte C. Foram descartados amostras até 50 cm e coletou-se a amostra de 0,5 m até 1,20 m (Figura 02). Figura 2 - imagem satélite (GoogleEarte-2010) 12 Foram também realizados os ensaios penetração através do método Stolf (penetrômetro de impacto agrícola, modelo IAA/ Planalsucar-Soft, padronizado pela American SocietyofAgricultural Engeneers e o de infiltração superficial, utilizando o método de infiltração pelo infiltrômetro de anel. 4.3. Amostragem de análises em laboratório A caracterização física das amostras foi realizada através de metodologias definidas pelas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). As análises das amostras são descritas pela norma em relação aos respectivos ensaios; coleta de amostra para ensaio de compactação e sondagem a trado NBR (9603/86); Preparação para Ensaio de Compactação e Ensaio de Caracterização (NBR 6457/86); Análise de Granulometria NBR 7181/84; Determinação da Massa Específica (NBR 6508/84); Determinação do Limite de Liquidez (NBR 6459/81); Determinação do Limite de Plasticidade (NBR 7180/81); Determinação de Umidade Natural e Higroscópica (NBR 6457). 13 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. Resultados Os resultados de ensaios geotécnicos de campo (infiltração superficial e resistência a penetração) e laboratório (análise granulométrica por sedimentação com defloculante, umidade natural e higroscópica, determinação da massa especifica, limites de consistência). Estudados dos pontos (1 e 2 ) estão descritos abaixo. 5.1.2. Umidade natural do solo Os valores de umidade natural para os pontos 1 e 2 são respectivamente 31,72% e 11,29%. 5.1.3. Umidade higroscópica do solo Os valores de umidade higroscópica para os pontos 1 e 2 são respectivamente 12,73% e 0,52% 5.1.4. Ensaio granulométrico por sedimentação com defloculante. Figura 3 - Graficos dos ensaios de granulometria dos pontos 1 e 2 14 Parâmetros para o cálculo da composição granulométrica – NBR 6502/1995 Fração Diâmetro Pedregulho Grosso 20 < d <60 mm Pedregulho médio 6 < d < 20 mm Pedregulho Fino 2 < d < 6 mm Areia Grossa 0,6 < d < 2 mm Areia Média 0,6 < d < 0,2 mm Areia Fina 0,2 < d < 0,06 mm Silte 0,06 < d < 0,002 mm Argila d < 0,002 mm Tabela 1 - Resumo da análise granulométrica Granulométrica (%) Pontos (Ponto 1) (Ponto 2 ) Pedregulho 0 2 Areia 5 3 Silte 40 90 Argila 55 5 Total 100 100 Figura 4 – Classificação textural dos solos (Vargas, 1978) 15 5.1.5. Resistência a penetração Figura 5 Resistência à pentração dos pontos 1 e 2 A Figura 5 apresenta o comportamento de resistência dos dois pontos ensaiados. O ponto 1 apresenta uma variação menor da resistência a penetração, aproximadante 10 impactos/dm para cada 5 cm de profundidade. Já o ponto 2 apresenta uma resistência maior com valores próximos à 20 impactos/dm para cada 5 cm de profundidade. TAXADE INFILTRAÇAO (Cm/mim) 5.1.6. Ensaio de infiltração pelo infiltrômetro de anel 0.0035 0.003 0.0025 0.002 PONTO 1 0.0015 PONTO 2 0.001 0.0005 0 0 10 20 TEMPO (mim) 30 Figura 6 - Resultado do ensaio de infiltração pontos 1 e 2 40 50 16 A Figura 6 apresenta os resultados de infiltração dos ensaios realizados nos pontos 1 e 2. Ambos os pontos apresentam uma taxa de infiltração maior nos primeiros 5 minutos dos ensaios e permanecem com valores decrescentes de infiltração ao longo período mensurado. Observa-se que ambas infiltrações são baixas, contudo, o solo residual de ardósia apresenta ainda menor infiltração com relação ao ponto 1. 5.1.7. Ensaio de limites de consistência – Ensaio de limite de liquidez (LL) Figura 7 - Resultado do ensaio do limite de liquidez pontos 1 e 2 O gráfico apresentam resultados dos limites de liquidez (LL) para o ponto 1 de 52,8% e para o ponto 2 de 37%de umidade. 5.1.8. Ensaio de limites de consistência - Ensaio de limite de plasticidade (LP) Tabela 2: Resultados de limite plasticidade Análises 1 2 3 Limite de plasticidade (%) Ponto 1 35,34 34,65 34,61 34,87 Ponto 2 20,10 21,99 21,59 21,22 O limite de plasticidade é definido como o menor teor de umidade com o qual se consegue moldar um cilindro com 3 mm de diâmetro, rolando-se o solo com a palma da mão. O procedimento é padronizado no Brasil pelo método NBR 7180. (PINTO, 2006). É uma 17 importante propriedade para as argilas (solos de textura fina). Na Tabela 2 os valores de umidade para o ponto 1 é de 34,87 %e do ponto 2 é de 21,22.%. 5.1.9. Índice de plasticidade Conhecido o limite de plasticidade (LP) e o limite de liquidez (LL) podemos caracteriza-se os pontos determinando o Índice de plasticidade (IP) como também as frações finas (silte e argila) tendo como referência a carta de plasticidade (Figura 8). A diferença entre a umidade do limite de liquidez e o de plasticidade indica a faixa de valores em que o solo é caracterizado como altamente plástico, é definida pela equação: IP = LL- LP Tabela 3- Classificação dos solos em função do índice de plasticidade Índice de plasticidade Ponto 1 Ponto 2 17,93 % 15,78% Tabela 4 Classes de solos conforme o índice de plasticidade (IAEG, 1979) Classes Índice de plasticidade Termo 1 <1 Não plástico 2 1- 7 Levemente plástico 3 7 - 17 Moderadamente 4 17 - 35 Altamente plástico 5 >35 Extremamente plástico Na classificação dos solos Tabela 4, conforme o índice de plasticidade, o ponto 1 é classificado como Altamente plástico. O ponto 2 é classificado como Moderadamente plástico. 18 5.1.10. Carta de plasticidade A Figura 8 mostra o posicionamento do solo estudado na carta de plasticidade. Para fazer a classificação do solo basta a localização dos pontos correspondentes ao par de valores IP e LL na carta de plasticidade. Observa-se que os mesmos situam-se próximos da Linha A. O ponto 1 é classificado como argilas orgânicas e siltes orgânicos altamente plásticas OH (orgânico de alta compressibilidade). O ponto 2 é classificado como argilosas inorgânicas de mediana plasticidade CL (argila de baixa compressibilidade). Figura 8 – Carta de plasticidade para classificação de solos finos pelo SUCS (VARGAS, 1978) 5.1.11. Índices de consistência O estado de consistência de um solo depende de vários fatores do ambiente, dentre eles a umidade. Solos diferentes têm consistências diferentes para um mesmo teor de umidade, e a especificação deste teor, juntamente com a mineralogia dos solos, dá informação sobre os tipos de solos e seu provável comportamento. 19 O índice de consistência é calculado a partir da umidade natural e dos limites de consistência. Conforme a Equação proposta por Terzaghi: IC = LL –w LL - LP Quando o teor de umidade é igual ao LL, IC =0. À medida que o ter de umidade diminui , IC aumenta, ficando maior que 1 quando a umidade fica menor do que o LP. Tabela 5 - Resultado de consistência das argilas conforme ABNT –NBR 6502 TERMO INDICE DE PONTO 1 PONTO 2 1,17 1,62 CONSISTENCIA Muito mole <0 Mole 0 – 0,5 Média 0,5- 0,75 Rija 0,75- 1,0 Dura >1 Os dois solos apresentaram valores de consistência Dura. 5.2. Discussão A curvas granulométricas Figura 3 e a classificação textural Figura 4 apresentam a distribuição e consequente textura diferentes para os pontos 1 e 2. O ponto 1 revela-se textura argilosa, isto significa que, neste ponto, encontra-se um material mais intemperizado, por estar na parte final do horizonte B, localizado na parte superior do talude. O ponto 2, demonstra-se, textura siltosa, conforme Figura 4, sendo material residual de ardósia correspondente ao horizonte C, sendo este menos intemperizado quando comparado ao ponto 1. A resistência à penetração, como se verifica na Figura 5, tem relação direta com a densidade do solo e inversamente com o conteúdo de água. No ponto 1 o solo encontra-se com característica mais porosa e argilosa, menos compactado e mais maleável, com maior infiltração de água, apresentando maiores valores de umidade LL e LP, o que diminui a 20 resistência à penetração do equipamento. Em relação ao ponto 2, ocorre uma resistência maior visto que o solo encontra-se mais compactado, com menos infiltração de água. Apresenta-se maior conteúdo de silte, por isso, atribui-se mais resistência à penetração, sendo necessária maior quantidade de impacto à medida que aumenta a profundidade. Neste ponto apresentam estas características em função de ser um solo residual de ardósia, ou seja, possui ainda minerais primários preservados, quase nenhuma porosidade. O resultado da Figura 6 demonstra que o ponto 1 possui uma taxa de infiltração maior a longo do período mensurado. O mesmo apresenta uma elevada absorção de água nos primeiros minutos e vai decrescendo ao longo do tempo, isso ocorre devido o solo ser fino, permeável e menos compactado. No ponto 2 ocorre uma expressiva taxa de infiltração nos instantes iniciais e se mantém constante com valores bem baixo de infiltração durante todo o período restante. Neste ponto observa-se um solo siltoso, duro e menos permeável o que dificulta a infiltração da água. O gráfico da Figura 7 apresenta-se o limite de liquidez (LL) para o ponto 1 igual a 52,8% e para ponto 2 igual a 37%. A amostra 1corresponde ao teor de umidade limite maior que da amostra 2antes do solo entrar no estado líquido, ou seja, teor de umidade acima do qual o solo passa do estado plástico para o líquido. A Tabela 2 mostra a média entre os valores dos limites de plasticidade das amostras 1 e 2 . O ponto 1 possui limite de plasticidade mais elevado, isso indica maior dificuldade desta, para passar do estado semi-solido para plástico e de ser moldado sem variação do volume, revela-se maior teor de argila tornando a amostra mais úmida e compressiva. O ponto 2 possui uma porção maior de silte e limite de plasticidade mais baixo, o que indica menor quantidade de umidade para passar do estado semi-solido para plástico. A Tabela 3 mostra o índice de plasticidade das duas amostras. Tal índice é muito útil para classificação de solos finos, bem com para aferir o grau de compressibilidade da argila. O ponto1 apresentou-se 17,93 e o ponto 2 15,78, valores estes que de acordo classificação dos solos Tabela 4, conforme o índice de plasticidade o ponto 1 é classificado como Altamente plástico e o ponto 2 é classificado como Moderadamente plástico. Na carta de plasticidade Figura 8 a amostra de solo do ponto 1 é classificado como argilosas orgânicas e siltes orgânicos altamente plásticas e o campo de argilas orgânicas OH (solo orgânico de alta compressibilidade). O ponto 2 é classificado como CL (argila de baixa compressibilidade) argilosas inorgânicas de mediana plasticidade. 21 5.2.1 Processo erosivo Na parte superior, à direita do talude em estudo, apresenta-se um processo avançado de erosão na trincheira. A ocorrência deste processo é atribuída à inclinação do talude, direção perpendicular das fraturas, somado à falta de cobertura vegetal, e principalmente às características que este solo apresenta: argiloso, úmido, menos resistente, poroso, frágil, de fácil desagregação como demonstram os resultados. A falta de drenagem para o direcionamento e dissipação da energia das águas pluviais aumenta o processo de carreamento podendo avançar para níveis mais avançado, como erosão em sulcos e até mesmo voçorocas. Como mostra a Figura 9. Figura 9- processo erosivo, à direita do talude em estudo 22 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Com os dois pontos geotecnicamente analisados, foi possível estabelecer que: no ponto 1 o solo é mais susceptível a erosão por apresenta uma inclinação acentuada de 50°do topo a base do talude, o solo é argiloso, mais intemperizado, pouco espesso, menos resistente e de fácil desagregação, menos duro, com limite de liquidez e plasticidade altos. Estes fatores influenciam para processo de carreamento que vem ocorrendo na trincheira na parte superior do talude. No ponto 2 o solo é residual de ardósia (saprolito), siltoso, mais resistente, menos poroso, compactado, com limite de liquidez e plasticidade baixa. Características que produz neste solo uma menor vulnerabilidade a ocorrências de erosão superficial, contudo a elevada inclinação do talude (50°) e a alta intensidade de chuvas aceleram o processo de carreamento e formação de sulcos. Com os resultados dos ensaios geotécnicos dos pontos 1 e 2 foi possível concluir que os processos de erosão e de escorregamentos identificados,estão diretamente ligados:à combinação das característica naturais do solo (umidade, textura e estrutura, resistência, capacidade de infiltração, índices de consistência); à direção das fraturas de 290° a 110°em direção perpendicular a seção do talude, inclinação acentuada e ocorrência de chuvas. À partir das análises geotécnicas do talude é possível sugerir soluções geotécnicas preventivas e corretivas levando em consideração as características do solo, o custo, eficiência e benefício para cada medida: 1 – Correção da geometria (retaludamento ) – É um método simples e barato de estabilizar taludes. É realizado através de cortes que minimizam a inclinação resultando em uma benéfica alteração do estado de tensões atuantes no maciço, além de reduzir a velocidade do escoamento superficial do topo até a base; 2 - Implantação de drenagem superficial com canaletas e escadas hidráulicas -este tipo de controle deve ser feita na parte superior do talude para as camadas mais baixas, a fim de reduzir o processo erosivo. É importante seguir as linhas naturais do curso d’água harmonizando com as feições do terreno destinado a captar o escoamento superficial. As canaletas de drenagem devem ter capacidade suficiente para suportar as taxas de escoamento superficial de pico. Enquanto que as escadas servem para dissipar a velocidade do escoamento superficial reduzindo a ação da água no solo; 23 3 - Cobertura vegetal – implantação de especiais edáficas para aumentar a resistência do solo pela presença das raízes, aumentando a capacidade de infiltração e proteger a camada do solo contra a erosão superficial; 4– Biomantas - Utilização de mantas biodegradáveis produzido com fibras de coco, método de revestimento utilizado em talude quando a inclinação é acentuada, permite o desenvolvimento da vegetação, dispensa mão de obra qualificada e equipamento sofisticados, além de permitir o desenvolvimento da vegetação e aumentar a infiltração. 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT. Coleta de amostra deformada, NBR-9603, Rio de Janeiro, 1986. ______. Determinação da massa específica: NBR-6508, Rio de Janeiro, 1986. ______. Determinação do teor de umidade de solos, NBR-6457, Rio de Janeiro, 1986. ______. 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