HIPNOSE ERICKSONIANA E PSICODRAMA INTERNO DIFERENÇAS E APROXIMAÇÕES EM SUA APLICAÇÃO PSICOTERÁPICA Sergio Ennes 14/11/2015 Definições: Esta abordagem leva em consideração a singularidade do paciente e utiliza todos os seus recursos e características realizando uma hipnose sob medida. Ciência que explora a “verdade” por meios dramáticos. Utiliza várias técnicas tais como o espelho, o duplo, a inversão de papéis (Moreno) e outras como a maximização, a concretização, o jogo dramático e o psicodrama interno. PSICODRAMA INTERNO: Pode ser definido enquanto um trabalho de dramatização que se distingue dos demais pelo fato da ação dramática ocorrer em nível simbólico. Ocorre com o paciente relaxado e não em movimento como acontece na dramatização em cena aberta. Jacob Levy Moreno, M.D 1889 - 1974 MILTON ERICKSON Acreditava na singularidade dos ser humano e, portanto, valorizava as experiências, vivências e aprendizados de seus pacientes no desenvolvimento do tratamento. Acredita que a natureza íntima do homem é sábia. mais Segundo ele o inconsciente traz em si os recursos para a melhora do indivíduo. JACOB LEVY MORENO O cerne da abordagem psicodramática reside no conceito de espontaneidade e criatividade, são eles que definem a saúde e a patologia do homem, a qualidade e a quantidade das relações interpessoais. Na concepção psicodramática, o homem, saudável em sua criatividade e espontaneidade é agente das transformações sociais e protagonista de sua própria história. Adoece quando se torna cristalizado em suas próprias criações ou invenções (conservas culturais) e seu comportamento torna-se mecânico e estereotipado. Jacob Levy Moreno, M.D 1889 - 1974 As duas abordagens trabalham com visualizações internas e com símbolos O psicodrama Interno, pode ser utilizado com as demais técnicas psicodramáticas permitindo ao paciente compreender diferentes aspectos ou ângulos de um mesmo problema. Em ambas as técnicas o terapeuta deve assumir uma postura o mais espontânea possível, aceitando tudo o que o cliente traz e estando atento a todos os passos e pistas para guiá-lo. Estudo de caso (CUKIER,1992,P.5860) P: Hoje eu não vou ser capaz de fazer nada. T: Não espero que você faça nada. Apenas deite-se, feche os olhos e respire fundo, soltando o ar pela boca e inspirando pelo nariz. Inspire de novo bastante ar, só que desta vez inspire junto uma sonda pequena com uma televisão na ponta, que irá fazer o mesmo percurso que o ar. T: tente observar como é o caminho do ar na televisão, veja se tem algo no caminho, que cor tem, como é etc. P: Tem um caroço de abacate no meio do pescoço. Não deixa o ar passar. Só passa um pouquinho. T: Sei. Como é esta sensação? P: (choraminga): Um horror! Parece que vou sufocar. T: O que você diria para este caroço se pudesse? P: Sai daí, senão eu morro sem ar. Estudo de caso T: Ok, troca com o caroço, seja ele. Vai sentindo os seus contornos, caroço. Veja como é a sua textura, sua cor, seu tamanho. Como é estar aí dentro de B? P: (como caroço) Bom. Ela quis me comer e eu fui comido. T: Ela quis te comer, é? P: (como caroço): Sabe, fome de prisioneiro de campo de concentração? T: É uma fome brava, forte. P: (como caroço): É, come-se qualquer coisa para não se sentir o horror da fome. T: Muito bem B, volte a ser você e tenta sentir o que o caroço disse. Para não sentir o horror da fome, você come até caroço, que depois vai te asfixiar. P: É, eu sei, já senti tanto horror na minha vida. T: Tenta localizar esses momentos e ver quais abacates você comeu para tampá-los. Estudo de caso P: A morte da minha mãe, meu atual namorado. T: Sente um pouco o horror da morte da mãe. Que idade você tem? P: 9 anos. T: É uma menininha, então? Tenta se ver sendo ela, veja seu rostinho num espelho, a forma como você penteia o cabelo, como você se veste, enfim seja você aos 9 anos. P (como menina): E agora? T: Pois é B, sua mãe parece que vai mesmo morrer? P (como menina): É, mas meu pai vai casar com L, que é boazinha, bonita e vai cuidar de mim. T: Este é o teu caroço neste momento? Uma fantasia de substituição da mãe pela madrasta. Estudo de caso P (saindo do papel de menina): Ela nunca foi nem mãe, nem amiga. Ela também ficou engasgada no meu pescoço até hoje. T: É isso. Tenta sentir alguma cena com o teu atual namorado, qualquer uma, a que primeiro te ocorrer. P: Ele me batendo no último domingo, porque não queria viajar com ele. T: Procure visualizar o momento em que isso acontece. O que você está sentindo? P (chorando): Sinto medo, estou horrorosa, toda encolhida. T: Faça seu corpo ficar o mais encolhido possível. P: (enrosca-se toda e chora.) T: O que você precisa nesse momento? P: Alguém que me proteja, que mande ele embora daqui para sempre, e alguém que faça eu não mais me enganar. Porque a semana que vem eu esqueço que ele me bateu e só vejo as coisas boas. Estudo de caso T: Parece que os abacates são todas as mentiras que você se conta para não ver fatos da realidade que lhe frustram e entristecem muito. P: (confirma com a cabeça, chorando.) T (deixa passar um tempo, o choro da paciente diminui): Muito bem B, imagina que você é adulta, num desses momentos em que está super bem, bonita, já vi você muitas vezes assim. Quero que você se aproxime da menina de 9 anos que foi e da B, encolhida, que apanha. Como se fosse possível se ver ao mesmo tempo em três momentos. Diz uma única frase para cada uma delas, que te parece essencial elas ouvirem. P (para a menina): Ninguém vai substituir a sua mãe e as coisas vão ser todas diferentes agora. Não se engane, pare de mentir para si mesma. Estudo de caso P (continuando, para a encolhida): “Dá um pontapé no saco dele, fala que ele é um bosta e foge. Não minta para si mesma dizendo que aquilo vai passar, ou que você provocou a raiva dele. Ele é doente! Doente e não quer se tratar. Se manda!” T: Não se engane! Pare de mentir para si mesma. É isso? P: É. T: Muito bem B, respira fundo, solta o ar pela boca, vê como está a sensação no peito (B mexe no próprio peito), vai devagarinho mexendo os pés, o corpo, abrindo os olhos, e chegando aqui. Para concluir Ao acreditar que a natureza do sujeito contém os próprios recursos para a sua melhora, a Abordagem Ericksoniana entende o cliente como o agente ativo da recuperação. O Psicodrama, de forma similar, considera o indivíduo como o protagonista de sua própria história desempenhando, portanto, um papel fundamental em sua melhora. Obrigado [email protected]