MÚSICA Música é de onde tudo começou, é o som do universo, diz Badi Assad Texto: Beatriz Bringsken / Fotos: Marcia Curvo Uma artista completa é o que melhor descreve Badi Assad, que aprendeu a tocar violão clássico com o pai aos 14 anos, estudou Música na Universidade do Rio de Janeiro e já foi eleita a melhor vionolista do Brasil durante o Festival Internacional Villa-Lobos de 1987. A compositora, violonista, cantora e percusionista emocionou o público do centro cultural RASA, em Utrecht, no último dia 6. Não houve quem não se impressionou com o talento único que combina simultâneamente o violão, a voz e a percusão. Depois de uma exaustiva apresentação no fim da noite, Badi ainda teve energia para conversar com os fãs e dar a seguinte entrevista para a equipe do Brasileiros na Holanda. Qual é a sua melhor definição de música? Para mim, música é de onde tudo começou, é o som do universo. Dentro da barriga da nossa mãe existe um silêncio musical. Música é o que enfeita, é a moldura da vida, com ela tudo faz mais sentido. Se você tá triste e escuta uma música triste isso te ajuda a aflorar as emoções, pois a música é um veículo para as emoções. Como você lida com o mercado brasileiro na indústria da música? O mercado brasileiro é terrívelmente fechado, do tipo “salve-se quem puder”. Não tem espaço, é muita gente fazendo música boa e sem ter o trabalho conhecido, pois a mídia é muito fechada. E o mundo está passando por uma fase difícil na música, as pessoas estão mais imediatistas. O que não deveria impedir de cavarmos o próprio espaço com muita criatividade e perseverança, sem sentir-se atingido no nível pessoal. Muitos artistas passam a acreditar que precisam mudar e tentar algo mais popular, e assim perde-se a essência do que se é. Se a sua música atinge um determinado número de pessoas, então é isso. Você não vai ser menor por não alcançar um milhão de pessoas. Agora você tem uma filha de 6 anos, você dá incentivos para que ela siga essa tradição familiar na música? Não, eu a deixo livre, ela é uma “free bird”. A música no Brasil recebe da sociedade um valor diferente se comparada com a Europa? O que eu sei é que se não fossem as diferenças o mundo seria tão chato, é pelas diferenças que a gente se conhece e se equilibra. Como na natureza que tudo é diferente, um come o outro e isso faz parte do ser. A sociedade é um pouco assim também, as diferenças nos enriquecem. Para mim, o mercado europeu é um recomeço, pois parei nos últimos anos. Fiz algumas coisas curtas, e agora é a minha volta. O que eu sei é que hoje o mercado está ainda mais difícil. A crise econômica afetou em primeiro lugar o orçamento para a arte, sendo que é a arte que mantém a nossa sociedade sã. Sem a arte nós ficamos uma insanidade só. Como você trabalha o processo de inspiração para compor? Não existe um mecanismo para se auto-inspirar e compor. Por exemplo, em janeiro fiz a trilha sonora de um musical e filme mudo, toquei por 70 minutos ao vivo em Nova Iorque. Tem que ter muito treino para desempenhar esse tipo de trabalho, então a inspiração é um mistério. Assim como a música, é algo sagrado, pois emociona mais do que qualquer outra arte. Como você compreende o processo de influências musicais estrangeiras que são introduzidas no Brasil? Para você existe alguma diferença entre cantar e tocar violão? O Brasil é um caldeirão, temos essa capacidade de pegar tudo, misturar e devolver outra coisa. Faz parte da essência brasileira, e a Bossa Nova é um exemplo. Isso sempre existiu e nunca vai parar. Não, as duas coisas vem juntas do mesmo lugar. E no seu caso, o que te influenciou? Em 2011 você fez uma apresentação com integrantes da sua família no Festival Brasil no Concertgebouw. Eu tive muita influência da música étnica. w w w. b r a s i l e i r o s n a h o l a n d a . c o m