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16 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, segunda-feira, 23 de julho de 2012
Alô, alô, marcianos
Nunca o planeta vermelho esteve tão próximo da Terra. Para que tudo dê certo no pouso do laboratório Curiosity, a
Agência Espacial Americana desenvolveu uma tecnologia de dar inveja aos roteiristas de filmes de ficção científica
m duas semanas, o Laboratório de Ciências
Marciano (MSL, na sigla em inglês) Curiosity descerá no solo do planeta
vermelho, realizando o pouso
mais elaborado já planejado
pela Agência Espacial Norteamericana (Nasa) em uma
missão não tripulada. O equipamento contará com um
complexo sistema de explosões, foguetes e até mesmo
um paraquedas para chegar a
Marte em segurança. A manobra inédita deve-se às dimensões do equipamento de quase 1t, mais elaborado e cinco
vezes maior que as outras duas
máquinas já enviadas ao planeta. O veículo, tão grande
quanto um carro de passeio,
leva 10 equipamentos que somam 75kg, um verdadeiro arsenal de câmeras, lasers e sensores que vão construir um relatório completo sobre Marte
— e, se a missão for bem-sucedida, talvez encontre algum
vestígio de vida no planeta.
Essa jornada ambiciosa de
US$ 2,5 bilhões começou há
sete anos e teve seu ponto
mais alto em 26 de novembro,
quando o MSL foi enviado em
direção ao espaço. A viagem
de 570 milhões de quilômetros termina em 5 de agosto,
quando a espaçonave terá de
fazer uma manobra arriscada
para entrar na atmosfera mar-
E
ciana em segurança. Os outros
veículos da Nasa que já pousaram em Marte entraram no planeta envolvidos em um grande
air bag, que os protegeu da queda. Mas, como o Curiosity é muito grande, a equipe da agência
teve de inventar um método
completamente novo para o
pouso.
Quando a nave estiver entrando na atmosfera a mais de
20 mil km/h, uma série de foguetes guiados por radares vão
desacelerar e começar a manobrar o veículo. Então, explosivos
vão liberar o estágio de cruzeiro,
que o guiou e o manteve conectado com a Terra durante a
maior parte da viagem. Depois,
molas vão liberar pesos de tungstênio, que controlarão o centro gravitacional da nave. Assim
que o Curiosity estiver na posição correta, um paraquedas supersônico vai se abrir, enquanto
o escudo de calor, que fica sob o
veículo, se separará, revelando
uma câmera que vai filmar toda
a descida.
A aeronave vai, então, diminuir a velocidade para 320km/h,
e seis motores de pouso levarão
o equipamento, enquanto o veículo libera suas seis rodas. Por
último, um conjunto de propulsores vai deixar o MSL em segurança no chão e o liberar por
uma série de pequenas explosões, até que ele voe sozinho para longe. “Pousar em Marte é
sempre arriscado, tudo pode
causar problemas. É um am-
biente muito único e desafiador”, resume Doug McCuistion,
diretor do programa de exploração em Marte da Nasa. “É como
uma fileira de dominós: com a
soltura do estágio de cruzeiro,
começa uma longa linha de peças que vão caindo automaticamente. Se uma está fora do lugar, é provável que a última não
caia. É provável que o veículo
atinja o chão com mais força do
que queríamos”, especula.
Bem no alvo
Todo esse planejamento procura garantir que o laboratório
espacial desça na área escolhida
para o pouso, uma enorme depressão chamada cratera Gale.
“Achamos que a água correu por
aquela superfície há bilhões de
anos. A cratera seria como uma
tigela, que pode ter capturado
alguma coisa que passou por ali.
Temos de ir no meio dessa tigela
para buscar por água”, explica
John P. Grotzinger, do Instituto
de Tecnologia da Califórnia. Como o veículo precisa evitar viagens longas para economizar
energia, ele deve descer o mais
próximo possível do Monte
Sharp, montanha localizada
bem no centro do ponto geográfico que atrai a curiosidade de
cientistas há 40 anos.
Se o veículo resistir ao pouso,
ele vai trabalhar por ao menos
dois anos, vasculhando o planeta à procura de carbono ou
de água, os dois componentes
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» ROBERTA MACHADO
essenciais para a existência da
vida. “Achamos coisas que sugerem que Marte passou por uma
transição de um grande planeta
que perdeu sua atmosfera e virou o planeta frio e seco que conhecemos hoje. Uma das grandes razões para ir a Marte é saber se a vida começou lá. Essa linha nos daria a conclusão de
que criar vida é fácil, e que o universos está cheio de lugares com
vida. Isso seria espetacular”, diz
Michael Meyer, principal cientista do programa marciano.
Entre os equipamentos criados para encontrar as provas de
existência orgânica em Marte,
estão uma série de câmeras que
vão fotografar panorâmicas, registrar as proximidades e até
mesmo o chão do planeta, conforme a nave estiver pousando.
“O veículo passa por mudanças
de configuração no pouso, e vai
levar algum tempo para os engenheiros configurarem. Por isso, o sinal vai desaparecer logo
depois do pouso, mas logo poderemos receber transmissões
Em detalhes
Para seguir a missão marciana
da Nasa pelo Facebook,
acesse o endereço
www.facebook.com/marscuriosi
ty. Também é possível
acompanhá-la pelo Twitter:
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dele. Com o tempo, as imagens
devem chegar à Terra com duas
ou três horas de atraso. Vai levar
algumas semanas para recebermos as imagens em alta resolução”, explica Peter Theisinger,
chefe da missão. Algumas das
imagens serão em preto e branco, mas outras câmeras poderão até mesmo formar vídeos
coloridos em três dimensões e
alta resolução.
Tecnologia de ponta
Alguns dos instrumentos,
no entanto, mais lembram um
filme de ficção científica. Sob
o veículo há uma arma de nêutrons, que vai atirar feixes a
até meio metro abaixo da superfície para procurar água.
Outro equipamento que impressiona é uma câmera batizada de ChemCam. Ela fica
acoplada a um laser, que pode
atirar em qualquer amostra de
solo ou rocha que pareça interessante. Baseada apenas na
poeira do material pulverizado, esse telescópio é capaz de
identificar os elementos químicos da amostra, para que a
equipe avalie se vale a pena
recolher um pouco para uma
pesquisa mais detalhada.
Os cientistas ainda poderão usar um sensor que fica
na ponta do braço robótico
para bombardear o elemento
com partículas alfa e saber ainda mais sobre ele. Somente então, a garra poderá escavar o
chão com uma broca e inserir a amostra no interior do
laboratório, onde ele vai passar por mais uma série de
exames em níveis atômicos.
Cada uma dessas análises
pode levar até 10 horas. “O
problema da quebra de compostos é que podemos achar
algo que não era aquilo na
verdade. A parte difícil seria
decidir se o composto é biológico ou de um processo
químico. Com certeza haverá
debates sobre isso”, ressalta
Michael Meyer
Além de água e carbono, a
missão vai procurar outros
elementos importantes para
a vida, como nitrogênio, fósforo, enxofre e oxigênio. Duas
das ferramentas do veículo
vão se dedicar, ainda, a produzir um relatório sobre os
gases e sobre o nível de radiação da superfície planetária.
Esses dados podem não dizer
muito sobre a existência de
formas de vida no passado do
planeta, mas darão uma noção bastante exata do que esperar no futuro, em uma possível missão tripulada.
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Assista a uma simulação
computadorizada de como será o
pouso do Curiosity em Marte.
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