1 UNIVERSIDADE POSITIVO NÚCLEO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS ENGENHARIA ELÉTRICA PROJETO DE UMA PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA E CIRCUITO DE COMANDO PARA SEU ACIONAMENTO – ESTUDO DE CASO NO RESTAURANTE CAIPIRÃO Curitiba 2010 2 DAIANA APARECIDA KRUCHELSKI DA SILVA JULIANA LAYS FEDALTO PROJETO DE UMA PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA E CIRCUITO DE COMANDO PARA SEU ACIONAMENTO – ESTUDO DE CASO NO RESTAURANTE CAIPIRÃO Trabalho apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Universidade Positivo, para obtenção de avaliação parcial da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), como requisito para obtenção do grau de Engenheiro Eletricista, sob a orientação do Prof. Antonio Ivan Bastos Sobrinho. Curitiba 2010 3 AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos que contribuíram com este trabalho direta ou indiretamente. Ao Restaurante Caipirão, por disponibilizar as instalações para pesquisa. À Alterima, fabricante do gerador e da turbina, pelas informações fornecidas. Ao Engenheiro Edson Mancini, pelos materiais para pesquisa e pelos esclarecimentos prestados. Ao Professor Rubens Alexandre de Faria, que nos acompanhou e orientou na medição de vazão do rio. À Eletrobala, pelo fornecimento dos equipamentos que c onstituíram os quadros de comando. Ao Professor Fernando Felice, membro da banca, que nos apoiou e incentivou em todos os momentos. Ao Professor Antonio Ivan Bastos Sobrinho, nosso orientador, que acreditou em nosso potencial e nos apresentou soluções práticas para construirmos este projeto. 4 “Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado.” Albert Einstein 5 RESUMO A crescente demanda de energia elétrica propicia a busca por alternativas para sua geração, uma vez que as concessionárias de energia tendem a não mais suprir essa procura no futuro próximo, algo que já tem se observado através dos chamados apagões. A proposta deste trabalho é apresentar uma alternativa de geração de energia, ou seja, a implementação de uma pequena central hidrelétrica no Restaurante Caipirão em Curitiba. Esta pequena usina atenderá as cargas de iluminação do local, e poderá ser utilizada em substituição à energia adquirida da concessionária, ou apenas na falta da energia da rede local. Para se fazer o controle do grupo gerador, desenvolveram-se dois tipos diferentes de circuitos de comando: um dos circuitos foi projetado para fazer o gerador assumir a carga em substituição à energia da concessionária, o qual é programado para ligar e desligar o gerador nos horários pré-estabelecidos; o outro circuito de comando foi projetado para monitorar a rede da concessionária, fazer a partida do gerador quando houver falta de energia, e retornar à concessionária quando a energia da rede voltar. Neste trabalho, serão apresentados os cálculos relativos ao dimensionamento da pequena central hidrelétrica, a descrição dos componentes mais relevantes na construção dos circuitos de comando e o princípio de funcionamento de cada um deles. Palavras-chave: pequena central hidrelétrica, circuito de comando, gerador, energia. 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………….…..12 1.1 PROBLEMA......................................................................................................12 1.2 JUSTIFICATIVA................................................................................................12 1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.............................................................................13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................................15 2.1 GERAÇÃO DE ENERGIA.................................................................................15 2.1.1 Máquina Primária.......................................................................................15 2.1.1.1 Turbinas Hidráulicas........................................................................15 2.1.2 Gerador......................................................................................................19 2.1.3 Controle, Comando e Proteção..................................................................23 2.1.3.1 Relé..................................................................................................24 2.1.3.2 Contator............................................................................................25 2.1.3.3 Fusível..............................................................................................25 2.1.3.4 Disjuntor Termomagnético...............................................................26 2.1.4 Transformadores........................................................................................26 3 ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS PRELIMINARES.................................................27 3.1 VISÃO GERAL DO PROJETO..........................................................................27 3.2 PREMISSAS E LIMITAÇÕES...........................................................................29 3.3 DESCRIÇÃO FUNCIONAL DOS BLOCOS.......................................................29 3.3.1 Grupo Gerador...........................................................................................29 3.3.2 Quadro de transferência e unidade de supervisão de corrente alternada.30 3.4 DIMENSIONAMENTO E MEMORIAL DE CÁLCULOS.....................................32 3.4.1 Grupo Gerador...........................................................................................32 4 IMPLEMENTAÇÃO.................................................................................................36 4.1 GRUPO GERADOR..........................................................................................36 4.2 CIRCUITOS DE COMANDO.............................................................................37 4.2.1 Circuito de comando para o gerador atuar em regime prime.....................37 4.2.2 Circuito de comando para o gerador atuar em regime stand-by................40 5 RESULTADOS........................................................................................................42 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................44 7 APÊNDICES...............................................................................................................45 APÊNDICE A1 - DIAGRAMA DO CIRCUITO DE COMANDO PARA GERADOR ATUANDO EM REGIME PRIME..........................................................46 APÊNDICE A2 – DIAGRAMA DE FORÇA DO CIRCUITO DE COMANDO PARA GERADOR ATUANDO NO REGIME PRIME.......................................47 APÊNDICE A3 – DIAGRAMA DO CIRCUITO DE COMANDO PARA GERADOR ATUANDO EM REGIME STAND-BY...................................................48 APÊNDICE A4 - DIAGRAMA DE FORÇA DO CIRCUITO DE COMANDO PARA GERADOR ATUANDO NO REGIME STAND-BY................................49 APÊNDICE A5 – VISÃO GERAL DAS INSTALAÇÕES DO RESTAURANTE CAIPIRÃO.............................................................................................50 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Turbinas Kaplan e Pelton..........................................................................16 Figura 2 – Esquema para geração hidráulica.............................................................18 Figura 3 – Turbina Pelton...........................................................................................19 Figura 4 – Esquema de funcionamento de um gerador elementar (armadura girante)..........................................................................................................21 Figura 5 – Esquema de funcionamento de um gerador elementar (armadura fixa)...21 Figura 6 – Estrutura física de um relé e seu símbolo.................................................24 Figura 7 – Símbolo elétrico de um contator................................................................25 Figura 8 – Diagrama típico do sistema de energia CA...............................................27 Figura 9 – Detalhe do rio............................................................................................32 Figura 10 – Gerador Alterima com três jatos de água................................................33 Figura 11 – Vista frontal do painel onde foi montado o circuito de comando para o gerador atuar no regime prime....................................................................38 Figura 12 – Circuito de comando para gerador atuar no regime prime.....................39 Figura 13 – Circuito de comando para gerador atuar no regime stand-by.................41 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Velocidades Síncronas.............................................................................22 10 LISTA DE ABREVIATURAS V - queda de tensão A – ampère B – indução do campo magnético Bv = ângulo da posição relativa instantânea entre o condutor e o campo [º] CA – corrente alternada c x – velocidade da água no ponto x cos - fator de potência e – força eletromotriz e% - limite de queda de tensão E – energia hidráulica transformada em trabalho pela turbina E – energia hidráulica específica da máquina f – frequência f.e.m. – força eletromotriz g – aceleração da gravidade gH – energia hidráulica específica da máquina GMG – grupo motor-gerador H – altura disponível de um aproveitamento Hz – hertz I – corrente If – corrente de fase Ip - corrente nominal do projeto l – comprimento do condutor k - quilo m – número de fases m – metro mm2 – milímetro quadrado n – rotação síncrona n – velocidade de rotação da turbina nQE – velocidade específica da turbina N – número de espiras NA – normalmente aberto 11 NF – normalmente fechado p – número de pólos px – pressão no ponto x P – potência total do projeto P – potência de uma máquina síncrona Ph – energia hidráulica fornecida à turbina Pmec – produção mecânica da turbina Q – volume de água rpm – rotações por minuto s – segundo T – tesla Uf – tensão de fase USCA – unidade de supervisão de corrente alternada v – velocidade linear V – tensão V – volt VA – volt ampère z x – elevação do ponto x – eficiência da turbina = ângulo de defasagem da corrente em relação à tensão – densidade específica da água Q – massa do fluxo de água por segundo 12 1 INTRODUÇÃO Este capítulo apresenta a descrição do problema, a justificativa, e os objetivos específicos do projeto. 1.1 PROBLEMA O avanço da tecnologia atualmente tem resultado numa demanda maior de energia elétrica em comparação com os anos anteriores. Em decorrência disso, temse feito necessária a instalação de novas usinas de geração de energia que, em algumas ocasiões, não são capazes de suprir as demandas, por serem muito elevadas, ou devido a problemas técnicos nas usinas e linhas transmissoras. Dessa forma, ocorrem os cortes de energia elétrica em algumas localidades, conhecidos como apagões. Em vista disso, tem-se incentivado a implementação de novas usinas geradoras, como por exemplo, pequenas centrais hidrelétricas em locais que possuem recursos, como rios, com certa vazão de água, que seja capaz de gerar energia. 1.2 JUSTIFICATIVA A instalação de geradores próprios de energia apresenta um custo relativamente elevado, e, além disso, requer uma fonte de energia alternativa, como por exemplo, combustíveis fósseis, que são os mais utilizados para essas aplicações. A alimentação dos geradores através de combustíveis fósseis tem se tornado motivo de preocupação, pois se sabe que estes recursos tendem a acabar em razão de grande exploração dos mesmos. Para tanto, estudos estão sendo feitos em diversas partes do mundo, a fim de se encontrar alternativas mais viáveis em substituição a esses recursos. Uma alternativa prática e barata é a instalação de uma pequena central hidrelétrica em rios e lagos que possuem certa vazão de água, como no caso de propriedades rurais que possuem tais recursos. As usinas hidrelétricas não poluem, pois a única implicação para o meio ambiente é a inundação de áreas, que resulta em deslocamento e destrói o habitat de algumas espécies animais e vegetais (HINRICHS, 2003). Esse não será o caso neste 13 trabalho, já que o objetivo é o aproveitamento de áreas inundadas já existentes. Para proprietários de áreas rurais, uma fonte de geração própria é ainda mais necessária que nas áreas urbanas, pois eles são os mais afetados pelos apagões. A geração própria de energia, além de contribuir para evitar futuras quedas de energia da concessionária local, ainda pode reduzir ou até mesmo eliminar a conta de energia da propriedade onde é instalada. Dessa maneira, torna-se viável, devido à economia que proporciona ao proprietário, apesar do custo de instalação ser relativamente alto. Em certas ocasiões, porém, a represa de água pode sofrer uma queda de nível, devido às épocas de estiagem, tornando-se incapaz de alimentar as turbinas acopladas ao gerador para gerar a energia necessária; nessa situação, a concessionária deve assumir as cargas. Para se fazer essa comutação, é necessário um sistema de controle que será desenvolvido neste trabalho. Para o caso em que o gerador próprio será utilizado apenas quando faltar energia da concessionária, é necessário outro circuito de controle que monitora a rede, e ao detectar falta de energia da concessionária, faz o acionamento do gerador. Quando retorna a energia da rede, o gerador é desligado e as cargas passam a ser alimentadas novamente pela concessionária local. 1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Com este projeto espera-se realizar o dimensionamento de um gerador de energia com utilização de uma fonte natural, ou seja, a água, que será capaz de alimentar pequenas demandas de energia. Este projeto também será composto de um circuito de comando para acionamento do grupo gerador em regime prime, ou seja, trabalhando de forma contínua. Este circuito será capaz de realizar as seguintes ações necessárias: fazer a partida do gerador; detectar que o gerador está ligado para que cesse o sinal de partida; fazer o gerador alimentar a carga; comutar a rede da concessionária e a geração própria, evitando que ambas assumam a carga simultaneamente. 14 Também será desenvolvido um circuito de comando para acionamento e controle do grupo gerador em regime stand-by, ou seja, funcionando apenas em casos de falta de energia da concessionária. Este circuito será capaz de realizar as seguintes ações: detectar falta de energia da concessionária; comutar a rede da concessionária e a geração própria, evitando que ambas assumam a carga simultaneamente; fazer a partida do gerador; detectar que o gerador está ligado para que cesse o sinal de partida; fazer o gerador alimentar a carga; retornar para a rede da concessionária; desligar o gerador. As etapas para realização do projeto serão: medições de vazão de água, cálculos para dimensionamento da potência que poderá ser atendida com esse recurso, especificação dos componentes a serem utilizados, desenvolvimento de circuito para controle do grupo gerador, simulação e testes para verificações do funcionamento do mesmo, análise dos resultados e conclusão. 15 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Serão abordados neste capítulo os conceitos utilizados na elaboração do trabalho. 2.1 GERAÇÃO DE ENERGIA A geração de energia elétrica pode ser realizada através de vários meios, como por exemplo, o vento e a água. Neste trabalho optou-se por utilizar a energia hidráulica para este fim. O sistema de geração é formado pelos seguintes componentes: máquina primária, gerador, sistema de controle, comando e proteção, e transformador. 2.1.1 Máquina Primária A máquina primária faz a transformação de qualquer tipo de energia em energia cinética de rotação para ser aproveitada pelo gerador. As principais máquinas primárias utilizadas hoje são: motores diesel, turbinas hidráulicas, turbinas a vapor, turbinas a gás e eólicas (WEG, 2010). 2.1.1.1 Turbinas Hidráulicas A turbina hidráulica transforma a energia potencial da água em energia rotacional mecânica; para isso, a água dos reservatórios é captada e transportada através de condutos de baixa pressão até os condutos forçados que conduzem a água até a casa de máquinas, onde se encontram as turbinas. Quando a água atravessa as pás das turbinas, as turbinas giram a uma velocidade que depende da vazão da água, ou da altura da queda da água. Os mecanismos fundamentais para este processo são: a pressão da água aplica uma força sobre as pás do rotor; essa diminui à medida que avança através da turbina; este tipo de turbina é chamado de turbina de reação ou propulsão; a carcaça da turbina, imersa totalmente na 16 água, deve ser forte o suficiente para suportar a pressão de operação; a esta categoria pertencem as turbinas Francis e Kaplan; a pressão da água é convertida em energia cinética, que tem a forma de um jato de alta velocidade que atinge as conchas do rotor; este tipo de turbina é chamado de turbina de ação ou impulso; a esta categoria pertencem as turbinas Pelton (ESHA, 2004). A turbina hidráulica utiliza a energia cinética de rotação de seu rotor para girar o gerador ao qual está conectado. O transformador converte a tensão de saída do gerador em tensões aproveitáveis pela carga quando necessário (WEG, 2010). Figura 1 – Turbinas Kaplan e Pelton. Fonte: WEG. Centro de Treinamento de Clientes. Módulo 4: Geração de Energia. tr_CTC-241_P1, 2010. 17 A energia hidráulica fornecida à turbina é dada pela expressão: Ph [W] Q.gH (1) (ESHA, 2004). Sendo: Q = massa do fluxo de água por segundo = densidade específica da água [kg/s] [kg/m3] Q = volume de água [m3/s] gH = energia hidráulica específica da máquina [J/kg] g = aceleração da gravidade [m/s2] H = altura disponível de um aproveitamento [m] Pode-se fazer a seguinte conversão de unidades para se obter J/kg a partir de m/s2 multiplicado por m, conforme ocorre em gH : gH=(J/Kg)=(N.m/Kg)=((Kg.m/s²).m/Kg)=(m/s²).m A produção mecânica da turbina é dada por: Pmec [W] Ph . (2) (ESHA, 2004). Sendo: = eficiência da turbina A energia hidráulica transformada em trabalho pela turbina é definida por: E gH 1 .( p1 p2 ) 1 .(c112 2 c 22 ) g.( z1 z2 ) 2 [J/kg] (3) (ESHA, 2004). Sendo: gH = energia hidráulica específica da máquina [J/kg] px = pressão no ponto x [Pa] c x = velocidade da água no ponto x [m/s] 18 z x = elevação do ponto x [m] A altura disponível de um aproveitamento é definida por: Hn E g [m] (4) (ESHA, 2004). Figura 2 – Esquema para geração hidráulica. Fonte: ESHA. Guide on how to develop a small hidropower plant. Capítulo 6: Eletromechanical Equipment. 2004 (adaptado). Neste trabalho, optou-se pelo uso da turbina Pelton, que é utilizada em usinas hidroelétricas com duas características: alta queda e baixa vazão. São instaladas em rios de baixa vazão, porém com uma alta queda de água, para que se obtenha a força necessária para geração de energia. É dotada de movimento giratório, construída para funcionar em desníveis d'água de até mais de mil metros de altura. Atua como unidade geradora de energia, acoplada a eixos de geradores elétricos (ALTERIMA, 2010). 19 Figura 3 – Turbina Pelton. Fonte: ALTERIMA. Indústria de Geradores e Micro Usinas. Disponível em: http://www.alterima.com.br/index.htm. Acesso em: 05/08/2010. De acordo com estudos realizados, a velocidade da turbina é definida como: n QE n Q E 3/ 4 [m/s] (5) (ESHA, 2004) Sendo: Q = volume de água [m3/s] E = energia hidráulica específica da máquina [J/kg] n = velocidade de rotação da turbina [t/s] nQE = velocidade específica da turbina [m/s] 2.1.2 Gerador Os geradores convertem a energia cinética de rotação das máquinas primárias em energia elétrica sob forma de força eletromotriz, de acordo com a lei de Faraday. Na maioria das vezes, os geradores são máquinas elétricas síncronas. São dimensionados de acordo com a potência que a máquina primária pode fornecer. As máquinas síncronas possuem dois componentes básicos: estator e rotor. O estator de uma máquina é sua parte fixa, composto de uma carcaça externa que possui os pés de apoio da máquina e de um pacote de lâminas de açosilício, ranhuradas e superpostas formando um pacote magnético. Este pacote é ranhurado para que o enrolamento estatórico possa ser ali depositado. O enrolamento depositado no pacote do estator é projetado para receber ou fornecer energia do sistema, ou para o sistema, e pode ser chamado de enrolamento de força ou enrolamento da armadura. 20 O rotor é o órgão girante apresentado pela máquina. O rotor é a sede de um enrolamento que possui a finalidade primária de gerar um campo magnético quando da passagem de uma corrente contínua por ele. É responsável pela criação de um fluxo magnético, com tantos pólos quantos sejam os pólos do enrolamento do estator da armadura (SIMONE, 2000). As máquinas síncronas trabalham com dois tipos de correntes: corrente alternada senoidal para o circuito ou enrolamento de armadura, e corrente contínua para o circuito ou enrolamento de campo. A corrente contínua tem por finalidade excitá-la, ou seja, criar um campo magnético que é a base da conversão mecânicoelétrica de energia. Essa corrente denomina-se corrente de campo ou corrente de excitação da máquina síncrona (SIMONE, 2000). O princípio de funcionamento de um gerador está fundamentado no movimento relativo entre uma espira e um campo magnético. Os terminais da espira são conectados a dois anéis, que estão ligados ao circuito externo através de escovas. Este tipo de gerador é denominado de armadura giratória. A figura 4 mostra o esquema de funcionamento de um gerador com armadura girante. A bobina gira com velocidade uniforme dentro do campo magnético “B” também uniforme. Se “v” é a velocidade linear do condutor em relação ao campo magnético, segundo a lei da indução (FARADAY), o valor instantâneo da força eletromotriz (f.e.m.) induzida no condutor em movimento de rotação é determinado por (WEG, 2010): e Blvsen(B v ) [V] Sendo: e = força eletromotriz (f.e.m.) [V] B = indução do campo magnético [T] l = comprimento de cada condutor [m] v = velocidade linear [m/s2] B v = ângulo da posição relativa instantânea entre o condutor e o campo [º] (6) (WEG, 2010) 21 Para N espiras têm-se, sendo N o número de espiras: e Blvsen(B v ).N [V] (7) (WEG, 2010) Figura 4 – Esquema de funcionamento de um gerador elementar (armadura girante). Fonte: WEG. Centro de Treinamento de Clientes. Módulo 4: Geração de Energia. tr_CTC-241_P1, 2010. Nos geradores de campo giratório, a tensão de armadura é retirada diretamente do enrolamento de armadura (neste caso o estator), sem passar pelas escovas. A potência de excitação destes geradores normalmente é inferior a 5% da potência nominal. Por este motivo, o tipo de armadura fixa (ou campo girante) é o mais utilizado. Na figura 5 pode-se ver o princípio de funcionamento de um gerador de armadura fixa (WEG, 2010). Figura 5 – Esquema de funcionamento de um gerador elementar (armadura fixa). Fonte: WEG. Centro de Treinamento de Clientes. Módulo 4: Geração de Energia. tr_CTC-241_P1, 2010. 22 Para uma máquina de um par de pólos, a cada giro das espiras tem-se um ciclo completo da tensão gerada. Os enrolamentos podem ser constituídos de um número maior de pares de pólos, que são distribuídos alternadamente (um norte e um sul). Neste caso, há um ciclo a cada par de pólos. Sendo “n” a rotação da máquina em “rpm” e “f” a frequência em ciclos por segundo (Hz), tem-se: f pn 120 [Hz] (8) (WEG, 2010) Sendo: f = frequência p = número de pólos n = rotação síncrona [Hz] [rpm] O número de pólos da máquina deve ser sempre par para formar os pares de pólos. Na tabela 1 são mostradas, para as frequências e polaridades usuais, as velocidades síncronas correspondentes. Tabela 1 – Velocidades Síncronas Fonte: WEG. Centro de Treinamento de Clientes. Módulo 4: Geração de Energia. tr_CTC-241_P1, 2010. Em vazio, ou a tensão de armadura do gerador depende do fluxo magnético gerado pelos pólos de excitação, ou ainda da corrente que circula pelo enrolamento de campo (rotor). Isto porque o estator não é percorrido por corrente; portanto é nula a reação da armadura, cujo efeito é alterar o fluxo total. Em carga, a corrente que atravessa os condutores da armadura cria um campo magnético, causando alterações na intensidade e distribuição do campo magnético principal. Esta alteração depende da corrente, do cos ø e das características da carga, que pode ser resistiva, capacitiva ou indutiva. 23 Se o gerador alimenta um circuito resistivo, que é o tipo de carga a ser alimentada neste trabalho, é gerado pela corrente um campo magnético próprio. O campo magnético induzido produz dois pólos defasados de 90º em atraso em relação aos pólos principais, e estes exercem sobre os pólos induzidos uma força contrária ao movimento, gastando-se a potência mecânica para se manter o rotor girando. Devido à perda de tensão nos enrolamentos da armadura, é necessário aumentar a corrente de excitação para manter a tensão nominal. Os geradores síncronos são construídos com rotores de pólos lisos ou salientes. Os pólos lisos são rotores nos quais o entreferro é constante ao longo de toda a periferia do núcleo de ferro. Os pólos salientes são rotores que apresentam uma descontinuidade no entreferro ao longo da periferia; neste caso, existem as chamadas regiões interpolares, onde o entreferro é muito grande, tornando visível a saliência dos pólos (WEG, 2010). A potência de uma máquina síncrona é expressa por: P m.Uf .If . cos [W] (9) (WEG, 2010) Sendo: m = número de fases Uf = tensão de fase [V] If = corrente de fase [A] = ângulo de defasagem da corrente em relação à tensão [º] 2.1.3 Controle, Comando e Proteção Para interligar um grupo gerador a uma rede de distribuição é preciso fazer o controle da tensão de saída do gerador, que não pode ultrapassar mais que 5% para cima ou para baixo (ABNT NBR 5117). Para se realizar o sincronismo com a rede, antes de fazer o fechamento da linha, é necessário um circuito de comando, que inclui relés e disjuntores. O controle da frequência de saída do gerador é fundamental, pois deve ser constante e de acordo com a rede local, que no caso do Brasil é de 60 Hz. A 24 frequência depende da velocidade de rotação do gerador, portanto, ele deve sempre funcionar com uma rotação fixa (WEG, 2010). 2.1.3.1 Relé O relé é uma chave de impulso acionada pelo campo magnético, usado em cargas de pequenas potências. Este dispositivo é formado basicamente por uma bobina e pelos seus conjuntos de contatos. A figura 6 mostra a estrutura física de um relé e seu símbolo elétrico. Figura 6 – Estrutura física de um relé e seu símbolo. Fonte: BONACORSO, N. G., NOLL, V. Automação Eletropneumática. 4 Ed. São Paulo: Érica, 2000. Ao se aplicar uma tensão elétrica nos terminais da bobina do relé, surge uma corrente na bobina gerando um campo magnético. A força magnética, por sua vez, atrai a parte móvel do relé, distendendo a mola. Esta manobra faz com que o terminal C, que anteriormente estava em contato com o terminal NF, passe a se fixar com o contato NA. Enquanto a bobina permanecer energizada, os contatos se mantêm nesta posição. Ao ser retirada a alimentação dos terminais da bobina, o solenóide cessa a força eletromagnética de atração, resultando no retorno da parte móvel do relé à posição inicial pelo efeito de contração da mola (BONACORSO, 2000). Os relés de tempo são temporizadores para controle de tempos de curta duração, tipicamente até um minuto. São muito utilizados em interrupções de comandos e chaves de partida (FILIPPO, 2000). 25 2.1.3.2 Contator O contator é uma chave de comutação eletromagnética, empregado geralmente para acionar máquinas e equipamentos elétricos de grande potência. Além de possuir os contatos principais, o contator apresenta também contatos auxiliares de pequena capacidade de corrente. Estes contatos são utilizados para realizar o próprio comando do contator (autorretenção), sinalização, e acionamento de outros dispositivos elétricos. A figura 7 mostra o símbolo elétrico de um contator (BONACORSO, 2000). Figura 7 – Símbolo elétrico de um contator. Fonte: BONACORSO, N. G., NOLL, V. Automação Eletropneumática. 4 Ed. São Paulo: Érica, 2000. Os contatos normalmente abertos (NA) se fecham e os contatos normalmente fechados (NF) se abrem quando circula corrente pela bobina do contator. Os contatos permanecem nessa posição enquanto houver excitação. Quando a excitação for interrompida, os contatos voltam às suas posições normais (FILIPPO, 2000). 2.1.3.3 Fusível O princípio de funcionamento do fusível fundamenta-se na fusão do filamento e consequente abertura do mesmo, quando passa por ele uma corrente elétrica superior ao valor de sua especificação. Os fusíveis geralmente são dimensionados 20% acima da corrente nominal do circuito. Os fusíveis são classificados em retardados e rápidos. O fusível de ação retardada é usado em circuitos nos quais a corrente de partida é muitas vezes superior à corrente nominal. É o caso dos motores elétricos e cargas capacitivas. Já 26 o fusível de ação rápida é utilizado em cargas resistivas e na proteção de componentes semicondutores (BONACORSO, 2000). 2.1.3.4 Disjuntor termomagnético O disjuntor termomagnético possui a função de elemento de proteção e, eventualmente, de chave. Interrompe a passagem de corrente elétrica ao ocorrer uma sobrecarga ou curto-circuito. A sobrecarga é uma corrente ligeiramente maior que a corrente nominal e que, a longo prazo, pode danificar o cabo condutor ou o aparelho. A proteção contra sobrecarga baseia-se no princípio da dilatação de duas lâminas de metais distintos que, portanto, possuem coeficientes de dilatação diferentes. Uma pequena sobrecarga faz o sistema de lâminas deformar-se sob o calor, desligando o circuito. O curto-circuito é uma corrente excessivamente alta, proveniente de algum dano ou problema no sistema elétrico ao qual está conectado, e que precisa ser imediatamente interrompida. A proteção contra o curto-circuito é feita através da ação de um dispositivo magnético, que desliga o circuito quase instantaneamente (BONACORSO, 2000). 2.1.4 Transformadores Os transformadores são utilizados para tornar compatíveis as tensões de saída do gerador com a tensão do sistema que será alimentado pelo grupo gerador. Neste trabalho não será utilizado transformador, uma vez que a tensão gerada será compatível com a do sistema a ser alimentado, não necessitando de transformação (WEG, 2010). 27 3 ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS PRELIMINARES Neste capítulo serão apresentadas as especificações dos componentes utilizados no projeto. 3.1 VISÃO GERAL DO PROJETO O trabalho tem como objetivo o dimensionamento de um grupo gerador que atuará no abastecimento de cargas elétricas, substituindo a concessionária de energia local. Para que o gerador possa atuar de forma correta, será desenvolvido um circuito de comando para acionamento e controle do mesmo. A figura 8 apresenta o diagrama em blocos de um típico sistema de energia de corrente alternada (CA). Figura 8 – Diagrama típico do sistema de energia CA. Fonte: Própria. O sistema de energia CA é composto por: a) fonte de energia externa: representa uma fonte de energia CA de propriedade da concessionária local; 28 b) quadro de medição: é o ponto de interface entre o fornecimento externo de energia e os demais elementos do sistema internos à estação; c) quadro de distribuição geral: é o quadro que alimenta as cargas instaladas, onde é feita a distribuição para outros quadros intermediários de distribuição de energia; as cargas de energia CA de uma estação podem ser classificadas como normais ou essenciais, conforme o grau de criticidade das mesmas; d) grupo gerador: é a fonte de energia local conectado à estação; e) quadro de transferência: é destinado a efetuar a comutação da alimentação do barramento essencial pelas fontes de energia da concessionária ou do grupo gerador; f) unidade de supervisão de corrente alternada (USCA): é a unidade que recebe, controla, protege, e comanda a transferência das fontes de energia CA; g) alimentação em corrente contínua: energiza e alimenta a USCA e é constituído por banco de baterias. Este trabalho consiste na elaboração do grupo gerador, quadro de transferência e unidade de supervisão de corrente alternada. O quadro de transferência junto com a unidade de supervisão de corrente alternada, será capaz das seguintes ações, para fazer o gerador atuar em regime prime: fazer a partida do gerador; detectar se o gerador está ligado para que cesse o sinal de partida; fazer o gerador alimentar a carga; comutar a rede da concessionária e a geração própria, evitando que ambas assumam a carga simultaneamente. Para que o gerador atue em regime stand-by, o quadro de transferência, juntamente com a unidade de supervisão de corrente alternada, será capaz de realizar as ações abaixo: detectar falta de energia da concessionária; comutar a rede da concessionária e a geração própria, evitando que ambas assumam a carga simultaneamente; fazer a partida do gerador; detectar que o gerador está ligado para que cesse o sinal de partida; 29 fazer o gerador alimentar a carga; retornar para a rede da concessionária; desligar o gerador. 3.2 PREMISSAS E LIMITAÇÕES Este projeto pode ser adaptado para a instalação de uma pequena central hidrelétrica em diferentes situações. Para isso, deve-se refazer as medições e os cálculos realizados, de modo a se obter o dimensionamento correto da usina. Podese inclusive ser utilizado outro tipo de turbina, conforme o que for mais indicado para o tipo de represa de água onde será instalado. Os circuitos de comando podem ser utilizados para qualquer tipo de gerador, independente da potência que este irá fornecer, desde que levado em conta o regime em que o gerador deverá atuar. 3.3 DESCRIÇÃO FUNCIONAL DOS BLOCOS Neste tópico será apresentada a descrição funcional dos blocos que serão desenvolvidos neste trabalho, ou seja, o grupo gerador e o quadro de transferência associado à USCA. 3.3.1 Grupo Gerador O grupo gerador é composto basicamente pela turbina e pelo gerador. A água, proveniente do rio no Restaurante Caipirão, será canalizada e lançada em forma de jato na turbina do tipo Pelton que, ao girar, acionará o gerador e o manterá em funcionamento. A altura da queda d’água deverá ser de quatro metros, conforme informado pelo fabricante de geradores e turbinas Alterima, para que seja capaz de girar a turbina, e assim, gerar a energia necessária para alimentação dos circuitos de iluminação do Restaurante Caipirão. Dessa forma, será necessário construir uma estrutura que permita tal situação no rio. 30 A energia gerada será transportada até o quadro de distribuição através de condutores de cobre de seção de 10 mm2 em eletroduto enterrado no solo. Os cálculos para definição da bitola do condutor são apresentados no item 3.4, que trata do dimensionamento e memorial de cálculos. 3.3.2 Quadro de transferência e unidade de supervisão de corrente alternada O quadro de transferência com a USCA, realizam o controle do gerador, e são compostos de aparelhos de comando e de proteção. Os aparelhos de comando são elementos de comutação destinados a permitir ou não a passagem da corrente elétrica entre um ou mais pontos de um circuito; entre eles estão os relés e os contatores. Os aparelhos de proteção são elementos intercalados no circuito com o objetivo de interromper a passagem de corrente elétrica sob condições anormais, como curto-circuitos ou sobrecargas; entre esses estão os fusíveis e disjuntores (BONACORSO, 2000). O apêndice A1 mostra o diagrama de comando da unidade gerador/rede da concessionária para o caso de regime prime. O apêndice A2 apresenta o diagrama de força do circuito de comando para atuar em regime prime. Como funcionará o circuito de comando para o gerador atuar em regime prime: quando acionada a botoeira BO, os contatos do relé falta de fase irão retirar a rede da concessionária, e fazer com que o gerador assuma a carga através do contator C2, passando primeiro pelo temporizador, que irá determinar o tempo para o gerador assumir a carga; caso ocorra algum problema com o gerador, o relé de falta de fase irá fazer intertravamento do contator C1 com o C2, fazendo com que a concessionária assuma a carga, até que o problema no gerador seja solucionado de modo que ele esteja pronto para voltar a alimentar as cargas; há também um temporizador ligado entre o relé de falta de fase e o contator C1, para que a energia da concessionária não seja retirada imediatamente, pois é necessário um período de tempo até que a velocidade de rotação da turbina fique constante novamente. 31 O apêndice A3 mostra o diagrama de comando da unidade gerador/rede da concessionária para o caso de regime stand-by. O apêndice A4 apresenta o diagrama de força do circuito de comando para atuar em regime stand-by. Como funcionará o circuito de comando para o gerador atuar em regime stand-by: para detectar a falta de energia da concessionária, optou-se pelo uso de um relé de falta de fase conectado diretamente à rede a ser monitorada; para comutar a rede da concessionária e a geração própria, é feito um intertravamento elétrico através de contatores de força, de maneira que, quando a rede de energia estiver funcionando normalmente, a geração própria não conseguirá assumir a carga; para fazer a partida do gerador, um contator auxiliar envia um sinal de tensão para a bobina do gerador; a quantidade de vezes que será feita a partida será limitada através de temporizadores; a fim de detectar que o gerador está ligado, para que seja possível cessar o sinal de partida, é usado um minirrelé; quando o gerador atingir seu funcionamento pleno, começará a gerar uma tensão alternada de 12 V, a qual, depois de retificada, alimentará o minirrelé, que cortará o sinal de partida do motor; para que se possa fazer o gerador assumir a carga, existem algumas condições: a primeira delas é que o contator C2 (ligado ao gerador) esteja habilitado; esta condição ocorre através do intertravamento entre o contator C1 (ligado à rede da concessionária) e o minirrelé, que indica que o gerador está ligado; a segunda condição é que o gerador síncrono já tenha atingido a velocidade nominal; esta condição é obtida através de um ajuste no parâmetro do temporizador; o valor da velocidade para ajuste deste parâmetro é obtido através de testes práticos; somente com estas duas condições verificadas é que o contator C3 (ligado à carga) é habilitado para que o gerador assuma a carga; para retornar à rede da concessionária, quando o fornecimento de energia desta for restabelecido, é necessário que o relé de falta de fase detecte 32 esta situação; com isso, é realizada uma nova comutação habilitando o contator C1 e desabilitando o restante do comando; para desligar o gerador, após o restabelecimento do fornecimento normal de energia, o contator auxiliar que alimenta a bobina do gerador será desabilitado. 3.4 DIMENSIONAMENTO E MEMORIAL DE CÁLCULOS Neste tópico serão apresentados os cálculos e justificativas que levaram à escolha dos componentes. 3.4.1 Grupo Gerador Através de medição realizada no local da implantação, foi constatada a seguinte situação para obtenção de vazão de água, conforme a figura 9: largura: 3 m profundidade: 0,7 m tempo para percorrer 1 m : 20 s Figura 9 – Detalhe do rio. Fonte: Própria. Através da seguinte fórmula, obtém-se a vazão: vazão l arg ura. profundidade tempo [l/s] 33 vazão 3.0,7 20 m3 vazão 0,105 s vazão 105 l s Com tais características, considerou-se apropriado utilizar o gerador Alterima com três jatos de água, capaz de gerar 5 kVA, que será suficiente para alimentar as cargas referentes à iluminação do local. Figura 10 – Gerador Alterima com três jatos de água. Fonte: ALTERIMA. Indústria de Geradores e Micro Usinas. Disponível em: http://www.alterima.com.br/index.htm. Acesso em: 05/08/2010. O dimensionamento do condutor foi feito conforme os cálculos a seguir. A potência foi obtida através da soma das potências de cada lâmpada no restaurante Caipirão, multiplicado pelo fator de potência (cos ø) que é próximo de 1 no caso de circuitos de iluminação. A queda de tensão máxima é de 7 %, conforme especificado pela ABNT NBR 5410/2004, no caso de grupo gerador próprio. Visto se tratar de área rural, tem-se tensão monofásica em 127 V. A distância entre o gerador e o quadro de distribuição é de 22 m, sendo esse o comprimento do condutor. Lâmpadas fluorescentes compactas 25 W: 101 Lâmpadas fluorescentes compactas 20 W: 16 Luminárias de HO 2x32 W com reator 15 W: 20 Potência total: 4425 W 34 Cálculo da capacidade de condução de corrente: P Ip V . cos [A] Sendo: Ip - corrente nominal do projeto P - potência total do projeto V - tensão cos - fator de potência Ip 4425 127 .1 Ip 34,84 A Cálculo da queda de tensão: e%.V Ip.l V [V/(A.km)] V - queda de tensão e% - limite de queda de tensão l - comprimento do condutor V 0,07 .127 34,84 .0,022 V 11,6 V A.km Cálculo da proteção contra sobrecarga: Ip In Iz Sendo: Ip - corrente nominal do projeto In - corrente nominal do dispositivo de proteção (disjuntor) Iz - capacidade de condução de corrente do condutor 34,84 In In 50 A 63 (NBR 5410/2004) 35 Através dos cálculos realizados, optou-se pela utilização de condutores de 2 10 mm com disjuntor de 50 A, levando em consideração que futuramente poderá haver ampliações nas instalações implementação de novos geradores. do Restaurante Caipirão e possível 36 4 IMPLEMENTAÇÃO Neste tópico são descritos os procedimentos adotados para instalação do grupo gerador, e a montagem da parte física dos circuitos de comando. 4.1 GRUPO GERADOR Visto que o Restaurante Caipirão não possui projeto de instalações elétricas, foi feito um levantamento em campo das cargas a serem alimentadas pelo gerador, concluindo-se que seria possível alimentar as cargas relativas à iluminação do local, com carga próxima a 5 kVA. Para a instalação do grupo gerador foi selecionado um local adequado no rio no Restaurante Caipirão, que possui boa vazão e razoável queda d’água. Conforme os cálculos realizados e apresentados no item 3.4, foi obtida a vazão de água no local. Segundo a Alterima, fabricante do gerador e da turbina, para que o gerador pudesse fornecer energia de 5 kVA, apresentando a vazão calculada de 105 l/s, seria necessário que a queda de água fosse de 4 m. Visto que o local não apresenta tal queda de água, conclui-se que há necessidade de fazer modificações no rio, como escavação no local, para que a queda atinja a altura desejada. Não será necessária uma estrutura para aproveitamento da água, visto que após sair da turbina, a água continuará seguindo seu curso normal. Conforme estabelecido pela norma ABNT NBR 5117, que trata das especificações para máquinas síncronas, a tensão a ser gerada pode sofrer variações de no máximo 5%, e a frequência do sinal deve permanecer estável; este controle está embutido no próprio gerador Alterima, garantindo correto funcionamento do mesmo. A instalação da turbina e do gerador será feita pelo fabricante de geradores Alterima, conforme disponibilização dos valores para a compra e instalação dos mesmos pelos proprietários do Restaurante Caipirão. O apêndice A5 mostra uma visão geral das instalações do Restaurante Caipirão, com o rio que passa dentro do terreno, e a localização da caixa de máquinas, onde será instalado o grupo gerador. 37 4.2 CIRCUITOS DE COMANDO Os circuitos de comando foram montados de forma a serem o mais compacto possível. 4.2.1 Circuito de comando para o gerador atuar em regime prime O circuito de comando para o gerador atuar no regime prime foi montado sobre uma chapa de ferro galvanizado, contendo canaletas ao redor e no centro, por onde foram passados os cabos para conexão. Os cabos são flexíveis e foram identificados com anilhas. A conexão dos cabos nos contatores foi feita através de conectores do tipo garfo. Entre as canaletas foram dispostos os contatores, disjuntores, um relé de tempo e um relógio programador, fixados por meio de trilhos. O disjuntor utilizado para fazer a proteção foi do tipo DWM, ou seja, para proteção de motores, com corrente nominal de 50 A. Os contatores utilizados foram do tipo CWM, tripolares, 220 V, 60 Hz. O relé de tempo é do tipo RTW -RE de 60 segundos. O relógio programador é do tipo RTB/20 digital 220 V. As canaletas são do tipo abertas com dimensões 30x30x2000 mm. Os trilhos são do tipo TS 35 mm, pré-galvanizado. Os condutores utilizados nos controles são flexíveis com bitola 1,5 mm 2. Os conectores do tipo garfo são de 2,5 mm 2. Para fazer o acionamento do comando foram utilizadas duas chaves manopla 2 posições, podendo fazer a seleção para gerador ligado ou desligado e, concessionária ligada ou desligada. Para visualizar se o comando está ligado ou desligado, foram utilizados sinalizadores do tipo sinaleiro 22 mm AD16-22DG LED, um verde e dois vermelhos, conforme mostra a figura 11. Todos esses componentes foram colocados dentro de um painel com dimensão 38x33x17 cm. A figura 12 mostra o interior do painel onde foi montado o circuito de comando para o gerador atuar em regime prime. 38 Figura 11 – Vista frontal do painel onde foi montado o circuito de comando para o gerador atuar no regime prime. Fonte: Própria. 39 Figura 12 – Circuito de comando para gerador atuar no regime prime. Fonte: Própria. 40 4.2.2 Circuito de comando para o gerador atuar em regime stand-by O circuito de comando para o gerador atuar em regime stand-by foi montado sobre MDP (Medium Density Particleboard) envernizada, contendo canaletas ao redor e no centro, por onde foram passados os cabos de conexão. Os cabos são flexíveis e foram identificados com anilhas. A conexão dos cabos nos contatores foi feita através de conectores do tipo garfo. Entre as canaletas foram dispostos os contatores, relés e disjuntor fixados por meio de trilhos. O disjuntor utilizado para fazer a proteção foi do tipo DWM, ou seja, para proteção de motores, com corrente nominal de 10 A. Os contatores de força utilizados foram do tipo CWM, tripolares, 220 V, 60Hz. O relé falta de fase é do tipo RPW FF. O relé de tempo é do tipo RTW de 60s. As canaletas são do tipo abertas com dimensões 30x30x2000 mm. Os trilhos são do tipo TS 35 mm, pré-galvanizado. Os condutores utilizados nos controles são flexíveis com bitola 1,5 mm2. Os conectores do tipo garfo são de 2,5 mm2. Para fazer o acionamento do comando foi utilizado uma chave manopla 3 posições, podendo fazer a seleção para manual, automático ou desligado. A figura 13 mostra o circuito de comando para o gerador atuar em regime stand-by. 41 Figura 13 – Circuito de comando para gerador atuar no regime stand-by. Fonte: Própria. 42 5 RESULTADOS O objetivo deste trabalho, que era realizar o dimensionamento de um gerador de energia com utilização da água, capaz de alimentar pequenas demandas de energia, e desenvolver um circuito de comando para acionamento do grupo gerador em regime prime, e outro para atuar em regime stand-by, foi alcançado. Foram realizados testes com os comandos, comprovando seu funcionamento, através de simulações de situações reais. Para o comando que atua no regime prime, foi programado no relógio programador, o horário para o gerador assumir a carga, e o horário para as cargas retornarem à concessionária de energia. Verificou-se que o comando atuou da maneira esperada nos horários programados. Para o comando que atua no regime stand-by, foi simulada através da rede de energia local a falta da mesma, fazendo com que o gerador fosse acionado neste instante. Após simulação do retorno da energia, o gerador foi desligado. Desta forma observou-se o correto funcionamento dos circuitos de comando. A escolha dos componentes utilizados nos circuitos de comando foi feita com base nos produtos disponíveis no mercado, e que são de fácil acesso, possibilitando maior facilidade na manutenção, ou até mesmo na troca de algum aparelho que possa ser danificado naturalmente com o uso. O custo do circuito de comando para o gerador atuar no regime stand-by é de aproximadamente um mil e quinhentos reais. O custo do circuito de comando para o gerador atuar no regime prime é de aproximadamente um mil reais. O custo pode variar conforme a escolha dos componentes que podem ser de outras marcas. A escolha da turbina e do gerador foi feita com base na praticidade da instalação e manutenção, que é feita pela própria empresa que vende tais equipamentos. O custo da turbina com três rotores com gerador de potência 5 kVA é de dezesseis mil e setecentos reais, conforme informado pela empresa Alterima, e possui garantia de 5 anos. O pleno funcionamento do projeto, incluindo o grupo gerador com o circuito de comando, será verificado após a implementação da pequena central hidrelétrica no Restaurante Caipirão, que ocorrerá após aprovação dos proprietários do local. No entanto, verificou-se na prática o correto funcionamento dos circuitos de comando através de simulações. 43 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A demanda crescente de energia elétrica tem resultado em grande preocupação nas autoridades em como suprir esta demanda. Os órgãos governamentais de energia têm incentivado a construção de pequenas centrais hidrelétricas, para suprir a necessidade de alguns locais, como meio de diminuir a procura pela energia da concessionária. Além disso, a consciência das pessoas em geral com relação ao ambiente, tem contribuído para a busca de métodos de geração de energia que não agridam o mesmo. Desta forma, conclui-se que o projeto apresentado neste trabalho está em harmonia com as necessidades atuais na questão de geração de energia, uma vez que tem por objetivo a redução na demanda de energia da concessionária local e, ao mesmo tempo, não causar dano ao ambiente, por não apresentar necessidade de inundação de uma área, como costuma ocorrer nas implantações de usinas hidrelétricas de médio e grande porte. O custo do projeto, à primeira vista, parece alto; porém, o valor inicial da instalação da pequena central hidrelétrica é coberto após algum tempo com a economia referente à compra da energia da concessionária local, que deixa de ser necessária. Visto que no Brasil, a principal matriz de geração de energia é através do potencial hídrico de nosso país, que é abundante, existe a possibilidade de instalação de muitas outras centrais hidrelétricas de pequeno porte em diversos lugares. Espera-se que este trabalho possa servir como incentivo para esta prática que contribuirá com a natureza, sem deixar de incentivar o avanço da tecnologia. 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT NBR 5117. Máquinas Síncronas – Especificação. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1984. ABNT NBR 5410. Instalações Elétricas em Baixa Tensão. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2004. ALTERIMA. Indústria de Geradores e Micro Usinas. Disponível em: http://www.alterima.com.br/index.htm. Acesso em: 05/08/2010. BONACORSO, N. G., NOLL, V. Automação Eletropneumática. 4 Ed. São Paulo: Érica, 2000. ESHA. Guide on how to develop a small hidropower plant. Capítulo 6: Eletromechanical Equipment. European Small Hydropower Association, 2004. FILLIPO FILHO, G. Motor de Indução. São Paulo: Editora Érica Ltda, 2000. HINRICHS, R. A.. KLEINBACH, M. Energia e Meio Ambiente. Tradução da 3 ed. Norteamericana. São Paulo:Thomson Learning, 2003. SIMONE, G. A. Centrais e Aproveitamentos Hidrelétricos: Uma Introdução ao Estudo. São Paulo: Editora Érica Ltda, 2000. SOUZA, Z. FUCHS, R. D. SANTOS, A. H. M. Centrais Hidro e Termelétricas. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 1990. WEG. Centro de Treinamento de Clientes. Módulo 4: Geração de Energia. tr_CTC241_P1, 2010. 45 APÊNDICES 46 APÊNDICE A1 – DIAGRAMA DO CIRCUITO DE COMANDO PARA O GERADOR ATUAR EM REGIME PRIME 47 APÊNDICE A2 – DIAGRAMA DE FORÇA DO CIRCUITO DE COMANDO PARA O GERADOR ATUAR EM REGIME PRIME 48 APÊNDICE A3 – DIAGRAMA DO CIRCUITO DE COMANDO PARA O GERADOR ATUAR EM REGIME STAND-BY 49 APÊNDICE A4 – DIAGRAMA DE FORÇA DO CIRCUITO DE COMANDO PARA O GERADOR ATUAR EM REGIME STAND-BY 50 APÊNDICE A5 – VISÃO GERAL DAS INSTALAÇÕES DO RESTAURANTE CAIPIRÃO