Órgão Informativo do Movimento Estudantil Popular Revolucionário - Nº 09 - Junho de 2007 - www.mepr.org.br - Tel.: (31) 3222.0216 - Preço: R$ 2,00 Jornal Estudantes do Povo - 1 Editorial Aumentar o protesto popular! O imperialismo norte-americano dá continuidade aos seus sinistros planos de dominação mundial. Impulsionados por uma aguda crise econômica, ele invadiu o Afeganistão, o Iraque e agora se prepara para agredir mais uma nação, o Irã. Na América Latina, os EUA, através dos seus organismos internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, promovem uma verdadeira ofensiva contra os direitos dos trabalhadores e dos estudantes, através das “reformas” trabalhista, sindical, universitária e da previdência. Bush veio ao Brasil e chegou cantando uma paródia de Chico Buarque: “Ai essa terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornarse um imenso canavial.” Aqui o testa de ferro do imperialismo se reúne primeiro com os empresários e depois se encontra com o subalterno gerente Lula para passar os informes dos negócios de produção do etanol da cana-de-açúcar. Há quem diga: “é um terrível plano de venda e entrega do Brasil!” É, mais um! Ao mesmo tempo as massas no nosso país irrompem em uma verdadeira avalanche de lutas. As massas receberam Bush com pichações nos muros das cidades, manifestações e ataque ao consulado no Rio de Janeiro. A odiosa bandeira ianque ardeu em chamas centenas de vezes. O povo cada vez mais perde as ilusões com a gerência oportunista e começa a encontrar o seu verdadeiro caminho para impedir a retirada de seus direitos. Há muito que em nosso país não se ouvia falar tanto em greve e mobilizações. Há mais de um mês centenas de estudantes, com o apoio dos funcionários e dos professores, estão em greve na USP e ocupam a reitoria. De forma firme e decidida exigem a revogação dos decretos do governador José Serra, que ferem a autonomia das universidades paulistas. Mesmo a justiça burguesa tendo concedido a reintegração de posse, os estudantes ergueram barricadas em frente à reitoria e mandaram o recado: “Nós vamos resistir”! É a ardente rebeldia da juventude! A luta dos estudantes da USP indica o caminho da luta e se espalha pelo país. Estudantes do campus da UNESP, no interior de São Paulo, da UFAL (Alagoas), da UFMT (Mato Grosso), da UFRGS (Rio Grande do Sul) e várias outras universidades também ocuparam reitorias ou prédios administrativos. Companheiros, a situação que se desenvolve em nosso país é a confirmação cabal de nossas análises. “A incapacidade das classes dominantes de se coesionarem num plano e candidaturas únicos, ainda que partem de uma mesma base programática, representa de maneira mais do que evidente que os de cima já não podem seguir governando como antes. No outro pólo da contradição, vemos se agravar todas as tensões sociais, centuplica a miséria e o abandono, o desemprego atinge a cifra das dezenas de milhões, míseros salários e milhões de camponeses sem terra; greves, revoltas e principalmente o avanço da luta pela terra expõe como também os de baixo já não aceitam seguirem vivendo como antes. Somese a isto o maior desmascaramento da história do oportunismo conjugando uma situação revolucionária em desenvolvimento.” (do Editorial do JEP n°7, junho, 2006) Isso mesmo companheiros vivemos um momento muito favorável para a luta das massas. O Brasil encontra-se juncado de lenha seca e uma só faísca pode incendiar toda a pradaria! Diante disso se coloca uma questão concreta para o movimento de massas. Como construir a unidade necessária, entre os diversos setores do povo que se opões aos ataques anti-povo do vende pátria Lula, para derrotar as “reformas” do imperialismo. Unidade e Luta no movimento popular Como dizia Lênin: “Unidade, esta é uma grande causa e uma grande consigna!” Mas o que é a verdadeira unidade? Como consegui-la, com quem construí-la? A direção nacional do PSTU, através do Conlutas, está dando uma demonstração de como não se constrói uma verdadeira unidade para a luta. Em seu Encontro Nacional, no dia 25 de março, muito se falou em unidade e muitos sorrisos e abraços foram trocados entre PSOL e PSTU. Mas, a discussão sobre a construção da luta concreta para derrotar as “reformas” do governo FMI/ Lula não aconteceu. Então unidade para que? Em torno de quais objetivos? Valério Arcary, dirigente nacional do PSTU, afirmou que ali se abria o caminho para a construção de uma candidatura de esquerda para 2010. Tratase, então, de uma “unidade” eleitoral? O que é evidente é que uma unidade sem objetivos classistas claros, não contribui em nada para a luta do povo. Nada mais é do que a velha política “economicista” tão combatida por Lenin, onde o “movimento é tudo e o objetivo não é nada”. É a unidade sem princípios Barricada feita pelos grevistas em frente à Reitoria da USP 2 - Jornal Estudantes do Povo onde se pode unir até com os mais terríveis inimigos. A comprovação de que a “unidade” de cúpulas e sem princípios não chegaria muito longe veio rápido, já no dia 23 de maio, dia nacional de lutas proposto pelo Conlutas. No afã de alargar a “unidade” conseguida, a direção nacional do PSTU convidou os governistas de CUT e UNE para participarem do 23 de maio. Os apelos de união com os governistas foram lançados no próprio Encontro Nacional. Para conseguir a adesão das entidades estatais, o PSTU fez uma convocatória conciliadora. No panfleto assinado por Conlutas, Intersindical, CUT, UNE, MST e Frente contra a Reforma Universitária falaram contra as “reformas neoliberais”, contra a Emenda 3 (que já havia sido vetada por Lula) e contra a “política econômica do governo federal”. Vejam só! Política econômica do “governo federal”... não tocaram uma vez no nome de Lula para garantir o apoio dos governistas. Nada falaram contra as “reformas” sindical e trabalhista (apoiadas pela CUT), utilizando apenas a caracterização genérica de “reformas neoliberais”. Com a participação dos governistas o dia 23 de maio foi transformado na “manifestação a favor do veto presidencial à Emenda 3”. Em Pernambuco, a direção do MST organizou um surreal corte de rodovia em apoio ao veto de Lula! Todo o monopólio de comunicação assim repercutiu. O PT, através de seu presidente nacional, Ricardo Berzoini, inclusive lançou uma nota em apoio às manifestações do dia 23 maio. Como se tornou ampla a frente proposta pela direção nacional do PSTU! O verdadeiro resultado destas manifestações foi que a direção do PSTU montou palanque para CUT e UNE. Resgatou da sepultura entidades que estavam sem o menor prestígio entre a massa. Outro fato foi a Plenária Nacional dos Estudantes em Luta, que aconteceu na ocupação da reitoria da USP, mas por fora do movimento de ocupação, puxada pelo Conlute. Fizeram um grande palanque para defender a unidade com a UNE. Enquanto a direção nacional do PSTU estava convocando a CUT e a UNE para a “unidade”, a Central sindical do governo estava concertando um acordo com outras centrais pelegas para aprovar a “reforma” trabalhista por meio de Medidas Provisórias. A primeira MP a ser enviada ao Congresso já está em fase final de elaboração e trata da regularização das centrais sindicais. A próxima MP, de acordo com deputado Paulinho da Força Sindical, será sobre a regulamentação do trabalho aos domingos. A proposta de Lula/CUT é fixar que trabalha-se dois domingos e folga-se um. É com esta central que o Conlutas pretende fazer unidade?! Uma das características do centrismo é chamar o oportunismo de direita para a unidade, achar que o está dirigindo, mas acabar sendo dirigido por este. E é isto que está acontecendo, com ações unificadas com os governistas de CUT e UNE o que se faz é legitimar a traição destas entidades estatais. Com a UNE-CUT (PCdoB-PT) não tem unidade O que é a Une? É a entidade que tem se prontificado a defender e aplicar todas as medidas da gerência FMI/PT para as universidades e escolas e se fundiu para sempre com o Estado de grandes burgueses e latifundiários serviçal do imperialismo. Em vários encontros e lutas do movimento estudantil, quando essa entidade burocrática é atacada vemos algumas pessoas, geralmente ligadas ao PSOL, saírem em defesa dela. Defendem que devemos chamá-la para a luta. A unidade com essa gente é a unidade com todas as causas da dominação de nosso país, é a unidade com o latifúndio, com a burguesia e com o imperialismo. A unidade com os oportunistas da Une/PCdoB significa, presentemente, a subordinação ao governo e à suas medidas anti-povo e o afastamento das massas estudantis. O PCdoB anda dizendo na televisão que é necessário audácia e ousadia, porém, a única prática audaciosa e ousada deles é a aplicação das contra-reformas da gerência FMI/PT. Não é à toa que Une/Ubes apoiaram os dois últimos decretos de Lula contra as universidades e os CEFET’s (nº 6.096 e 6.095). Por todas essas questões não existe unidade com Une ou CUT. Essas governistas têm as mais nefastas práticas no meio do movimento e tentam a todo o momento desorganizar o movimento estudantil. Assim foi na UFMG quando os estudantes pularam a roleta do bandejão para manifestar por melhorias em uns dos RU’s mais caros do país. A reitoria, em represália aos 1.500 estudantes que não estavam pagando pelas refeições, fechou o RU. O que fez a Une? Soltou um panfleto apoiando a reitoria na tentativa de criminalizar os estudantes, chamando a luta de ilegítima e de que os pulões foram a causa do fechamento do RU. Na USP, a Une se manifestou desde o começo contrária a ocupação da reitoria, fortalecendo o discurso dos monopólios de comunicação de que os estudantes são intransigentes, ajudando a criar o ambiente para uma desocupação violenta pela tropa de choque. Mais uma vez, recorrendo aos ensinamentos de Lenin, de que “Pretender combater o imperialismo sem combater o oportunismo é fraseologia oca”, afirmamos: só é possível derrotar as “reformas” antipovo do imperialismo, aplicadas por Lula, através de um duro combate às posições oportunistas e governistas. Unidade no movimento estudantil: avançar na luta e construir a greve geral Diante desta situação, qual é o caminho para alcançar a verdadeira unidade? Conchavos de cúpulas que não pode ser! Só existe uma maneira: organizando a luta em defesa dos direitos dos estudantes, ocupando as ruas, preparando manifestações combativas sem conciliar com o governo em nada. Essa é a única forma que temos de garantir uma verdadeira unidade. Esse tipo de unidade preconizada pelos centristas, (consenso em encontros sem a construção concreta da luta) pode unicamente corroer a luta dos estudantes, solapá-la e destruí-la. Por mais que durante os encontros e reuniões existam lutas políticas, a posição que os estudantes aprovam deve ser respeitada e aplicada. E é na aplicação dessas definições que a unidade será construída de verdade. Ou seja, do que se trata aqui é da unidade na luta. Não adianta falar em unidade e não aplicar a decisão da maioria dos estudantes, como tantas vezes aconteceu durante o ano passado, particularmente nos encontros de pedagogia. São clarividentes as palavras de Engels: “Não há que deixar-se enganar pelos gritos de ‘unidade’. Precisamente os que mais abusam desta consigna são os primeiros em provocar dissensões.” (Cartas Escolhidas). Diante de todas essas questões achamos que uma verdadeira unidade no movimento estudantil só poderá ser alcançada em torno de um plano concreto pra derrotar a “reforma” universitária do governo Lula/Banco Mundial. Luta essa que hoje é a principal no movimento estudantil, que representa a luta contra a privatização e em defesa da universidade pública em nosso país. Essa é a única luta capaz de unificar todos os estudantes. Essa luta é a greve geral nas universidades. Podemos sistematizar essa proposta em cinco pontos: 1) construção da greve geral; 2) campanha de denúncia sobre a “reforma”; 3) nenhuma ilusão com a Une; 4) nenhuma ilusão e negociação com o governo; 5) aliança com os trabalhadores na luta contra as “reformas” sindical, trabalhista e previdenciária. Somente assim conquistaremos uma verdadeira unidade no movimento estudantil, construiremos a greve geral e aumentaremos o protesto popular! Viva o movimento estudantil independente, combativo e rebelde! Pela greve geral contra a “reforma” universitária do Banco Mundial! Nacional As reformas anti-povo do imperialismo! A crise do sistema capitalista mundial segue seu processo, inevitável, de agravamento. A guerra imperialista em curso, no Oriente Médio, pela redefinição de fronteiras e zonas de dominação é comprovação cabal da agudização da crise. O ano de 2001 marcou o início de uma nova partilha do mundo, protagonizada pela maior potência imperialista da atualidade, Estados Unidos da América (EUA). Utilizando como pretexto o ataque às Torres Gêmeas de Nova York, George Bush ordenou a invasão ao Afeganistão (2001), Iraque (2003), Líbano (em 2006, através do exército de Israel) e recentemente o ataque ao Sudão. Além destes ataques no chamado grande Oriente Médio, os imperialistas ianques, no mesmo período, derrubaram o governo e instalaram uma “tropa de paz” da ONU no Haiti; planejaram e executaram uma tentativa de golpe contra o governo de Hugo Chávez na Venezuela, que foi frustrada pela ação contundente das massas; e intervieram diretamente no combate às forças guerrilheiras das Filipinas. E não só os norte-americanos promoveram agressões imperialistas, a França invadiu no ano passado, a Costa do Marfim; a Rússia tem feitos seguidos ataques a países que pertenciam ao antigo império czarista; e a Inglaterra, no início do ano, teve soldados capturados em operação de espionagem contra o Irã. O que tem causado estas sucessivas agressões por parte das potências imperialistas? A prosperidade econômica propalada pelos monopólios de comunicação ou a crise do sistema capitalista mundial? Basta considerarmos que a tendência é o aumento dos conflitos mundiais, com as sucessivas ameaças de invasão ao Irã e o fracasso da invasão ao Iraque, para concluirmos que a crise do capitalismo é a base para estes terríveis ataques aos povos do mundo. O sistema de dominação imperialista está em decadência e o centro da crise se encontra nas próprias potências, particularmente no EUA. O governo ianque tem a maior dívida pública do mundo e os norte-americanos consomem a maior parte das merca- dorias produzidas no planeta. Mas este consumo se sustenta em um maior acesso ao crédito e não no crescimento da renda. A maior parte dos norteamericanos hipotecou suas casas para consumirem, mas esta bolha, a chamada “bolha imobiliária”, está perto de estourar. Para evitar o desmantelamento de sua economia esta potência imperialista invade países e saqueia nações. A história do século XX mostrou que a crise imperialista antes de estourar em conflitos mundiais entre grandes potências, passa por: a) disputas imperialistas localizadas; b) pelo o aumento da espoliação dos países dominados e; c) pela crescente exploração do proletariado. Os “ajustes fiscais” promovidos pelas gerências das semi-colônias, os Tratados de Livre Comércio, o pagamento de quantias imensuráveis a título de juros das dívidas externas, são exemplos do aumento da espoliação dos países dominados com o intuito de transferir riquezas para sustentar a economia das potências imperialistas. A crescente exploração do proletariado pode ser vista na modificação das leis trabalhistas, na maior exigência de produtividade, na redução de direitos e no aumento da jornada de trabalho. A China capitalista é o modelo mundial da exploração sanguinária da classe operária. A partir da restauração capitalista em 1976, com a derrota da Grande Revolução Cultural Proletária e o golpe dos revisionistas da camarilha de Teng Siao-ping, a China foi se tornando um importante esteio da economia capitalista mundial. A eficiente infra-estrutura herdada dos anos do socialismo, as grandes reservas naturais preservadas pela economia planificada e o proletariado numeroso e extremamente instruído, foram utilizadas pelos traidores revisionistas para transformar a mais importante base de apoio da revolução proletária mundial no maior fabricante de mercadorias e quinquilharias do mundo. Desde os anos 80, aberta aos capitais das potências imperialistas, o governo revisionista chinês impôs a mais cruenta exploração à classe operária. Ocultada pela farsa do “socialismo de mercado”, os revisionistas têm abastecido todo o mundo com mercadorias baratas que garantem abundantes lucros para as potências imperialistas. A violenta exploração da classe operária chinesa, bem ao estilo século XIX com extensas jornadas de trabalho e salários aviltantes, garantidas por um regime fascista, tem dado sobrevida ao regime capitalista, ao frear um pouco a inevitável queda da taxa de lucro. Embora, a médio prazo a China possa representar um problema para o EUA, hoje tem sido ao mesmo tempo um alento e um exemplo a ser copiado pelos países dominados de como explorar seus operários. Mas não é só nos países dominados que o imperialismo procura aumentar a exploração da classe para aliviar sua crise. Em seus próprios países tem crescido a opressão sobre os trabalhadores. Na Europa e no EUA o problema dos imigrantes surge como uma nova e fundamental questão do proletariado internacional. Hoje, assim como no período que antecede a decadência do Império Romano, nas potências imperialistas a grande massa que executa os trabalhos manuais é composta por trabalhadores de outras nacionalidades. São milhões de latinos, africanos e asiáticos, que expulsos pela crise de seus países vão encontrar trabalho em condições sub-humanas nos países imperialistas. Já existe uma geração de jovens, filhos de imigrantes, que nasceram e trabalham nestes países, mas são considerados cidadãos de segunda categoria, ou nas palavras do atual presidente francês, Nicolas Sarkozy, são “a escória da sociedade”. A rebelião nas periferias de Paris revelou o Oriente Médio que existe na França, da mesma forma que o flagelo do furacão Jornal Estudantes do Povo - 3 em Nova Orleans mostrou o Haiti que há dentro do EUA. Neste artigo avaliaremos os impactos, em nosso país, de duas das políticas imperialistas na atual crise do sistema: o aumento da espoliação dos países dominados e a crescente exploração do proletariado. Estas políticas necessitam ser analisadas no âmbito da crise internacional, exatamente porque são decorrências desta e são políticas definidas pelos círculos imperialistas e não pelos governos de plantão. Políticas como: superávit primário para o pagamento da dívida pública, lei do aluguel de florestas, incentivo ao álcool combustível, “reforma” trabalhista, “reforma” sindical, “reforma” previdenciária e “reforma” universitária são meras traduções para o português das ordens dos mandatários imperialistas. O “governo” brasileiro é um mero porta-voz do imperialismo e todos seus projetos são projetos imperialistas. Desde o bolsa-esmola ao envio de tropas invasoras para o Haiti, o governo Lula copia a cartilha ditada pelo FMI e Banco Mundial. Basta ver que medidas semelhantes estão sendo adotadas da Ásia à América Latina. A “reforma” universitária implantada no Brasil é a mesma implantada na Grécia; o ataque aos direitos dos estudantes secundaristas aqui é igual ao que está acontecendo no Chile; a escalada fascista na Turquia é semelhante a que vivemos em nosso país. São diferentes traduções das mesmas políticas. Por isto afirmamos que no Brasil não existe governo, existe uma gerência que administra os negócios do imperialismo, garante a exploração de nosso povo e de nossas riquezas naturais. Lula não é um presidente, é um preposto, um representante, uma espécie de gerente que garante a 4 - Jornal Estudantes do Povo enganação das massas e a aplicação das medidas imperialistas e religiosamente envia bilhões de reais para os banqueiros internacionais, às custas do sofrimento e opressão de nosso povo. Cresce a exploração sobre o proletariado As “reformas” trabalhista e sindical Karl Marx, ao estudar o modo de produção capitalista, demonstrou que o lucro do burguês corresponde ao trabalho não pago ao operário. O que o trabalhador recebe na forma de salário não representa o resultado de seu trabalho, pois o salário é somente o mínimo necessário para a reposição da sua força de trabalho. Se o burguês pagasse por todo o trabalho do operário ele não obteria lucro. Marx chamou este trabalho não pago, esta parte do trabalho que é roubada pelo patrão, de mais-valia. O capitalista sempre procura formas de aumentar a extração da mais-valia, pois assim estará incrementando seus lucros. A burguesia utiliza, fundamentalmente, duas formas de aumentar a exploração sobre a classe operária: uma é através do aumento da produtividade para um mesmo salário (mais-valia relativa); e outra se dá pelo aumento da jornada de trabalho ou pela redução do salário para uma mesma quantidade de horas trabalhadas (maisvalia absoluta). O aumento da maisvalia relativa se dá através do crescimento do ritmo de trabalho, o que pode ser alcançado pela imposição de maiores metas de produção, pela organização da produção (ex: linha de montagem), ou pelo incremento de novas máquinas que permitam a um mesmo operário produzir mais mercadorias. O aumento da mais-valia Lênin absoluta, não está relacionada ao crescimento da produtividade e sim ao crescimento direto da exploração: à redução salarial para uma mesma quantidade de horas trabalhadas, ou ao aumento da jornada sem aumento salarial. Marx, a partir de sua experiência direta na direção do movimento operário, afirmou que o aumento da mais-valia absoluta agudiza mais a luta de classes do que o Karl crescimento da maisvalia relativa. Marx Ao longo da história da luta do trabalho contra o capital, a classe operária sempre procurou reduzir a exploração. As lutas econômicas por melhores condições de trabalho, embora não solucionem os problemas fundamentais do sistema capitalista, são um passo importante na superação deste modo de produção. Marx, em seu texto Salário, Preço e Lucro, resolve a polêmica surgida no seio da Associação Internacional dos Trabalhadores se seria válido ou não a luta por melhores salários, já que a burguesia responde ao aumento salarial com o reajuste dos preços. Marx nos mostra que o aumento salarial não pode ser reabsorvido pela burguesia através do aumento do preço das mercadorias consumidas pelos operários, porque o lucro do burguês não se encontra na diferença momentânea entre preço e valor, pois a mobilidade do capital sempre permite uma rápida adequação da oferta e da procura, levando o preço médio a se igualar ao valor da mercadoria. O lucro se encontra na exploração do trabalho, portanto o aumento salarial produz uma redução do lucro e leva a um conseqüente enfraquecimento econômico da burguesia. Nestes mais de três séculos de luta do proletariado, muitas conquistas foram alcançadas, todas a custa do sangue derramado pelos trabalhadores. A redução da jornada de trabalho, somente em Chicago (EUA), custou a vida de 80 operários, mortos pela polícia nas manifestações durante a greve, e de outros 5 líderes, condenados a morte por conspiração. Esta luta, ocorrida em 1886, inspirou a II Internacional, ainda dirigida por Frederich Engels, a definir o 1º de maio, data do ínicio da greve, como o Dia Internacional do Proletariado. No século XX, com o avanço do movimento socialista, outras conquistas foram alcançadas: como o salário mínimo, a aposentadoria, a jornada de trabalho de 8 horas, férias e repouso remunerado, etc. Como a burguesia é a classe dominante e detém o controle do poder de Estado, ela sempre aplica políticas para reverter ou diminuir as conquistas populares. É o que Marx chamou de “círculo de ferro do capitalismo”, ou seja, enquanto este círculo de dominação não for quebrado as conquistas de hoje serão perdidas amanhã. São várias as medidas políticas adotadas pelos capitalistas para reverter as conquistas econômicas dos operários. Para compensar a redução da jornada de trabalho a burguesia passou a instituir novas formas de organização dentro da fábrica para compensar o tempo de exploração perdido. O regime de metas na produção, de salário por produtividade e a adoção de novas máquinas são alguns dos mecanismos da burguesia para aumentar a extração da mais-valia relativa como forma de compensar a diminuição da extração da mais-valia absoluta. Mas esta compensação tem um limite, chega um momento que para manter sua taxa de lucro a burguesia reduz o salário ou aumenta a jornada de trabalho. É este processo que está em curso no mundo hoje. Na década de 80 o modelo inflacionário foi adotado pelos governos burgueses como mecanismo de desvalorização salarial. A partir dos anos 90 a burguesia, em meio à ofensiva geral da conta-revolução, tem lançado contínuos ataques aos direitos dos trabalhadores visando aumentar a extração da mais-valia absoluta. O fim do pagamento das horas extras e adoção do banco de horas nada mais são do que o aumento da jornada de trabalho sem compensação salarial. A instituição da aposentadoria por idade no lugar de tempo de contribuição, também representa o aumento da jornada de trabalho, só que ao longo da vida do trabalhador, ou seja ele terá que trabalhar mais anos, muito mais horas, para ter o direito a se aposentar. As “reformas” trabalhistas apresentadas por Lula, mas que na verdade são do FMI, visam a retirada de mais direitos e com isto o aumento da exploração capitalista. O Ministério do Trabalho está preparando um anteprojeto de lei que elimina mais de 100 artigos – de um total de 922 – da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). As principais medidas anunciadas são: fim da multa de 40% no FGTS para demissões sem justa causa; redução das férias remuneradas; além de mais ataques ao sistema previdenciário. “Reforma” sindical A “reforma” sindical será feita antes da trabalhista exatamente para primeiro enfraquecer a organização dos trabalhadores, na tentativa de minar a resistência popular a estas medidas espúrias. Dentro da “reforma” sindical existe um ponto que abrirá uma brecha para o fim de todas as conquistas dos trabalhadores brasileiros. Trata-se do princípio de que o negociado prevalece sobre o legislado. Ou seja, as negociações trabalhistas realizadas pelos sindicatos durante os períodos de data base poderão passar por cima da legislação trabalhista em vigor. Com isto a burguesia, juntamente com os oportunistas que controlam a maior parte dos sindicatos, poderão determinar mudanças ainda piores nas relações trabalhistas como o aumento da jornada, por exemplo. A “reforma” sindical FMI/Lula visa quebrar o artigo 8º da Constituição Federal de 1988, que estabelece “a livre organização profissional ou sindical”. As principais alterações propostas são: - Enquadrar as centrais em modelos ministeriais, atrelando-as ao Estado, e através de “critérios de representatividade” impor a CUT e Força Sindical como únicas centrais, ambas vinculadas totalmente ao governo. - Implantar o pluralismo, onde for conveniente para as Centrais oficiais e a patronal, com a pulverização das entidades sindicais e controle pela cúpula da central e da patronal. - Subordinar as entidades sindicais de trabalhadores ao comando da Centrais Oficiais, sob pena de perda da base e da representação, através de legislação controlada a partir da burocracia da SRT-MTE (Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego). - Intervir nos sindicatos profissionais existentes, que teriam que comprovar representatividade para continuar existindo e para ser conferida a personalidade jurídica. O objetivo é implementar um modelo sindical totalmente controlado pelas Centrais ligadas ao governo, quebrando a autonomia e independência sindical. Pela atual legislação só pode existir um sindicato para uma mesma base sindical, é a chamada unicidade sindical. Com a “reforma” o governo poderia instituir a pluralidade sindical, onde lhe conviesse, por exemplo onde existisse um sindicato combativo e aguerrido. Mesmo antes da aprovação da “reforma” sindical, passando por cima da atual legislação, a gerência Lula já realizou esta manobra. O consórcio oportunista PT-PCdoB, através da CUT, criou um sindicato paralelo dos professores das universidades federais, o que atualmente é ilegal, já que o Andes representa a categoria. Durante a última greve nacional das universidades, em 2005, o governo chamou o sindicato da CUT e não o Andes para negociar, numa tentativa de fechar o acordo que previa o aumento de 0,01% para os professores. Esta situação também se repetiu em Belo Horizonte, onde a CUT conseguiu o registro de um sindicato paralelo na categoria dos rodoviários. Sabidamente, o Sindicato dos Rodoviários de BH e região, dirigido pela Liga Operária, é um dos mais combativos do Brasil. Se a “reforma” sindical for aprovada medidas como estas se tornarão rotineira em todo o país, num total atropelo da organização dos trabalhadores. Um outro ponto da “reforma” é a limitação do direito de greve. A proposta do governo é: - Os trabalhadores ficarão obrigados a comunicar a realização das greves aos patrões com 72 horas de antecedência e com 48 horas à população. As representações de trabalhadores e empregadores serão obrigadas a negociar. As entidades que se recusarem serão substituídas por outras, também representantes das categorias em questão. Com isto o governo quer impedir a realização de qualquer movimento grevista, pois avisar os patrões com 72 horas de antecedência é colocar qualquer greve a perder. Recentemente, na crise aérea Lula afirmou da necessidade urgente de restringir o direito de greve nos chamados “serviços essenciais”, conceito tão vago que pode ser estendido para todos os ramos da produção. Nas palavras do mega-pelego: “só um governo formado por ex-sindicalistas tem autoridade para estabelecer a proibição de greves em setores essenciais”. Autoridade da traição, isto sim. As “reformas” sindical e trabalhista interessam sobremaneira à burguesia burocrática (grande burguesia local ligada à produção de mercadorias e construção de obras). A concorrência com as mercadorias chinesas, que vão dos eletroeletrônicos aos tecidos, tornase cada vez mais difícil para a burguesia burocrática brasileira. Há mesmo um processo de “compradorização” desta burguesia, que abandona a administração da produção local para se tornar importadora, compradora, das mercadorias chinesas. O nível de exploração da classe operária é tão elevado na China, que é mais barato para um burguês brasileiro importar mercadorias da Ásia para revendê-las no Brasil do que produzir aqui estes mesmos produtos. Este processo tem se intensificado na indústria têxtil e de calçados. Grandes industriais locais tem se tornado revendedores ou então aberto filiais na China, como foi o caso do grupo Cedro Cachoeira do vice-presidente José Alencar. Os portavozes da burguesia burocrática, entre eles os oportunistas do consórcio PT-PCdoB, choramingam do elevado “custo da produção” no Brasil, como se os trabalhadores aqui recebessem altíssimos salários e tivessem acesso a direitos confortáveis. Na verdade, o que estes sanguessugas pretendem com a reforma trabalhista é igualar a situação do proletariado brasileiro a atual situação da classe operária na China, para que eles possam rivalizar com os capitalistas chineses no mercado internacional. Este é o crescimento econômico defendido por Lula, o crescimento da exploração de nosso povo para benefício de um punhado de parasitas. “Reforma” da previdência Os sucessivos governos de plantão vêm atacando, ininterruptamente, a Previdência Social. O processo de desmonte mais acelerado da seguridade social, a chamada “reforma” da previdência, foi iniciado no primeiro mandato de FHC. Em 1998, com a aprovação da Emenda Constitucional nº 20, a aposentadoria no Brasil deixou de ser por tempo de serviço para ser por idade e tempo de contribuição. Dando continuidade ao desmonte da previdência, Lula em 2003 impôs aos servidores públicos a cobrança dos inativos, o corte no valor das pensões e o aumento do limite de idade para aposentadoria. Os monopólios de comunicação justificam a “reforma” da previdência alegando que o aumento da expectativa de vida da população inviabilizaria o atual modelo de seguridade social. A Previdência Social brasileira obedece o princípio da solidariedade, onde a contribuição dos trabalhadores ativos deve garantir a aposentadoria dos inativos. O que pode prejudicar este modelo não é o aumento da expectativa de vida, mas sim o crescimento do desemprego entre a população “economicamente ativa”. Como a tendência é que exista sempre um número maior de jovens e adultos, desde que exista emprego para todos não haverá problemas para a manutenção da Previdência Social. Mas mesmo com o crescimento do desemprego e o aumento da expectativa de vida não existe o tão decantado “rombo da previdência”. A Previdência Social é sustentada pela contribuição tripartite entre trabalhadores, empregadores e governo. O trabalhador já recebe seu salário com o desconto previdenciário descontado em folha. O patrão é encarregado de repassar o dinheiro do trabalhador e a sua própria contribuição para o Fundo Previdenciário. Mas acontece que muitas vezes o patrão não repassa nem a sua contribuição, nem o dinheiro que já descontou dos trabalhadores. Os maiores sonegadores são grandes empresas e órgãos públicos, como prefeituras. Em 2003, o governo FMI/ Lula anistiou uma dívida de R$ 500 milhões da Varig com a previdência social. Além disto, há uma enorme evasão de recursos do Fundo Previdenciário para outras despesas do governo, particularmente para o pagamentos dos agiotas internacionais. Através da Desvinculação das Receitas da União, o governo federal em 2004 retirou 28 bilhões do Orçamento da Seguridade Social para pagar banqueiros. Não existe rombo, o que existe é roubo da Previdência Social. Agora em seu novo mandato, Lula já fala em uma nova “reforma” da previdência, e esta de fato já começou. No dia 16 de março, foi aprovada a lei nº 11.457 que criou a Super-receita, resultado da fusão da Secretaria da Receita Federal (SRF) com a Secretaria da Receita Previdenciária (SRP). Hoje o Fundo Previdenciário está sob o controle do Ministério da Previdência e a SRP tem o poder de fiscalizar a arrecadação dos impostos previdenciários, bem como de multar aqueles patrões que não repassem a contribuição de seus empregados. Com a criação da Super-receita, haverá só um mecanismo de recolhimento e controle das arrecadações, todas elas Jornal Estudantes do Povo - 5 submetidas ao Ministério da Fazenda. A Emenda 3 à lei nº11.457 foi feita por parlamentares e vetada por Lula. Esta Emenda retira dos auditores fiscais o poder de multar aqueles que descumpram a legislação trabalhista. Claro que era um pioramento do projeto apresentado pelo governo, mas o veto a esta Emenda foi uma manobra do governo para dar uma bandeira de mobilização para a CUT e de quebra aparentar que Lula estava defendendo os direitos dos trabalhadores. Mas o que adiantará os auditores continuarem com o poder de multa se os direitos trabalhistas estão sendo todos retirados pela gerência FMI/Lula? Cresce a espoliação dos países dominados seus orçamentos com o pagamento de juros a banqueiros. O processo de endividamento público vem se agravando nos últimos anos. Ao contrário da falácia do PT-PCdoB no período eleitoral do “fim da dívida externa”, o governo brasileiro nunca deveu tanto aos banqueiros internacionais. A diferença é que hoje a dívida é em real e não em dólar, mas os credores continuam os mesmos. O próprio governo incentivou a transferência da dívida externa (em dólar), para a dívida interna (em real). O estudo da Unafisco As implicações do PAC sobre os servidores públicos, o sistema tributário e a administração pública explica este processo: vemos que em quatro anos Lula entregou aos parasitas mais que o correspondente a todo o orçamento de um ano. A proposta do governo FMI/Lula, apresentada pelo ex-ministro do regime militar, Delfim Neto, é o déficit nominal zero, ou seja, pagar todos os juros de maneira a não deixar a dívida crescer. Para atingir esta “meta” seria necessário destinar de 7 a 8% do PIB (soma de todas as riquezas produzidas no país) para os banqueiros. É o retorno à situação colonial! É a volta da derrama da coroa portuguesa, contra a qual lutou Tiradentes na Conjuração Mineira. Para atingir este déficit nominal zero será necessário aumentar a carga Impostos e dívida pública Lenin, em sua monumental obra Imperialismo, fase superior do capitalismo, aprofundou os estudos de Marx sobre o capital. Neste trabalho demonstrou que, no final do século XIX e início do século XX, o capitalismo havia ingressado em sua última fase, o imperialismo. Lenin caracterizou o imperialismo como a fase do capitalismo monopolista, agonizante e parasitário. A característica fundamental do imperialismo é a divisão do mundo entre: um punhado de nações imperialistas de um lado, e um grande número de países dominados de outro. Na fase imperialista ocorre uma importante modificação na estrutura econômica do capitalismo, as nações imperialistas deixam de ser, fundamentalmente, exportadoras de mercadorias para serem, fundamentalmente, exportadores de capitais. Lenin mostrou que há uma enorme diferença entre a Inglaterra do início do século XIX e a Inglaterra do início do século XX. Enquanto, em 1800 a maior parte dos lucros dos capitalistas ingleses provinha da venda de mercadorias para as colônias, em 1900 a maior parte do lucro provinha dos juros dos capitais exportados para os países dominados. O processo de parasitismo econômico do imperialismo se agravou ao longo do século XX. Os países dominados se tornaram grandes devedores das potências imperialistas e toda sua economia está voltada para abastecer a voracidade do capital financeiro. Em 1944, é criado o Fundo Monetário Internacional (FMI), organismo das potências imperialistas para garantir o fluxo de pagamentos dos empréstimos. Hoje em dia, os governos dos países dominados, comprometem aproximadamente 20% de seus orçamentos com pagamentos de juros das dívidas. E só estamos falando da dívida pública, isto é, aquela contraída pelos governos. Existe também a dívida da sociedade como um todo, cidadãos e setores médios da economia, que comprometem, regularmente, parte de 6 - Jornal Estudantes do Povo assalariados. Mas é de conhecimento de todos que os camponeses pobres são a massa mais explorada de nosso país, merecedoras sem dúvida alguma do benefício da aposentadoria. A proposta de Lula é retirar o benefício dos camponeses do cálculo do chamado déficit da previdência. O que aparentemente é uma artimanha contábil esconde um objetivo inconfessável: o fim ou a redução drástica da aposentadoria rural. A proposta de Lula é contabilizar os benefícios dos camponeses no Orçamento da união e não mais no Orçamento da seguridade social. Com isto as aposentadorias rurais passariam a ser meros benefícios sociais, sem nenhuma garantia de serem efetivadas. Hoje quando há um reajuste do salário mínimo, todas as aposentadorias são reajustadas automaticamente. Com esta mudança, não haveria esta indexação. Ao contrário, o volume a ser pago deveria se encaixar no tamanho do orçamento daquele ano e obedecer a Lei de Responsabilidade Fiscal, que obviamente privilegia o pagamento da dívida pública. Com as aposentadorias rurais, direito adquirido pelos camponeses, seria transformada numa grande bolsaesmola que seria distribuída de acordo com a vontade do imperialismo. Conclusão No 1º de Maio os trabalhadores reivindicavam o fim das “reformas” trabalhista e sindical “Recentemente o governo editou a MP 281 (15/02/2006), reduzindo a zero as alíquotas de IR e de CPMF para investidores estrangeiros no Brasil. As operações beneficiadas pela MP são cotas de fundo de investimentos exclusivos para investidores não-residentes, que possuam no mínimo 98% de títulos públicos federais. Após a MP 281 vem crescendo o interesse de bancos estrangeiros em filiais no Brasil em emitir bônus indexados ao real no exterior.” Para medir o grau de dominação do país não importa o montante da dívida interna ou externa, mas sim o tamanho da dívida pública e o montante pago regularmente aos banqueiros internacionais. Nos últimos doze anos, os governos de plantão enviaram 1 trilhão e 100 bilhões de reais. Somente a gerência FMI/Lula, em quatro anos, presenteou os banqueiros com R$ 600 bilhões. Mas mesmo assim, hoje, a dívida pública do governo brasileiro é de mais de 1 trilhão de reais. Este é um verdadeiro assalto à sociedade brasileira! O orçamento médio durante os três primeiros anos do governo Lula foi de R$ 548 bilhões, comparando com os 600 bilhões que ele deu para os banqueiros, tributária, mas hoje esta carga corresponde a 38% do PIB. O próprio governo considera ter chegado ao limite de impostos à sociedade. De onde retirar recursos para mais pagamento de juros da dívida? Dos investimentos? Simplesmente eles não existem, correspondem a 0,1% do PIB e não daria para atingir o déficit zero. Do orçamento das áreas sociais também não é mais possível, pois está totalmente contigenciada para atingir o superávit primário. A alternativa levantada pelo imperialismo é retirar da previdência social. Hoje o orçamento da seguridade social corresponde a 1/3 de todo o orçamento federal, algo em torno de 200 bilhões de reais para pagamentos de aposentadorias e benefícios. Todo este recurso circula na economia interna brasileira, ao contrário do dinheiro de pagamento dos juros da dívida que sai do país. A “reforma” da previdência objetiva, entre outras coisas, desviar este quinhão para o pagamento dos juros da dívida. Lula já apontou um caminho: o fim da aposentadoria rural. Na Constituição de 1988, os trabalhadores rurais foram incluídos no regime geral da previdência social, apesar de não contribuírem com o sistema, exatamente, por não serem Lenin em O Estado e a Revolução afirma que o Estado apesar de se colocar como algo acima das classes, na prática revela sempre sua essência: repressor das classes dominadas e tributador. O decadente Estado brasileiro, burguês-latifundiário e serviçal do imperialismo, representa hoje só a repressão e a tributação. E este serviço é feito para atender os interesses das potências imperialistas. Reprime as massas para deter a luta pela libertação deste sistema opressor e tributa para sustentar o sistema de dominação imperialista. A exploração do proletariado e a espoliação das nações oprimidas estão crescendo na medida que avança a crise do sistema capitalista mundial. Cresce também as tensões entre as potências imperialistas. Com a crise todas as contradições do mundo se agravam, principalmente a contradição principal, aquela que opõem imperialismo e nações oprimidas. Como catalisador e força dirigente deste processo encontra-se o proletariado, classe mais avançada da história. Só a direção desta classe poderá derrotar o imperialismo e todos os resquícios do imperialismo. Contra a crise só há uma saída rebelar-se! Contra a guerra imperialista: guerra ao imperialismo! Contra a fome e o desemprego: guerra à burguesia e ao capitalismo! Contra o latifúndio, o atraso, a semifeudalidade, a dominação semicolonial: revolução democrática ininterrupta ao socialismo! Entrevista Derrotar as “reformas” sindical e trabalhista com greve geral! O Encontro Nacional sindical, que aconteceu em São Paulo, no dia 25 de março, foi marcado pela participação de um grande número de pessoas e organizações. Ao mesmo tempo foi marcado por falta de perspectivas em relação a lutas concretas. Durante o encontro se destacou a intervenção da Liga Operária, uma das únicas organizações que propôs um plano concreto de luta que vai além de dias nacionais de manifestação: a Greve Geral! juntando aos camponeses por fim vai lograr a derrota desse sistema. Manifestação classista da Liga Operária no dia 1º de Maio JEP - Qual é a situação do movimento operário hoje? Liga Operária – De um lado a indignação, a revolta com a situação do país, com o corte de direitos, e do outro lado o predomínio do oportunismo das centrais sindicais e da maioria dos sindicatos, desses canalhas traidores, que estão aí compactuando com o governo, participando inclusive do governo, preparando essas medidas de retiradas de direitos. No 1° de maio mesmo, estiveram fazendo atos junto com o governo, junto com ministro do trabalho e outros políticos, recebendo dinheiro do governo, dos bancos e grandes empresas, para fazer shows, sorteios, enquanto o trabalhador esta submetido ao desemprego e ao maior arrocho salarial da história do país. JEP - Qual a diferença da Liga Operária para os outros movimentos? L.O. – A Liga é uma organização classista, combativa e independente, que luta em defesa dos princípios da classe operária; sua organização de forma independente, sem ilusão com as farsas das eleições. A maioria das organizações hoje, do movimento sindical, são utilizadas como trampolins eleitorais, como trampolins políticos para seus dirigentes ocuparem cargos nesse podre e genocida Estado burguês-latifundiário. JEP- na intervenção do companheiro da Liga na plenária ele colocou que a Liga Operária tem sido construída boicotando as eleições, você poderia falar um pouco mais sobre isso? L.O. – A Liga Operária parte da seguinte compreensão: que a luta econômica é necessária, os trabalhadores tem que lutar por suas reivindicações, luta por melhoria das condições de trabalho, melhores salários e etc. Agora, só isso não basta. O principal inclusive, para que o trabalhador tenha seus direitos assegurados e a sua condição de vida melhorada, é de que isto só é possível com a conquista do poder. E esse poder será conquistado através da luta classista, da luta combativa da luta direta das massas, através da aliança operário-camponesa pra conquistar um novo poder, um novo Estado. Não será participando dessa farsa que são as eleições, que são usadas de dois em dois anos pra enganar, pra iludir. E nós estamos vendo pela sucessão dos governos que não muda nada. Passou Sarney, passou Collor, passou FHC, passou Itamar, e agora Lula e o que mudou pro trabalhador? A situação é só pior. E com relação a esses deputados e vereadores, é cada um querendo roubar mais que outro, aumentar mais seus próprios rendimentos, seus ganhos, enquanto mantêm essa política insuportável de arrocho para os trabalhadores. Por isso nós acreditamos e o povo está vendo cada dia mais que essa eleição é uma farsa e não muda nada. JEP – A Liga Operária acha possível derrotar as “reformas” sindicais e trabalhistas? Por quê? L.O. – Nós achamos que é necessária uma luta dura, uma luta profunda, uma luta prolongada contra essas medidas e essas reformas que se inserem na política imperialista de cortar direitos e sugar ainda mais as riquezas do país e de escravizar ainda mais os trabalhadores. Nós acreditamos que a classe operária se organizando e impondo uma séria resistência e se JEP - Qual é a importância do Encontro Nacional para a luta contra as “reformas”? L.O. – Bom o Encontro Nacional mostrou a vontade de lutar contra isso, das bases sindicais de lutar contra essa situação. Mas mostrou também um limite, que são essas direções ainda dominadas pelo oportunismo, dominadas por aqueles que acreditam nessa farsa dessas eleições e não querem agir com contundência contra o governo, contra esse velho Estado repressor e genocida. Na verdade eles conciliam com esse Estado. E têm muitas ilusões com esse governo que está aí, com setores desse governo. Então o que ficou patente foi a falência dessa direção, a falta de perspectiva dessa direção eleitoreira e também a conciliação do Conlutas e da Intersindical com setores que estão dentro da CUT, como o caso da Corrente Sindical Classista e outros movimentos que tem cargos no governo como é o caso do MST. Na verdade, o encontro não foi a maravilha que a Conlutas e a Intersindical dizem, um encontro democrático. Ao contrário, ele não debateu nada de concreto. Os ativistas e pessoas ali presentes apenas fizeram parte de um arranjo acertado pela cúpula da Conlutas e Intersindical. Cujo objetivo foi o de fazer uma demonstração de força no objetivo de atrair as direções das forças que vacilam entre apoiar e se opor ao governo. Mas que na prática, o saldo tem sido mesmo de apoio a este governo reacionário e pró-imperialista. A direção da Conlutas,principalmente o PSTU, é muito oportunista, jogaram com o encontro nacional como fato político, nada mais. O que deveria ser uma plenária para debater e estabelecer um plano de lutas de unidade de ação, não passou de reles propaganda de Conlutas, Intersindical, PSTU e PSOL, feita de um bolorento e enfadonho palavrório sobre unidade. Como na máxima do oportunismo proferido por Bernstein (do Partido Operário Social Democrata da Alemanha) de que “o movimento é tudo, o objetivo nada”. Ou seja, para levar adiante a luta, que tanto cacarejam defender, os esforços não são para dirigir-se às massas, mas sim para se unir às direções oportunistas que não querem criar qualquer dificuldade para o governo. JEP – Qual é a proposta da Liga Operária para lutar contra as reformas? L.O. - A nossa proposta é organizar um forte movimento pelas bases, organizar os trabalhadores em cada local de trabalho para se opor aos cortes de direitos. Vemos a necessidade de fazer uma ampla campanha de denúncias, uma campanha massiva. A questão da preparação da greve geral como única forma de opor uma resistência séria a essa situação, e também a questão de não negociar, de não conciliar e de não ter nenhum compromisso com o governo. Porque a mobilização dos trabalhadores é a única forma de opor uma resistência. E as centrais pelegas que estão aí, estão inclusive com a perspectiva de receber 100 milhões justamente para compactuar e para aceitar toda essa situação de corte de direitos históricos dos trabalhadores. São instrumentos importantes para que a burguesia legitime suas políticas assassinas de super exploração como se fosse a modernização e capacitação das empresas no país para tornarem-se mais competitivas. Tudo, claro, às custas de maior exploração, arrocho salarial, destruição completa das conquistas trabalhistas, fome, doenças e miséria do povo. Jornal Estudantes do Povo - 7 Educação Revogar o Decreto de Expansão de Vagas! Diante do entravamento do PL 7200 no congresso, o governo agora, a exemplo de outras medidas que foram passadas via MP ou decretos, segue a aplicação da contra-reforma universitária do Banco Mundial de forma autoritária e antidemocrática. Para USP, os decretos do Serra, para as IFES e CEFET’s, os decretos do Lula. Todos eles com o mesmo caráter atacam a autonomia das universidades e pretendem colocar fim à educação superior pública, gratuita e nacional. Para começar, a respeito da educação brasileira, o próprio Lula declarou que “a educação no Brasil é uma das piores do mundo”, isso dito na abertura do lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação para a gestão de seu governo. Essa situação demonstra que sua gerência só seguiu as anteriores no que se refere ao sucateamento da educação. E no caso das universidades brasileiras, ninguém melhor que ele, o ex-sindicalista pelego que virou gerente do velho Estado burguês latifundiário, serviçal do imperialismo, para culminar o processo de privatização. Seu descaso com a educação é tamanho, que mesmo afirmando tal realidade, fato que é de sua inteira responsabilidade, ele anunciou um corte de R$ 609,4 milhões no orçamento da educação para o ano de 2007. Ao mesmo tempo, segue a risca a cartilha do FMI, principalmente no que diz respeito ao pagamento dos juros da dívida pública (dívida interna e externa), que neste ano será destinando 59% do orçamento federal. Além disso, o Brasil é um dos países que menos gastam com a educação superior, da América Latina. Até mesmo, um economista norte-americano, Albert Fishlow, da Universidade de Columbia, declarou que o Brasil “é o único país no mundo em que 50% dos que completam cinco anos de educação básica são classificados como analfabetos”, e que mesmo constatando que o governo Lula fez uma das piores administrações no 8 - Jornal Estudantes do Povo setor educacional, como um economista a serviço do imperialismo no nosso país, ditou as ordens do patrão, e deixou bem claro que: “infelizmente, a atenção deverá estar mais voltada para temas e problemas de curto prazo, que são muitos, e não haverá medidas decisivas”. E é assim que Lula (não) governa. Desde 2004 as universidades de nosso país têm sido agitadas por mobilizações e discussões acerca da implementação da “reforma” universitária do Banco Mundial/ Lula, de maneira sorrateira e em pedaços. Os protestos estudantis só têm crescido e radicalizado. No suor dos rostos daqueles que lutam, luzem ousadia e esperança. Essa é a têmpera que os estudantes da USP conseguiram disseminar pelo país afora, mesmo diante de toda uma campanha de difamação promovida pelo The Globe. O resultado: as reitorias da UFAL, UFMS, UFMA e várias outras também se encontram ocupadas. Várias universidades do estado de São Paulo em greve, os servidores parados e muita luta pipocando país a fora. Desmascarar os planos do governo se faz mais do que necessário, para liberarmos a rebeldia das massas estudantis, construirmos uma grande greve geral e derrotarmos os decretos contra educação pública, gratuita e nacional. E a nossa consigna, cada vez mais, deve ser: Lutar, Lutar e Lutar!!! O novo decreto de expansão de vagas nas IFES Em abril, a gerência Lula assinou uma série de decretos, entre ele o decreto n° 6096/2007, o decreto de expansão de vagas nas IFEs. Em primeiro lugar devemos ponderar que o Decreto é um instrumento autoritário, muito usado no gerenciamento militar, e agora, na crise em que se encontra o apodrecido Estado brasileiro, o oportunista Lula, mesmo sendo um civil, governa da mesma forma. Isso nos mostra o quanto o Estado capitalista necessita de fascismo e autoritarismo para resolver a sua crise econômica, política e moral. Este projeto de Decreto do MEC institui o “Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais”. O 1º art. trata do seu objetivo, qual seja: “criar condições para a ampliação do acesso à educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais”. O programa tem como meta elevar a taxa de conclusão média em cursos presenciais para 90% e de aumentar a relação estudantes/professor para 18/1 ao final de 10 anos. Isso significa que o objetivo do governo é quase dobrar os números, pois hoje a relação é de 10 para 1. E qual seria a condição estrutural para ocorrer tal fenômeno? A respeito disso, ou seja, do financiamento do Programa, o art. 7° e o inciso 2º do art. 3º, deixam claro que as IFES terão que trabalhar com o atual orçamento destinado à elas pelo MEC. O inciso 1º do art. 3º, limita os gastos com despesas de custeio e pessoal associados à expansão das matrículas, a 20% correspondentes aos recursos atuais. O inciso 2º do art. 5º prevê a liberação de “recursos adicionais” conforme as instituições cumprirem as etapas previstas no plano. Ou seja, neste projeto está decretado o fim da autonomia universitária para as IFES. Esse decreto corresponde à mais criminosa expansão de vagas, pois ao mesmo tempo que se obriga a quase dobrar o número de estudantes das universidades, não se prevê aumento de verbas, além de punir as universidades que não topam ser cúmplices de tamanha perversidade. È um ataque descarado à autonomia universitária. Desta forma seguirá a lógica do Ensino a Distância estabelecida por Medida Provisória pelo governo Lula. Temos o exemplo do México, onde mais se aprofundou a educação transnacional, liberalizando os serviços educativos após sua inserção na NAFTA e na OCDE (Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento). Neste país foram implantadas algumas universidades à distância como a Open University, do Reino Unido; a Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), da Espanha; a Phoenix University, dos EUA. Sem dúvida, esse corresponde a um ataque sem precedentes a universidade pública de nosso país. Seguir o exemplo dos estudantes da USP! À Luta contra os decretos! O desafio do movimento estudantil combativo e independente é unificar todas as lutas que ocorrem hoje organizadas por vários setores e movimentos democráticos, não governistas. Coordenar estas dezenas de reivindicações e apontar contra a principal ameaça à educação superior brasileira: a “reforma” universitária do governo Lula/FMI. Temos que continuar lutando contra a aplicação da “reforma” em cada faculdade, em cada universidade, combatendo UNE e CUT como agências governamentais nas universidades. Neste momento, o governo tenta aplicar de vez a “reforma” através deste novo Decreto. Devemos seguir o exemplo dos estudantes da USP e ocupar todas as reitorias até a revogação desses decretos antidemocráticos e danosos a educação superior. Unir aos professores e aos técnicos para defender a educação brasileira. Não aceitaremos decreto nenhum! Exigiremos mais participação em todos os âmbitos acadêmicos, e na elaboração e aprovação de todos os projetos que envolvam os rumos e os fins da universidade. Nosso espírito, companheiros, deve estar banhado de ousadia e luta, a exemplo da rebeldia dos protestos estudantis dos anos 60 onde se conseguia mobilizar e unificar vários setores da sociedade contra os ataques da gerência militar. À luta companheiros, cobremos a permanência dos nossos direitos; briguemos pelo Restaurante Universitário; pela Moradia estudantil; por melhor formação; por melhores estágios; por melhor orientação nos Trabalhos de Conclusão de Cursos; por laboratórios; por mais bolsas de pesquisa; pela contratação de professores e funcionários efetivos; por mais vagas presenciais e em condições reais nas Universidades públicas e gratuitas; pela reabertura de cargos extintos, como de cozinheiro e motorista; por paridade nas votações nos conselho; pelo voto universal para reitores e diretores de faculdades; por melhores condições físicas nas nossas universidades; pelo boicote à todas as taxas; contra as Diretrizes de cursos de caráter tecnicista e mercadológico, entre outras lutas que surgirão e daremos a resposta. Tomemos as ruas, as praças, as escolas, as faculdades, os conselhos, as reitorias, e causemos o caos na universidade! Romper com o velho que persiste em permanecer com aparência de “novo”! Lutemos pela democracia na universidade e nas escolas, façamos das mesmas, caixa de ressonância do protesto popular. Lutemos pela unificação de todos os setores que estão na luta pela permanência de direitos conquistados, frutos do sangue vertido de muitos estudantes, intelectuais honestos, operários e camponeses, e que o governo pretende usurpar demonstrando o seu verdadeiro caráter de um excelente gerente desse Estado podre, corrupto e decrépito, serviçal do imperialismo, da grande burguesia e do latifúndio. E para derrotar essa “reforma” o único caminho que temos é o da greve geral nas universidades. Estudantes, professores e funcionários ocuparmos as universidades no país inteiro, desenvolvermos as lutas combativas e controlar as universidades! Companheiros, se o presente é de luta o futuro será nosso! Um breve histórico da “reforma” universitária Em 2003 a gerência FMI/Lula publica um documento com o nome “Gastos Sociais do Governo Central” aonde ele aponta os estudantes como uma classe privilegiada e a universidade como um dos principais sorvedouros de verba. Ou seja, os oportunistas consideravam que o governo gasta dinheiro demais com a universidade. Ainda no mesmo ano o governo realiza um seminário copatrocinado pelo Banco Mundial e Unesco onde são apresentadas as diretrizes para a dita “reforma” universitária! Em 2004 o governo começa a aplicação da “reforma”. Aprendendo dos Documentos do Banco Mundial, decreta via Medidas Provisórias vários pontos aparentemente isolados um do outro e não um pacote com todas as medidas reacionárias. Essas Medidas Provisórias são o Programa Universidade para Todos (ProUni), a Lei de Inovações Tecnológicas, o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior e a regulamentação das Fundações Privadas. Além desses pontos, os outros pontos dessa contra reforma desde 2004 são: 1) reservas de vagas para estudantes da rede pública, indígenas e afrodescendentes (ações afirmativas); 2) as Parcerias-Público-Privada (PPP’s), o exemplo mais catastrófico foi a queda do metrô de São Paulo; 3) a obrigatoriedade do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), antes opcional; 4) a criação de uma loteria para financiar a ampliação das universidades federais; 5) a criação de um ciclo básico nos cursos de graduação, que prevê o estudo de dois anos em disciplinas gerais, depois o estudante pode optar por um curso profissionalizante. 6) além, das reformas curriculares, que enxugam a grade curricular, tornando os cursos mais tecnicistas, menos onerosos e servindo aos interesses do mercado; 7)a garantia de 30% do ensino para o capital estrangeiro; Em 2006, o governo encaminha o projeto de lei 7200, na qual legisla sobre o financiamento, e retira verbas dso Hospitais Universitários. Em 2007, decreta a expansão de vagas e o fim dos CEFET’s. Essa é a tentativa de aplicação do plano perverso de privatização do ensino superior e do domínio da produção científica nacional pelos monopólios do mercado controlados pela grande burguesia, pelo latifúndio, a serviço do imperialismo, principalmente norte-americano. A ação do Banco Mundial “El Banco Mundial está firmemente empenado em seguir prestando apoyo a la educación. Sin embargo, aunque el financiamento del Banco representa actualmente alrededor de la cuarta parte de toda la ayuda a la educación, sigue cubriendo apenas alrededor de la mitad del 1% del banco Mundial debe consistir em educación. Por conseguiente, la contribución principal del Banco Mundial debe consistir em asesoramiento que tenga por objeto ayudar a los gobiernos a formular políticas educacionales adequadas para las circunstancias de sus propios países”. (Prioridades e Estratégias para la Educacion, Estudo sectorial del Banco Mundial. Maio de 1995) Segundo a declaração do próprio Banco Mundial em “O BM e o Ensino Superior: Lições derivadas da Experiência” (1994): “as universidades públicas, gratuitas, assentadas na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão não servem para a América Latina.” Inclusive, os pacotes do Banco trazem como condicionante o fim da gratuidade do ensino superior. A política de ajuste do Banco Mundial para a educação, tem como objetivo principal a retirada das universidades do âmbito das políticas públicas. Desta forma, o Estado se isenta da responsabilidade de promover a produção de conhecimento estratégico, o que resulta no agravamento da situação semi-colonial dos países dominados. Todas essas políticas de ajustes estruturais do Banco Mundial e do FMI, como a implementação de todas as “reformas”, tem um objetivo central, garantir o pagamento dos juros da dívida. Esses acordos interferem profundamente na soberania nacional, inclusive levando o governo a alterar a própria Constituição no intuito de atender os interesses previstos nos acordos. Jornal Estudantes do Povo - 9 Lula Lula decreta decreta oo fim fim dos dos CEFET’s CEFET’s Tecnológico. Com a transformação em IFET’s as verbas vindas da SESu serão cortadas. Além do que, segundo a lei n° 11.195, de novembro de 2005, a “oferta de educação profissional, mediante a criação de novas unidades de ensino por parte da União, ocorrerá, preferencialmente em parceria com Estados, Municípios, Distrito Federal, setor produtivo ou ONG’s, que serão responsáveis pela manutenção e gestão dos novos estabelecimentos de ensino.” Ou seja, o governo federal fica desobrigado de arcar com os custos da educação técnica federal nas novas instituições criadas a partir de 2005. Governo quer formar apenas apertadores de parafuso No dia 24 de abril, Lula assinou o decreto n° 6095/2007 que acaba com os CEFET´s e todas as escolas técnicas federais e cria os chamados IFET’s (Instituto Federal de Educação Técnológica). A verdade é que Lula tenta completar aquilo que Fernando Henrique Cardoso não conseguiu por causa das pressões das comunidades cefetianas por todo o país: extinguir o ensino médio vinculado ao técnico e transformar os CEFET’s em grandes SENAI’s. O decreto nº 6095/2007 Segundo o documento, o decreto nº 6095 tem o objetivo de estabelecer “diretrizes para o processo de integração de instituições federais de educação tecnológica em Instituições Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – IFET”. E logo no artigo 1° já está bem claro, o MEC “estimulará”, leia-se pressionará o processo de reorganização das instituições. O artigo 4°diz que uma vez realizada a transformação, as Instituições deverão apresentar o Plano de Desenvolvimento Institucional integrado, de acordo com o artigo 16° do Decreto n° 5773 de maio de 2006, que dentre outras questões coloca como obrigatoriedade até um plano de educação à distância. O PDI é parte da aplicação da contra-reforma universitária que fere a autonomia das instituições Federais de Ensino. No artigo 5º obriga as instituições aplicarem 50% das verbas governamentais: 1) na educação 10 - Jornal Estudantes do Povo profissional técnica de nível médio “prioritariamente em cursos e programas integrados ao ensino regular”; 2)na formação inicial e continuada de trabalhadores (tipo SENAI) e 3) no âmbito do PROEJA (jovens e adultos), cursos e programas de formação inicial e continuada de trabalhadores e de educação profissional e técnica de nível médio. Repare que está aberta uma brecha para a não existência do curso técnico integrado com o médio, pois prioritariamente não significa obrigatoriamente. É importante destacar que a direção da escola poderá escolher como ela aplicará esses 50% nesses 3 pontos. Além dos 50%, 20% das verbas tem que ser aplicadas em cursos de licenciatura e em formação pedagógica dos professores. Outro ponto importante é que não é obrigatória nenhuma verba para os cursos de graduação compreendendo bacharelados de natureza tecnológica e cursos superiores de tecnologia. Segundo o artigo 11°, o reitor e o vice-reitor do IFET serão escolhidos diretamente pelo presidente da república. E os diretores de cada campus serão indicados diretamente pelo reitor. A grande questão é que o governo não fala como será a distribuição de verbas, e como ficará as verbas das escolas que não topem participar da integração. Uma coisa é certa, os CEFET’s, hoje, recebem verbas de duas secretarias ligadas ao MEC, a Secretaria do Ensino Superior (SESu), Secretaria do Ensino Profissional e Um breve histórico das políticas para os CEFET’S Em 1996 é aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira. Passando a perna nos movimentos de professores e estudantes, o Governo FHC/FMI manobra, e utilizando da figura de Darcy Ribeiro (antropólogo e educador) sintetizador do projeto, troca o documento proposto por esses setores e aprova outro projeto de acordo com as reivindicações imediatas do imperialismo para o nosso país. A LDB impôs a responsabilidade da educação infantil e fundamental para os municípios, do ensino médio para os estados, e do ensino superior para o governo federal. O ensino técnico ficaria sob a responsabilidade da sociedade (leia-se: privatização do ensino técnico) No mesmo ano através do Decreto nº2208, FHC desvinculou o ensino técnico do ensino médio, antes integrados e juntamente com o corte de verbas, sucateamento e a adoção de políticas de fundações para arrecadar dinheiro, o governo deu mais um passo para a extinção do ensino médio integrado ao ensino técnico. Durante a gerência Lula, diante da resistência dos CEFET’s o governo Lula publicou um Decreto n° 5224/ 2004 que tornou a separação do ensino médio e do ensino técnico facultativas. Mas como Lula se fez mestre na arte de ludibriar mostrou que o tal decreto foi apenas mais uma artimanha para a gerência Lula ganhar fôlego e lançarse novamente a ofensiva contra os CEFET’s. Com o decreto n° 6095/ 2007 o decreto n°5224 perde a sua validade. Lutar contra o Decreto Está claro que o decreto de Lula vem para acabar de vez com o CEFET’s que conhecemos hoje. Uma escola que oferece um ensino médio de qualidade com formação profissional, cientifica e prática em que o os jovens do povo tem acesso e geralmente conseguem chegar na universidade. Hoje existem cerca de 33.000 estudantes cursando o ensino médio nos CEFET’s. Mas para Lula deve ser muito, para os jovens do povo existem as escolas de aprovação automática Os decretos abrem as brechas necessárias para a privatização e para extinção do ensino médio e para transformação do CEFET´s em grandes SENAI’s e escolões de professores de educação básicas via ensino à distância. O que o governo pretende é cortar mais verbas da educação para encher cada vez mais as burras dos banqueiros internacionais de dinheiro. Além de criar SENAI’s (que geralmente são sustentados por empresários e industriais) financiados por dinheiro público para a fromação de mão de obra barata. O ensino tecnológico e científico, só é possível com a integração do ensino médio com o ensino técnico. Em um curso técnico integrado com o médio há necessariamente uma modificação das grades curriculares para as matérias do ensino médio servirem de base para as matérias do curso técnico. Enquanto nas escolas públicas estaduais e municipais se aprende conteúdos de matemática tradicional e formalmente, no sistema do técnico integrado com o médio, a aprendizagem da matemática é uma necessidade, chegando ao ponto de nos CEFET os estudantes estudarem até os fundamentos do cálculo superior. Essa adequação da grade eleva muito a qualidade do ensino possibilitando uma melhor qualidade na educação. Desta maneira se impõe a necessidade de reorganizarmos o movimento estudantil dos CEFET’s, resgatarmos o Intercefet, histórico encontro dos estudantes das escolas técnicas federais, e construirmos uma grande luta nacional pela revogação destes decretos. Movimento Estudantil Carta do IX Forúm Nacional de Entidade de Pedagogia Viva a ocupação da USP! O IX FONEPe- Fórum Nacional de Entidades de Pedagogia, foi realizado nos dias 05 a 08 de maio de 2007 em Viçosa-MG, com a partição de mais de 200 estudantes de delegações do Rio de Janeiro, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Bahia, Espírito Santo e Brasília. Este fórum foi marcado por um intenso espírito de luta. Ocorreram debates sobre a conjuntura política nacional e a Reforma Universitária, elevando a consciência de todos presentes sobre a necessidade de erguemos uma grande jornada de lutas, barrando a extinção do curso de Pedagogia promovida pelas Diretrizes Curriculares Nacionais e o processo de privatização da universidade brasileira, expresso na implementação da Reforma Universitária. Os relatos das delegações presentes no fórum demonstram que por todo país os estudantes se levantam em grandes manifestações em defesa de uma educação publica e gratuita. Como no Rio de Janeiro, onde mais de 5.000 estudantes pararam a capital em defesa do Passe-Livre. E no Espírito Santo, quando em 2005, através de diversas manifestações, os estudantes obrigaram os empresários do transporte e a Prefeitura a revogar aumento abusivo nas tarifas. O IX FONEPe- Fórum Nacional de Entidades de Pedagogia foi marcado por uma intensa luta em torno do aumento da unidade no movimento estudantil de Pedagogia, através da construção de um plano nacional de lutas que sirva como preparação para deflagração da Greve para revogar as Diretrizes Curriculares Nacionais da Pedagogia, ditadas pelo Banco Mundial. No ano passado a aprovação da Greve para revogação das Diretrizes foi um importante passo, no entanto, nossa baixa organização impediu que alcançássemos nossos objetivos.Saímos deste FONEPe com um plano nacional de desenvolvimento da luta e o compromisso de cumpri-lo,criando em cada faculdade as condições para deflagração da Greve para derrotar as Diretrizes do Banco Mundial e barrar a aplicação de mais uma medida da “Reforma” Universitária. Devemos seguir o exemplo dos estudantes das Universidades Estaduais de São Paulo, que estão organizando um grandiosa luta, através de assembléias e paralisações, contra os cortes de verbas e o desrespeito do Estado a autonomia destas universidades. Vamos companheiros, organizemos a luta em defesa da educação publica gratuita em nosso país. Ousemos derrotar os planos mercantilistas do Banco Mundial para a educação brasileira. Há mais de 50 dias que os estudantes da USP estão ocupados na Reitoria da universidade.Areivindicação dos estudantes é a revogação dos decretos assinados pelo governador de São Paulo, José Serra, no dia primeiro de janeiro, e que fere diretamente a autonomia universitária. Essa luta tem se mostrado a mais importante dos últimos tempos. Quanto tempo que não víamos em nosso país uma luta que repercutisse por combatividade e duração! Os estudantes montaram barricadas, se organizam em comissões de limpeza, propaganda, etc. e estão por fora dos setores governistas e/ou eleitoreiros do movimento como a Une e a Conlute. E mais do que isso, a ocupação da USP como uma faísca que incendeia a lenha seca se espalhou primeiro pro todo estado de São Paulo e depois por todo o país. Desta forma até o fechamento desta edição se encontram ocupadas no nosso país dezenas de reitorias e prédios administrativos! Companheiros do MEPR de várias partes do país estiveram presentes na ocupação e pudemos ver de perto essa importante luta e termos mais uma confirmação de que a ocupação da reitoria da USP é um acontecimento de grande importância em nosso país e da justeza dessa luta. Ao mesmo tempo que mostra a possibilidade de organizar grandes lutas estudantis aponta o caminho para derrotarmos as “reformas” do imperialismo nas universidades, que hoje se manifesta nos decretos de Lula e de Serra: generalizar ocupações de reitoria por todo o país e desenvolver uma grande greve combativa! Viva a ocupação da reitoria da USP! Viva as ocupações de reitorias por todo o país! Abaixo a “reforma” universitária do governo Banco Mundial/Lula! Assembléia dos estudantes da USP Banquinha do MEPR na USP Manifestação dos estudantes das universidades paulistas. Jornal Estudantes do Povo - 11 28 de Março, Rio de Janeiro: A TEMPESTADE ESTUDANTIL! 14 de março: assembléia do movimento estudantil carioca, cem pessoas, os principais grêmios da cidade reunidos. Em virtude da decisão do tribunal de justiça, que julgou inconstitucional o passelivre, esse encontra-se seriamente ameaçado. E basta a decisão do judiciário ser publicada em diário oficial para que a lei do passe livre deixe de existir. Decisão: manifestação unificada em 28/03, dia do estudante, no centro do Rio de Janeiro. 22 de março: publicada no Diário Oficial a inconstitucionalidade da lei do passe-livre para estudantes, idosos e deficientes físicos. O número de pessoas diretamente atingidas ultrapassa 1,3 milhão. 23 de março: enquanto todos os partidos eleitoreiros e suas entidades esperam pacientemente pelo 28/03, o movimento estudantil revolucionário faz aquilo que todo estudante via necessidade de ser feito: responde imediatamente. Pela manhã, saindo do Instituto de Educação, uma manifestação convocada na hora percorre toda Tijuca (local de maior concentração de colégios da cidade) e encaminha-se até a prefeitura, contando algo próximo a mil estudantes. Pela tarde nova manifestação, dessa vez concentrada em frente ao Instituto de Educação. Confronto com a polícia um professor tem um braço quebrado por um PM. Repercussão por toda cidade. Resultado: o Rio está um barril de pólvora, suspenso no ar. O dia 28/03 ninguém duvida, será a maior manifestação de rua dos últimos anos. “já viste da beira do cais o vento noroeste se despenhar sôbre a cidade e o mar, levar embarcações, destracar navios, mudar o rumo dos transatlânticos, transformar a cor das águas? É rápido, inquietante,belo, quase irreal. Dura um instante na medida do tempo. Mas, mesmo depois que o noroeste passa e volta a calmaria, fica a sua lembrança e é impossível esquecê-lo porque tudo mudou na face das coisas: é outra a fisionomia do cais e o ar que se respira é mais puro”... (Jorge Amado, em “O ABC de Castro Alves”) Zum-zum-zum, expectativa, coração acelerado. Minutos tornam-se horas, horas tornam-se minutos novamente. Tudo é muito rápido, muito intenso, muito tudo. Segundo a mídia são cinco mil estudantes, segundo o efeito são muito mais. Em cima de um trio elétrico disputam espaço todas as variadas espécies representantes de toda fauna oportunista. Fazem o que lhes é possível para anestesiar o mar de gente que toma as ruas, a despeito da “ordem” de permanecer em meia pista. Como o discurso dos futuros deputados não surte efeito são os atuais mesmo que tomam a palavra e aí o efeito é estrondoso: estrondosas vaias fazem sacudir os prédios, os mesmos prédios dos quais vem papel picado, 12 - Jornal Estudantes do Povo na tradicional saudação dos trabalhadores à juventude rebelde. Ainda no carro de som diversos grêmios são impedidos de falar. Só têm direito à voz quem quer calar a massa. Não adianta: os estudantes logo reconhecem que aqueles que falam do alto do trio nunca ultrapassaram certos limites e que esses limites são demasiados estreitos. Mais: que não há limites para juventude. Ainda: que é no chão, com bandeiras vermelhas nas mãos e palavras-de-ordem combativa nas bocas que está a sua referência, a sua direção, aqueles outros estudantes que, como eles, sabem que há muito mais por fazer. Feito o encontro, nada mais seria como antes. O tribunal de justiça é feito em estilhaços. O carro de som vai embora, tendo falhado a polícia ideológica é melhor (para eles, claro) deixar o trabalho para a polícia fardada mesmo. A assembléia legislativa tem sua frente tomada. Vem a tropa de choque. A juventude ao invés de se esconder, volta para as ruas, conscientemente organizada e incrivelmente disposta, faz com que a tropa de choque recue, volte, novamente recue até a sua retirada total, representando no teatro da vida o papel que caberá no futuro a todos aqueles que como vampiros sugam o suor e sangue de nosso povo até sua última gota. As pedras e cocos destroem um microônibus da PM, a viatura do The Globe e mais seis bancos. Barricadas são erguidas. O povo aplaude. Enquanto isso a polícia prende, espanca e atira nos estudantes que ficaram na assembléia, esperando o desfecho “pacífico” da manifestação. Todos comprovam com seus próprios olhos que não há outra forma de nos defender que não seja atacando. Esse foi o grandioso 28/03, a resposta dos estudantes à altura do ataque contra eles desferido. Mas não obstante a envergadura, qualidade, efeito, esse foi apenas o começo. Por quê? Porque a atual batalha pelo passelivre marca o reencontro, o tão aguardado, necessário, o avassalador reencontro da juventude com o movimento estudantil revolucionário brasileiro. Porque é precisamente nesse momento de luta, de “fogo alto” que os estudantes descobrem quem está a seu lado e quem está contra eles, em quem confiar e contra quem combater, que bandeira erguer e contra quem voltar essa mesma bandeira. Porque um dia de guerra ensina mais que dez anos pacíficos inteiros. É precisamente nessa jornada que muitos despertarão, levantarão suas cabeças pela primeira vez e começando a lutar por seus legítimos direitos descobrirão, outros comprovarão que desse podre e corrupto Estado de grandes burgueses e latifundiários, serviçal do imperialismo, nada podemos esperar senão balas de sua polícia; que com sua imprensa vendida, seus juízes, seus deputados, suas armas, eles se mostram fortes e inatingíveis mas que, na realidade, a força está conosco, com os estudantes e os trabalhadores e a justiça a faremos nós por nós mesmos. E ainda, aprenderemos o que é a traição, o que são aqueles que se dizem estudantes, mas que gastam todas as suas forças para combater, não o Estado sanguinário, mas aqueles que se organizam para enfrentá-lo, a UBES que defende o meio passe por todo o país (e que no Rio nega de pés juntos!) e todos os partidecos eleitoreiros que com toda sua pompa, seus discursos, alguns dizendo serem mesmo “revolucionários” ou “socialistas” mas que, no fim das contas, se unem como um só na vã tentativa de esganar o grito e a rebeldia que como pólvora se alastra pela juventude e que terminará por demolir a todos eles. O 28/03 produziu a fusão da atualidade com a História: desde que aquela geração brilhante de 68 deixou de ocupar as ruas muito se falou sobre ela, muitos falaram em seu nome e eis que finalmente ela reaparece como uma torrente irresistível e poderosa, tomando o céu de assalto, apagando o que estava antes e antecipando o que viria depois. A juventude pode tudo e deve tudo. Isso nos aponta a juventude da França, da Grécia, do Iraque e da Palestina, isso nos provaram os Honestino Guimarães, Helenira Rezende, Bacuri, Edson Luis, todos os heróis de 68 os quais honraremos e vingaremos tal como eles vingaram e honraram os heróis de sua época: com luta nas ruas, com vitória. Mas não se pode pensar que vitórias acontecem e se afirmam suave, serenamente. Não há e não pode haver qualquer tipo de desenvolvimento dessa forma. Toda a luta do movimento estudantil do Rio de Janeiro nos últimos anos tem sido a mais encarniçada luta entre o velho e o novo movimento estudantil, luta que não pode ser decidida senão pelos próprios estudantes através do fortalecimento do trabalho colégio por colégio, sala por sala. Manifestações como o 28/03 são importantes pois revelam, de uma só vez, de que lado estão a polícia, os “governantes”, a “justiça”, etc., e, mais que isso, revelam para os estudantes que organizados eles podem tudo. Mas não basta: sem que existam espaços de discussão, de decisão, sem que existam fortalezas do novo movimento estudantil, que sustentem a luta contra tudo que é velho, falido, ainda, sem que tenhamos objetivos claramente traçados e determinação a alcançá-los custe o que custar, sem essas condições a luta não conseguirá manter sua continuidade, continuidade essa indispensável na contraposição do caminho democático-revolucionário ascendente ao caminha burocrático reformista decadente. E não se trata aqui de tamanho, estrutura ou força aparente. Por mais que o caminho eleitoreiro, oportunista, pareça em determinados momentos hegemônico e o caminho revolucionário, transformador, esteja ainda se afirmando o primeiro será sempre decadente e o segundo sempre ascendente. Por quê? Porque o fim do passe-livre aonde esse parecia “assegurado” (embora até agora as empresas não tenham tido coragem de barrar os estudantes), a inexistência mesmo desse direito na maior parte do país, a situação deplorável da educação pública, enfim, é a isso que nos conduziu o caminho da conciliação. E os estudantes sabem e saberão enxergar isso. Sabem e saberão enxergar a que décadas de passeatas medíocres na sua “irreverência” ou “irreverentes” na sua mediocridade nos conduziu. Sabem e saberão que direitos não se conquistam ou se mantém em gabinetes, mas nas ruas e somente nelas. Sabem e saberão quem os chama a se ajoelhar e quem os chama a seguir em frente. No dia seguinte ao ato de 28/03 a UBES produziu uma outra manifestação que também se dirigiu a assembléia legislativa e chegou lá, se ajoelharam nas escadarias (acreditem se quiser!!)! Mais que isso: parecia não ser contra os empresários que protestavam, mas sim contra os próprios estudantes que no dia anterior pararam a cidade, ao ponto de um diretor da Ubes dizer que “ quem está certo não precisa tapar o rosto” ( referência aos jovens que protegeram com camisas suas identidades do apetite da repressão). O que podemos responder se os fatos já o fizeram? Haviam 200 pessoas nessa “manifestação” (ou seria procissão?)... Parece que aqui os estudantes já souberam qual caminho seguir. E se aqui foi o caminho da luta e não o da conciliação o que prevaleceu, não resta dúvida que como uma tempestade será esse o caminho que inundará o país inteiro. Lutas Lutas 28 de março em Belo Horizonte: Passe Livre Já! 28 de março em Porto Velho, Rondônia Manifestação contra a transposição do Rio São Francisco em Recife, Pernambuco Dia 28 de março em Uberlândia: 120 estudantes pelo passe livre 04 de maio em Goiânia: pulão na roleta dos ônibus Jornal Estudantes do Povo - 13 Revolução Agrária O Despertar de um Novo Dia para o Movimento Camponês Combativo “Juramos pelo sangue derramado dos nossos companheiros na fazenda Santa Elina, levar a qualquer custo a luta pela terra, pela democracia, justiça e trabalho até a vitória final”. (Juramento feito pelos resistentes da Batalha de Santa Elina, assumido pelos continuadores da luta de Santa Elina e fundadores da LCP) A luta pela terra vem se desenvolvendo com uma intensidade política sem precedentes na história do Brasil. Em decorrência da organização crescente dos camponeses, que tem na Liga dos Camponeses Pobres um referencial de direção justa e conseqüente, e devido à existência da contradição principal, a mais aguda em nossa sociedade, a que opõe camponeses pobres sem terra ou com pouca terra e latifundiários, o patamar da luta de classes no campo tem assumido contornos e dimensões bem definidas. E essa luta desenvolvida de forma heróica pelos camponeses, a Revolução Agrária, tem proporcionado uma transformação radical nas condições objetivas e materiais de vida das massas pobres, submetidas ao julgo do imperialismo, do capitalismo burocrático e principalmente, do latifúndio. A partir da destruição do latifúndio e entrega das terras aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra, as massas têm conquistado o sagrado direito de trabalhar e ter uma vida digna, junto com a sua família e com todos aqueles que lutam pelo despertar de um novo dia. Com a libertação das forças produtivas do campo nas áreas conquistadas pelos camponeses pobres, novas relações de produção têm sido desenvolvidas. Nas áreas dominadas pelo latifúndio, predominam relações de produção baseadas na exploração e na miséria do homem do campo. Nas áreas libertadas, nas quais os camponeses pobres tem desenvolvidos estas novas relações de produção, as formas 14 - Jornal Estudantes do Povo cooperadas substituem a produção individual. Desde os Grupos de Ajuda Mútua, forma elementar de organização da produção cooperada tendo em perspectivas formas superiores, os camponeses tem demonstrado que é possível organizar a vida social de maneira revolucionária, gestando a partir de agora, os embriões da sociedade do futuro. O exercício do poder político nas áreas revolucionárias tem sido um passo importante e central no curso da Revolução Agrária. As massas camponesas estão, gradativamente, elevando seu grau de consciência, e desta maneira, tem decidido sobre todos os aspectos relacionados à sua vida cotidiana – suas manifestações culturais; seu sistema de autodefesa; a construção da Nova Escola Popular, alicerçada nos princípios da investigação científica, luta de classes e produção, além da organização de um sistema popular de saúde, com ênfase nos aspectos preventivos e curativos. Além disso, o avanço da luta de classes no campo se dá na medida em que os camponeses vão eliminando todos os espaços de influência e domínio do latifúndio. No futuro isso se dá com o desenvolvimento de um quarto pilar da Revolução Agrária que corresponde à estatização das grandes empresas capitalistas rurais e o controle de sua produção e gestão pelos camponeses, nas áreas conquistadas e libertadas. A resposta dos que exploram “O Estado é um órgão de dominação de classe, um órgão de submissão de uma classe por outra; é a criação de uma ordem que legalize e consolide essa submissão, amortecendo a colisão de classes”. (Lênin, O Estado e a Revolução, pg. 25) A resposta dada pelo Estado tem sido criminalizar e combater sistematicamente a organização combativa dos camponeses pobres, em uma tentativa de intimidar a luta justa desenvolvida em especial, pela Liga dos Camponeses Pobres. Vários acontecimentos no Estado de Rondônia têm expressado o verdadeiro papel assumido pelo Estado latifundiário burguês – de ser uma força especial de repressão a serviço da grande burguesia e dos latifundiários. Em uma tentativa de criar um ambiente favorável diante da opinião pública, que legitimasse o ataque aos camponeses pobres, o jornal Folha de Rondônia publicou uma manchete de capa, no dia 18 de fevereiro, que acusava “LCP aterroriza Jacinópolis”. Matérias com o conteúdo idêntico foram veiculadas, dias depois, no jornal Estadão do Norte. Acusavam os camponeses de cometerem crimes ambientais, de realizar treinamento de guerrilhas, enquanto escondem os crimes hediondos cometidos pelo latifúndio em diversas regiões do estado. Era o prenúncio de uma ação arquitetada pelo o latifúndio para reprimir, com o auxílio da polícia militar e civil os camponeses que lutam pelo direito a terra. Na madrugada do dia 21 de março houve mais um crime contra camponeses pobres em luta pelo sagrado direito à terra. Cerca de 12 caminhonetes cheias de policiais civis e militares invadiram o distrito de Jacinópolis, no município de Nova Mamoré, noroeste de Rondônia promovendo verdadeiro terror. Policiais de Porto Velho fortemente armados invadiram brutalmente as casas de três camponeses. Os policiais sem mandado de prisão, invadiram a casa do administrador do distrito que foi preso e algemado, estouraram com uma bomba a porta da casa do camponês Sebastião. Ambos são moradores da área desde o início da colonização em 2000. O camponês Delci Francisco Sales também teve sua casa invadida, foi arrastado por policiais para um córrego próximo onde foi espancado e torturado com afogamento durante horas. Logo depois a polícia também atacou o acampamento José e Nélio, que fica na fazenda Condor, na linha 03, latifúndio de 45 mil alqueires. O camponês Delci foi levado para a cidade de Buritis onde continuou sendo humilhado, a polícia desfilou pelas ruas com ele preso numa caminhonete como se fosse um animal. Esta operação em Jacinópolis já estava sendo maquinada pelo latifúndio e seus agentes. Na madrugada do dia 23 aconteceu mais uma página triste da história da luta pela terra no Brasil, o camponês conhecido como “Camarão” foi assassinado quando saia do acampamento José e Nélio na linha 03 a 9 km do distrito de Jacinópolis noroeste do estado de Rondônia. O camponês, que saiu ás 5:40 hs do acampamento, quando se deslocava para a cidade de Buritis foi vítima de emboscada feita por bandos armados do latifúndio, seu corpo foi encontrado por moradores algumas horas depois na estrada cravado de balas. Também no dia 23, na sede da Liga dos Camponeses Pobres em Jaru, jagunços fizeram ronda durante todo o dia na tentativa de intimidar e assassinar ativistas do movimento. Em outro acampamento de Rondônia, Flor do Amazonas, localizado na Fazenda Urupá, cerca de 50 km de Porto Velho, em Candeias do Jamari, onde vivem 257 famílias, o camponês Geraldo Pereira dos Santos, foi preso porque ele teria cometido o crime, contra o meio ambiente, de ter caçado uma cotia, para comer. A fome não é crime, mas comer uma cotia, sim! E como se não bastasse, a polícia o mandou diretamente, sem conversa, e muito menos sem julgamento, para o presídio Urso Branco, de onde ele conseguiu sair somente 10 dias depois. R e s i s t i r, l u t a r, construir o Poder Popular! “Com efeito, a expansão atual do movimento camponês constitui um acontecimento colossal. Dentro de pouco tempo, centenas de milhões de camponeses das províncias do centro, do sul e do norte da China se levantarão como uma tempestade, um furacão, como uma força impetuosa e violenta que nada, por poderoso que seja os poderá deter. Romperão com as amarras e se lançarão pelo caminho da liberdade. Sepultarão a todos os imperialistas, caudilhos militares, funcionários corruptos e déspotas locais. Todos os partidos e camaradas revolucionários serão submetidos a prova perante os camponeses e terão que decidir de que lado se colocam. Há três alternativas: marchar à frente dos camponeses e dirigi-los? Ficar atrás deles, gesticulando e criticando? Erguer-se diante deles para combatê-los? Cada chinês está livre para escolher dentre essas três alternativas, e os acontecimentos forçarão a gente a fazer rapidamente a escolha “ Mao Tse-tung “Relatório sobre uma investigação feita no Hunan a respeito do movimento camponês, em Obras Escolhidas, tomo. 1, p. 19-20. Enquanto uma forma de se solidarizar, mas, sobretudo, apoiar politicamente a justa luta dos camponeses pobres pela terra, ocorreu no Auditório Central da Universidade Federal de Rondônia, no dia 05 de março, um Ato Público contra a criminalização do movimento camponês em Rondônia. Era uma resposta política necessária, em que os democratas, intelectuais honestos, estudantes do povo, trabalhadores, advogados, camponeses, entidades sindicais dariam as calúnias levantadas pela imprensa local, vinculada ao latifúndio e as classes dominantes do estado de Rondônia. Dele participaram mais de 150 pessoas. Entre elas estiveram presentes camponeses de várias áreas do estado, juntamente com o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos – Cebraspo, que convocou o ato. Além de representantes da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia – LCP, camponeses de Jacinópolis deram depoimento sobre o cerco policial ao acampamento e a violência da polícia contra as famílias, o que desmente a campanha da imprensa contra a LCP. Participaram ainda ativistas de outros movimentos de luta pela terra; a vicereitoria da Unir; representante da Associação dos Docentes da UNIR - ADUNIR; o professor da Unir, Clodomir dos Santos de Moraes; representante do Movimento Estudantil Popular Revolucionário MEPR; representantes do Centro Acadêmico de Medicina, Pedagogia e História, Ciências Sócias e Geografia; o advogado Ermógenes Jacinto de Souza, membro do Núcleo de advogados do Povo –NAP; representante do Sintunir- Sindicato dos Técnicos da Unir; diversos estudantes e professores da Unir; jornalistas honestos; representantes de sindicatos e associações de bairro e demais apoiadores. O objetivo do ato foi denunciar a criminalização do movimento camponês em Rondônia, especialmente os abusos e perseguições cometidos pela polícia e órgãos de imprensa a serviço do latifúndio a luta dos camponeses da região de Jacinópolis, município de Nova Mamoré. Os participantes do Ato aprovaram ao final dos debates três resoluções importantes: 1. O lançamento de uma carta que denuncia os casos recentes de perseguições e conclama a todos os progressitas a repudiar tais acontecimentos. 2. A continuação da campanha de solidariedade pela libertação do companheiro Wenderson Francisco, o Ruço. 3. A conformação de um Comitê de apoio, em Porto Velho, que reúna simpatizantes e apoiadores para prestar solidariedade e fortalecer a luta dos camponeses por terra, justiça e uma Nova Democracia. Por fim, a realização do Ato Público, em que vários setores democráticos da sociedade estiveram envolvidos, além da participação massiva dos estudantes que servem ao povo de todo coração evidenciou que o desenvolvimento da Revolução Agrária tem criado as condições objetivas de estabe-lecimento de comitês de apoio nas cidades. E apesar do combate sistemático do latifúndio e do seu braço político – o Estado, os camponeses têm marchado firmemente e desferido golpes poderosos contra a exploração que assola o campo. Tem resistido, luta e construindo, dia a dia, o verdadeiro Poder Popular! Grande vitória do movimento camponês e democrático: Ruço e Joel são inocentados! Cai por terra 4 anos de injustiça! Dia 04 de abril de 2007 Jaru nasceu mais feliz. Rojões deram a alvorada, dezenas de camponeses, estudantes e intelectuais comprometidos com a luta do povo empunhando bandeiras vermelhas bradaram palavras de ordem. Os camponeses Wenderson Francisco dos Santos, o Ruço e Joel Gomes da Silva, o Joel Garimpeiro, foram inocentados pelo júri popular! Eles eram acusados injustamente da morte de um pistoleiro do latifundiário Galo Velho. O julgamento que durou quase 24 horas foi assistido por mais de cem pessoas, entre camponeses vindos de várias linhas e cidades, estudantes democráticos e professores de Porto Velho, populares de Jaru e representantes de entidades democráticas. Ruço e Joel foram muito bem defendidos por uma equipe de advogados pertencentes ao NAP-Brasil – Núcleo de Advogados do Povo do Brasil e à IAPL – Associação Internacional dos Advogados do Povo e vindos de outros estados, além de um defensor público de Jaru. Eles derrotaram um a um os argumentos absurdos da acusação, encabeçada pelo promotor público Adilson Donizete de Oliveira. O depoimento de Ruço foi comovente, várias pessoas choraram ao ouvirem todo sofrimento que ele passou na prisão. Além disso, o que estava em jogo neste julgamento, quem se encontrava no banco dos réus não era apenas Ruço e Joel, mas sim todos os camponeses pobres que lutam de forma combativa pelo sagrado direito de ter um pedaço de terra, nela trabalhar e viver de maneira digna e honesta com sua família. É por isso que, cada vez mais, os camponeses estão se organizando, tomando latifúndios, cortando e distribuindo lotes, estão avançando na produção, construindo pontes, estradas, abrindo cidades, estimulando o comércio, tomando as decisões sobre tudo que lhes diz respeito em suas áreas. É a Revolução Agrária que já se iniciou em várias partes do país. Jaru nasceu mais feliz, o Brasil da exploração amanheceu com uma grande derrota no dia 04 de abril de 2007. A verdade prevaleceu. Mas ainda temos um longo e árduo caminho pela frente. De um lado, o latifúndio continuará criminalizando a luta pela terra, perseguindo as lideranças camponesas e reprimindo o movimento camponês combativo. De outro lado, os camponeses pobres continuarão impulsionando a tomada de todas as terras do latifúndio e desta maneira, construindo o raiar de um novo dia. È o raiar do novo dia que vem vindo, um dia lindo, com terra, trabalho, justiça e liberdade para todo o povo, livre do latifúndio, da grande burguesia e do imperialismo! Jornal Estudantes do Povo - 15 Internacional Terceira via na América Latina Entre os dias 8 e 13 do mês de março W. Bush e sua comitiva de reacionários percorreram a América Latina, passando pelos seguintes países: Brasil, Uruguai, Guatemala, Colômbia e México. Em todos os lugares onde passou a claque de reacionários foram montados fortes aparatos de repressão contra as inevitáveis ações de manifestantes, o que de nada adiantou, pois, a população respondeu com contundentes demonstrações de repúdio ao imperialismo e às agressões perpetradas por ele aos povos do mundo. No Brasil, onde os ianques desembarcaram no dia 8 março (dia internacional da mulher proletária), na cidade de São Paulo, 6.000 manifestantes, dentre eles muitas mulheres que erguiam faixas com os dizeres: HOJE É O DIA DE LUTA DA MULHER! e PELAS MULHERES DO IRAQUE!, entraram em confronto com a polícia que tentou reprimir o movimento. Na capital do Uruguai, montevidéu, 6.000 manifestantes que queimaram dois bonecos – um de Bush e outro de Vásquez – foram atacados por policiais e responderam com paus, pedras e rojões. Na Colômbia 5000 manifestantes já próximos da sede presidencial foram interceptados por contingentes da polícia e do exército que arremessaram contra os manifestantes bombas de gás lacrimogêneo tiveram como resposta pedras e coquetéis molotvs, 120 pessoas foram presas e 6 ficaram feridas. Na Guatemala, milhares de pessoas realizaram manifestação contra a política de criminalização da imigração praticada nos EUA. No México centenas de pessoas se reuniram em frente à embaixada dos EUA Hugo Chávez 16 - Jornal Estudantes do Povo e realizaram um protesto contra a guerra no Iraque. Após a queima da bandeira norte-americana policiais jogaram bombas de gás lacrimogêneo o que acabou gerando confronto entre com os manifestantes. Todas essas ações em resposta a vinda de Bush à América Latina evidenciam a seguinte questão: o crescimento notável do sentimento antiimperialista no espírito das massas populares do continente em razão do agravamento das condições de vida das massas, decorrente de uma maior espoliação imperialista, combinado ao reflexo na América Latina do crescimento das lutas de libertação nacional que se desenvolvem no mundo, destacadamente a resistência iraquiana. Desde 2003, quando o Iraque foi invadido pelas tropas estrangeiras, as massas iraquianas têm imposto aos invasores uma heróica resistência. A resistência iraquiana não apenas se mantém como se desenvolveu bastante nesse período. Os monopólios de imprensa do imperialismo, em suas notícias sobre a guerra no Iraque, procuram enfatizar os ataques a mercados e terminais de ônibus, numa clara tentativa de levar as pessoas a acreditarem que no Iraque existe apenas uma violência fora de controle e que este motivo justificaria a permanência dos ianques em solo iraquiano. Entretanto a verdade é que o puro e simples fato dos ianques não terem conseguido dominar por completo o país representa uma vitória da resistência. O EUA não conseguiu dar legitimidade ao governo títere que instaurou, principalmente não conseguiu se apoderar do petróleo, seu objeto de cobiça, devido constantes ações da resistência que tem impedido o roubo de suas riquezas pelos ianques. Na Ásia Central, a resistência afegã recobrou forças e voltou a crescer e, no Oriente Médio, a tentativa dos israelenses, prepostos dos ianques na região, de invadir o Líbano foi derrotada pela ação das massas. Estes e outros acontecimentos elevaram, a um outro nível, a confrontação entre os povos e nações oprimidas do mundo. Na América Latina desde que a guerra ao Iraque foi deflagrada, foram muitas as manifestações de repúdio. Além disso, a intervenção ianque no Haiti, nosso vizinho de continente, com a cumplicidade de alguns governos como o de Lula aguçou ainda mais a revolta contra os horrores de violência e miséria que o imperialismo impõe aos povos. Este sentimento antiimperialista tem se expressado, cada dia mais, no desejo de libertação, progresso e justiça que tem feito crescer o ativismo das massas que se lançam em luta pela defesa de seu território, de suas riquezas naturais e contra a espoliação e dominação imperialistas. Assim, o sentimento nacional e antiimperialista tem provocado grandes rebeliões populares que estouraram em países como: Argentina, Equador, Bolívia e Venezuela, sobretudo nos dois últimos, onde se mantiveram intensas a mobilização e a disposição de combate das massas. A história se repete como farsa... O grande Karl Marx, quando Luís Bonaparte deu um golpe de estado restaurando a monarquia na França, em 1848, afirmou que o trágico episódio protagonizado por Napoleão e que selou o fim da revolução francesa, algumas décadas antes, se repetia, naquele momento, entretanto acrescentava: “...a história se repete como farsa...”. Esta análise de Marx aplica-se perfeitamente à realidade dos acontecimentos que se desenvolvem, atualmente, no cenário político do continente latino americano. A partir de meados da década de 50 nosso continente começava a fervilhar em virtude de uma ascenção do movimento de massas, neste momento, duas alternativas se apresentaram como proposição política aos anseios das massas: a primeira apresentando caminho combativo e revolucionário e a segunda, em direta confrontação com a primeira, apresentava o caminho reformista, que acabou prevalecendo na região. No Brasil a posição da linha reformista se concretiza em João Goulart que, após a renúncia de Jânio Quadros, assume a presidência. Jango apresenta seu programa político sintetizado em suas “reformas de base”. Dentre estas, propunha uma reforma agrária que teria como alvo a desapropriação, mediante a distribuição das chamadas terras devolutas de beira de estrada. Porém a estrutura agrária brasileira, pedra angular do atraso de nossa sociedade, vivia, em seu próprio seio, um processo de agudização da contradição entre a manutenção do sistema latifundiário e o movimento camponês, que reivindicava a democratização e o acesso a terra. Esta atmosfera conduziu ao crescimento das Ligas Camponesas que representaram uma elevação da luta pela terra. Pelo país afora o movimento popular como um todo crescia e fazia pressão sobre o governo reformista Jango, levando-o a adotar uma linha mais a esquerda e tomar medidas como a limitação das remessas de lucro das empresas estrangeiras instaladas no país a suas matrizes. Isto aterrorizou o imperialismo e seus lacaios que, temerosos sobre as conseqüências do que se desenvolvia no país, arquitetaram e botaram em prática o golpe levado a termo no ano de 1964 e impondo o gerenciamento militar fascista. João Goulart se exila no Paraguai deixando evidente sua vacilação e incapacidade, próprias de sua condição de classe, de conduzir um processo que levasse o Brasil a conquista de sua autonomia e soberania. No Chile Salvador Allende, membro do partido socialista chileno, ganhou as eleições para presidente no ano de 1970, se declarando marxista e adotando um discurso radical obteve grande apoio das massas de operários e camponeses. Inicia a implementação de uma política que denomina “via chilena para o socialismo”, acreditando ser possível a transição pacífica do capitalismo para o socialismo. Esta política tinha por base a reforma agrária e a nacionalização das indústrias. Bastou a nacionalização de algumas empresas e minas de cobre para que os ianques em conluio com as classes dominantes nativas iniciassem um processo de sabotagem, com o estrangulamento e bloqueio econômico do país a partir da retirada de capital e do cancelamento de linhas de crédito, que provocou um aumento enorme do desemprego e a falta de produtos básicos de consumo elevando a inflação em cerca de 500%. Enquanto crescia a tensão interna e a miséria no país, juntamente com os setores mais reacionários e os militares, a CIA prepara o golpe que, no dia 11 de setembro de 1973, bombardeia o palácio presidencial assassina Allende e derruba seu governo. Inicia-se assim um dos gerenciamentos militares mais fascistas e truculentos da América Latina conduzindo ao poder o sanguinário Augusto Pinochet. As massas tiveram que pagar um alto preço, foram décadas de gerenciamentos militares responsáveis pela morte de milhares de camponeses, operários e intelectuais progressistas. Tiveram que enfrentar a fascistização e a repressão para as quais não haviam sido preparadas e sem contar com uma verdadeira direção proletária. Havia prevalecido dentro do próprio movimento revolucionário uma ilusão com um possível triunfo da revolução a partir da linha reformista que o levou a divisão e por fim a derrota com o aniquilamento dos revolucionários que lutavam pelo restabelecimento da linha revolucionária. Este foi o saldo trágico deixado pelo reformismo. Bolívia e Venezuela, atualmente, têm sido palcos das maiores e principais mobilizações populares no continente. O discurso da revolução bolivariana apregoado por Hugo Chávez e que ganhou eco na Bolívia com Evo Morales, tem sido atribuído por muitos como o elemento impulsionador destas mobilizações. Na verdade, muito ao contrário disto, o crescimento do movimento de massas que assume uma postura mais combativa em conseqüência direta de um crescente sentimento de caráter nacional e antiimperialista é que obriga setores reformistas a adotarem um discurso mais radical para não perderem sua base de massas, entretanto na prática estes grupos políticos continuam submissos à cartilha definida e imposta pelo imperialismo. Chávez aproveitou o 1º de maio de 2007 para anunciar a nacionalização dos campos de petróleo da faixa do Orinoco e o rompimento da Venezuela com o FMI, afirmando que o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, são instituições financeiras “dominadas pelo imperialismo norte-americano”. O que Chávez não disse é que poucos dias antes quitou a última parcela da “dívida” que a Venezuela tinha com o Banco Mundial e que o acordo com o FMI já tinha sido cumprido anteriormente, ou seja, cumpriu religiosamente todos os compromissos assumidos com o imperialismo ianque. Mas o engôdo de Chávez não se resume a este fato, enquanto bravateia e faz encenação de grande nacionalista aplica uma política entreguista e em favor das classes dominantes. A Venezuela provê 12% das importações de petróleo cru para as refinarias ianques. Os bancos (nacionais e estrangeiros) tiveram, entre os anos de 2005 e 2007, uma taxa de lucro de mais de 30% enquanto, no mesmo período, menos de 1% dos maiores latifúndios existentes no país foram entregues aos camponeses. Como se não bastasse Chávez quer controlar o movimento operário e impedir sua organização independente a partir da redução da autonomia das organizações sindicais, aplicando a velha tática de atrelar o movimento sindical ao Estado, própria dos governos reformistas, chegando a declarar que todo aquele que não compartilha de suas posições é contra-revolucionário. O que Chávez chama de “nacionalização” dos campos de petróleo da faixa de Orinoco, a exemplo do que ocorreu com outras empresas, consiste num acordo firmado através de um convênio com onze empresas estrangeiras que concordaram com seu decreto “nacionalizador”. Este decreto determina a constituição de empresas mistas com participação da empresa estatal PDVSA em associação com empresas de capitais imperialistas que exploram uma das maiores reservas de petróleo do mundo, a faixa petrolífera de Orinoco, entre essas empresas imperialistas, agora sócias de Chávez, estão as norte-americanas Chevron e ExxonMobil, a norueguesa Statoil, a francesa Total e a britânica British Petroleum. A nacionalização das empresas CANTV e Eletrecidad de Caracas, deixou tão felizes os capitalistas que estes foram a público declarar sua satisfação. Isto ocorre, em primeiro lugar, porque na verdade não se trata de uma nacionalização de fato, sobre isto o Ministro da Economia, Rodrigo Cabezas, declarou: “o processo de nacionalização se levará a cabo respeitando o marco constitucional que entre outras coisas descarta as expropriações” estas empresas, que já haviam sido estatais, quando foram privatizadas possuíam enormes patrimônios que durante estes anos foram completamente dilapidados pelos capitalistas e mesmo depois disso ainda conseguiram revendê-las ao Estado Venezuelano por um preço lucrativo. Na Bolívia, Evo Morales, seguindo os passos de Chávez, também aproveitou o 1º de maio de 2007 para lançar bravatas retomando o discurso de “nacionalização” de um ano atrás. Na verdade a “nacionalização” de Morales teve como objetivo uma renegociação dos termos dos contratos de exploração dos hidrocarbonetos (gás e petróleo) com as empresas multinacionais e imperialistas, medida que foi obrigado a tomar devido a pressão popular que quer defender o que ainda lhe resta de riquezas naturais. A mesma população que se levantou no final de 2003 e nas jornadas de luta de maio e junho de 2005 continuou erguendo suas bandeiras e estava escapando ao controle do MAS. A medida adotada por Evo, à moda Hugo Chávez, entretanto não constituiu uma expropriação nem mesmo uma “nacionalização” sob qualquer aspecto, a lei 3058 estabelece a “nacionalização” a partir da compra de ações às empresas capitalizadas (que já tem participação estatal desde a presidência de Sanchez de Lozada) e às companhias com capital exclusivamente privado (refinarias). O decreto “nacionalizador” reafirma as reservas e os recursos naturais como propriedade boliviana, o que não representa novidade, pois se está em questão é o direito de exploração destes recursos. O que, concretamente, faz o decreto é tão somente colocar o Estado Boliviano como coproprietário de algumas empresas de hidrocarbonetos em associação com os capitais imperialistas e dessa forma participar do controle dos preços e comercialização. Com isso propôs uma renegociação dos contratos a preços mais favoráveis ao estado Boliviano, o que é pífio se comparado à exorbitância de lucros que a exploração dos hidrocarbonetos proporciona as empresas imperialistas. Com a eleição de Evo morales em aliança com a burguesia burocrática, os latifundiários e a grande burguesia compradora perderam poder, passaram então a pleitear a autonomia de seus departamentos. Em Cochabamba, em 2006, foi realizado um referendo sobre a autonomia e que obteve uma resposta negativa das massas. Em janeiro deste ano com o fortalecimento, em outras localidades, da reivindicação de autonomia o prefeito falou em um novo referendo. Em resposta o MAS chamou uma manifestação, com o intuito de exercer pressão sobre o prefeito e neutralizá-lo. O povo foi enviado ao confronto desarmado e despreparado. Entretanto, o protesto se radicalizou e a manifestação de camponeses cocaleros e estudantes universitários entrou em confronto com as hordas fascistas da burguesia e do latifúndio e ateou fogo nas instalações da prefeitura de Cochabamba. Logo o governo se apressou em dar declarações procurando se desvincular das mobilizações populares (que permaneceram por cinco dias) e a condenar a ação das massas. Quando as massas apresentaram exigências mais enérgicas em relação ao prefeito de Cochabamba o MAS passou a uma posição conciliadora sob a argumentação de que “não se poderia cair na provocação das oligarquias”. Fica evidente a intenção de conter o desenvolvimento e radicalização do movimento de massas que o governo reformista de Evo Morales tem cumprido. Por último, o caráter de submissão ao imperialismo norte-americano do governo de Evo Moralez fica evidente com o envio das tropas bolivianas ao Haiti fazendo o trabalho sujo de preposto da intervenção ianque naquele país, seguindo as pegadas de Luís Inácio. Como se pode comprovar os discursos utilizados tanto por Chávez quanto por Moralez, na verdade, tem claro intento de esconder por trás de um palavrório radical toda sua submissão ao imperialismo. Diante destes elementos podemos compreender as palavras do secretario geral do BIRD ao afirmar que as nacionalizações na Venezuela e Bolívia “se fizeram bem”. 3º via: Negação do socialismo científico. Após a restauração capitalista na URSS (1956), a ditadura do proletariado passou a ser renegada por muitos. Não tendo como negar as grandiosas obras realizadas pelo socialismo e o progresso sem precedente histórico alcançado por ele, utilizou-se o discurso da burguesia de que o socialismo teria suprimido a democracia e a liberdade individual para atacá-lo. Além disso, estava evidente a decadência e degenerescência do sistema capitalista. Com base nisto foi formulada a tese de que deveria ser introduzido no socialismo, que havia se comprovado ser superior do ponto de social, o preceito capitalista da democracia como valor universal, o que seria o grande mérito do sistema capitalista. Assim se aproveitaria o que cada um dos sistemas tinha de melhor e se chegaria a um sistema que não seria nem capitalismo, nem socialismo e que foi batizado de terceira via. Marx e Engels na formulação do socialismo científico identificam que a sociedade passa a fase da civilização quando se divide em classes sociais antagônicas e que cada modo de produção compreendido num determinado período histórico abrigou em seu seio classes antagônicas, uma classe dominante querendo manter seu domínio e a outra classe dominada lutando para se libertar. Em cada um desses casos a democracia para uma classe representou, sempre, a ditadura para a outra. Na sociedade burguesa a democracia é para a burguesia, o proletariado submetido a mais vil exploração vive sob uma tacanha ditadura. Lênin, em sua obra “O Estado e a Revolução” afirma “para ser marxista não é o suficiente concordar com a existência de classes sociais ou com luta de classes, é preciso concordar com a necessidade da ditadura do proletariado”. Com a revolução socialista o proletariado passa a condição dominante Evo Morales estabelece sua ditadura, instituindo a democracia para sua classe e para as demais classes oprimidas dentro do sistema capitalista e que constituem a imensa maioria da população, portanto conduzindo a democracia ao seu nível mais elevado. A ditadura do proletariado só é ditadura para a burguesia. Portanto o discurso dos adeptos da 3º via, de defesa da liberdade individual e da “transformação” social através de reformas graduais e pacíficas, na verdade, defende a manutenção da democracia burguesa e do modo de produção capitalista. As expressões socialismo democrático, socialismo libertário e outras mais, todas variantes da terceira via, obedecem ao marco econômico do sistema capitalista instituindo uma política de caráter reformista. Na verdade, o que a 3º via consegue misturar é um discurso “socialista” e uma prática de submissão ao imperialismo. Agora assistimos ao surgimento de suas vertentes na América Latina. Chávez afirma que, com sua revolução bolivariana, está sendo construído algo novo que nunca foi alcançado antes. Evo Morales, em algumas declarações, utilizou a expressão socialismo andino para denominar sua proposta política para o “desenvolvimento” nacional da Bolívia. A história comprovou a inviabilidade da concretização do projeto reformista que, por um lado era insuficiente para atender os anseios e necessidades das massas e, por outro lado, incapaz de satisfazer a sanha de lucro e rapinagem do imperialismo. Porém o imperialismo encontrou uma nova utilidade para o reformismo da terceira via. Diante de um novo despertar de combatividade no movimento de massas da América Latina o ressurgimento do reformismo tem a função premeditada de desviar do caminho revolucionário, o contingente de massas que cresce e se radicaliza a cada dia, desarmá-las da preparação e educação necessárias para o inevitável enfrentamento com o imperialismo e as classes reacionárias nativas. Jornal Estudantes do Povo - 17 Conferência Mundial das Juventudes Populares: “ Queremos um mundo novo, teremos um mundo novo!” Zoetermeer, Holanda. Lá fora cai uma fina garoa e um vento forte sopra. É o vento que anuncia a tempestade revolucionária dos povos, que anuncia o encontro das juventudes antiimperialistas de todo o mundo reunidas, ali naquele final de semana para impulsionar a luta contra o sistema imperialista de exploração, opressão e guerras. A juventude sempre foi a ponta de lança da luta antiimperialista e a Conferência Mundial das Juventudes Populares chamava: “Juventude de todo mundo, uni-vos pela causa de construir um mundo novo, contra a exploração e agressão capitalista imperialista.” Na sala podia-se ouvir um burburinho em várias línguas todos conversam animados, enquanto isso painéis com imagens de luta da Grécia eram colocados, os companheiros das Filipinas também colocaram o seu, pôsteres das lutas travadas no último período são espalhados pelo salão e no fundo uma grande bandeira da ILPS (Liga Internacional da Luta dos Povos) foi hasteada. Tomaram parte na conferência várias organizações da juventude: Confederção dos trabalhadores Turcos na Europa(ATIK) – Juventude Nova Democracia com representantes da Holanda, França, Alemanha, Áustria; Revolution da Alemanha; Association Generale dês Etudiants de Nanterre (AGEN) da França; Partido Comunista Maoísta da França; Movimento Estudantil Militante da Grécia; Juventude do Movimento Comunista Revolucionário da Grécia; Comac da Bélgica, um jovem do Afeganistão; um jovem do Iran; Anakbayan da Filipinas, e suas organizações na Holanda, Canadá, EUA, Havaí; e o Movimento Estudantil Popular Revolucionário do Brasil. Companheiros do Iraque, da Palestina e do Nepal não conseguiram chegar à conferência, pois não obtiveram o visto, mas estavam presentes de espírito. Um companheiro da Juventude Nova Democracia da Turquia fala ao microfone: companheiros, venham, tomem seus lugares, a conferência vai começar. A secretaria geral da ILPS abre a conferência com uma saudação a todas as delegações ali presentes, que travaram todas, um grande esforço 18 - Jornal Estudantes do Povo para estarem lá. Saúdam a juventude que no mundo inteiro tem combatido o imperialismo e deseja sucesso a Conferência. Em seguida o companheiro da Juventude Nova Democracia na mesa fala: Companheiros, um minuto de silêncio em homenagem a todos aqueles que tombaram na luta contra o imperialismo. Todos atendem prontamente. Punhos levantados, soam os acordes da Internacional. Está iniciada a Conferencia Mundial das Juventudes Populares. Os ataques do imperialismo contra os direitos da juventude e a resistência Após a Internacional, os companheiros da JND, do Movimento Estudantil Militante da Grécia, e da AGEN da França foram chamados para falarem sobre o tema: “Os ataques do imperialismo, do capital e suas organizações/acordos contra os direitos da juventude na educação e no trabalho, e a resistência da juventude”. O companheiro da JND falou primeiro: “Para a burguesia monopolista imperialista internacional é possível comprar e vender tudo. Em outras palavras eles consideram tudo como uma mercadoria. (...) A burguesia imperialista não ataca o direito dos oprimidos somente com armas. Eles também estão atacando os direitos dos oprimidos por pacotes de demolição social, usurpação de direitos democráticos e de leis “anti-terror”. Direitos fundamentais dos trabalhadores, os quais foram ganhos com muita luta, estão sendo usurpados um a um. (...) Nos dias atuais, instituições como G8, Organização Mundial do Comércio, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional tomam decisões sobre nossa vida social e direitos fundamentais de acordo com as ordens do capital. O Acordo Geral de Comércio em Serviços (GATS) como parte da OMC tem 149 membros, e isso permite a eles a tornar obrigatório para os países membros obedecer as decisões. Como nós mencionamos antes, da nossa perspectiva o conteúdo dessas decisões podem ser resumidas como a privatização do setor público e tentativa de remover todos os obstáculos que pareçam estar bloqueando o capital no mercado mundial.” Também foi falado sobre como as leis “antiterror” são usadas para atacar os direitos democráticos fundamentais, restringindo liberdades democráticas, chegando ao absurdo de poder prender pessoas por até dois anos por suspeitas, sem qualquer justificativa. “Há um decréscimo sem motivo da qualidade da educação e das escolas secundaristas. Corte de pessoal, taxas para recursos de aprendizagem, cortes no orçamento para excursões/ projetos culturais e atividades esportivas são exemplos da queda de qualidade na educação. Somando a isso, e o mais importante, é a tendência da privatização da educação.” Na educação superior os estudantes são vistos como clientes, as mensalidades são forçadas em vários países da Europa, ao mesmo tempo em que a quantidade de taxas aumentam. Aquelas universidades que não aplicam o sistema de taxas estão em rápido processo de aprovação de leis para tornar esse sistema legítimo. Ainda sobre a educação superior “os direitos democráticos que os estudantes tem conquistado depois de longas e duradouras lutas estão sendo agora retirados. Os ataques ao Asylum (lei que impede a entrada da polícia e do exército nas universidades) na Grécia e as mensalidades forçadas na Alemanha são perfeitos exemplos dessa implementação.” Depois da palestra do companheiro da JND, os companheiros da Grécia e da França, falaram relatando os levantamentos da juventude em seus respectivos países como resistência aos ataques aos direitos da juventude. O companheiro da Grécia contou, da luta contra o conjunto de leis que o governo tentou passar no ano de 2006 para cortar verbas da educação e retirar direitos dos estudantes e que depois de meses de manifestações e greve, os estudantes as derrotaram. Falou também sobre a então atual greve contra uma lei que o governo quer aprovar no congresso que permitirá a entrada de empresas privadas dentro das universidades. Também lembrou os estudantes secundaristas do Chile que em uma ofensiva contra o governo de Bachelet, fizeram uma grande greve e derrubaram a lei orgânica da educação. A companheira da França falou sobre os jovens que incendiaram o surbúbio das principais cidades francesas, e sobre a luta contra o Contrato do Primeiro Emprego que mobilizou amplamente a juventude até a derrubada da lei com a greve geral. Relatórios das organizações presentes Após o almoço voltamos todos para a plenária e deu-se início aos relatórios dos países. Todas as organizações presentes puderam falar. A Anakbayan das Filipinas foi a primeira, depois foi o MEPR, depois foi a Revolution da Alemanha, logo em seguida, a Juventude Nova Democracia – ATIK, para depois falarem os jovens do Afeganistão, do Iran, os companheiros da Grécia, da França e por último a Comac da Bélgica. Todos denunciaram um decréscimo da qualidade de vida, os ataques contra os direitos de seus povos, orquestrado pelos respectivos governos junto com o imperialismo. Denunciaram a ação do imperialismo sobre a juventude através de uma cultura venenosa, que os massacra, não dando perspectivas nenhuma para os jovens e os impedindo de atuarem conscientemente sobre a realidade social. Foi falado sobre as perseguições aos imigrantes, que hoje é um sério problema que muitos jovens têm que enfrentar, vários sofrem racismo e descriminação, particularmente os que vivem nos países imperialistas. Os companheiros das Filipinas denunciaram a seqüência de assassinatos perpetrados em seu país pelo regime EUA-Arroyo contra lideranças dos movimentos populares. O companheiro da Alemanha da “Revolution” aproveitou para chamar uma ação em conjunto contra a reunião do G-8 que aconteceu em junho na Alemanha. E o que é importantíssimo ressaltar desse momento é a participação da juventude na revolução. Os companheiros das Filipinas relataram: “a luta antifascista da juventude e do povo filipino não está separada da luta antifeudal e antiimperialista. A juventude filipina é uma força potente na luta prolongada pela democracia nacional com uma perspectiva socialista. Nossa história é repleta de exemplos inspiradores de jovens líderes revolucionários, da Revolução Filipinas de 1896 contra a exploração colonial da Espanha, do período da guerra direta dos EUA e intervenção no país, até a Tempestade do Primeiro Quarto da década de 1970 e a fundação do novo Partido Comunista da Filipinas no ano de 1968. A juventude Filipina contribui para luta democrática nacional de várias formas.” Falou da participação dos jovens na luta por uma educação nacional, em defesa da produção cientifica nacional, na luta pela reforma agrária, na luta contra o podre sistema explorador dominado pelos imperialistas, latifundiários e da burguesia compradora. Continuou: “Um número crescente de jovens vão para o campo para se juntar à luta dos camponeses. Eles participam da luta armada e se juntam ao Novo Exército do Povo despertando, organizando e mobilizando os milhões de camponeses pobres para luta das massas e implementando a reforma agrária. Eles ajudam a construir a base de massas da revolução e a estabelecer as sementes do governo democrático popular no campo”. Foram lembrados os jovens do Nepal, que participam amplamente da Guerra Popular, dirigidos por um partido comunista maoísta que dirige a revolução no país, e os jovens da Turquia que ingressam na luta armada revolucionária dando seu contributo de sangue para a causa da revolução. Após a discussão fomos para o jantar. Agora todos os participantes conheciam mais da realidade de todos os países, novamente podia ouvir o burburinho poliglota. Todos queriam conhecer mais, perguntar, tirar as dúvidas, saber mais detalhes. “E no seu país tem Partido Comunista de verdade?”, “Ei, o que você pensa sobre Hugo Chávez?”e a “Revolução no seu país, qual é o caminho?”, “Como é a sua organização?”, “Como é essa luta contra as reformas?”, “A universidade no seu país, como funciona?” e etc. As vezes, impossibilitados de se comunicar pelo problema do idioma, agitavam os braços energicamente fazendo mímicas ou desenhavam e escreviam números em pedaços de papel, para falar alguma coisa. Mas mesmo que falemos idiomas diferentes ali estávamos falando uma língua em comum, a língua da luta revolucionária. E até mesmo quem não conseguisse falar nada, ficava junto pelo prazer de estar acompanhado da melhor juventude do mundo! A atividade cultural Após o jantar voltamos para a sala de conferência. Um instante de silêncio e expectativas. Quando surge um grupo de companheiros da JND carregando instrumentos musicais, ocupam o espaço onde anteriormente estava a mesa e começam a tocar músicas turcas. E assim foi, música após música, uma mais bonita que a outra. Um grupo de companheiros tomam o espaço ao lado das cadeiras, entrelaçam os dedinhos fazem uma roda e começam a dançar ao tradicional estilo turco. Os integrantes das outras delegações (inclusive da nossa) incorporam na roda, alguns depois de muita insistência (e de serem carregados) e outros espontaneamente. Após o pequeno show, a mãe de um mártir da revolução turca foi chamada a falar. Depois de contar a história de seu filho arrancou vivas e palavras de ordem da plenária. Em seguida foi vez dos Filipinos, cantaram, fizeram teatro, cantaram novamente. E então, delegação por delegação foi chamada a desenvolver algo no campo cultural. A primeira foi a nossa, pega de surpresa sendo chamada a cantar Bella Ciao em português. Os companheiros da Grécia tocaram flauta e cantaram um hino revolucionário grego. Outros contaram histórias e assim foi até meia noite. “Vamos dormir companheiros, amanhã temos um dia cheio de trabalho!”. A plenária do segundo dia começou com um veterano comunista membro do Partido Comunista da França (Maoísta), que participava da conferência como observador, fazendo uma saudação ao encontro: “Vamos construir o movimento revolucionário da juventude! (...) Como Mao Tsetung disse “Rebelarse é justo” e nós devemos escrever esse slogan nas paredes.(...) Quando as juventudes do mundo estiverem organizadas, elas serão uma forte arma contra o imperialismo e todo tipo de reação. Sim, organizados, juntos, podemos construir um mundo novo. E para fazer isso não há outro caminho a não ser destruir o capitalismo!” Leis antiterror Depois se iniciou o outro tema de debates “As leis antiterror como instrumentos do imperialismo, do fascismo e de guerra”. A palestra foi dada pelo Professor José Maria Sison, histórico dirigente comunista das Filipinas e presidente da Liga Internacional da Luta dos Povos. Ele começou saudando o encontro. Denunciou os imperialistas como os maiores terroristas do mundo, que com seus Estados fantoches utilizam o poder de Estado para preservar o sistema de exploração. “As leis antiterror são uma violação ao direito de liberdade de pensamento e de crença. Deste modo, antes de qualquer crime ser materializado e antes de alguém poder ser algum suspeito criminal já há uma criminalização da ideologia marxista-leninista, da linha política de libertação nacional e da fé islâmica”. E finalizou: “A crise do sistema capitalista mundial está a cada dia piorando sob os auspícios da globalização neoliberal e da guerra global do terror. Em todo mundo, partidos revolucionários do proletariado, organização de massas, de operários, camponeses, mulheres e jovens e movimentos populares de libertação nacional e social estão surgindo contra o imperialismo e a reação. A juventude tem um proeminente papel. Ela é corajosa e militante em trazer para frente e difundir as idéias revitalizadas do antiimperialismo e do movimento democrático, gerando força organizada e elevando a um novo e superior nível da luta!”. No período da tarde aconteceram os grupos de trabalho, que discutiram sobre três questões:As lições dos levantamentos da juventude na Grécia e na França; Oriente Médio e a questão nacional; e Preparação para a manifestação anti-G8 na Alemanha em junho. Depois, todos animados após dois dias de intenso trabalho, e entusiasmados com as grandes perspectivas da luta antiimperialista e popular, aprovamos a declaração da conferência e a encerramos aos gritos de “Viva a solidariedade internacional!” e “Viva a luta revolucionária dos povos do mundo!” Jornal Estudantes do Povo - 19 Declaração da Conferência Mundial das Juventudes Populares Nós, as delegações e organizações participantes na Conferência Mundial das Juventudes Populares (CMJP) sob o tema: “Juventude de todos os países uni-vos pela causa de um mundo livre, contra a exploração e agressão imperialista-capitalista”, fez essa declaração. A CMJP que foi realizada em Zoetermeer, na Holanda, nos dias 3 e 4 de março de 2007 foi um grande sucesso. Os objetivos da conferência foram alcançados com os esforços dinâmicos e produtivos de todas as organizações participantes de vários países. As principais contradições no mundo hoje estão se intensificando. Essas contradições são entre imperialistas e os povos oprimidos do mundo; entre os monopólios capitalistas e a classe operária e entre os imperialistas em sua rivalidade pela dominação do mundo. Essas contradições têm se intensificado em meio a pior crise do sistema capitalistaimperialista em muitos anos. O então chama- 20 - Jornal Estudantes do Povo do livre mercado globalizado não tem resolvido as contradições internas do sistema capitalista, mas apenas agravando-as. Entre as mais impressionantes características dessa crise é o alargamento da distância entre os países ricos e pobres, e entre os ricos e pobres em cada país.Os países ricos com apenas 20% da população do mundo consomem 80% dos recursos mundiais. Em reação a crise, os monopólios capitalistas têm intensificado sua exploração e opressão sobre seus próprios povos e sobre os povos dos países subdesenvolvidos que servem como novas colônias. O capitalismo acelera a produção e alonga as jornadas de trabalho para extrair mais lucros dos operários. Os países imperialistas extraem superlucros das suas novas colônias através da agiotagem internacional, acordos desiguais e investimentos diretos. Como a principal potência imperialista no mundo, os EUA têm lançado guerras de agressão tanto para impulsionar sua economia como para impor sua vontade no mundo. Ele tem usado a chamada guerra contra o terror para derrubar qualquer resistência para os seus fins imperialistas. Os outros imperialistas menores vão junto com o EUA nessas guerras de agressão, mas estão com raiva dos EUA por monopolizar o espólio das guerras como a do Iraque e do Afeganistão. Fazem suas próprias manobras intensificando deste modo a rivalidade interimperilista pela redivisão do mundo. São principalmente os trabalhadores que carregam a carga da crise do sistema capitalista-imperialista mundial. Nos países subdesenvolvidos, os operários sofrem com o desemprego e o subemprego massivos, baixos salários e a privação de benefícios sociais e direitos democráticos. As massas camponesas, já sofrendo da pobreza e da não posse da terra, vêem o aumento da destruição dos meios de subsistência com tratados de liberação que permitem importações baratas para direcionar os produtos rurais para o mercado. Nos países capitalistas desenvolvidos, os trabalhadores sofrem com o crescimento do desemprego e vêem seus benefícios e direitos democráticos conquistados duramente sendo tomados pelas classes dominantes. As juventudes das famílias das massas operárias estão entre os principais alvos dessa intensificação dos ataques sobre o povo. Nos países subdesenvolvidos, a grande maioria da juventude de famílias operárias e camponesas não tem acesso a escolas secundárias e faculdades. Forçadas pelas circunstâncias, muitos deixam a escola cedo. Têm que trabalhar em fazendas, nas fábricas ou em algum serviço doméstico para ajudar seus pais a viverem. Nos países desenvolvidos, o governo corta do orçamento verbas para a educação e a privatização das escolas dificulta mais e mais a juventude a chegar à educação superior. A juventude está entre a mais afetada pelo desemprego. De acordo com a OMT, jovens entre 15 e 24 anos representam aproximadamente metade dos desempregados do mundo, ou compõe os 47% do total de 186 milhões de pessoas que estavam sem trabalho em 2003. 80% da juventude do mundo vivem em países chamados em desenvolvimento, onde têm 3,8 vezes mais chances de estarem desempregados que os adultos, se comparado com as 2,3 vezes nas economias industrializadas. Sob o sistema imperialista opressor, a juventude do mundo tem um obscuro e incerto futuro. Mas a classe operária e os povos e nações oprimidas e inclusive a juventude estão lutando. A luta armada de libertação, e a resistência armada na Palestina e Iraque dão os golpes mais duros contra o imperialismo e fornece inspiração para os povos em luta. Há um surgimento de lutas militantes da classe operária nos países capitalistas industriais. A juventude está na linha de frente das insurreições de estudantes na França, Grécia e Chile. Nós, a juventude do mundo, almejamos a libertação desse sistema opressor e desumano que é o imperialismo. Encaramos uma longa e difícil luta adiante. Temos que desenvolver os movimentos em nossos próprios países e ligar com outros países para amplificar nossa força. Durante a CMJP, trocamos experiências e aprendemos importantes lições de nossas várias lutas. Podemos aumentar a coordenação e compartilhar a situação em diferentes países com outra conferência de juventudes populares dentro de 3 anos. Vamos manter contato através de um sítio na internet e um email. Reconhecemos a urgência de fortalecer mais nossa unidade e ampliar as áreas de cooperação e coordenação da luta das massas com o objetivo de efetivamente combater o imperialismo e a reação em nossos esforços para construir um mundo melhor, livre da exploração e opressão imperialistacapitalista. Viva a Solidariedade Internacional! A Vitória contra o imperialismo pertence ao povo! Homenagem “Nada pode matar o melhor de nós!” “Todo homem tem de morrer um dia, mas nem todas as mortes têm o mesmo significado. Embora a morte colha todos igualmente, a morte de alguns tem mais peso que uma grande montanha, enquanto que a de outros pesa menos que uma pena.” (Mao Tsetung - Servir ao Povo) Pablo Neruda Segunda-feira, 14 de maio, a chuva fria abre a noite triste no Recife. A maré está alta e as ondas batem forte nas areias da praia de Boa Viagem, já sem suas moças bonitas de olhos azuis. Noite escura sem lua, os pescadores sabem que é perigoso velejar em noites assim. Mas navegar é preciso... e as pequenas embarcações enfrentam as ondas e encaram o horizonte invisível, guiadas por marinheiros negros e fortes. E Iemanjá está lá, sempre procurando agarrar os mais belos para em seu colo deitar. E as mulheres ficam no cais, ansiosas para verem seus negros voltarem. Sabem dos perigos da noite e não querem perder seus amores para a rainha dos mares. Mas mesmo os marinheiros mais velhos e mais negros, que conhecem todos os caminhos do mar, encontram por vez um inesperado arrecife. E, às vezes, na noite escura, no mar revolto, estes fortes negros não encontram forças para retornar, ou mesmo, não resistem aos misteriosos convites de Iemanjá para com ela uma noite deitar. É quando os saveiros voltam sozinhos, deixando pra trás seus valentes timoneiros. Foi numa noite destas que perdemos Leandro. Negro, forte, excelente nadador, foi enfrentar as ondas numa noite escura. Leandro, assim como o velho pescador, precisava entrar no mar. Desafiar a morte, nadar contra a corrente! Mas acontece que foi apanhado. E depois de uma noite de amor com Iemanjá encontramos seu corpo nas areias do mar. Seu barco continua lá e a travessia não pode parar. Sempre haverá noites e ondas batendo na praia, mas há de romper no horizonte a aurora radiante que Leandro procurava naquela noite escura. O operário no mar “Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. (...) Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. (...) Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar.” (Carlos Drummond) Leandro dirigindo a mesa da plenária final da 4 Assembléia Nacional dos Estudantes do Povo O companheiro Leandro foi uma pessoa inteiramente devotada à causa de libertação de seu povo e trabalhava inteiramente no interesse deste. Como muitos dos jovens não se conformava com a situação que vive o nosso país, de uns poucos com tanto e a grande maioria sem nada. Dedicando-se, então, à militância revolucionária, Leandro pôs em segundo plano seus interesses pessoais e fez sobrepor os interesses coletivos. Nos últimos anos de sua vida esteve dedicado a luta contra as medidas anti-povo implementadas em nosso país, pelos organismos internacionais através do governo fantoche do senhor Luis Inácio. Em especial, Leandro dedicou-se à luta contra o sucateamento e privatização da universidade, contida no projeto de “reforma” que vem sendo imposto à universidade brasileira. Participou ativamente da luta contra o aumento das passagens e pelo passe-livre, em novembro de 2005 no Recife. Como verdadeiro revolucionário se solidarizou com a luta dos operários e dos trabalhadores do campo, passando as férias em contato com esses, em geral em acampamentos camponeses, onde teve oportunidade de conhecer mais de perto a realidade do nosso povo. Foi por esse motivo que se solidarizou com os acontecimentos ocorridos em Quipapá, mata sul de Pernambuco. Antes de falecer, Leandro estava encabeçando a campanha pela libertação dos dez camponeses presos, injustamente, pelo Estado “brasileiro” por lutarem pela terra. Por suas ações também foi perseguido pelo Estado. Leandro juntamente com diversos militantes do movimento estudantil, principalmente do MEPR, no dia primeiro de janeiro de 2007, foram àAssembléia Legislativa, na posse de Eduardo Campos, denunciar as arbitrariedades ocorridas em Quipapá e cobrar uma posição do atual governador de Pernambuco. Os estudantes estenderam uma faixa em que exigiam a “liberdade dos camponeses presos políticos de Quipapá”. Sob a justificativa de que a faixa atrapalhava a ornamentação da casa, a Polícia Militar da Assembléia prendeu, arbitrariamente, Leandro, três estudantes e um agricultor. Os cinco foram levados a um anexo dessa falsa casa da democracia e durante, aproximadamente, 15 minutos sofreram agressões e todo tipo de humilhações por parte dos policiais, antes de serem conduzidos a delegacia. O enterro de Leandro foi marcado por muita tristeza e emoção. Tristeza pela perda irreparável do filho, do irmão, do namorado, do companheiro e amigo. Emoção pelo sentimento profundo de que apesar da morte Leandro segue vivo em nossas mentes e corações. E mesmo naquele momento de despedida ele seguiu semeando luta e coragem. Uma belíssima homenagem foi prestada pelos familiares, companheiros da luta e amigos. Sobre seu caixão duas bandeiras vermelhas: a do MEPR e a dos comunistas, com o imortal símbolo da foice e o martelo. As canções revolucionárias A Internacional e uma adaptação do Hino dos Guerrilheiros Soviéticos foram entoadas com muita emoção, sobremaneira, o verso que dizia: “As bandeiras do Partido/ Como mantos cobrirão/ Nossos bravos guerrilheiros/ Que na luta cairão”. Ao final, o pai de Leandro, sr. Romildo, agradeceu a homenagem e emocionado disse sair dali com uma alegria por sentir a força daquela juventude da qual seu filho fez parte e, reiterou as palavras dos oradores de que “Leandro é imortal”. Leandro era um jovem comunista, abnegado a causa e defensor incondicional do MarxismoLeninismo-Maoísmo. Em fevereiro de 2006, no V Encontro Nacional do Movimento Estudantil Popular Revolucionário, realizado em Belo Horizonte, Leandro foi eleito para a Coordenação Nacional do MEPR. Extremamente dedicado à construção do Movimento, Leandro se destacava no trabalho, muitas vezes invisível, de organização. Era um propagandista talentoso e aproveitava todas as oportunidades para debater com jovens estudantes, professores e camponeses sobre as questões da causa revolucionária. Estudante de Economia era um investigador por natureza, sempre lançando indagações essenciais, muitas vezes difíceis de serem respondidas. Leandro era um excelente músico, um grande amigo, um filho dedicado e um namorado sempre presente. Saudades de seus companheiros e amigos do Movimento Estudantil Popular Revolucionário. “Você viverá sempre nos ideais que compartilhamos juntos” COMPANHEIRO LEANDRO: PRESENTE!!! Jornal Estudantes do Povo - 21 Cultura 100 ANOS DE FREVO: IDENTIDADE E RESISTÊNCIA Dia 09 de fevereiro de 2007, uma das maiores reentrâncias do carnaval pernambucano, o frevo, comemora o seu centenário marcado por evoluções e resistência ao longo de décadas, onde os choques culturais colocam em risco a identidade de um ritmo essencialmente popular. Seu reavivamento se deve graças a concretude de suas raízes nitidamente frutificadas, pelo carnaval pernambucano por compositores e carnavalescos além, é claro, do próprio povo. Segundo Roseana Borges de Medeiros, historiadora, “o carnaval é um dos momentos encontrados pelas classes subalternas para criar um canal de participação, subvertendo a ordem, contrariando a idéia de igualdade social. Revelando condições que expressam suas necessidades e visões de mundo”. O carnaval, historicamente sempre foi considerado a maior manifestação de cultura popular brasileira, por isso nele não existe absolutamente nada de harmonioso, como o tenta caracterizar alguns pesquisadores. Ele não se encontra nem por fora, nem por cima dos conflitos de classe. O carnaval, como toda manifestação de cultura popular, encontra-se no seio dos conflitos de classe e como tal é atravessado, limitado e orientado por tais conflitos. As manifestações populares expressam uma ideologia, negar isso é supor que existe arte sem a participação dos autores que expressam nela a sua relação com o mundo. O frevo Pernambucano não nasceu do dia para noite. Suas origens remontam do fim do século XVII, com as “Cias. de Carregadores de Açúcar” e as “Cias. de Carregadores de Mercadorias” localizadas no bairro portuário do Recife, onde haviam grupos formados por negros, que desfilavam nos 22 - Jornal Estudantes do Povo festejos do dia de reis. Como qualquer manifestação cultural, o frevo surgiu num processo, nas ruas do Recife, por volta da segunda metade do século XIX e início do XX, quando os capoeiras saíam a frente das bandas militares, que tocavam dobrados. Nessa época a capoeira, que se assemelha mais à capoeira-angola de hoje, estava proibida por lei. Para se defenderem das investidas da polícia e de outros grupos rivais, os capoeiras andavam com guarda-chuvas sob os quais se escondia um enorme porrete de pau-de-caqui. O malabarismo dos capoeiras, para acompanhar o ritmo da marcha, foi se estilizando no passo ao mesmo tempo em que a música foi se acelerando, até assumir as características do frevo-de-rua. A abolição da escravidão, em 1888, permitiu o surgimento das primeiras agremiações constituídas por operários urbanos, assim clubes e troças que evocavam o mundo cotidiano do trabalho proliferaram-se no Recife, a exemplo dos “Caiadores” e dos “Carvoeiros” (1º clube criado). Em seguida, vieram o “Clube das Pás de Carvão”(1888) do qual competia a liderança com o “Clube dos Vassourinhas” de 1889. Além de outros como: os “Lenhadores”, “Pescadores”, “Abanadores”, “Funileiros”, “Parteiros de São José”, “Costureiras do Saco”, “Carpinteiros”, “Trabalhadores em Greve”, “Sapateiros”, “Mocidade Operária”, “Engomadeiras”, Espanadores”, etc. Além de operários predominavam nas agremiações pequenos comerciantes e vendedores ambulantes. Nessas agremiações existia um clima de grande competição e rivalidade que muitas vezes levava à violência. O frevo enquanto ritmo, já no período republicano, adquire a forma de manifestação ante aos acontecimentos sociais graças ao surgimento da classe trabalhadora e o seu conseqüente amadurecimento enquanto movimento operário, com as primeiras grandes greves e a queda da oligarquia de Rosa e Silva em Pernambuco. Primeiro gênero musical, criado essencialmente para o carnaval, o frevo é música para ser tocada nas ruas, e foi dançado apenas pelas multidões de pobres, excluídos pela genuína “sociedade” pernambucana, até 1947, quando os grandes clubes começaram a tocar o frevo nos seus bailes. A origem etimológica da palavra frevo, vem de “ferver”, relativo a agitação, a efervescência. A palavra “ferver” pronunciada “frever” pelas classes trabalhadoras é a gênese do nome frevo. Segundo o jornalista Mario Melo (1900-1959) será a introdução sincopada que dará uma fisionomia diferenciada, moderna ao frevo. Através de José Lourenço da Silva, o “Zuzinha” – nascido em Paudalho – se estabeleceu uma divisão entre o frevo e a “marcha polca”, contribuindo ainda mais para essa diversificação. Além disso, o curioso é saber que os próprios foliões foram os responsáveis pela evolução dos passos ao longo do tempo. A marcha molda o passo, que por sua vez se adapta criando o ritmo. É nesse grande limiar frenético que, ao longo do século XX, compositores tiveram a incumbência de manter viva tal essência popular. Pessoas como Nelson Ferreira, Edgar Morais, Raul Morais, Luperce Miranda, Matias da Rocha – autor do famoso “Vassourinhas”, além, é claro, de Luis Bandeira, dono do famoso frevo-canção “Voltei Recife”, e Capiba, expoentes maiores de uma identidade eminentemente pernambucana, onde canta o Recife e exalta o seu povo. Madeira que cupim não rói Música composta pelo mestre Capiba, o maior de todos os compositores de frevo. Esta música é muito utilizada nas manifestações populares, pois expressa a resistência do povo contra os falsos julgamentos, as falsas leis e as falsas justiças. Madeiras do Rosarinho Vem à cidade, sua fama mostrar E traz com seu pessoal Seu estandarte tão original Não vem pra fazer barulho Vem só dizer, e com satisfação Queiram ou não queiram os juízes O nosso bloco é de fato campeão E se aqui estamos cantando esta canção Viemos defender a nossa tradição E dizer bem alto, que a injustica dói Nós somos Madeira de Lei que cupim não rói. Juventude MULHERES COM DEPRESSÃO E A OPRESSÃO DA MULHER exemplo, considerar quadros depressivos graves como “falta de força de vontade” ou uma simples tristeza como depressão. Quem tem depressão? A depressão pode manifestar-se em qualquer pessoa independentemente da classe. Porém a maioria que tem acesso ao tratamento mais adequado é de classe média alta. As mulheres superam os homens na proporção de 2 para 1 no número de casos relatados de depressão. A incidência de depressão em mulheres e de 12% e em homens O s 8% em algum momento da vida. Outro índices de fator importante é que segundo texto pessoas com da professora Ângela Miranda Scippa depressão hoje e do professor Irismar Reis de Oliveira são muito grandes. da UFBA, a depressão em homens Sabemos que esta ocorre mais freqüentemente em é a 4ª doença que solteiros e viúvos e a depressão em mais afasta do mulheres ocorre mais entre as casadas. trabalho no mundo Que relação isso teria com a opresinteiro. Segundo alguns especialistas são feminina seria o “mal” do século! baseada na E não poderia ser estrutura diferente, nesta “Segundo pesquisa realiarcaica da sociedade capitalista que zada nos EUA na década família? degenera o homem, de 90, apenas 10% da onde as relações de O que exploração e alienação população acreditava que causa? a cada dia mais se a depressão tivesse base acentuam e sofisticam. A biológica envolvida com Onde a crise do depressão é imperialismo faz com problemas no cérebro, os causada pela que as relações junção de outros 90% acreditavam especulativas tomem fatores biolóque a depressão fosse conta da sociedade e da gicos (dimivida das pessoas cada devido à fraqueza de canuição de dia mais. Vivemos sem neurotransdireito a lazer, sem ráter, falta de coragem, e missores direito a estudar, sem força de vontade!” como nortacondições adequadas de ( SCIPPA e OLIVEIRA, drenalina, descanso físico e Depressão, p.04) serotonina e mental. Vivemos na dopamina), verdade à mercê das por deficiênrelações de produção e troca das cia na transmissão de sinais químicos mercadorias. por problemas internos dos próprios A doença propriamente dita neurônios) em conjunto com os sociais A depressão é considerada uma (perda de pessoas queridas, doença clínica. O termo depressão exploração desenfreada, assédios, porém tem sido utilizado para traduzir desemprego, desilusões, etc.) tristeza. Este é equívoco porque a As origens e os sintomas de depressão depressão é a tristeza conjunta de em mulheres são variados e complexos fadiga, falta de apetite, insônia, perda e podem resultar de uma grande de equilíbrio emocional e outros. A variedade de causas físicas e emocionais. tristeza é um fator natural e até Porém a afirmação focada na questão fisiológico, é a reação das emoções hormonal e física somente, não procede, humanas sob o impacto de uma vez que, os fatores sociais que estão acontecimentos externos, presentes no dia-a dia das mulheres, são diferentemente da depressão. Esta em grande parte dos casos tratados, a distinção não é algo fácil de fazer e por combustão do desenvolvimento dessas isso existem muitos erros em, por doenças. Mesmo assim a questão hormonal por si só pode também desencadear a depressão como é o caso do pós-parto. A relação biológico/social Segundo pesquisa realizada em 1993 por Kendler, com relação a causa da depressão em mulheres as condições objetivas para o desenvolvimento da depressão em ordem decrescente seria acontecimentos vitais traumáticos, fatores genéticos, história anterior de quadro depressivo. Com relação aos fatores genéticos 60% tinham pré-disposições genéticas condicionadas diretamente para o desenvolvimento da depressão, nestes casos a maioria delimitava-se em quadros de bipolaridade. Os outros 40% dos fatores genéticos foram identificados como fatores indiretos mediados sempre por acontecimentos vitais traumáticos. A questão de classe Estudos realizados por Wollershein (1993) e Bifulco (1998), comparam a questão social com a incidência de depressão em mulheres. Em suas pesquisas levantam que o status de “dona-decasa” por exemplo, está relacionado com maior incidência de depressão. Esta relação se daria por fatores sociais objetivos; dependência econômica do marido ou filhos e parentes, falta de aspirações diferentes em seu dia-a-dia, baixa auto-estima pela desvalorização do trabalho que realiza. Outra questão que já foi levantada é com relação ao estado civil (Bruce e Kim, 1992) comprova-se que a incidência de casos de depressão em mulheres é maior em mulheres casadas e ao contrário nos homens. Isso comprova que para os homens o casamento é motivo de facilidades e para as mulheres ao contrário. Com relação a isso não precisamos nem enfatizar muito, pois sabemos que a mulher sustenta a “estrutura” da família. Preocupa-se mais com as doenças dos filhos, com as relações interpessoais dentro da família, é responsável pela educação e boa alimentação, seja qual for a condição, é responsável em manter a ordem dentro de casa, garantir seu marido sempre bem alimentado, limpo e satisfeito sexualmente e este por sua vez, com tais condições vende-se na fábrica ao burguês. “Sobre que fundamento repousa a família atual, a família burguesa? No capital, no ganho individual. A família na sua plenitude só existe para a burguesia, mas encontra seu complemento na supressão forçada da família para o proletariado e sua prostituição pública. A burguesia desvanece-se naturalmente com o desvanecer de seu complemento, e uma e outra desaparecerão com o desaparecimento do capital (...) para o burguês a sua mulher nada mais é do que instrumento de produção (...) Nossos burgueses não contentes em ter indiretamente as mulheres e filhas de proletários à sua disposição, sem falar da prostituição oficial, tem singular prazer em cornearem-se uns aos outros. O casamento burguês é na realidade uma comunidade de mulheres casadas, é evidente que com a abolição das relações de produção atuais, a comunidade das mulheres que deriva destas relações, isto é, prostituição oficial e não oficial desaparecerá.” (MARX e ENGELS, Manifesto do Partido Comunista, p.48) Garantindo a exploração burguesa através da instituição família a mulher passa então em escala de exploração a ser oprimida por esta instituição imposta pela sociedade de classes. As mulheres proletárias portanto sofrem a opressão de classe que é a principal e conforme a constituição da sociedade patriarcal e sofre a opressão feminina onde o proletário oprimido pelo burguês oprime a sua mulher. Como tal opressão é milenar, desde o surgimento das classes, a mulher possui um espírito de autoexigência violento, foi criada para sustentar esta estrutura familiar e por isso, trancafiou-se nas quatro paredes de sua casa. Não foi lhe permitido muita coisa e até hoje não lhe é. Gerando assim uma grande subestimação, um espírito de incapacidade perante aos desafios da vida, um sentimento de autocomplacência e fragilidade. Estes fatores sociais sem dúvida exemplificam e justificam a maior incidência de depressão em mulheres do que em homens, uma vez que, a pré disposição genética esta presente nos dois, e que a mulher das classes trabalhadoras tem sobre a sua cabeça uma opressão a mais do que os homens de sua classe. Jornal Estudantes do Povo - 23 Heróis do Movimento Estudantil Helenira Rezende de Sousa Nazareth Estudante da USP, Guerrilheira do Araguaia Helenira Rezende cursou Letras na Universidade de São Paulo no fim dos anos 60. Foi presidente do Centro Acadêmico de seu curso e eleita em 1968 para a vice-presidência da UNE – União Nacional dos Estudantes. Nasceu em janeiro de 1944 em Cerqueira César, estado de São Paulo, e mudou-se 4 anos depois para Assis SP, cidade onde passou a infância e juventude. Helenira foi membro da Seleção de Basquete da cidade de Assis, sobressaiu-se como uma das melhores jogadoras da região da Alta Sorocabana, tendo também sido contemplada com várias medalhas no atletismo, na modalidade de salto à distância. Segundo depoimento de uma professora era uma ‘estudante nota cem’. Ela também foi professora de português em 2 Escolas Estaduais, no Jardim Japão e em Guarulhos, onde preparava, com seus estudantes, peças teatrais classificadas pela gerência militar como subversivas. Juntamente com outras centenas de lideranças estudantis, Helenira foi presa em 68 pelos militares quando participava do 30º Congresso da UNE em Ibiúna – SP, realizado clandestinamente. Sua irmã, Helenalda Rezende, cita um fato ocorrido enquanto a repressão levava os estudantes presos: “Nesta ocasião, quando o ônibus que os transportava passava pela Avenida Tiradentes, conseguiu entregar a um transeunte um bilhete que foi levado à sua residência à Rua Robertson, no Cambuci, avisando à família de sua prisão. Procurada pelos policiais como Nazareth e apontada como sendo uma das líderes do movimento, foi transferida do Presídio Tiradentes para o DOPS onde caiu nas garras do famigerado Fleury, que a jurou de morte”. Antes, em maio do mesmo ano, também foi presa quando estava mobilizando estudantes para uma passeata. Após a prisão, a família ficou dias sem contato com ela. Pouco tempo depois do contato feito pela advogada, a jovem comunista foi transferida para o Presídio de Mulheres do Carandiru, onde ficou presa durante 2 meses. Apenas 1 dia antes de ser decretado o AI-5 (Ato Institucional Número Cinco, decretado em 13 de dezembro de 1968) saiu seu Hábeas-Corpus e ela foi solta. 24 - Jornal Estudantes do Povo Naquelas décadas, os estudantes brasileiros organizados sob a direção conseqüente da UNE lutavam pela revolução em nosso país, isto é, pela transformação radical da sociedade brasileira, pela destruição deste Estado genocida e sanguinário. A UNE de 60 e 70 construiu um movimento estudantil combativo e revolucionário, que não conciliava com o inimigo. Helenira e tantos outros heróis estudantis que participaram da UNE lutavam por uma nova sociedade, livre da exploração e da dominação imperialista. Era militante do Partido Comunista do Brasil e como outras dezenas de jovens foi para a região do Araguaia, no Sul do Pará, organizar a luta armada e iniciar a primeira experiência de Guerra Popular Prolongada no Brasil, a Guerrilha do Araguaia. Em entrevista a um jornalista, na floresta, relembrou acontecimentos dos anos do movimento estudantil, afirmando: “Esse regime que ensangüenta o Brasil precisa ser derrubado. Isto está na cabeça e no coração de milhões de jovens.” Na mesma ocasião da entrevista enviou uma mensagem de confiança aos estudantes: “Empunhem firmemente a bandeira da liberdade, não dêem trégua à ditadura; quem persiste na luta acaba triunfando”. Fátima, nome usado na clandestinidade por Helenira, pertencia ao Destacamento A da Guerrilha. Em 1972, em um combate com as tropas reacionárias, ela foi assassinada. O relatório produzido pelo comunista Ângelo Arroyo descreve este momento: “No dia 29 de setembro, houve um choque do qual resultou a morte de Helenira Rezende [Helenira Rezende de Souza Nazareth]. Ela juntamente com outro companheiro, estava de guarda num ponto alto da mata para permitir a passagem, sem surpresas, de grupos do destacamento. Nessa ocasião, pela estrada vinham tropas. Como estas acharam a passagem perigosa, enviaram “batedores” para explorar a margem da estrada, precisamente onde se encontrava Helenira e o outro companheiro. Este quando viu os soldados, acionou a metralhadora, que não funcionou. Ele correu e Helenira não se deu conta do que estava sucedendo. Quando viu, já os soldados estavam diante dela. Helenira atirou com uma espingarda 16. Matou um. O outro soldado deu uma rajada de metralhadora que a atingiu. Ferida, sacou o revólver e atirou no soldado, que deve ter sido atingido. Foi presa e torturada até a morte. Elementos da massa dizem que seu corpo foi enterrado no local chamado Oito Barracas.” Os guerrilheiros, após sua morte, mudaram o nome do Destacamento em que ela atuava, para Destacamento Helenira Rezende. Vila Esperança, um bairro pobre de Campinas-SP, também em homenagem à guerrilheira, tem uma rua com seu nome; o Diretório Central dos Estudantes da UNESP – Universidade Estadual Paulista – também carrega o nome desta heroína do movimento estudantil. Helenira é motivo de orgulho e exemplo para a juventude brasileira. Brava mulher, estudiosa, corajosa e defensora do povo. Jamais se intimidou com as forças truculentas da repressão, lutou até as últimas conseqüências pela emancipação do povo; morreu em combate na árdua luta pela tomada do poder. Sua morte não fez cessar sua luta, seus princípios e objetivos. A UNE dos tempos atuais, sob o controle dos oportunistas foi prostituída por completo. Os estudantes que defendem a UNE da década de 60 e 70, hoje estão fora da UNE, reorganizando a luta democrática, independente, combativa e revolucionária. Enquanto Helenira Rezende e outros tantos jovens na época se dispuseram a viver nas duras condições da clandestinidade e foram viver com o povo, para aprender com ele e organizar sua luta, os “diretores” da UNE hoje se dispõem a ficar no gabinete dos deputados, a mendigar cargos no governo e a defender as reformas próimperialistas que atacam o povo e os estudantes. Foi exatamente o abandono dessas ilusões com o caminho da conciliação e eleitoralismo que permitiu a toda uma geração de jovens participassem ativamente da luta do povo brasileiro e garantissem importantes vitórias estudantis. A UNE de hoje é a completa negação da UNE da década de 60 e 70. Não podemos permitir que os burocratas do PT-PCdoB e outros partidos de direita que estão na UNE hoje, falem em nome da entidade dos anos 60 e 70. Devemos honrar nossos heróis, que organizaram o movimento estudantil clandestino para servir à revolução brasileira, e desmascarar estes oportunistas que desviam o poder revolucionário da juventude para sua prática legalista, conciliadora e seus projetos eleitorais cretinos. Certamente estes bravos companheiros não lutaram para hoje vivermos nesta falsa democracia, que os mentirosos oportunistas e revisionistas encastelados nos partidos eleitoreiros chamam de democracia. A UNE da década de 60 e 70 não lutou para que Lula pudesse ser gerente do país, como fazem propaganda o PT-PCdoB-UNE. A bandeira de Helenira Rezende segue empunhada. O único caminho para a juventude é a revolução! O caminho para a emancipação da mulher é a luta, ao lado dos homens explorados, pela libertação de todo o povo. Os estudantes brasileiros devem seguir o exemplo de Helenira de se juntar ao nosso povo e com ele organizar a luta pela revolução no Brasil.