3º Encontro Brasileiro de Silvicultura
FIREGLOBULUS: DESENVOLVIMENTO DE FERRAMENTAS
DE APOIO À DECISÃO NO USO DE FOGO CONTROLADO
EM PLANTAÇÕES DE EUCALIPTO
Carlos Loureiro1; Anita Pinto2; Paulo M. Fernandes3
Eng. Florestal/MSc, GIFF S.A., Rua D. João Ribeiro Gaio, 9B-1ºE, 4480- 811 Vila do Conde,
Portugal ([email protected]); 2Eng.ª Florestal/MSc, Bolseira de Investigação, CIFAP, ECAV,
UTAD; 3Professor Auxiliar, CIFAP, ECAV, UTAD, Quinta de Prados, Apartado 1013,
5001-801 Vila Real, Portugal ([email protected])
1
Introdução
A gravidade dos fogos florestais em Portugal, a representatividade, combustibilidade e importância económica da fileira do
eucalipto, e as mais-valias do fogo controlado na gestão de combustíveis recomendam que se examine a possibilidade do seu
uso na mitigação do risco de incêndio. O
projeto FIREglobulus tem como objetivo
criar a base científica para o desenvolvimento tecnológico do fogo controlado em
plantações de Eucalyptus globulus.
O comportamento e severidade do fogo
foram estudados em queimas experimentais em eucaliptal efetuadas do Outono à
Primavera, complementadas por ensaios
em laboratório. A análise dos dados relaciona as características do fogo com os
descritores do complexo combustível e
outros fatores ambientais, analisa o desempenho dos modelos de comportamento do fogo existentes, e resultará numa
cadeia de relações preditivas que ligará o
piro-ambiente (meteorologia, combustível), o comportamento do fogo e os seus
impactes no combustível e nas árvores.
Apresentam-se resultados relativos à avaliação da humidade do combustível morto
e comportamento do fogo.
Metodologia
Colheram-se amostras da folhada super-
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ficial (horizonte L) para avaliação do seu
teor de humidade (HL), que se modelou
por análise de regressão linearizada, em
função do défice de pressão de vapor
(VPD, função da temperatura do ar e humidade relativa) e dos índices de humidade
do Sistema Canadiano de Perigo Meteorológico de Incêndio (Van Wagner, 1987).
Amostras colhidas em queimas experimentais permitiram modelar o teor de humidade das amostras da camada F da folhada
(HF) e dos lenhosos >0,6 mm de diâmetro (H10h) com base no DMC (Índice da
humidade da manta morta). A humidade
da casca acumulada na base das árvores
(HCb) e a 1 m de altura no tronco (HCt)
modelou-se em função de HL.
A sustentabilidade da propagação do fogo
em laboratório foi modelada por análise CART (Classification and Regression
Tree), em função das características da folhada (teor de humidade, carga, espessura)
e velocidade do vento, com ignição linear
(Figura 1).
A velocidade de propagação e intensidade
relativas do fogo foram determinadas em
ensaios, em laboratório, e modeladas por
análise de regressão. Expressaram-se em
função da sua alteração do seu comportamento face a reduções de carga de 25 e
50% respeCtivamente.
Resumos Expandidos
Resultados
A estimação fiável e operacional da humidade do combustível é essencial no fogo
controlado já que condiciona a ignição, o
comportamento do fogo e o consumo de
combustível. Os coeficientes de regressão
e análise de desempenho (bastante satisfatório) dos modelos de predição da humidade do combustível morto estão no
Quadro 1.
A predição de HL tem sido testada em diferentes locais, sendo o resultado comparado na Figura 1. As variáveis determinantes
da sustentabilidade da ignição são o teor de
humidade, a espessura da folhada e o sentido da propagação do fogo. Os limiares
de decisão e a ordem de importância das
variáveis estão representados na Figura 2.
Quadro 1. Coeficientes (erro padrão) e estatísticas de desempenho dos modelos para
estimação da humidade do combustível morto.
Compo
nente
Intercetor
VPD
FFMC
U (kmh-1)
DMC
HL
HL
4,303**
-0,390**
-0,01738**
-0,0123*
(n=134)
(0,1109)
(0,028)
(0,0014)
(0,0036)
HF
5,3246*
0,1082*
(n=8)
(0,3412)
(0,0177)
H10h
4,4075**
0,4986**
(n=24)
(0,2503)
(0,0899)
HCb
2,2109**
0,0344**
(n=23)
(0,079)
(0,003)
HCt
2,2088**
0,0293**
(n=27)
(0,058)
(0,002)
R2
MAE
MAPE (%)
0,915
4,351
16,659
0,972
13,388
17,715
0,772
2,85
11,65
0,859
2,832
12,652
0,857
1,803
9,766
FFMC – Índice de humidade dos combustíveis finos; MAE – Média absoluta do erro;
MAPE – Média percentual do erro ; ** p<0,001; * p<0,05
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3º Encontro Brasileiro de Silvicultura
de do fogo, em função das alterações da
carga, tomando como referência as 8 ton/
ha, limiar a partir do qual o combate direto
deixa de ser efetivo em situação de condições meteorológicas adversas, é visível na
Figura 3. Esta informação é relevante para
os gestores de espaços florestais, especialmente ao nível da defesa da floresta contra
incêndios, já que permite apoiar a tomada
de decisão quanto a tratamentos de silvicultura preventiva.
Figura 1 - Comparação entre o teor de humidade do horizonte L (HL) previsto pelo
modelo desenvolvido (Predicted FMC %)
e o observado (Observed dead FMC %),
em povoamentos florestais de eucalipto
(círculos, triângulos e quadrados identificam diferentes locais de estudo)
Figura 3 - Velocidade de propagação (R
PROP) e intensidade (I PROP) relativas do
fogo, em função da carga de combustível
fino.
Conclusão
Figura 2 - Analise CART da sustentabilidade da propagação do fogo em folhada de
eucalipto (n=137)
% H – Valor da humidade da folhada em
%; Esp – Espessura da folhada em cm;
Prop - F – Propagação ascendente ; Prop
- C – Propagação descendente; 1 - propagação sustentada; 0 - propagação não sustentada
A forma como varia, em valores relativos,
a velocidade de propagação e intensida-
250
A estimação do teor de humidade do combustível morto pode ser efetuada com base
na medição da temperatura ambiente e
humidade relativa do ar e dos índices do
Sistema Canadiano, com boa concordância entre as observações e as predições.
Os modelos desenvolvidos com base nos
dados obtidos nos ensaios de laboratório
para a sustentabilidade da propagação do
fogo são bastante satisfatórios e o seu desempenho tem vindo a ser validado nos
fogos experimentais efetuados no campo.
O impacto relativo da redução de carga de
combustível na velocidade de propagação
e intensidade do fogo permite planear os
tratamentos de redução do combustível em
função do tempo, e otimizar o uso do fogo
Resumos Expandidos
controlado para a redução do perigo de incêndio em plantações de eucalipto.
Referências Bibliográficas
Van Wagner, C.. (1987) Development and
structure of the Canadian Forest Fire Weather Index System. Canadian Forest Service, Information Report 35. (Chalk River,
ON)
Viney NR (1991) A review of fine fuel
moisture modelling. International Journal
of Wildland Fire 1, 215–234. doi:10.1071/
WF9910215
Agradecimentos
Este estudo é suportado pelo projeto FIREglobulus, projeto I&DT em Co-promoção n.º21555, no âmbito do Quadro de
Referência Estratégico Nacional (QREN),
co-financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através
do Programa Operacional Regional de
Norte.
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