Avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização para sinais do canal direto do sistema GSM 1,8 GHz Luís Cláudio Palma Pereira*, Thiago Arantes Suedan e Delson Meira O artigo apresenta uma avaliação experimental dos ganhos de diversidade obtidos quando a diversidade de polarização é aplicada ao enlace do canal direto do sistema GSM operando na banda de 1,8 GHz. Dados foram obtidos utilizando-se um receptor provido de dois ramos e incluindo a implementação de um método de seleção do melhor sinal. Esse receptor foi deslocado na velocidade típica de deslocamento de um pedestre em ambientes indoor, apresentando uma variedade de características e dimensões. No artigo, o setup utilizado na coleta dos dados e as características ambientais relacionadas a esses dados são descritos. As funções estatísticas de distribuição cumulativas resultantes do processamento dos dados brutos são analisadas. Palavras-chave: Diversidade de polarização. Ganho de diversidade. Radiopropagação. Comunicações móveis. Sistema GSM. Desvanecimento por multipercurso. 1. Introdução Sinais de radiofreqüência propagando-se em ambientes outdoor característicos de sistemas de comunicações móveis celulares estão sujeitos a severos desvanecimentos associados a multipercursos. As características de desvanecimento do sinal recebido no terminal móvel são decorrentes das múltiplas reflexões e difrações sofridas por esse sinal, as quais são diretamente relacionadas à complexidade do ambiente na vizinhança do terminal. A conseqüência dessa interação com o ambiente é uma variação não somente dos níveis de potência do sinal recebido no terminal, mas também da polarização desse sinal. As características de propagação encontradas nesse tipo de sistema de comunicações levaram a um amplo emprego de diversos esquemas de diversidade desenvolvidos para a recepção do sinal do enlace reverso nas radiobases. A facilidade de aplicação, nesse caso, decorre principalmente da inexistência de restrições mais severas decorrentes de limitações de espaço para instalação das antenas. Entre os esquemas de diversidade mais empregados atualmente nas radiobases, incluem-se as diversidades de polarização e espaço. Como evidenciado pelos resultados apresentados na literatura [1] e [2], para essa aplicação, a diversidade de polarização apresenta significativos acréscimos na margem do sinal do enlace reverso. * No entanto, esquemas de diversidade são raramente empregados em terminais móveis, para os quais as restrições relacionadas às dimensões são determinantes. Nos estudos apresentados em [3], [4] e [5], são apresentados resultados para terminais providos de duas antenas polarizadas na mesma direção. A ausência de resultados semelhantes para diversidade de polarização nos terminais móveis e os respectivos ganhos constatados nos experimentos elaborados em [1] e [2] motivaram a realização dos experimentos descritos neste artigo, de forma que os ganhos de diversidade de polarização fossem avaliados no enlace direto. Assim, resultados iniciais de experimentos são apresentados, além de análises de níveis de sinais GSM (1710-1785 MHz e 1805-1880 MHz) recebidos em polarizações ortogonais na banda de recepção do terminal móvel. Os experimentos foram conduzidos utilizando-se um setup portátil, incluindo software, especialmente desenvolvido para a configuração desse setup e para captura, amostragem e armazenamento dos níveis de sinais de radiofreqüência recebidos nas duas polarizações. O setup incorpora um receptor com dois ramos e um módulo de seleção do sinal de maior intensidade. O sinal do enlace direto provém de um gerador de sinais padrão GSM conectado a uma antena setorial verticalmente polarizada, posicionada de forma a cobrir a área da Fundação CPqD, onde se encontram os prédios selecionados Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: [email protected]. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 1, n. 1, p. 181-191, jan./dez. 2005 Avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização para sinais... para o deslocamento do setup portátil. Os dados armazenados pelo setup nos diversos percursos – formatados em arquivos e correspondentes aos níveis de dois sinais GSM recebidos em polarizações ortogonais nos dois ramos do receptor –, bem como aquele selecionado como o de maior nível, foram posteriormente processados. As funções distribuição cumulativas de probabilidade foram então obtidas para diversas situações. O conhecimento dessas funções obtidas a partir de experimentos em ambientes indoor típicos dos servidos por sistemas de comunicações móveis torna-se mais importante à medida que novos serviços são oferecidos e a demanda por taxas de transmissão mais elevadas aumenta. Além de possibilitar o dimensionamento de sistemas com margens maiores que suportem aumento da informação transmitida ou da cobertura, outra possível vantagem a ser investigada é a redução dos níveis dos sinais transmitidos. Ter-se-ia, por conseqüência, uma utilização mais eficiente do espectro de radiofreqüências, de forma a tornar mais segura sua exploração também sob o ponto de vista da saúde. Na seção a seguir, apresentam-se os principais detalhes dos experimentos e os procedimentos adotados. Na terceira seção, descrevem-se as características técnicas do transmissor de sinais GSM, a implementação do receptor de dois ramos e do módulo de seleção de sinais, bem como do sistema de configuração do setup de recepção e do sistema de aquisição e armazenamento dos dados. Na quarta seção, alguns resultados obtidos a partir do processamento dos dados coletados são Prédio 13 g 13 apresentados. Finalmente, na quinta seção, apresentam-se as conclusões e abordam-se questões a serem tratadas na seqüência dos trabalhos. 2. Concepção do experimento Os dados considerados neste artigo são variações do nível de potência dos sinais de radiofreqüência padrão GSM recebidos em polarizações ortogonais por um receptor portátil deslocado por uma pessoa em ambiente indoor, de acordo com um plano preestabelecido. O setup portátil inclui o receptor com dois ramos, módulo de seleção do sinal de radiofreqüência de maior nível e antena de polarização dupla conectada aos dois ramos do receptor. Essa antena foi colocada próxima à cabeça do portador do setup. A antena setorial tipo painel do transmissor do sinal padrão GSM na polarização vertical foi instalada a uma altura de cerca de 30 metros acima dos prédios, no interior dos quais foram realizadas as coletas de dados. Essa é uma altura típica de torres de estações radiobases de sistemas celulares em áreas urbanas e suburbanas. As características de radiação da antena setorial foram selecionadas de forma a minimizar os níveis de sinal na área de cobertura desejada e evitar ajustes na elevação do apontamento da antena. A antena selecionada possui larguras de feixes de meia potência no plano azimutal de aproximadamente 800. A localização da antena transmissora e dos três prédios no interior dos quais as coletas de dados foram realizadas é ilustrada na Figura 1. Na figura, as três setas traçadas a partir do site da antena g Prédio 5 g 5 Prédio 3 g 3 g g Tx site Tx site Figura 1 Localização do site de transmissão e dos prédios – no interior dos quais foram realizadas coletas de dados e direções de apontamento delimitadoras da área de cobertura do transmissor de sinais GSM. 182 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 1, n. 1, p. 181-191, jan./dez. 2005 Avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização para sinais... Figura 2.a Plano típico de percursos indoor estabelecidos para a coleta de dados em um dos pisos do Prédio 3, indicado na Figura 1 Figura 2.b Ambiente de escritório com divisórias baixas correspondente à área de coleta de dados no Prédio 3, assinalada por percursos fechados na Figura 2.a transmissora indicam as direções de apontamento da antena e dos ângulos de meia potência. Para a escolha dos percursos indoor, os seguintes aspectos foram considerados: • Variedade de características dos recintos selecionados, como dimensões, localização no piso do prédio, separação por divisórias ou paredes, proximidades de janelas voltadas para a antena transmissora. • Estabelecimento de percursos confinados a áreas ou recintos de forma a possibilitar, quando conveniente, uma análise em separado para esses percursos. • Número estatisticamente representativo de 96 percursos estabelecidos. Nas Figuras 2.a e 2.b, ilustram-se, respectivamente, planos típicos para percursos selecionados para coleta de dados indoor e um tipo de ambiente correspondente a esses percursos. No caso, toma-se como exemplo o Prédio 3 assinalado na Figura 1. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 1, n. 1, p. 181-191, jan./dez. 2005 3. Componentes utilizados na realização do experimento A fim de realizar a aquisição dos níveis de potência correspondentes às duas polarizações ortogonais e do maior nível selecionado durante o deslocamento do setup de recepção, ao longo dos percursos estabelecidos nos interiores dos prédios, os seguintes componentes do experimento foram obtidos ou desenvolvidos: 1. Receptor portátil para o enlace direto de sinais padrão GSM com dois ramos. 2. Software para configuração do setup portátil, aquisição e armazenamento dos dados coletados ao longo dos percursos. 3. Antena com dupla polarização para toda a banda GSM-1,8 GHz. 4. Transmissor de sinais padrão GSM. Os três primeiros componentes foram desenvolvidos. Todos os quatro componentes são descritos nas subseções a seguir. 183 Avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização para sinais... 3.1. Receptor portátil O setup de recepção foi acomodado em uma mochila e inclui dois dos três módulos ilustrados na Figura 3, representados pelos Módulos 1 e 2. Uma bateria de 12 V e 7 Ah foi utilizada como fonte de energia. Como indicado nessa figura, os sinais S1 e S2, correspondentes às polarizações ortogonais do sinal recebido pela antena de dupla polarização, são os sinais de entrada para o Módulo 1. Para esse módulo, foram consideradas duas soluções ilustradas na Figura 4. A primeira solução é constituída por dois receptores, um em cada ramo, e uma chave de seleção do melhor sinal. A segunda solução possui apenas um receptor mais duas chaves. Essa foi a solução implementada, uma vez que apresenta a vantagem de dispensar o alinhamento entre os dois receptores. Nessa solução, amostras dos níveis de potência desses dois sinais são obtidas por meio da Chave 2, representada na Figura 4, e comparadas. Essa comparação é realizada considerando-se um valor médio obtido a partir de N amostras dos sinais. O número de amostras (N) é um dos parâmetros de configuração do setup, a qual é realizada por meio do software apresentado na Subseção 3.2. A melhor polarização é então selecionada através da Chave 1, assinalada na Figura 4. Essa chave também determina a polarização da antena a ser utilizada para transmissão do sinal gerado pelo terminal no enlace reverso. A implementação dos circuitos desenvolvidos para realizar essas funções é ilustrada na Figura 5, em que as interfaces com os demais módulos são assinaladas. Também como parte do setup de recepção foi utilizado um terminal GSM-SAGEM-OT190, indicado na Figura 3 como Módulo 2. Esse terminal gera o sinal padrão GSM do enlace reverso e possibilita uma monitoração dos parâmetros relacionados ao canal selecionado para aquisição de dados. Testes preliminares em laboratório forneceram as seguintes características de receptor com dois ramos desenvolvido para trabalhar na banda 1805-1880 MHz: • Taxa máxima nominal de aquisição de amostras dos dois ramos através da Chave 2: 390 amostras/segundo. S1 1 2 3 S2 Max (S1,S2) Figura 3 Módulos do setup de aquisição de dados, incluindo o receptor de dois ramos para os sinais em polarizações ortogonais S1 e S2 (Módulo 1) e circuito de seleção, terminal SAGEM (Módulo 2) e software de configuração do setup e aquisição de dados. Dispositivo de comparação e seleção Dispositivo de comparação e seleção S1 S1 RF ->Vdc Switch Switch 1 µ Ctrl RF ->Vdc Cel Notebook S2 Switch 2 Cel RF ->Vdc Notebook Solução 1: Uso de 2 receptores e 1 Switch S2 µ Ctrl Solução 2: Uso de 1 receptor e 2 Switches Figura 4 Soluções consideradas para a implementação do Módulo 1 do setup de aquisição de dados e as conexões com os Módulos 2 e 3 representados na Figura 3. A Solução 2 foi a adotada. 184 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 1, n. 1, p. 181-191, jan./dez. 2005 Avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização para sinais... S1 Conexão com terminal SAGEM Conexão serial de dados S2 Figura 5 Implementação da Solução 2 do circuito de seleção ilustrada na Figura 4, com interfaces de dados para conexão com o Módulo 3 (software de configuração e aquisição) e conexão de RF com o Módulo 2 (terminal SAGEM) indicados na Figura 3. Freq. de Chaveamento (GSM-82dBm) Erro relativo (%) 120 100 80 60 40 20 0 0 10 20 30 40 50 Freq. onda quadrada (Hz) Figura 6 Avaliação do desempenho do circuito de decisão em função da freqüência de ocorrência de desvanecimentos do sinal GSM em um dos ramos do receptor representado na Figura 4 como Solução 2. O nível de sinal de referência no outro ramo foi mantido constante em -82 dBm. A taxa de amostragem dos sinais manteve-se fixa. O número (N) de amostras utilizadas na determinação do nível de sinal é variável. • Máxima freqüência de mudança de estado da Chave 1 utilizada na seleção do melhor sinal: 15 Hz. • Sensibilidade do receptor: -105 dBm. • Range dinâmico do receptor: 60 dB. • Isolação mínima entre ramos do receptor: 20 dB. A limitação na mudança de estado da Chave 1 foi avaliada na simulação de ocorrência de desvanecimentos multipercursos no sinal recebido, em laboratório. Para isso, utilizou-se o gerador de padrões de desvanecimento fornecidos pelo SMIQ, da Rohde&Schwarz, com módulo de desva- Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 1, n. 1, p. 181-191, jan./dez. 2005 necimento, conectado a um gerador de sinais GSM CMU-200, e criaram-se padrões conhecidos de variações bruscas dos níveis de sinais na entrada de um dos ramos do circuito de decisão. A Figura 6 ilustra resultados obtidos dessa forma, no laboratório, que permitiram avaliar o seu desempenho. 3.2. Software de aquisição de dados O software desenvolvido em linguagem Java permite a configuração de parâmetros do setup de aquisição de dados, especificamente do Módulo 1 representado na Figura 3, a monitoração 185 Avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização para sinais... Figura 7 Tela principal do software desenvolvido para configuração dos parâmetros do módulo do setup de recepção dedicado à amostragem dos sinais nos dois ramos e seleção do melhor sinal, bem como da monitoração da aquisição e geração de arquivos de dados. PCB-FR4 Plano de terra Linha de alimentação Figura 8 Layout (Protel) de um dos monopólos com carga de topo projetado para faixa GSM, utilizado na montagem da antena de dupla polarização. Estão representados também a linha de alimentação de 50 Ù e o plano de terra (retângulo inferior). dos níveis de sinais recebidos nos dois ramos do receptor e a geração/formatação de arquivos contendo os dados coletados. A Figura 7 reproduz a tela principal do software, em que são disponibilizadas informações em tempo real referentes à freqüência do canal utilizado, taxa de amostragem dos sinais nos dois ramos do receptor (Chave 2), níveis desses sinais nos dois ramos e estado da chave de seleção (Chave 1). Os principais parâmetros de configuração: taxa de amostragem nominal e número de amostras (N) utilizadas no cálculo do valor médio do nível de sinal em cada ramo também são disponibilizados. Esse software representado pelo Módulo 3 na Figura 3 foi instalado em um notebook, parte 186 do setup portátil, conectado via porta serial ao circuito de seleção, como indicado na Figura 5. 3.3. Antena duplamente polarizada Uma antena duplamente polarizada, constituída por dois monopólos com carga de topo projetados para as bandas dos enlaces direto e reverso, tem seus monopólos ortogonalmente dispostos e conectados ao receptor. O monopólo e sua linha de alimentação (50Ù) são impressos na mesma face da placa em substrato FR-4, usualmente empregado em produções de baixo custo. O plano de terra encontra-se na face oposta da placa. O layout para manufatura de um dos Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 1, n. 1, p. 181-191, jan./dez. 2005 Avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização para sinais... Amplitude (dB) Diagrama de Radiação Posição Angular (Graus) Figura 9 Diagramas de radiação do monopólo desenvolvido, obtidos em câmara anecóica para o plano H nas polarizações principal e contrapolar. Figura 10 Montagem do setup utilizado na coleta de dados dos níveis de sinais padrão GSM em ambientes indoor. A mochila contém os Módulos 1 e 2, representados na Figura 3. O software de configuração e coleta de dados foi instalado no notebook. A antena conectada aos dois ramos do receptor é vista fixada na haste próxima à cabeça do portador do setup. monopólos encontra-se reproduzido na Figura 8. Cada uma das portas da antena é conectada aos ramos do circuito do módulo de decisão (1) indicado na Figura 3. As principais características de desempenho da montagem das duas antenas para a faixa 17101880 MHz são: · Perda de retorno típica: 15 dB. · Isolação entre portas típica: 15 dB. · Características do diagrama de radiação e discriminação de polarização exemplificadas na Figura 9. As características de radiação das antenas foram avaliadas na câmara anecóica da Fundação CPqD. O diagrama correspondente ao Plano H nas polarizações principal e contrapolar, reproduzido na Figura 9, foi obtido para o monopólo correspondente à polarização vertical. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 1, n. 1, p. 181-191, jan./dez. 2005 Na Figura 10, encontra-se representada a montagem das antenas no setup portátil. Nessa mesma figura, podem ser visualizados os demais módulos e componentes desse setup. 3.4. Transmissor de sinais GSM O setup de transmissão foi instalado no topo de uma das torres do sítio de testes de antenas da Fundação CPqD, como indicado na Figura 1. A localização dessa torre em relação aos prédios no interior dos quais medidas foram realizadas também é exibida nessa figura. O espectro do sinal do enlace direto foi fornecido por um CMU-200 da Rohde&Schwartz. O sinal de 10 dBm gerado pelo CMU foi injetado em um amplificador de potência conectado à antena setorial de 8 dBi de ganho. A discriminação dessa antena na largura de feixe é superior a 20 dB. 187 Avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização para sinais... 4. Processamento e análise dos dados coletados no experimento Três prédios da Fundação CPqD foram selecionados para coleta de dados. Esses prédios são assinalados na Figura 1. O Prédio 5 possui uma variedade de recintos com diferentes dimensões, incluindo auditório, anfiteatros, grandes corredores e pequenos ambientes. O Prédio 3 possui três pisos, e o Prédio 13, um piso. No Prédio 3, predominam as separações de ambientes por divisórias, ao passo que no Prédio 13 a separação se dá por paredes de alvenaria. Todos os prédios são de concepção moderna e providos de portas envidraçadas ou janelas voltadas para o site da antena transmissora. A aquisição de dados foi realizada em salas e recintos com características e dimensões variadas, incluindo corredores, banheiros, escritórios, postos de trabalho, anfiteatros, auditório, com diferentes tipos de divisórias, paredes e mobiliário. A velocidade de deslocamento média do portador do setup de recepção, estimada durante a aquisição dos dados, foi de 1,1 m/seg. Para a aquisição, foi selecionado o canal BCCH na freqüência de 1.850 MHz. A Figura 11 ilustra a função distribuição cumulativa de probabilidade, obtida a partir dos dados obtidos nos três prédios. As curvas traçadas correspondem às distribuições dos níveis de sinais para as polarizações vertical, horizontal, sinal selecionado e limite para a função distribuição associada ao sinal selecionado. As coletas de níveis de sinal foram realizadas com uma taxa de amostragem nominal de 390 amostras/seg, N=2 e diferença mínima de 1,5 dB entre os sinais nos dois ramos do receptor, a partir da qual o processo de seleção de um dos sinais é realizado. Na Figura 12, encontram-se reproduzidos registros dos três níveis de sinais considerados, constituídos pelos níveis de sinais em cada ramo do receptor, e o melhor sinal determinado pelo circuito de decisão. Nessa figura, representa-se a seqüência de chaveamento decorrente da seleção. As curvas apresentadas na Figura 13 foram obtidas da mesma forma daquelas apresentadas na Figura 11 e correspondem aos dados coletados no Prédio 5. Na Figura 14, encontram-se as funções distribuição cumulativa para os ganhos de diversidade, tendo como referência os sinais recebidos nas polarizações vertical e horizontal para o Prédio 5. A Figura 15 mostra a distribuição cumulativa dos ganhos de diversidade de polarização em relação ao sinal recebido na polarização vertical em percursos ou conjunto de percursos do Prédio 5. As cinco curvas foram obtidas para percursos no interior de uma pequena sala (Curva 1), todos Tabela 1 Ganhos de diversidade de polarização, obtidos para os percentuais de ocorrência 50%, 10%, 1% e 0,1%. Probabilidade (%) Ganho de diversidade (dB) 50 1a2 10 2a6 1 4,5 a 10 0,1 6,5 a 13 Figura 11 Funções de distribuição cumulativa de probabilidade obtidas a partir dos níveis de sinais coletados nos Prédios 3, 5 e 13. S1 corresponde à polarização recebida na vertical, S2 à horizontal e a curva-limite corresponde ao maior ganho de diversidade de polarização de possível obtenção a partir da combinação das distribuições associadas aos sinais S1 e S2. 188 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 1, n. 1, p. 181-191, jan./dez. 2005 Avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização para sinais... Figura 12 Registros dos níveis de sinais coletados para um percurso do Prédio 5. Estão representados os sinais em cada ramo do receptor, correspondendo às polarizações ortogonais, o sinal selecionado e a ocorrência de chaveamento entre os ramos. Figura 13 Funções distribuição cumulativa de probabilidade, obtidas a partir dos níveis de sinais coletados no Prédio 5. S1 corresponde à polarização recebida na vertical, S2 à horizontal e a curva-limite corresponde ao maior ganho de diversidade de polarização de possível obtenção a partir da combinação das distribuições associadas aos sinais S1 e S2. Figura 14 Funções distribuição cumulativa de probabilidade dos ganhos de diversidade resultante da seleção do melhor sinal em relação aos sinais recebidos nas polarizações vertical (S1) e horizontal (S2), para o Prédio 5. os percursos do prédio à exceção daqueles estabelecidos no interior do auditório (Curva 2), todos os percursos (Curva 3), apenas o auditório (Curva 4) e apenas um dos percursos no interior do auditório (Curva 5). Para a implementação adotada, considerando como critério de seleção o nível de sinal mais elevado e os valores adotados para os parâmetros de configuração, os resultados evidenciam a obtenção de ganhos de diversidade significativos quando probabilidades de ocorrência inferiores a 10 % são consideradas. Os resultados Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 1, n. 1, p. 181-191, jan./dez. 2005 evidenciam também uma correlação entre as dimensões dos recintos e os valores de ganho de diversidade obtidos. A Tabela 1, a seguir, consolida valores típicos de ganhos de diversidade em relação aos níveis de sinais na polarização vertical para algumas faixas de probabilidade de ocorrência. Esses ganhos são compatíveis com os ganhos máximos obtidos para implementações de esquemas de diversidade de polarização na recepção de sinais do enlace reverso na faixa de 800 MHz, apresentados em [2]. 189 Avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização para sinais... Figura 15 Funções distribuição cumulativa de probabilidade dos ganhos de diversidade resultante da seleção do melhor sinal em relação aos sinais recebidos na polarização vertical. Cada uma das curvas corresponde a um conjunto de dados obtidos no Prédio 5. Sala (1), todos os percursos, exceto auditório (2), todos os percursos (3), auditório (40) e 1 percurso no auditório (5). 5. Conclusões Este artigo descreveu uma avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização aplicada ao receptor do enlace direto do sistema GSM 1,8 GHz. Foram consideradas situações em que o receptor é deslocado em ambientes indoor, sujeito a desvanecimentos rápidos provocados por multipercursos. Os componentes do setup concebidos para receber, selecionar e armazenar os sinais em polarizações ortogonais, bem como o correspondente ao melhor sinal selecionado, foram descritos. Os resultados apresentados evidenciam a obtenção de ganhos significativos de diversidade de polarização, particularmente quando pequenas percentagens de tempo são consideradas. Abordou-se ainda a correlação entre a magnitude desses ganhos e os ambientes nos quais a coleta dos dados ocorreu. Os resultados apontam para a vantagem da utilização desse esquema de diversidade em 6. Referências [1] PEREIRA, Luís Cláudio Palma & SUEDAN, Thiago Arantes. “An experimental evaluation of polarization characteristics of mobile communication signals at 800 MHz”. Anais do Simpósio IMOC 2003 (SBMO/IEEE/MTT-S), Foz do Iguaçu, 2003. [2] PEREIRA, Luís Cláudio Palma & SUEDAN, Thiago Arantes. “Avaliação dos ganhos de diversidade de polarização em ambientes indoor na faixa de 800 MHz”. Anais do Simpósio MOMAG 2004 (SBMO), São Paulo, 2004. [3] OGAWA, K. & UWANO, T. “Analysis of a diversity antenna comprising a whip antenna and plannar 190 terminais móveis, de forma a tornar disponíveis serviços que requeiram taxas elevadas de transmissão de dados, cuja qualidade deva ser garantida mesmo em reduzidas porcentagens de tempo. O desenvolvimento de soluções de implementação do esquema proposto para a diversidade de polarização, assim como a avaliação de configurações de antenas a serem integradas aos terminais móveis, encontram-se em andamento. Além da vantagem relacionada à melhoria do desempenho do sistema, outra característica a ser investigada é a possibilidade de redução de níveis de potência radiada, particularmente pelo terminal móvel. Por encontrar-se próximo ao usuário, a redução da potência emitida pelo terminal pode ter um impacto positivo sobre os aspectos da saúde avaliados a partir de parâmetros relacionados à absorção pelo organismo humano da radiação não ionizante, medida pela Specific Absorption Ratio (SAR). inverted-F for portable telephones”. IEICE Trans. Vol. J79-B-II, no 12, 1996. [4] OGAWA, K. & UWANO, T. “Analysis of the performance of a handset diversity antenna influenced by head, hand and shoulder effects at 900 MHz: Part I – Effective gain characteristics”. IEEE Trans Vehicular Technol. Vol. 50-B-II, no 3, 2001. [5] OGAWA, K. & UWANO, T. “Analysis of the performance of a handset diversity antenna influenced by head, hand and shoulder effects at 900 MHz: part II – Correlation characteristics”. IEEE Trans Vehicular Technol. Vol. 50-B-II, no 3, 2001. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 1, n. 1, p. 181-191, jan./dez. 2005 Avaliação experimental dos ganhos de diversidade de polarização para sinais... Abstract This paper presents an experimental evaluation of polarization diversity gains obtained for GSM down link signals in the 1.8 GHz band. Data were acquired through a portable two-branch receiver developed to include a signal selection diversity method, which was displaced at walking speed inside buildings featuring a variety of room sizes. The experimental setup and relevant environmental conditions pertaining to data collection are herein described. Diversity gains cumulative distribution functions resulting from raw data are analyzed. Key words: Polarization diversity. Diversity gain. Radiopropagation. Mobile communications. GSM system. multipath fading. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 1, n. 1, p. 181-191, jan./dez. 2005 191