SOCIOLOGIA/ OUTRAS SOCIOLOGIAS ESPECÍFICAS
O PROCESSO DE RENOVAÇÃO DO PENSAMENTO MARXISTA NO
BRASIL ATRAVÉS DA REVISTA ESTUDOS SOCIAIS (1958-1964)
Santiane Arias [email protected], Marcelo Siqueira Ridenti (Orientador)
Programa de Pós-graduação em Sociologia do IFCH da UNICAMP/SP
Introdução: A presente pesquisa de Mestrado tem por tema a revista Estudos Sociais.
Criada em 1958, no Rio de Janeiro, essa revista representou um significativo avanço
democrático dentro do Partido Comunista. Reuniu em seu conselho editorial intelectuais
expressivos, dentre eles: Leandro Konder, Jorge Miglioli, Armênio Guedes, Jacob Gorender
e Astrojildo Pereira, seu diretor. A Estudos Sociais circulou num período muito importante da
história nacional (1958-1964), momento em que o país vivia um forte avanço das forças de
esquerda, em que os movimentos culturais cresciam e desenvolviam-se, buscando no
popular as raízes nacionais. Internamente o PCB passava por um processo de
desestalinização e tencionava ampliar seu contato com a intelectualidade nacional, sem
impor regras para o processo de criação. O movimento de esquerda ampliava seus
horizontes, através de experiências de emancipação de países do terceiro-mundo, bem
como pelo contato com autores como Georg Lukács, Lucien Goldmann, Ernst Fischer, Ernst
Bloch e outros pensadores obscurecidos pela hegemonia do marxismo soviético.
Profundamente imbricada a esse contexto, encontra-se a Estudos Sociais, revista cultural do
Partido Comunista. Este trabalho buscou analisar a importância desta revista no processo de
pluralização do pensamento marxista no Brasil. (Metodologia) Para tanto, fez-se
necessário: a revisão da literatura especializada e levantamento de dados através de uma
pesquisa documental, consultando algumas fontes como CEDEM (UNESP) e o arquivo
Edgar Leuenroth (IFCH – UNICAMP); entrevistas qualitativas a partir de roteiros semiestruturados com intelectuais que integraram o editorial da revista, tais como Jorge Miglioli,
Armênio Guedes e Leandro Konder; leitura e análise dos textos publicados; tabulação dos
artigos, autores e áreas abordadas. (Resultados) Essa nova fase para o movimento
comunista no Brasil representou um debate maior de idéias dentro do próprio marxismo. A
desvinculação do marxismo com o partido, faz com que estética, bem como as discussões
mais filosóficas e metodológicas adquiram certa relevância e que a cultura e o trabalho
intelectual assumam uma nova importância para a esquerda, inclusive para o PCB. E a
Estudos Sociais representa esse processo dentro do partido. Um processo que manteve
fluxos e refluxos. O que explica o fato da revista representar um avanço no sentido de
democratização, mas possuir claros limites. (Conclusões) Ao mesmo tempo em que a
revista Estudos Sociais contém aspectos do momento histórico em que foi criada, sendo
assim um fruto do seu tempo, ela influenciou o debate desse período, tendo repercussão,
sobretudo, no meio intelectual. Assim da mesma forma, que sua existência deve-se
(também) a um processo de abertura do Partido Comunista Brasileiro, ela foi um fator que
contribuiu na formação de um pensamento marxista mais heterodoxo entre os intelectuais do
período, na medida em que foi pioneira na publicação e divulgação de alguns autores e
discussões, antes muito pouco conhecidos no Brasil.
Agência Financiadora: FAPESP
54 Reunião Anual da SBPC – Goiânia, GO – Julho/2002
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