A14 CORREIO POPULAR CIDADES Campinas, domingo, 1º de abril de 2012 REPORTAGEM ESPECIAL Mobilidade na metrópole Um mesmo veículo pode ser contado mais de uma vez A contagem dos veículos por via não leva em consideração o tamanho da frota local ou flutuante de Campinas. Os números são obtidos a partir dos trechos percorridos em cada uma das vias de trânsito. Assim, um mesmo veículo pode ser contado mais de uma vez quando trafega pela cidade em vias diferentes. Um motorista que, por exemplo, dirige pela Prestes Maia, segue pela Moraes Sales e fina- liza seu percurso na Norte-Sul vai estar na estatística das três avenidas e representa três veículos/trechos nos números finais do levantamento. Não são todas as vias que têm o volume de tráfego monitorado na cidade pela Emdec. (LF/AAN) A frota de veículos de CAMPINAS cresce a olhos vistos dia após dia. Na CONTRAMÃO, o número de vias não AUMENTA no mesmo ritmo, assim como a EXTENSÃO e a quantidade de pistas que elas possuem. Sem INVESTIMENTOS do poder público, o trânsito na cidade pede SOCORRO. O problema é mais grave nas principais ARTÉRIAS. Juntas, as 20 avenidas mais movimentadas recebem, por dia... Um milhão de veículos Rodrigo Zanotto/Especial para AAN LUCIANA FÉLIX Transporte coletivo é a prioridade, diz Emdec [email protected] A s 20 principais vias de tráfego de Campinas recebem juntas, por dia, mais de um milhão de veículos. Elas concentram a maior parte do intenso movimento de carros de passeio, caminhões e ônibus em toda a cidade, que chega a 3 milhões de veículos por dia nas cerca de 8,5 mil vias em todo o município. A malha viária tem 5 mil quilômetros e, por ela, circula uma das maiores frotas de veículos do Brasil. Os dados são da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). A mobilidade urbana da metrópole depende destas vias para fluxo de veículos particulares, de cargas e de transporte coletivo. Só este último item, por exemplo, é responsável por levar e trazer do trabalho cerca de 500 mil pessoas todos os dias. Para se ter uma ideia do que significa isso, seria o mesmo que colocar nas 20 principais avenidas toda a frota de Campinas (cerca de 782 mil veículos) e ainda outros 300 mil carros, caminhões e ônibus considerados como tráfego flutuante, de outras cidades, durante um único dia. Se colocados em uma fila única, os veículos juntos formariam um congestionamento gigante de cerca de 6 mil quilômetros. A distância seria quase a mesma entre Campinas e Miami, um dos principais destinos turísticos dos Estados Unidos: 6,4 mil km (distância aérea). Para chegar a este valor a reportagem usou como base de cálculo o comprimento de 5 metros para veículos de passeio (1 milhão deles) e 15 metros para 50 mil caminhões e 5 mil ônibus circulando por Campinas. A concentração da demanda das diferentes modalidades de transporte em um grupo de “apenas” 20 vias é um dos fatores responsáveis por problemas como lentidão no tráfego, que tem sido cada vez mais comum e gerado reclamações e impaciência de motoristas. Além disso, essa concentração está diretamente ligada ao risco de acidentes, segundo especialistas em trânsito. É cientificamente comprovado que o trânsito estressa e deixa motoristas impacientes aumentando as chances de uma colisão. Ainda segundo especialistas, um planejamento com visão a longo prazo deve ser iniciado imediatamente já que a Movimento de veículos no início da noite da última quinta-feira na Avenida Aquidabã, em Campinas , no sentido Cambuí: lentidão tendência é de um aumento ainda maior da frota da cidade. Eles alertam que políticas de transporte devem ser realizadas para evitar que em um futuro próximo medidas mais drásticas tenham de serem tomadas como, por exemplo, a restrição de circulação de veículos em determinadas áreas ou até mesmo a cobrança de circulação como há anos acontece no centro de Londres, na Inglaterra. A construção de pontilhões e viadutos é rebatida pelos especialistas, que consideram o investimento elevado e que, ao decorrer dos anos, também irá saturar. Para eles, a saída é o investimento em transporte público com serviços de qualidade, como ocorre em países europeus. Ônibus com qualidade e que respeitem horários e também o uso de meios como a bicicleta, com ciclovias e bicicletários próximos aos terminais . Vias A Avenida Prestes Maia, no Jardim do Trevo, aparece como a via de maior movimento. São 76,9 mil por dia, nos dois sentidos. A avenida dá acesso às rodovias Anhanguera, Bandeirantes e Santos Dumont. Serve como porta de entrada para a região central da cidade e como corredor para os veículos que saem das regiões Sul e Sudoeste — onde está o Aeroporto de Viracopos. Por dia, pelo menos 30 mil pedestres circulam nas proximidades da Prestes Maia, que há anos deixou de ser considera via expressa. Em segundo lugar está a Avenida Waldemar Paschoal, a Aquidabã. Ainda uma via expressa fora do horário de pico, a avenida liga a região central ao Parque Itália. Ao dia, são 66,3 mil veículos (lista na página ao lado). O presidente da Emdec, André Aranha Ribeiro, informou que sabe da necessidade urgente de melhorias no transporte público de Campinas para desafogar o trânsito. Ele afirmou que existem projetos para construção de novas vias em vazios urbanos, como, por exemplo, entre o São Bernardo e o Parque Industrial, o que ajudaria a desafogar o trânsito em vias como a Amoreiras e a Prestes Maia. “O foco de todas as cidades tem que ser investimento em transporte coletivo urbano”, disse. Com essa intenção, foi apresentado no ano passado para o Grupo Executivo do Programa de Aceleração do Crescimento da Mobilidade Urbana (PAC 2), em Brasília, o principal projeto na área: o Plano de Mobilidade Urbana, que prevê a implantação de corredores de ônibus exclusivos e preferenciais. O município pleiteia R$ 430 milhões para as obras. O projeto de Campinas foi contemplado com R$ 330 milhões, porém a Prefeitura aguarda a data da assinatura dos contratos para obter o repasse. O plano prevê a implantação de dois corredores de ônibus exclusivos, na faixa da esquerda, para a operação do bus rapid transit (BRT) nos eixos Ouro Verde e Campo Grande — entre a região Sudoeste e o Centro. O sistema vai operar com ônibus biarticulados e haverá interligações entre os corredores. Também estão previstas as reformas do Terminal Ouro Verde e do Viaduto Miguel Vicente Cury. Entre os projetos previstos com verba municipal, segundo a Emdec, está o Anel Intermediário Rebouças, que falta concluir um trecho na região do Túnel Joá Penteado, que duplica a capacidade de fluidez, no percurso entre a Vila Industrial e a saída de Campinas pela Avenida Prestes Maia. (LF/AAN) CIDADES CORREIO POPULAR A15 Campinas, domingo, 1º de abril de 2012 Analista troca carro por moto para chegar mais depressa O analista de sistema Daniel Machado, de 31 anos, resolveu trocar o carro — um modelo Gol — por uma moto para dar mais agilidade no trânsito da cida- de há pouco mais de um ano. “Eu demorava demais para chegar ao trabalho. O percurso da área central, onde moro, até o meu trabalho, no Taquaral, levava 30 minutos. De moto, reduzi isso pela metade. Estava ficando impaciente e até briga no trânsito acabei arrumando”, afirmou. Apesar de achar o carro mais seguro, Machado sabe dos riscos que um motociclista corre. Ele afirma que não pretende voltar a usar carro. “Não tenho mais paciência. Ainda mais agora que vou mudar de emprego e irei trabalhar em Barão Geraldo. Imagina o tempo que iria gastar de carro”. (LF/AAN) Concessionárias planejam marginais em rodovias A Emdec, em parceria com as concessionárias Rota das Bandeiras, AutoBAn, Colinas e Renovias, está desenvolvendo proje- tos de construção de vias marginais, semelhantes às que foram feitas na Anhanguera, para ajudara desafogar o trânsito na cidade. As marginais serão na Santos Dumont, D. Pedro e Adhemar de Barros — vias com grande fluxo de veículo e pontos de lentidão. Estão previstas reformulações em alguns pontos de interligação dos bairros no entorno da Dom Pedro, incluindo o trevo dos Amarais e um trevo novo no Carrefour D. Pedro e do Galleria. (LF/AAN) André Mantejano/Especial para AAN ‘Vai piorar’, segundo especialista Para o especialista em Transportes e professor da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carlos Alberto Bandeira Guimarães a tendência é de piora no trânsito de Campinas. Segundo ele, o espaço viário não cresce como deveria e os investimentos na área são insuficientes. Correio Popular - A malha viária é adequada à frota? Carlos Alberto Bandeira Guimarães - Não, principalmente pelo aumento da frota de veículos, que cresceu demais nos últimos cinco anos. A malha viária não acompanhou na mesma proporção, o que reflete diariamente no trânsito da cidade, gerando problemas de lentidão. Outro aspecto é que a lentidão deixou de ser um problema das vias principais e passou a fazer parte da rotina de vias secundárias. Hoje, em horário de pico, é comum encontrar grande volume de veículos e lentidão em vias estreitas dentro de bairros que ficam no entorno da área central e locais que dão acesso a rodovias do município. Trânsito carregado no começo da noite da última quinta-feira na Avenida Prestes Maia, que tem o maior fluxo de veículos entre as mais de 8,5 mil vias de Campinas Augusto de Paiva/AAN “Uma saída para minimizar o problema seria usar o transporte público. Para quem mora perto do trabalho, a caminhada é uma boa solução.” O que pode ser feito? Planejamento é fundamental. E agora. Medidas de engenharia de tráfego, como alterar mão de vias ou reduzir o tempo no semáforo, ajudam, mas não resolvem definitivamente. Hoje, as políticas de transporte que deram certo são as voltadas para investimentos no transporte público. Criação de corredores de ônibus e BRT (bus rapid transit) com um serviço eficaz, por exemplo. É uma medida pouco radical e de custo baixo. Países ricos adotaram. Ciclovias também. Campinas deveria seguir o modelo de Curitiba, que diminuiu os problemas com corredores de ônibus e serviço de qualidade. CARLOS ALBERTO BANDEIRA GUIMARÃES Especialista em trânsito “Se todo mundo fizesse a sua parte, o trânsito seria muito melhor. As pessoas só pensam no próprio bem-estar, mas não percebem que só estragam a qualidade de vida.” RAFAEL DE OLIVEIRA Técnico de informática Veículos disputam espaço na Avenida Princesa D’Oeste perto do Viaduto Laurão e da Avenida Norte-Sul NÚMEROS Via Av. Prestes Maia Av. Waldemar Paschoal Av. José de Souza Campos Av. Miguel N. N. Burnier Av. Julio Prestes Av. Prefeito Magalhães Teixeira Av. Moraes Sales Av (fora do Corredor Central) Av. Lix da Cunha Av. Albino J. B. Oliveira Rod. Heitor Penteado Av. Faria Lima Av. John Boyd Dunlop Túnel Joá Penteado Av. Ruy Rodrigues Av. Luis Smânio Av. Leopoldina Imperatriz Av. das Amoreiras Av. Orosimbo Maia (fora do Corredor Central) Av. Rondon Marechal Av. Antonio Carlos Couto de Barros OBS: Movimento nos dois sentidos. Dados da Emdec PONTO DE VISTA Veículos/dia 2011 76.900 66.300 65.900 60.100 59.900 59.500 57.550 57.200 52.300 50.600 48.750 45.050 39.750 39.300 38.500 38.400 38.200 38.000 35.000 33.500 O trânsito preocupa? Muito, já que a tendência é que o cenário piore e se espalhe. A cada ano mais veículos se incorporam à frota e não há como expandir parte das vias. Juliana Carvalho estudante – 30 anos Maioria utiliza ônibus e bike em Dublin Estou há cinco meses morando em Dublin, na Irlanda, e uma das diferenças mais marcantes de Campinas e o Brasil é quando se fala em transporte público. Aqui, aprendi que é perfeitamente possível viver sem carro por dois motivos: boa estrutura de transporte público e segurança, o que me permite circular a pé à noite. Com menos habitantes que Campinas — pouco mais de meio milhão —, a cidade é muito organizada quando o assunto é transporte público. Há três formas de locomoção. Assim que cheguei, me habituei a utilizá-las. Os ônibus (todos de dois andares, o que possibilita carregar mais pessoas com uma frota menor circulando), que são extremamente pontuais, rápidos e confortáveis e usados por muita gente. Há também duas linhas do chamado “Luas”, que é um metrô que circula pela superfície e corta a cidade. A utilização dele é prática, em cada estação tem um terminal onde você compra o tíquete. No entanto, não há um cobrador, as vezes fiscais circulam pelo transporte pedindo o bilhete. E, por fim, as bicicletas, conhecidas como “Dublin bike”. O usuário paga 10 euros e carrega um cartão que permite usar as bikes durante um ano. Há dezenas de terminais de bicicletas espalhados pela cidade. Você destrava a bicicleta em um terminal, faz o seu percurso até o trabalho, escola, ou qualquer que seja o destino, e trava a bike em um outro terminal próximo de seu destino. É muito prático. Mulheres de salto alto utilizam, assim como homens de terno, crianças e idosos. O interessante é que toda a cidade possui ciclovias. E os ciclistas dividem espaço tranquilamente com os veículos. É fantástico ver como há uma cultura de respeito aos ciclistas. Também há os transportes inter municipais, o trem que liga Dublin à cidades mais distantes e o Dart (Dublin Area Rapid Transit), que liga a cidade aos municípios mais próximos. Há algo que os motoristas podem fazer para ajudar? Deixar de usar veículos alguns dias por semana e passar a adotar caronas solidárias, por exemplo. Usar o transporte público e, para quem mora perto do trabalho, a caminhada é boa solução. (LF/AAN) MAIOR MOVIMENTO AV. PRESTES MAIA Veículos: 79,9 mil por dia Extensão: 3 km Semáforos: Dois Pontos de ônibus: Quatro Cruzamentos: Um Número de pistas: Dependendo do trecho, duas ou três De onde para onde: Ela é responsável por receber o trânsito de rodovias como a Anhanguera e a Santo Dumont. Segue até mudar de nome, para João Jorge, perto do CPI 2.