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Othelo, Direção e roteiro(baseado em peça Willian Shakespeare)de Oliver Parker , EUA/Grã-Bretanha 1995 The Matrix (Matrix), Direção e roteiro: Andy Wachowski e Larry Wachowski, produção Joel Silver, Distribuição: Warner Bros. EUA, 1999. The Trumam show (O Show de Trumam), Direção: Peter Weir, produção: Edward S. Feldman , roteiro: Andrew Niccol, Distribuição e produção: ParamountPictures / UIP, EUA, 1998 The Wall (O muro), Direção de Allan Parke, música de Pink Floyd, EUA, 1982. Revista em quadrinhos Watchmen. Revista em quadrinhos(mine-série quinzenal em doze edições), Argumento de Alan Moore, Arte de Dave Gibbons. São Paulo: Abril Cultural. Fevereiro de 1999. DC Comics. 108 ANEXOS Transcrições de alguns trechos dos encontros de leitura Primeira atividade: Leitura dos contos de Marina Colassante e exibição do videoclipe Another brinck in the wall. Debate: Contos de Amor rasgado Eu: (leitura em voz alta) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Enfim, um indivíduo de idéias abertas A coceira no ouvido atormentava. Pegou o molho de chaves, enfiou a mais fininha na cavidade. Coçou de leve o pavilhão, depois afundou no orifício encerado. E rodou, virou a pontinha da chave em beatitude, à procura daquele ponto exato em que cessaria a coceira. Até que, traque, ouviu o leve estalo e, a chave enfim no seu encaixe, percebeu que a cabeça lentamente se abria. Eu: E aí, O que acharam? Todos: risos Eu: Vocês estão vendo como não podemos ler esse texto ao pé da letra? E se fizermos isso o texto terá algum sentido ? Michel: Sim, temos que pensar em outros sentidos para as palavras. Elaine: A coceira é um problema que ele tinha. Eu: Então temos aqui um caminho para compreender o texto. Trata-se de um homem que tem algum problema que o atormenta. E, seguindo esse caminho, que significa a chave e o molho de chaves? Marcela: A chave é a solução do tal problema. Eu: Então o encaixe aqui significa a comprovação da solução do problema. Sendo assim, e o molho e chaves? E por que ele escolheu a mais fininha? 109 Eliane: O molho de chaves pode ser várias soluções para o problema e a mais fininha é a solução mais simples. Eu: Existe uma ligação entre a solução de um problema e o fato da cabeça dele lentamente se abrir? Marcela: Tem, porque os problemas deixavam ele com a cabeça fechada e aí ele ficou preso para ver outras coisas de um jeito não fechado. Michel: Mas eu vejo que coceira é uma curiosidade e as chaves conhecimentos e a mais fininha é um conhecimento mais simples. Marcela: É verdade, pode ser que ele tenha escolhido um livro pequeno que abriu a sua cabeça para pensar nas coisas de forma diferente. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Eleane: Também pode ser isso. Eu: Então, segundo essa leitura, o que levou o homem a abrir lentamente sua cabeça foi a busca pelo conhecimento. O que é uma pessoa que tem idéias abertas? Marcela: Uma pessoa sem preconceitos. Michel: Uma pessoa que quer descobrir coisas novas. Eu: Esse segundo caminho de interpretação também pode nos fazer ler a chave como um livro que abre a cabeça do leitor. Ou seja, mesmo sendo um livro pequeno ou um conto pequeno como esse que estamos lendo tem o poder de abri nossas cabeças lenta ou rapidamente. Eu: Abrir as nossas cabeças através de livros, contos, vídeos e outros meios é um dos objetivos desses nossos encontros de leitura. Isso porque, geralmente a leitura é vista como apenas uma meneira de se obter informações e não de criar significados ou usar a imaginação. Enfim, abrir nossas cabeças(...) O problema que geralmente esse “abrir a cabeça” torna-se um problema para a sociedade e principalmente para a sociedade brasileira, onde maior parte da sua história, a maior parte da população foi excluída do acesso a cultura escrita e muitas vezes foi reprimida por pensar ou agir contra as normas. Isso pode explicar porque não aprendemos abrir nossas cabeças nas aulas de interpretação de texto. Nós somos nitidamente desestimulados a pensar e imaginar, pois temos que responder conforme fichas de leitura, aos questinários de 110 interpretação de texto dos livros didáticos e principalmente com o que os professores acham. (sic) Marcela: Eu tinha esse problema na escola, pois muitas vezes que eu respondia uma pergunta sobre um texto e minhas professoras falavam que estava errado. Carlos: O pior era quando agente ler errado e o pessoal começa a rir. Michel: As próprias pessoas que estão no buraco junto com você contribui mais ainda que tudo afunde de uma vez só. Eu: Isso aconteceu porque, a pessoa não acredita nela e não acredita em você. Michel: Isso mesmo, E vai aumentando, aumentando e fica insuportável. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Eu: E ai o cara ri por você errar. É um mecanismo do poder. Têm uns caras que estundam isso agora. Porque geralmente o estudo sobre o poder eram muitos centrados na macro política (política dos governos regionais, nacionais e da política internacional). E atualmente temos estudos sobre poder que são mais no plano micro, estudam as relações de poder entre homens e mulheres, o poder na escola, no hospital. E aí, muitos desse estudos mostram como existes redes de poder nas quais muitas pessoas usam o poder para te neutralizar, por exemplo, um colega de trabalho que tem o mesmo cargo que elas e ai entra nesse jogos de poder para se proteger. Então para se proteger do ridículo, ele ridiculariza o outro. Michel: Exato Eu: ( leitura de texto em voz alta) Conto em letras garrafais Todos os dias esvaziava uma garrafa, colocava dentro suas mensagem, e a entregava ao mar. Nunca recebeu resposta. Mas tornou-se alcoólatra. 111 Eu: E ai? Pessoal. Michel: Ele está precisando de ajuda Eliane: Alguém vai ter que responde para ele poder viver. E por não ter ninguém para responder era como tivesse ninguém que ligasse para ele. E ele não teve nada disso para suprir a sua ..... EU: Auto-estima? Eliane: Sim auto-estima. Eu: E ai. Não recebeu resposta ? Eliane: E ai pirou de vez. Eu: O que mais? Pessoal. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Michel: Essa garrafa parece um caminho errado. Parece que ele está procurando ajuda onde nunca irá encontrar ajudar e acabou se tronando um problema para ele. Ele não consegue ver um luz no fim do túnel, continua fazendo e sentido uma coisa que não existe. Marcela: Esse “tornou-se alcoólatra” não parace com um alcoótrala realmente, não parece com uma pessoa que bebia, mas com a idéia mesma de uma pessoa ferida. Eliane: Cada garrafa que ele esvaziava ele bebia o que estava dentro. Eu: sim, mas também pode ser outras coisas. A Garrafa não precisa ser uma garrafa de fato. Marcela: É isso que acho. Não se trata de ser uma garrafa ou de não ser uma garrafa. Ele não se tornou alcoólatra, porque ele bebia o que estava na garrafa.. Não passa (o conto ) essa idéia de que seja isso. Carlos: Isso é desculpa para beber. Todos: risos. Eu: Vamos explorar mais o texto. Todos dias esvaziava uma garrafa. Marcela: Parece mais isso, todos os dias esvaziava era a vontade de se expressar, de alguém o entenda e se expor. Esvaziar a garrafa tem essa de se expor. Eu: Eu leio mais ou menos assim também: Que a garrafa é ele mesmo e se entragava ao mar. 112 Marcela: Isso mesmo. Eu: O mar pode ser a multidão. O mar pode ser a multidão. Por isso, existe a expressão uma mar gente. E colacava a sua mensagem dentro, quer dizer que ele nunca... Marcela: Ele estava em busca de algo que não achava. Eu: Ele se esvaziava e o que ele tinha para falar mesmo, a mensagem dele era colocada dentro de si mesmo. Se ele é a garrafa, logo ele nunca recebeu a resposta desta tal mensagem Eliane. Como ele se esvaziava e colocava a mensagem dentro de si próprio. E ninguém nunca poderia receber e muito menos ler a mensagem. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Carlos: O álcool é uma droga depressiva. Eu: E ai ele não recebeu respostas para os seus problemas existenciais e então tornou-se alcoólatra. Isso é um caminho que eu vejo. Eliane: Caminho que se deixar não tem volta.. Eu: Mas é legal isso. Um texto de literatura te abre para isso. Você pode imaginar muitas coisas ... Eliane: Qual é a de Função de Linguagem disso? Eu: Classificação ? Eliane: É. Eu: Neste trabalho eu acho que não é legal fazer esse tipo classificação, que é comum nas aulas de literatura, porque ao classificar estaremos desviando a nossa atenção do conteúdo do texto para classificá-lo. Vídeo Clipe da música Another brick in the Wall. Eu: Vou continuar agora com a aparte de leitura de imagens, cujo tema aborda justamente o que nós estávamos falando sobre a escola. Como muitas vezes a escola neutraliza a nossa capacidade de interpretar. Por essa razão iniciei essa atividade com esses contos da Marina Colassanti para demonstra como nós jogamos quando estamos lendo. Então na leitura destes texto percebemos como 113 cada um lê de um forma, por exemplo, trechos palavras ou frase dos textos chamam mais a atenção de uma pessoa do que de outras. Eliane: Na prova podemos trabalhar com as duas formas: A interpretação com que eles querem (pessoas que elaboraram a prova) , o que está no texto e entende o que agente quer. Existe duas formas. Eu: Mas na redação, por exemplo, estamos lidando mais com a segunda forma. Porque, lá você encontrará um tema a partir de uma frase ou um texto que irá te fazer pensar alguma coisa. E daí você terá uma idéia e dessa idéia você escreverá a redação. Eliane: Então temos que fazer a prova de interpretação na primeira forma? PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Eu: É isso que acho problemático, porque isso, além de ser uma imposição de significados aos textos, reduz a relação do leitor com o texto a um joguinho de certo errado, baseado a partir de opções. Carlos: É uma loteria, porque temos que acertar o que a banca acha que está certo. Eu: Você pode pensar por outro caminho e marcar o X pelo o caminho mais próximo ao que você achou. E aí, por exemplo, que muitas vezes encontramos autores que foram entrevistado sobre textos deles que foram usados nas provas de vestibular. E, o reporte perguntava se o autor responderia conforme a resposta do gabarito da prova e geralmente a resposta é não. Eliane: Tem um caso desse, na prova da UERJ com a letra da música do Oswaldo Montenegro. Foi perguntado como era o amor, porque era falado de um amor de pescador na rede, ou seja, um amor que não era bom para ele. E as pessoas responderam que ele amava infinitamente, mas ele não amava infinitamente. Carlos: A visão dele era uma, completamente diferente que a prova esta pedindo. Eu: Aqui temos um problema nem o autor pode impor uma única leitura dos textos, muito menos o professor. Você como leitor tem todo o direito de achar Carlos: O amor não era o amor. Michel: Coisa completamente injusta. 114 Eu: leitura do texto (Another Brick in the wall) part II Exibição do vídeo clip. Michel: Pouca preocupação com o sentimento do aluno, com a vocação que as pessoas têm. Parece que é uma imposição. Na verdade são os problemas que as pessoas têm que acabam passando de forma negativa para outras. Sem importar com o que eles estão passando. Eu: Nesse clipe tem uma coisa engraçada. Este começa com ele (professor) pegando o poema do menino. O que é o poema? O poema é criação. Então, ele pega um poema do menino. E contece o que nós estavamos falando antes de ridicularizar. Usar o poder para ridicularizar. Então isso neutraliza o poder PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA criativo do menino. Nisso ele (o aluno) entra naquela viajem, imaginando a destruição da escola. E vale a pena pensar nas imagens que aparecem no vídeo. Eliane: As crianças marcando, salsicha de criança. Eu: as crianças marchando, carne muída de crianças, e ai? E essas imagens? Marcela: Como se as crianças fossem robôs. Tinha que fazer o que eles queriam sem questionar, sem reclamar, sem nada. Se saíssem da linha apanhava. Michel: Parece com uma fábrica. Eu: A imagem é muito igual de uma fábrica. Você fica sem saber se aquilo é uma escola, um quartel ou uma fábrica. Essa instituições são muitas vezes usadas, desse o século XIX, no intuito de controlar. Por isso, que as crianças falam no clipe: não precisamos de educação. Discursos que afirmavam que as pessoas precivasam ser educadas, defendiam no fundo que as pessoas tinha que ser disciplinadas. Carlos: O professor tinha uma educação que era assim, porque a mãe dele fez tudo aquilo com ele também. Eu: não, aquela é a mãe dele. Carlos: Ele deveria ter sofrido isso na infância e acabou que se casou com uma mulher igual à mãe. Eu: Nessa mesma cena, não sei se você viram, quando ele(o professor) com sua esposa, tinha a foto atrás de uma mulher, num quadro. Você viram isso? 115 Todos os alunos: não Eu: Aquela era a rainha da Inglaterra. Carlos: Disciplina. O inglês é rígido em tudo. Eu: Em certa medida, O filme meciona o caráter disciplinador do governo inglês. O problema é que vocês não viram o filme todo, pois o tema central do filme é o muro (The wall). Para que serve o muro? Eliane: Para separar. Michel: Tem a idéia de uma prisão. Você não pode sair. Eu: Separação, barreira e também outra função o isolamento. Então uma outra grande questão do filme é isolamento. A história de uma cara que perde o pai na PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA 2ª Guerra mundial e foi super protegido pela mãe. E depois se torna um grande artística de rock, pois ele escrevia muitas letras de rock. Esse trecho mostra ele começando a escreve poemas, quando era criança, bem antes que de ele se tornar um grande letrista de uma banda de rock e fica famoso. Só que ele se casa e vira uma vitima da fama. Ele não vai saber mais lidar com a fama. A mulher vai deixá-lo, porque ele ficou indiferente. E aí ele procura se isolar de tudos e de todos. Eliane: Mas tem uma cena que ele era criança e viu uma menina tirando a roupa pela janela e, aí ,logo depois, aparece ele grande e a mulher dele tirando a roupa para ele. E ele vira para o outro lado da cama. E aí ele vê aquela outra (a menina do passado) na parede. Eu: Sim, existe nisso tudo um lado psicológico. Os vários traumas que ele vai tendo, principalmente com a mãe superprotetora. Isso tudo vai criando um grande muro. Eliane: Então ele vai ser como aquele cara do texto, a busca da razão. Aquele que sofreu com a adolescência e caiu maduro. Eu: Porque? Eliane: Porque ele passou a adolescência dele, na infância, na escola, sendo controlado e ele ficou preso nisso. E não se libertou. Eu: E ele vai arrumar argolas. E a argola a mais perigosa(argolas) foi o grupo nazista que o personagem montou. Porque ele era um astro de Rock e teve uma 116 crise e, logo após, ele criou um grupo nazista. E as pessoas que eram fãs dele faziam os mesmos gestos que eles nas reuniões do tal grupo. Saíam pelas ruas para espancar negros e homossexuais. E o filme vai mostrando com essas coisas estão interligadas com a disciplina do século XIX, por exemplo e, falando de história, essa disciplina do século passado vai dar no nazismo. Eliane: conforme ele apanhava na escola, os pais dele não se preocupavam com o que acontecia. A mãe dele, por exemplo, não se importava muito com ele em casa, pelo o que vi ali. Eu : Ele era muito solitário em casa. A mãe dele só queria superproteger , mas não o entendia. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Carlos: Na verdade a escola inglesa é assim, né? Disciplina acima de tudo. Marcela: O que eu acho que é muito legal, é que eles são super educados. A cultura deles é completamente diferente. Eu: Atrás disso, tem um peso muito sinistro. Essa educação ..., por exemplo, quando um inglês está num estádio de futebol existe um alto sistema de segurança. Mas toda essa educação dele num estádio de futebol se transforma em outra coisa. Não é atoa que têm ruligans. Carlos : O país mais violento no futebol. EU: Então é uma sociedade que tem válvulas de escape. E, você vê, o inglês fala tudo: por favor, por favor, para isso e para aquilo. Por trás dessa educação toda tem toda uma... Carlos: Eles se acham lords, com ar bem superior. Eu: Sim, imagina ter a foto da rainha em casa. Marcela: Eu vi a entrevista no Jô Soares do Guitarrista do Dire Straits. E até quando a última pessoa não parou de bater palmas ele não sentou. Eu: Ele é bem inglês. Marcela: É totalmente diferente da nossa realidade . Eliane: É, geralmente aqui o nosso aprendizado é muito diferente, porque tem gente cheirando, fumando tudo na sala de aula. Os professores, muito não agüentam e largam. 117 Eu: O que o filme está questionando também é isso. Será que essa disciplina cria pessoas verdadeiramente educadas? Nós, de um país mais pobre, estamos comprando esse peixe ao acreditar que eles são melhores do que nós e mais educados. Mas essa educação rígida, baseada no princípio da disciplina, possibilitou que surgisse o nazismo. O nazismo é baseado nisso tudo, na ordem, na disciplina extrema. Carlos: O que acontece nos EUA e no Japão, né? Tipo a educação acima de tudo, sempre existe um garoto revoltado, que dá tiro em todo mundo. No Japão, tem sempre um cara se matando, porque a pressão é grande e o garoto tem que ser o que a sociedade quer e o que a família exige que ele seja. Se ele não for PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA inteligente ao ponto da família é considerado burro. Eu: É uma idéia de inteligência não no sentido de produzir. Carlos : Uma inteligência burra. Carla: Teve um garoto de 14 anos que, há pouco tempo, ele pegou a pena de morte , foi até o juiz que decretou isso e todo mundo ficou chocado, porque ele era uma criança. E, aí, teve também casos de uma criança de sete anos que assassinou outra criança dentro do colégio, professores, uma turma toda de crianças na sala de aula. Acho que é por causa de uma pressão maior assim. Isso tem também no Colégio Militar tá certo que não tem nem comparação, mas é mais ou menos por ai. Carlos: Tem caso no Colégio Militar, aqui, porque o aluno tem que tirar uma média e se ele não tirar e a maioria tirar e ele é..... Eu: É humilhado. Carlos: É humilhado. Carla: Não e até tem aquelas marcas, se você não colocar aquela boina no lado certo e você é humilhado na frente de todo mundo. Não pode mastigar chiclete na sala de aula, você tem que ter postura. Essas coisas que chegam a irritar muito. Eu: E, aí, agente se pergunta: para que serve isso tudo? E o clipe nos mostra. Para produzir o que? carne muída? Pessoas sem rosto e sem singularidade? 118 Carlos: O filme “A sociedade dos poetas mortos” mostra muito bem isso. Que o cara quer colocar poesia, liberdade. E você não pode fazer isso. Porque o cara que quer ser ator e não pode e a família não quer. Ele está numa escola tradicional que é na Inglaterra. Quer dizer, tem toda uma tradição de educar, tem toda uma maneira de educar e calocam idéias dentro das pessoas. Os alunos acabam tendo medo de tudo. Eu: Eles vão ser reunir para ler, para sair dessa opressão. Carlos: É verdade. Ele vão se reunir para ler. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Texto lido e debatido no dia 14/04/2001 Eu, etiqueta Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório Um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei Minhas falam de produtos Que nunca experimenteo Mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido De alguma coisa não provada Por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, Minha gravata e cito e escova e pente, Me copo, minha xícara, Minha tolha de banho e sabonete, Meu isso, meu aquilo. Desde a cabeça ao bico dos sapatos, São mensagens, Letras falantes, Grifos visuais Ordens de uso, abuso, reincidências. Costume, hábito, premência. Indispensabilidade, E fazem de mim homem-anúncio itinerante, Escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro anda na moda, ainda que a moda 119 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Seja negar minha identidade, Trocá-la por mil, açambarcando Todas as marcas registradas, Todos os logotipos do mercado Com que inocência demito-me de ser Eu antes era e me sabia Tão diversos de outros, tão mim mesmo, Ser pensante sentinte e solitário Com outros seres diversos e conscientes De sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio Ora vulgar , ora bizarro Em língua nacional ou em qualquer língua (Qualquer, principalmente) E nisto me comprazo, tiro glória De minha anulação. Não sou vê-ma anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago Para anunciar, para vender Em bares festas praias pérgulas piscinas. E bem à vista exibo esta etiqueta Global no corpo que desiste De ser veste e sandália de uma essência Tão viva, independente Que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora Meu gosto e capacidade de escolher, Minha idiossincrasias tão pessoas, Tão minha que no rosto se espelhavam E cada gesto, cada olhar, Cada vinco da roupa Sou gravado de forma universal, Saio da estamparia, não de casa, Da vitrine me tira,, recolocam Objeto pulsante mas objeto Que se oferece como signo de outros Objeto estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso De ser não eu, mas artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome nome é coisa Eu sou a Coisa, coisamente. Carlos Drummmond de Andrade, in Jornal do Brasil, 16-1-1982, Rio de Janeiro, Caderno B 120 Transcrição das composições que os participantes fizeram sobre o Conto o espelho de João Guimarães Rosa Dia 06/04/2002 Em busca do seu verdadeiro eu, o autor ao meu ver, desmaterializou-se em várias formas, a fim de descartar suas vaidades e excentricidades na busca do início de todo o seu ser. Nessa busca, ele chegou a um ponto em que não havia sobrado “nada” do seu ser. E depois de algum tempo percebeu a reiniciação de uma nova “matéria”. Ainda a aprender, inocente, ou seja, um recomeço de toda aquela pessoa que ele era, para uma nova, melhor se possível for. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Foi um experiência válida pois o despreendeu do materialismo que vivia e proporcionou um alívio maior a sua consciência que agora não estava mais presa aos esteriótipos da sociedade, e assim poderia um novo ser mais “humano”. Lucianoa Carvalho. Olhar-se no espelho pode servir para reafirmar a idéia que você tem de si mesmo ou para apresentar questionamentos sobre sua forma real. O que você pensa sobre si está de acordo com que as pessoas pensam? Se sim ou se não isso faz diferença para você? Quando você descobre seu verdadeiro eu percebe que não precisa sequer padrões adotados pela sociedade; que também não precisa abdicá-lo completamente. Basta ser você, de acordo com seu estado de ânimo e de espírito. O reflexo no espelho pode revelar o seu interior a sua verdadeira personalidade. Não uma personalidade fixa, mas mutável, que faz de você, várias pessoas. Talvez essa seja a característica responsável por nos tornarmos ou não pessoas sociáveis. A capacidade que temos de nos identificarmos com nossos semelhantes – nossos inúmeros verdadeiros espelhos – a todo momento. Talvez seja essa nossa verdadeira forma: um pouco de todos. Carla Miranda 121 No conto “O Espelho”, o personagem central faz uma busca obsessiva por seu verdadeiro eu, através de seu reflexo no espelho. Ele inicia um processo de desconstrução de sua personalidade, por meio de cada ângulo ou modo que sua imagem era refletida. Ele foi, a cada passo, anulando cada “reflexo” seu qie descobria. Foi-se anulando até que restou apenas o vazio, o nada. Depois de um tempo, percebe um rosto no espelho que está em formação, quase um esboço. Seu eu verdadeiro finalmente estava se formando. Nesse conto, o autor faz um crítica à “ditadura” da imagem vinculada pela mídia mundial e absorvida pela sociedade. Um padrão de perfeição fixo que leva as pessoas à uma busca fanática por esse ideal. Muitas vezes acabamos perdemos nossa própria PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA identidade tentando agradar à esse modelo padrão. Quando nos damos conta da realidade, perdemos o rumo sem saber o que realmente somos, o que realmente somos, o que realmente desejamos, quem nós somos. Nos prendemos tanto à essa “ditadura” que perdemos a noção do real e de nós mesmos, nosso próprio eu. Cassius Em busca da realidade ele descobriu que o modo de vida dele era diferente de muitas pessoas. Então começou, a pensar a mudar a si próprio. Para entrar na realidade de como era o mundo, e de diversas pessoas. Com essa descoberta ele ficou muito desesperado. Por causa da maneira em que ele vivia, com tantas necessidades que ele passou a enxergar, depois da mudança dentro do interior dele. Angela Marcia dos Santos O encontro do eu Consiste com o encontro da desigualdade social, ou seja quando uma das pessoas que se acha superior achando que lhe é o imbatível, se esbarra com a dificuldade. 122 A sociedade faz com que os ricos se tornem cada vez mais ricos e os pobres coda vez mais pobres. Colocando ídeías de Poder, beleza, etc e consequentemente massacradno os assalariados. A mídia mostra a elite viajando usando roupas caras, comendo nos melhores restaurantes, estudando nas melhores escolas com isso faz com que eles não percebam como vivem outro lado. Quando ele entra numa repartição pública se choca com a realidade ou seja se ver diante de dois mundos: com o mundo cheio de glamour e outros repleto de miséria, começou questionar. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Marcia Maria dos Santos Interior No texto o autor fala de uma descoberta acidental que acabou por tornar-se uma busca. Um dia, sem mais nem menos, deparar-se com uma imagem, de si mesmo, que nunca antes havia visto. Mas não uma “imagem real, “ foi algo mais abastrato, talvez alguns fato a assunto que , de alguma forma, o “despetou”. Passou à olhar-se com outros olho, tentar entender seu motivos e razões e descobrir se era o que era por querer, ou porque outros assim queriam. Isso, como o próprio diz, eram máscaras, disfarces, eu não o permitiam ser ele mesmo. Despiu-se, então, de tudo, pois tudo nele era “idéia” dos outros. E na busca achou-se, meio sem face, com que se purificando e chegando a si mesmo. Wiliam S. Lucas Encontro de leitura sobre Reality Show (14/04/2002) 123 Cassius exibe as gravações que fez do programa Casa dos artista depois lê os três textos que escolheu para atividade: Fulano de Tal, O império das lentes e À televisão. Leitura de Cassius em voz alta: Fulano de Tal O anonimato é como fortaleza sitiada: quem está nele quer dele sair, e quem está fora quer entrar nele. O lema de quem está no anonimato é: que falem mal de mim, mas que falem. O lema de quem perdeu o anonimato é: não se fala na mulher de César. Tal atitude ambivalente quanto ao anonimato é recente. Épocas anteriores assumiram posições mais decididas. Em tempos arcaicos, ter nome conhecido significa esta PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA exposto a poderes nefastos. O conhecimento do nome conferia ao inimigo armas destrutivas, já que a força vital(mana)está escondida no nome. Por isso os nomes eram guardados em segredo, e por isso os nomes de Deus é impronunciável. Na Anguidade, ter nome significa não tanto ser falado, mas ser cantado. E já que os poestas que cantam os nomes não passam de bocas das Musas, ter nome signifca quase ser divinizado. Na Idade Média, ser anônimo segnifica poder humildemente agir para maior glória de Deus, e ter nome significava, portanto, cair na tentação do pecado mortal do orgulho. Na Idade moderna, fazer nome significava permanecer na memória coletiva(portanto, entrar em Museu, imaginário ou não), e ter nome significava alcançar a imortalidade(por exemplo: a das academias). Atualmente ter nome é problema. Algumas razões da problematicidade da fama são estas: é muito fácil penetrar na memória coletiva, dada a comunicação de massa. Basta participar de programa televisionado do tipo chacrinha. É igualmente fácil ser esquecido. Basta mudar o programa. A memória da massa é muito fugaz, e pode sê-lo. Pode sê-lo porque existem memórias infalíveis: os cartões perfurados dos computadores. O problema é pois este: onde quero Ter nome, na massa ou no cartão perfurado? Se na massa, ficarei esquecido. Se na massa, ficarei esquecido. Se no cartão, serrei desumanizado. Chato isso. Ainda existem academias, museus, anais de sociedades elegantes, enciclopédias e nomes de ruas. Posso querer fazer nome em tais memórias arcaicas, chamadas “da 124 elite”. Não serei nem esquecidos, nem lembrado, mas embalsamado. A imortalidade das múmias ainda é possível. Não parece valer a pena. Só satisfaz à vaidade. Portanto, morreu a fama. Igualmente morreu o anonimato. Na Idade Moderna, ser igual a outros significava querer ser melhor que o vizinho. Competição no anonimato em busca do nome. Atualmente ser igual aos outros significa não querer ser excêntrico para não distinguir-se. Eis a solução do problema: fazer do nome “Fulano de Tal” nome famoso. Em suma: no futuro próximo todos serão famosos. Democracia? Não, facismo. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA O império das Lentes Nas cerimônias de casamento, as retinas das testemunhas foram substituídas pela camcorder(filmadora)do sujeito de terno gasto que grava o enlace andando de um lado para o outro (o distinto padre pode dar licença, por favor). Côncisa de sua relevância mística, a madrinha chora no exato instante em que os refletores lhe incandescem a maquiagem. Nas festas de escolas primárias, os alunos aprenderam a se apresentar para filmadoras e não mais para pais mães. Sobre o foco automático, a criança já não enxerga o sorriso de orgulho ou de apreensão na face do poai; vê apenas a handcam(filmadora de mão) que mascara o seu rosto. Se a televisão é arena da história contemporânea, as câmeras de vídeo domésticas se tornaram o olhar autorizado da intimidade familiar (e de outras intimidades nem tão familiares assim). Nas férias, o estranho fenômeno se generaliza, escancarado em público o vazio em que existimos. O viajante já não é aquele que contempla o desconhecido, que se reserva a chance do inesperado, que vive, enfim. Protegido por sua máscara eletrônica, que o poupa de estar exposto ao destino, ele apenas grava imagens, e normalmente muito rápido, com quem ainda tem uma longa lista a cumprir. O turista é um apressado. Depois, claro, jamais terá tempo de rever o que filmou. Continuará com pressa. De bom grado, ele substituiu a própria memória pela fita magnética, mas esta também logo se perderá numa estante empoeirada, guardando imagens sem nexo. São as imagens do espetáculo que não foi vivido, pois quem poderia vivê-lo (ou em posar para a gravação). Ali jaz a vida que poderia ter sido. Ali jaz o desejo que não se 125 satifez, pois entre ele e o turista havia um muro transparente, um vidro, uma câmara, essa engenhoca que reina soberana no espaço exíguo que separa o homem de si mesmo. (BUCCI, Eugênio.Veja, 03/12/1996) À Televisão PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Teu boletim meteorológico Nos dramalhões que encenas Me diz aqui e agora há tamanho poder Se chove ou se faz sol. de vida que eu próprio Para que ir lá fora? Nem me canso em viver A comida suculenta Guerra, sexo, esporte que pões à minha frente -me dás tudo, tudo. como-a toda como os olhos. Vou pregar minha porta: Aposentei os dentes. Já não preciso do mundo. (PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992) Debate: Cassius: O segundo texto fala, de certo modo, como as pessoas não estão vivendo por elas mesmas, estão vivendo através da máquina, por exemplo através da câmera. A memória das pessoas sobre o evento ali..... Luciana: E elas estão perdendo o seu tempo em gravar e não estão aproveitando o momento. Cassius: E não está vivendo o momento. Luciana : Na verdade muitas vezes a pessoa nem vê a fita depois. Normalmente é o que acontece, pois eu já passei muito por isso. Eu gravava as coisas e não assistia depois, é realmente o que acontece. Eu: Você fazia gravações de eventos? 126 Luciana: Não, eu fotografava mesmo e perdia muita coisa porque ficava tirando fotos o tempo todo. Cassius: Fita passou a ser a memória da pessoa. Memória magnética. As pessoas não guardam aqueles momentos vivendo, prefere registra de um modo mais frio e distante através da câmera. Eu: Mas qual seria o outro modo de usar essa memória ? Cassius: O outro lado? Seria viver. Por exemplo num passeio em que você e seus amigos estaria vivendo, esse momento estaria sendo gravado para sempre na sua memória. Você não precisa está gravando o tempo todo somente para registrar. Como está no texto se você só gravar você vai perder todos os momentos e ficar apenas com PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA um registro na forma de fita que pode ser esquecida em cima de um armário. Eu: Então você acham que inserção dessas máquinas de filmagem nas nossas vidas fez com que nos agente perdesse muita coisa? Cassius: É agente perdeu a capacidade de participar dos eventos. Acho que as máquinas dão uma visão mais fria. Você não vê aquele momento numa forma que você deveria ver. Eu: Nós não vemos mais naturalmente, porque quando aparece essas câmaras, nós não temos mais uma reação natural nos eventos ou acontecimentos. Cassius: É você perde a naturalidade, porque aquilo interfere. Mesmo a imagem que a câmera capta não é verdadeira, as pessoas mudam o jeito de agir perante a câmera. Como no caso da Casa dos Artistas. Ali mostrou doze pessoas sendo filmadas por vinte e quatro horas por dia. Algumas pessoas ali estão tentando ser naturais e aquilo que está sendo filmado não é o verdadeiro eu daquela pessoas. Alguns estão tentando ser naturais mas não conseguem. Aquilo não é totalmente o eu deles. Angela: Aquilo é um jogo. Então se alguém mostrar o seu verdadeiro Eu pode perder. Cassius: Mas independente do jogo, se imagina dentro de uma casa com onze sendo filmado. 127 Luciana: Mas se você está dentro de um jogo como “Casa dos artistas”, você vai se perguntar porque estou aqui? E você longo vai longo se lembrar que é por causa do dinheiro. Cassius: Tirando essa parte do dinheiro. É muito estranho morar com onze pessoas que você acabou de conhecer e ao mesmo tempo ser filmado vinte quatro hora por dia. Você conseguiria se você mesmo numa situação dessa? Luciana: Quando você é você mesmo? Está certo que num lugar cheio de câmeras e realmente difícil. Mas nas sua casa? Você é você mesmo na sua casa? Cassius: a não ser que você queira ser uma como no caso do primeiro texto, uma PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA pessoa famosa. Como muitas pessoas que perticipam de programs como o Big Brother que querem ser famosas. Angela: É eles querem ganhar dinheiro. Cassius: Eles querem ser famosos. Eu: Acho interessante pensarmos o que é ser verdadeiramente nós mesmo ou não. Então isso é como o conto O espelho. Como podemos fazer uma ponte entre o conto e o que estamos discutindo hoje. Cassius: É o seguinte o conto O espelho como agente discutiu naquele é sobre uma pessoa que queria despoja de uma imagem que ele viu que passou ser nociva. Ele viu que a imagem dele que não era aquela coisa perfeita, conforme ela achava, pois ele viu o reflexo dele aquele e não gostou. Ele viu a sua próproia imagem de outro angulo no qual ele não estava igual a sua imagem idealizada. E ele tentou altera isso, buscando o seu eu verdadeiro, quis se despojar de todas as aparências. Eu: Relacionando isso tudo, o conto O espelho, os textos e os programas como casa dos artistas, o que vocês acham? Cassius: O texto, de certa maneira, afirmam que as pessoas estão perdendo a sua identidade, estão perdendo o seu Eu verdadeiro. Ao contrário do cara do conto o espelho, as pessoas que participam de programas como estão deixando o seu Eu verdadeiro em busca daquela imagem padronizada, uma aparência superficial. Eu: E vocês, o que vocês acham do que ele falou? Luciana: Concordo com ele. 128 Angela: Também concordo. Eu: Mas como assim ? Luciana: Na verdade não tem muito haver com que ele falou, tem mas de outra maneira. É que esse lanche que ele falou de ficar inibido na frente das câmeras. É engraçado isso, porque eu não se sou paranóica que pensa assim. Mas que parece que mesmo quando você está andando no rua sempre tem alguém te observando, é óbvio. E se você parar para pensar que têm lentes e câmera te observando, na verdade você está sendo observado pelo um todo. Ou por um câmera que está escondida num canto, no shopping por exemplo, e por milhares de pessoas na rua. Cassius: Não podemos esquecer que de um programa desse tipo é um ambiente PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA inibidor. Luciana: Se você pensar no ambiente inibidor o mundo todo é um ambiente do inibidor. Angela: Em relação ao shopping, acho que somos vigiados para ver se nós iremos roubar alguma coisa, mas na rua até concordo com você, porque eu trabalhei aqui no Hospitla Jesus, então na semana do carnaval fiquei em casa e resolvi sair com uma amiga. Chegando na rua um cara virou para mim disse “ei Segunda-feira te vejo lá no Jesus”, só que eu nunca tinha visto esse cara. Então na rua agente é realmente vigiado e agente não percebe. No shopping é diferente somos vigiados principalmente quando não estamos arrumados. Cassius: Você Luciana disse que todo o mundo é um lugar inibidor, mas sempre aquele luagr que você vai poder fugir dessa vigília de certo modo. Em casa sempre tem, mesmo você morando com a sua família, você tem um canto da sua casa que tem a sua privacidade. Eu: você só sente isso sozinho. Luciana : Quer dizer que você só pode ser você quando está sozinho? Cassius: Não estou só dizendo, mas sente mais a vontade para ser você mesmo sozinho. Eu Ou por pessoas que você sente afinidades que é raro. Cassius: é muito raro. 129 E u: Mas isso é um comportamento muito da nossa época da vida urbana, porque em outras sociedades e outras épocas essa relação era diferente as pessoas se identificavam mais coletivamente. A família, aldeia ou o feudo, por exemplo. Luciana: É uma questão mesmo de individualismo. Nem mesmo em nossas família atualmente não deixamos de ser individualistas. Por exemplo, o pai sempre me falou isso: não confie em ninguém e até mesmo na família não confie em ninguém. Então só posso confiar em mim mesma. Cassius: Mas tem também outro lado disso, ou seja, pessoas querem fugir do eu verdadeiro, aquelas que querem projetar uma certa imagem. Eu: Mas você não acha que nós não somos também assim. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Cassius: Acontece, às vezes nem é agente que projetamos a imagem que não condiz com que agente é. As pessoas sempre me viam mas pela aparência física, altura tamanho. Por seu alto e forte as pessoas acabam me achando uma figura perigosa e ameaçadora, mas sou o oposto. Luciana: É engraçado você fala que ser grande é uma imagem ameaçadora, porque isso é colocado há muito tempo. E como ficaria a imagem ameaçado de alguém que baixo e magra, como seria? Se padrão de beleza fosse um corpo gordo? É muito relativo isso. Cassius : Aquela coisa é uma imagem imposta agente. Esses padrões de belezas, pessoal sarado, bonitão. Márcia: Como você se sente sendo isso? Cassius: Antigamente eu me grilava com isso. Mas hoje em dia eu me vejo de forma diferente, sou mais seguro. Márcia: Porque não é às vezes, quando é tímido não dar um bom dia e um boa tarde ou outro acabam te taxando de antipático Eu: Como esses tipos são apresentados na TV. Cassius: Eles te mostram aquele pessoal sarado. Casa dos artista por exemplo, você percebe que eles só colocaram aquela pessoa que chamam atenção pela aparência. Alí mesmo o cara que seria o representante da periferia, o X. Ele tem uma aparência própria para o programa. 130 Luciana: Colocaram o X, porque ele um rapper. E por ele fazer músicas que falam do contexto social. Cassius: Ele é polêmico, mas, apesar de não ser musculoso igual os outros, ele tem aparência própria para esse estilo de programa. Se não eles colocariam outros rapper que tem uma aparecia mais comum como eu e você. Eu: E o X seria o que? Cassius: Não é pessoa que eu possa me identificar. Eu: Pode ser que isso tem haver com o fato de que ele mora em São Paulo e usa o jeito e formas de se comunicar de muitos caras da periferia. Cassius: Pode ser isso. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Cassius: Mas você vê ali também que muitos deles forçam uma determinada imagem. Por exemplo, O Ricardo Marc. Ele é um cara que tem aquela imagem que tentam nos impor e, ao mesmo tempo, tenta fugir desta imagem desesperadamente. Você vê que ele tenta de todas as maneiras bancar o intelectual. Teve um dia que o X perguntou para ele: “você consegue ler esse livro”. Este livro é do Stivens Hopponkins o Universo cabe numa lamina. E aí e ele respondeu: eu leio sim, leio por capítulo por dia. E a citação que ele fez da cena do filme do Superman na qual o supermam gira em volta da terra. Ele disse que isso é Einstain, mas não explicou porque. É um cara que tenta fugir daquela imagem que atribuíram a ele: bonito mas sem conteúdo nenhum. Eu: Ficou estigmatizado que ele é um cara bonito e um péssimo ator. E acho que isso influnciou nessa formula que ele caiu. Cassius: Podemos ver que ele esta agindo de forma errada, tentado fugir da imagem imposta e criando outra. Eu: Ele é um bom exemplo desta questão da imagem, pois ele apareceu como um promessa de ser um galã da Globo e não deu certo e SBT chamou ele para essa experiência. Acho o efeito disso ele mostrou no programa. Eu: (Perguntando para a Márcia)Você assistiu o Casa dos Artista 2? Márcia: Eu não vejo, não dá tempo. Eu: E o Big Brother? Eu: Estou perguntando isso, porque o hoje estamos debatendo sobre os reality shows 131 Cassius: tem um exemplo disso no Big Brother. Não sei se vocês concordam com isso. Todos viram que venceu o kleber. Aparentemente ele venceu, demonstrando o verdadeiro Eu dele, um cara simplório que lutou para chegar no Rio. Você vê que ele tenta agir naturalmente apesar de falar um monte de besteira e ser considerado pelos outros um bobão. Eu: O que vocês acham sobre isso? Por ele ser maltratado. Cassius: Que ele ali mostrou uma imagem que as outras pessoas geralmente olham de um modo discriminatório. Márcia: Porque ele é uma pessoa que não tem estudo e só falava besteira. Eu: Será que só ele falava besteiras e outros não? PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Cassius: Tipo assim, das dez frases que ele dizia nove tinham um erro. Eu: Erro de português? Cassius: Por exemplo, frase erradas que firou até moda , como: “no modo de vista”. Coisas assim, que fez com que as pessoas da casa e o próprio público o rotulassem como aquele cara grande e forte, porém idiota. Eu: Mas isso é um estigma. Um estigma baseado no princípio de que quem é forte e gosta de musculação é burro ou fútil. Márcia: Tanto é que ele foi ao paredão três vezes. Cassius: Exatamente por causa disso. Por causa do jeito simplório dele. A pessoa que assiste TV hoje em dia não é mais aquela pessoa de antigamente que buscava nos programas a fuga da realidade. Aquele telespectador pensava em assistir a novela para ver histórias de pessoas ricas e com finais felizes, persnagens pobre que acabam ricos e de vilões que terminam presos. As pessoas antigamente queriam algo fora da sua realidade. Aquela coisa de imagens impostas de pessoas que você gostaria de ser. Agora não, com esses programas tipo Big Brother a tendência é outra o pessoal gosta de ver uma pessoa com que se identifica vencendo as competições que rolam no programa. Luciana: Senti isso na primeira versão do programa No limite. Márcia: Que a gordinha ganhou? Eu: é verdade, porque geralmente as pessoas gostam de ver as pessoas considerada mais fraca ganhar. 132 Márcia: É isso mesmo, porque a nossa sociedade está mais carente, eles querem alguma coisas para acreditar, alguma coisa que diga que eles podem chegar lá. Marcela: A gordinha não parecia ser muito resistente e conseguiu. Márcia: Isso porque o gordo sempre sofreu um certo preconceito. Então as pessoas querem ver outras pessoas iguais ganhando e no poder. Eu: Mas em relação ao poder, isso acontece? Márcia: Não, na prática isso não acontece. Eu digo que isso está no sonho. Luciana: Ai que tá esse ideal fica muito no sonho. Márcia: Ontém estava passando eu ouvi um cara disse temos que votar no Lula porque ele veio de baixo. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Eu: Você acredita no que o rapaz falou: Márcia: Acho que o político tem que ser consciente. Ter um conhecimento real. Luciana: Pensar no coletivo. Angela: É o caso da Benedita, vamos ver o que ela vai fazer. Porque ela é um pessoa de origem pobre. Márcia: Principalmente na educação com essa grave de mais de dois meses. Transcrição interrompida (Fim da Fita) Trechos do debate sobre o Filme Clube da Luta (fight club) (...) William: Aqueles grupos de auto-ajuda que o Jack freqüentava não o ajudou de fato, porque esse grupos era tudo Ilusão. Não ajudou a curar as angústias que estava sentido. Cássius: Acho que os grupos ajudaram a ele despertar. Willian: Nesse sentido ajudou sim. Cássius: Mas tem outra coisa, ele precisava se sentir uma pessoa renegada, pois as pessoas daqueles grupos eram renegadas da sociedade ou desprezadas . A sociedade precisa de pessoas produtivas e não de viciados e doentes terminais. Luciana: Teve uma parte que a Marla perguntou para o Jack porque ele freqüentava as reuniões. E ai ele respondeu porque quando as pessoas têm problemas elas querem 133 mais te ouvir do que falar. Quer dizer, se caso ele encontrasse pessoas sadias, elas estariam mais preocupadas em fala mais de suas vidas e não iriam prestar atenção no que os outros iriam dizer, ou seja, elas não estariam preocupadas com a sua dor. As pessoas daquele grupo não, eles já tinha a dor e queriam encontrar alguém com uma dor pior. Isso é sistema de auto-piedade. Eu: O que esse sistema de auto-piedade tem haver com o Clube da luta? Cassius: Podemos pensar isso apartir do Bob, aquele personagem que era de um grupo de auto-ajuda e depois foi para o Clube da luta. Ele até falou para o Jack que saiu do seu antigo grupo porque encontrou um outro melhor, o Clube da Luta. Acredito que o sistema de auto-piedade não resolvia os problemas existências dele. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA Enfim, o Jack encontrou no Clube da luta uma fuga daquele mundo de conforto e de consumo que ele vivia. Já o Bob queria um grupo onde ele se sentisse aceito, pois ele é um cara bizarro com grande, forte e com seios e, por isso, ele está sempre sendo excluído e posto de lado por todos. Luciana: O clude da luta seria uma forma de uma não auto-piedade. Perder a autopiedade para uma coisa mais concreta e fazer alguma coisa. William: É verdade, porque no Clube da luta não tem ninguém para ficar chorando pelo outro ou para falar palavras bonitas para o outro. Cassius: É verdade, porque o Jack percebeu que os grupos de ajuda eram ilusão, quando ele conheceu a Marla. Eu: Então existe o conflito entre a dor e conforto. O que vocês acham disso. Cassius: Jack queria coisas que ele pudesse sentir vivo. Ao lutar ele conseguia isso. Luciana: Mas Jack através do seu outro eu, o Tyler, foi fundo de mais na tentativa de destruição. E a Marla foi o ponto de equilíbrio. Cassius: Tyler não tinha limite nenhum. Luciana: É o problema dos grande líderes que não têm limite. Hitler por exemplo. Willian: O limite dele era realmente a Marla. Cassius: Um lance interessante desse filme são os seguidores dele. Os caras seguiram cada ordem rigorosamente e não se importavam se o Tyler era maluco ou não. Luciana: Endeusaram ele. Lembra quando ele deu um tiro na sua própria boca e os seus seguidores acharam isso o máximo, porque ele não morreu. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0024154/CA 134 (...)