Água e Esgoto
Embora a história do saneamento seja muito antiga, tendo se iniciado antes da
era cristã, ela se desenvolve paralelamente ao surgimento das cidades. No Rio
de Janeiro, ela precede a fundação do primeiro núcleo urbano e está ligada ao
abastecimento de água para as naus européias que por aqui passavam em suas
expedições de reconhecimento e exploração do continente sul-americano. A
existência de água potável atraía os navegantes em seus percursos.
O nome ‘carioca’, que hoje designa os naturais da cidade do Rio de Janeiro (e
que, segundo uma das interpretações correntes significa ‘casa de branco’, na
língua tupi), também denomina o rio que nasce na serra do Corcovado, próximo
às Paineiras. Depois de receber a contribuição de dois afluentes e passar pelo
vale das Laranjeiras, ele se dividia em dois braços: um deles desaguava na
Glória e outro na atual praia do Flamengo, então conhecida como ‘Aguada dos
Marinheiros’, onde os navios vinham buscar água antes de continuar viagem.
Próximo a ela se supõe ter sido construída a ‘casa de branco’ que daria origem
ao gentílico ‘carioca’.
O mesmo rio também servia aos índios tamoios que viviam na região, e se
transformaria por muitos anos na principal referência da cidade. Não à toa, foi
em local próximo a ele que a cidade seria fundada por Estácio de Sá, em 1565,
entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, antes de ser transferida dois anos
depois para o Morro do Descanso (que somente mais tarde ficaria conhecido
como Morro do Castelo).
No Morro do Descanso, firmou-se o núcleo urbano, onde foram construídos os
primeiros órgãos civis e religiosos, como o Forte de São Januário, a Casa da
Câmara e a Cadeia, a Igreja de São Sebastião dos Capuchinhos (primeira Sé da
cidade), a Igreja e o Colégio dos Jesuítas. Apesar da mudança, a cidade
continuaria a buscar água no rio Carioca.
A nova localização era estratégica do ponto de vista militar e tinha a vantagem
de estar voltada para o mar. Sua posição privilegiada, ao abrigo da Baía de
Guanabara, também favorecia os contatos com outras regiões do país e de fora.
Todavia, a cidade não apresentava grandes perspectivas de expansão, já que à
sua volta estendia-se uma faixa de terra coberta de charcos e lagoas, pontuada
em suas extremidades por quatro morros: o próprio Morro do Descanso (Castelo)
e os de São Bento, Santo Antônio e Conceição.
Cidade Colonial
A ‘aguada dos marinheiros’ e o rio Carioca
Pior
que
a
paisagem
desolada era a ausência de
água potável. Quando o Rio
de Janeiro ainda se situava
junto ao morro Cara de Cão,
Estácio de Sá mandara
construir o primeiro poço
para o abastecimento da
cidade.
Com
isso
se
preveniu de disputar a água
do rio Carioca com os
tamoios,
aliados
dos
Luta entre Estácio de Sá e Tamoios pelas águas do rio Carioca.
inimigos
franceses.
A
Fonte: Cedae.
solução seria repetida no
Morro do Castelo, com a construção dos poços do Porteiro, na rua da Ajuda (um
dos três acessos ao morro), da Misericórdia, do outro lado do morro, e do
Pocinho da Glória, a meio caminho do rio Carioca.
A busca de água potável na
nascente ou na foz do rio
Carioca daria origem às
primeiras trilhas e caminhos
da jovem cidade, entre eles
o do Catete. Marcaria ainda
a faina diária dos índios
aguadeiros, que passariam
a ser chamados assim
devido
à
função
que
desempenhavam. Com o
tempo eles receberiam a
companhia
e
seriam
Escravos carregadores de água. Fonte: Fundação Biblioteca
substituídos
por
escravos
Nacional.
de origem africana (e até
por imigrantes pobres, depois da independência), com seus potes de água feitos
de cerâmica trazidos à cabeça, dando origem a um comércio que se tornaria
habitual.
A importância do rio Carioca para o Rio de Janeiro foi reiterada ao longo de
sucessivas administrações coloniais até a construção
construção do Aqueduto da Carioca. A
primeira proposta de canalização do rio para a captação de suas águas surge já
em 1602, no governo de Martim Correia de Sá. A criação de um aqueduto seria
proposta pela primeira vez em 1633 e, em 1648, calhas de madeira foram
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utilizadas com esta finalidade por determinação da Câmara, mas a principal obra
civil de infraestrutura urbana empreendida na cidade no período colonial ainda
aguardaria o início do século XVIII para ser efetivada.
Um dos três acessos ao morro do Castelo,
Castelo, a rua da Ajuda
chamou-se
se primeiramente rua do Poço do Porteiro, por conta
de um dos dois poços existentes no local para o abastecimento
de água. Foto de Augusto Malta, c. 1900. Fonte: Instituto
nstituto
Moreira
oreira Salles.
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A `aguada dos marinheiros` e o rio Carioca