DÉBORA RODRIGUES SCHUCH RECUPERAÇÃO DE UM TRECHO DE MATA CILIAR DO RIO CAETÉ, MUNICÍPIO DE URUSSANGA, SANTA CATARINA Monografia apresentada ao Programa de PósGraduação em Gestão de Recursos Naturais da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC para obtenção do título de especialista em gestão de Recursos Naturais. Orientador: Prof. M. Sc. Rafael Martins CRICIÚMA, SC, 2005 “Tentar e falhar é, pelo menos, aprender. Não chegar a tentar é sofrer a inestimável perda do que poderia ter sido”. (Geraldo Eustáquio) Ao Odivan e Rafaella que dividiram comigo as dificuldades, DEDICO AGRADECIMENTOS Agradeço a todas as pessoas que das mais diversas formas contribuíram para o progresso desse trabalho. Em especial: Ao Prof. M. Sc. Rafael Martins, pela disposição e pelo empenho para a orientação da presente monografia. A Profª Dra. Vanilde Citadini-Zanette pela disponibilização dos dados referentes as espécies selecionadas neste trabalho Aos colegas de trabalho Cristina, Fernanda, Fernando e Cleyton, por compreenderem minhas ausências, para que eu pudesse concluir este trabalho. A amiga Carmem pela colaboração. Aos colegas do Programa de Pós graduação em Gestão de Recursos Naturais da Unesc, pelo agradável convívio. Ao Programa de Pós Graduação em Gestão de Recursos Naturais da UNESC, por possibilitar a realização do curso. A minha família pelo apoio. A Deus, fonte de serenidade, coragem e sabedoria para prosseguir nas horas difíceis. RESUMO As florestas têm importância vital para o equilíbrio ambiental e ecológico do planeta, no entanto, nas últimas décadas o desmatamento modificou profundamente o aspecto da vegetação em Santa Catarina, pela busca do desenvolvimento agrícola, urbanização e industrialização. As matas ciliares também chamadas de florestas ribeirinhas é uma das formações vegetais mais importantes para a preservação da vida e da natureza, funciona como um filtro ambiental, retendo poluentes e sedimentos que chegariam aos cursos d´água. Funciona também como um obstáculo contra o assoreamento dos rios, retendo a terra das margens para que ela não caia dentro deles. Com as chuvas, a mata ciliar impede que uma quantidade muito grande de água caia de uma só vez no rio, evitando assim as enchentes. Além disso, exerce papel de interação, sendo parte fundamental para o equilíbrio dos ecossistemas, funcionando como corredores extremamente importantes para o movimento da fauna ao longo da paisagem, contribuindo assim para a dispersão vegetal. Não obstante , essa formação não escapou da destruição, caracterizando uma das formações florestais mais degradadas atualmente . Diante da preocupação com o futuro das florestas ribeirinhas, o presente trabalho objetivou gerar uma proposta para recuperação da mata ciliar do rio Caeté localizado no município de Urussanga no sul do estado de Santa Catarina, e assim reduzir os processos de degradação do solo e principalmente evitar enchentes que são freqüentes em épocas chuvosas. As espécies utilizadas foram selecionadas com base em um estudo realizado na microbacia do rio Novo em Orleans, por se tratar do único estudo com formações ciliares na região. A introdução das espécies tomou como base a as categorias sucessionais de cada uma. Como o rio da microbacia em questão se apresenta encaixados, não ocorrem encharcamentos laterais (exceto quando ocorrem enchentes), pode-se utilizar no reflorestamento as espécies que predominam nas formações florestais secundárias adjacentes, localizadas em terrenos bem drenados. Juntamente com a recuperação biológica da mata ciliar, foram recomendadas ações relacionadas a conscientização ambiental da comunidade, visando a percepção sobre os valores dos bens da natureza e seu impacto na sua própria vida. Palavras-chave: recuperação ambiental; mata ciliar; sul de santa catarina; áreas degradadas SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................................................6 2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................................................................9 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 O QUE É MATA CILIAR?................................................................................................................................................9 IMPORTÂNCIA DA MATA C ILIAR...............................................................................................................................11 ASPECTOS LEGAIS DA MATA CILIAR......................................................................................................................13 RECUPERAÇÃO DA MATA C ILIAR.............................................................................................................................15 ESTUDOS REALIZADOS...............................................................................................................................................17 METODOLOGIAS EMPREGADAS NA RECONSTRUÇÃO DE UM ECOSSISTEMA FLO RESTAL .............................18 TÉCNICAS DE RECUPERAÇ ÃO....................................................................................................................................20 INTERAÇÕES INTERESPEC ÍFICAS NA RECUPERAÇÃO ...........................................................................................23 EDUCAÇÃO AMBIENTAL .............................................................................................................................................26 3 OBJETIVOS ....................................................................................................................................................................... 29 3.1 GERAL............................................................................................................................................................................29 3.2 ESPECÍFICOS.................................................................................................................................................................29 4 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................................................................... 30 4.1 ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................................................................................30 4.1.1 LOCALIZAÇÃO E DADOS GERAIS DO MUNICÍPIO ................................................................................................30 4.1.2 CLIMA.........................................................................................................................................................................34 4.1.3 GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA ...........................................................................................................................35 4.1.4 SOLOS.........................................................................................................................................................................36 4.1.5 VEGETAÇÃO ..............................................................................................................................................................37 4.1.6 HIDROGRAFIA...........................................................................................................................................................40 4.2 METODOLOGIA............................................................................................................................................................40 4.2.1 S ELEÇÃO DAS ESPÉCIES ..........................................................................................................................................41 4.2.2 RECOMENDAÇÕES PARA PLANTIO ........................................................................................................................42 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................................................................... 45 5.1 5.2 5.3 5.4 ESPÉCIES S ELECIONADAS ..........................................................................................................................................45 CRONOGRAMA DE PLANTIO E ATRIBUTOS ECOLÓGICOS DAS ESPÉCIES ..........................................................47 MANUTENÇÃO E MONITORAMENTO ........................................................................................................................50 ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS NO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL...................................51 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................... 53 7 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................ 54 6 1 INTRODUÇÃO As florestas têm importância vital para o equilíbrio ambiental e ecológico do planeta. Além de promover a amenização do clima, a troca atmosférica, a manutenção da biodiversidade e a reciclagem dos solos, proporcionam condições fundamentais para a existência da vida. Também apresentam enorme importância para os interesses sócio-econômicos e culturais, fornecendo inúmeros produtos, desde madeiras, energia, alimentos e remédios, até valores edílicos e turísticos, tais como belas paisagens. Entre as mais importantes funções desempenhadas pelas florestas está à proteção e preservação dos mananciais de água, recurso este, cada vez mais escasso (Dietzold e Wendel 2004). Apesar de sua importância, as florestas do planeta não estão recebendo a atenção devida. Estima-se que cerca de dois terços já não existem mais devido à destruição em ritmo acelerado, estando o Brasil, como o país que mais destrói suas matas (Dietzold e Wendel 2004). Nunca em toda a história da humanidade, a utilização dos recursos naturais pelo ser humano foi tão questionada, tanto no meio científico quanto entre a população em geral, é crescente a idéia de conservação dos ecossistemas naturais e de recuperação dos ecossistemas degradados pelo homem (Ferreira e Dias 2004). Os autores op. cit. ressaltam que as florestas nativas representadas por diferentes biomas, são importantes ecossistemas que há séculos são explorados de forma degradatória. Esse processo de eliminação das florestas resultou num conjunto de problemas ambientais, como a extinção de várias espécies da fauna e flora, mudanças climáticas locais, erosão dos solos, eutrofização e assoreamento dos cursos d’água. 7 No processo de colonização e ocupação do território brasileiro, principalmente nas regiões próximas do litoral provocou a derrubada de extensas áreas de Mata Atlântica, restando hoje apenas manchas descontínuas de florestas. A extração seletiva de madeira também provocou a abertura de grandes clareiras alterando as populações das espécies de interesse econômico, condicionando a floresta a uma dinâmica sucessional diferente da natural (Brokaw 1985). O estado de Santa Catarina, no início da ocupação humana tinha seu território coberto por florestas em quase toda sua extensão, apenas no planalto os campos apareciam interrompendo a mata (Klein et al. 1986). A floresta foi a primeira opção econômica para os imigrantes que aqui chegaram, verificando-se crescente desenvo lvimento, baseado na exploração e consequentemente exportação de madeiras, principalmente na exploração da floresta ombrófila densa por sua situação privilegiada (Klein 1979a, 1979b, 1980; Reis 1993). No entanto o desmatamento pelo intenso desenvolvimento agrícola e agropecuário, extração de madeira e processos recentes de urbanização e industrialização em Santa Catarina, sobretudo nos últimos 70 anos, modificou profundamente o aspecto da vegetação primária no estado (Klein et al. 1986; Silva 1994). As matas ciliares não escaparam da destruição e foram alvo de todo tipo de degradação. Basta considerar que muitas cidades foram formadas às margens dos rios, eliminando todo o tipo de vegetação ciliar, e muitas sofrem hoje com constantes inundações, poluição, doenças e modificações da paisagem, efeitos negativos dessas ações devastadoras (Ferreira e Dias 2004). 8 De acordo com Martins (2001), além do processo de urbanização as matas ciliares sofrem com a pressão antrópica, principalmente pela construção de hidrelétricas, abertura de estradas e implantação de culturas agrícolas e de pastagens. 9 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O que é mata ciliar? As áreas florestadas ao longo de cursos d’água, denominadas de mata ciliar, de galeria ou ripária (Hueck 1972; AB’Saber 1971), apresentam características muito peculiares, cujas espécies estão sob influência de flutuações do lençol freático, apresentando ou não, segundo a topografia local, áreas sujeitas a inundações periódicas (Bertoni e Martins 1987; Klein 1980). A expressão florestas ciliares é um conceito que se confunde com amplo sentido de matas beiradeiras ou matas de beira-rio. Fitoecologicamente trata-se da vegetação florestal ás margens de cursos d’água, independentemente de sua área ou região de ocorrência e de sua composição florística. Neste sentido, o leque de abrangência do conceito de florestas ou matas ciliares é quase total para o território brasileiro, já que elas ocorrem de uma forma ou de outra, em todos os domínios morfoclimáticos e fitogeográficos do país (Rodrigues 2000). Diversas discussões sobre a nomenclatura destas formações vegetais constam da literatura recente na tentativa de se utilizar uma terminologia mais clara para dignação das diferentes formações que ocorrem no ambiente ribeirinho. Em função da diversidade de ambientes no país e dada à complexidade de fatores que interagem na definição fisionômica e florística das formações florestais, torna-se necessário à utilização de nomenclatura fitogeográfica com a utilização de termos que descrevam o tipo de vegetação, o ambiente de ocorrência e ainda a presença de fatores ambientais característicos (Davide et al. 2000). O referido autor ressalta que a terminologia popular, “mata ciliar” não é suficiente para distinguir estas características, mas será aqui utilizada para 10 denominar todas as formações florestais que se caracterizam pela influência da água dos rios, lagos e nascentes, por ocorrerem nas suas margens. Já segundo Camargo et al. (1971) as matas ciliares são definidas como “matas ecológicas”, pois de acordo com as condições locais de topografia, clima e solo, apresentam tipos fisionômicos bem definidos. As matas ciliares, também denominadas florestas ribeirinhas, definidas por Rodrigues (2000) como “florestas ocorrentes ao longo dos cursos d’água e no entorno das nascentes”, são de vital importância na proteção de mananciais, controlando a chegada de nutrientes, sedimentos e a erosão das ribanceiras, atuam na interceptação e absorção da radiação solar, contribuindo para a estabilidade térmica da água, determinando assim as características físicas, químicas e biológicas dos cursos d’ água (Delitti 1989). Devido à elevada freqüência de alterações que ocorrem normalmente na zona ripária, a vegetação que ocupa esta zona (mata ciliar) deve em geral, apresentar uma alta variação em termos de estrutura e distribuição espacial (Lima e Zakia 2000). A mata ciliar corresponde à vegetação associada aos cursos e reservatórios de água, independente de sua área ou região de ocorrência, de sua composição florística e localização (AB’Saber 2000). No Brasil, estas matas ocorrem praticamente em todas as regiões, sobretudo dentro das paisagens florestais (Troppmair e Machado 1974). De acordo com Mantovani et al. (1989), elas são bem caracterizadas em regiões de domínio savânico ou campestre, onde ocorrem ao longo de cursos d’água, nas depressões e encostas de vales profundos, sendo menos diferenciada nas regiões de domínio florestal, onde se distinguem pela composição florística. 11 2.2 Importância da mata ciliar A mata ciliar é uma das formações vegetais mais importantes para a preservação da vida e da natureza. O próprio nome já indica isso: assim como os cílios protegem nossos olhos, a mata ciliar serve de proteção aos rios e córregos. No entanto a mata ciliar exerce papel de interação, sendo parte fundamental para o equilíbrio dos ecossistemas (Lima e Zakia 2001). A mata ciliar funciona como um filtro ambiental, retendo poluentes e sedimentos que chegariam aos cursos d´água. Funciona também como um obstáculo contra o assoreamento dos rios, retendo a terra das margens para que ela não caia dentro deles. Quando chove, a mata ciliar impede que uma quantidade muito grande de água caia de uma só vez no rio, evitando assim as enchentes (Lima e Zakia 2001). Do ponto de vista ecológico, as matas ciliares têm sido consideradas como corredores extremamente importantes para o movimento da fauna ao longo da paisagem, assim como para a dispersão vegetal (Lima e Zakia, 2001). Segundo Davide et al. (2000) os principais benefícios das matas ciliares são: manutenção da qualidade e quantidade da água pela sua função de tamponamento entre os cursos d’água e as áreas adjacentes cultivadas, retendo grande quantidade de sedimentos, defensivos agrícolas e nutrientes e pela sua capacidade de produção do solo contra os processos erosivos e aumento na capacidade de infiltração de água no solo, estabilização das margens dos rios através da grande malha de raízes que dá estabilidade aos barrancos e atuação da serrapilheira retendo e absorvendo o escoamento superficial, evitando o assoreamento dos leitos dos rios e das nascentes; habitat para a fauna silvestre proporcionando ambiente com água, alimento e abrigo para um grande número de 12 espécies de pássaros e pequenos animais, além de funcionarem como corredores de fauna entre fragmentos florestais; habitat aquático proporcionando sombreamento nos cursos d’água, abrigo, alimento e condição para reprodução e sobrevivência de insetos, anfíbios, crustáceos e pequenos peixes. De fundamental importância para o ecossistema regional, as matas ciliares relacionam-se com a manutenção do equilíbrio ecológico nas bacias hidrográficas, apresentando inúmeras vantagens, como: proteção contra o assoreamento que ocorre em conseqüência de diversos tipos de erosão (Marques et al. 1961); regularização do regime hídrico e melhoria da qualidade da água (Reichmann-Neto 1978; Aoki e Souza 1989); filtragem de sedimentos, nutrientes ou agrotóxicos e por isso, também designadas como “sistema tampão” (Corbertt e Lynch 1985; Lima 1989), interceptação e absorção da radiação solar, contribuindo para a estabilidade térmica dos pequenos cursos d’água (Lima 1989) e proteção ou alimento para a fauna (Martini 1982; Marinho Filho e Reis 1989; Motta Junior 1991 apud Citadini-Zanette 1995). As matas ciliares atuam como barreira física, regulando os processos de troca entre os ecossistemas terrestres e aquáticos e desenvolvendo condições propícias à infiltração. Sua presença reduz significativamente a possibilidade de contaminação dos cursos d’ água por sedimentos, resíduos de adubos e defensivos agrícolas, conduzidos pelo escoamento superficial da água no terreno. (Kageyama 1986; Lima 1989). Segundo Lourence et al. (1984 apud Ribeiro 1998), o ecossistema mata ciliar comporta-se como excelente consumidor e tampão de nutrientes que estão presentes no escoamento advindo de sistemas agrícolas vizinhos. 13 2.3 Aspectos Legais da Mata Ciliar Ao longo de toda história brasileira proprietários rurais sempre fizeram uso intensivo da terra disponível em suas propriedades. Se de um lado, tal utilização das terras permitiu a prática da agricultura e a promoção do desenvolvimento sócioeconômico em diferentes regiões do país, muitas vezes a atividade produtiva agrária causou danos ambientais sem que o fato fosse imediatamente percebido. Ações de recuperação ambiental são necessárias, este é o caso da recuperação da vegetação permanente localizadas nas áreas de preservação permanente (APPs), por que a legislação assim determina (Ahrens 2005). Para Milaré (2000), “Dano ambiental é a lesão aos recursos ambientais com conseqüente degradação do equilíbrio ecológico”. Na mesma linha de pensamento, Antunes (1999) reporta que o dano ambiental é um dano causado aos bens jurídicos que compõem o meio ambiente, como por exemplo, os solos, as águas, a fauna e a flora. Quanto a reparação dos danos ambientais, Machado (1999) informa que tanto a Constituição Federal, que emprega os termos “reparação” e “recuperação”, como a legislação infraconstitucional, que usa expressões “restauração” e “reconstituição”, estão em harmonia no sentido de indicar um caminho para as pessoas físicas e jurídicas que danificarem o meio ambiente Segundo Ahrens (2005), que remete ao artigo 225, § 3°, da Constituição que estabelece a obrigatoriedade da reparação dos danos causados ao meio ambiente independe das sanções penais e das multas que possam incidir sobre as pessoas físicas ou jurídicas responsáveis por atividades e condutas consideradas lesivas ao meio ambiente. Determina também que a propriedade cumprirá a sua função social (art. 5°, XXIII). Ainda por norma constitucional (Art. 186) informa-se o conteúdo social da propriedade rural, indicando-se os quatro requisitos que devem 14 ser observados simultaneamente dentre estes encontra-se no incisoII: “ utilização racional dos recursos naturais e preservação do meio ambiente” Em função da sua importância, as florestas que margeiam os cursos d´água e nascentes, são consideradas faixa ou área de preservação permanente segundo o Código Florestal, Lei nº 4.771 de 15 de setembro de 1965, ou seja, uma reserva ecológica que não pode sofrer qualquer alteração, devendo permanecer sua vegetação na condição original. Segundo esta Lei, a área de proteção das margens dos rios, varia de acordo com a largura do rio. Para os rios com 10 metros de largura, a lei estabelece uma área de proteção de 30 metros para cada margem; para os rios que possuem entre 10 e 50 metros de largura, a lei determina 50 metros de área protegida para cada margem; para os rios que possuem de 50 a 200 metros de largura a área protegida deve ser de 100 metros; para rios com largura entre 200 a 600 metros a área da margem a ser protegida é de 200 metros, e para os rios com largura superior a 600 metros a faixa de proteção é de 500 metros para cada margem (Brasil 1965). Mais recentemente em 1991 a Lei da Política Agrícola – Lei nº 8171 de 17 de janeiro de 1991, determinou a recuperação gradual das áreas de preservação permanente, estabelecendo um período de 30 anos para a recuperação da vegetação nativa nas áreas onde esta foi eliminada (Rodrigues 2000). O decreto 750 de 1993, em seu art. 12, que o Ministério do Meio Ambiente, (MMA), estimula estudos técnicos visando à conservação e o manejo racional da “Mata Atlântica” e da sua biodiversidade. Implícito à conservação dos ecossistemas inseridos no domínio da Mata Atlântica está, obviamente a necessidade urgente de sua restauração. Cabe mencionar também, que o Decreto nº 3.420, de 20 abril de 2000, diploma legal que criou o Programa Nacional de 15 Florestas, PNF, que prevê a necessidade da “recomposição e restauração de florestas de preservação permanente de reserva legal e áreas alteradas...” (Brasil 2000). A Lei Federal de crimes Ambientais de nº 9.605 de fevereiro de 1998, transforma em crimes e infrações administrativas, diversos delitos praticados contra a flora. Esta Lei de Crimes Ambientais determina que as penalidades incidam sobre todos os responsáveis pela ação degradadora, sejam eles diretos ou solidários pessoas físicas ou jurídicas (Ahrens 2005). Embora protegidas por lei, as matas ciliares não foram poupadas da degradação ao longo dos anos e sua importância na conservação da biodiversidade pede ações que busquem reverter a atual situação (SEMA 2005). No entanto, nem os proprietários de terra e nem as autoridades nunca levaram a sério o teor da lei, muito menos a importância da manutenção e recuperação destas faixas florestais. Também em desacordo com a legislação, as prefeituras, para não abrirem mão da arrecadação de imposto predial urbano (IPTU), ou por falta de conhecimento da lei os funcionários aprovam as construções, loteamentos nas margens dos rios; resultando na destruição das matas ciliares (Zanchetta 2004). 2.4 Recuperação da mata ciliar A recuperação de áreas degradadas pode ser conceituada como um conjunto de ações idealizadas e executadas por especialistas das mais diferentes áreas do conhecimento humano, que visam proporcionar o restabelecimento de condições de equilíbrio e sustentabilidade existentes anteriormente em um sistema natural (Dias e Griffith 1998). 16 Para Brasil (1990), a recuperação significa que o sítio degradado será retornado a uma forma e utilização de acordo com o plano preestabelecido para o uso do solo. Significa que o sítio degradado terá condições mínimas de estabelecer um novo equilíb rio dinâmico, desenvolvendo uma nova paisagem. Majer (1989) define recuperação como um termo que cobre todos os aspectos de qualquer processo que visa à obtenção de uma nova utilização para a área degradada. A recuperação de ecossistemas florestais degradados é um caminho cada vez mais perseguido dentro do atual quadro de redução das florestas. No entanto, as metodologias aplicadas para esta recuperação se fundamentam em idéias muito divergentes e em geral refletem objetivos também diversos (Rodrigues e Gandolfi 1996). Kageyama et al. (1997) definem recuperação como o retorno de uma área degradada a uma condição novamente aproveitável a uma determinada função e restauração quando se pretende reconstruir novamente o ecossistema com todas as suas funções e formas. A mais recente publicação refere-se ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC (lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, diário oficial 19 de julho de 2000), onde é reforçada a diferenciação entre os dois conceitos citados acima. A referida lei trata recuperação como à restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada, podendo diferir da condição original, enquanto restauração é a restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada o mais próximo possível da sua condição original (Brasil 2000). 17 2.5 Estudos Realizados No Brasil, as matas ciliares são de maneira geral pouco estudadas e só recentemente tem recebido maior atenção, principalmente devido a sua situação crítica. A maioria dos estudos está concentrada no estado de São Paulo e refere-se a levantamentos florísticos e/ou fitossociológicos (Gibbs e Leitão Filho 1978; Gibbs et al. 1980; Bertoni et al. 1992; Bertoni e Martins 1987; Salis e Joly 1987; Mantovani et al. 1989; Ziparro e Schlitter 1992), aspectos fitogeográficos e ecológicos (Troppmair et al. 1970; Camargo et al. 1971; Troppmair e Machado 1974), relacionados a fatores abióticos que interagem naquelas formações ou ainda à seletividade florística, principalmente nas faixas próximas aos cursos d’água ocasionada pela elevação do nível do rio (Rodrigues 1991). Trabalhos realizados em matas ciliares mostram que a similaridade entre áreas é muito baixa, revelando assim a grande diversidade florística destes ecossistemas. (Rodrigues e Nave 2001) citam como alguns fatores determinantes dessa heterogeneidade o tamanho da faixa ciliar florestada, o estado de conservação desses remanescentes, o tipo vegetacional de origem dessa formação florestal ciliar, a matriz vegetacional onde a mesma está inserida e a heterogeneidade espacial das características físicas do ambiente. Os autores afirmam ainda, que apesar de constatada, essa heterogeneidade é ainda pouco estudada. Na região sul do estado de Santa Catarina, o único estudo realizado em formações ciliares foi o de Citadini-Zanette (1995) que estudou a florística, fitossociologia e aspectos da dinâmica de um remanescente de Floresta Atlântica na microbacia do rio Novo, no município de Orleans, SC. Nesse estudo foram 18 identificadas 148 espécies arbóreo – arbustivas pertencentes a 50 famílias botânicas. Diante da ausência de estudos, este se torna o mais importante para região, possibilitando a indicação de espécies a serem utilizadas na recomposição de matas ciliares e áreas adjacentes da microbacia pertencentes ao domínio mata atlântica, com base nos resultados fitossociológicos e da dinâmica da vegetação, bem como clima e do solo. 2.6 Metodologias empregadas na reconstrução de um ecossistema florestal Embora existam muitas metodologias para reconstruir ou reorganizar um ecossistema florestal tropical ou subtropical, é necessário compreender os processos que levam a estruturação destes ecossistemas no tempo (Leitão Filho et al. 2005). As bases destas metodologias se fundamentam em três questões: quais espécies plantar? Quanto plantar de cada espécie? E como efetivar este plantio, de modo a recobrir o solo em menos tempo, com menores perdas e menor custo? (Leitão Filho et al. 2005). A fitogeografia se baseia no reconhecimento de diferentes tipos de vegetação ou unidades fitogeográficas, e que essas ocupam diferentes regiões e espaços geográficos. Isto resulta não só do histórico de evolução e migração de espécies que compõem cada formação vegetal, mas também em função da adaptação dessas espécies, às condições climáticas e as interações biológicas (Rizzini 1976,1979). Também deve-se identificar os tipos de vegetação que ocorrem na região em que se fará a recuperação, o que pode ser conseguido através de consulta à 19 bibliografia já disponível, ou com especialistas da região. Assim, diferentes programas de revegetação, terão maiores chances de produzir eficientemente uma floresta num dado local, quanto mais espécies escolhidas para plantio correspondem ao tipo de formação floresta l daquela situação ambiental e à flora regional (Leitão Filho et al. 2005). A fitossociologia busca estudar, descrever e compreender a associação de espécies na comunidade, as interações destas espécies entre si e com seu meio, resultando na identificação de parâmetros quantitativos de uma comunidade vegetal, definindo não só as espécies mais abundantes, mas também estabelecendo relações de dominância e importância entre elas na comunidade, embasando a definição do número de indivíduos de cada espécie a ser usado na recuperação (Martins 2004). Estes dados quantitativos serão usados para embasar a definição do número de indivíduos de cada espécie a ser usado na recomposição. O terceiro princípio necessário para o estabelecimento de uma metodologia de recuperação é a sucessão secundária. As florestas, como quaisquer outros ecossistemas não surgem prontas, complexas e diversificadas. Toda a composição de espécies e as interações aí existentes resultam de um processo lento e gradual de evolução que estes ecossistemas sofrem e que se denomina de sucessão (West et al. 1981; Pickett e White 1985). Desta maneira, tomando como modelo para recomposição, uma floresta madura, ter-se-á informações tanto das espécies que compõe o final da sucessão, como das espécies que caracterizam também as fases iniciais do processo de sucessão florestal (Leitão Filho et al. 2005). 20 De acordo com Rodrigues e Gandolfi (1996) com o conhecimento dos princípios básicos para a definição de uma metodologia de recomposição, pode-se estabelecer as principais etapas de um projeto dessa natureza, que são: Avaliação das áreas degradadas, levantamento da vegetação regional e suas espécies características, seleção do sistema de revegetação, escolhas das atividades de recomposição, plantio, manutenção, avaliação e distribuição das espécies no campo (quantidade, forma e local). 2.7 Técnicas de recuperação A recuperação de matas ciliares é uma medida que pode ser realizada por diferentes processos. Diversos fatores determinam a seleção de espécies para recompor áreas degradadas, entre elas a mata ciliar deve se basear nas características físicas da área como: solo, hidrografia e topografia (Santarelli, 1996). Segundo Rodrigues e Sheperd (2000 apud Cardoso-Leite et al. 2004) A heterogeneidade das condições ambientais nas margens dos cursos d’água define, portanto um mosaico vegetacional como resultado da atuação diferencial da umidade. Segundo os referidos autores, os principais fatores que atuam na seletividade das espécies, condicionando a distribuição e composição florística, são aqueles que definem a dinâmica da água do solo (relevo e fatores físicos do solo), entretanto vários outros trabalhos têm reforçado a importância de outros fatores como: características geológicas e geomorfológicas, deposição de sedimentos, remoção ou soterramento da serrapilheira e do banco de sementes, modelo hidrológico do rio (definindo duração e volume de água durante a elevação do rio), presença de remanescentes à montante fornecendo propágulos de espécies hidrocóricas, dentre outros fatores bióticos e abióticos estudados. Entretanto, apesar 21 da particularização destes fatores, nota -se que todos são dependentes direta ou indiretamente da elevação do nível da água dos rios. Quando o objetivo é a recomposição da vegetação nativa a escolha de plantios mistos onde se destaca a utilização de espécies de ocorrência regional é a melhor opção. Seguindo-se os conceitos da sucessão, o reflorestamento misto deve ser composto por espécies de diferentes estádios da sucessão, assemelhando-se à floresta natural, que é composta de um mosaico de estádios sucessionais. Portanto os plantios devem ser feitos com utilização de diversas espécies onde diferentes grupos desempenham diferentes papéis de sombreadoras e sombreadas (Davide et al 2000). O referido autor cita ainda que deve -se observar, que as diferenças entre os ambientes nas nascentes, margens de córregos, rios e lagos são determinantes na definição da fisionomia e composição florística da vegetação e que este conhecimento é fundamental no planejamento de estratégias de recomposição das matas ciliares. A falta de entendimento desses conceitos e dos fatores ambientais que são condicionantes para ocorrência das matas ciliares, tem provocado o insucesso de inúmeros trabalhos de recuperação. O enquadramento de espécies em grupos ecológicos (categorias sucessionais) é um subsídio que diversos autores desenvolveram para melhor entender o processo de sucessão que ocorre nas florestas tropicais, essa visão resulta do estudo da dinâmica de clareiras (Budowski 1965; Whitmore 1978; Denslow 1980; Hartshorn 1980; Brokaw 1985; Martinez-Ramos 1985). Citadini-Zanette (1995) salienta que o enquadramento das espécies em categorias sucessionais representa uma tentativa de classificação com base em um conjunto de informações incipientes, onde o estudo da autoecologia das populações 22 deve ser desenvolvido para um melhor entendimento da dinâmica em florestas tropicais. Budowski (1965) classifica num primeiro grupo as chamadas pioneiras, espécies plenamente heliófitas, estas espécies são importantes, pois, atraem a fauna silvestre que serve de dispersora de sementes, principalmente pássaros, auxiliando no processo de regeneração natural. Já as climácicas, que corresponde ao quarto grupo, têm desenvolvimento lento, porte elevado quando adultas, são ombrófilas na fase inicial de desenvolvimento, longevas e com sementes pesadas, o que determina dispersão por mamíferos e pássaros grandes. Com base nas características ecológicas destes grupos, é que as espécies são indicadas para recuperar áreas degradadas ou matas ciliares, iniciando com as pioneiras e terminando com as climácicas (Rodrigues e Gandolfi 1996). Segundo Ferreira et al. (2004) para restauração das matas ciliares, vários métodos podem ser adotados. No entanto, a regeneração artificial (plantio de mudas e semeadura direta), por promover resultados mais rápidos, vem sendo empregada em maior escala. Reis et al. (2003) apontam técnicas de nucleação como ferramenta para incrementar os processos sucessionais e acelerar a regeneração natural das espécies. Entre as técnicas pode-se citar: a) Transposição de solos, que tem como conseqüência a reintrodução de elementos da micro, meso e macro fauna/flora do solo; b) Poleiros artificiais, que consiste em fornecer áreas para descanso de aves e morcegos dispersores de sementes, resultando em núcleos de diversidade no entorno dos poleiros; c) Transposição de galharias. Esta última técnica pode ser utilizada em áreas destinadas a mineração ou de represamento de hidrelétricas 23 onde grandes porções de solo são removidas, e a total ausência de nutrientes no solo é a principal causa da degradação ambiental; nessas áreas resíduos da exploração florestal (galharias), podem ser utilizados formando núcleos de biodiversidade para o processo sucessional secundário da área degradada. As galharias possibilitam além de incorporação de matéria orgânica no solo e potencial de rebrotação e germinação, abrigos e microclima adequados para diversos animais, como roedores, cobras e aves, pois são locais para ninhos e alimentação. São ambientes propícios para o desenvolvimento de larvas de coleópteros decompositores da madeira, cupins e outros insetos. 2.8 Interações interespecíficas na recuperação O sucesso no processo de recuperação e manutenção da dinâmica de um ecossistema é extremamente dependente da capacidade das espécies em promover interações interespecíficas, nesse contexto, a interação fauna -flora cria um cenário favorável à recuperação de áreas degradadas, haja vista que a polinização das flores e a dispersão das sementes são as duas interações mais importantes entre animais e plantas (Reis e Kageyama 2001, 2003). Segundo estudos de Reis et al. (1996, 1999) e Reis e Kageyama (2001, 2003) para o sucesso no processo de recuperação ambiental, é necessário a manutenção de interações interespecíficas na comunidade a ser recuperada. Ressaltam três categorias de interações: a) Plantas-Plantas, onde se destacam as gramíneas que contribuem para a formação de uma cobertura vegetal, evitando o processo de erosão e contribuindo na formação de uma camada de solo (entretanto nas fases posteriores da sucessão elas podem se tornar empecilhos para sucessão inibindo o desenvolvimento de outras espécies); b) Plantas-Microrganismos, neste 24 contexto as leguminosas se sobressaem sobre as demais por apresentarem em suas raízes nodulações de bactérias fixadoras de N2 e as associações com endo e ectomicorrizas; c) Plantas-Animais, neste tipo de interação destacam-se a polinização e a dispersão. A polinização é um processo importante, pois garante o fluxo gênico e evita o endocruzamento; a dispersão além de garantir o fluxo gênico, permite ainda à colonização de novos hábitats pelas espécies. A interação fauna-flora é considerada um fator importante para a recuperação de áreas degradadas, visto que a polinização das flores e a dispersão das sementes são as duas interações mais importantes entre animais e plantas (Reis e Kageyama 2001, 2003). A polinização é um processo importante, pois garante o fluxo gênico e evita o endocruzamento, a dispersão além de garantir o fluxo gênico, permite ainda à colonização de novos hábitats pelas espécies. A polinização é um dos mecanismos mais importantes na manutenção e promoção da biodiversidade, haja vista que a maioria das plantas dependem dos agentes polinizadores para sua reprodução sexuada e, em contrapartida, os recursos florais constituem as principais fontes de alimento para diversos grupos de animais (Alves-dos-Santos 2003). Na associação entre polinizador-planta existe um “jogo de interesses” entre os organismos envolvidos. Para a planta é interessante realizar a fecundação cruzada, ou seja, transferir os grãos-de-pólen para os estigmas das flores de outros indivíduos e o agente polinizador geralmente busca na flor, na maioria das vezes o alimento ou ainda recursos para a construção do ninho, local para dormir ou para acasalar (Alves-dos-Santos 1998). Segundo Silva (2003), comparada com a polinização, a dispersão apresenta uma dinâmica muito mais complexa, pois não existem adaptações 25 morfológicas evidentes que indiquem alto grau de co-evolução entre os agentes dispersores (vertebrados na sua maioria) e as plantas dispersas (angiospermas com frutos carnosos ou sementes ariladas). O referido autor ressalta ainda que o processo de dispersão tem início com a retirada do diásporo da planta, mas que não existem garantias de que a semente será depositada num local adequado. Ainda não são conhecidos em detalhes os mecanismos de dispersão de sementes por animais, não se conhecendo também benefícios imediatos nesse mutualismo tão freqüente na natureza. Quanto à dispersão Reis (1995) denomina o termo “bagueiras”, enfatizando o papel fundamental para a manutenção do equilíbrio dinâmico das florestas, e também para a recuperação de áreas degradadas; O termo “bagueira”, utilizado por caçadores, se refere às plantas que quando com frutos maduros atraem grande número de animais. Os animais podem procurar as bagueiras para comer seus frutos (consumidores primários), ou para predar outros animais que ali se concentram para se alimentarem. Como os animais frugívoros procuram as bagueiras como fonte de alimento, estas plantas podem nos indicar algo sobre seu comportamento, de possível influencia sobre o padrão de distribuição de sementes. A utilização de bagueiras pode aumentar rapidamente o número de espécies dentro de uma área a ser recuperada, representando assim uma grande estratégia para recuperação da resiliência ambiental. McClanahan e Wolfe (1993), caracterizam os dispersores como facilitadores ou aceleradores do processo de sucessão ecológica, salientando que em áreas fragmentadas e degradadas a ausência de fontes de propágulos de grandes distâncias pode reduzir a taxa de retorno da vegetação acarretando a 26 persistência de paisagens dominadas por baixa diversidade e por vegetação de estádio sucessional inicial. Nas florestas tropicais, a forma mais freqüente de dispersão as sementes é através dos animais (zoocoria). Cerca de 60 a 90% das espécies vegetais da floresta são adaptadas a esse tipo de transporte (Morellato 1992). Esse processo é mais generalista, ou seja, uma espécie que possui fruto zoocórico pode atrair animais de espécies e tamanhos bastante distintos. Entende-se como dispersão o transporte das sementes para um local próximo ou distante da planta geradora destas sementes (planta-mãe). Esta distância pode variar de centímetros a quilômetros (Howe e Westley 1986). Neste sentido, um animal predador, ao perder uma semente ou fruto, executa o papel de dispersor. O comportamento do animal de transportar as sementes e então plantalas em novos ambientes é na recuperação das áreas degradadas um auxílio fundamental e extremamente barato. (Reis et al 1999). 2.9 Educação ambiental A educação ambiental surge da necessidade de despertar um senso de responsabilidade das comunidades diante da importância do meio ambiente. Portanto é um processo no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência deste e adquirem conhecimentos, valores, habilidades e experiências que os tornem aptos a agirem para resolver os problemas ambientais presentes e futuros. Neste sentido, as atividades desenvolvidas atuarão como ferramentas que para dar suporte às ações de restauração junto à comunidade. A mudança do comportamento social é um fator primordial para o sucesso em projetos ambientais. Porém, não existe mudança de comportamento quando a 27 mesma é imposta. Ela tem que partir do próprio homem, que precisa entender a necessidade da proteção daquele ambiente, do qual ele também faz parte. O objetivo da educação ambiental é a conservação da natureza por indivíduos conscientes do seu papel como agentes da história do planeta. Para isto, a educação ambiental deve ser capaz de extrapolar as relações comumente existentes de explorações que permeiam as relações entre os homens, e atingir uma compreensão que vai além dos valores normalmente conhecidos. No Brasil foi se configurando a necessidade de implementar a questão ambiental para as novas gerações em idade de formação de valores e atitudes, bem como para a população em geral e assim procurando atender estas novas necessidades, a Constituição Brasileira de 1988, traz no capítulo referente ao meio ambiente, a inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino (Guimarães 1995). A educação ambiental é vista como uma modalidade de educação, princípio pelo qual Brugger (1994) não compartilha, uma vez que o pressuposto desta idéia é a de que a educação tradicional não tem sido ambiental. O correto seria que a educação incorporasse o “ambiental”. Esta visão é compartilhada por Gonçalves (1990 apud Guimarães,1995) que conceitua da seguinte forma: “É um processo longo e contínuo de aprendizagem, de uma filosofia de trabalho participativo, em que todos, família, escola e comunidade, devam estar envolvidos”. Um bom projeto ambiental deve ser iniciado, antes de qualquer coisa, como comprometimento e a participação da comunidade local, que precisa entender a conservação daquele determinado ambiente como algo importante para a melhoria de sua própria qualidade de vida e para seu desenvolvimento. 28 É um processo lento, onde é preciso entender as necessidades da comunidade e suas relações com seu ambiente antes de propor mudanças. As decisões devem sempre ser tomadas em conjunto e as iniciativas devem partir da própria comunidade, que dentro deste contexto, é a maior interessada, pois os resultados influenciarão diretamente em suas vidas. Tudo que é construído a partir de bases sólidas tem mais chances de crescer e ser tornar permanente (Araujo, 2005). 29 3 OBJETIVOS 3.1 Geral Gerar uma proposta de recuperação de um trecho da Mata Ciliar do Rio Caeté, localizado no município de Urussanga, Santa Catarina. 3.2 Específicos: Neste sentido, com base no exposto, este trabalho teve como objetivos específicos: ? Resgatar a qualidade de vida para o Bairro da Estação, evitando as enchentes, que são freqüentes em épocas chuvosas, através da recuperação da Mata Ciliar do Rio Caeté ; ? Reduzir os processos de degradação do solo, principalmente a erosão com a implantação da mata ciliar; ? Conscientizar a população para o fato de que sua propriedade é um componente de uma unidade fisiográfica maior: a bacia hidrográfica, e que o mau uso do solo e/ou da água acarretará prejuízos para si próprio e para os demais; ? Aplicar um modelo de educação ambiental para ser desenvolvido junto à comunidade e nas escolas do município, almejando a conscientização a preservação da vegetação ciliar. 30 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Área de Estudo 4.1.1 Localização e dados gerais do município O município foi colonizado a partir de 1878, quando chegaram a Urussanga, vindos do norte da Itália, os primeiros colonizadores. Em 1885, foi elevada a Sede de Distrito de Paz e, em outubro de 1900, a categoria de Vila e município. O município de Urussanga, com área geográfica de 237,4 Km², está situado na região sul catarinense e integra Associação dos Municípios da Região Carbonífera (AMREC), que é composta por dez (10) municípios (Figura 1). Sua população perfaz um total de 18.727 habitantes, sendo que destes, 10.650 ficam sediados na área urbana e 8.077 na área rural. O município limita-se ao sul com Cocal do Sul, ao norte com Orleans, a leste com Pedras Grandes e a oeste com Siderópolis, Lauro Muller e Treviso. O município é composto por 35 comunidades rurais. No relevo predominam os terrenos de topografia acidentada, havendo 30% de terrenos planos e ondulados, a sua altitude na sede é de 49m acima do nível do mar. Atualmente o produto agrícola de maior destaque é o fumo, ocupando uma área de 897 hectares. Planta -se também milho ocupando uma área de 800 hectares, seguido do feijão com 603 hectares. Atualmente, encontram-se instaladas indústrias como: cerâmica, copos e embalagens plásticas, móveis de madeira, móveis em fórmica, esquadrias de alumínio, lacticínios, equipamentos agro-industriais e outras de menor porte. 31 Com a exploração do carvão, que se intensificou na década de 30, teve início a degradação que motivou o êxodo de muitos agricultores para outras regiões, e um grande movimento migratório da população litorânea para a zona de mineração. A área do presente estudo, localiza-se no Estado de Santa Catarina, na Região Sul, município de Urussanga, no Bairro da Estação (Figura 2). O trabalho foi realizado em alguns trechos do Rio Caeté, que é um afluente do Rio Urussanga, pertencendo à bacia do Rio Urussanga, o acesso é feito de quem vem de Florianópolis pela Rodovia BR 101 percorre-se cerca de 170 Km, chega à comunidade de Esplanada, município de Morro da Fumaça, aí toma-se a direita e entra na Rodovia SC 445, percorre-se cerca de 20 Km chegando a Sede do município de Urussanga, e ao Bairro da Estação (Santa Catarina, 1990). O Rio Caeté (Figura 3), por apresentar problemas cruciais em épocas chuvosas, e transbordamentos provocando enchentes nas regiões ribeirinhas, em meados de 2004 passou por um desassoreamento que consiste na sua limpeza, para melhorar as condições escoamento e evitar enchentes e desconfortos a população em geral. 32 Figura 1: Localização geográfica do município de Urussanga, entre os municípios da região carbonífera, representado pelo mapa AMREC, destacando-se o município de Urussanga (cinza), com as coordenadas latitude S (- 28º 31’) e longitude W (49º 19’). Fonte: www.mapainterativo.ciasc.gov.br. 33 Figura 2: Vista geral do Bairro da Estação, e do Rio Caeté, município de Urussanga, SC. Figura 3: Rio Caeté em 2004 antes do desassoreamento 34 4.1.2 Clima Segundo o sistema de classificação climática de Köppen, a área da Bacia está inserida numa região de clima subtropical úmido com verão quente do tipo Cfa. Este tipo climático predomina no litoral de Santa Catarina, tendo como parâmetros à temperatura média do mês mais frio abaixo de 18°C, temperatura média do mês mais quente acima de 22°C, sem caracterização de seca, ou seja, a precipitação do mês mais seco é superior a 60mm (Ometto 1981). A temperatura média anual na região é de 19,2°C, sendo fevereiro o mês mais quente e com temperatura média de 24,1°C, enquanto junho é o mês mais frio e com temperatura média de 14,6°C. O trimestre de dezembro-janeiro-fevereiro tem sido o mais quente do ano na região, com média das temperaturas máximas em torno de 30°C. A maior temperatura registrada foi de 41,7°C em dezembro de 1971, o que se constituiu em ocorrência extrema e anormal. O verão na região é um dos mais quentes do estado, em função de sua baixa altitude e de seu relevo acidentado, favorecendo uma boa amplitude térmica dia/noite e verão/inverno. A circulação geral da atmosfera favorece o predomínio de ventos de nordeste (NE) sobre a região sul do Brasil, ou seja, é acidentado, a direção dos ventos predominantes pode ser alterada, a exemplo da estação de Urussanga onde predominam ventos de sudeste (SE). A velocidade média dos ventos é de 11 Km/h, com maiores nos meses de agosto a dezembro. Por sua vez, os ventos mais fortes e que causam prejuízos materiais à região ocorrem com maior freqüência, meados da primavera e meados de o utono. 35 A precipitação média anual é de 1.623 mm, com chuvas bem distribuídas durante o ano, ocorrendo 34% no verão (dez-jan-fev), 22% no outono, 20% no inverno e 24% na primavera. O regime anual de precipitação enquadra-se no regime pluviométrico típico da faixa litorânea de Santa Catarina e Paraná, onde o máximo pluviométrico tem ocorrido no inverno ou no outono. Na bacia, o trimestre mais chuvoso é jan-fevmar e o menos chuvoso é abr-maio-jun. As frentes frias tem sido o principal sistema causador de chuvas durante o ano, mantendo inclusive as chuvas nos meses de inverno. No verão, as linhas de instabilidade vindas de oeste reforçam o índice pluviométrico. A umidade relativa do ar média anual é de 80%, com pouca variação durante os meses do ano, devido à influência do Oceano Atlântico (Santa Catarina 1995). 4.1.3 Geologia e Geomorfologia A Região de estudo pertence à unidade geomorfologia Depressão da Zona Carbonífera Catarinense; ocupando 1.659 Km² ou 1,73% da área do Estado de Santa Catarina. As principais cidades localizadas nesta unidade são: Orleans, Lauro Muller e Criciúma, (Santa Catarina 1986). Na área em questão, o relevo se mostra colinoso com vales encaixados, as vertentes são íngremes com espesso manto de intemperismo que favorece a ocorrência de processos de solifluxão e ocasionalmente movimentos de massa rápidos. Os vales são bastante escavados apresentando bases de 1.000 metros com relevo suave ondulados em superfícies côncavo -convexas. 36 A geologia corresponde ao sub-grupo Estrada Nova, sendo constituído pelas formações Irati, Serra Alta e Terezina, com contatos mal definidos por serem basicamente diferenças faciológicas. A formação Irati, que na base do sub-grupo, é uma excelente camada guia, por ser facilmente conhecida: são folhelhos pretos, pirobetuminosos (com cheiro de querozene), intercalados com níveis pouco espessos de calcários dolomíticos, impuros. A formação Serra Alta, é representada especialmente por folhelhos argilosos e siltitos cor cinza e a formação Terezina, por arenitos vermelhos bem estratificados, além de siltitos e folhelhos. 4.1.4 Solos Na Bacia do Rio Caeté em questão, a cobertura pedológica inclui solos Nitossolos, Cambissolos e argissolos. (EMBRAPA 1999) Na seqüência apresenta-se a descrição de solos ocorrentes na microbacia do Rio Caeté conforme EMBRAPA (1999): Nitossolos: Os nitossolos estão presentes na região de criciúma e também na microbacia estudada. São solos que anteriormente classificados como Podzólicos Vermelhos amarelos sem relação textural suficiente para serem classificados como Argissolos, mas com cerosidade em intensidade e quantidade que os caracterizam como Nitossolos. São solos constituídos por material mineral que apresentam horizonte B nítico, com argila de atividade baixa imediatamente abaixo do horizonte A, ou dentro dos primeiros 50 cm do horizonte B. Cambissolos: São solos constituídos por material mineral com horizonte B incipiente imediatamente abaixo do horizonte hístico com espessura inferior a 40 37 cm. Compreende solos minerais não hidromórficos, com drenagem variando de acentuada até imperfeita, horizonte A seguindo de B incipiente, de textura franco – arenosa ou mais fina. Os cambissolos são derivados dos mais diversos materiais de origem e encontrados sob condições climáticas variadas. A textura varia desde franco-arenosa até muito argilosa, sendo as texturas médias a argilosas mais encontradas. Os teores de silte são, em geral, relativamente elevados. A te xtura varia muito pouco ao longo do perfil, exceto em alguns solos derivados de sedimentos aluviais. Mesmo possuindo boas características físicas, tais como as relacionadas à porosidade, permeabilidade, drenagem e floculação das argilas, estes solos são susceptíveis à erosão, especialmente nas áreas de topografia acidentada. Cambissolos háplicos: que são os encontrados na região, quando corrigidos adequadamente também são aptos à agricultura, porém, requerem altas doses de corretivo devido aos elevados teores de alumínio trocável, com álicos com horizonte A húmico ou proeminente e argilosos ou muito argilosos, desvantajosos para as culturas anuais em grande escala, de ocorrerem em regiões de clima frio e úmido. Esses são de melhor proveito para pequenos cultivos de subsistência, fruticultura de clima temperado, pastagens e reflorestamentos. Argissolos: São solos constituídos por material mineral, apresentando horizonte B textural, com argila de atividade baixa, imediatamente abaixo de horizonte A ou E, satisfazendo o seguinte requisito: horizonte glei se presente, não está acima e nem coincidente com a parte superior do horizonte B textural. 4.1.5 Vegetação 38 A vegetação da região sul do Brasil tem uma longa história de pesquisas isoladas e localizadas, tanto em caráter florístico quanto fitofisionômico, destacandose o Estado de Santa Catarina pela grande intensidade de estudos florísticos (Leite e Klein 1990). Os primeiros e mais expressivos estudos realizados na vegetação catarinense foram os realizados por Veloso e Klein (1957, 1959, 1961, 1963, 1963, 1968a, 1968b apud Citadini-Zanette 1995 e Martins 2005). A área de estudo se enquadra dentro do ecossistema de Floresta Ombrófila Densa, apresentando duas formações distintas de acordo com a altitude de ocorrência: Formação submontana (entre 30 e 400 m acima do nível do mar) e Montana (entre 400 e 800 m) (IBGE 1992). Esta floresta está situada na parte leste do Estado de Santa Catarina, entre o planalto e o oceano, constituída na maior parte, por árvores perenefoliadas de 20 a 30 metros de altura, com brotos foliares sem proteção à seca. Sua área é formada por planícies litorâneas, e principalmente por encostas íngremes da Serra do Mar e da Serra Geral formando vales profundos e estreitos (Santa Catarina 1986). O estrato arbóreo superior é bastante denso, formado por árvores de 20 a 30 metros de altura, com copas largas e folhagem verde-escura perenefoliada. Como espécies mais importantes ocorrem comumente: a canela-preta (Ocotea catharinensis), que é a mais freqüente, constituindo de 40 a 50 % da biomassa total; a canela sassafrás (Ocotea pretiosa), abundante nas altitudes de 500 a 900 metros, e que forma, por vezes, gregarismos muito expressivos; a perobavermelha (Aspidosperma olivaceum ), a canela-fogo (Cryptocarya aschersoniana) e o óleo ou pau-óleo (Copaifera trapezifolia) destacam-se entre as madeira de lei, o 39 tapiá-guaçu (Alchornea triplinervia), a laranjeira-do-mato (Sloanea guianensis), a bicuíba (Virola oleifera), o baguaçu (Talauma ovata) e o aguaí (Chrysophyllum viride), também são consideradas madeira de qualidade. Além dessas, há uma dezena de Mirtáceas também altas e de copas bem desenvolvidas, porém de pouco valor, a não ser para lenha e carvão (Sevegnani 2002). O estrato médio é constituído geralmente, por um número relativamente pequeno de árvores medianas, dentre as quais se destaca o palmiteiro (Euterpe edulis) que domina praticamente toda a região. Este é acompanhado por espécies de Mirtáceas, Rubiáceas e outras famílias menos importantes. No sub-bosque aparecem espécies com hábitos arbustivos, destacandose: Rubiáceas, Palmáceas e Monimiáceas que formam, por vezes, densos gragarismos. Segundo Klein (1980), não só as árvores e arbustos densificam esta formação. Leite e Klein (1990) e Sevegnani (2002) ressaltam que a particularidade desta floresta está no elevado epifitismo, constituindo importante aspecto fisionômico na formação, destacando-se espécies de Bromeliaceae, Orchidaceae, Araceae, Piperaceae, Cactaceae e Gesneriaceae, além de numerosas espécies de samambaias e musgos. A contaminação biológica está se expandindo pela introdução e adaptação de espécies exóticas que se naturalizam, modificando os ecossistemas naturais. Essas espécies alteram a fisionomia e a função dos ecossistemas naturais, podendo levar ao declínio populações de plantas nativas, diminuindo a variabilidade genética e comprometendo a resiliência da área (Ziller 2001; Bechara 2003). Atualmente, grande parte da Floresta Ombrófila Densa encontra-se intensamente explorada pela retirada das madeiras de Lei ou completamente 40 devastada para ceder lugar à agricultura ou às pastagens “naturalizadas”. Em virtude de, em grande parte, se encontra em terrenos bastante dissecados e de difícil acesso, existem ainda áreas consideráveis com floresta original que deveria ser preservada a todo custo (Santa Catarina 1986). 4.1.6 Hidrografia O Município de Urussanga é banhado pelo rio Urussanga, tendo como principais afluentes: Rio Maior, Rio Carvão, Rio Deserto, Rio Caeté, Rio Barro Vermelho. A disponibilidade de água em Urussanga é relativamente boa entre os meses de março e setembro e levemente deficitária entre os meses de outubro e fevereiro. Quanto à qualidade das águas, o Rio Urussanga e vários de seus afluentes apresentam uma das piores situações do Estado. A concentração de empresas mineradoras contribui decisivamente para a poluição generalizada. Observa-se a ocorrência de degradação das águas desde a nascente (cabeceira) até a foz. Face a isto, as águas de Urussanga, em sua grande maioria, caracterizamse como impróprias para o consumo humano, apresentando também restrições para outras atividades, incluindo irrigação. Um programa intensivo de conservação dos recursos hídricos é da maior importância para garantir o abastecimento para o consumo humano e para a irrigação, prática muito importante para a garantia da produção agrícola. 4.2 Metodologia 41 4.2.1 Seleção das espécies As espécies foram selecionadas, conforme as recomendações propostas por Citadini–Zanette (1995), agrupando-se as espécies em categorias sucessionais. As categorias sucessionais das populações como estratégias de regeneração e ocupação de espaços na floresta estudada, são discutidas com base nos critérios estabelecidos por Budowski (1965 1970). As espécies seguem as categorias sucessionais (grupos ecológicos) segundo Budowski (1965, 1970), que identifica quatro grupos de espécies arbóreas: Pioneiras, Secundárias Iniciais, Secundárias Tardias e Climácicas (Tabela1). Optou-se pelo agrupamento das categorias secundárias tardias e clímácicas em uma única categoria, secundária tardia, por estes dois grupos apresentarem características muito próximas (Gandolfi 1991) e por não haver, na maioria das vezes informações disponíveis na bibliografia regional sobre a história de vida das espécies. A regeneração por plantio de mudas é o método mais comum de reflorestamento no Brasil. As principais vantagens do plantio de mudas são: principalmente, a garantia da densidade de plantio, pela alta sobrevivência, e do espaçamento regular obtido, facilitando os tratos silviculturais. Portanto é de fundamental importância garantir a qualidade da muda utilizada, para não haver altas taxas de mortalidade e também para não comprometer o custo de implantação do projeto. Tabela 1: Características das espécies pertencentes aos grupos ecológicos: Pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias e climácicas, segundo Budowski (1965, 1970). Característica Pioneira Crescimento Muito rápido Tolerância à sombra Muito intolerante Grupo ecológico Secundária Inicial Secundária Tardia Clímax Rápido Médio Lento ou muito lento Intolerante Tolerante no estágio Tolerante inicial 42 Tamanho das sementes e frutos dispersados Agentes dispersores Viabilidade das sementes Regeneração Pequeno Pequeno Pequeno a médio, Grande mas sempre leve Aves, Vento, aves e Vento morcegos e morcegos principalmente vento Longa Longa (latentes no Curta a média (latentes no solo) solo) Muito Praticamente Ausente ou escasso ausente abundante com grande mortalidade nos primeiros anos Baixa Alta Alta Dependência de polinizadores específicos Tempo de vida Muito curto Curto (10 a 25) (anos) (até 10) Fonte: Martins (2005) Longo (25 a 100) Gravidade, mamíferos, roedores e aves Curta Razoavelmente abundante Alta Muito longo (maior que 100) 4.2.2 Recomendações para plantio O preparo do solo visa prioritariamente melhorar as condições físicas do solo, reduzir as plantas daninhas e facilitar o plantio. O preparo pode melhorar a fertilidade do solo (aumentar a taxa de mineralização da matéria orgânica), melhorar a capacidade de retenção de água, romper camadas impermeáveis, reduzir a densidade e resistência à penetração de raízes, aumentar a aeração, dentre outros benefícios. O ideal é que o preparo do solo seja feito antes do início da estação chuvosa, para que o plantio aconteça juntamente com as primeiras chuvas, aumentando as chances de sobrevivência das mudas e proporcionar um maior ritmo de crescimento inicial. Regra geral, as margens dos rios são áreas de difícil mecanização, com topografia irregular e solo excessivamente úmido, além de muito sujeita a erosão quando inclinadas. A limpeza da área a ser plantada deve , portanto, restringir-se a 43 uma roçada para eliminação das ervas daninhas, evitando-se assim o revolvimento do solo e a erosão subseqüente. (D urigan e Nogueira 1990). Recomenda-se que as mudas sejam transplantadas a campo quando tiverem uma altura de 20 a 45 cm; dependendo da espécie. De acordo com IEF (1994 apud Ferreira e Dias 2004), a maneira mais prática de dispor as mudas no campo é alterando uma linha de espécies pioneiras com outra espécie secundárias e clímax (Figura 4). O espaçamento sugerido por Ferreira e Dias (2004), é que as covas de plantio, tenham 3 metros entre plantas e 3 metros entre linhas, com as espécies clímax no centro, distribuindo-se as pioneiras e as secundárias nas laterais. Da mesma forma, recomenda-se que as mudas destinadas ao plantio sigam a seguinte proporção: 50% de pioneiras, 30% de secundárias iniciais, 10% de secundárias tardias e 10% de espécies clímax. Assim para cada há implantado serão necessárias 1.113 mudas, e para a área a ser recuperada, considerando-se uma margem de 30% de replantio, serão necessárias 82.830 mudas, que, de acordo com a proporção sugerida, poderão ser assim distribuídas: 41.415 mudas de espécies pioneiras, 24.849 mudas de secundárias iniciais, 8.283 mudas de secundárias tardias e 8.283 mudas de espécies clímax. A adubação de plantios florestais mistos é bastante complexa em função da grande variedade de solos, de espécies florestais e condições climáticas, além da grande carência de informações a cerca das exigências nutricionais das espécies nativas (Botelho et al. 2001). Em geral, os solos utilizados na recomposição das matas ciliares, com algumas exceções, são de fertilidade natural baixa. A adubação apresenta maiores respostas quando realizado nos solos de baixa fertilidade, solos pouco permeáveis e 44 em relevo plano ou suave ondulado, onde a perda de nutrientes por lixiviação ou erosão é menor (Botelho et al. 2001). Segundo estes autores as espécies dos estágios sucessionais iniciais tendem a apresentar maior capacidade de absorção, em função de seu potencial de crescimento e síntese de biomassa, apresentando-se mais responsivas a aplicação de NPK e conseqüente melhoria da fertilidade do solo. As mudas deverão ser plantadas com o solo apresentando bom teor de umidade, devendo ser observado a boa formação radicular. O colo da muda deverá ficar no mesmo nível da superfície do solo. É recomendada ainda a formação de uma pequena depressão ao redor da muda para captar água da chuva e facilitar sua infiltração na zona radicular. Se houver necessidade de replantio, o mesmo deverá ocorrer de 45 a 50 dias após plantio. Cada muda deverá ser tutorada com uma estaca com cerca de 1.20m de altura e secção transversal mínima de 3.0 x 4 .0 cm. Vale ressaltar que, tanto o material (solo) a ser escavado e/ou retirado, encontra-se inúmeras espécies de propágulos, tais como: sementes, rizomas, bulbilhos, bulbos e raízes. Esses propágulos irão facilitar o rápido restabelecimento da cobertura inicial, minimizando os efeitos erosivos e favorecendo o surgimento de outras espécies. 45 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Espécies Selecionadas Na proposição de modelos de recomposição utilizando-se diferentes grupos de espécies simulando a sucessão natural, para Kageyama et al. (1986) e Barbosa et al. (1989), é necessário o conhecimento das espécies quanto: a) a classificação das espécies nos diferentes estádios de sucessão natural; b) ao conhecimento do ciclo de vida (principalmente longevidade total); c) a biologia reprodutiva (fenologia, polinização, dispersão, germinação); d) ao ritmo de crescimento de cada espécie; e) a disponibilidade de sementes de espécies regionais; f) a técnica de manuseio das sementes e de mudas (que precisam ser de fácil reprodução para tornar o processo menos oneroso). A regeneração por plantio de mudas é o método mais comum de reflorestamento no Brasil. As principais vantagens do plantio pela alta sobrevivência, e do espaçamento regular obtido, facilitando os tratos silviculturais. Portanto é de fundamental importância garantir a qualidade da muda utilizada, para não haver altas taxas de mortalidade e também para não comprometer o custo de implantação do projeto. De acordo com Citadini-Zanette (1995), as espécies florestais a serem plantadas em cada local devem ser aquelas que ocorrem naturalmente em condições de clima, solo, e umidade semelhantes as da área a reflorestar. Assim, a recomendação de espécies com base em levantamentos florísticos e fitossociológicos de remanescentes da região e a posterior combinação com grupos de sucessão constituem o procedimento mais indicado para a recuperação de matas ciliares. 46 Como o rio Caeté, não ocorrem enxarcamentos laterais (exceto quando ocorrem enchentes), pode-se utilizar no reflorestamento as espécies que predominam nas formações florestais secundárias adjacentes, localizadas em terrenos bem drenados (Tabela 2). Tabela 2: Espécies recomendadas para plantio nas margens de rios encaixados, sem lençol freático na superfície e raramente sujeitas à inundações, na microbacia do rio Novo, Orleans, SC. Categorias Sucessionais PIONEIRAS Espécies Recomendadas Cecropia glaziovii * Sneth. Miconia cabucu * Hoehne Piptocarpha angustifolia Dusén. Trema micrantha *(L.) Blume Solanum inaequale Vell. SECUNDÁRIAS INICIAIS Bambusa tagoara Nees Guapira opposita (Vell.) Reitz SECUNDÁRIAS Gymnanthes concolor Spreng. TARDIAS/ Eugenia pruinosa Legr. CLIMÁCICAS Aspidosperma parvifolium A. DC. Sugestões Clethra scabra Pers Jacaranda micrantha Cham. Mimosa scabrella Benth. Piptadenia gonoacantha *(Mart.) Macbr. Vernonia discolor (Spreng.) Less. Aiouea saligna Meisn. Aegiphyla sellowiana Cham. Alchornea glandulosa Endl. & Inga sessilis (Vell.) Mart. Poepp. Posoqueria latifólia (Rudge) Roem. & Alchornea triplinervia *(Spreng.) Schult. Müll. Arg. Garcinia gardneriana (Planch. & Casearia syvestris Sw. Triana) Zappi Hieronyma alchorneoides Fr. Allem. Ilex paraguariensis St. -Hil Inga semialata(Vell.) Mart. Inga striata Benth. Myrcia fallax (Rich) DC. Pithecelobium langsdorffii Benth. Myrsine acuminata Royle Myrsine umbellata Mart. Eugenia handroana Legr. Cedrela fissilis Vell. Chrysophyllum viride Mart. & Eichl. ex Miq. Euterpe edulis Mart. Gomidesia anarcadiifolia (Gardner.) O. Berg Gomidesia tijucensis (Kiaersk.) Legr. Duguetia lanceolata A.St.-Hil. Endlicheria paniculata (Spreng.) J. F. Guarea macrophylla Vahl Macbr. Esenbeckia grandiflora Mart. Hirtella hebeclada Moric. ex DC. Faramea montevidensis (Cham. & Marlierea silvatica Kiaersk Schltdl.) DC. Cabralea canjerana (Vell.) Mart. Matayba guianensis Aubl. Calyptranthes grandifolia Berg Meliosma sellowii Urban Mollinedia schottiana (Spreng.) Calyptranthes lucida Mart. ex DC. Perkins Copaifera trapezifolia Hayne Ocotea odorífera (Vell.) Rohwer Plinia trunciflora(Berg) Kausel Psidium cattleyanum Sabine Virola bicuhyba (Shott) Warb. *demonstram sensibilidade a geadas. Fonte: Citadini-Zanette (1995) 47 5.2 Cronograma de plantio e atributos ecológicos das espécies Recomenda-se para primeira etapa, o plantio de espécies pioneiras. Dentre as quais destaca-se: Cecropia glaziovii (embaúba), Miconia cabucu (pixiricão), Trema micrantha (grandiúva) porque seus principais atributos ecológicos são o pólen, frutos para alimentação da fauna, Piptocarpha angustifolia (vassourão branco) importante, pois produz anualmente grande quantidade de sementes e facilmente disseminadas pelo vento; Solanum inaequale (canema), seus frutos servem para alimentação da fauna (morcegos); Clethra scabra Pers. Pólen e néctar; Jacaranda micrantha (caroba), Mimosa scabrella (bracatinga), Vernonia discolor (vassourão – preto) produzem anualmente grande quantidade de sementes viáveis, facilmente disseminadas pelo vento; Piptadenia gonoacantha (pau - jacaré) vegeta indistintamente em solos férteis e pobres, e de rápido crescimento (Citadini-Zanete 1995). Na segunda etapa (6 meses após a primeira etapa), o plantio de espécies secundárias iniciais dentre as quais recomenda-se: Bambusa tagoara (taquaruçu), importante pois seu sistema radicular é eficiente para fixação das margen de rios; Guapira opposita (maria-mole), seus frutos servem de alimentação a fauna (pássaros) facilitando sua disseminação; Inga sessilis (ingá-macaco), importante pois seus frutos serem de alimentação para mamíferos e peixes; Posoqueria latifolia (baga-de-macaco); Aiouea saligna (canela-anhoaíba); Aegiphila sellowiana (gaioleiro) seus frutos servem para a alimentação da fauna; Alchornea glandulosa (tanheiro), seu néctar, frutos alimentam a fauna (pássaros); Alchoenea triplinervia (tanheiro), pólen, néctar, folhas e frutos servem de alimentação da fauna (folhas são procuradas por bugios e frutos por pássaros e pelos morcegos carvoeiros); Casearia sylvestris (chá-de-bugre), pólen, néctar e frutos servem de alimentação da fauna 48 (pássaros); Hieronyma alchorneoides (licurana), Ilex paraguariensis (erva-mate), seus frutos alimentam a fauna; Inga semialata (ingá-feijão) frutos alimentam a fauna (mamíferos e peixes) e importante para nitrogenação do solo; Inga striata (ingábanana), frutos alimentam a fauna e faz a nitrogenação do solo; Myrcia richardiana (guamirim-araçá), Myrsine acuminata (capororocão) seus frutos são importantes para alimentação da fauna; Pithecellobium langsdorffii (pau-gambá), faz a nitrogenação do solo; Myrsine umbelata (capororocão) pólen, frutos servem de alimentação da fauna (pássaros). Na terceira etapa (6 meses após a segunda etapa), recomenda-se o plantio de espécies secundárias tardias juntamente com as espécies clímax, dentre as quais destaca-se: Gymnanthes concolor (laranjeira do mato) importante pelo néctar; Aspidosperma parvifolium (guatambu) néctar, produz anualmente grande quantidade de sementes viáveis disseminadas pelo vento; Cabralea canjerana (canjerana), pólen, néctar, sementes para alimentação da fauna (pássaros); Calyptranthes grandifolia (guamirim-chorão), Calyptranthes lucida (guamirim-ferro), Duguetia lanceolata (pindabuna), Endlicheria paniculata (canela-frade), Esenbeckia grandiflora (cutia-amarela), Eugenia handroana (guamirim), Eugenia pruinosa (mamona), Faramea montevidensis (pimenteira-selvagem), Gomidesia anacardiifolia (rapa-guela), Gomidesia tijucensis (ingabaçú), Chrysophyllum viride (aguaí), Ocotea odorifera (sassafrás) os frutos servem para alimentação da fauna; Copaifera trapezifolia (pau-óleo), néctar, frutos para alimentação da fauna (aves e pequenos mamíferos); Euterpe edulis (palmiteiro), pólen, néctar, frutos e folhas para alimentação de numerosa fauna; Garcinia gardneriana (bacopari), pólen, néctar, frutos para alimentação da fauna (animais de maior porte); Guarea macrophylla (pau-d’arco), Heisteria silvianii (casca-de-tatu), Hirtella hebeclada (cinzeiro), frutos 49 para alimentação da fauna (pássaros); Marlierea silvatica (araçazeiro), Matayba guianensis (camboatá), néctar, frutos servem de alimentação para fauna (pássaros), Meliosma sellowii (pau-fernandes) pólen, frutos alimentação para fauna (roedores); Mollinedia schottiana (pimenteira), Cedrela fissilis (cedro) pólen, néctar, frutos para alimentação da fauna; Plinia trunciflora (jaboticabeira) pólen e frutos servem para alimentação da fauna (diversos animais); Psidium cattleyanum (araçá), pólen, néctar, frutos servem para alimentação da fauna (diversos animais) e Virola bicuhyba (bicuíba), folhas e sementes servem de alimento da fauna de maior porte. Recomenda-se estas espécies por serem de fácil manejo e de fácil adaptação às condições locais, segundo os estudos feitos por Citadini-Zanete (1995). O plantio das espécies vai obedecer os espaçamentos podendo variar 2,0m x 2,0m a 2,5m x 2,5 m para todas as espécies e distribuídas de acordo com a Figura 4. SI P C P C P ST SI P P P SI P ST P P C C C P P P P SI ST SI ST P P P P C C C C P P P P SI ST SI ST P P P P C C C C P P P P SI P C P P Figura 4: detalhe da disposição das categorias sucessionais das espécies a serem utilizadas na recuperação da Mata Ciliar do rio Caeté, Urussanga, SC, Onde P é 50 planta pioneira, SI é planta secundária inicial, ST é planta secundária tardia e C é planta clímax. Em função da variação das respostas e considerando o custo operacional a recomendação de adubação é feita para todo o conjunto de espécies. Com base na análise da fertilidade do solo é feita à recomendação, que de modo geral consiste na aplicação de superfosfato simples (100 – 200 gramas/ cova), com posterior adubação de cobertura com N e K, ou aplicação de uma formulação de NPK (100150 gramas/cova de 8-28-16 ou 100-200 gramas de 4-14-8). Outras recomendações mais específicas como calagem, gesso, micronutrientes dependem de uma avaliação criteriosa. Para o estabelecimento das plantas recomenda-se, um melhor acondicionamento da cova, através de fertilizante químico e orgânico. Esse acondicionamento favorecerá o desenvolvimento rápido das espécies. As covas deverão receber uma mistura de 2 kg de esterco de aves, 1 kg de calcário e 200 g do adubo 10-20-10. 5.3 Manutenção e monitoramento As operações de manutenção compreendem operações após o plantio das mudas, como capina, roçada, adubação de cobertura e combate a formiga, se estendendo pelo tempo que for necessário, geralmente até o segundo ano. As espécies nativas tem um desenvolvimento inicial lento. Por esta razão é indispensável um manejo adequado das plantas na sua implantação e na sua condução. O controle da vegetação indesejada promove um melhor crescimento e desenvolvimento das mudas plantadas, mas vale ressaltar que, em certas situações, como em áreas degradadas e/ ou muito íngremes a vegetação, herbácea, sobretudo 51 as gramíneas, pode ser uma forte aliada nos esforços de redução dos processo erosivos, ao proporcionar uma e eficiente cobertura do solo (Botelho et al 2001). O controle de formigas deve ser feito através de vistorias inicialmente a cada dois ou três dias, e sempre após a cada chuva. As vistorias podem ser espaçadas à medida que as formigas vão sendo eliminadas. O combate poderá ser feito através de porta iscas, que são recipientes nos quais as iscas formicidas são depositadas para serem percebidas e carregadas pelas formigas. Nos formigueiros de “monte” encontrados, aplicar, direto no ninho, inseticida, gasolina ou óleo diesel. Aplicar o produto e recobrir com a enxada (Santa Catarina 2004) O coroamento das mudas deve ser mantido até que as próprias plantas controlem os inços por sombreamento. A vegetação entre as plantas do cultivo deve ser controlada por roçadas, mantendo sua altura sempre inferior à altura das plantas cultivadas. Vistoriar a área plantada e marcar com estacas os locais a serem replantados e, proceder o replantio assim que as condições forem favoráveis. (Santa Catarina 2004). 5.4 Atividades a serem desenvolvidas no programa de educação ambiental. É importante considerar que esta proposta envolve a atuação em propriedades privadas e o seu sucesso depende da adesão dos proprietários rurais e da comunidade local. Portanto, a elaboração e utilização de programas educativos que possibilitem o engajamento da comunidade urbana local são essenciais para que o programa de recuperação tenha sucesso. 52 O conhecimento prévio da percepção da comunidade sobre os valores dos bens da natureza e seu impacto na sua própria vida e dos demais moradores da região é a chave para a elaboração das propostas para ações que visam obter o compromisso dos moradores locais na condução dos projetos de recomposição das matas ciliares. Através deste conhecimento será possível elaborar planos de educação ambiental, através de ações nas escolas, palestras, dias de campo, dentre outras ferramentas. Um dos fatores mais complexos a serem abordados é a adesão do dono da terra. Por força da legislação é possível aplicar punições que obrigam o proprietário a realizar os trabalhos de recuperação. Os programas educativos que serão desenvolvidos são: ? Palestras com APP, professores, e escolares sobre o tema: A importância da Mata Ciliar. ? Dia de campo com os escolares: mutirão para plantio de mudas em datas comemorativas como: dia do meio ambiente, dia da água, dia da árvore e outras. 53 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS As matas denominadas ciliares, quando preservadas pelo homem, possuem basicamente cinco funções: servir de abrigo para inúmeras espécies, fornecer alimento à fauna, proteger os cursos d’água, evitar erosões nos solos e preservar a biodiversidade, pois não há floresta sem água, nem água sem floresta. A mata ciliar, cuja função é dar proteção aos rios, nascentes, corpos d’água, lagos e lagoas, é assim chamada devido à semelhança com os cílios que temos nos olhos. No Brasil ainda persiste o desrespeito ao meio ambiente, principalmente em relação à flora que é devastada pelas queimadas, pelo corte seletivo de árvores, pela expansão das fronteiras agropecuárias. Por isso impõem-se algumas ações prioritárias, com uma legislação que proteja a mata ciliar com o objetivo de conter a exploração indiscriminada das florestas e demais formas de vegetação. È necessário que as autoridades responsáveis pela conservação ambiental adotem uma postura rígida no sentido de preservarem as florestas ciliares que ainda restam, e que os produtores rurais e a população em geral sejam conscientizados sobre a importância da conservação desta vegetação. Além das técnicas de recuperação propostas neste trabalho, é fundamental a intensificação de ações na área da educação ambiental, visando conscientizar tanto as crianças quanto os adultos sobre os benefícios da conservação das áreas ciliares. 54 7 REFERÊNCIAS AB'SABER, A. Contribuição à geomorfologia da área dos cerrados. In: FERRI, M.G. (coord.). Simpósio sobre o cerrado. reimpr. São Paulo: Edgard. Blucher/USP. 1971, p.97-103. AB’ SABER, A. N. O suporte geoecológico das florestas beiradeiras (ciliares). 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