UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ TÂNIA REGINA DE OLIVEIRA ROS A OBTENÇÃO DE DERIVADOS ANFIFÍLICOS DA OCARBOXIMETILQUITOSANA E APLICAÇÃO NO AUMENTO DA SOLUBILIDADE DE FÁRMACO POUCO SOLÚVEL Itajaí-2008 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ PROGRAMA DE MESTRADO ACADÊMICO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM PRODUTOS NATURAIS E SUBSTÂNCIAS SINTÉTICAS BIOATIVAS TÂNIA REGINA DE OLIVEIRA ROSA OBTENÇÃO DE DERIVADOS ANFIFÍLICOS DA OCARBOXIMETILQUITOSANA E APLICAÇÃO NO AUMENTO DA SOLUBILIDADE DE FÁRMACO POUCO SOLÚVEL Dissertação submetida à Universidade do Vale do Itajaí como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Orientador: Prof. Dr. Clóvis Antonio Rodrigues Itajaí, Junho de 2008 OBTENÇÃO DE DERIVADOS ANFIFÍLICOS DA OCARBOXIMETILQUITOSANA E APLICAÇÃO NO AUMENTO DA SOLUBILIDADE DE FÁRMACO POUCO SOLÚVEL TÂNIA REGINA DE OLIVEIRA ROSA Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Ciências Farmacêuticas, Área de Concentração Produtos Naturais e Substâncias Bioativas e aprovada em sua forma final pelo Programa de Mestrado em Ciências Farmacêuticas da Universidade do Vale do Itajaí. ____________________________________ Clóvis Antonio Rodrigues, Doutor Orientador _____________________________________________ Tânia Mari Bellé Bresolin, Doutora Coordenadora do Programa Mestrado em Ciências Farmacêuticas Apresentado perante a Banca Examinadora composta pelos Professores: ______________________________________ Doutor Clóvis Antonio Rodrigues (Univali) – Presidente ______________________________________ Doutora Ruth Meri Lucinda da Silva (Univali) – Membro Interno ______________________________________ Doutor Clodoaldo Machado (Furb) – Membro Externo Itajaí (SC), junho de 2008 AGRADECIMENTOS À DEUS que é fonte de Luz, inspiração, sabedoria, amor e proteção em todos os momentos da minha vida, por ter me guiado por este longo caminho. Ao meu orientador Professor Dr. Clóvis Antonio Rodrigues pela confiança, disposição e paciência. Você sempre será um exemplo de profissional para mim. É realmente uma honra tê-lo como meu orientador. E tenho certeza que você representa o pai científico de muitos. Ao meu marido Rafael, pelo incentivo, carinho, paciência e apoio durante essa longa etapa. Você foi o porto seguro que nos momentos das grandes tormentas eu pude contar. Você realmente é o grande amor da minha vida. Aos meus filhos Caroline e Fabiano pela compreensão, amizade, apoio e companheirismo nos momentos difíceis. Tenho um orgulho enorme de vocês. Aos meus pais queridos que sempre me ensinaram que acreditar é necessário e definitivo para a nossa felicidade, e que ética e bondade nunca sairão de moda. A minha irmã Juliana, que além de irmã tornou-se uma grande amiga nas difíceis etapas desta conquista. A minha grande família que fizeram o difícil papel de ouvir, apoiar, incentivar. As amigas Francieli, Nadir, Silvana, Taline, Fernanda e Maria Cláudia que estiveram ao meu lado durante a realização deste trabalho, dando-me força e coragem para finalizá-lo. A amiga de bancada e de congressos Aline, uma jovem genial. Aos colegas do Laboratório de Instrumentação Analítica pelo carinho, amizade, especialmente o funcionário Pedro, que realmente é brilhante. Aos colegas do LAPAM, especialmente Roberta e Eliziane pelo apoio, paciência e amizade. Ao departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Paraná, pelo apoio na realização dos testes de tensão superficial. Aos membros da banca interna Profa. Dra. Ruth Meri Lucinda da Silva e Profa. Dra. Tânia Mari Bellé Bresolin, pelo indispensável apoio e total disponibilidade no sentido de sempre colaborar. Ao professor Dr. Roberto Dalla Vecchia, exemplo de dedicação, pelo grande apoio e colaboração em várias fases deste trabalho. Ao professor Dr. Rilton Alves de Freitas, modelo de determinação e pelo brilhantismo de suas conclusões que foram muito úteis neste trabalho. Aos professores e doutores do Programa de Mestrado: Niero, Angélica, Ângela, Marina, César, que provaram ser muito mais que professores. As amigas Rosélia e Vânia do PMCF pelo grande apoio e total disponibilidade. Ao Leopoldo, meu cão, pelo seu silêncio companheiro e olhar acolhedor nas horas de conflito. A todos os animais, de qualquer reino ou espécie, tamanho ou idade, que infelizmente são torturados em pesquisas sem sentido. Deixo aqui minha profunda compaixão e a sincera indignação pelo descaso como são tratados pela Ciência. Em todos os lugares por onde passei na elaboração do meu trabalho, várias pessoas colaboraram prontamente. Portanto, quero expressar minha gratidão a todos que de uma forma ou de outra contribuíram para o cumprimento de meu objetivo. ! " OBTENÇÃO DE DERIVADOS ANFIFÍLICOS DA OCARBOXIMETILQUITOSANA E APLICAÇÃO NO AUMENTO DA SOLUBILIDADE DE FÁRMACO POUCO SOLÚVEL TÂNIA REGINA DE OLIVEIRA ROSA Junho /2008 Orientador: Clóvis Antonio Rodrigues, Dr. Área de Concentração: Produtos Naturais e Substâncias Bioativas. Número de Páginas: 124. Atualmente, os polímeros estão entre os excipientes mais utilizados em diversos sistemas terapêuticos devido a suas aplicações e biocompatibilidade. A quitosana (poli- -(1-4)D-glucosamina) é um derivado hidrolisado da quitina, de fácil obtenção, com muitas aplicações industriais na área de biomateriais, alimentos, cosméticos e medicamentos. Neste estudo, a O-carboximetilquitosana (O-CMQS) foi hidrofobicamente modificada com benzaldeído, formando um derivado anfifílico de quitosana: O-carboximetilquitosana-N-benzeno (O-CMQSB). Os derivados anfifílicos sintetizados foram utilizados para aumentar a solubilidade do fármaco modelo, a triancinolona (TC). A estrutura dos derivados foi examinada por espectroscopia no Ultravioleta, Infravermelho e Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio. O grau de substituição da O-CMQS foi determinado por métodos de condutimetria e potenciometria e a viscosidade intrínseca foi avaliada. Foi examinada a solubilidade em água dos derivados sintetizados, verificando-se, ainda, sua citotoxidade in vitro. Testes para determinar a incorporação e a liberação da triancinolona foram realizados. A tensão de superfície da O-CMQS e O-CMQSB foi medida em concentrações diversas com um tensiômetro. O grau de carboximetilação ficou dentro do que é relatado pela literatura. A reação de formação de base de Shiff foi utilizada para preparar os derivados, sendo que o grau de substituição dos derivados variou entre 8 e 110 % dependendo da quantidade de benzaldeído utilizada. Os valores da viscosidade intrínseca da O-CMCS e dos derivados benzilados diminuíram com o aumento da concentração de NaCl, indicando que os polímeros obtidos se comportam como polieletrólitos. Todos os derivados obtidos são solúveis em quase toda a faixa de pH. A O-CMQS e os derivados anfifílicos apresentaram características tensoativas e baixa toxicidade que permitem o seu emprego na dissolução de fármacos. Os derivados anfifílicos O-CMQSB G, O-CMQSB F aumentaram a solubilidade da TC em 5,5 e 3,5 vezes, respectivamente, quando comparados com a solubilidade em água. Provavelmente, o fármaco interage com a parte hidrofóbica do polímero quando o derivado anfifílico está disperso em água, uma vez que não foi observada forte interação entre o polímero e a TC. Palavras-chave: Quitosana; O-carboximetilquitosana; Triancinolona; Anfifílico; Fármaco pouco solúvel. Tensão Superficial; OBTAINING AMPHIPHILIC DERIVATIVES FROM O-CARBOXYMETHYLCHITOSAN AND THEIR APPLICATION FOR INCREASING SOLUBILITY OF A LOW SOLUBILITY DRUG TÂNIA REGINA DE OLIVEIRA ROSA June 2008 Supervisor: Clóvis Antonio Rodrigues, Dr. Area of Concentration: National Products and Bioactive Substances. Number of Pages: 124. Nowadays, polymers are among the most commonly used excipients in various therapeutic systems, due to their applications and biocompatibility. Chitosan (poly-B-(1-4)D-glucosamine) is a hydrolyzed derivative of chitin, which is easily obtained and has many industrial applications in the fields of biomaterials, foods, cosmetics and drugs. In this study, O-carboxymethylchitosan (O-CMQS) was hydrophobically modified by benzaldehyde, to form an amphiphilic chitosan derivative: O-carboxymethylchitosan-N-benzene (O-CMQSB) The synthetized amphiphilic derivatives were used to increase solubility of the model drug, triamcinolone. The structure of the derivatives was examined by Ultraviolet, Infrared and 1H NMR spectroscopy. The substitution degree of O-CMQS was evaluated by conductimetry and potentiometry, and the intrinsic viscosity of the derivative was evaluated. The water solubility and the citotoxicity in vitro of the derivatives were tested and evaluated. Tests were carried out to determine the loading and release of the triamcinolone. The surface tension of the O-CMQS and O-CMQSB was measured in various concentrations, with a tensionmeter. The degree of carboximetylation was as described in literature. The reaction of formation of the Schiff base was used to prepare the derivatives, and the degree of substitution of those derivatives varied between 8 and 110% depending on the amount of benzaldehyde used. The values of the intrinsic viscosity of O-CMCS and Nbenzylated derivatives decreased with the increase of NaCl concentration, indicating that the polymers behave like polyeletrolytes. Every derivative synthesized showed good solubility in almost all the pH range. O-CMQS and the amphiphilic derivatives showed tensoactive characteristics and low toxicity, which enables it to be used as a dissolution drug. The amphiphilic derivatives O-CMQSB G, O-CMQSB F can increase the solubilization of TC by 5.5 and 3.5 times, when compared with solubility in water. The drug seems to be dissolved in the hydrophobic part of the polymer when the amphiphilic derivative is dissolved in water, since no strong interaction between the polymer and the TC was observed. Key words: Chitosan; O-carboximethylchitosan; Surface Tension; Triamcinolone; Amphiphilic ; Low solubility drug. LISTA DE FIGURAS Figura 1 Representação da estrutura química da quitina............................... 26 Figura 2 Representação da estrutura química da quitosana.......................... 27 Figura 3 Esquema representativo da obtenção da QTS através da reação da desacetilação da QTN para QTS usando solvente NaOH 50% m/m, na temperatura de 110 °C, por 4 horas................................... 28 Figura 4 Esquema representando os vários derivados da quitosana. Adaptado de Peter (1995)................................................................. 31 Figura 5 Estrutura química da N-Carboximetilquitosana................................. 32 Figura 6 Estrutura química da O-Carboximetilquitosana................................ 34 Figura 7 Calibração da Gota Pendente........................................................... 46 Figura 8 Estrutura química da Triancinolona.................................................. 48 Figura 9 Representação da estrutura química do Sudan III........................... 59 Figura 10 Representação esquemática da reação de síntese de O-CMQS.... 62 Figura 11 Representação esquemática da reação de obtenção da OCMQSB N Benzilada......................................................................... 63 Figura 12 Curva de Titulação Condutimétrica da O-CMQS Lote 01 e Lote 02...................................................................................................... 65 Figura 13 Curva de Titulação Potenciométrica da O-CMQS Lote 01 e Lote 02 na forma acidificada (pH em torno de 2,0)................................... 66 Figura 14 Curva de Titulação potenciométrica da O-CMQS Lote 01, Lote 02 na forma ácida.................................................................................. 68 Figura 15 Curva de Titulação potenciométrica da O-CMQS Lote 01 e Lote 02 na forma salina.................................................................................. 68 Figura 16 Curva de Titulação potenciométrica da O-CMQSB A, B, C, D, E, F e G na forma acidificada pH 2,0 (HCl 0,1 mol/L).............................. 69 Figura 17 Curva de Titulação potenciométrica da O-CMQS benzilados A, B, C, D, E, F e G na forma salina.......................................................... 69 Figura 18 Curva de Titulação potenciométrica da O-CMQSB benzilados A, B, C, D, E, F, G na forma ácida com pH em torno de 4,0 (HCl 0,1 mol/L)................................................................................................ 70 Figura 19 Perfil das absorbâncias obtidas dos derivados sintetizados benzilados e não benzilados, em água............................................. 71 Figura 20 Espectro de Infravermelho da O-CMQS Lote 01 e 02 na forma salina, em temperatura ambiente..................................................... 73 Figura 21 Espectro de Infravermelho da O-CMQS Lote 01 e 02 em pH ácido, em temperatura ambiente................................................................. 73 Figura 22 Espectro de Infravermelho da O-CMQSB na forma salina, em temperatura ambiente....................................................................... 74 Figura 23 Espectro de Infravermelho da O-CMQSB na forma ácida, em temperatura ambiente....................................................................... 75 Figura 24 Espectro de RMN 1H da O-CMQS Lote 2 em D2O, em temperatura ambiente........................................................................................... 76 Figura 25 Espectro de RMN 1H da O-CMQSB E em D2O, em temperatura ambiente........................................................................................... 77 Figura 26 Determinação gráfica da viscosidade intrínseca, para os derivados O-CMQS Lote 01 e Lote 02 em NaCl nas concentrações de 0,1 mol/L e 0,5 mol/L, 25 °C (+/-1 °C)..................................................... 81 Figura 27 Determinação gráfica da viscosidade intrínseca para os derivados benzilados na concentração de NaCl 0,1 mol/ a 25 °C (+/-1 °C) .... 84 Figura 28 Determinação gráfica da viscosidade intrínseca para os derivados benzilados na concentração de NaCl 0,5 mol/ a 25 °C (+/-1 °C) .... 85 Figura 29 Valores médios da tensão superficial em relação a variação da concentração dos derivados, utilizando-se água como solvente, a 25 C (+/- 1 °C).................................................................................. 86 Figura 30 Espectro na região do UV/visível da dispersão polimérica antes (preto) e após contato com a solução de Sudan III (em clorofórmio), tempo de agitação 24 hs.............................................. 89 Figura 31 Valores obtidos na determinação da hidrofobicidade por Sudan III, leitura em 540 nm, a 25 °C (+/-1 °C)................................................. 90 Figura 32 Citotoxicidade das amostras Lote 1, derivados benzilados A, E, G, D e C em concentração de 1000 µg/mL, pelo método MTT............. 92 Figura 33 Esquema representativo do método utilizando o corante MTT........ 92 Figura 34 Citotoxicidade das amostras Lote 1, derivados benzilados A, E, G, D e C em concentração de 1000 µg/mL, pelo método vermelho neutro................................................................................................ 93 Figura 35 Curva analítica da Triancinolona em metanol, leitura em 242 nm... 95 Figura 36 Perfil da solubilidade em relação à concentração de TC e dos polímeros O-CMQS Lote 02, O-CMQSB F e G em meio básico, leitura em 242 nm, volume de 5 mL................................................. 96 Figura 37 Perfil da solubilidade em relação à concentração de TC e dos polímeros O-CMQS Lote 02, O-CMQSB F e G em meio ácido, leitura em 242 nm, volume de 5 mL................................................. 97 Figura 38 Perfil de difusão da TC, pela membrana de diálise, nas diferentes formulações, TC pura, com O-CMQS e com O-CMQSB F em PBS (pH 7,4 solução 0,01 mol/L) em temperatura ambiente.................... 99 Figura 39 Perfil de difusão da TC, pela membrana de diálise, nas diferentes formulações, TC pura, com O-CMQS e com O-CMQSB F em PBS (pH 7,4 solução 0,01 mol/L) em temperatura ambiente.................... 99 Figura 40 Perfil de difusão da TC, pela membrana de diálise, nas diferentes formulações, TC pura, com O-CMQS e com O-CMQSB F em PBS (pH 7,4 solução 0,01 mol/L) em temperatura ambiente................... 101 Figura 41 Perfil de difusão da TC, pela membrana de diálise, nas diferentes formulações, TC pura, com O-CMQS e O-CMQSB F em PBS (pH 7,4 solução 0,01 mol/L), leitura em 242 nm, em temperatura ambiente........................................................................................... 102 Figura 42 Perfil de absorção no UV/visível do derivado O-CMQSB F e TC em diferentes valores de pH em dispersão em água...................... 104 Figura 43 Tensão superficial dos derivados O-CMQSB F e O-CMQSB G puros e com a TC incorporada em diferentes concentrações......... 105 Figura 44 Esquema simplificado das prováveis interações entre a TC e o derivado O-CMQSB.......................................................................... 106 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Derivados benzilados obtidos a partir dos Lote 1 e 2 e relações molares de benzaldeído utilizadas...................................................... 52 Tabela 2 Rendimentos dos derivados O-CMQS Lote 01 e 02........................... 62 Tabela 3 Rendimentos dos derivados O-CMQSB benzilados sintetizados....... 64 Tabela 4 Grau de carboximetilação dos derivados Lote 01 e 02 sintetizados.... 65 Tabela 5 Percentual de grupos amino protonáveis dos lotes sintetizados......... 67 Tabela 6 Grau de substituição no grupo NH2 dos derivados anfifílicos, calculados a partir dos espectros de RMN 1H..................................... 78 Tabela 7 Solubilidade da O-CMQS e O-CMQSB em água com variação de pH em temperatura ambiente.............................................................. 80 Tabela 8 Valores dos testes das viscosidades intrínsecas das dispersões nas concentrações de 0,1 mol/L e 0,5 mol/L a 25 °C (+/-1 °C)................. Tabela 9 83 Difusão da TC através da membrana de diálise, parâmetros de liberação e coeficientes de difusão..................................................... 101 Tabela 10 Parâmetros de Cinética de Liberação de TC segundo o Modelo de Higuchi................................................................................................. 102 LISTA DE ABREVIATURAS AMD – Análise Mecânica e Dinâmica BSA – Albumina Soro bovino CIM – concentração inibitória mínima CMP49C8 – Carboximetilpullulan CMQTS-g-PEA – Carboximetilquitosana com grupos Fosfadiletanolamina DMEM – Meio Modificado Dulbeccos Eagles DMSO – Dimetil Sulfóxido FITC – Isotiocianato de Fluoresceína GA – Glutaraldeído GC – Grau de Carboximetilação GS – Grau de Substituição IV-TF – Infravermelho com transformada de Furrie Kh – Constante de Huggins MCF 7 – Células de câncer de seio humano MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura MET – Microscopia Eletrônica de Tunelamento mPEG – Polietileno Glicol Monometil Éter MTT – 3-[4,5-Dimetil Tiazol-2-yl]-2,5-Difeniltetrazolium Brometo Mw – Massa Molecular Viscosimétrica Média N-CMQTS – N-carboximetilquitosana O-CMQTS – O-carboximetilquitosana O-CMQTSB - O-carboximetilquitosana N-benzilado PBS – Tampão Salina Fosfato PEA – Fosfadiletanolamina PET – Polietileno tereftalato PET-O-CMQTS – Polietileno tereftalato O-carboximetilquitosana PHBV – Poli 3-hidroxibutírico ácido-co-3hidroxivalérico PVC – Cloreto de Polivinila QCMC – Carboximetilquitosana quaternária QTN – Quitina QTS – Quitosana QTN-Fe – Quitosana Ferro RMN 13C – Ressonância Magnética Nuclear de Carbono RMN 1H – Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio SPH-IPNs – Poli (ácido acrílico-co-acrilamida)/O-carboximetil quitosana interpenetrando redes de polímero. TA – Triancinolona Acetato TB – Triancinolona Benetonida TC – Triancinolona TCA – Triancinolona Acetonida TD – Triancinolona Diacetato THA – Triancinolona Hexacetonida 17 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................19 2 OBJETIVOS..................................................................................................................21 2.1 Objetivo Geral......................................................................................................21 2.2 Objetivos Específicos. ........................................................................................21 3 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................22 3.1 Polímeros Naturais..............................................................................................22 3.2 Quitina e Quitosana ............................................................................................25 3.3 Quitosana e seus Derivados ..............................................................................30 3.4 O-Carboximetilquitosana....................................................................................34 3.5 Aplicações dos derivados Hidrofóbicos da Quitosana....................................37 3.6 Polímeros e Tensão Superficial...........................................................................41 3.6.1 Fenômenos Interfaciais e Superficiais.................................................................41 3.6.2 Tensão Superficial...............................................................................................42 3.6.3 Tensoativos.........................................................................................................43 3.6.4 Medidas da Tensão Superficial...........................................................................45 3.6.5 Método da Gota Pendente..................................................................................46 3.7 Fármacos pouco solúveis - Triancinolona........................................................46 4 MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................50 4.1 Material.................................................................................................................50 4.1.1 Reagentes e Materiais......................................................................................50 4.1.2 Equipamentos...................................................................................................50 4.2 Métodos................................................................................................................51 4.2.1 Síntese da O-Carboximetilquitosana ..............................................................51 4.2.2 Síntese dos Derivados Benzilados .................................................................52 4.3 Caracterização dos Polímeros.............................................................................53 4.3.1 Titulação Condutivimétrica da O-CMQS ............................................................53 4.3.2 Titulação Potenciometria da O-CMQS e derivados benzilados...........................54 4.3.3 Espectroscopia no Ultravioleta.............................................................................54 4.3.4 Espectroscopia no Infravermelho.........................................................................55 4.3.5 Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear..........................................55 18 4.4 Viscosidade Intrínseca............. ....................................................................56 4.5 Solubilidade dos Derivados..........................................................................57 4.6 Determinação da Tensão Superficial...........................................................58 4.7 Determinação de Hidrofobicidade por Sudan III.........................................58 4.8 Citotoxidade das matrizes......................... ..................................................59 4.9 Solubilidade do Fármaco Triancinolona.....................................................60 4.10 Liberação do Fármaco Triancinolona in vitro .........................................61 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................62 5.1 Síntese e Caracterização dos Derivados Sintetizados..............................62 5.1.1 Síntese da O-CMQS e O-CMQSB...............................................................62 5.1.2 Titulação Condutivimétrica...........................................................................64 5.1.3 Titulação Potenciométrica............................................................................66 5.1.4 Espectroscopia no Ultravioleta dos derivados sintetizados.........................70 5.1.5 Espectroscopia no Infravermelho (FT-IR)....................................................72 5.1.6 Espectroscopia de RMN 1H..........................................................................76 5.1.6.1 Determinação do grau médio de substituição...........................................77 5.1.7 Solubilidade dos derivados sintetizados......................................................79 5.2 Viscosidade Intrínseca.................................................................................80 5.3 Determinação da Tensão Superficial dos Derivados Sintetizados..........85 5.4 Determinação da Hidrofobicidade dos Derivados Sintetizados...............88 5.5 Determinação da Citotoxicidade..................................................................90 5.6 Solubilidade do Fármaco Triancinolona.....................................................94 5.7 Perfil da Dissolução do Fármaco Triancinolona in vitro ..........................98 6 CONCLUSÕES.....................................................................................................106 REFERÊNCIAS........................................................................................................110 ANEXO A Fotos do Aparelho Tensiômetro. (UFPr).............................................123 ANEXO B Foto ilustrativa da metodologia do corante Sudan IIII......................124 19 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento de medicamentos mais eficazes, bem como, a descoberta de alvos específicos e os estudos de biodisponibilidade têm contribuído na atualidade para o avanço do arsenal terapêutico (RIOS, 2005). Os fármacos são raramente administrados na forma de substâncias químicas puras, sendo mais freqüente a sua administração na forma de formulações ou medicamentos. Estes últimos podem variar desde soluções relativamente simples até sistemas de liberação complexos, dependendo do uso apropriado de adjuvantes de formulações ou excipientes (AULTON, 1988). Cada fármaco em particular é uma substância específica que apresenta características químicas e físicas que devem ser consideradas antes do desenvolvimento da formulação farmacêutica. Entre elas encontram-se a solubilidade, o coeficiente de partição, a velocidade de dissolução, a forma física e a estabilidade (ALLEN JÚNIOR; POPOVICH; ANSEL, 2007). Nas últimas décadas, a aplicação dos conhecimentos da Ciência dos Polímeros, em particular da Química e Engenharia, às Ciências Farmacêuticas resultou em novos polímeros quer em termos de design para um fim específico, quer em termos de novos sistemas contribuindo para o aumento da eficácia terapêutica dos fármacos (RIOS, 2005). A quitosana tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de biomateriais, que respondem a estímulos específicos, como veículo para medicamentos administrados oralmente (MAJETI; KUMAR, 2000). Este biopolímero e seus derivados apresentam algumas vantagens importantes com relação às atividades farmacológicas, atuando como antiácido, antiúlcera, protegendo a mucosa gástrica e inibindo a adesão das bactérias nas células epiteliais bucais e vaginais (BUGAMELLLI et al., 1998; CHEN; PARK, 2003). A modificação química da quitosana é uma ferramenta útil para planejar novos carreadores de fármacos com o objetivo principal de melhorar a atividade biológica destes, bem como diminuir os possíveis efeitos tóxicos e aprimorar a biodistribuição. Portanto, derivados da quitosana solúveis em valores fisiológicos de pH são alvos de várias pesquisas (MAJETI; KUMAR, 2000). 20 Um biopolímero que na atualidade está sendo utilizado em vários sistemas terapêuticos é a O-carboximetilquitosana (O-CMQS), derivado solúvel da quitosana. O uso deste biomaterial vem também aumentando em outras aplicações biomédicas, como complexação do DNA e liberação de genes, devido à presença dos grupos carboxílico e amino livre (RAMESH; VISWANATHA; THARANATHAN, 2004). Alguns trabalhos que utilizam a O-CMQS têm sido publicados, como a utilização em sistema de liberação dos antibióticos gatifloxacina (dispersão polimérica contendo o fármaco) (ZHU et al., 2007) e microesferas para a liberação prolongada do mesilato de pazufloxacina (LIU et al., 2007b). Outra aplicação importante é a utilização no aumento da solubilidade de fármacos pouco solúveis como a camptotecina, utilizada no tratamento de câncer (ZHU et al., 2006). O aumento da solubilidade e conseqüente eficácia de fármacos pouco solúveis em água pode ser obtido com derivados de polissacarídeos hidrofobicamente modificados. Desta forma a modificação de polissacarídeos através da introdução de grupos hidrofóbicos tornou-se alvo de recentes pesquisas nesta área. Entre os polissacarídeos podemos citar a pululana modificada com grupos alquil e utilizada para dissolver o fármaco antitumoral docetaxel (HENNISILHADI et al., 2007) e O-CMQS modificada com ácido linoleico para a formação de nanopartículas contendo a adriamicina, também usada no tratamento do câncer (LIU et al., 2007a). O presente trabalho tem como objetivos trazer contribuições no campo prático de estudos sobre obtenção de derivados anfifílicos da O-CMQS, visando o aumento da solubilidade de fármacos pouco solúveis. A escolha do objeto da pesquisa está relacionada com a experiência do grupo de pesquisa (NIQFAR) com derivados da quitosana. Já a seleção do derivado N-benzilado foi motivada pela ausência de derivados anfifílicos contendo grupos aromáticos. A utilização para aplicações no aumento da solubilidade de fármacos pouco solúveis está relacionada com emprego prático do polímero preparado. O fármaco modelo utilizado neste experimento foi a triancinolona, corticóide pouco solúvel em água e facilmente monitorado através de técnicas espectrofotométricas. 21 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Obter derivados anfifílicos da O-carboximetilquitosana para utilizá-los no aumento da solubilidade de fármaco pouco solúvel, como a triancinolona. 2.2 Objetivos Específicos 1) Sintetizar e caracterizar a O-carboximetilquitosana; 2) Produzir derivados anfifílicos, O-carboximetilquitosana N-benzilada; 3) Caracterizar os derivados por titulação condutimétrica e potenciométrica, espectroscopia de infravermelho, ultravioleta e ressonância magnética nuclear de hidrogênio; 4) Determinar a viscosidade intrínseca dos derivados sintetizados; 5) Avaliar a tensão superficial da O-carboximetilquitosana e seus derivados; 6) Determinar a hidrofobicidade da O-carboximetilquitosana e seus derivados por colorimetria (Sudan III); 7) Analisar in vitro a biocompatibilidade da O-carboximetilquitosana e seus derivados utilizando-se células de fibroblasto L929; 8) Verificar o efeito dos derivados anfifílicos sobre a solubilidade da triancinolona. 22 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Polímeros Naturais A pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos representam o primeiro estágio no caminho do desenvolvimento de medicamentos. Em sua maioria, os processos de obtenção de fármacos se realizam pela síntese de novas substâncias ou pela extração de princípios ativos de fontes naturais (RIOS, 2005). O desenvolvimento e produção de um medicamento devem levar em consideração a liberação do fármaco na quantidade e velocidade adequada ao objetivo terapêutico proposto, caracterizado como qualidade biofarmacêutica, relacionando a formulação e as operações farmacotécnicas à ação esperada do medicamento (STORPIRTIS et al., 1999). De modo geral, o fármaco deve estar dissolvido antes de ser absorvido para os fluidos do organismo, via membranas absorventes, epitélio da pele, trato gastrointestinal e pulmões. Os fármacos são absorvidos de duas maneiras diferentes: por difusão passiva e por meio de mecanismos de transporte especializado. Na absorção passiva, a qual se acredita controlar a absorção da maioria dos fármacos, o processo é determinado pelo gradiente de concentração existente ao longo da barreira celular, ocorrendo a passagem de moléculas da região de maior concentração para a de menor concentração (AULTON, 1988). A solubilidade em lipídeos e o grau de ionização do fármaco no sítio de absorção influenciam a velocidade de difusão. Alguns mecanismso de transporte especializado têm sido propostos como, entre outros, o transporte ativo e o transporte facilitado. Uma vez absorvido, o fármaco pode exercer um efeito terapêutico local ou em sítios de ação – distante do sítio de administração. Neste último caso, o fármaco terá que ser transportado pelos fluidos do organismo (ALLEN JÚNIOR; POPOVICH; ANSEL, 2007). Polissacarídeos naturais e seus derivados representam um grupo de polímeros largamente utilizados em formas farmacêuticas, sendo geralmente selecionados, em detrimentos de polímeros sintéticos, devido à baixa toxicidade, baixo custo e biodisponibilidade (PILLAI; PANCHAGNULA, 2001). 23 Os polímeros possuem uma característica em comum, a de serem macromoléculas de alta massa molar, que define suas propriedades físico-químicas. Existem também macromoléculas de baixa massa molar, conhecidas como oligômeros que consistem em uma molécula com poucos monômeros. Suas propriedades físicas variam com a adição ou a remoção de um ou mais monômeros de sua estrutura molecular. O interesse crescente por polímeros biodegradáveis tem estimulado, recentemente, a obtenção de um grande número deles (PILLAI; PANCHAGNULA, 2001; RIOS, 2005). Modificando as propriedades do polímero, um sistema matricial pode ser elaborado para uma liberação sustentada ou controlada do fármaco. Materiais poliméricos farmacêuticos, com pequena ou nenhuma toxicidade, podem ser utilizados como membranas ou matrizes nas quais a substância ativa é dispersa ou dissolvida. Polímeros também funcionam como veículos e podem ser adicionados aos elementos ativos (OLIVEIRA; LIMA, 2006). Embora a escolha seja determinada, sobretudo, de acordo com o princípio ativo, muito dificilmente se encontra um fármaco que não é compatível com as classes gerais de polímeros (RIOS, 2005). Contudo, casos de incompatibilidade podem ocorrer. A interação de excipientes e fármacos influencia no mecanismo de desintegração, liberação, absorção e biodisponibilidade do fármaco (JACKSON; YOUNG; PANT, 2000). O fenômeno de adsorção é um exemplo da interação entre fármaco e excipiente. A adsorção física é devido a interações eletrostáticas, ligações hidrogênio ou forças de van der Waals e usualmente é reversível, enquanto na adsorção química, o adsorvido é ligado ao adsorvente por ligações químicas primárias, incluindo troca iônica, protonação e complexação, sendo um processo irreversível (JENQUIN; MCGINITY, 1994). A extensão da adsorção depende das propriedades físico-químicas do fármaco e do excipiente (ZHU, 2002). Dependendo do mecanismo de liberação, o grau de ionização do polímero também pode ser uma importante propriedade. Quando o fármaco deve ser liberado em um pH específico (ou seja, no trato gastrintestinal ou no cólon), polímeros não iônicos são contra indicados porque eles são pH-independentes. Para alguns comprimidos revestidos o pH é neutro para evitar a interação entre o polímero e o fármaco. Em outras aplicações é favorecida a liberação mais uniforme do fármaco por todo trato gastrintestinal, que apresenta valores de pH diferentes dependendo da localização (RIOS, 2005). 24 Em relação aos polímeros biodegradáveis, é essencial reconhecer que a degradação é um processo químico e a erosão é um fenômeno físico dependente dos processos de difusão e dissolução (PILLAI; PANCHAGNULA, 2001). A biodegradabilidade pode ser manipulada pela incorporação de uma variedade de grupos instáveis como éster, anidrido, carbonato, amida, uréia e uretano na cadeia principal (MAO et al.,1999), e pode ocorrer por meio enzimático, químico ou microbiano. Essas vias de degradação podem ocorrer separadamente ou de forma simultânea e são muitas vezes influenciadas pelos seguintes fatores: estrutura química e composição do polímero, fatores físico-químicos (carga iônica, força iônica e pH), fatores físicos (forma, tamanho, defeitos na cadeia), morfologia (amorfos, semicristalino, cristalino, microestrutura), distribuição de peso molecular, via de administração e sítio de ação (PILLAI; PANCHAGNULA, 2001). Polímeros naturais (ou biopolímeros) são usualmente biodegradáveis e oferecem excelente biocompatibilidade, mas sofrem variação de lote a lote devido às dificuldades na purificação. Por outro lado, polímeros sintéticos estão disponíveis em uma extensa variedade de composições com fácil ajuste das propriedades (ANGELOVA; HUNKELER, 1999). Em relação às propriedades dos polímeros, dois critérios devem ser seguidos na elaboração de uma formulação. Em primeiro lugar, as características químicas do polímero não devem comprometer a ação das substâncias ativas; em segundo, as propriedades físicas do polímero devem ser consistentes e reprodutíveis. Entre as várias propriedades físicas, algumas se demonstram mais importantes quando na elaboração de um sistema de liberação de fármacos, como a permeabilidade (JACOBS; MASON, 1993), propriedades de superfície como hidrofilia, adesão, solubilidade (PILLAI; PANCHAGNULA, 2001) e temperatura de transição vítrea (ZHU, 2002). Estes materiais podem ser usados tanto para matriz quanto para revestimento na liberação modificada do fármaco. A permeabilidade de um fármaco através de um material polimérico é um processo que envolve dissolução, migração e difusão das moléculas do fármaco em função da solubilidade e coeficiente de difusão. A estrutura cristalina de um polímero tem maior grau de empacotamento molecular e, portanto, tende a resistir mais à difusão de um fármaco em relação a polímeros amorfos com a mesma estrutura química (ZHU, 2002). 25 As propriedades de superfície como hidrofilia, lubricidade, uniformidade e energia de superfície determinam a biocompatibilidade com tecidos e sangue, além das propriedades físicas influentes como durabilidade, permeabilidade e degradabilidade (ANGELOVA; HUNKELER, 1999). As propriedades de superfície também determinam a capacidade de absorção de água de polímeros, que sofrem degradação hidrolítica e intumescimento. Entre os polímeros de origem animal mais aplicados como excipientes no controle da liberação de fármacos, podem ser citados a quitina e a quitosana (BRESOLIN et al., 2003). O uso de quitosana como transportador de fármacos tem permitido solucionar problemas como insolubilidade e hidrofobicidade de diversos agentes terapêuticos (KUBOTA et al., 2000). 3.2 Quitina e Quitosana Quando os resíduos de animais marinhos são despejados no mar as proteínas constituintes da casca do camarão sofrem decomposição e os produtos resultantes dessa decomposição são poluentes e altamente tóxicos, especialmente a histamina. Quando enterrados, causam problemas ambientais como odores desagradáveis e reunião de animais transmissores de doenças ao ser humano (FREEPONS, 1997). O aproveitamento destes resíduos de forma sustentável é de fundamental importância nos dias atuais. Não somente pelo aspecto de resolver um problema ambiental, mas também pelo potencial que os polímeros naturais obtidos destes resíduos podem gerar. A quitina (QTN) é uma poliamina acetilada e atóxica (KARLSEN et al., 1999), considerada o principal constituinte do exoesqueleto de crustáceos aquáticos, além de ser um componente do exoesqueleto de insetos e parede celular de levedura e fungo. Foi relatado que cerca de 50 – 80 % da composição orgânica das cascas de crustáceos e da cutícula de insetos consistem de quitina, enquanto na levedura e fungo a quantidade relativa está na faixa de 30 a 60 % (PETER, 1995). A quitina é um homopolissacarídeo linear composto por unidades de N-acetilD-glucosamina (ou 2-acetoamido-2-deoxi-D-glicose) em ligações (1 4), muito 26 abundante na natureza, perdendo somente para a celulose em disponibilidade (Figura 1). Figura 1: Representação da estrutura química da quitina. A estrutura da quitina começou a ser estudada por volta de 1930 com base em sua hidrólise química e enzimática (MATHUR; NARANG, 1990). Possui características similares a glicosaminas e apresenta uma composição similar à celulose (CHANDY; SHARMA, 1993; HUGUET; GHOBOILLOT; NEUFELD, 1994), na qual os grupos hidroxilas referentes ao carbono-2 são substituídos por resíduos acetamido e, por essa razão assemelha-se a esta em muitas de suas aplicações. A ampliação de procedimentos fundamentados no emprego de quitina e seus derivados é devido às suas propriedades de polieletrólito, a presença de grupos funcionais reativos, alta capacidade de adsorção, biodegradabilidade, influência antitumoral, atividade bacteriostática e antifúngica (SYNOWIECKI; AL-KHATEEB, 2003). Modificações químicas na molécula de quitina, em geral, são dificultadas em razão deste polissacarídeo possuir estrutura altamente cristalina, com fortes interações entre hidrogênios intra e intermoleculares (SCHIGEMASA et al., 1999). Uma das possíveis modificações que pode ser realizada é para a obtenção de um derivado hidrolisado da quitina, o polímero bastante estudado e conhecido como quitosana (QTS) (THANOO; SUNNY; JAYAKRISHNAN, 1991; LEE; PARK; HA, 1996). A forma desacetilada da QTS, composta principalmente de glucosamina (2amino-2-desoxi-D-glucose), possui diferentes classes de desacetilações. São produzidas a partir do polissacarídeo inicial (quitina) por uma reação de 27 desacetilação (LEE; PARK; HA, 1996; SRINIVASA et al., 2002). Uma de suas principais características é a insolubilidade em água e em determinados solventes orgânicos. A quitosana apresenta, em maior proporção, na cadeia polimérica unidades de β-(1 4)-2-amino-2-desoxi-D-glicose, e um menor número de unidades β-(1 4)-2-acetamido-2-desoxi-D-glicose da quitina. Possui semelhança na sua estrutura química com a celulose, porém exibe propriedades bastante diferentes desta, sendo quimicamente mais versátil devido à presença dos grupos amino (BADE, 1997). Figura 2: Representação da estrutura química da quitosana. Embora a estrutura da quitosana (Figura 2) seja representada como um homopolímero, o processo de desacetilação (Figura 3) é raramente completo e a maioria dos produtos comerciais é de copolímeros compostos de unidades repetidas de quitosana e unidades de quitina repetidas ao acaso (CHANDY; SHARMA, 1993; RATHKE; HUDSON, 1994). 28 Figura 3: Esquema representativo da obtenção da QTS através da reação da desacetilação da QTN para QTS usando solvente NaOH 50% m/m, na temperatura de 110 °C, por 4 horas. A quitosana, polissacarídeo obtido pela hidrólise alcalina da quitina, vem sendo usada como sistema polimérico na liberação de fármacos, tais como prednilisolona (INOUE et al., 1989), albumina (POLK et al., 1994) e melatonina (AÇIKGÖZ et al., 1996). Outros trabalhos descreveram que as formulações orais revestidas de quitosana flutuam e intumescem gradualmente em solução com valores de pH próximos a 2,0 (HOU et al., 1985). Muitas são as possíveis utilizações destes biopolímeros como citado em alguns trabalhos relacionados. A lista de aplicações da quitina e da quitosana é ainda mais extensa quando são incluídos os vários derivados de quitosana obtidos por meio de reações químicas através das quais são inseridos diferentes grupos funcionais às suas moléculas, conferindo diferentes propriedades e aplicações (KUMAR; KUMAR, 2001). A atividade antifúngica é uma das mais importantes bioatividades da quitosana, e estudos recentes mostram que a quitosana pode reduzir o grupo de fungos fitopatogênicos, que são causadores de danos nas culturas de frutas e vegetais (SUDARSHAN; HOOVER; KNORR, 1992; ROLLER; COVILL, 1999). Quando a intenção é a aplicação de biopolímeros nas áreas farmacêutica e biomédica uma das principais vantagens é a sua baixa toxicidade. A quitosana apresentou uma baixa toxicidade (DL50 DE 16 g.kg-1, v.o, em estudos realizados in 29 vivo, utilizando camundongos). O polímero é biodegradável apresenta ausência de alergenicidade e proporciona atividade anticoagulante, antifúngica, antimicrobiana, entre outras (FELT; BURI; GURNY, 1998). As características biológicas peculiares à quitosana são explicadas muitas vezes pelo grupamento amino livre presentes nas unidades desacetiladas, que são suscetíveis a protonação abrindo assim várias possibilidades de aplicação (DUREJA; TIWARY; GUPTA, 2001). Uma etapa muito importante que antecede a utilização da quitosana na formulação de produtos farmacêuticos é a necessidade de purificação. De fato, no contexto de algumas aplicações de quitosana, tais como em dispositivos para a liberação modificada de fármacos, um elevadíssimo grau de pureza é requerido. A purificação da quitosana na forma neutralizada, solúvel em meios moderadamente ácidos, é bastante prática do ponto de vista do tempo, materiais e equipamentos necessários à sua execução. Porém, a solubilidade restrita das amostras purificadas limita a sua caracterização em determinadas condições e, de certa forma, dificulta a comparação da quitosana com outros polieletrólitos (SIGNINI; CAMPANA FILHO, 1998). Na preparação de comprimidos, a quitosana pode ser empregada na compressão direta como diluente, aglutinante, lubrificante e desintegrante. Contudo, a sua aplicação é limitada pela falta de propriedades de fluidez e compressibilidade. A mistura da quitosana com outros excipientes convencionais, como o manitol, lactose ou amido, melhoram a fluidez das misturas de pós (SINGLA; CHAWLA, 2001). Filmes de quitosana podem ser empregados no revestimento de comprimidos e cápsulas. Normalmente os comprimidos são revestidos com filmes formados pela evaporação da dispersão de quitosana em ácido acético. A resistência do filme depende da temperatura e do tempo de secagem do comprimido. Foi observado que o comportamento de liberação da teofilina não depende da temperatura de secagem (NUNTHANID, 2002). Tozaki e colaboradores (1997) utilizaram cápsulas deste polímero revestidas com ftalato de hidroximetilpropilcelulose para a administração de insulina por via oral. Os resultados mostraram que as cápsulas passaram intactas pelo estômago e pelo intestino delgado, observando-se o efeito hipoglicemiante, em ratos tratados com as cápsulas, no período de 6 a 16 horas após a administração. Yamamoto et al. 30 (2000) e Tozaki et al. (2002) empregaram o mesmo sistema para a liberação de fármacos antiinflamatórios usados no tratamento de colite ulcerativa. As cápsulas atingiram o intestino grosso dos ratos 3,5 horas após a sua administração. A ausência de ácido 5-aminosalicílico na mucosa gástrica e no intestino delgado mostrou que as cápsulas passaram intactas pelo estômago, indicando que as cápsulas são eficientes para a liberação do ácido 5-aminosalicílico no intestino grosso. Também foi observada uma aceleração na cura de ratos com colite ulcerativa induzida pelo trinitrobenzenosulfonato de sódio. Os hidrogéis a base de quitosana, formados por redes poliméricas híbridas (HPNs), ocorre pela formação de uma rede de quitosana reticulada e a rede do polímero poli(álcool vinílico) também reticulado podendo existir interações covalentes entre cadeias dos diferentes tipos de polímeros. Os HPNs obtidos de quitosana e poli(álcool vinílico) foram empregados na liberação da amoxicilina, sendo avaliada a influência da composição química deste hidrogel nas propriedades térmicas e eletroquímicas e na liberação de amoxicilina. Os estudos mostraram que a condutividade iônica de filmes é influenciada pela composição do hidrogel e as amostras com maior proporção de poli (álcool vinílico) apresentam maior liberação de amoxicilina devido ao maior grau de intumescimento (RODRIGUES et al., 2006). 3.3 Quitosana e seus Derivados A modificação estrutural de biopolímeros como a quitosana é de grande interesse para uso em muitos fins terapêuticos. Por possuir uma grande quantidade de grupamentos reativos, como as hidroxilas e os grupos amino, a quitosana é susceptível às mudanças estruturais, principalmente em reações de N-acetilação, Nalquilação, N-carboxilação, N-sulfonação e formação de bases de Schiff com aldeídos e cetonas (PETER, 1995). A Figura 4 mostra os diversos derivados da quitosana. 31 Figura 4: Esquema representando derivados da quitosana. Adaptado de Peter (1995). Muitos destes derivados são utilizados frequentemente pela indústria farmacêutica a fim de melhorar as propriedades terapêuticas dos fármacos. O cloreto de trimetil quitosana mostrou um aumentou na absorção intestinal de peptídeos e absorção para buserelina e análogos de octreotide por epitélios intestinais (THANOU et al., 2001). O cloreto de N-trimetilquitosana foi sintetizado por Hamman, Schultz e Kotzé (2003) e utilizado para aumentar o transporte de fármacos. Esta função se dá através do epitélio, pela abertura das estreitas junções entre as células. Foram realizados experimentos com diferentes graus de quartenização do polímero. Na conclusão dos ensaios citados, a absorção considerada ótima ocorreu em um grau intermediário de quartenização. Sandri e colaboradores (2004) estudaram diferentes derivados de quitosana que aumentaram a penetração de aciclovir adicionando o fármaco a várias dispersões de quitosana modificadas: 5-metil-pirrolidinona-QTS, quitosanas de baixo 32 peso molecular, quitosana parcialmente reacetilada e cloridrato de quitosana. Neste trabalho, o polímero modificado apresentou a melhor mucoadesividade e aumentou as propriedades de penetração/permeação do fármaco estudado. Derivados carboximetilados da quitosana como, por exemplo, a Ncarboximetilquitosana, a N-carboxibutilquitosana e a succinilquitosana têm sido estudados como polímeros carreadores de fármacos (KATO; ONISHI; MACHIDA, 2004; ZHU; LIU; YE, 2006). A N-carboximetilquitosana (Figura 5) é um derivado da quitosana que também apresenta grupamentos acetatos, tendo característica de polieletrólito negativo. Quimicamente é uma glicana -(1 4), de unidades 2-amino-2-desoxi-D-glicose e 2-carboxi-amino-2-desoxi-D-glicose, sendo solúvel em água (PETER, 1995). Figura 05: Estrutura química da N-Carboximetilquitosana. Derivados da quitosana, especialmente a N-carboximetilquitosana (N-CMQS) também têm sido estudados quando à sua caracterização físico-química (MIRANDA et al., 2003) e sua propriedade de formação de filme (MACHADO; FARIAS, 2003). Foi observado que os filmes de N-CMQS têm estrutura mais compacta, com disposição reticulada e fibras em uma única direção quando analisados usando Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Análise Mecânica e Dinâmica (AMD). A análise cinética térmica mostrou um lento processo de degradação para a NCMQS quando comparado com a quitosana, e uma energia de ativação 13 vezes maior para a anterior, confirmando alta estabilidade do polímero modificado. Os filmes dos polímeros estudados mostraram que podem suportar altas tensões, com baixa elasticidade, conforme revelado pelas análises do AMD (MIRANDA et al., 2006). Os estudos de avaliação do potencial tóxico agudo e crônico da N-CMQS se fizeram necessário uma vez que somente os dados toxicológicos da quitosana eram conhecidos. Lopez e colaboradores (2005) avaliaram a toxicidade aguda oral (dose 33 única) da N-CMQS. No estudo não foram encontrados alterações ou danos atribuídos à administração da N-CMQS. Quanto à sobrevivência dos animais os pesquisadores obtiveram 100% em doses de 200 mg/kg. O que indica que a NCMQS pode ser considerada como “sem classificação” quanto à toxicidade e que, por analogia, a sua DL50 por via oral é superior a este valor. Prabaharan, Reis e Mano (2007) realizaram modificações na carboximetilquitosana com grupos fosfadiletanolamina (PEA), mostrando que este biopolímero possui um bom potencial para a liberação modificada de fármacos hidrofóbicos. Para o estudo de liberação, a vesícula CMQTS-g-PEA mostrou um comportamento de intumescimento pH-dependente, o qual pode ser apropriado em pH básico na liberação de fármacos. Estudos preliminares com cetoprofeno, como fármaco modelo, foram realizados. Os experimentos de incorporação e liberação indicam que o sistema parece ser um veículo promissor para a administração no controle de liberação de fármacos hidrofóbicos com pH-alto. Derivados da quitosana também têm sido preparados com o objetivo de aplicação como antimicrobiano. Três classes de bases de Schiff preparadas pela reação entre a carboximetilquitosana e aldeídos aromáticos melhoraram a atividade fungicida contra os fungos Valsa mali, Alternaria solani e Fusarium oxysporium f. sp. vasinfectum (GUO et al., 2006). Derivados N-alquil e N-benzilquitosana apresentaram atividade inseticida (contra larvas de Spodoptera littoralis) e antifúngica (Botrystis cinérea e Pyricularia grisea) sendo que os derivados contendo grupos nitros foram os mais ativos (RABEA et al., 2005). Em outro estudo, a atividade antifúngica da quitosana e de derivados carboximetilados foram comparados. O cloridrato de quitosana de baixo e de alto peso molecular solúvel em água, a carboximetilquitosana, o oligossacarídeo de quitosana e a N-acetil-D-glicosamina foram testados contra C. albicans, C. krusei e C. glabrata. As espécies C. albicans e C. krusei foram as mais sensíveis, enquanto a C. Glabrata também foi inibida, mas em menor intensidade. Porém, apenas os cloridratos de quitosana mostraram um efeito antifúngico dose dependentes. A carboximetilquitosana, a quitosana de oligossacarídeo e a N-acetil-D-glicosamina apresentaram atividade fraca ou nenhuma atividade antifúngica (SEYFARTH et al., 2007). A modificação hidrofóbica da quitosana e seus derivados vêm recebendo especial atenção na última década tanto na preparação de formas farmacêuticas 34 sólidas quanto de dispersões. A N-acilação da quitosana com cloretos de ácido graxos provocou um aumento da sua hidrofobicidade podendo ser utilizada como matriz hidrofóbica para a liberação de fármacos, como por exemplo, o paracetamol. Os resultados mostraram uma relação direta entre o grau de substituição e a velocidade de liberação do paracetamol. Acredita-se que a interação hidrofóbica aumenta a estabilidade da quitosana substituída via auto-agregação hidrofóbica (TIEN et al., 2003). 3.4 O-Carboximetilquitosana Várias pesquisas são realizadas sintetizando derivados de quitosana solúveis em água através de técnicas de alterações químicas diversas, conforme Figura 4 (CHEN; PARK, 2003). Entre os derivados de quitosana solúveis em água, a Ocarboximetilquitosana (O-CMQS) é um derivado de éter anfótero, que contém grupos de COOH e grupos de NH2 na molécula. Este polímero, um derivado biocompatível da quitosana, tem o grupamento o-hidroxila substituído por um grupamento carboxil em cada monômero, através da formação de uma ligação éter, como está representado na Figura 6. Figura 6: Estrutura química da O-Carboximetilquitosana. Essas modificações estruturais concedem novas propriedades químicas e biofísicas para o polímero que, na atualidade, são focos de várias pesquisas (ZHU; ZHANG; ZHANG, 2004; ZHU et al., 2005b). Os primeiros trabalhos realizados com a O-carboximetilquitosana mostravam a potencialidade destes derivados. Em 2001, Tokura e Tamura já relataram com 35 sucesso, o emprego deste polímero na restauração e na regeneração de tecidos ósseos. A avaliação da segurança da O-carboximetilquitosana em ratos albinos foi analisada. Possíveis mudanças no peso corporal, peso dos órgãos vitais, parâmetros hematológicos e histopatológicos foram pesquisadas. Em relação aos estudos efetuados o polímero mostrou-se biocompatível, não alterando qualquer propriedade estudada (RAMESH; VISWANATHA; THARANATHAN, 2004). O estudo do comportamento de agregação da O-CMQS mostrou os valores de concentração de agregação crítica entre 0,042 mg/mL e 0,050 mg/mL. Segundo os autores (ZHU et al., 2005a) as ligações de hidrogênio entre a água e O-CMQS pela presença do grupo carboxil na cadeia tornaram o polímero solúvel em água. As ligações de hidrogênio intermoleculares da O-CMQS e a repulsão eletrostática entre elas formam as forças motrizes principais para agregação em dispersão. A aplicação da O-CMQS como matriz para a liberação de fármacos foi relatada por Zhu, Liu e Ye (2006). No estudo foi relatada a incorporação do fármaco antitumoral camptotecina que é pouco solúvel em água, sendo observado que a característica hidrofóbica do polímero melhora a eficiência na incorporação do fármaco. Posteriormente, Zhu e colaboradores (2007) prepararam sistema de liberação da gatifloxacina incorporada a O-CMQS. A concentração inibitória mínima (CIM) do complexo em estudo contra as bactérias gram-positivas é semelhante ao do antibiótico sem a complexação. Porém, a matriz de O-CMQS e gatifloxacina tem um efeito transmissor nas bactérias gram-negativas, promovendo uma CIM quatro vezes menor que o da solução de gatifloxacina livre. Em 2007a, Liu e colaboradores relataram que microesferas de Ocarboximetilquitosana contendo o antibiótico denominado pazufloxacina foram preparadas usando emulsão água/óleo e posterior reticulação com glutaraldeído. A modificação na O-CMQS produziu uma matriz polimérica com capacidade de modificar a liberação controlada de fármacos. Hidrogéis porosos contendo poli (ácido acrílico-co-acrilamida)/O-CMQS interpenetrando redes de polímero (SPH-IPNs) foram preparados através de reticulação de O-CMQS com glutaraldeído, após a preparação dos hidrogéis. O comportamento de intumescimento dos SPH-IPNs foi dependente do conteúdo de OCMQS, da quantidade de glutaraldeído e do tempo de reticulação. Devido à rede de 36 reticulação de O-CMQS, a força de muco-adesão in vitro e as propriedades mecânicas, incluindo compressão e módulo elástico do SPH-IPN foram aumentadas, apresentando características melhores quando comparada com o convencional SPH. Com as propriedades mecânicas melhoradas, bem como a força mucoadesiva in vitro, o SPH-IPN pode ser usado como um sistema muco-adesivo potencial para liberação peroral de proteínas e peptídeos (YIN et al., 2007). A carboximetilquitosana quaternária (QCMC), preparada pela reação da OCMQS com 2,3-epoxipropiltrimetilamonio, pode estimular a formação de uma fina camada de dentina reparadora, quando colocada diretamente junto à polpa exposta. A QCMC foi adicionada ao hidróxido de cálcio no capeamento pulpar em experimentos em animais. Neste estudo, o polímero pode induzir formação de dentina reparadora e foi capaz de formar uma dentina induzida melhor quando comparada com o hidróxido de cálcio. Esta foi a primeira vez que tal propriedade bioativa mostrou a simulação da formação de dentina reparadora, abrindo novas perspectivas para futuras terapias com capacidade osso-indutoras. Os resultados também mostraram que este derivado apresentou atividade antimicrobiana contra S. aureus e E. coli (SUN et al., 2006). Em 2005, Zhao e colaboradores sintetizaram e caracterizaram uma nova formulação de nanopartículas magnéticas cobertas com uma matriz polimérica de OCMQS. Tal produto sintetizado foi utilizado no estudo como carreador de fármacos e genes com atividade antitumoral. As nanopartículas magnéticas carrearam a substância ativa e agruparam-se de forma estável nos vasos capilares do antitumoral in vitro, apontando benefícios terapêuticos consideráveis na liberação de fármacos. Zhu, Yuan e Liao (2008) prepararam QTS e O-CMQS que foram aplicadas como dispersantes para preparar suspensão de nanopartículas de Fe3O4 magnético. As nanopartículas de Fe3O4 foram caracterizadas quanto à sua morfologia, propriedades magnéticas, composição e distribuição de tamanho por microscopia eletrônica de tunelamento (MET), microscopia eletrônica de varredura (MEV), infravermelho com transformada de Furrie (IV-TF). Os mecanismos de adsorção da quitosana e O-CMQS sobre nanopartículas de Fe3O4 magnético são atrações eletrostáticas e interação de coordenação, respectivamente. A estabilidade das suspensões de nanopartículas de QTS/Fe3O4 e O-CMCS/Fe3O4 ocorrem provavelmente pela repulsão eletrostática entre as partículas. 37 3.5 Aplicações dos Derivados Hidrofóbicos da Quitosana Polímeros hidrossolúveis hidrofobicamente modificados têm sido alvo de estudos. Esses polímeros consistem de cadeias hidrossolúveis com uma pequena proporção de grupos hidrofóbicos inseridos na cadeia polimérica (ARGILLIER et al., 1996). São macromoléculas que apresentam um comportamento ímpar, com estabilidade à hidrólise, viscosidade elevada sob condições severas (alta temperatura e concentração de sais) e capacidade de reduzir a tensão superficial, comportando-se como um tensoativo, o que justifica o interesse que eles despertam para pesquisa com fármacos de baixa solubilidade (CANDAU; SELB, 1999). A estrutura de tais polímeros pode variar de copolímeros anfifílicos em blocos a polímeros anfifílicos de enxerto. A vantagem do último comparado com o primeiro é que a interação hidrofóbica pode ocorrer não somente entre cadeias poliméricas diferentes (interações intermoleculares), mas também entre cadeias da mesma cadeia polimérica (interações intramoleculares) (SUI et al., 2004). Em solução aquosa, segmentos hidrofílicos são responsáveis pela hidratação dos polímeros, enquanto os domínios hidrofóbicos minimizam seu contato com água através da auto-agregação. Vale notar que o balanço entre interações intra e intermolecular pode facilmente ser controlado pelo ajuste do tamanho e/ou número de cadeias laterais hidrofóbicas de enxertos (PEIT-AGNELY; ILLIOPOULOS; ZANA, 2000; ESQUENET et al., 2004; SIMON et al., 2003; HENNI et al., 2005). Polímeros anfifílicos são constituídos de uma cadeia principal hidrofílica e alguns substituintes hidrofóbicos, que podem se encontrar distribuídos de forma aleatória ao longo da cadeia polimérica ou nas suas extremidades (PEIT-AGNELY; ILLIOPOULOS; ZANA, 2000). A estrutura anfifílica desses polímeros pode exibir atividade superficial e adsorver em interfaces (YAHYA; HAMAD, 1995; CHAUVETEAU; LECOURTIER, 1998). Esta atividade interfacial capacita estes materiais para emprego tecnológico nas mais variadas aplicações, tais como: obtenção de emulsões utilizadas em formulações cosméticas (AKIYAMA et al., 2006); modificação da superfície de partículas de negro de fumo (RIDAOUI et al., 2006) ou diminuição seletiva da permeabilidade de reservatórios de petróleo (TAYLOR; NASR-E1-DIN, 2004). 38 Foi comprovado que a hidrofilia dos filmes de poli (3-hidroxibutírico) ácido-co3-hidroxivalérico (PHBV) pode ser aumentada por enxerto com quitosana. O enxerto de quitosana sobre o PHBV melhora a adesão de fibroblastos, ainda que reduza a proliferação celular. Imobilizando o enxerto de quitosana com colágeno sobre a membrana de PHBV reduziu-se pouco a melhora da adesão dos fibroblastos, porém houve um aumento da proliferação celular além de demonstrar atividade antibacteriana importante contra quatro patógenos: Staphylococcus aureus – 1 (MRSA), Staphylococcus aureus – 2, Pseudomonas aeroginosa e Escherichia coli (HU; JOU; YANG, 2004). Derivados anfifílicos da deoxiclorato-quitosana, da carboximetilquitosana e da quitosana pura foram utilizados na preparação de nanomicelas. Os resultados encontrados mostraram que a agregação depende do pH e da força iônica do meio aquoso. A força iônica aumentou a agregação de deoxiclorato-quitosana, mas não teve nenhuma influência para a carboximetilquitosana e a quitosana pura. Modificações de grupos hidrofóbicos e hidrofílicos influenciaram as propriedades reológicas da quitosana e de seus derivados. A agregação de deoxiclorato-quitosana em dispersão pode ser controlada por um processo de emulsificação óleo/água usando cloreto de metileno. As nanomicelas de deoxiclorato-quitosana podem ser usadas para encapsular compostos lipossolúveis e ser empregado como sistemas de liberação de fármacos (PANG et al., 2007). Yao e colaboradores (2007) sintetizaram uma série de derivado de quitosana com octil, sulfato e polietilenoglicol monometil éter (mPEG) como grupos hidrofóbicos que formam micelas em meio hidrofílico. Na incorporação do fármaco paclitaxel, em dispersão micelar, a solubilidade do mesmo foi amplamente aumentada. A concentração do fármaco na dispersão micelar mPEG foi 3,94 mg/mL. Isto representa um aumento de aproximadamente 4000 vezes quando comparado com o paclitaxel livre em água (menos de 0.001 mg /mL). Em 2005, Yu e colaboradores prepararam um derivado hidrofóbico da Ocarboximetilquitosana. Através da reação da O-CMQTS com poliuretano, por meio da via mistura de polímero e enxerto por ligação transversal modificada com interpenetramento (semi-IPN) do polímero, com várias cadeias de poliuretano. Este novo material apresentou um aumento na miscibilidade da membrana resultando na melhora da capacidade antibacteriana e resistência a trombo, sendo desta forma um 39 bom candidato para ser empregado como biomaterial para dispositivos de liberação endovenosa. Outros polímeros foram preparados através de enxerto da O-CMQS por polímeros sintéticos como, por exemplo, o tereftalato de polietilono (PET). Foi observado que a compatibilidade sanguínea da PET-O-CMQS está relacionada com seu potencial zeta. O potencial zeta reflete o potencial de superfície das partículas, que é influenciado pelas mudanças na interface com o meio dispersante. Em razão da dissociação de grupos funcionais na superfície da partícula temos equilíbrio de hidrofilia/hidrofobicidade e com baixa adsorção de proteína. Esta metodologia pode ser aplicada na preparação de filmes PET, mas também para o cloreto de polivinil, poliuretano, celulose, borracha de silicone e os outros biopolímeros (ZHU; CHEN, 2006; YU; MCGERVEY; JAMIESON, 2007). A interação entre albumina de soro bovino (BSA) e nanopartículas autoagregadas de O-carboximetilquitosana modificadas por colesterol, com graus diferentes de substituição, foi estudado através de várias metodologias. A formação do complexo foi possível devido às interações hidrofóbicas do colesterol com o meio aquoso. Os grupos carboximetil carregados negativamente são importantes na morfologia e na estabilidade das nanopartículas. O grau de substituição de substância contendo colesterol é significativamente afetado pela interação entre BSA e nanopartículas auto-agregadas de O-CMQS. Os resultados como, por exemplo, a resistência a desnaturação contra a uréia, permite o seu emprego como carreador de proteínas (WANG; LIU; ZHANG, 2007). A uréia não perde a sua estrutura tridimensional e, portanto, as suas propriedades. O polissacarídeo carboximetilpululana foi modificado hidrofobicamente com cadeias alquílicas de 8 carbonos. A modificação ocorreu através da associação espontanea em meio aquoso induzindo a formação de nanoagregados solúveis com um núcleo de natureza hidrofóbica e externamente com natureza hidrofílica. Estes agregados melhoraram a solubilidade de docetaxel, fármaco hidrofóbico, especialmente a modificação contendo grande quantidade de unidades alquílicas. Soluções do fármaco-CMP49C8 provaram ser menos tóxico contra macrofagócito que do Tween 80 (o excipiente usado na formulação comercializada de docetaxel). Os testes também mostraram bons resultados em relação a atividade citotóxica contra células de câncer de seio humano (HENNI-SILHADI et al., 2007). 40 Entre os polímeros anfifílicos, os polissacarídeos hidrofobicamente modificados atraíram atenção especial como promissores veículos para fármacos insolúveis em água, por causa de sua biocompatibilidade, biodegradabilidade e baixa toxicidade (HENNI-SILHAI et al., 2007). Os primeiros estudos dos tensoativos baseados em polissacarídeos iniciaram no início dos anos 80. O trabalho de Landoll (1982) relacionou com viscometria, solubilidade, propriedades tensoativas da celulose de enxertos com as cadeias alquil. O estudo das interações tensoativo-polímero pode tanto modelar pesquisas de interações de lipídio-biopolímero in vivo, como o aprimoramento das aplicações tecnológicas destes sistemas na estabilização de soluções nas indústrias de alimentos e de fármacos (BOGNOLO, 1999). Em um outro estudo, Qun e Ajun (2006), comprovaram que a tensão superficial diminui ligeiramente com o aumento da concentração de quitosana em alta diluição. A tensão superficial aumenta aparentemente nas quitosanas de alto peso molecular ou nas soluções de baixa força iônica; enquanto o grau de acetilação tem pouco efeito na tensão superficial de quitosana, especialmente em solução de ácido clorídrico. As mudanças de tensão superficial são atribuídas à transição de conformação de moléculas dentro de solução diluída, resultando em uma variação de interações intra e (ou) intermoleculares, nas ligações de hidrogênio, interação hidrofóbica e interação eletrostática. Outro tipo de derivado anfifílico de quitosana foi preparado pela introdução de (2-hidroxipropil-3-butoxi) propil para obtenção da succinil-quitosana. O estudo mostrou que o aumento da concentração do novo derivado sintetizado provoca a diminuição da tensão superficial e formação de agregados na solução. A habilidade de diminuir a tensão superficial e formar agregados foi melhorada aumentando o grau de substituição de grupo hidrofóbico e a adição de sal (SUI et al., 2004). Pesquisas realizadas com a succinil-quitosana mostraram que ela pode se concentrar na superfície para diminuir a tensão superficial e se associar com cadeias hidrofóbicas para formar agregados em solução. A modificação com o grupo 2hidroxipropil-3-butoxi provocou uma redução significativa da tensão superficial. Estes resultados indicam que o sistema pode ser utilizado em sistema de liberação para fármacos hidrofóbicos (SUI et al., 2008). 41 3.6 Polímeros e Tensão Superficial 3.6.1 Fenômenos Interfaciais e de Superfície A modificação da superfície dos polímeros vem se tornando uma importante área de pesquisa. Muitos desses materiais possuem boas propriedades mecânicas e apresentam baixos custos, no entanto, muitas das aplicações industriais e farmacêuticas requerem propriedades superficiais especiais, bem como compatibilidade com cargas. Os tratamentos superficiais são capazes de alterar as propriedades físicas e químicas das superfícies poliméricas sem afetar suas propriedades mecânicas e convertem o material, inicialmente de baixo custo a um elevado valor agregado (DORAI; KUSHNER, 2003). O aumento da força de adesão entre a interface polímero – polímero é feita através de uma ligação covalente primária (VAN KREVELEN, 1997). Vários mecanismos, modelados a partir da termodinâmica e cinética molecular são considerados na literatura para interpretar o fenômeno da adesão. Isso permite examinar a estrutura e as propriedades da superfície dos polímeros na resistência da junção adesiva (VAN KREVELEN, 1997; JAHAGIRDAR; TIWARI, 2004). As características da adesão são afetadas por duas propriedades dos polímeros, simultaneamente nomeadas de energia superficial e mobilidade molecular. Contudo, a mobilidade e a habilidade difusiva das cadeias macromoleculares através do aumento da força de adesão entre materiais poliméricos, e a existência da difusão, depende do estado físico do polímero (BEAKE; LING; LEGGETT, 1998). A fronteira entre duas fases geralmente é descrita como uma interface (ADAMSON; GAST, 1997). No âmbito farmacêutico, os fenômenos que ocorrem na interface de dois ou mais sistemas têm um papel importante, tanto na formulação como na preparação de um medicamento quanto para assegurar a atividade e a estabilidade do mesmo. Os principais fenômeno são: tensão interfacial e tensão superficial (NETZ; GONZÁLEZ ORTEGA, 2002). 42 3.6.2 Tensão superficial As forças coesivas entre as moléculas no interior de um líquido são compartilhadas com os átomos vizinhos. Aquelas da superfície não têm átomos vizinhos acima delas e exibem uma força atrativa mais forte sobre suas vizinhas na superfície. Este aumento das forças atrativas intermoleculares na superfície é chamado tensão superficial (ROSENTHAL, 2001). Em 2005 Babak, Desbrieres e Tikhonov explicaram que esta força, a tensão superficial, que atua na superfície dos líquidos, geralmente, pode ser quantificada determinando-se o trabalho necessário para aumentar a área superficial. A tensão superficial surge nos líquidos como resultados do desequilíbrio entre as forças agindo sobre as moléculas da superfície em relação àquelas que se encontram no interior da solução (ADAMSON; GAST, 1997). Pela mesma razão ocorre a formação dos meniscos, e a conseqüente diferença de pressões através de superfícies curvas ocasiona o efeito denominado capilaridade (ROSENTHAL, 2001). O valor (ou ) é chamado de tensão interfacial (ou superficial) e é igual ao trabalho reversível necessário para aumentar a interface. Sua dimensão é N/m, o que é formalmente equivalente à energia interfacial (J/m²). Ambos os termos muitas vezes são equiparados, o que a rigor somente é verdadeiro sob condições isotermais e é permitido para corpos sólidos quando a energia mecânica de mudanças estruturais for desprezível (ADAMSON; GAST, 1997). As tensões interfaciais são conseqüências diretas das forças de interação intramoleculares. As tensões superficiais ou interfaciais de líquidos podem ser medidas diretamente por métodos tensiométricos. No entanto, tensões superficiais de sólidos somente podem ser determinadas indiretamente. O método usado com maior freqüência para determinar a tensão superficial de sólidos com baixa energia superficial (como plásticos) é a determinação dos dados do ângulo de molhabilidade (DESHMUKH; BHAT, 2003). A molhabilidade pode ser também considerada como um fenômeno cinético que contribui para uma boa difusão, pois é favorecida pelo contato das macromoléculas durante a migração de líquidos da superfície de um polímero para seu interior. Além disso, a molhabilidade de um polímero é também necessária para um bom mecanismo de adsorção, levando a formação de interações moleculares 43 como interações de Van de Waals, interações ácido-base e ligações de hidrogênio interfacial (GRANT; DUNN; MCCLURE, 1988). 3.6.3 Tensoativos Os tensoativos constituem uma classe importante de compostos químicos amplamente utilizados em diversos setores industriais. A grande maioria dos tensoativos disponíveis comercialmente é sintetizada a partir de derivados de petróleo (INAGARI; NARUSHIMA; LIM, 2003). Entretanto, o crescimento da preocupação ambiental entre os consumidores, combinado com novas legislações de controle do meio ambiente levaram à procura por tensoativos naturais como alternativa aos produtos existentes (NITSCHKE; PASTORE, 2002). Os tensoativos são moléculas anfipáticas constituídas de uma porção hidrofóbica e uma porção hidrofílica. A porção apolar é freqüentemente uma cadeia de hidrocarbonetos, enquanto a porção polar pode ser iônica (aniônica ou catiônica), não-iônica ou anfótera (DESAI; BANAT, 1997). Em função da presença de grupos hidrofílicos e hidrofóbicos na mesma molécula, os tensoativos tendem a se distribuir nas interfaces entre fases fluidas com diferentes graus de polaridade (óleo/água e água/óleo) (BOGNOLO, 1999). A formação de um filme molecular, ordenado nas interfaces, reduz a tensão interfacial ou superficial, sendo responsável pelas propriedades únicas dos tensoativos. Estas propriedades fazem os tensoativos serem adequadas para uma ampla gama de aplicações industriais envolvendo: detergência, emulsificação, lubrificação, capacidade espumante, capacidade molhante, aumento da solubilidade e dispersão de fases. A maior utilização dos tensoativos se concentra na indústria de produtos de limpeza (sabões e detergentes), na indústria de petróleo e na indústria de cosméticos e produtos de higiene (BANAT, 2000). Vários compostos com propriedades tensoativas são sintetizados por organismos vivos, desde plantas (saponinas) até microrganismos (glicolipídios) e também no organismo humano (sais biliares), sendo considerados tensoativos naturais (BOGNOLO, 1999). Atualmente, nos países industrializados 70-75% dos tensoativos consumidos são de origem petroquímica, enquanto que nos países em desenvolvimento os compostos de origem natural predominam (BANAT, 2000). 44 Entretanto, nos países industrializados existe uma tendência para a substituição dos tensoativos sintéticos pelos naturais. Esta tendência é movida pela necessidade de produtos mais brandos, pela necessidade de substituição de compostos não biodegradáveis (alquil benzenos ramificados) e pelo aumento da especificidade dos produtos (BOGNOLO, 1999). As principais características do uso de tensoativos estão relacionadas à formação de ambientes organizados, também conhecidos como ambientes micelares (QUN; AJUN, 2006). Os tensoativos são frequentemente empregados para modificar o meio reacional permitindo dissolução de espécies com baixa solubilidade. Também são capazes de promover um novo meio que pode modificar a velocidade reacional, a posição de equilíbrio das reações químicas e em alguns casos a estereoquímica destas dependendo da natureza da reação, do tipo de reativo (eletrofílico, nucleofílico, etc) e característica iônica (catiônica, aniônica) (RAUEN; DEBACHER; SIERRA, 2002). 3.6.4 Medidas da Tensão Superficial Na atualidade existem diversos métodos que podem ser empregados para a determinação da tensão superficial e estes são classificados em estáticos, dinâmicos e de desprendimento (ou separação) (DESHMUKH; BHAT, 2003). O Quadro 1 reúne os principais métodos usados para medir a tensão superficial. 45 Quadro 1: Métodos usados para medir a Tensão Superficial. Método Placa de Adequação Adequação Tempo de Precisão para soluções para líquidos efetivação [mN/m] tensoativos viscosos ~0,1 Limitado Muito bom >10 s ~0,1 Limitado Não >30 s Wilhelmy Anel de Du Nouy Pressão recomendado 0,1-0,3 Muito bom Máxima de Não 1 ms-100 s recomendado Bolha Ascensão <<0,1 Muito bom Capilar Volume da >10 s recomendado 0,1-0,2 Limitado Gota Gota Pendente Não Não 1 s-20min recomendado ~0,1 Muito bom Não >10 s recomendado Gota Séssil ~0,1 Bom Muito bom >10 s Fonte: Adaptado de MACLEOD; RADKE, 1993. 3.6.5. Método da Gota Pendente Tem como base o equilíbrio entre a força gravitacional e a tensão do líquido. Através da equação de Laplace-Young, é descrito o balanço entre força gravitacional e a tensão superficial (NETZ; GONZÁLEZ ORTEGA, 2002). A calibração da imagem é realizada através do diâmetro externo (mm) da seringa que é conhecido. Mede-se o número de pixels correspondentes ao diâmetro externo da seringa, obtendo-se a resolução da imagem em mm/pixel. A Figura 07 mostra a imagem da calibração destacando a simetria da gota em relação ao eixo z, possibilitando assim análise apenas de um dos lados. 46 Figura 07: Calibração da gota pendente. No ato da formação de uma gota de líquido, mediante escoamento livre e perpendicular do mesmo através de capilar, o volume da gota é inversamente proporcional à tensão superficial do líquido (NETZ; GONZÁLEZ ORTEGA, 2002). Na dinâmica do fenômeno, duas forças atuam simultaneamente e de modo oposto. Uma delas, a força ascendente (Fa), devida à tensão superficial, opõe-se à força descendente determinada pela massa da gota (Fd). A massa de cada gota é expressa como Vi x g, onde Vi é volume individual da gota e g, a força gravitacional. No momento imediatamente anterior ao desprendimento da gota, Fa e Fd se igualam. 3.7 Fármacos pouco solúveis – Triancinolona Para se ter um efeito terapêutico eficaz, todo fármaco, independentemente da via de administração, deve ter uma solubilidade em água, mesmo limitada. Por isso, substâncias relativamente insolúveis em água podem apresentar uma absorção incompleta, tornando recomendável o uso de sais solúveis ou de outros derivados químicos. Alternativas que podem ser utilizadas são a micronização, complexação ou técnicas de dispersão sólida. A solubilidade e, especialmente, o grau de saturação no veículo também podem ser importantes na absorção do fármaco já dissolvido em uma forma farmacêutica, uma vez que pode ocorrer a precipitação do fármaco no trato gastrintestinal, alterando a sua biodisponibilidade (AULTON, 1988). A solubilidade de fármacos no trato gastrintestinal também pode ser melhorada por meio da dissolução micelar. A capacidade dos sais biliares de aumentar a solubilidade de fármacos depende, especialmente, da lipofilia do fármaco (NAYLOR, 1995). 47 Uma característica comum entre os corticosteróides é a baixa solubilidade em água. Este fator limita o uso destes fármacos apesar de sua comprovada eficácia. Os corticosteróides exercem efeitos sobre quase todas as células, influenciando o metabolismo protéico, lipídico e glucídico, o balanço hidroeletrolítico, as funções cardiovascular, renal, da musculatura esquelética, do sistema nervoso e de praticamente todos os tecidos e órgãos. Desempenham um papel importante na homeostasia dos estímulos nóxicos internos e externos (BOSCH et al., 2004). Os corticosteróides são substâncias endógenas quimicamente classificadas como esteróides, originalmente identificados no córtex da glândula adrenal. A glândula adrenal consiste em duas pequenas glândulas dispostas acima dos rins. A porção externa da glândula adrenal, o córtex adrenal, é essencial para a vida. Sua origem embriológica é completamente diferente daquela da medula adrenal (RANG; DALE; RITTER, 2003). Os glicocorticóides possuem a propriedade terapêutica de diminuir significativamente a resposta inflamatória e suprimir a imunidade. O mecanismo exato é complexo e não totalmente compreendido. Contudo, sabe-se que a diminuição e a inibição dos linfócitos e macrófagos periféricos têm participação no processo (HARPER, 1997). Quanto à administração, os glicocorticóides podem ser administrados com outros fármacos para prevenir rejeição de órgãos transplantados e para o tratamento de certos tipos de neoplasias, como leucemias e linfomas (BOSCH et al., 2004). A Triancinolona (TC) Figura 8, e seus derivados, tais como, acetonida (TCA), acetato (TA), hexacetonida (THC), diacetato (TD), benetonida (TB) de triancinolona são corticosteróides da família de glicocorticóide, derivados naturalmente de prednisona e prednisolona (DAMIANI et al., 2001). Estes são antiinflamatórios e imunossupressores muito utilizados para o tratamento de várias enfermidades tais como artrites, osteoartrites, dermatites de contato e atópica, inflamações orais, lesões e úlceras, bursites, quelóides, desordens da pele, tais como psoríase e eczema, doenças relacionadas aos rins, olhos, anemia hemolítica, desordens intestinais, como colite ulcerativa e doença de Crohn, asma e alergias (BOSCH et al., 2004). 48 Figura 8: Estrutura química da Triancinolona. A triancinolona (TC, 9 -fluor-11 ,16 ,17 ,21-tetrahidroxipregna-1,4-diene3,20-diona) (Figura 08) é um potente glicocorticóide sintético de depósito com propriedades antiinflamatórias e imunossupressoras (BOOBIS et al., 1999). Atua inibindo a síntese de prostaglandinas e leucotrienos, com conseqüente efeito antiinflamatório (HOOD et al., 1999). A dose terapêutica da triancinolona é praticamente desprovida da ação mineralocorticóide, não provoca distúrbios psíquicos e nem os outros efeitos colaterais da hidrocortisona, porém estas ações variam conforme o paciente (MARTINDALE, 1999). Quando administrados 4 mg de triancinolona são equivalentes, em atividade antiinflamatória, a cerca de 5 mg de Prednisolona (e equivalentes à da metilprednisolona) (MORENO; MATOS; FEVEREIRO, 2001). Quanto aos efeitos colaterais, estes são semelhantes aos dos glicocorticóides. Dentre os componentes de ação intermediária, é o que possui meia vida mais longa (cerca de 5 horas) (DAMIANI et al., 2001). A triancinolona possui solubilidade em água de 80 mg/L. Na atualidade está disponível no mercado farmacêutico com as seguintes formas: pasta dental, ungüento tópico, spray nasal, suspensão intrasinovial, creme tópico, suspensão intramuscular, suspensão intra-articular. A solução a 1% em água possui pH de 4,5 a 6 e pka de 8,1 (DAMIANI et al., 2001). A farmacocinética da triancinolona administrada por via oral, como qualquer outro glicocorticóide, é rápida e completamente absorvida pelo trato gastrointestinal e liga-se às globulinas e à albumina séricas, em forma inativa. É rapidamente convertida no fígado. Por ser uma pequena molécula lipofílica penetra nas células 49 por difusão simples. Atinge o efeito máximo após administração oral em 1 a 2 horas e sua ação dura 1,25 a 1,5 dias. A meia vida plasmática da hidrocortisona é de 90 minutos e da triancinolona de 3,4 a 3,8 horas. A meia-vida biológica (tecidual) é de 18 a 36 horas (agente de ação intermediária). Seu metabolismo ocorre nas células hepáticas e em outras células, com excreção pela urina. Quase todos os metabólitos são excretados em 72 horas (MORENO; MATOS; FEVEREIRO, 2001). 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Material 4.1.1 Reagentes e Materiais Os reagentes e solventes utilizados neste experimento foram de grau analítico (PA) e usados sem purificação prévia. Os reagentes e solventes utilizados: • Ácido Monocloroacético (Labsynth), • Benzaldeído (Biotec), • Boroidreto de Sódio (Biotec), • Água Destilada, • Etanol (Biotec), • Álcool Isopropanol (Biotec), • Membrana de acetato de celulose, massa molecular de corte 12400 – Sigma Aldrich, • Triancinolona Base em pó (Galena, lote: TL 040402, Fabricação: 21/04/2004, Origem: China, Validade: 21/04/2009). • Quitosana em pó (Purifarma lote: K041120338, Origem: China, Fabricante: Golden Shell, data de fabricação: 12/2005, data de validade: 12/2007, fracionada em: 06/06/2006). • Células de fibroblasto L929 (linhagem não tumorogênica) (Banco de Células do Rio de Janeiro - RJCB). 4.1.2 Equipamentos Principais aparelhos utilizados: • Potenciômetro pHmetro (Digimed, DM-21) – Univali. • Viscosímetro de Ostwald-fenske – Univali. • Condutivímetro (CD-21 Digimed/Tecnal escalas µS/cm 2000, const. Cel. (cm-1) 1,0, coef. Temp. (%) = 2,0) – Univali. 51 • Tensiômetro (Dataphysics OCA-Contact Angle System 15 plus, voltagem 12 UDC, com força de 55W) – Laboratório de Bioquímica – UFPR. • Sonicador (Sonics – Vibra cell SIM Sonda 630-0209) – Laboratório de Bioquímica – UFPR. • Espectrofotômetro (Shimadzu UV 1601 - PC) – Univali. • Espectrofotômetro Infravermelho (Bomem MB 100) – Univali. • Espectrômetro de Ressonância Magnética Nuclear (Bruker – AC 300) – Univali. • Centrífuga (Fanem, Excelsa Baby, 206/1) – Univali. • Liofilizador (Micro Modulyo-115) – Univali. • Freezer (Ultralow/6511) – Univali. 4.2 Métodos: 4.2.1 Síntese da O-carboximetilquitosana Primeiramente, uma amostra de 26 g de hidróxido de sódio foi dissolvida em 20 mL de água e 180 mL de isopropanol. Em seguida, 20 g de pó de quitosana foi adicionado e agitado durante uma hora a - 8 °C, a fim de alcalinizar e provocar o intumescimento da quitosana. A mistura foi mantida em temperatura controlada em banho de gelo, e depois armazenada em temperatura - 8 °C por, no mínimo, 24 horas. Posteriormente, 30 g de ácido monocloroacético foram dissolvidos em 40 mL de isopropanol, que foram gotejados na mistura e reagiram por, no mínimo, 24 horas, à temperatura de - 8 °C. A reação foi interrompida pela adição de 400 mL de álcool etílico 70%. O sólido branco formado foi filtrado, enxaguado em álcool etílico 70-90% e seco a vácuo em temperatura ambiente. A seguir, 10 g do sal de NaCM-quitosana foi suspenso em 1 L de uma solução aquosa de álcool etílico 80%. Posteriormente, 100 mL de ácido clorídrico 37% foram adicionados e agitados por 30 minutos, a fim de obter a forma ácida do derivado. O sólido foi filtrado e enxaguado em álcool etílico 70-90% e seco a vácuo para neutralização (CHEN; PARK, 2003). 52 4.2.2 Síntese dos Derivados N-Benzilados Os derivados benzilados foram sintetizados partindo-se inicialmente de 3 g de O-CMQS-Na que foram dispersos em 300 mL de água. Em seguida, nesta dispersão foi adicionada uma solução de benzaldeído com relação molar de 0,1, 0,5, 1,0, 1,5 e 5,0, com base no monômero da O-CMQS, dissolvidos em metanol. A adição de benzaldeído à dispersão de O-CMQS realizou-se em temperatura ambiente e, posteriormente, a dispersão foi agitada durante 48 horas. O pH da dispersão foi ajustado para 4,5 com uma solução de NaOH 1 mol/L. Uma solução de boroidreto de sódio, contendo 1,5 g em 40 mL de água, foi adicionada. A solução em seguida foi agitada por uma hora e meia. Os derivados benzilados da O-CMQS formados foram precip itados e lavados pela adição de acetona. O aldeído em excesso e os produtos inorgânicos foram removidos através de purificação em Soxlet durante dois dias na presença de acetona. Depois, foram secos em dessecador em temperatura ambiente para a obtenção dos derivados desejados (RABEA et al., 2005). Conforme é mostrado na Tabela 1, foram obtidos sete derivados benzilados com diferentes relações molares partindo-se dos Lote 01 e 02 de O-CMQS. Tabela 1: Derivados benzilados obtidos a partir dos Lote 1 e 2 e relações molares de benzaldeído utilizadas Derivados Sintetizados O-CMQSB A Lote de partida 01 Relações molares de benzaldeído/O-CMQS 1:1 O-CMQSB B 01 0,1:1 O-CMQSB C 01 1,5:1 O-CMQSB D 02 0,5:1 O-CMQSB E 02 5,0:1 O-CMQSB F 02 1,5:1 O-CMQSB G 02 1,5*:1 *Preparado a partir da forma ácida. 53 O derivado anfifílico O-CMQSB G, apesar de possuir a mesma relação molar de benzaldeído do derivado O-CMQSB F é uma amostra diferente, pois, a metodologia de síntese deste derivado partiu da forma ácida da O-CMQS. Todos os outros derivados benzilados foram sintetizados partindo-se de amostras na forma salina. As amostras O-CMQSB C e O-CMQSB F apesar de possuirem a mesma relação molar apresentam diferenças entre si quanto o lote de partida. O derivado OCMQSB C foi sintetizado a partir do Lote 1 da O-CMQS, já a O-CMQSB F foi sintetizada a partir do Lote 2 da O-CMQS. 4.3 Caracterização dos Polímeros 4.3.1 Titulação Condutimétrica da O-CMQS Para determinar o grau de carboximetilação da O-CMQS foram dispersos 50 mg de O-CMQS, na forma ácida, em 60 mL de água. Em seguida, foram adicionadas alíquotas de 0,25 mL de NaOH 0,1 mol/L com o auxílio de uma bureta, sob agitação constante. Os valores da condutividade foram obtidos com o auxílio de um condutivímetro. Os dados obtidos foram utilizados para construir um gráfico de condutividade versus volume de hidróxido de sódio adicionado (CASU; GENNARO, 1975). Os valores dos dois volumes (V1 e V2) foram obtidos através da primeira derivada e foram substituidos na Equação 1 para calcular o grau de carboximetilação. CH2 COO% = V2 – V1 x 5,8 x 100 Equação 1 50 mg Onde: • V2 e V1 – volume de titulante no primeiro e no segundo ponto de inflexão • 5,8 – relativo a massa molecular do acetato • 50 mg – massa do polímero pesado 54 4.3.2 Titulação Potenciométrica da O-CMQS e derivados benzilados Para determinar o percentual de grupos amino remanescentes na O-CMQS e nos derivados benzilados foram dispersos 50 mg da amostra na forma acidificada em 45 mL de água. Em seguida, o pH foi ajustado para 2,0 e posteriormente foram adicionadas alíquotas de 0,25 mL de NaOH 0,1 mol/L com o auxílio de uma bureta e sob agitação constante. Todos os valores da potenciometria foram obtidos com o auxílio de um pHmetro. Os dados obtidos foram empregados para construir um gráfico de pH versus volume de NaOH adicionado. Este procedimento para caracterização dos polímeros, por titulação potenciométrica, também foi realizado para os derivados benzilados na forma ácida e forma salina. A partir dos dois volumes obtidos através da aplicação da primeira derivada, foi possível calcular a porcentagem de NH2 livre após a carboximetilação aplicandose a Equação 2. %NH2 = M NaOH (V2 – V1) 161 x 100 m Equação 2 Onde: • MNaOH é a molaridade da solução de NaOH (mol/L), • V1 e V2 são os volumes de NaOH usados respectivamente para neutralizar o excesso de HCl e o NH3+, • 161 é a massa molecular da unidade monomérica da quitosana, • m é a massa de amostra utilizada para a titulação, em gramas. 4.3.3 Espectroscopia no Ultravioleta Para a espectroscopia de absorção na região de Ultravioleta, as amostras dos polímeros O-CMQS e O-CMQSB na concentração de 1 mg/mL foram dispersas e analisadas em espectrofotômetro em varredura 800-200 nm. Os espectros foram 55 obtidos no laboratório de instrumentação analítica do Curso de Farmácia da UNIVALI. 4.3.4 Espectroscopia no Infravermelho Para a espectroscopia de absorção na região do infravermelho as amostras dos polímeros O-CMQS e O-CMQSB foram trituradas com brometo de potássio na proporção de 100:2 mg de polímero. Os espectros foram obtidos em espectrofotômetro no laboratório de instrumentação analítica do Curso de Farmácia da UNIVALI. 4.3.5 Espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear Para a espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear as amostras dos polímeros O-CMQS e O-CMQSB na concentração de 20 mg/mL foram dissolvidas em CD3COOD/D2O em temperatura ambiente. Os espectros foram obtidos no laboratório de Ressonância Magnética Nuclear do Curso de Fármacia da UNIVALI. O grau de susbtituição dos derivados benzilados foi calculado através dos valores das integrais dos espectros de RMN de 1H. A metodologia utilizada para a determinação do grau de substituição (GS) dos grupos NH2 da O-CMTS pelo benzaldeído foi a de Liu e colaboradores (2006). O método está fundamentado na relação entre o valor da integral dos hidrogênios aromáticos (próximo a 7,0 ppm) e o valor da integral do hidrogênio ligado ao C-2 do anel glicosídico (em torno de 3,0 ppm) de acordo com a Equação 3. GS = [(AI 1H arom)/ (AI 1H C-2)]x(1/N 1H arom) Equação 3 Onde: AI 1H arom- área correspondente a integral dos hidrogênios aromáticos AI 1H C-2 - área correspondente a integral do hidrogênio ligado ao C-2 N 1H arom – número de prótons ligado ao anel aromático. 56 4.4 Viscosidade Intrínseca Inicialmente foram pesadas cinco amostras diferentes de O-CMQS e também dos derivados benzilados obtidos nas seguintes concentrações: 0,050, 0,100, 0,150, 0,200 e 0,250 g, as quais foram dispersos em 25 mL de água destilada obtendo respectivamente dispersões de 0,5, 1,0, 1,5, 2,0 e 2,5 %. Posteriormente, foi adicionado às dispersões 145 mg de NaCl, obtendo assim uma concentração do sal de 0,1 mol/L. Com auxílio do viscosímetro de Ostwald-fenske, foi analisado o tempo de escoamento de cada solução a temperatura próxima a 25 ºC. Obtendo assim a leitura na primeira concentração do sal. Depois de realizada a leitura na concentração de NaCl 0,1 mol/L, adicionou-se mais 580 mg de NaCl em cada amostra para obter a concentração 0,5 mol/L, realizando-se assim a segunda leitura. Cada ensaio foi repetido até alcançar uma variação inferior a 0,5% (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 1988). As viscosidades relativas de todos os derivados testados foram obtidas a partir da utilização do viscosímetro capilar de Ostwald-fenske e de um cronômetro para registrar o tempo de escoamento do líquido através do capilar, utilizando-se água como líquido de referência para calibração do viscosímetro. A viscosidade relativa ( rel) foi obtida através da Equação 4 : rel Onde: rel = t sol / to Equação 4 : viscosidade relativa da amostra tsol : tempo de escoamento de cada uma das dispersões to : tempo de escoamento do solvente. A viscosidade específica ( esp) esp Onde: esp: rel: Equação 5 viscosidade relativa da amostra red) red red: = nrel – 1 viscosidade específica da amostra A viscosidade reduzida ( Onde: foi obtida através da Equação 5: foi obtida aplicando-se a Equação 6: = esp /C viscosidade reduzida da amostra Equação 6 57 esp: viscosidade específica da amostra C: concentração da dispersão polimérica A viscosidade intrínseca foi determinada a partir de representação gráfica da relação de Huggins, pela extrapolação da red em função da concentração em polímero (C), extrapolando a reta à concentração nula conforme ilustrado na Equação 7. red Onde: red: = [ ] + C.Kh.[ ]2 Equação 7 viscosidade reduzida da amostra [ ]: viscosidade intrínseca da amostra C: concentração da solução Kh: constante de Huggins A partir da viscosidade intrínseca foi determinado a massa molecular viscosimétrica média (Mw), determinada a partir da equação de Mark-HouwinkSakurada conforme Equação 8. [η] = K Mwa Equação 8 Onde: [η]: viscosidade intrínseca da dispersão; K e a: constantes que dependem do polímero e do sistema de solvente utilizado. 4.5 Solubilidade dos derivados Para o teste de solubilidade foram preparados 100 mL de dispersão de cada derivado sintetizado: O-CMQS (Lotes 01 e 02) e O-CMQSB A (1:1), O-CMQSB B (0,1:1), O-CMQSB C (1,5:1), O-CMQSB D (0,5:1), O-CMQSB E (5:1), O-CMQSB F(1,5:1) e O-CMQSB G (1,5:1), na concentração de 1 mg/mL. O pH da dispersão polimérica foi reduzido para 2,0 com HCl 0,1 mol/L. Então, em seguida foi adicionado NaOH 0,1 mol/L a fim de aumentar o pH em uma unidade. Cada 58 dispersão polimérica teve ajustado o pH de 2 a 12, sendo que de cada leitura do pH ajustado foi retirada uma alíquota de 3 mL em tubo de ensaio para ser analisada. A leitura da transmitância das amostras foram realizadas em 600 nm, em espectrofotômetro. Sendo considerado; Solúvel T > 99% Levemente Solúvel T 85 – 99% Insolúvel abaixo de 85% 4.6 Determinação da Tensão Superficial As medidas de tensão superficial foram realizadas em Curitiba no laboratório de Bioquímica na Universidade Federal do Paraná. Para os testes de tensão superficial foram preparadas diluições das amostras sintetizadas de O-CMQS e O-CMQSB em água destilada nas seguintes concentrações: 0,001, 0,01, 0,1, 1,0 e 1,2 mg/mL. As amostras foram dispersas 24 horas antes do experimento. A dispersão ocorreu em pH ácido (2,0) e pH básico (10,0). Antes de iniciar o experimento todas as diluições foram ambientadas por duas horas em temperatura ambiente (25 ºC aproximadamente). A leitura dos testes foi realizada em aparelho tensiômetro (ANEXO A, p. 122). Foi utilizado o programa de software SCA 20 para obtenção dos dados através do método da gota pendente. O método da gota pendente consiste essencialmente de uma câmara experimental aquecida onde a gota é formada, de um sistema óptico para capturar a imagem da gota pendente e de um sistema de aquisição de dados num microcomputador pentium PC para inferir a tensão superficial do perfil da gota. Um procedimento de digitalização automático foi usado nas medidas de tensão superficial apresentadas neste trabalho. A imagem da gota pendente é digitalizada por um frame grabber interligado num microcomputador PC e as medidas de tensão superficial são analisadas (COSTA et al., 2006). Este procedimento foi realizado também para as dispersões contendo o fármaco triancinolona. 4.7 Determinação de Hidrofobicidade por Sudan III Os experimentos de verificação da hidrofobicidade dos polímeros sintetizados foram realizados utilizando-se o método descrito por Oh e colaboradores (2006), 59 com modificações. Inicialmente foi preparada a solução estoque do corante hidrofóbico Sudan III (10 mg/mL) em clorofórmio. A Figura 9 mostra a estrutura do Sudan III. Figura 9: Representação da estrutura química do Sudan III. Os polímeros O-CMQS e O-CMQSB foram dispersos em água numa concentração de 1 mg/mL, compondo a dispersão inicial. Posteriormente, volumes de 0,02 mL, 0,1 mL, 0,2 mL, 0,3 mL e 0,4 mL da dispersão estoque foram diluídos para 5 mL com água em duas dispersões diferentes: uma com pH ácido em torno de 2,0 e outra em pH básico em torno de 10,0. Nestas dispersões foi adicionado 1 mL da solução estoque de Sudan III. As amostras foram agitadas por 24 horas a fim de estabelecer a homogeneidade entre as substâncias misturadas (ANEXO B, p. 123). Após o período de 24 horas de repouso foi realizada a leitura da absorbância da fase aquosa, em 540 nm, correspondendo ao pico máximo de absorção do Sudan III, usando-se água como branco para leitura em cubeta de quartzo. O cálculo do corante dissolvido foi realizado com auxílio de uma curva padrão do Sudan III em clorofórmio. 4.8 Citotoxicidade das matrizes As células de fibroblasto L929 (linhagem não tumorogênica) foram obtidas do Banco de Células do Rio de Janeiro (RJCB Collection). Estas foram crescidas em meio DMEM (Meio Modificado Dulbeccos Eagles), suplementado com 10% de soro fetal bovino, 10 mmoL/L de L-glutamina e 1% de aminoácidos não essenciais, 100 µg/mL de penicilina e 100 ug/mL de estreptomicina, em estufa a 37 ºC , com 5% de CO2/95 ar. A citotoxicidade celular foi realizada utilizando-se 6 concentrações crescentes da O-CMQS e O-CMQSB a saber 1000, 100, 10, 1, 0,1 e 0,01 µg/mL, que foram dissolvidas em meio DMEM e esterilizados por filtração por 0,22 µm. Após 60 24 horas de incubação das células plaqueadas a 20000 células/poço, o meio de cultura foi substituído por meio ausente de soro fetal bovino contendo as diluições apresentadas e incubadas por 1 e 24 horas. Posteriormente, o meio contendo as amostras foi substituído por novo meio de cultura com ausência de soro fetal bovino e aplicados 20 µL de uma solução de (3-[4,5-Dimetil Tiazol-2-yl]-2,5- Brometo Difeniltetrazolium) (MTT) estéril, em tampão PBS, pH 7,4 (5mg/mL), para gerar uma concentração final de 0,5 mg MTT/mL. Após 4 horas, o corante não reativo foi removido por inversão e os cristais de formazan insolúveis formados foram dissolvidos em 200 µL/poço de Dimetil Sulfóxido (DMSO). A quantificação celular foi realizada a 570 nm (INVITTOX/ERGATT/FRAME, 1990). A morte celular foi caracterizada como necrose por lactato desidrogenase (LDH) e apoptose por Annexina V conjugada com isotiocianato de fluoresceína (FITC) e atividade de caspase 3. Os testes de citotoxicidade foram realizados no laboratório de Farmacologia in vitro da UNIVALI. 4.9 Solubilidade do fármaco Triancinolona Neste experimento foram utilizados dispersões de O-CMQS e O-CMQSB nas concentrações de 0,2; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 mg/mL. Em 10 mL destas dispersões foram adicionadas 2 mg de TC. Posteriormente os tubos de ensaio foram agitados durante 24 horas a fim de garantir a saturação dos derivados e formação dos complexos, este experimento foi realizado em pH 4,0 e 9,0. A triancinolona não incorporada foi removida por centrifugação. Este procedimento também foi realizado com uma solução aquosa de TC em pH 4,0 e 9,0 para efeito comparativo. A quantidade de fármaco incorporado foi determinada por espectrofotometria no ultravioleta, com leitura da absorbância em 242 nm. Os cálculos foram realizados com base na absorbância da curva padrão analítica preparada com a TC dissolvida numa solução de metanol/água 10/90 na concentração de 1 mg/mL. Todas as soluções incluindo as dispersões poliméricas e curva padrão analítica, foram diluídas 10 vezes antes da leitura. 61 4.10 Liberação do Fármaco Triancinolona in vitro Primeiramente foram pesados 50 mg do polímero de O-CMQS Lote 02 e 50 mg do polímero O-CMQSB F, que foram dispersas em 20 mL de água. Após agitação foram adicionados 20 mg de TC. As misturas ficaram sob agitação por mais 12 horas. Posteriormente, 10 mL destas dispersões foram colocadas numa membrana de diálise (membrana de acetato de celulose, massa molecular de corte 12400 – Sigma Aldrich). Uma terceira membrana foi preenchida com 10 mL de água e 10 mg de TC. Estas membranas foram mergulhadas em 250 mL de solução tampão fosfato pH 7,4 utilizada como solução receptora, sob agitação constante em temperatura ambiente. Em intervalos de tempo pré-determinados de 0, 15, 30, 60, 90, 120, 150, 360, 420, 480, 1380 minutos foi retirado 1 mL do meio para quantificar a absorbância em 242 nm por espectrofotômetro no Ultravioleta. Para o cálculo da liberação da TC foi aplicado o modelo do coeficiente de difusão mostrado na Equação 9 Ln[(1-Mt)/M∞] = (ln8/π2 ) – [(Dπ2)/l2]t Equação 9 Onde: Mt quantidade de TC liberada no tempo t M∞ quantidade de TC liberada no equilíbrio l espessura da membrana utilizada (51µm) D coeficiente de difusão da TC. O comportamento de liberação da TC, nos diferentes sistemas, foi avaliado segundo o modelo de cinética de liberação de Higuchi mostrado na Equação 10. Q = K.t1/2 Equação 10 Onde: Q representa a porcentagem de TC liberada K constante aparente de liberação t tempo 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Síntese e Caracterização dos Derivados Sintetizados 5.1.1 Síntese da O-CMQS e O-CMQSB Na síntese da O-CMQS foi utilizado o método descrito por Chen e Park (2003) modificado, partindo-se da quitosana com grau de desacetilação de 80%. As modificações foram feitas em relação a temperatura e o tempo de reação. A síntese dos derivados foi realizada em banho de gelo próximo a 0 °C e o armazenamento ocorreu num período mínimo de 24 horas a - 8 °C, em congelador. Os demais procedimentos do método também foram realizados em banho de gelo, visando trabalhar em temperatura próxima de 0 °C, para que a substituição fosse direcionada para a posição da hidroxila do carbono 6 permanecendo o grupamento NH2 livre. A Figura 10 representa a reação da síntese do derivado O-CMQS. Figura 10: Representação esquemática da reação de síntese da O-CMQS. Os derivados O-CMQS foram sintetizados em dois momentos diferentes, partindo-se da mesma metodologia, a fim de produzir dois lotes: O-CMQS Lote 01 e O-CMQS Lote 02. Os dois derivados obtidos são do mesmo lote de quitosana de partida. Na Tabela 2 constam os rendimentos obtidos da síntese dos dois lotes produzidos. Tabela 2: Rendimentos dos derivados O-CMQS Lote 01 e 02 Polímeros Massa Massa obtida Rendimento (%) pH Sintetizados quitosana (g) (g) Lote 01 20 17,19 85,95 9,57 Lote 02 20 17,24 90,85 9,03 (1 mg/mL) 63 O pH da dispersão da O-CMQS Lote 01 e Lote 02 são próximos a 9,0 devido ao processo de síntese no qual é utilizada uma condição extremamente básica, tendo como resultado um polímero na forma salina. A posterior conversão para a forma ácida, através da dispersão do polímero numa solução etanólica ácida, resulta num polímero que quando disperso em água apresenta um pH próximo a 4,2. As sínteses dos derivados anfifílicos, contendo grupos benzênicos em sua estrutura, foram realizadas através de reações entre o benzaldeído e os derivados carboximetilados da quitosana através da formação das bases de Schiff (reação entre a carbonila do aldeído e os grupos amino do polímero) levando à formação de uma imina. Esta imina foi posteriormente reduzida para a obtenção dos respectivos derivados, em um processo conhecido como aminação redutiva. Foram utilizados os derivados O-CMQS Lote 1 e Lote 2 como material de partida para a obtenção dos derivados anfifílicos com diferentes relações molares entre os lotes e o benzaldeído segundo a ordem de 1:0,1, 1:0,5, 1:1, 1:1,5 e 1:5. Os cálculos foram feitos com base na massa molar do monômero da O-CMQS (209,0 mg/mL). A Figura 11 mostra a reação de obtenção da O-CMQSB N-benzilada. Figura 11: Representação esquemática da reação de obtenção da O-CMQSB N-Benzilada. Na Tabela 3 estão listados os valores da massa, rendimento obtido na síntese, bem como o pH da solução aquosa dos derivados. Conforme pode ser observado, neste caso também o pH da dispersão aquosa dos derivados em água está próximo de 9,0. O pH da dispersão dos derivados anfifílicos estão levemente básico resultado da adição do NaBH4. Portanto, os derivados obtidos na síntese estão na forma salina. 64 Tabela 3: Rendimentos dos derivados O-CMQSB benzilados sintetizados. Derivados Sintetizados Massa obtida (g) Rendimento obtido (%) pH** A Lote de Relações partida molares de benzaldeído/OCMQS 01 1:1 4,99 79,15 8,63 B 01 0,1:1 4,53 72,13 8,95 C 01 1,5:1 5,3 84,39 8,85 D 02 0,5:1 4,92 78,34 9,11 E 02 5,0:1 5,19 84,23 9,07 F 02 1,5:1 5,13 81,68 8,99 G 02 1,5*:1 4,69 74,68 8,75 *método modificado. **pH em dispersão aquosa. A escolha do método homogêneo de síntese dos derivados anfifílicos tem como principal desvantagem o consumo de solvente orgânico para a obtenção do sólido. Apesar desta desvantagem, este método foi escolhido uma vez que resultados anteriores, utilizando o método heterogêneo resultaram em materiais com baixa solubilidade, mesmo em valores de pH no qual os derivados da quitosana são solúveis (DEBRASSI, 2008). 5.1.2 Titulação Condutivimétrica A condutividade é a medida da mobilidade das espécies iônicas em solução e depende do número de íons presente. Para eletrólitos fortes, a concentração de íons na solução é diretamente proporcional à concentração de eletrólito adicionado à solução, enquanto que para eletrólitos fracos, a concentração de íons na solução depende de seu equilíbrio de dissociação: a condutividade depende do número de íons presente e, portanto, do grau de ionização do eletrólito (CASU; GENNARO, 1975). O princípio básico das titulações condutimétricas é a substituição dos íons que têm certa condutividade, por outros íons, com condutividade diferente (MUZZARELILI et al., 1982). Com as curvas de titulação condutivimétricas e os 65 respectivos pontos de inflexão foi possível calcular o percentual de substituição, determinando o grau de carboximetilação (GC), aplicando a Equação 1 (p. 53) . Os resultados e os valores são mostrados na Figura 12. 1800 O-CMQTS LOTE 01 O-CMQTS LOTE 02 1600 CONDUTÂNCIA (µS) 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 VOLUME DE NaOH (mL) Figura 12: Curva de Titulação Condutimétrica da O-CMQS Lote 01 e Lote 02. Massa de amostra de 50 mg, temperatura de 25 °C (+/-1°C) tituladas com solução de NaOH 0,1 mol/L. Com auxílio da curva de titulação foram encontrados os volumes de hidróxido de sódio que após a aplicação na Equação 1 resultaram nos valores mostrados na Tabela 4. A preparação dos lotes em etapas diferentes teve como resultado polímeros com praticamente o mesmo GC. Tabela 4: Grau de carboximetilação dos derivados Lote 01 e 02 sintetizados. Polímeros O-CMQS V1 (mL) V2 (mL) Grau de Carboximetilação (%) Lote 01 2,0 3,25 20,3 Lote 02 0,25 2,25 23,2 Os GC encontrados estão de acordo com Casu e Gennaro (1975) e encontram-se dentro da faixa dos valores de 14 – 58% descritos por Muzzarelli et al (1982). Contudo, o valor está muito distante daquele relatado por Chen e Park (2003), que realizaram a síntese em temperaturas elevadas na faixa de 20 – 60 oC, e 66 obtiveram GC que variou entre 60 e 120 %, porém os polímeros resultantes apresentavam a carboximetilação em diferente posições como o C-6, C-3 e NH2 da quitosana. 5.1.3 Titulação Potenciométrica Na titulação potenciométrica a medida do potencial de um indicador foi usada para acompanhar a variação da concentração da espécie iônica envolvida na reação, e assim detectar o ponto final da titulação. A titulação potenciométrica, como apresentado na Figura 13, foi utlilizada primeiramente para a determinação da quantidade de grupos NH2 que permaneceram livres após o processo de carboximetilação. 12 10 pH 8 6 4 O-CMQS L1 2 O-CMQS L2 1 derivada a O-CMQS L1 1 derivada O-CMQS L2 a 0 0 5 10 15 20 25 30 Volume de NaOH (mL) Figura 13: Curva de titulação potenciométrica da O-CMQS Lote 01 e Lote 02 na forma acidificada (pH 2,0). Massa de amostra de 50 mg, temperatura de 25 °C (+/-1°C), e tituladas com solução de NaOH 0,1 mol/L. Neste experimento o pH da solução de O-CMQS foi ajustado para 2,0 com HCl e em seguida esta solução foi titulada com NaOH. O resultado deste procedimento está mostrado na Figura 13. O perfil das curvas mostram três inflexões atribuída a neutralização dos ácidos fracos –CH3COOH e –NH3+ e do HCl em torno de 10,15 e 18 mL, respectivamente. 67 No mesmo gráfico também é mostrado a primeira derivada, método mais indicado para a determinação dos volumes de neutralização das espécies presente na solução. Como podem ser observados, os dois lotes apresentam o mesmo comportamento durante o processo de titulação, mostrando que não existe diferenças significativas entre eles. Os volumes dos pontos de neutralização foram aplicados na Equação 2 (p.54) e os resultados são mostrados na Tabela 5. O grau de desacetilação da quitosana foi de 80 %. Tabela 5: Percentual de grupos amino protonáveis dos lotes sintetizados. Polímeros O-CMQS V1 (mL) V2 (mL) Grupos amino (%) Lote 01 11,8 18,8 66,7 Lote 02 11,3 17,6 68,6 Apesar do controle da temperatura próxima a 0o C, ocorreu a carboximetilação também nos grupos NH2 da quitosana. A carboximetilação da amina livre também foi observada por Chen e Park (2003) mesmo trabalhando numa faixa de temperatura mais alta, no caso destes pesquisadores o GC nos grupos amina livre ficou em torno de 10 %. Na Figura 14 é mostrada a curva de titulação da O-CMQS Lote 01 e O-CMQS Lote 2 na forma ácida. Conforme mencionado anteriormente, o pH inicial da dispersão foi aproximadamente 4,0. Quando comparado com a titulação no qual o pH da dispersão foi ajustada para 2,0 (com HCl) é possível notar uma diferença significativa no perfil das curvas de titulação. Neste caso, na ausência do HCl, as curvas representam apenas a neutralização dos ácidos fracos presentes nos polímeros que neste caso são os grupos –CH3COOH e –NH3+. As várias inflexões que aparecem nas curvas estão relacionadas com as diferentes substituições que ocorreram durante o processo de síntese, entre as quais se pode citar: carboximetilação do C6, C3 e NH2 resultando em diferentes unidades monoméricas no polímero. Este comportamento também é observado na titulação da forma salina dos derivados com HCl, conforme mostrado na Figura 15. 68 13 12 O-CMQTS LOTE 01 O-CMQTS LOTE 02 11 10 pH 9 8 7 6 5 4 3 0 2 4 6 8 VO LUME DE NaOH (mL) Figura 14: Curva de Titulação potenciométrica da O-CMQS Lote 01 e Lote 02 na forma ácida. Massa de amostra de 50 mg, temperatura de 25 °C (+/-1°C), e tituladas com solução de NaOH 0,1 mol/L. 10 O-CMQS LOTE 01 O-CMQS LOTE 02 9 8 pH 7 6 5 4 3 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 VOLUME DE HCl (mL) Figura 15: Curva de titulação potenciométrica da O-CMQS Lote 01 e Lote 02 na forma salina. Massa de amostra de 50 mg, temperatura de 25 °C (+/-1°C) tituladas com solução de HCl 0,1 mol/L. Utilizando-se da mesma técnica já descrita para a caracterização por titulação potenciométrica das amostras de O-CMQS Lote 01 e Lote 02 foram realizadas as caracterizações para os derivados benzilados. O mesmo padrão de caracterização foi realizado para as titulações potenciométricas na forma ácida, forma salina e 69 forma acidificada. A Figura 16 representa o gráfico que foi construído com os resultados obtidos na forma acidificada, já as Figuras 17 e 18 representam a forma salina e forma ácida, respectivamente. 12 10 O-CMQSB O-CMQSB O-CMQSB O-CMQSB O-CMQSB O-CMQSB O-CMQSB pH 8 6 A B C D E F G 4 2 0 2 4 6 8 10 VOLUME DE NaOH (mL) Figura 16: Curva de titulação potenciométrica da O-CMQSB A, B, C, D, E, F, G na forma acidificada com pH 2,0 (HCl 0,1 mol/L). Massa de amostra de 50 mg, temperatura de 25 °C (+/-1°C), tituladas com solução de NaOH 0,1 mol/L. O-CM QSB O-CM QSB O-CM QSB O-CM QSB O-CM QSB O-CM QSB O-CM QSB 10 9 8 A B C D E F G pH 7 6 5 4 3 0 2 4 6 8 10 12 VOLUME DE HCl (mL) Figura 17: Curva de titulação potenciométrica da O-CMQS A, B, C, D, E, F e G na forma salina. Massa de amostra de 50 mg, temperatura de 25 °C (+/-1°C), e tituladas com solução de HCl 0,1 mol/L. 70 14 12 pH 10 O-CMQSB A O-CMQSB B O-CMQSB C O-CMQSB D O-CMTSB E O-CMQSB F O-CMQSB G 8 6 4 0 2 4 6 8 VOLUME DE NaOH (mL) Figura 18: Curva de titulação potenciométrica da O-CMQSB A, B, C, D, E, F e G na forma ácida pH em torno de 4,0. Massa de amostra de 50 mg, temperatura de 25 °C (+/-1°C), e tituladas com solução de NaOH 0,1 mol/L. A análise dos perfis das curvas de titulação mostra que não existe uma relação direta entre a quantidade de aldeído utilizada na síntese e os resultados da titulação potenciométrica. Devido a presença de mais um substituinte na cadeia polimérica (anel aromático) a interpretação das curvas fica mais difícil. Por este motivo esta metodologia não foi utilizada para a determinação da quantidade de NH2 e, consequentemente, o grau de substituição dos grupos NH2 pelo anel aromático. A complexidade das curvas de titulação pode ser observada nas Figuras 17 e 18 que representam a titulação dos derivados anfifílicos na forma salina e ácida, respectivamente. De maneira geral podemos observar que na ausência de HCl ou NaOH na dispersão inicial, não existe diferença significativas das curvas de titulação. 5.1.4 Espectroscopia no Ultravioleta (UV) dos derivados sintetizados Medidas de absorção baseadas em radiação ultravioleta encontram vasta aplicação para identificação e determinação de muitas espécies inorgânicas e orgânicas. Os métodos de absorção molecular talvez sejam os mais amplamente usados dentre todas as técnicas de análises quantitativas em laboratórios químicos (LIMA, 1997). 71 A espectroscopia de absorção ultravioleta envolve a absorção de luz UV por uma molécula promovendo o deslocamento de um elétron desde um orbital molecular fundamental a um orbital excitado. As características de absorção das moléculas orgânicas na região no ultravioleta dependem das transições eletrônicas que podem ocorrer e dos efeitos do ambiente em que estão os átomos sobre as transições (SILVERSTEIN; BASSELER; MORRIL, 1994). No presente trabalho a metodologia no UV foi utilizada para a análise qualitativa dos derivados O-CMQS Lote 01 e O-CMQSB A, B, D, E, e G, conforme é mostrado na Figura 19. 4 ,0 3 ,5 O - C M Q S L o te 0 1 O -C M Q S B A O -C M Q S B B O -C M Q S B D O -C M Q S B E O -C M Q S B G ABSORBÂNCIA (µ.a) 3 ,0 2 ,5 2 ,0 1 ,5 1 ,0 0 ,5 0 ,0 200 300 C O M P R IM E N T O D E O N D A ( n m ) Figura 19: Perfil de absorbâncias obtidas dos derivados sintetizados benzilados e não benzilados, em água. A espectroscopia na região no ultravioleta é a forma mais simples de verificar se ocorreu a introdução do anel benzênico na O-CMQS. Conforme mostrado na Figura 19 existe uma diferença muito grande entre os espectros dos derivados anfifílicos e da O-CMQS. Nos derivados é possível observar uma banda na região próxima a 250 nm, atribuída a presença do anel no polímero. Por outro lado, na OCMQS esta banda está ausente. A posição desta banda está muito próxima dos valores para o tolueno, 262 nm (SILVERSTEIN; BASSELER; MORRIL, 1994). 72 5.1.5 Espectroscopia no infravermelho (FT-IR) A espectroscopia na região do infravermelho (IV) é uma técnica de grande importância na análise orgânica qualitativa, sendo amplamente utilizadas nas áreas de química de produtos naturais, síntese e transformações orgânicas. O infravermelho e demais métodos espectroscópicos modernos como a ressonância magnética nuclear de hidrogênio (RMN–1H) são, na atualidade, muito utilizados em trabalhos de pesquisa a fim de caracterizar polímeros e seus derivados hidrofóbicos (LOPES; FASCIO, 2004). A condição para que ocorra absorção da radiação na região do infravermelho é que haja variação do momento de dipolo elétrico da molécula como conseqüência de seu movimento vibracional ou rotacional (o momento de dipolo é determinado pela magnitude da diferença de carga e a distância entre dois centros de carga) (SILVERSTEIN; BASSELER; MORRIL, 1994). Somente nessas circunstâncias o campo elétrico alternante da radiação incidente interage com a molécula, originando os espectros. De outra forma, pode-se dizer que o espectro de absorção no infravermelho tem origem quando a radiação eletromagnética incidente tem uma componente com freqüência correspondente a uma transição entre dois níveis vibracionais (SILVERSTEIN; BASSELER; MORRIL, 1994). As bandas de absorção características dos derivados sintetizados Lote 1 e 2 foram obtidas de amostras na forma salina e ácida. Na Figura 20 estão destacados os espectros de infravermelho na forma salina e na Figura 21 em pH ácido. Na Figura 20, analisando os dois espectros de IV dos lotes 1 e 2, semelhanças podem ser observadas pela presença de bandas características nos sinais em 1076 cm-1 (C–O– estiramento), 1610 cm-1 (–COOH), 3400 cm-1 (–O–H estiramento). O IV realizado na forma salina não evidencia outras bandas, somente dá destaque para as bandas enumeradas. Os dois lotes se comportam de forma semelhante. 73 65 O -C M Q S L o te 0 1 O -C M Q S L o te 0 2 60 TRANSMITÂNCIA 55 50 45 40 35 30 25 4000 3500 3000 2000 1500 1000 500 N ú m e ro d e o n d a (c m -1 ) Figura 20: Espectro de infravermelho da O-CMQS Lote 01 e Lote 02 na forma salina, leitura em temperatura ambiente. Na comparação dos espectros das amostras dos Lotes 1 e 2 da O-CMQS (Figura 21) em pH ácido, obtidos sobre os suportes de pastilhas de KBr, e relacionados com dados da literatura, foram observadas diferenças significativas entre os espectros. 65 60 Transmitância (%) 55 50 45 40 35 30 25 4000 O-CMQS lote 1 O-CMQS lote 2 3500 3000 2000 1500 1000 500 -1 Número de onda (cm ) Figura 21: Espectro de infravermelho da O-CMQS Lote 01 e Lote 02 em pH ácido, leitura em temperatura ambiente. 74 Na Figura 21 aparecem os seguintes sinais: em 1650 cm-1 (–COOH), 1490 cm-1 (–NH2), 2900 cm-1 (estiramento C–H), 1060 cm-1, 1030 cm-1 e 1160 cm-1 representa –C–O estiramento, –CH2–OH no álcool primário e –C–O–C– no éter, respectivamente. Os picos observados em 1590 cm-1 e 1410 cm-1 representam estiramento assimétrico e estiramento simétrico de –COO-. Picos em 3420 cm-1 e 2920 cm-1 estiramento em –O–H e –C–H, respectivamente. Em 1400 cm-1 o pico é resultado da sobreposição dos picos NH2, –COOH e –COO-. No derivado Lote 01 os picos são menores quando comparados com os picos do Lote 02. Também pode ser observado que para o Lote 01 é bem evidente a banda 3450 cm-1 (estiramento –O– H) o mesmo não aparecendo com esta clareza para o Lote 02. Os dois lotes se comportam de forma diferente quando analisados pelo IV em pH ácido. Na comparação dos espectros dos derivados benzilados na forma salina, Figura 22, e na forma ácida Figura 23, semelhanças podem ser observadas pela presença de bandas características nos espectros e também é possível a identificação de um número maior de bandas em pH ácido. 70 TRANSMITÂNCIA 60 50 40 O -C M Q S B O -C M Q S B O -C M Q S B O -C M Q S B O -C M Q S B O -C M Q S B 30 20 4000 3500 3000 2000 1500 1000 A B C E F G 500 N ú m e ro d e o n d a (c m -1 ) Figura 22: Espectro de infravermelho das O-CMQSB na forma salina, leitura em temperatura ambiente. Sinais em 1076 cm-1 (–C–O– estiramento), 1710 cm-1 (–COOH), 1590 cm-1 (– NH2), 3450 cm-1 (estiramento –O–H), 2700 cm-1 (estiramento –C–H), 1260 cm-1 (–C– N), 1500 cm-1 aumento do pico resultado da sobreposição dos picos NH2, –COOH e 75 –COO- especialmente para o IV em pH ácido (Figura 23). No IV na forma ácida ainda se observa uma série de picos entre as bandas 1300 a 700 cm-1. 70 TRANSMITÂNCIA 60 50 40 30 O-CMQSB O-CMQSB O-CMQSB O-CMQSB O-CMQSB O-CMQSB 20 10 4000 3500 3000 A B C D F G 2000 1500 1000 500 Número de onda (cm-1) Figura 23: Espectro de infravermelho das O-CMQSB na forma ácida, leitura em temperatura ambiente. O espectro na forma salina traz bem evidente a banda caracterizada pela substituição do benzeno, através do pico 1650 cm-1, na forma ácida esta banda não possui o mesmo destaque com exceção para o espectro que representa o derivado O-CMQSB C. Os espectros de todas as amostras na forma salina apresentam uma banda estreita e fechada em 3450 cm-1, e quando comparados entre si os espectros das amostras, poucas diferenças são evidenciadas, exceção para o derivado benzilado O-CMQSB C. Já os espectros dos mesmos derivados na forma ácida apresentam uma banda larga e arredondada na região de 3500-3000 cm-1, representando o estiramento de grupos –OH e –NH2. As bases de Schiff obtidas a partir da O-CMQS apresentam um contorno maior na forma salina, sugerindo mudanças na absorção dos grupos amino. Os resultados mostram que o polissacarídeo O-CMQS foi modificado por reação com benzaldeído (obtenção de bases de Schiff). Observa-se também o 76 aparecimento de novos picos de absorção devido a mudanças estruturais após a reação. 5.1.6 Espectroscopia de RMN–1H A análise do espectro de RMN 1H da O-CMQS Lote 02, Figura 24, permitiu fazer algumas considerações quanto a estrutura química. Na observação dos sinais correspondentes aos hidrogênios ligados aos carbonos, o sinal do próton da OCMQS aparece em 1,06 ppm (CH3, grupo acetamido), 3,22 ppm (CH, carbono 2 do anel), 3,77 ppm (CH, carbono, 2 do anel de glicosamina com o grupo amino substituído), 3,7- 4,0 ppm (CH, carbono 3, 4 e 6 do anel de glicosamina), 4,09 ppm (CH2, grupo carboximetil), 4,11 ppm (CH, carbono 5 do anel da glicosamina), 4,85 ppm (CH, carbono 1 do anel de glicosamina). 1 Figura 24: Espectro de RMN H da O-CMQS Lote 02 em D2O, em temperatura ambiente. Estas ressonâncias podem ser encontradas no espectro de RMN de 1H da quitosana descrito por Kubota e Eguchi (1997) e Shigemasa et al. (1996). Na região entre 4,05 e 4,55 ppm, as ressonâncias são dos prótons da substituição em 6 (–O – CH2 –COOH) da O-CMQS. E o sinal pode ser encontrado nos espectros de RMN 1H da N-carboximetilquitosana (MUZZARELLI; ILARI; PETRARULO, 1994). Os 77 resultados mostram que os grupos amino foram em parte carboximetilados junto com os grupos hidroxila. Na Figura 25 é mostrado o espectro de RMN 1H do derivado O-CMQSB E. O padrão do espectro foi observado para todos os derivados anfifílicos preparados. 1 Figura 25: Espectro de RMN H da O-CMQSB E em D2O, em temperatura ambiente. Na análise da Figura 25, alguns sinais são parecidos com o espectro da OCMQS. Porém, observa-se que alguns sinais sofreram um leve deslocamento para a direita, pela influência do anel benzênico em 7,17 ppm. No espectro da Figura 24 este sinal não foi identificado, pois ele resulta da substituição realizada no derivado O-CMQS pelo benzaldeído. Nos dois espectros aparecem dois sinais, um em 1,99 ppm é relativo ao solvente CD3COOD e outro em 2,08 correspondente ao D2O nesse mesmo solvente (GOTTLIEB; KOTLYAR; NUDELMAN, 1997). 5.1.6.1 Determinação do grau médio de substituição Os valores das integrais dos espectros de RMN de 1H dos derivados foram utilizados para a determinação do grau de substituição (GS) dos grupos NH2 da OCMTS pelo benzaldeído por Liu e colaboradores (2006). O método esta baseado na relação entre o valor da integral dos hidrogênios aromáticos (próximo a 7,0 ppm) e o valor da integral do hidrogênio ligado ao C-2 do anel glicosídico (em torno de 3,0 78 ppm). A partir da Equação 3 (p. 55) foi possível calcular o GS para os derivados anfifílicos. Tabela 6: Grau de substituição no grupo NH2 dos derivados anfifílicos, calculados a partir dos 1 espectros de RMN H Derivado Relação benzaldeido:O-CMQS GS (%) O-CMQSB A 1:1 53 O-CMQSB B 0,1:1 12 O-CMQSB C 1,5:1 88 O-CMQSB D 0,5:1 40 O-CMQSB E 5:1 110 O-CMQSB F 1,5:1 8 O-CMQSB G 1,5:1 73 Conforme mostrado na Tabela 6, há relação entre a quantidade de benzaldeído utilizado na síntese e o GS dos derivados anfifílicos. O GS para o derivado O-CMQSB E acima de 100 % pode ser devido a dissubstituição dos nitrogênios da amina pelos grupos, pois foi utilizado um excesso de cinco vezes. O GS foi proporcional à quantidade de aldeído utilizada na síntese. Um resultado inesperado, foi a diferença entre os dois derivados preparados com a relação 1,5:1 de benzaldeído uma vez que a reação ocorre somente entre a carbonila do aldeído e os grupos NH2 livre do polímero. Os dois foram preparados com a O-CMQS Lote 02 sendo a única diferença, a forma utilizada, salina para o derivado F e ácida para o derivado G. Para todos os outros derivados a O-CMQS utilizada foi na forma salina. O GS de derivados da O-CMQS depende de vários fatores como, por exemplo, a rota sintética, a estrutura química do substituinte, a característica do polímero de partida, entre outros. Derivados preparados com aldeídos aromáticos através da formação de base de Shiff em meio homogêneo apresentaram valores próximos a 60 %, independente dos aldeídos utilizados (GUO et al., 2006). Um derivado preparado com ácido linoleico através da formação de amida apresentou um GS de 3% (LIU et al., 2007a). Derivados contendo grupos hexanoil foram obtidos através da reação com anidrido hexanóico com DS entre 30 e 48 % (LIU et al., 2007b). A reação entre a O-CMQS e o anidrido succínico em meio aquoso gerou um derivado com DS de 72 % (ZHU et al., 2007). 79 5.1.7 Solubilidade dos Derivados sintetizados Segundo Zhu e colaboradores (2005a), a quitosana é insolúvel em solução aquosa neutra ou alcalina e é solúvel em soluções ácidas. Presumivelmente, o grande número de sítios catiônicos ao longo da cadeia permite a solubilidade em água por aumentar tanto a polaridade do composto quanto o grau de repulsão eletrostática entre unidades do polímero. Evidentemente, a quitina possui uma porcentagem insuficiente de unidades de glucosamina para permitir solubilidade em água, até mesmo em condições ácidas. Esta característica de solubilidade é talvez a principal diferença entre estas duas estruturas. Na Tabela 7 é mostrada a solubilidade dos polímeros em diferentes valores de pH. A carboximetilação da quitosana provoca um aumento da solubilidade devido a introdução dos grupos carboxilado, conforme descrito na literatura (CHEN; PARK, 2003). A solubilidade depende do processo e do grau de carboximetilação e da metodologia utilizada no processo de carboximetilação. No presente estudo foi observado uma pequena precipitação do polímero durante a mudança de pH, indicado na tabela como insolúvel (INS), em outros casos apenas uma leve turvação da solução, indicando como pouco solúvel (LIN). Outro ponto a ser destacado neste estudo é a concentração utilizada na preparação das dispersões, 1 mg mL-1, cinco vezes maior do que o utilizado por Chen e Park (2003). A alteração na metodologia foi feita, pois na concentração descrita no método a dispersão mantinha-se transparente em toda a faixa de pH. 80 Tabela 7: Solubilidade da O-CMQS e O-CMQSB em água com variação de pH em temperatura ambiente. pH 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Lote 1 S S S S S INS S S S S S Lote 2 S S S S S INS S S S S S A S S S S LIN INS S S S S S B S S S S LIN INS S S S S S C S S S S LIN INS S S S S S D S S S S LIN INS S S S S S E S S S S LIN INS S S S S S F S S S S LIN INS S S S S S G S S S S LIN INS S S S S S Amostra S= solúvel, LIN= pouco solúvel, INS= insolúvel Em pH ácido a porção da molécula que contém o grupamento NH2 apresentase protonada, isto é NH3+, o que torna o polímero solúvel. Por outro lado, em pH básico os grupos referentes ao ácido carboxílico estão na forma salina resultando também na solubilização do polímero. Observa-se, comparando os dados obtidos, que em todas as amostras em pH 7,0 os derivados são insolúveis. A introdução dos grupos hidrofóbicos praticamente não alterou a solubilidade dos derivados, apenas em pH 6,0 ocorreu uma pequena turvação da dispersão. Este comportamento era esperado uma vez que a derivatização provoca a diminuição dos grupos NH2 livres presente na O-CMQS, principais responsáveis pela dissolução do polímero em valores de pH baixo (formação do NH3+). 5.2 Viscosidade Intrínseca Em soluções diluídas as dimensões das cadeias ou o volume hidrodinâmico de uma cadeia isolada, podem ser caracterizados através da determinação da viscosidade intrínseca da solução, dependente de algumas variáveis como: massa molecular, estrutura química e conformação das moléculas, pureza do solvente, temperatura e, por vezes, da velocidade de cisalhamento (CANDAU; SELB, 1999). 81 A viscosidade intrínseca foi determinada a partir da representação gráfica da relação de Huggins pela extrapolação da viscosidade reduzida, expressa em função da concentração em polímero, à concentração nula. As amostras de O-CMQS foram dispersas em água e deixadas em agitação constante por 2 horas para a completa dissolução. Uma vez estabelecida às condições de trabalho iniciou-se a determinação do tempo de escoamento das soluções poliméricas. Os dados da viscosidade intrínseca [η] a 25°C (+/-1°C) foram determinados medindo-se inicialmente os tempos de escoamento das soluções de O-CMQS Lote 01 e Lote 02 e, aplicando as equações 04,05 e 06. De acordo com a Equação 7 (p. 57), a [η] é obtida a partir do coeficiente linear da reta do gráfico da ηred em função da concentração. Na Figura 26 são mostradas as curvas da ηred versus concentração da dispersão dos polímeros de partida. 600 O-CMQSLOTE 01 (0,1 mol/L) O-CMQSLOTE 02 (0,1 mol/L) O-CMQSLOTE 01 (0,5 mol/L) O-CMQSLOTE 02 (0,5 mol/L) ηred (mL/g) 500 400 300 200 100 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 CONCENTRAÇÃO DO POLÍMERO (mg/mL) Figura 26: Determinação gráfica da viscosidade intrínseca para os derivados O-CMQS Lote 01 e Lote 02 em NaCl nas concentrações de 0,1mol/L e 0,5 mol/L, a 25°C (+/-1°C). Conforme mostrado na Tabela 8, a viscosidade intrínseca dos Lotes 01 e 02 da O-CMQS não diferem muito entre si. Estes resultados eram esperados, pois o grau de carboximetilação (GC) dos dois lotes foram muito próximo. Este 82 comportamento também foi relatado por Chen e colaboradores (2006) para dispersões da O-CMQS com diferentes GC. Chen e colaboradores (2005) relataram que a viscosidade intrínseca da solução de O-CMQS varia muito pouco com o grau de substituição, mas por outro lado, a viscosidade intrínseca aumentou com o grau de desacetilação de 28 a 74%. Quando o grau de desacetilação é aproximadamente 95% a viscosidade aumenta com o grau de substituição. A partir da viscosidade intrínseca foi determinado a massa molecular viscosimétrica média (Mw), determinada a partir da equação de Mark-HouwinkSakurada, Equação 8 (p. 57). Os valores de “K” e “a” utilizados neste trabalho foram 7,9x10-5 e 1,00 respectivamente, considerando que a quitosana utilizada tem grau de desacetilação de 77% (GE; LUO, 2005). Conforme observado na Tabela 8, a carboximetilação da quitosana produz polímeros com [η] e Mw que parece menor quando comparada com o polímero de partida. A diminuição da viscosidade intrínseca está relacionada com a introdução de grupos que sofrem o processo de ionização em meio aquoso aumentando a interação entre as cadeias poliméricas, efeito semelhante à adição de sal. Outro parâmetro alcançado a partir da Equação 8 é a constante de Huggins (Kh), obtido a partir do coeficiente angular da reta e da [η], que é uma medida da interação entre polímero-polímero em solução. O Kh é independente da massa molecular para polímeros de cadeia longa, com valores entre 0,30-0,40 para um bom solvente, e entre 0,5-0,8 para um solvente θ. Elevados valores de Kh indicam que existe forte interação entre as moléculas e quando o valor de Kh é muito alto existe associação entre as moléculas (XIONG; TAM; GAN, 2005; PEESAN et al., 2006). Um solvente teta nem estende nem contrai a cadeia de polímero. Um solvente θ está entre um solvente "bom" e um solvente "mau". Um bom solvente estende as cadeias de polímero (mais distância entre os extremos do polímero). Um "mau" solvente contrai a cadeia de polímero, e isto diminui distância extremo a extremo. A viscosidade dos derivados anfifílicos foi utilizada para verificar a influência dos substituintes na massa molecular média e também comparar o efeito do anel aromático nas interações intramoleculares em soluções diluídas do polímero. Os 83 dados da viscosidade intrínseca para os derivados anfifílicos também foram obtidos a 25°C (+/-1°C) medindo-se inicialmente os tempos de escoamento das soluções de O-CMQSB A, B, C, D, E, F e G nas seguintes concentrações: 0,1; 0,2; 0,5; 0,8 e 1,0. Tabela 8. Valores dos testes das viscosidades intrínseca das dispersões nas concentrações de 0,1mol/L e 0,5 mol/L, a 25°C (+/-1°C). Concentração Viscosidade Erro* Massa Constante de NaCl Intrínseca [η] Viscosimétrica de Huggins mol/L [η] (mL/g) (mL/g) (mg/mL) (Kh) QTS 535 - 58,8 X 105 0,69 0,9978 O-CMQS Lote 01 0,1 163 5,7 2,06 x105 2,31 0,9993 O-CMQS Lote 02 0,1 167 28,9 2,16 x 105 1,02 0,9854 O-CMQS Lote 01 0,5 141 21,3 1,77 x 105 2,75 0,9899 O-CMQS Lote 02 0,5 209 10,1 2,64 x 105 0,59 0,9916 5 3,56 0,9916 R O-CMQSB A 0,1 122 6,5 1,56 x 10 O-CMQSB B 0,1 169 17,0 2,13 x 105 1,73 0,9933 O-CMQSB C 0,1 161 2,7 2,03 x 105 1,97 0,9998 O-CMQSB D 0,1 179 4,8 2,26 x 105 1,47 0,9994 O-CMQSB E 0,1 88 2,2 1,11 x 105 2,64 0,9993 O-CMQSB F 0,1 105 2,9 1,31 x 105 1,02 0,9970 5 0,61 0,9998 O-CMQSB G 0,1 245 1,85 3,10 x 10 O-CMQSB A 0,5 115 3,4 1,45 x 105 3,15 0,9996 O-CMQSB B 0,5 134 6,7 1,69 x 105 2,66 0,9997 O-CMQSB C 0,5 131 14,0 1,48 x 105 2,49 0,9992 O-CMQSB D 0,5 199 12,0 2,51 x 105 0,87 0,9931 5 1,40 0,9981 O-CMQSB E 0,5 100 2,5 1,26 x 10 O-CMQSB F 0,5 98 1,7 1,24 x 105 1,40 0,9990 O-CMQSB G 0,5 179 1,2 2,26 x 105 0,80 0,9998 *Erro obtido a partir da regressão linear As Figuras 27 e 28 representam os valores das viscosidades intrínsecas obtidos nas duas concentrações de NaCl utilizadas 0,1 e 0,5 mol/L 84 600 500 O-CMQSB A O-CMQSB B O-CMQSB C O-CMQSB D O-CMQSB E O-CMQSB F O-CMQSB G ηred(mL/g) 400 300 200 100 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 CONCENTRAÇÃO (g%) Figura 27: Determinação gráfica da viscosidade intrínseca para os derivados benzilados na concentração de NaCl 0,1 mol/L, a 25°C (+/-1°C). Considerando a [η], é possível observar que não existe uma relação entre o GS dos derivados anfifílicos e a [η]. De maneira geral o processo de síntese dos derivados alterou o comportamento viscosimétrico dos polímeros. No caso O-CMQSB E que apresentou um valor [η] abaixo do polímero de partida para a mesma concentração de NaCl, outro resultado discrepante ocorreu com o O-CMQSB G que apresentou aumento na viscosidade após o processo de síntese, quando comparado com o polímero de partida. 85 600 550 500 450 O-CMQSB A O-CMQSB B O-CMQSB C O-CMQSB D O-CMQSB E O-CMQSB F O-CMQSB G ηred(mL/mg) 400 350 300 250 200 150 100 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 CONCENTRAÇÃO DO POLÍMERO (mg/mL) Figura 28: Determinação gráfica da viscosidade intrínseca para os derivados benzilados na concentração de NaCl 0,5 mol/ a 25 °C (+/-1 °C) . A [η] diminuiu com o acréscimo da concentração de NaCl na dispersão mostrando que os derivados mantiveram as características de polieletrólito. Com relação à Mw a introdução do anel aromático no polímero não provocou alteração significativa nos valores quando comparado com o Mw da O-CMQS. Recentemente Ortona e colaboradores (2008) encontraram uma relação entre a viscosidade intrínseca e o tamanho da cadeia alquílica introduzida na quitosana. Relacionando o aumento da hidrofobicidade do polímero com a diminuição da viscosidade intrínseca atribuindo este comportamento ao efeito de quebra da cadeia polimérica. Com exceção para a O-CMQSB F, este comportamento também foi observado neste trabalho. 5.3 Determinação da Tensão Superficial dos Derivados Sintetizados Quando se iniciou a caracterização dos derivados benzilados da O-CMQS foi observado que as amostras quando dispersadas em água apresentavam a formação de certa quantidade de espuma (bolhas) de forma constante e permanente. 86 Relacionando a formação de espuma com tensão superficial, já estudada para a quitosana recentemente por Babak, Desbriesres e Tikhonov (2005) e Qun e Ajun (2006), teve início a investigação da tensoatividade dos derivados. Tensoativos são importantes devidos, principalmente, à sua capacidade de modificar algumas propriedades reacionais com conseqüente melhoria em sensibilidade e/ou seletividade analíticas (GUTERRES et al., 1995). A tensão superficial diminui com o aumento da concentração para a maioria dos polímeros. A variação da tensão superficial com a concentração dos diferentes polímeros é mostrada na Figura 29. 78 TENSÃO SUPERFICIAL (mN/m) 77 76 75 74 LOTE 01 LOTE 03 O-CMQSB A O-CMQSB B O-CMQSB C O-CMQSB D O-CMQSB E O-CMQSB F O-CMQSB G H2O 73 72 71 70 1E-3 0,01 0,1 1 CONCENTRAÇÃO (mg/mL) Figura 29: Valores médios da tensão superficial em relação a variação da concentração das dispersões poliméricas aquosas dos derivados, utilizando-se água como solvente, a 25°C (+/-1°C). A mudança na tensão superficial é pequena quando comparado com os dados relatados por Zhu e colaboradores (2005a), entretanto o grau da carboximetilação no trabalho descrito pelos autores foi de 100%. Para os derivados O-CMQSB G, O-CMQSB F e O-CMQSB C ocorre uma queda acentuada na tensão superficial quando a concentração atinge 1,0 mg/mL. Segundo vários autores a queda referida é atribuída a concentração de agregação crítica. Este valor é 20 vezes maior do que da concentração de agregação crítica relatado por Zhu e colaboradores (2005a) para a O-CMQS (0,05 mg/mL). 87 A concentração de agregação crítica (cac) é uma característica de cada polímero, fenômeno estudado recentemente por Ortona e colaboradores (2008). Eles relataram a diminuição da cac com o aumento da cadeia alquílica em derivados hidrofóbicos da quitosana. Também o valor encontrado no presente trabalho foi superior a cac da N-succinil-O-CMQS, 0,2-0,3 mg/mL (ZHU et al., 2007). Várias diferenças de comportamento podem ser observadas se comparadas as amostras em relação a tensão superficial. Considerando-se o valor da tensoatividade da água obtido (77,19 mN/m), pode-se observar que vários derivados analisados manifestam tensoatividade, pois em algumas amostras analisadas valores menores que o referente da água, foram obtidos em mais de uma concentração. A tensão superficial depende da concentração para os derivados sintetizados. A formação de agregados no sistema indica uma interação diferenciada, possivelmente mediada com maior ênfase pelas interações hidrofóbicas (SUI et al., 2006). A O-CMQS é um polímero aniônico, solúvel em água, que tem pequena propriedade de atividade de superfície, visto que não possui nenhum grupo hidrofóbico no polímero. Depois que foi modificada com grupo hidrofóbico, o derivado anfifílico resultante pode concentrar na superfície, direcionando suas de cadeias hidrofóbicas para o ar enquanto as cadeias hidrofílicas ficam na superfície, para reduzir tensão superficial (QUN; AJUN, 2006). O resultado demonstra que a introdução de substituintes hidrofóbicos fez os derivados obtidos se tornarem polímeros anfifílicos que podem diminuir a tensão superficial. Provavelmente, como polímero aniônico anfifílico, as cadeias hidrofóbicas de diferentes moléculas do polímero sintetizado podem associar para formar agregados na solução enquanto eles concentram na superfície antes da tensão de superfície adquirir o mais baixo valor (SUI et al., 2006). De acordo com o componente da teoria da tensão superficial, a tensão de superfície de dispersões de quitosana, é principalmente determinada pela ligação de hidrogênio, interação hidrofóbica e interação eletrostática. Há bastantes grupos de OH e NH2 nas cadeias moleculares de quitosana, uma forte ligação de hidrogênio e uma interação eletrostática pode existir dentro da solução aquosa ácida. Para o mesmo grau de acetilação de quitosana em solução com a mesma força iônica e pH, 88 o grau de protonação deveria ser o mesmo; a interação da ligação de hidrogênio dominou as mudanças de tensão de superfície. É interessante destacar o fato de a tensão superficial estar diretamente relacionada com a densidade do líquido, mas não necessariamente com a viscosidade. A necessidade de atrelar um valor de tensão superficial à temperatura experimental decorre do fato de essa diminuir quase linearmente com o aumento da temperatura, tornando-se muito pequena quando se atinge a temperatura crítica do líquido (NETZ; GONZÁLES ORTEGA, 2002). 5.4 Determinação da Hidrofobicidade dos Derivados Sintetizados Polímeros hidrofobicamente modificados e que são solúveis em água têm encontrado um grande número de aplicações práticas nos últimos 20 anos (PEIT et al., 1997). Devido à alta capacidade que possuem de aumentar a viscosidade em meio aquoso, eles podem ser utilizados nas mais diversas áreas, principalmente nos sistemas de liberação modificada de fármacos poucos solúveis em água. Estes polímeros são constituídos de uma cadeia principal hidrofílica e alguns substituintes hidrofóbicos, que podem se encontrar distribuídos de forma aleatória ao longo da cadeia polimérica ou nas suas extremidades (PETIT-AGNELY; ILLIOPOULOS; ZANA, 2000). Devido a sua estrutura anfifílica, esses polímeros podem exibir atividade superficial e adsorver nas interfaces (YAHYA; HAMAD, 1995; CHAUVETEAU; LECOURTIER, 1998; YANG; PAULSON, 2000). Para este experimento foram escolhidos os derivados O-CMQSB F e OCMQSB G, porque estes derivados apresentaram maior efeito sobre a redução da tensão superficial. Como foi mencionado, estes derivados foram preparados com a mesma quantidade de benzaldeído e apresentaram GS distintos. Os testes foram realizados seguindo a metodologia de Oh e colaboradores (2006), com modificações. O corante hidrofóbico Sudan III foi usado como uma combinação modelo para avaliar a capacidade de dispersão da O-CMQSB benzilada. A concentração do Sudan III nas dispersões dos polímeros estudados foi determinada através de absorbância do corante em 540 nm depois de subtrair a absorbância das soluções saturadas do corante em água (Oh et al., 2006). 89 Para o experimento foram selecionados os derivados que apresentaram propriedades de tensoatividades, incluindo o polímero de partida. O pH do meio foi ajustado para a condução ácida (4,0) e básica (9,0). Na Figura 30 é mostrado o espectro na região do ultravioleta e visível da dispersão de O-CMQSB G após permanecer em contato com a solução de Sudan III. Como é possível observar, a medida que aumenta a concentração de polímero aumenta a intensidade das bandas correspondente a presença do corante na dispersão polimérica. Conforme é mostrado na figura, na concentração de 5,0 mg/L as absorbância na região de 360 nm e 540 nm ficam mais acentuada. O-CMQSB G 0,5 mg/L 2,5 mg/L 3,5 mg/L 5,0 mg/L Absorbância (u.a) 0,5 0,0 300 400 500 600 700 Comprimento de onda (nm) Figura 30: Espectro na região do UV/visível da dispersão polimérica antes (preto) e após contato com a solução de Sudan III (em clorofórmio). Tempo de agitação 24 hs. Na Figura 31 é mostrado que o aumento na concentração do polímero melhora a solubilidade do Sudan III independentemente do polímero utilizado. Outra observação é que de maneira geral a forma de pH ácido favorece a solubilidade quando comparada, com o pH básico. Em pH ácido o polímero apresenta os grupos –COOH na forma não dissociada –COONa. A forma não dissociada do polímero apresenta características mais hidrofóbicas do que o meio salino. O pH da solução aquosa saturada de corante não alterou a solubilidade do mesmo, as leituras das absorbâncias em ambos os casos ficaram próximas a zero. 90 Lote 02 m eio ácido Lote 02 m eio básico O-CMQSB F m eio ácido O-CMQSB F m eio básico O-CMQSB G m eio ácido O-CMQSB G m eio básico 3,5 CONCENTRAÇÃO SUDAN III 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 1 2 3 4 5 CONCENTRAÇÃO DO POLÍMERO(mg/L) Figura 31: Valores obtidos na determinação da hidrofobicidade por Sudan III, leitura em 540nm, a 25°C (+/-1°C). A presença dos grupos hidrofóbicos no polímero melhorou a solubilidade do corante, especialmente em soluções mais diluídas. Estes resultados mostram que a presença dos grupos hidrofóbicos no polímero favorece a dissolução do corante. À medida que a concentração do polímero aumenta, a interpretação dos resultados fica comprometida devido principalmente a turdidez da dispersão. Quando são confrontados os valores da solubilidade do Sudan III com os valores da tensão superficial na concentração de 1,0 mg/mL, se observa que existe uma relação entre os dois experimentos. O derivado O-CMQSB G apresenta menor tensão superficial, entretanto apresenta pequena capacidade de dissolução do corante. Por outro lado, O-CMQSB F e O-CMQS Lote 02 apresentam capacidade de dissolução e elevada tensão superficial. 5.5 Determinação da Citotoxidade O desenvolvimento dos testes de citotoxicidade in vitro e seu reconhecimento pelos órgãos internacionais como Food and Drug Admnistration, em 1993 e Organization for Economic Cooperation and Development, em 1987 (HUGGET et al., 91 1996) tem favorecido a substituição dos ensaios que utilizam animais de laboratórios. Vários métodos in vitro que utilizam culturas celulares têm sido padronizados para avaliação da toxicidade de biomateriais, tais como: método de difusão em agar (GILL, 1982), método de extração (UNITED STATES PHARMACOPEIS, 1995) método de contato direto (GILL, 1982; WENZEL; COSMA, 1983) método de inibição metabólica (WENZEL; COSMA, 1983; WILLIAMS; DUNKEL; RAY, 1983), além dos métodos enzimáticos (HUGGET et al., 1996). A linhagem de fibroblastos L929 é citada como referência para testes de citotoxidade em biopolímeros (SERRANO et al., 2004). L929 é um subclone da linhagem parental L, uma linhagem celular estabelecida por W. R. Earle no ano de 1940. Foi uma das primeiras linhagens celulares a serem estabelecidas em cultura contínua. A linhagem L é derivada do tecido aureolar subcutâneo e adiposo de um camundongo macho de 100 dias (BAXTER et al., 2002). Os fibroblastos são as células predominantemente encontradas em tecidos conectivos perdidos ou danificadas, e são importantes nos mecanismos de reparação tecidual e na fase de remodelamento dos tecidos (PAN; JIANG; CHEN, 2006). Estas células são importantes na produção de muitos componentes essenciais do tecido conectivo, como os componentes de matriz extracelular e, no tecido fibroso, o colágeno (BRUNETTE; CHEHROUDI, 1999). O encapsulamento fibroso é causado pelas células tipo fibroblasto que aderem às suas vizinhas preferencialmente ao suporte, e pode prejudicar a efetividade de implantes, por exemplo (VERRIER et al., 1996; BAXTER et al., 2002). Para a determinação da citotoxidade dos derivados sintetizados foram utilizados dois métodos diferentes: o método (3-(4,5-dimetiltiazol-2-yl)-2,5 difeniltertrazolim brometo) (MTT) e o método do vermelho neutro. A Figura 32 mostra os resultados dos testes realizados com o método MTT para viabilidade após 24 horas de contato com células L929. Como controle positivo foi utilizado DMSO e como controle negativo meio de cultura. As barras representam uma média e desvio padrão de uma octaplicata (Teste t student/Anova p<0,05). 92 0 ,8 Absorbância (570 nm) 0 ,7 0 ,6 0 ,5 0 ,4 0 ,3 0 ,2 0 ,1 0 ,0 Lo te 1 Hi d A Hi d E Hi d G Hi d D Hi Co A m o s tra s d nt C ro le Po s it Co iv o nt ro le Ne ga t iv o Figura 32: Citotoxicidade das amostras Lote 1, derivados benzilados A, E, G, D e C, em concentração de 1000 µg/mL, pelo método MTT. Pelo método do MTT não foi observada diferença estatisticamente significativa (p<0,05) para todas as amostras analisadas. Pode-se observar quando se analisa o gráfico mostrado na Figura 32, a diferença significativa entre as amostras e o controle positivo. Através desta análise é possível afirmar que os derivados sintetizados são biocompatíveis. A Figura 33 representa a metodologia utilizando o corante MTT. Figura 33: Esquema representativo do método com o corante MTT. 93 Outro parâmetro utilizado para avaliar a toxicidade (viabilidade celular) foi o corante vermelho neutro, solúvel em água. Muitas substâncias danificam as membranas resultando no decréscimo de captura e ligação do vermelho neutro. Portanto, é possível distinguir entre células vivas e danificadas ou mortas, pela medida de intensidade de cor da cultura celular (CHAPEKAR, 2000) O corante vermelho neutro, após 24 horas de contato com células L929, foi analisado tendo como controle positivo DMSO e como controle negativo meio de cultura. A Figura 34 mostra os resultados obtidos para o método vermelho neutro. As barras representam uma média e desvio padrão de uma octaplicata (* Teste t student/Anova p<0,05). Absorbância (570 nm) 0 ,6 0 ,5 * * * 0 ,4 0 ,3 0 ,2 0 ,1 0 ,0 Lo te 1 Hi d A Hi d E Hi d G Hi d D Hi Co A m o s tra s d nt C ro le Po s it Co iv o nt ro le Ne ga tiv o Figura 34: Citotoxicidade das amostras O-CMQS Lote 1, derivados A, E, G, D e C em concentração de 1000 µg/mL, pelo método vermelho neutro. Para as amostras O-CMQS Lote 1 e O-CMQSB A e G pode-se observar redução da viabilidade celular (p<0,05), com redução de 17,5; 14,5 e 21,4 % da viabilidade celular, respectivamente. Porém, a pequena redução da viabilidade celular para os derivados destacados não impede seu uso como materiais biocompatíveis. É necessário destacar que todos os derivados testados passaram por diálise e liofilização. No entanto, resíduos de produtos do processo de síntese podem ainda de alguma forma ter interferido no resultado do método em estudo. Culturas de células in vitro podem avaliar o potencial de citotoxidade de biomateriais. Este procedimento indica a capacidade intrínseca do material de 94 promover alteração metabólica de células em cultura, podendo levar ou não à morte celular (DUCH EYNE et al., 2005). No estudo de Hu, Jou e Yang (2004), foi observado que o filme de poli (3hidroxibutírico ácido-co-3-hidroxivalérico) (PHBV) obtido demonstrou atividade de adesão sobre fibroblastos quando enxertado com quitosana. Num outro estudo, Chatelet, Damour e Domard (2001) constataram que a quitosana pode ser citostática para fibroblastos, isto é não citotóxica, mas inibidora da proliferação celular. Kadnaim e colaboradores (2008) prepararam carboximetilquitosana modificada com poliuretano contendo poli(adipato de etileno). Foi testada a citotoxicidade e biocompatibilidade do material, utilizando-se para estes testes células L929. Os autores relataram que através da análise do material sintetizado, estes indicaram que o polímero é considerado não-tóxico. O estudo apresentado por Henni-Silhadi e colaboradores (2007), também relatou que soluções do fármaco livre-CMP49C8 provaram ser menos tóxico contra macrofagócito que Tween 80 (o excipiente usado na formulação comercial de docetaxel), e na presença do fármaco, as soluções poliméricas mostraram semelhante atividade citotóxica em relação as células MCF 7. Estudos com culturas de células em tempos mais prolongados devem ser feitos para complementar os dados obtidos para culturas de curto prazo e verificar através dos mesmos parâmetros o comportamento celular desta linhagem. Porém, os resultados obtidos com as duas metodologias empregadas mostram que os derivados testados são biocompatíveis. 5.6 Solubilidade do Fármaco Triancinolona A partir dos dados relacionados com a introdução dos grupos aromáticos, propriedades de tensoatividade e baixa toxicidade dos derivados sintetizados, foi dado continuidade aos estudos para a aplicação destes polímeros na dissolução de fármacos. Para este estudo foram escolhidos dois derivados que apresentaram propriedades tensoativas mais pronunciadas, os derivados O-CMQSB F e OCMQSB G, que foram preparados com a mesma relação molar de benzaldeído e 95 apresentaram GS muito diferente. O objetivo desta escolha foi avaliar o efeito do GS sobre a solubilidade do fármaco. A triancinolona, por apresentar estrutura química esteroidal, demonstra baixa solubilidade em água, 80 mg/L, propriedade esta que é melhorada em pH levemente básico. É sabido que a triancinolona é solúvel em metanol sendo este solvente utilizado para a preparação das soluções da curva analítica padrão para a quantificação espectrofotométrica. Para determinar a concentração de triancinolona nas dispersões dos polímeros anfifílicos foi feita uma curva analítica padrão de triancinolona com leitura no comprimento de onda de absorção de 242 nm. A partir das curvas (Figura 35) foram obtidas as equações da reta para meio básico (Equação 11) e ácido (Equação 12). y = 0,03025x - 0,06582 com R2 = 0,9978 Equação 11 y = 0,05399x - 0,07673 com R2 = 0,9970 Equação 12 pH 9,0 1,6 pH 4,0 ABSORBÂNCIA (240 nm) 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 TRIANCINOLONA (µg/mL) Figura 35: Curva analítica da Triancinolona em metanol, leitura em 242 nm. Neste estudo foram analisados os efeitos da concentração dos derivados escolhidos e o pH da solução. 96 Nas Figuras 36 e 37 são mostrados a quantidade de TC dissolvidas nas diversas concentrações de O-CMQS Lote 02, O-CMQSB F e O-CMQSB G. Em meio básico, Figura 36, é possível observar que existe uma relação entre a quantidade de TC dissolvida e a quantidade de polímero na solução. Quando são comparados os valores da quantidade de TC dissolvida pelos derivados anfifílicos com o polímero não modificado, nota-se a influência dos grupos hidrofóbicos incorporados à OCMQS. Na concentração dos polímeros de 1,0 mg/mL a diferença na dispersão é de aproximadamente 5,5 vezes para O-CMQSB G e 3,5 vezes para a O-CMQSB F quando comparado com a O-CMQS. Outra observação importante é a existência de diferença entre os dois derivados na dissolução do fármaco. Outro resultado obtido a partir dos gráficos é a solubilidade da TC. Na dispersão dos polímeros na concentração de 0,2 mg/mL, a solubilidade da TC foi 360 µg/mL, 230 µg/mL e 73 µg/mL para a O-CMQSB G, O-CMQSB F e O-CMQS Lote 02, no caso dos dois derivados anfifílicos ocorreu um aumento significativo da solubilidade da TC quando comparado com a solubilidade em água. 400 O-CMQSB G O-CMQSB LOTE 02 O-CMQSB F QUANTIDADE DE TC (µg) 350 300 250 200 150 100 50 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 MASSA DO POLÍMERO (mg) Figura 36: Perfil da solubilidade em relação à concentração de TC e dos polímeros O-CMQS Lote 2, O-CMQSB F e G em meio básico, leitura em 242 nm, volume de 5 mL. Comparando com outros sistemas polimero/fármaco observou-se que o presente sistema apresenta vantagens como, por exemplo, O-CMQS/Camptotecina, o fármaco apresenta solubilidade de 3,3 vezes maior na concentração de polímero 97 1,0 mg/mL (ZHU et al., 2007). Outro sistema formado pelo pullulan/docetaxel, a dissolução do fármaco é melhorada 1,2 vezes na mesma concentração de polímero (HENNI-SILHADI et al., 2007). Dados da literatura mostram que a presença de grupos aromáticos no derivado ftalato de quitosana aumentou a eficiência no encapsulação da dexametasona quando comparado com o derivado succinato de quitosana, sendo que esta diferença foi atribuída à hidrofobicidade provocada pela presença dos anéis aromáticos no polímero (AIEDEH et al., 2005). Outro exemplo que mostra o efeito do substituinte hidrofóbico na quitosana foi relatado por Liu e colaboradores (2006), que utilizaram a quitosana modificada com grupos n-hexanoil para incorporar o ibuprofeno. Os resultados mostraram que a presença da cadeia alquílica aumentou muito a eficiência de incorporação do fármaco, estende provavelmente o aumento da eficiência foi relacionado com a propriedade de formação de micela. A Figura 37 mostra o comportamento de dissolução da TC nas diferentes dispersões poliméricas em meio ácido. Neste caso a solubilidade da TC ficou abaixo daquela observada para o meio básico. A presença dos polímeros aparentemente não alterou a sua solubilidade. 47 46 O-CMQS LOTE 2 O-CMQSB F O-CMQSB G QUANTIDADE DE TC (µg) 45 44 43 42 41 40 39 38 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 CONCENTRAÇÃO (mg/mL) Figura 37: Perfil da solubilidade em relação à concentração de TC e dos polímeros O-CMQS Lote 2, O-CMQSB F e G em meio ácido, leitura em 242 nm, volume de 5 mL. 98 5.7 Perfil de Dissolução do Fármaco Triancinolona in vitro A ciência dos polímeros tem sido o eixo principal para o desenvolvimento de novos sistemas de liberação de fármacos nas últimas décadas. Avanços futuros no estudo dos polímeros deverão considerar as modificações das propriedades químicas e físicas. Novas combinações de copolímeros com objetivos e componentes que podem liberar uma ampla variedade de agentes bioativos poderão se utilizados (PILLAI; PANCHAGNULA, 2001). Além disso, novos processos de fabricação e manipulação como marcadores moleculares (ALLENDER et al., 2000), tecnologia de fluido supercrítico (GHADERI; ARTURSSON; CARLFORS, 2000) e engenharia em escala nanométrica têm promovido uma verdadeira revolução na forma, desenvolvimento e eficiência dos sistemas de liberação de fármacos à base de polímeros. Geralmente, a cinética de liberação de fármacos em micelas poliméricas é afetada por vários fatores como tamanho de partícula, composição do bloco, peso molecular, concentração e taxa de degradação (KIM et al., 2000). O mecanismo de liberação pode ser dividido em difusão controlada, degradação controlada ou uma mistura deles (SIEPMANN; PEPPAS, 2001; ZULEGER; LIPPOLD, 2001). O comportamento da liberação do fármaco das dispersões O-CMQSB F/TC e O-CMQS/TC foram estudados com o objetivo de comparar o efeito dos substituintes hidrofóbicos no processo de liberação da TC. A escolha do polímero O-CMQSB F, apesar de não dissolver tanta TC quanto o derivado benzilado O-CMQSB G, deu-se primeiro pela sua disponibilidade e, em segundo lugar, porque ele também apresentava boa capacidade de dissolução da TC, o suficiente para a obtenção os dados para a realização dos cálculos e interpretação dos resultados. Na Figura 38 é mostrada a quantidade de TC liberada das formulações em diferentes tempos. A diferença na quantidade de TC liberada está relacionada com a solubilidade de TC na solução. Para a O-CMQS e água a solução foi previamente centrifugada antes de colocar dentro das membranas de diálise. 99 14 O-CMQSB F + Tc TC Pura O-CMQS Lote 2 + Tc MASSA DE TC LIBERADA 12 10 8 6 4 2 0 -200 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 TEMPO (min) Figura 38: Perfil de difusão da TC pela membrana de diálise, nas diferentes formulações, TC pura, com O-CMQS e com O-CMQTSB F em PBS (pH 7,4 solução 0,01 mol/L) em temperatura ambiente. 100 TC LIBERADA (%) 80 60 40 20 O-CMQSB F + TC TC O-CMQS Lote 2 + TC 0 -200 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 TEMPO (MIN) Figura 39: Perfil de difusão da TC, pela membrana de diálise, nas diferentes formulações, TC pura, com O-CMQS e O-CMQTSB F em PBS (pH 7,4 solução 0,01 mol/L) em temperatura ambiente. Pode ser observado que existe diferença no t50% para a liberação de TC em meio aquoso ou na dispersão do polímero anfifílico. Essa disparidade pode estar relacionada com a solubilidade da TC no meio de liberação e não diretamente com a interação fármaco polímero. 100 Este comportamento difere daquele relatados por Zhu e colaboradores (2006) no estudo de sistema Camptotecina/O-CMQS e gatifloxacina/O-CMQS. Em ambos os casos o perfil de liberação do fármaco das soluções polimérica foi influenciado pela presença do polímero, quando comparado com as soluções aquosa do fármaco. Em ambos os casos o t50% foi praticamente o dobro quando nas soluções contando o polímero se comparado com a solução na ausência do polímero. A introdução de cadeia alquílica (grupos linolil) na O-CMQS retardou a liberação da adriamicina, sendo que após 72 horas apenas 37 % do fármaco tinha sido liberado em meio básico, por outro lado a liberação do fármaco em meio aquoso ocorreu em 3 horas (LIU et al., 2007a). Em geral a liberação de fármaco incorporada em sistemas hidrofóbicos depende da solubilidade e difusão do fármaco. No caso onde não há degradação enzimática do polímero a difusão é considerada o principal mecanismo de liberação. Com o perfil de liberação da TC, foi possível aplicar o modelo do coeficiente de difusão mostrado na Equação 9 (p. 62). Com auxilio do gráfico de Ln[(1-Mt)/M∞] em função do tempo, mostrado na Figura 40, foi possível calcular o coeficiente de difusão da TC nas diferentes soluções que também são mostrados na Tabela 9. Conforme pode ser observado, não existe diferença significativa nos coeficientes de difusão da TC nas diferentes soluções. 101 1 ln(1-Mt/M0) O-CMQSB F + TC TC O-CMQS Lote 2 + TC 0,36788 0 100 200 300 400 500 TEMPO (min) Figura 40: Perfil de difusão da TC, pela membrana de diálise, nas diferentes formulações, TC pura, com O-CMQS e O-CMQTSB F em PBS (pH 7,4 solução 0,01 mol/L) em temperatura ambiente. Este comportamento observado na Figura 40, indicando que não há interação forte entre o polímero e o fármaco, difere daquele relatado por Zhu e colaboradores (2006), no caso da camptotencina/O-CMQS, no qual o coeficiente de difusão foi aproximadamente a metade quando comparado com a solução aquosa. Segundo os autores a formação do complexo fármaco: polímero justifica a liberação mais lenta do fármaco quando comparado com o fármaco sozinho. Tabela 9: Difusão da TC através da membrana de diálise, parâmetros de liberação e coeficientes de difusão. t50% teq F eq (%) Coeficiente Difusão (min) (min) O-CMQS Lote 2 + TC 248 1500 100 6,41 x 10-9 O-CMQSB F + TC 407 1320 100 4,24 x 10-9 TC 410 1500 100 5,09 x 10-9 (pela membrana) O comportamento de liberação da TC nos diferentes sistemas foi avaliado segundo o modelo de cinética de liberação de Higuchi onde foi aplicada a Equação 10 (p. 61). A partir da obtenção dos dados foi possível construir o gráfico mostrado na Figura 41. 102 100 O-CMQSB F + TC TC O-CMQS Lote 2 + TC TC liberada (%) 80 60 40 20 0 0 5 10 15 tempo (min) 1/2 20 25 Figura 41: Perfil de difusão da TC, pela membrana de diálise, nas diferentes formulações, TC pura, com O-CMQS e O-CMQTSB F (Modelo de Higuchi) em PBS (pH 7,4 solução 0,01 mol/L), leitura em 242 nm, em temperatura ambiente. Como pode ser observado nos parâmetros das cinéticas de liberação, Tabela 10, o modelo escolhido foi adequado aos dados experimentais, mostrado pelo valor do coeficiente de correlação linear. Estes resultados indicam que a liberação da TC, para o meio receptor é controlada por difusão através da membrana. Tabela 10: Parâmetros da cinética de Liberação de TC segundo o modelo de Higuchi. K (% min1/2) R O-CMQSB F + TC 2,78 0,9961 TC 2,23 0,9920 O-CMQS Lote 2 + TC 2,28 0,9877 Outra observação importante é que não existe diferença significativa na constante de velocidade de liberação entre os diferentes meios de dissolução do fármaco, mostrando que a presença do polímero provoca pouca alteração no comportamento de liberação. Os resultados encontrados neste trabalho também foram observados por Aiedeh e colaboradores (2005) utilizando derivados de quitosana contendo ftalato, ou seja, a presença dos anéis aromáticos não provocou alterações na velocidade de 103 liberação da dexametasona quando comparado com o derivado succinato de quitosana. Outro resultado observado na Tabela 10 é o comportamento de liberação da TC em solução aquosa, para o meio receptor. Pode ser observado que a liberação ocorreu numa velocidade menor quando comparado com a dispersão polimérica. Este comportamento também foi relatado por Aiedeh e colaboradores (2005) quando estudaram sistemas poliméricos contendo derivados da quitosana e dexametasona. Os autores atribuíram este fato à baixa solubilidade do fármaco em água (80 mg/L). Outros estudos também são relatados no qual a liberação do fármaco da Ocarboximetilquitosana depende da natureza do fármaco em estudo. Segundo o observado por Zhu e colaboradores (2006, 2007) o mesmo polímero foi utilizado para preparar dispersões poliméricas contendo camptotencina e gatifloxacina, nas mesmas condições experimentais, resultou em comportamentos distintos. A dispersão polimérica retardou a liberação da camptotencina, entretanto não provocou qualquer alteração no comportamento da gatifloxaxina. Com o objetivo de esclarecer o tipo de interação entre a TC e os polímeros foi realizado um estudo da espectroscopia na região do ultravioleta da dispersão polímero/TC nos diferentes valores de pH. Neste estudo foi escolhido o derivado anfifílico O-CMQSB F. Conforme mostrado no item solubilidade, o polímero é solúvel na faixa de pH 2 a 5 e 8 a 12, insolúvel em 7 e levemente solúvel em pH 6,0. No caso o sistema da dispersão dos TC/O-CMQSB F na concentração 1,0 mg/mL de polímero e 1 mg TC mostrou-se solúvel em toda a faixa de pH estudada, incluindo o pH 7,0 no qual era insolúvel. Conforme observado na Figura 42 aparentemente não existe diferença nos espectros da TC sozinha, da O-CMQSB F e as dispersões TC/O-CMQSB F. Nos espectros não ocorre o deslocamento da banda de absorção característica da TC, na presença do polímero, também não ocorre a formação de uma nova banda de absorção, comportamento típico da alteração provocada pela interação entre fármaco e polímero. Recentemente, Zhu e colaboradores (2007) relataram o deslocamento da banda de absorção da gatifloxacina dispersada na Ocarboximetilquitosana, atribuída pelos autores a formação do complexo entre o polímero e o fármaco. 104 1,2 Absorbancia (u.a) 1,0 0,8 O-CMQSB F TC pH 9 pH 8 pH 7 pH 6 pH 5 pH 4 0,6 0,4 0,2 0,0 200 300 400 500 600 700 800 Comprimento de onda (nm) Figura 42: Perfil de absorção no UV/visível do derivado O-CMQSB F e TC em diferentes valores de pH em dispersão em água. Outro experimento utilizado foi a interação entre o fármaco e o polímero foi comparar a tensão superficial das dispersões polimérica com e sem o fármaco. Na Figura 43 é mostrado o efeito da presença da TC na dispersão dos derivados anfifílicos sobre o comportamento da tensão superficial. A adição de TC provoca a redução das propriedades tensoativas dos dois derivados anfifílicos. Os valores da tensão superficial na concentração de 1 mg/mL ficou muito próxima dos valores para a água. Este comportamento também foi observado para o sistema hidrofóbico pululana/docetaxel (HENNI-SILHODI et al., 2007), entretanto a perda das propriedades tensoativas não foi tão acentuada quanto às observadas no presente sistema. Segundo os autores, o comportamento foi atribuído à dissolução da docetaxel tanto na parte hidrofóbica quanto na parte hidrofílica do polímero. No caso da interação entre a TC e o polímero, o comportamento seria diferente, ou seja, não ocorreria alteração no comportamento da tensão superficial conforme relatado para o sistema hidrofóbico pululana/benzofenona (HENNISILHODI et al., 2007). 105 76,5 76,0 75,5 TENSÃO SUPERFICIAL (mN/m) 75,0 74,5 74,0 73,5 73,0 72,5 72,0 71,5 71,0 70,5 70,0 O-CMQSB F O-CMQSB G TC/O-CMQSB F TC/O-CMQSB G 0,01 0,1 1 CONCENTRAÇÃO (mg/mL) Figura 43: Tensão superficial dos derivados O-CMQSB F e O-CMQSB G puros e com a TC incorporada em diferentes concentrações. A partir destes resultados é possível concluir que não existe uma forte interação entre o fármaco e o polímero, como por exemplo, a formação de complexo. Aparentemente, o fármaco está dissolvido na parte hidrofóbica do polímero, quando o derivado anfifílico está dissolvido em água, semelhante ao que ocorre na dissolução de fármacos em micela. Este comportamento foi relatado por Liu e colaboradores (2006) no estudo da incorporação do ibuprofeno em derivados da quitosana contendo grupos hexanoil em sua estrutura. Na Figura 44 é mostrada a interação entre os derivados anfifílicos da OCMQS e a TC em meio aquoso. A parte hidrofílica do polímero fica mais exposta às moléculas de água, enquanto a parte hidrofóbica fica voltada para o interior do sistema. Como a TC é praticamente insolúvel em meio aquoso, e esta preferencialmente próxima as regiões hidrofóbicas do polímero (anéis aromáticos). 106 H2O HOOCH2OH2C O NH 2 H O CH 2OH H2O OH CH 2OH O O HOOCH2OH2C O NH 2 H HOOCH2OH2C O HO H H NH2 CH 2OCH 2COOH H CH 2 CH 2 OH H2O O NH O H2O H H HO NH HO NH 2 HO NH2 HO O O O O O CH 2OH HO NH 2 H O CH 2OH O H O NH2 OH O NH OH H CH 2 CH2 NH H O OH2 CH 2OCH2COOH H H2O OH NH2 O CH 2OH H NH2 O H O H2O H2O H2O O CH 2OH HO H NH 2 O OH CH 2OCH2COOH HO NH2 O OH HOOCH2OH2C O O CH 2OH O O CH 2OCH 2COOH O H2O H OH NH 2 O H2O CH 2OH O O Figura 44: Esquema simplificado das interações entre a TC e o derivado O-CMQSB. 6 CONCLUSÕES Neste trabalho, a síntese de derivados anfifílicos da O-CMQS foi realizada com êxito, especialmente quando foi empregado um fármaco/modelo a triancinolona, no estudo de aumento de solubilidade de fármacos pouco solúveis em água. Os derivados O-CMQS foram sintetizados produzindo dois lotes: O-CMQS Lote 01 e O-CMQS Lote 02, que serviram de material de partida para a síntese dos derivados benzilados, obtidos através do método homogêneo. Diferentes relações molares de benzaldeído foram usadas para a síntese dos derivados benzilados. Na maioria das sínteses foi observada uma relação entre a quantidade de benzaldeído utilizado na síntese e o grau de substituição dos derivados anfifílicos. Em relação a solubilidade dos polímeros sintetizados observou-se que em todas as amostras em pH 7,0 os derivados são insolúveis. A introdução dos grupos hidrofóbicos praticamente não altera a solubilidade dos derivados. A respeito da viscosidade intrínseca, os Lotes 01 e 02 da O-CMQS não diferem muito entre si, pois o grau de carboximetilação (GC) dos dois lotes foram muito próximos. Para aos derivados benzilados, em relação a viscosidade intrínseca, foi possível observar que não existe uma relação entre o GS dos derivados anfifílicos e a viscosidade intrínseca. O aumento na concentração de NaCl provoca a diminuição da viscosidade da O-CMQS, indicando que o polímero mantém as propriedades de um polieletrólito. O aumento na concentração de polímero melhora a solubilidade do Sudan III independentemente do polímero utilizado. O pH ácido favorece a solubilidade quando comparado com pH básico. Em relação a citotoxicidade, estudos com culturas de células com tempos mais prolongados devem ser realizados para complementar os dados obtidos para culturas de curto prazo e averiguar através dos mesmos parâmetros o comportamento celular desta linhagem. Os resultados obtidos com as duas metodologias empregadas (o teste com o corante MTT e com o vermelho neutro) mostram que os derivados testados são biocompatíveis. A influência das reações de modificação química sobre as propriedades do polímero também foi verificada em termos de tensão superficial de suas soluções 108 aquosas com bons resultados. Para os derivados O-CMQSB G, O-CMQSB F e OCMQSB C ocorreu uma queda acentuada na tensão superficial quando na concentração de 1,0 mg/mL. A queda é atribuída a concentração de agregação crítica. O valor encontrado neste trabalho é 20 vezes maior do que da concentração de agregação crítica encontrada na literatura. A introdução de substituintes hidrofóbicos fez os derivados obtidos se tornarem polímeros anfifílicos que podem diminuir a tensão superficial. Os derivados anfifílicos O-CMQSB G, O-CMQSB F promoveram um aumento significativo da solubilidade da TC quando comparado com a solubilidade em água, uma vez que os valores correspondem a 360 mg/L e 230 mg/L, respectivamente. Não existe diferença significativa entre os coeficientes de difusão, pela membrana de diálise, da TC em meio aquoso ou nas dispersões poliméricas, indicando que não há interação forte entre o polímero e o fármaco. O modelo de Higuchi escolhido foi adequado aos dados experimentais, mostrado pelo valor do coeficiente de correlação linear. Estes resultados indicam que a liberação da TC, para o meio receptor, é controlada por difusão. O comportamento de liberação da TC em solução aquosa, para o meio receptor, pode ser observado. Em relação à liberação ocorre numa velocidade menor quando comparado com a solução polimérica. A partir destes resultados e dos observados no estudo da dissolução da TC nas dispersões polimérica é possível concluir que não existe uma forte interação entre o fármaco e o polímero, como por exemplo, a formação de complexo. Aparentemente, o fármaco está dissolvido na parte hidrofóbica do polímero, quando o derivado anfifílico está dissolvido em água. A metodologia experimental empregada para a obtenção dos derivados estudados mostrou-se adequada, proporcionando derivados solúveis em água. O estudo de polímeros anfifílicos solúveis em água tem sido de muito interesse. Nossa pesquisa foi direcionada para a síntese e avaliação das propriedades em solução de polímeros hidrofobicamente modificados, os quais são caracterizados pela presença de sítios hidrófobos, pela alta atividade superficial e pelo acentuado aumento da viscosidade de soluções aquosas. Resultados estes que foram obtidos com índices animadores, possibilitando uma segunda etapa da pesquisa. 109 A partir destes derivados solúveis em água foi possível obter resultados inovadores no estudo da solubilidade de fármacos pouco solúveis em água, especialmente para o fármaco triancinolona. 110 REFERÊNCIAS AÇIKGÖZ, M.; KAS, H.S.; ORMAN, M.; HINCAL, A. A. Chitosan microspheres of diclofenac sodium: I. application of factorial design and evaluation of release kinetics. J. 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