n. 164, 6 de julho de 2010. Ano IV. "o estado mantém as pessoas ocupadas o tempo integral para que elas não pensem eroticamente, poeticamente, libertariamente" (roberto piva). empreendimento de si e futebol O time do Brasil, ou melhor, do Dunga — o que não se interessa em saber que houve ditadura militar, o emo balbuciante do coro que interpreta a tirania como ditabranda —, jogou com disciplina militar. Embotou a malandragem, contando com a torcida de otários imprescindíveis a louvarem a grandeza da cerveja, dos torpedos, da pátria. Montou um time com jogadores empreendedores de si, amantes circunstanciais da vida como coadjuvantes e a mercê de um condutor. Os brasileiros que amavam Dunga, segundo as sondagens diárias, agora, mudam de opinião, como amebas que sempre foram. As empresas financiadoras do futebol ganharam mais uma vez a Copa como investidores no mercado europeu, para o qual o resto do mundo fornece alguns protagonistas acomodados e subservientes. Houve um tempo, em 1970, sob uma ditadura sangrenta, que vibramos pelo futebol de artistas da bola... A multidão humana nunca é a mesma. Ainda bem! arte & anarquia Certos anarquistas no Brasil valorizaram o futebol como prática libertária. Apontaram ainda na década de 1990 para a substituição do futebol alegre e solto, por uma “ideologia do sacrifício”, que sufoca o prazer da pelada, visando a qualquer custo grana e reconhecimento. “Até quando nós vamos suportar isso?”, perguntou Roberto Freire, um boleiro libertário, após assistir a vitória do Brasil nos pênaltis em 1994. O incômodo permanece até hoje, 2010. Até quando suportaremos um futebol sem arte e anarquia? passagens e cotas O novo governo britânico, de coalizão entre conservadores e liberais democratas, anunciou esta semana uma cota de imigração provisória para países que não fazem parte da União Européia. O objetivo será fixação de uma cota anual, que deverá ser anunciada em abril de 2011. A lógica das cotas obedece à linguagem dos balanços de bancos e do mercado financeiro. O saldo previsto pretende restaurar parâmetros de imigrantes similares a da última década do século passado: “levar o saldo migratório líquido a dezenas de milhares de pessoas ao invés de centenas de milhares”. Entre déficis e ávits se refaz os parâmetros do cálculo de direitos à passagens e barreiras. Isto não se restringe à regulamentações migratórias. Esta é a lógica política de governo das cotas. arregimentação O governo estadunidense ampliou a política que incentiva o alistamento voluntário de imigrantes considerados ilegais nas Forças Armadas do país, em troca da obtenção do certificado de cidadania. Pela migalha desta concessão, homens miseráveis são rapidamente enviados para matar e morrer no Afeganistão e Iraque. Com a arregimentação de pouco mais de dez mil existências desesperadas, o governo comemora o recorde no alistamento. Deste modo, monitorando, vigiando, encarcerando, exterminando imigrantes nas ruas de alguma grande cidade do país ou enviando-nos para tornarem-se alvo de fuzis e minas do outro lado do mundo, a política para imigrantes nos Estados Unidos se explicita. uma questão Petróleo e gás vazam de dutos de diversas companhias petrolíferas na foz do rio Niger por pelo menos cinquenta anos. O acidente no Golfo do México e os valores envolvidos em indenizações e tentativas de mitigação dos danos atraíram a atenção mundial para o problema. Segundo ambientalistas, há 6.800 pontos de vazamentos na região do delta do rio, com aproximadamente 13 milhões de barris de óleo que se estendem pela costa litorânea, mar, terra, mangue e rio. Nunca foram limpos, nem os prejuízos indenizados, mesmo com explosões, mortes e doenças. As companhias alegam que os acidentes resultam de roubo de combustíveis e sabotagens efetuadas pela população miserável do entorno. Discussões sobre direitos dos habitantes locais, indenizações e recomposição da área e da infra-estrutura entram aos poucos na pauta dos temas internacionais, no entanto, a opção por um modelo de exploração de recursos nunca é questionada, nem no golfo, no Brasil, no Oriente médio, nas ilhas Malvinas. "organizar a liberdade é criar a servidão" (han ryner).