brochura 4/12/02 10:56 Page 1 Zézé estava deitado na relva a espreitar uma abelha, pousada num malmequer amarelo – Que gira! Tão riscadinha! E está toda coberta de pó amarelo! – Zézé, vem lanchar! Chamava a sua mãe. Pão com mel e leitinho quente sabiam tão bem ao fim da tarde, depois de um dia de corridas e aventuras. Sentado junto à janela, Zézé saboreava e brincava com a colher dentro do frasco do mel. De onde viria o mel? A mãe tinha-lhe dito que fora o vizinho, o Major Pimentel, que lho tinha oferecido e que era produzido pelas abelhas das suas colmeias. Como seriam as colmeias? Fervilhava-lhe a imaginação e a curiosidade, mas ir falar com o Major Pimentel! Aquele homem carrancudo e antipático! Zézé morava ali à pouco tempo, antes vivia numa grande cidade e mal via árvores, quanto mais animais! Agora não, havia tanto para ver, tantos bichos, tantas árvores! E tantas férias, porque naquele dia, naquela mesma tarde tinham começado as férias grandes! 1 brochura 4/12/02 10:59 Page 2 No dia seguinte, o dia acordou com uma manhã radiosa, de sol intenso e milhares de flores a brilharem de cor pelo campo fora. O menino José “espreitador” de abelhas, saiu de casa montado na sua bicicleta com a intenção de dar um belo passeio. Vou visitar a minha avó Matilde, pensou ele. Pelo caminho, ia parando sempre que via alguma coisa interessante, mas o que o fascinava eram as abelhas pousadas nas flores. Como zumbiam! Estava ele, de cara rente ao chão concentrado nas suas observações quando de repente mesmo à frente dos seus olhos surgiu um par de sapatos dourados e bicudos, como os dos duendes das histórias que costumava ler. Pôs-se de pé rapidamente e viu que o dono dos sapatos era a D. Laurinha, a vizinha da avó Matilde. – Bom dia Zézé! Que estás a fazer deitado na relva? – Olá D. Laurinha, estava a ver as abelhas – As abelhas? – Sim! Elas brincam com as flores e a minha mãe disse que também produzem o mel. – O mel? 2 brochura 4/12/02 10:59 Page 3 – A senhora sabe o que é o mel? – O mel... “O mel caiu do céu, principalmente durante o nascimento das estrelas e quando o arco-íris descansava sobre a Terra”, disse Aristóteles. E depois de dizer isto, afastou-se pelo campo fora a cantarolar. A D. Laurinha era uma senhora simpática mas um bocado esquisita. Lia poesia às plantas da sua varanda e vestia-se de forma extravagante. Zézé almoçou com a avó e voltou para casa. À tarde, enquanto brincava no jardim da sua casa, viu o Major Pimentel sair de casa vestido de branco com um chapéu esquisito, redondo, com uma rede que nem se lhe via a cara. Outro vizinho maluco? Resolveu por isso segui-lo. O Major foi pelo campo fora até um pequeno monte e desapareceu. Onde é que ele se teria metido? De repente, do outro lado do monte lá estava o Major a olhar para um grupo de caixas de madeira colocadas em cima de umas vigas de cimento. Entretanto, começou a ver fumo branco a sair de um objecto que ele tinha na mão e que ia introduzindo nas colmeias. Mas nisto... 3 brochura 4/12/02 10:59 Page 4 – Ai! Ai! Ai! O Zézé tinha sido picado por uma abelha e sacudia freneticamente as mãos à volta da cabeça, sem se aperceber que o Major tinha dado pela sua presença e já estava ao pé dele. – Que estás tu aqui a fazer rapaz? E pára de te sacudir que irritas mais as abelhas! Zézé ficou sem palavras e muito envergonhado. Para além disso doía-lhe o nariz da picada. – Não coces o nariz! Espera aí que já te tiro o ferrão da abelha. O Major tirou-lhe o ferrão com todo o cuidado e a seguir aplicou-lhe uma pomada antialérgica. – Sabes, as abelhas são muito interessantes e úteis, mas temos que ter cuidado pois podemos ser picados e o veneno pode provocar alergias graves, sobretudo a algumas pessoas sensíveis a essa substância. 4 brochura 4/12/02 10:59 Page 5 Zézé ouvia-o com muita atenção e começou a achar que o Major não era assim tão antipático. – Eu gosto muito de ver as abelhas pousadas nas flores! Não sabia que elas picavam! E elas também produzem o mel, não é? Gostava de as ver nas suas colmeias! – Calma! Tudo a seu tempo! – Mas conte-me mais coisas sobre as abelhas... – Hoje não! Amanhã à tarde, às quatro horas em ponto estás em minha casa e peço-te o favor de comunicares o facto aos teus pais e de não te atrasares. Que feitio! Pensava Zézé, mas a vontade era tanta de conhecer tudo sobre as abelhas e o mel que isso já não tinha importância. Naquela noite sonhou com um rio de mel dourado e acordou muito cedo, ansiando pela hora da visita a casa do Major. Às quatro menos cinco, Zézé estava parado no portão da casa em frente e olhava atentamente para o relógio, às quatro horas em ponto tocou a campainha. Quando o Major lhe abriu a porta tinha um sorriso rasgado no rosto e o ar mais simpático do mundo. 5 brochura 4/12/02 10:59 Page 6 – Olá Zézé! Então sempre vieste! Vejo que o teu interesse é grande e a tua curiosidade genuína. Foram até ao jardim do Major e sentaram-se debaixo da sombra generosa de um castanheiro. Em cima da mesa estava uma jarra de vidro com um líquido dourado com rodelas de limão a boiarem que o major serviu em dois grandes copos. – Bebe, é àgua fresca com mel e limão. Que refresco tão delicioso! Mas o que interessava eram as histórias que o Major tinha para contar. – Pois então... menino José “espreitador de abelhas”, essas nossas amigas não são uns insectos tão simples como tu pensas! Esses bichinhos que têm a barriga riscadinha de preto e amarelo vivem numa sociedade muito organizada, tão organizada como um exército. 6 brochura 4/12/02 11:00 Page 7 Nessa sociedade vivem três castas: as obreiras que são quem realmente trabalha, os zangãos que são os machos e a rainha, abelha mestra ou abelha mãe que põe os ovos de onde nascem todas as abelhas, por isso é que lhe chamamos abelha mãe. A colónia, ou seja o conjunto das obreiras, os zangãos e a rainha vivem numa casa a que chamamos colmeia e que é feita de madeira mas também podem viver num tronco de uma árvore, numa gruta ou outro local. Dentro da colmeia as abelhas constroem os favos que são placas de cera com muitos buraquinhos em forma de hexágono, onde armazenam os produtos que recolhem no campo e também onde a rainha põe os ovos. 7 brochura 4/12/02 11:00 Page 8 – Elas recolhem o mel nas flores? – Não directamente! Quando chega a Primavera, aparecem também muitas flores, como tu sabes. Nessa altura as obreiras ou seja as abelhas “trabalhadoras” saem da colmeia e começam a visitar as flores para recolherem o néctar. Esta substância é um líquido açucarado que elas lambem e guardam num depósito que existe dentro do seu corpo chamado bolsa melária. Ao chegarem à colmeia entregam-no às suas companheiras que trabalham dentro da colmeia para estas armazenarem no favo. Mas o mel não é só composto por néctar! Contém também substâncias segregadas pelas abelhas, água e pólen. – Então as abelhas também colhem pólen? – O pólen depois de colhido e trabalhado por elas é armazenado para elas comerem e darem também às larvas... As abelhas bebés. – Por isso é que elas ficam todas cobertas de pó amarelo... E elas não comem mel? 8 brochura 4/12/02 11:00 Page 9 – Comem, claro! Por isso é que elas trabalham tanto e guardam tanta quantidade, porque durante o Verão e o Inverno já não há tantas flores. – Então o Senhor Major não devia lá ir buscar o mel... Elas trabalham tanto! – Não te preocupes! A colmeia é como se fosse uma casa arrendada: eu dou a casa e elas em troca pagam o aluguer em mel e ainda ficam com muito para comer no Inverno. Eu sou um apicultor justo! – E hoje já foi buscar mel? – Não, ainda não é a altura certa, só lá para o fim de Julho porque estamos nesta região, se estivéssemos numa zona mais quente colhíamos o mel mais cedo porque as flores também aparecem mais cedo, estás a perceber? 9 brochura 4/12/02 11:00 Page 10 – Sim! E quando for a altura de ir buscar o mel leva o frasco para encher? – Não, primeiro tens que perceber e ver como é composta uma colmeia. Vamos ao meu armazém de material. Zézé seguiu atentamente o Major até uma construção rústica que ficava atrás da casa grande. Quando entrou viu uma sala grande toda forrada a azulejos brancos que parecia mais uma cozinha, ao longo das paredes erguiam-se estantes que estavam cheias de frascos de mel muito alinhados. Noutra sala estavam guardadas pilhas de caixas de madeira e muitas outras coisas, foi aqui que o Major parou. Abeirou-se daquilo que lhe pareceu ser um caixote de madeira, partido ao meio, com uma tampa forrada a zinco. – Estás a ver, isto é uma colmeia! Tem um estrado que é o fundo, em cima deste estrado assenta esta caixa grande que é o ninho, cá dentro estão estas peças rectangulares que são os quadros e em cima do ninho assenta a alça e por fim a tampa ou telhado. No ninho é onde vive a rainha. Chama-se ninho, pois é aqui que ela põe os ovos, também onde a maior parte das abelhas nascem e aprendem a trabalhar. As obreiras começam primeiro por aprender os trabalhos de casa como limpar, alimentar as larvas, etc. e só depois é que vão para o campo. 10 brochura 4/12/02 11:00 Page 11 – E o que são esses caixilhos com arames e papel amarelo dentro do ninho e da alça? – São os quadros e isto não é papel amarelo, é cera moldada. As abelhas segregam cera para construir o favo, mas nós anualmente damos uma ajudinha retirando a cera dos favos que elas fizeram, derretemos e moldamos numa máquina que tem a configuração do favo natural, assim quando chega a altura de recolherem néctar já não têm que perder tanto tempo com isso e produzem mais mel. – Bem, então também ajudamos as abelhas! – Continuando... A alça é o armazém do mel da colmeia e a colmeia pode ter várias alças. Ora bem, para colher o mel, primeiro devemo-nos equipar muito bem com um fato e máscara próprios para a apicultura, depois devemos acender o fumigador com ervas aromáticas que deita um fumo branco perfumado e então depois de fumigar um bocadinho, abrimos a colmeia, vamos à alça e retiramos as abelhas com cuidado dos quadros que têm mel, isto é quando o favo está coberto com uma película branca e levamos só estes quadros com mel para casa, porque os outros ficam para as abelhas comerem. 11 brochura 4/12/02 11:00 Page 12 Para retirar o mel do favo, cortamos com uma faca a tal película branca, de um lado e do outro, a seguir colocamo-los dentro de uma máquina que se chama extractor que obriga o mel a sair através de centrifugação, depois passa para outro recipiente onde fica a descansar ou seja a decantar um mês e por fim abre-se a torneira do fundo da tina e enchem-se os frascos. – Tanto trabalho que dá o mel! Mas é tão bom... Zézé estava tão fascinado com a história do Major Pimentel que nem reparou que este se tinha ausentado para a tal espécie de cozinha onde estava a mexer numa grande arca de madeira. Estendendo-lhe um embrulho de papel castanho disse: – Toma lá rapaz, espero que agora deixes de ser um “espreitador de abelhas” e passes a ser um aprendiz de apicultor! Zézé abriu o embrulho que continha um fato-de-macaco, um casacomáscara e umas luvas, tudo branco e novinho em folha. Saltou para o pescoço do Major e agradeceu-lhe com um grande abraço, fazendo brilhar mais do que a conta os olhos daquele militar carrancudo e antipático. 12