Responsável chegou a pedir demissão
Reabertura do túnel do Rossio adiada por oito meses
Carlos Cipriano
Obras estiveram paradas seis semanas devido
ao aparecimento
de fissuras em edifícios
O túnel do Rossio, cuja reabertura estava prevista para Setembro, só deverá reabrir em
Maio de 2007 e, ainda assim, não há garantia de que tal venha a acontecer.
Complicações técnicas imprevistas e dificuldades encontradas à medida que avançam os
trabalhos têm vindo a atrasar este projecto que, segundo o PÚBLICO apurou, terá
provocado alguma tensão entre a dona da obra, Refer, e a empresa Teixeira Duarte, a
quem foi adjudicada por ajuste directo a reparação.
Em Março, duas das seis frentes de obra do túnel estiveram paradas por sugestão do
LNEC e da Refer na sequência de vários imprevistos, entre eles o resultado de medições
de assentamentos que apontavam para perigo de derrocada e a existência de fissuras em
alguns prédios por cima do túnel.
Uma fonte ligada a este projecto disse ao PÚBLICO que não há motivo para alarme
social, mas que os maiores riscos são ao nível dos custos, que poderão disparar se se
decidir recalçar os edifícios por cima da galeria. Tal implica o reforço das fundações
desses prédios e um atraso ainda maior na obra.
As duas frentes que estiveram paradas representam uma terça parte da extensão do túnel
e ficam do lado dos Restauradores, que é a zona com mais problemas. Do lado de
Campolide os trabalhos decorrem normalmente.
Para a Teixeira Duarte é quase normal a existência de imprevistos em trabalhos de
geotecnia pois, ao contrário de outros projectos, por muitas sondagens e estudos prévios
que se façam, debaixo de terra há sempre situações inesperadas a ser resolvidas à
medida que são detectadas.
Por parte da Refer, a engenheira responsável pela obra, Fernanda Pinto, pediu a
demissão, mas foi recusada. A dona da obra é, naturalmente, menos sensível aos
imprevistos e quer que o projecto seja executado de acordo com o contrato de
adjudicação.
O porta-voz da empresa, Rui Reis, diz que "a Refer tem desenvolvido a sua acção no
sentido do rigoroso cumprimento do projecto e respectiva garantia de segurança", mas
nega qualquer anormalidade no relacionamento com a Teixeira Duarte.
A mesma fonte refere a "excepcional complexidade de execução da obra, em virtude de
estarmos em presença de uma infra-estrutura secular, com particularidades específicas,
as quais somente são detectadas com o avanço desta". Mas nega que tal venha a ter
"qualquer impacto directo no prazo de execução do empreendimento".
A Refer confirma ainda que houve inundações da galeria em Dezembro, mas que foi
uma situação "pontual", logo regularizada.
O PÚBLICO perguntou à CP se tinha conhecimento de algum atraso na reabertura do
túnel do Rossio, tendo obtido a resposa de que a empresa "não dispõe da data exacta de
reabertura", devendo tal pergunta ser remetida à Refer. A transportadora tem vindo a
negociar com o gestor de infra-estrutura uma indemnização pela perda de receitas e de
mercado.
O túnel foi encerrado em 22 Outubro de 2004, ao serem detectados problemas graves
que punham em risco a sua segurança. As obras arrancaram em Março de 2005, numa
empreitada no valor de 49,5 milhões de euros. Previa-se então que abrisse a 30 de Junho
deste ano.
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