Caatinga, Mossoró-RN, 15(1/2):29-31, dez. 2002 AMARELÃO DO MELOEIRO: ENSAIOS PRELIMINARES DE TRANSMISSÃO POR MOSCA-BRANCA [MELON’S YELLOWING VIRUS: PRELIMINARY ESSAYS ON TRANSMISSION BY WHYTEFLY] GEORGE FAGNER DA SILVA Estudante do Curso de Agronomia, ESAM,Bolsista do CNPq/PIBIC, 59.600-970 Mossoró-RN RUI SALES JR. Prof. Associado, ESAM, Caixa Postal 137, 59.600-970 Mossoró-RN PATRÍCIO BORGES MARACAJÁ Prof. Adjunto, ESAM, Caixa Postal 137, 59.600-970 Mossoró-RN FRANK MAGNO DA COSTA Estudante do Curso de Agronomia, ESAM, 59.600-970 Mossoró-RN ROSIANE EUGÊNIA MUNIZ MARINHO Estudante do Curso de Agronomia, ESAM, 59.600-970 Mossoró-RN ELIOENAI DE CARVALHO SILVA Estudante do Curso de Agronomia, ESAM, 59.600-970 Mossoró-RN [Recebido em 22.08.2002] SINOPSE – A produção de melão (Cucumis melo L.) nos Estados do Rio Grande do Norte e do Ceará vem sendo significativamente afetada por um novo agente etiológico resultando na baixa qualidade final do fruto. O objetivo deste trabalho foi estudar a transmissibilidade do agente causal do amarelão do meloeiro por insetos vetores. Foram instaladas 15 gaiolas com malha anti-trips de 1,4m3 em campos de produção de melão AF-646, no momento da semeadura. Aos 23 dias após o plantio foram aplicados os seguintes tratamentos com cinco repetições: a) vinte e cinco casais adultos de mosca-branca; b) cinqüenta ninfas de 4o instar e pupas provenientes de plantas com amarelão; c) testemunhas sem moscas em gaiola e d) campo com infestação natural (testemunha absoluta). Aos 67 dias do plantio observou-se que as plantas das gaiolas com adultos e ninfas de moscas provenientes de campos infectados reproduziram a mesma sintomatologia observada em campo, enquanto as plantas na testemunha sem insetos não a apresentaram. ¬ Termos adicionais de indexação: Crinivirus, Cucumis melo, Bemisia tabaci. ABSTRACT – Melon (Cucumis melo L.) yields and quality in the states of Rio Grande do Norte and Ceará, Northeastern Brazil, has been drastically affected by a new disease agent. The objective of this study was to evaluate the transmittability of this agent by vector insects. Fifteen 1.4 m3 anti-trips net cages were placed in AF-646 melon production fields at sowing time. After 23 days three five-replicated treatments were applied: a) Twenty-five whitefly female-male pairs per cage; b) fifty fourth instar nymphs and pupae collected from diseased melon plants; c) control (no flies in the cages); and d) naturally infested field (absolute control). After 67 days it was oberved that the plants in the cages with adults or nymphs showed the same symptoms as the field plants, but no similar symptoms were recorded in the plants caged free of insects. ¬Additional keywords: Crinivirus, Cucumis melo, Bemisia tabaci. INTRODUÇÃO Vários vírus transmitidos por mosca-branca (Bemisia tabaci (Genn.)) vêm ocasionando problemas de amarelecimento em plantas cultivadas, inclusive no meloeiro, em áreas de produção da Califórnia-USA e alguns países da Europa. Entre os principais vírus identificados como causadores do amarelecimento do meloeiro nessas regiões, destaca-se o vírus do amarelecimento infeccioso da alface (Lettuce infectious yellows vírus, LIYV) e o vírus do nanismo amarelo das cucurbitáceas (Cucurbit yellow stunt virus, CYSDV) ambos da família Closteroviridae, gênero Crinivirus, transmitidos por mosca-branca (WISLER et alii, 1998; RUBIO et alii, 1999; KARASEV, 2000). 30 Outros vírus causando amarelecimento em plantas da família Cucurbitaceae foram identificados ena Espanha. ARTEAGA (1994) descreveu infecções em pepinos (Cucumis sativus L.) produzidos em casas de vegetação com sintomas semelhantes ao apresentado pelo amarelão do meloeiro, sendo o agente vetor a mosca-branca Trialeurodes vaporariorum (Westwood). Recentemente, foi detectada a incidência, de forma generalizada, de um problema de amarelecimento foliar em meloeiro, ocasionando grande preocupação aos produtores de melão nos estados do Rio Grande do Norte e do Ceará. O “amarelão do meloeiro”, denominação que vem sendo usada pelos produtores para este problema, surge a partir dos 35-37 dias do plantio, começando freqüentemente pelas folhas basais e, com o passar do tempo, o amarelecimento das folhas fica mais acentuado, chegando a tomar toda a planta. Aos 55-60 dias, os plantios afetados apresentam um aspecto de mosaico verde-amarelo (COSTA et alii, 2002). Embora as características sintomatológicas coincidam com as descritas para viroses ocasionadas por vírus da família Closteroviridae, gênero Crinivirus, a etiologia do problema ainda não está definida. Sabe-se também que o amarelecimento geral da folhagem ocasiona repercussões desfavoráveis através da redução dos sólidos solúveis dos frutos, depreciando-os comercialmente, para os mercados interno e externo, com queda de produção. A correta identificação da espécie de vírus que vem ocasionando o “amarelão do meloeiro” no Nordeste brasileiro deve ser a primeira providência a ser tomada, a fim de que se possa estabelecer estratégias de controle adequadas e eficientes para o problema. Assim, este trabalho teve como objetivo estudar o complexo vetor (mosca-branca) x patógeno (amarelão do meloeiro). MATERIAL E MÉTODO Dois ensaios em delineamento inteiramente casualizados com quatro tratamentos e cinco reptições de quatro plantas foram conduzidos em duas fazendas produtoras de melão inseridas no agropólo Mossoró-Açu, sendo o genótipo de melão utilizado o híbrido AF-646 da empresa de sementes Sakata. Ambos os ensaios foram montadados em Silva et alii gaiolas confeccionadas com malha anti-afídeo, medindo 2,0m x 1,0m x 0,7m (1,4m3) cada, as quais foram postas sobre os camalhões no momento da semeadura, sendo estas abertas lateralmente apenas para receber os respetivos tratamentos e retiradas somente no final dos ensaios. Os tratamentos foram constituídos de: a) controle – sem mosca-branca (plantas em gaiolas); b) testemunha absoluta – plantas infestadas naturalmente (campo de produção) (sem gaiolas); c) plantas (em gaiolas) infestadas com 25 casais adultos de mosca-branca obtidas de plantas sintomáticas; e d) plantas (em gaiolas) infestadas com 50 ninfas de quarto instar e pupas de moscabranca obtidas de plantas sintomáticas. Esses tratamentos foram aplicados aos 23 dias do plantio. Aos 67 dias, momento da colheita, foram realizadas as observações de incidência ou não de sintomas de amarelão. Amostras de plantas de melão com sintomas de amarelão foram coletadas e enviadas para observações em microscópio eletrônico de transmissão para observação das possíveis partículas virais. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos 22 dias da colocação dos adultos de mosca-branca nas gaiolas já se observaram os primeiros sintomas de amarelecimento das folhas basais do meloeiro. Fato esse que se repetiu para ambos os ensaios, sendo notório o sintoma de amarelão. É pertinente ressaltar que o amarecimento das folhas no interior das gaiolas com adultos de mosca-branca não se apresentou de forma generalizada, ficando restrito a umas poucas folhas por gaiola. Uma hipótese levantada para explicar tal fato é que o aparecimento intenso do sintoma de amarelão está condicionado a um estresse da planta, o que começa a ocorrer no período de vingamento e inicio da frutificação. Essas observações são pertinentes já que em condições de infestação natural em campo é a partir deste momento que os referidos sintomas começam a ser visíveis. Curiosamente, observou-se em ambos os ensaios, no tratamento em que foram colocadas ninfas nas gaiolas, que as plantas também apresentavam a mesma sintomatologia observada nas plantas infestadas com adultos. Esse fato é de particular importância já que, conforme a literatura Amarelão do meloeiro e mosca-branca (LÓPEZ-MOYA & LÓPEZ-ABELLA, 1996), as infecções virais transmitidas por mosca-branca apresentam-se de forma semipersistente, no entanto, no presente estudo, parece apresentar-se de forma persistente, sendo, contudo, necessário que sejam realizados estudos moleculares das ninfas para localizar o vírus nesse estádio de desenvolvimento do inseto. As plantas provenientes de gaiolas controle não desenvolveram o sintoma característico da enfermidade viral, ao contrário do que se observou em campo, onde as plantas de meloeiro, em sua totalidade, apresentaram 100% de infecção. Estudos de microscopia eletrônica de transmissão revelaram partículas filamentosas semelhantes a vírus com 800-900nm de comprimento. Embora a sintomatologia, a distribuição da doença no campo e o tamanho e a forma das partículas observadas sejam indicativos de virose causada por um vírus da família Closteroviridae, gênero Crinivirus; estudos moleculares serão necessários para elucidação do problema. CONCLUSÕES Plantas de meloeiro infestadas com adultos, ninfas e pupas de mosca-branca (Bemisia tabaci (Genn.)) reproduziram os mesmos sintomas do amarelão comum nos plantios da cultura. Partículas virais de um possível Crinivirus foram observadas nas amostras de plantas com os sintomas de amarelão analisadas sob microscópio eletrônico de transmissão. Tais observações são indicativos de que a mosca-branca é um vetor desse vírus e que essa trasmissão parece ser do tipo persistente. LITERATURA CITADA ARTEAGA, L. (1994). Enfermedades producidas por virus. In: García-Jiménez, J. & Días Ruíz, J. R. (eds.). Enfermedades de las cucurbitáceas en España. Madrid: Phytoma-España. p. 73-86. COSTA, F. M.; SALES JR., R.; RAMOS, N. F.; LIMA, J. A. A.; VILLELA, A. L. G. (2002). Ensaios preliminares sobre a transmissibilidade do vírus do amarelão do meloeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA, 25, Recife, 4 a 9 de agosto de 2002, Resumos..., Recife: UFRPE. 31 KARASEV, A. V. (2000). Genetic diversity and evolution of closteroviruses. Annual Review of Phytopathology, Palo Alto, 38:293-324. LÓPEZ-MOYA, J. J.; LÓPEZ-ABELLA, D. (1996). Transmisión de virus de plantas por insectos vectores. In: Láacer, G.; López, M. M.;Trapero, A. & Bello, A. (eds.). Patología Vegetal. Madrid: Phytoma-España, [s.l.], v.1, cap. 9, p. 275-300. RUBIO, L.; SOONG, J.; KAO, J.; FALK, B. W. (1999). Geographic distribution and molecular variation of isolates of three whitefly-borne closteroviruses of cucurbits: Lettuce infectious yellows virus, Cucurbit yellow stunting disorder virus, and Beet pseudoyellows virus. Phytopathology, St. Paul , 89:707-711. WISLER, G. C.; LI, R. H.; LIU, H. Y.; LOWRY, D. S.; DUFFUS, J. E. (1998). Tomato chlorosis: a new whiteflytransmitted, phloem-limited bipartite closterovirus of tomato. Phytopathology, St. Paul, 88:402-409.