2015-02-28 Drª. Mónica Mota Rua do Souto nº 99 4575-112 Boelhe [email protected] 964529331 Interno da Especialidade Medicina Geral e Familiar USF Alpendorada UM CASO DE ARTRITE PSORIÁTICA APÓS INFEÇÃO POR VÍRUS DENGUE Mónica Mota, Ricardo Santos, Rui Correia, Inês Melo e Sousa, Sara Silva, Frederico Salgado, José Carvalho Introdução: Artralgias e artrite são manifestações relativamente comuns de infeções virais e, nesse contexto, são em regra auto-limitadas. As infeções virais não são um fator etiológico reconhecido das formas comuns de artrite inflamatória crónica, no entanto sabe-se que alguns vírus podem precipitar este fenómeno. As infeções por vírus dengue cursam frequentemente com um quadro de artralgias de curta duração. Quadros mais prolongados geralmente estão associados a outras etiologias. Caso clínico: Apresenta-se o caso de um homem com 62 anos, emigrante em Angola, com antecedentes de psoríase cutânea/ungueal, hipertensão arterial e tabagismo. Em Angola iniciou quadro súbito de febre, mialgias e artralgias, com atingimento predominante dos ombros, cotovelos, punhos, joelhos e tornozelos. Após 5 dias de evolução, recorreu ao serviço de urgência, tendo efetuado estudo analítico do qual se destacava hemoglobina (Hb) 13.9 g/dl, fórmula leucocitária e plaquetas sem alterações, função renal e hepática preservadas, pesquisa de plasmodium negativa e IgG e IgM específicas para vírus dengue positivas, sem outras alterações de relevo. Foi diagnosticada dengue, tendo sido medicado com paracetamol, com normalização da temperatura e desaparecimento das mialgias. Cerca de 2 semanas depois, por persistência de artralgias, foi reavaliado, tendo sido reforçada a analgesia com metamizol, com melhoria ligeira das queixas que, no entanto, persistiram. Regressado de Angola, recorre à consulta do seu Médico de Família por manter o quadro de poliartralgias com 8 semanas de evolução. Do exame físico destacava-se dor à mobilização articular, de predomínio nos joelhos, sem edema ou deformidades aparentes, presença de distrofia ungueal, ausência de alterações cutâneas e apirexia. Realizou novo estudo analítico, do qual se salientava Hb 12.9 g/dl, leucograma normal, PCR 0.99 mg/l, VS 55 mm/h, factor reumatóide negativo, função hepática e renal conservadas e exame sumário de urina sem alterações. Foi diagnosticada artrite psoriática e medicado com acemetacina, com franca melhoria das queixas. Discussão: No caso apresentado, a duração prolongada do quadro de artralgias tornou pouco provável uma etiologia viral para as queixas persistentes. Num doente com antecedentes de psoríase cutânea e ungueal (esta última em atividade) e estudo imunológico negativo para outras causas de atrite, a artrite psoriática coloca-se como diagnóstico mais provável. Conclusões: A persistência de artralgias após uma infeção por vírus dengue, conduziu ao diagnóstico de artrite psoriática num doente com psoríase. Estão descritos casos de artrite psoriática associados a infeções víricas mas a associação a infeção por vírus dengue não é habitualmente referida na literatura.