ANO XVI • NÚMERO 45 • JANEIRO / JUNHO • 2008
• Destaque • Bispo diocesano ao encontro da realidade eclesial e social • pág. 77
D. António Marto inicia
Visita Pastoral à Diocese
• Documentos • Um novo olhar pastoral • pág. 11
Paróquia, Vigararia e Missão do Vigário
• História • Saul António Gomes • pág. 153
Capelas e ermidas na paróquia da Batalha em Setecentos
• História • Ricardo Pessa de Oliveira • pág. 173
As Relações de Entrada do Bispo de Leiria D. João Cosme da Cunha (1746)
DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DO
Leiria-Fátima
Órgão Oficial da Diocese
ANO XVI • NÚMERO 45 • JANEIRO / JUNHO • 2008
Ficha Técnica|
Director | Luís Inácio João
Chefe de Redacção | Luís Miguel Ferraz
Administrador | Henrique Dias da Silva
Conselho de Redacção | Belmira de Sousa, Jorge Guarda, Luciano Cristino,
Manuel Melquíades, Saul Gomes
Capa/Grafismo | Luís Miguel Ferraz
Propriedade/Editor | Diocese Leiria-Fátima / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais
Sede | Seminário Diocesano de Leiria • 2414-011 Leiria
Tel.: 244832760 • Fax: 244821102
Correio Elec.: [email protected]
Periodicidade | Semestral
Tiragem | 330 exemplares
Preço | 6 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual)
Impressão | Gráfica de Leiria
Depósito Legal | 64587/93
Índice
. editorial .
Laicidade… ainda e sempre
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Documentos•••
. decretos .
Nomeação • Capelão do Santuário de Fátima 9
Decreto • Remuneração do clero e funcionários 9
Nomeação • Vigário Paroquial de Pataias e Alpedriz 10
. documentos pastorais .
Um Novo Olhar Pastoral • Paróquia, Vigararia e Missão do Vigário
Quaresma 2008 • Tempo de acolhimento da Ternura de Deus
Nota Pastoral • Convite para o “Jubileu das vocações”
Mensagem do Bispo às crianças da catequese • “Jesus é fonte de vida e de ternura”
Nota pastoral • Processo de aceitação de Candidatos à Leccionação da Disciplina
de Educação Moral e Religiosa Católica na Diocese de Leiria-Fátima
Mensagem aos pais e encarregados de educação • Educação Moral e Religiosa Católica
Nota pastoral •Critérios para a admissão e recondução de docentes
de Educação Moral e Religiosa Católica na Diocese de Leiria-Fátima
. escritos episcopais .
Homilia Dia Mundial da Paz • Onde bate hoje o coração da paz?
55º Dia Mundial dos Leprosos • Também os leprosos invocam a nossa Ternura
Homilia na Semana de Estudos sobre a Vida Consagrada • Cristo é tudo para vós, consagrados(as)
Meditações e homilias do Ano da Misericórdia do Senhor • Introdução ao livro “Graça e Misericórdia”
Inauguração do Domus Carmeli – Padres Carmelitas Descalços – Fátima • Casa de Deus e Porta do Céu
Exéquias do padre Manuel António Henriques • Um Pastor Terno e Generoso
Mensagem • 75º aniversário do Jornal “A Voz do Domingo”
Homilia da Missa Crismal • Servidores da Ternura e da Consolação de Deus
Mensagem para a publicação anual da Cercilei • 24º Sarau de Actividades Corporais
Abertura das XVI Jornadas de Direito Canónico • O Direito, a Caridade e a Comunhão Fraterna
Mensagem de Abertura • Peregrinação de Maio a Fátima
Intervenção nas Jornadas Pastorais da CEP • “Comunhão e Missão”
. diversos .
Comunicado do Conselho Pastoral • Reflexão sobre a Palavra de Deus
Comunicado do Conselho Presbiteral • Escutar e acolher a Palavra de Deus
Comunicado do Conselho Pastoral • Co-responsabilidade dos leigos
Comunicado do Conselho Presbiteral • Professar, celebrar e viver a fé
Resumo Geral das Contas - Ano de 2007 • Seminário Diocesano de Leiria
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Vida Eclesial•••
. destaque .
Bispo diocesano ao encontro da realidade eclesial e social • D. António em Visita Pastoral à Diocese 77
Já não se fazia há cerca de 30 anos…
Entrevistas aos párocos
Encerramento da Visita Pastoral à vigararia da Batalha • “Desejo paróquias fraternas e em rede”
“Lectio Divina” preparou a visita pastoral
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Índice
. notícias .
Diocese peregrina sob o signo da ternura • “Oh, quanto eu sonho… ver comunidades renovadas”
Formação Permanente do Clero / Dia Mundial do Doente
Retiro popular: Saborear a ternura de Deus
Quinta-Feira Santa - Missa crismal - Óleo da consolação
D. António Marto eleito vice-presidente da CEP / Primeira pedra da igreja dos Pousos
Assembleia do Clero: o Sensus ecclesiae
Padre Jorge Guarda: 25 anos de sacerdócio
Padre Carlos Cabecinhas, Doutor em Liturgia / Movimentos na vigília de Pentecostes
AMIGrante promoveu “Festa dos Povos” / D. António representa CEP na Alemanha
Diocese celebra Corpo de Deus / Igreja ajuda a divulgar complemento solidário para idosos
Falecimento • Padre Manuel Pereira Júnior
Falecimento • Padre Manuel António Henriques
. Santuário de Fátima .
Mensagens de agradecimento a Nossa Senhora / Mais de 199 mil confissões em2007
Abertura do processo de beatificação da Ir Lúcia
Igreja da Ssma Trindade recebe Prémio Secil / II Encontro de Reitores de Santuários de Portugal
VI Bênção do Ciclista / Guias-intérpretes estudam os Jesuítas
Encontro de Hoteleiros e Responsáveis de Casas Religiosas
Livro de “Meditações do Ano da Misericórdia” / Padre Virgílio Antunes será o novo reitor
“Via Lucis” na igreja da Santíssima Trindade
. serviços e movimentos .
Centro de Apoio ao Ensino Superior
Centro de Formação e cultura
Semana Nacional da Cáritas • Solidariedade na primeira linha
Serviço Pastoral das Prisões • Nas prisões… “A Caminho de Emaús”
Comissão Diocesana Justiça e Paz - Ciclo de Colóquios • “Direitos Humanos e Realidades Actuais”
Serviço Diocesano de Catequese
Serviço Diocesano de Pastoral Litúrgica e Música Sacra • Curso de música litúrgica
Departamento do Património Cultural • Dia Internacional dos Monumentos e Sítios
Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil • Festival da Canção Jovem
Conselho Diocesano da Família • Acção das famílias em favor das famílias
Serviço de Animação Vocacional
Espectáculo de solidariedade do grupo Ondjoyetu • Obrigado a todos!
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. entrevistas .
Grupo Ondjoyetu - Entrevista a D. Benedito Roberto • Geminação Leiria-Fátima/Sumbe 129
Entrevista ao padre Augusto Pascoal • S. Romão e Guimarota em movimento 131
Reflexões•••
. teologia/pastoral .
Do sofrimento à Páscoa • Histórias actuais da Paixão
Para além das políticas / Um exemplo de “economia de comunhão” • Dignidade do trabalho
Semana da Vida - À luz da Encíclica Spe Salvi de Bento XVI • Vida com Esperança
Breves notas históricas • A Misericórdia de Leiria e o seu hospital
. história .
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Saul António Gomes • Capelas e ermidas na Paróquia da Batalha em Setecentos 153
Ricardo Pessa de Oliveira • As Relações de Entrada do Bispo de Leiria D João Cosme da Cunha (1746) 173
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Editorial
Laicidade… ainda e sempre
No último Editorial, mencionámos a Laicidade como um caso de aplicação do respeito das liberdades fundamentais de pensamento, de expressão e de associação, designadamente, no cumprimento do dever de construção comum da vida social. Insistimos ainda na aplicabilidade do mesmo princípio a todos os âmbitos em que a pessoa, investindo
a sua inteligência e decisão, desenvolve e explana a sua personalidade com ressonâncias
na sociedade. A prioridade não está na religião, na política, na economia ou em qualquer
outro âmbito, mas na pessoa enquanto sujeito pensante e responsável.
Voltando à vida social e à coexistência do individual e do colectivo, deparamo-nos
com a importância do princípio operativo da prevalência do verdadeiro bem comum.
Entre as demais instâncias da sociedade civil, e não se limitando a expectante, a Igreja
propõe o seu contributo, tanto na ordem da reflexão, como da prossecução prática do bem
comum. Bastará consultar o índice temático do Compêndio da Doutrina Social da Igreja
para se concluir que o ensinamento social católico tem aqui um dos seus núcleos que lhe
confere uma impressionante aplicabilidade prática.
Valerá a pena destacar alguns aspectos fundamentais desse ensinamento:
- À luz de um humanismo integral e solidário, o bem pessoal e o bem comum não
litigiam, antes se pressupõem e se exigem mutuamente. Orientado para a pessoa marcada
pela vocação originária da comunhão, o bem comum é um dos gonzos, ou princípios
permanentes da Doutrina Social da Igreja, a par da dignidade da pessoa humana, da
subsidiariedade e da solidariedade, todos expressão da verdade inteira sobre o homem
conhecida através da razão e da fé, e todos promanando do encontro da mensagem
evangélica (…) com os problemas que emanam da vida em sociedade (n.º 160). Estes
princípios, conexos e articulados (cf. n.º 162), são considerados primeiro e fundamental
parâmetro de referência para a interpretação e o exame dos fenómenos sociais, necessários, porque, a partir deles, se podem apreender os critérios de discernimento e de
orientação do agir social, em todos os âmbitos (n.º 161).
- O bem comum caracteriza-se pela sua universalidade, dizendo respeito a todos, e
pela integralidade do seu conteúdo, contemplando todos os aspectos humanos, com exigências estreitamente conexas com a promoção integral da pessoa e com os seus direitos
fundamentais (n.º 166). Porque a pessoa não pode encontrar plena realização apenas em
si mesma, prescindindo do seu ser “com” e “pelos” outros, nenhuma forma expressiva
da sociabilidade — da família ao grupo social intermédio, à associação, à empresa de
carácter económico, à cidade, à região, ao Estado, até à comunidade dos povos e das
nações — pode evitar a interrogação sobre o próprio bem comum, que é constitutivo do
seu significado e autêntica razão de ser da sua própria subsistência (n.º 165).
- O bem comum é tarefa solidária e responsável de todos. Empenha todos os membros
da sociedade: ninguém está escusado de colaborar, de acordo com as próprias possibilidades, na sua busca e no seu desenvolvimento (n.º 167). As suas exigências referem-se,
antes de mais, ao empenho pela paz, à organização dos poderes do Estado, a uma sólida
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Editorial
ordem jurídica, à salvaguarda do ambiente, à prestação dos serviços essenciais às pessoas, alguns dos quais são, ao mesmo tempo, direitos do homem: alimentação, morada,
trabalho, educação e acesso à cultura, saúde, transportes, livre circulação das informações e tutela da liberdade religiosa. Não se há-de olvidar o contributo que cada nação
tem o dever de dar (…) em vista do bem comum da humanidade inteira (n.º 166).
- Mas a tarefa do bem comum está ainda conexa com o princípio da subsidiariedade:
a sua promoção e realização incumbem não só às pessoas, individualmente, mas também
ao Estado, pois que o bem comum é a razão de ser da autoridade política (n.º 168). O
Estado deve garantir coesão, unidade e organização à sociedade civil da qual é expressão, de modo que o bem comum possa ser conseguido com o contributo de todos os
cidadãos. O indivíduo humano, a família, os corpos intermédios não são capazes, por si
próprios, de chegar ao seu pleno desenvolvimento; daí serem necessárias as instituições
políticas (idem).
Na cooperação de todos, o princípio da subsidiariedade aplica-se tanto no sentido
positivo, como ajuda económica, institucional, legislativa oferecida às entidades sociais
menores, como no sentido negativo, que impõe ao Estado abster-se de tudo o que, de facto, restrinja o espaço vital das células menores e essenciais da sociedade. Não se devem
suplantar a sua iniciativa, liberdade e responsabilidade (n.º 186).
Mesmo que diversas circunstâncias possam aconselhar que o Estado exerça uma
função de suplência (…), esta suplência institucional não se deve prolongar e estender além do estritamente necessário, já que encontra justificação somente no carácter
excepcional da situação. Em todo o caso, o bem comum (…) deverá continuar a ser o
critério de discernimento acerca da aplicação do princípio de subsidiariedade (n.º 188).
E nunca esquecer que uma consequência característica da subsidiariedade é a participação e que a participação, como indivíduo ou associado com outros, directamente ou
por meio de representantes, (…) na vida cultural, económica, política e social da comunidade civil a que pertence (…) é um dever a ser conscientemente exercitado por todos,
de modo responsável e em vista do bem comum (n.º 189).
- A solicitude particular com os menos armados para a defesa dos seus direitos e legítimos interesses, dizia João XXIII (Pacem in terris), aprende-se directamente do próprio
Jesus Cristo, que assim procedeu, e é um ditame, antes de mais, da justiça e da equidade.
Esta solicitude aplica-se a toda a espécie de bens, por isso igualmente ao bem comum.
E não sé dever apenas dos cristãos, por força do exemplo de Jesus, já que é elementar
exigência da justiça a que ninguém pode eximir-se, desde os cidadãos ao Estado.
Na Laicidade, afirmação prática dos direitos fundamentais de pensar, exprimir-se e
associar-se, os cristãos apresentam-se conscientes da vocação de todos para a comunhão
e acreditando em Jesus Cristo que, considerando-nos superiores a si mesmo, se pôs completamente ao serviço de todos (cf. Fl 2, 6-10). Esta sua inspiração peculiar só pode trazer
vantagens à participação na tarefa, que é comum a crentes e não crentes, de garantir a
todos o respeito dos seus direitos. Fazem parte do bem comum essencial os direitos de
pensamento, expressão e associação, que são condição imprescindível à realização do
mesmo.
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Documentos
. decretos . documentos pastorais .
. escritos episcopais . diversos .
. decretos .
Nomeação
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz
saber quanto segue:
Sendo necessário prover ao cuidado pastoral dos fiéis que se deslocam ao Santuário de Fátima, e tendo obtido a devida anuência do Bispo de Valladolid, na Espanha,
havemos por bem nomear o Rev. P. Ángel Antonio Alonso, presbítero da Diocese
de Valladolid, para as funções de Capelão do Santuário de Fátima. Exercerá o seu
ministério sob a orientação do Revº Reitor do Santuário de Fátima, e com todos os
poderes e deveres previstos no Código de Direito Canónico, tendo em conta o que é
estabelecido nos cânones 564-566.
Esta nomeação é válida pelo período de três anos.
Leiria, 3 de Janeiro de 2008.
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
Decreto
Remuneração do clero e funcionários
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz
saber quanto segue:
De acordo com os Artigos 67º, 68º e 69º do Regulamento da Administração de
Bens da Igreja, a remuneração do Clero e funcionários dos serviços diocesanos terá
um aumento de 3% neste ano de 2008.
O salário mensal do Clero será no valor de 824,00 €.
A mesma percentagem (3%) será aplicada à quantia correspondente ao alojamento daqueles que residem em casa da entidade patronal, passando a ser de 268,00 €.
Estas alterações são aplicáveis a partir do mês de Janeiro de 2008.
Leiria, 26 de Janeiro de 2008.
† António Augusto dos Santos Marto
Bispo de Leiria-Fátima
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Documentos
Capelão do Santuário de Fátima
. decretos .
Nomeação
Vigário Paroquial de Pataias e Alpedriz
António Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz
saber quanto segue:
Sendo necessário prover ao cuidado pastoral do Povo de Deus que nos foi confiado, e tendo obtido a devida anuência do Bispo de Marília, no Brasil, havemos
por bem nomear Vigário Paroquial de Pataias e de Alpedriz o Rev. P. Sérgio Luiz
Roncon, que tomará posse durante o mês de Março.
Exercerá o seu ministério em colaboração com o Revº Pároco, P. Virgílio do
Rocio Francisco, e com todos os direitos e deveres previstos no Código de Direito
Canónico, nomeadamente as faculdades consignadas no cânone 1111.
Esta nomeação é válida pelo período de um ano.
Leiria, 29 de Fevereiro de 2008.
† António Augusto dos Santos Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. documentos pastorais .
Um Novo Olhar Pastoral:
1. A paróquia e a vigararia hoje: pastoral de comunhão
A questão séria que se põe hoje à Igreja, às comunidades e a cada um de nós, é
o anúncio e a transmissão da fé frente às mudanças culturais e às dificuldades e aos
desafios que levantam: Como anunciar hoje? Qual deve ser o fundamento da evangelização? Que caminhos percorrer para que seja activa e fecunda? Não podemos
contentar-nos com uma religiosidade vaga, genérica e superficial que não resiste às
transformações culturais, à mínima tempestade provocada por um Código da Vinci
e outras ficções do género.
João Paulo II, na Novo Millennio ineunte, indica algumas linhas programáticas
que poderemos sintetizar em três palavras-chave:
Contemplação: contemplar o rosto (mistério) de Cristo para ir ao coração da fé
e caminhar na estrada da santidade. É o reconhecimento do primado de Deus, da Sua
graça e do Seu amor na vida e pastoral da Igreja; o apelo à essência da fé e da vida
cristã (Palavra, Eucaristia, iniciação à fé);
Comunhão: descobrir o mistério de comunhão que habita e caracteriza a forma
da existência cristã e da Igreja e se torna espiritualidade pessoal e comunitária e, por
conseguinte, praxis (pessoal e pastoral) de comunhão;
Missão: para ser testemunhas alegres e convictas e fermento evangélico no mundo, atentos à vida quotidiana das pessoas e à mudança cultural do nosso tempo.
A vida cristã, a vida em Cristo deve projectar-se para uma experiência de vida
trinitária, vida de comunhão, que configurará a Igreja como “casa e escola de comunhão” e, por conseguinte, uma pastoral de comunhão. Isto define o aspecto fundamental da evangelização, hoje: partir sempre da comunhão, não esquecendo que
esta é, antes de mais, uma espiritualidade a cultivar, como pressuposto indispensável
para a práxis pastoral.
Tudo isto obriga a repensar a colocação da paróquia e sua acção pastoral.
1.1. A paróquia e a evangelização do território
A paróquia tem duas referências fundamentais: a igreja diocesana (da qual é uma
célula) e o território (no qual torna a Igreja presente no meio das casas dos homens).
O território deve ser entendido não só geograficamente, mas também antropologi| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 11
Documentos
Paróquia, Vigararia e Missão do Vigário
. documentos pastorais .
camente: as características humanas, sociais e culturais. Dada a mobilidade característica do nosso tempo, as pessoas vivem hoje em vários territórios, geográficos e
culturais. Já não vivem, nem fazem a sua vida só no espaço e no ambiente da paróquia. As referências são múltiplas. Continua a ser verdade que a paróquia é a igreja
presente no quotidiano das pessoas e das famílias, que as acompanha em todas as
idades e etapas da vida. Todavia, não se pode mais concebê-la isolada e fechada em
si mesma. Já o Pe. Congar, nos meados do século passado, escreveu um livro com
um título muito significativo: Minha paróquia, vasto mundo!
Uma pastoral de manutenção, voltada unicamente para a conservação da fé e
assistência da comunidade, já não basta. É preciso uma pastoral evangelizadora e em
todos os campos: ser capaz de criar e manter itinerários que aproximam as pessoas
da fé, promovendo lugares de encontro com quantos andam à busca e com quem,
mesmo sendo baptizado, sente o desejo de escolher de novo o evangelho como
orientação de fundo da sua própria vida…
1.2. Uma pastoral integrada
Acabou o tempo da paróquia auto-suficiente que oferecia tudo para todos e respondia a todas as situações e a todos os problemas. Hoje isso é impossível. Todos
devemos tomar consciência desta realidade.
Em âmbitos da pastoral litúrgica, da formação na fé, da pastoral dos jovens, da
família, caridade, cultura, saúde, etc., só se pode trabalhar juntos. São terrenos onde
a paróquia tem necessidade e urgência de mover-se em colaboração com as paróquias vizinhas, no contexto da vigararia, investindo corajosamente numa pastoral
de conjunto.
Eis a razão pela qual é muito importante que as comunidades paroquiais colaborem cada vez mais, que haja uma colaboração e responsabilidade partilhada entre as
comunidades. Não é bom que vivam lado a lado como ilhas. E não se trata apenas de
uma colaboração meramente ocasional para uma determinada iniciativa, mas de um
laço de colaboração duradoiro e programado. Isto é indispensável para a vitalidade
das próprias comunidades.
E não se pense que se trata de uma pura “política de crise” resultante da escassez
do clero. É antes uma perspectiva que se abre para o futuro. Isto resulta da unidade
da missão da Igreja (missão em comunhão) para que seja vivida na busca de todas
aquelas colaborações que permitam realizar iniciativas que superam as possibilidades de cada paróquia. Daqui a necessidade de uma pastoral integrada, isto é, situada
dentro de um agregado mais vasto na relação com as outras paróquias.
Uma pastoral integrada põe em acção todas as energias de que o povo de Deus
dispõe, valorizando-as na sua especificidade e, ao mesmo tempo, fazendo-as confluir
em projectos comuns, pensados, definidos, programados e realizados em conjunto.
Ela põe em rede os múltiplos recursos de que dispõe: humanos, espirituais, culturais,
pastorais.
12 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
Tudo isto exige uma nova valorização da vigararia que vai para além das relações
funcionais ou convergência de interesses práticos. Deve ser valorizada sobretudo
como centro de evangelização ou “unidade pastoral” (mesmo sem a formalidade
jurídica do “in solidum”), como âmbito normal de comunhão eclesial pastoral, de
discernimento pastoral, de integração de iniciativas e colaborações entre paróquias
de uma área, – “paróquias em rede”, num esforço de pastoral de conjunto, em ordem
a uma nova qualidade de evangelização. Uma rede de fraternidade ao serviço do
Evangelho.
Assim, será possível realizar também uma valorização das competências, um
intercâmbio de dons e ministérios, uma partilha e poupança de recursos, um reequilíbrio dos encargos de trabalho.
Mas isto requer o difícil trabalho em equipa! Trabalhar em equipa requer, por
sua vez, uma espiritualidade e uma ascese, a começar pelo “pensar em equipa”: pôr
em comum os diversos pontos de vista com transparência; ter o desejo de aprender
com os outros; escuta interessada e sem preconceitos; estar consciente de que em
equipa se vê e discerne a realidade com maior amplidão e profundidade; renunciar
ao individualismo e à indisciplina.
Além disto, é preciso tomar consciência de que o investimento pastoral na vigararia reverte numa “mais-valia” para cada paróquia.
1.3. Estilo de pastoral integral
Além da pastoral integrada, é necessária também uma pastoral integral que integra as várias dimensões (profética, litúrgica e sócio-caritativa com as diferentes
subdivisões), os vários sujeitos e os vários ministérios da pastoral da comunidade;
uma pastoral em diálogo (dentro da comunidade, ecuménico, inter-religioso, com os
de convicções não religiosas, com a cultura…)
Se acabou a época da paróquia auto-suficiente, acabou também o tempo do pároco auto-suficiente (faz-tudo), que pensa o seu ministério isolado.
Os sacerdotes devem ver-se sempre no interior do presbitério, por um lado, e
dentro da sinfonia dos ministérios na comunidade, por outro. O pároco deverá cuidar
de promover carismas, vocações, ministérios a partir da corresponsabilidade. Não
pode reduzir os fiéis leigos ao papel de meras tropas auxiliares. Há que passar da
mera ajuda (= dar uma mão) à corresponsabilidade dentro de um projecto pastoral
comum.
Há pois uma tríade indivisível de elementos: comunhão, corresponsabilidade,
colaboração, que desenham o rosto de comunidades que trabalham em conjunto.
Estes três elementos configuram um estilo pastoral que valoriza cada recurso e cada
sensibilidade, num clima de fraternidade e de diálogo, de franqueza na partilha e de
humildade na busca do que corresponde ao bem de toda a comunidade; geram estilos
de encontro e comunicação, através de relações interpessoais atentas a cada pessoa;
e promovem relações maduras, capazes de escuta e de reciprocidade.
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Documentos
. documentos pastorais .
. documentos pastorais .
1.4. Conversão pastoral
Trata-se de ver nesta perspectiva não uma mera estratégia humana de organização eclesiástica, de engenharia eclesial ou lotização de poderes ou tarefas, mas
antes uma indicação que nos vem do Senhor através do discernimento da situação
da Igreja hoje e nos pede uma verdadeira conversão pastoral. É um apelo à fé para
enfrentar as dificuldades e procurar soluções juntos; um apelo a olhar com esperança
o momento presente com as suas dificuldades e chances e a não ficar parados junto
ao muro das lamentações! Estamos a atravessar uma “crise epocal” que normalmente dura décadas. Não temos receitas e soluções prontas para os novos desafios. Mas
a Igreja, ao longo da história, já passou por muitas destas “crises epocais” e soube
encontrar sempre novas formas de presença e de anúncio do Evangelho. Também
nós temos de estar à altura da hora presente!
Estou consciente de que só nesta base vos posso pedir uma atitude de conversão
pastoral e o mais generoso contributo para a implementação desta orientação.
Questões para um exame de consciência pastoral:
Cuidamos da espiritualidade de comunhão entre nós e nas nossas comunidades?
Se há grupos, associações e movimentos na paróquia ou vigararia sabemos – e como
o estamos a fazer – discernir, integrar e cuidar da valorização das suas competências? Como cuidamos da intercomunicação dos diversos grupos específicos entre
eles e com toda a comunidade e com a vigararia? Sabemos como programar e animar
tudo isto? Estamos dispostos a pensar e a trabalhar em equipa? Como criar o “espírito de vigararia” em todas as paróquias?
A este exame de consciência ajuda também o “decálogo do sacerdote” apresentado por um bispo alemão já falecido (D. Klaus Hemmerle, bispo de Achen, numa
jornada de estudo da Conferência Episcopal Alemã.):
1. É mais importante como eu vivo o sacerdócio, do que aquilo que faço enquanto sacerdote.
2. É mais importante o que Cristo faz através de mim, do que aquilo que faço
eu.
3. É mais importante que eu viva a comunhão no presbitério, do que lançar-me
até à exaustão sozinho no ministério.
4. É mais importante o serviço da oração e da palavra, do que o das mesas.
5. É mais importante seguir e ajudar a formar, espiritual e culturalmente, os colaboradores, do que fazer eu mesmo e sozinho o mais possível.
6. É mais importante estar presente em poucos, mas centrais sectores de acção,
com uma presença que irradie vida, do que estar em tudo à pressa ou a meias.
7. É mais importante agir em comunhão com os colaboradores, do que sozinho,
mesmo que me considere capaz; ou seja, é mais importante a comunhão do que a
acção.
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. documentos pastorais .
2. A missão do Vigário
“O cargo de vigário reveste uma notável importância pastoral, enquanto colaborador próximo do Bispo na cura pastoral dos fiéis e solícito “irmão maior” dos
sacerdotes da vigararia, sobretudo se estão doentes ou em situações difíceis.
Compete-lhe promover e coordenar a actividade pastoral que as paróquias realizam em comum, velar (= cuidar com solicitude) para que os sacerdotes vivam de
acordo com o seu estado e seja observada a disciplina paroquial, sobretudo litúrgica”
(Directório para o ministério pastoral dos bispos, nº 218).
A missão do vigário é, antes de tudo, pastoral e não só jurídico-administrativa.
Inclui, em primeiro lugar, solicitude apostólica e fraternidade sacerdotal. O vigário é
chamado a fomentar e coordenar a actividade pastoral comum e a animar a vida do
presbitério local em comunhão. Em concreto e mais especificamente:
Promover a união e fraternidade do clero (criar laços através da boa relação, da
participação e convívio nas reuniões vicariais, do contacto pessoal, do passeio anual,
da visita aos colegas, do apoio espiritual e material aos colegas doentes; cuidar da
dignidade dos funerais daqueles que faleceram e da salvaguarda dos livros paroquiais, dinheiros da paróquia; etc.)
Convocar e moderar as reuniões vicariais do clero (organizar e enviar a agenda,
preparar com cuidado o momento de oração comunitária, promover a participação
de todos, prestar atenção ao tempo para abordar os assuntos, nomear secretário para
fazer a acta, etc.).
Desenvolver a vida e o trabalho de equipa (distribuição de tarefas, cuidar da
substituição de um padre em casos imprevistos, marcação conjugada de férias…).
Ajudar o clero a conhecer e a aderir às propostas diocesanas, à participação na
formação permanente, à avaliação periódica das propostas pastorais, à elaboração da
nova contabilidade, de harmonia com o previsto na Concordata.
Propor iniciativas comuns às paróquias da vigararia para o desenvolvimento do
sentido de unidade pastoral, fomentar acções da pastoral especializada na vigararia
(formação dos agentes da pastoral litúrgica, preparação do matrimónio, formação
de catequistas e de ministérios, pastoral juvenil, pastoral sócio-caritativa, pastoral
vocacional etc.).
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Documentos
8. É mais importante, porque mais fecunda, a cruz do que os resultados muitas
vezes aparentes, fruto de talentos e esforços simplesmente humanos.
9. É mais importante ter a alma aberta sobre o “todo” (comunidade, diocese,
igreja universal, humanidade), do que fixada em interesses particulares, ainda que
me pareçam importantes.
10. É mais importante que a fé seja testemunhada a todos, do que satisfazer todos
os pedidos habituais.
. documentos pastorais .
Convocar, presidir e animar as jornadas vicariais (ou assembleias ou encontros
vicariais).
Representar a vigararia nas reuniões de vigários ou outras.
Ser meio de comunicação entre as paróquias e a Diocese (dificuldades, doença
ou morte de colegas ou seus familiares); concretamente, ser mediador, de primeira
instância, nas dificuldades que possam surgir entre um pároco e os fiéis, ajudando a
encontrar soluções.
Tutelar e acompanhar a administração do património e dos bens eclesiásticos,
aconselhando, quando se trate de obras, a consulta à Comissão de Arte Sacra. Promover a inventariação, e se for caso disso, o registo dos bens das paróquias.
Zelar para que os livros paroquiais estejam em dia e os respectivos “extractos”
entregues na Cúria.
Concluindo:
-Não há missão eficaz senão dentro de um estilo de comunhão.
-Trabalhai menos. Trabalhai melhor. Trabalhai mais unidos. Rezai mais e mais
unidos no mesmo Senhor Jesus!
Tu, Senhor, tens confiança em nós, no teu povo, apesar das nossas fraquezas,
fadigas e resistências. Vem com o teu Santo Espírito e concede-nos a graça de acolher o teu apelo a uma maior colaboração, interacção e comunicação entre as nossas
paróquias, para oferecer um testemunho cristão mais unido, mais eficaz, mais bem
organizado e mais significativo no território onde somos chamados a anunciar o
Evangelho.
Concede esta graça aos sacerdotes e aos fiéis leigos de colaborarem fraternamente para o bem do Teu povo; faz com que cada um acolha os grandes dons de graça e
de alegria evangélica que brotam da comunhão dos corações!
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. documentos pastorais .
Quaresma 2008
1. Quaresma de graça e de santidade
“Eis agora o tempo favorável; eis o tempo da Salvação” (2 Cor 6, 1-2). A liturgia
cristã propõe estas palavras do apóstolo S. Paulo para nos introduzir no caminho
da Quaresma que nos prepara, pouco a pouco, ao longo de 40 dias, para celebrar a
Páscoa da Ressurreição.
Para muitos, falar de Quaresma evoca, imediatamente, um conjunto de sacrifícios, jejuns e penitências a praticar como se fosse um tempo de tristeza. No entanto,
à luz das palavras do apóstolo, somos convidados a olhá-lo, sobretudo, como um
tempo especial de graça salvífica. A Quaresma é, antes de mais, um dom a receber
do que coisas a fazer, mesmo se estas também são necessárias.
É o próprio Deus que convida a Sua Igreja a fazer um “retiro no deserto” com
Cristo, durante quarenta dias. É Ele mesmo que cuida da Sua Igreja e a submete a
uma cura de rejuvenescimento e embelezamento. Oferece-lhe uma terapia espiritual
de purificação, renovação e santificação. Nesta linha, a Quaresma é um tempo forte,
tempo propício para cada um se reencontrar consigo mesmo, interrogar-se sobre a
qualidade da sua vida cristã, pôr ordem na própria vida e pôr a vida em ordem, sair
da mediocridade e, assim, responder ao chamamento de Deus à santidade, quer dizer, a uma vida espiritual de qualidade, de filho de Deus.
2. Quaresma da Ternura de Deus: um “retiro popular”
Para nos abrirmos à acção de Deus e do Seu Espírito em nós e nos nossos corações o caminho da Quaresma é feito à maneira de um retiro espiritual, com tempos
particulares de escuta da Palavra de Deus, de oração e meditação, de busca de reconciliação.
Para concretizar esta pedagogia da santidade, ousei lançar a proposta de, na Quaresma deste ano, se realizar na Diocese um grande “retiro popular”, isto é, acessível
a todo o povo de Deus sobre o tema: “acolher, saborear e testemunhar a ternura de
Deus”, em ordem a interiorizar a espiritualidade do acolhimento e da vocação, que
constituem a temática do ano pastoral.
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Documentos
Tempo de acolhimento
da Ternura de Deus
. documentos pastorais .
Com esta iniciativa queremos proporcionar a todos os fiéis a possibilidade de
fazer um “retiro espiritual” na vida quotidiana, sem sair dos lugares e ocupações
habituais, dedicando determinados momentos a essa finalidade na própria casa, nas
igrejas ou noutros locais, em grupos ou em assembleias.
Para esse efeito já estão publicadas as meditações quaresmais sob a forma de
leitura familiar e orante da Palavra de Deus (lectio divina), a partir de alguns textos
bíblicos. Peço encarecidamente aos párocos e a todos os agentes pastorais nas paróquias o melhor empenho na sensibilização e na organização deste retiro.
3. Quaresma de partilha fraterna
Na pedagogia da santidade, o caminho de conversão quaresmal inclui também
um estilo sóbrio de vida – é este o sentido do jejum e da abstinência – e a partilha
solícita com as necessidades do mundo e da Igreja, como testemunho da ternura de
Deus e expressão do amor fraterno.
Este aspecto concretiza-se na chamada “renúncia quaresmal” que cada fiel é chamado a fazer para partilhar os bens materiais com os mais necessitados.
O produto desta renúncia, na nossa diocese, será destinado à diocese de Karanganda no Cazaquistão. Assim correspondemos ao pedido de ajuda dirigida pelo
Bispo D. Atanásio quando aqui esteve na peregrinação de 13 de Outubro passado.
A Igreja Católica no Cazaquistão é minoritária e pobre, com grandes dificuldades
económicas para construir e manter as estruturas necessárias tais como o Seminário
e um Santuário dedicado a Nossa Senhora de Fátima.
Maria, Mãe da Ternura e Estrela da Esperança, ilumine os nossos passos no caminho quaresmal para sermos cada vez mais discípulos fiéis de Jesus Cristo.
Leiria, 4 de Fevereiro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. documentos pastorais .
Nota Pastoral
Há momentos grandes na vida de todas as pessoas. Há festas importantes em
cada família ou comunidade. São “marcos” – que deixam marcas – na história da
vida pessoal, familiar e comunitária, que merecem e requerem ser evocados, celebrados, rezados e meditados à luz da fé, em Igreja.
Na linguagem comum, usamos o termo “Jubileu” (dia de júbilo, de alegria) para
comemorar os 25 ou 50 anos de um acontecimento significativo.
Neste ano pastoral dedicado a “saborear e ver como é bom o Senhor”, para
sermos “testemunhas da ternura de Deus”, também nós como Igreja Diocesana de
Leiria-Fátima queremos celebrar, de um modo especial, o “Jubileu das Vocações”
ao matrimónio, ao ministério sacerdotal e à especial consagração na vida religiosa
ou na vida secular.
Será um momento alto para reviver e reavivar o encanto e a frescura do primeiro
“sim”, para celebrar o caminho percorrido e correspondido ao longo da vida, para
agradecer a Deus os frutos que, através destas vocações, suscitou ao serviço da vida
e do amor, e para renovar os compromissos vocacionais.
Assim manifestar-se-á também a beleza das várias vocações que adornam a
Igreja de Jesus e fazem dela um jardim florido com o esplendor dos mais variados
dons e vocações.
Convido, pois, todos e todas que neste ano perfazem 25, 50 ou 60 anos, de matrimónio, de sacerdócio e de vida consagrada a estarem no Santuário de Fátima no dia
19 de Abril próximo, para celebrarmos todos juntos o “Jubileu das vocações”.
Desde já, o meu agradecimento.
Leiria, 19 de Fevereiro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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Documentos
Convite para o “Jubileu das vocações”
. documentos pastorais .
Mensagem do Bispo às crianças da catequese
“Jesus é fonte de vida e de ternura”
Neste dia da peregrinação da nossa Diocese a Fátima, ouvimos a história da amizade de Jesus e Lázaro. Uma amizade tão forte que se torna fonte de vida: «Eu sou
a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e
todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá» (Jo 11, 25-26).
Ao regressares à tua paróquia, levas contigo um fruto e umas folhas para pores na
árvore que viste crescer ao longo desta Quaresma. Eles são sinal desta vida que Jesus
quer partilhar também contigo! Também hoje, Jesus quer manifestar a sua ternura
por cada um, quer continuar a ser fonte de esperança, de alegria, de Vida. Partilhando
da sua amizade, encontramos o caminho de uma vida boa, bela e feliz!
Procura ser amigo de Jesus! Ele é fonte de Vida e de ternura! E na tua vida darás
também frutos de vida eterna!
O teu amigo Bispo,
† António Augusto dos Santos Marto
[Fátima, 9 de Março de 2008]
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. documentos pastorais .
Nota pastoral
Os candidatos à leccionação da Disciplina de EMRC nas Escolas Públicas e Privadas da área da Diocese de Leiria – Fátima devem proceder segundo as seguintes
orientações:
Entregar ao Serviço para Ensino da Igreja nas Escolas (SEIE) o Curriculum Vitae
com indicação clara das habilitações que possui e do percurso religioso, e com referência também aos serviços pastorais e de apostolado prestados à Igreja paroquial ou
diocesana, assim como vinculação a movimentos ou comunidades eclesiais.
Em anexo ao currículo, apresentar uma carta de recomendação eclesiástica.
Até 30 dias, após recepção da documentação indicada em 1 e 2, o candidato será
informado, via e-mail, da aceitação ou exclusão da mesma.
Se a candidatura for aceite, haverá marcação, por e-mail, de entrevista com o
Coordenador do SEIE ou outra pessoa por ele indicada.
Posteriormente será comunicada ao candidato a situação referente à sua candidatura.
Cada candidatura é válida por um ano. No caso de o candidato a renovar, poderá
eventualmente ser dispensado de nova entrevista.
Leiria, 15 de Abril de 2008
† António Augusto dos Santos Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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Processo de aceitação de Candidatos à
Leccionação da Disciplina de Educação Moral
e Religiosa Católica na Diocese de Leiria-Fátima
. documentos pastorais .
Mensagem aos pais e encarregados de educação
Educação Moral e Religiosa Católica
Caros pais e encarregados de educação,
Durante estes dias e semanas decorrem as matrículas para o próximo ano lectivo
nas escolas do Ensino Básico e Secundário.
Neste contexto, quero convidar-vos a reflectir sobre a importância da disciplina
de Educação Moral e Religiosa Católica para a educação dos vossos filhos e educandos.
Dentro do processo educativo é de fundamental importância que todas as crianças, adolescentes e jovens recebam uma formação integral. Por isso, é-lhes oferecida
a possibilidade de aprofundarem a dimensão religiosa do ser humano, à luz da mensagem cristã, para assim poderem orientar a sua vida de acordo com o seu sentido
mais profundo.
Nessa mesma linha, mais do que nunca, é urgente propor-lhes pontos de referência, assim como princípios e valores, que não os deixem à deriva, mas que lhes
permitam definir a sua própria identidade à luz do Evangelho, e capacitá-los para
fazer face aos múltiplos desafios que a sociedade lhes apresenta, e para colaborarem
na construção de um Mundo mais autêntico, solidário e fraterno.
Os novos programas de Educação Moral e Religiosa Católica, que entrarão em
vigor neste próximo ano lectivo, são também uma nova possibilidade de renovação
da disciplina para assim dar uma resposta mais adequada aos anseios e necessidades
dos alunos.
São os pais e encarregados de educação, que, como primeiros responsáveis, devem escolher o tipo de educação que querem para os seus filhos e educandos e não
devem nunca abdicar desta sua responsabilidade.
Por isso, como Bispo, não quero deixar passar este momento, sem vos lembrar
a importância desta disciplina e da respectiva matrícula dos vossos filhos e educandos.
Leiria, 3 de Junho de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. documentos pastorais .
Critérios para a admissão e recondução de
docentes de Educação Moral e Religiosa
Católica na Diocese de Leiria-Fátima
A. Preâmbulo
A missão do professor de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) não se
limita ao ensino propriamente dito, mas está indissociavelmente unida à sua vivência
social, cultural, religiosa. Tem implicações na vida dos respectivos alunos, assim
como no conjunto da comunidade escolar e eclesial.
Tendo em conta a missão educativa e evangelizadora do professor de EMRC e
com a consciência da seriedade e importância deste serviço, que é ao mesmo tempo eclesial e civil, pretende-se neste documento apresentar os critérios que devem
orientar a escolha de pessoas a propor como docentes de EMRC na Diocese de
Leiria-Fátima.
Estas orientações aplicam-se à selecção de docentes de EMRC no ensino público, católico, privado e cooperativo, e os critérios indicados são aplicados tanto na
admissão como na recondução de candidatos ao ensino de EMRC.
As exigências aqui apresentadas baseiam-se no “Directório Geral para a Catequese”, da Congregação para o Clero, 1997 (Directório), e no documento da Conferência Episcopal Portuguesa, de 2006, intitulado “Educação Moral e Religiosa
Católica. Um valioso contributo para a formação da personalidade” (CEP).
B. Critérios
A Conferência Episcopal Portuguesa determina que os docentes de EMRC, “propostos pelos Bispos diocesanos e nomeados pelo Ministério da Educação, devem ser
criteriosamente escolhidos” (CEP, nº 5). As orientações qui apresentadas devem ser
assumidas como critérios para a referida escolha.
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Documentos
Nota pastoral
. documentos pastorais .
1. PERFIL HUMANO
A proposta de nomeação de professores de EMRC deve ter-se em conta o “equilíbrio e a maturidade humana” (CEP, 5) dos candidatos. Devem ter um comportamento sensato, uma personalidade equilibrada e maturidade adequada à missão a
desempenhar, bem como “capacidade de relação e de integração escolar” (CEP, 5).
O professor de EMRC deve ainda primar pela simpatia, delicadeza e pelo bom relacionamento com todos, capacidade de comunicar e de criar empatia, além de uma
atitude construtiva na comunidade.
2. PERFIL CRISTÃO
O perfil cristão deve ser marcado pelo “testemunho de uma vida cristã coerente e
comprometida eclesialmente” e pela “disposição para assumir as orientações diocesanas e nacionais neste domínio do ensino.” (CEP, 5). São elementos essenciais do
perfil cristão do professor de EMRC as seguintes dimensões: a vivência da fé através
da prática dos valores evangélicos da solidariedade, da convivência e da fraternidade
universal; uma clara opção cristã de vida; um estado de vida consentâneo com as
normas da Igreja; e a inserção e compromisso comunitários nomeadamente através
da participação activa numa paróquia de referência ou a vinculação a um movimento
eclesial.
Este perfil deve ser atestado pelo pároco ou entidade equiparada, no momento da
apresentação da candidatura ao ensino de EMRC e sempre que necessário.
3. HABILITAÇÕES
A admissão de pessoas à docência de EMRC deve “ter em conta as condições
legais de qualificação científica e pedagógica” (CEP, 5). “É necessário, portanto,
que o ensino religioso escolar se mostre como uma disciplina escolar, com a mesma
exigência de sistema e rigor que requerem as demais disciplinas. Deve apresentar a
mensagem e o evento cristão com a mesma seriedade e profundidade com a qual as
demais disciplinas apresentam seus ensinamentos” (Directório, 73).
De acordo com o Decreto-Lei n.º 407/89, Art. 2º e o Despacho Normativo n.º 6-A
/90, a habilitação normal para leccionar EMRC é a licenciatura ou curso superior em
Ciências Religiosas ou Teologia. Conforme o referido Despacho, facultam também
habilitação própria 60 créditos em disciplinas de Ciências Religiosas ou Teologia,
frequentados em instituições autorizados para tal, acrescentados a outra licenciatura.
Segundo o Art. 20º do Decreto-Lei n.º 407/89, são preferidos os candidatos com
habilitação própria. Na falta dessa habilitação, será tida em conta a frequência de
disciplinas em Ciências Religiosas ou Teologia, assim como o compromisso real e
comprovado de progressão na aquisição de habilitação própria.
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. documentos pastorais .
5. COMPETÊNCIA PEDAGÓGICA
Os candidatos a professores de EMRC devem ter “o jeito e o gosto pela missão
educativa”, isto é, exige-se uma adequada competência pedagógica. São características fundamentais desta competência: a capacidade de estabelecer objectivos
pedagógicos e de elaborar a correspondente planificação, a familiaridade com o programa oficial, a aptidão para seleccionar os conteúdos do programa de acordo com
as necessidades pedagógicas, desenvolvendo métodos e projectos adequados, além
de uma atitude construtiva de colaboração na comunidade educativa.
6. FORMAÇÃO PERMANENTE
Além da formação exigida por lei, a participação nos encontros e acções de formação organizadas pelo SEIE é parte essencial da formação permanente de todos
os docentes de EMRC. Será valorizada também a participação noutras acções de
formação de interesse reconhecido, nomeadamente de carácter pedagógico.
7. DESEMPENHO
A avaliação de desempenho será feita através de relatórios anuais, de informações das escolas e de outros dados objectivos. Fazem parte de um bom desempenho:
a assiduidade, o cumprimento global dos programas, a realização de estratégias de
aula e actividades extra-curriculares motivadoras, a dedicação à comunidade educativa e ainda o empenho noutros projectos confiados pela escola.
8. TEMPO DE SERVIÇO
O tempo de serviço não será nunca um critério único, devendo ser relacionado
com todos os outros critérios.
Embora as propostas de nomeação de professores contratados tenham a duração
de um ano (ou menos, no caso de substituição), os primeiros anos são considerados
como um tempo de carácter especialmente probatório.
Caso haja uma alteração significativa das situações ou circunstâncias que sejam
relevantes na determinação do perfil exigido ao professor de EMRC, ou este apresente claramente um desempenho deficiente, o tempo de serviço não será tido em
consideração na ponderação para recondução de candidatos.
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Documentos
4. CONHECIMENTOS
A formação académica proporciona conhecimentos suficientes nos temas fundamentais, no entanto, o Serviço para o Ensino da Igreja nas Escolas (SEIE) pode verificar a consistência de conhecimentos específicos através de entrevista ou de outros
meios adequados, sempre que os responsáveis diocesanos considerem necessário.
Para além de um razoável conhecimento da cultura envolvente e das questões
sociais actuais, é imprescindível um sólido conhecimento da doutrina da fé católica
e do ensino moral da Igreja.
. documentos pastorais .
9. VOLUNTARIADO EM ACTIVIDADES ECLESIAIS
Será valorizada a participação voluntária em actividades da comunidade eclesial,
tais como: catequese, escutismo, conselhos paroquiais, grupo coral, liturgia, projectos sócio-caritativos, associações de solidariedade e outras formas de voluntariado
ou compromisso social e/ou eclesial.
C. Aplicação dos critérios
Todos os critérios expostos são fundamentais para a admissão e a continuidade
de um professor de EMRC. Tendo sempre em conta o bem do professor, pretende-se,
no entanto, que o benefício dos alunos e o desenvolvimento da disciplina de EMRC
estejam acima dos interesses particulares, ainda que legítimos. Por isso, em cada situação, procurar-se-á a opção que pareça mais justa e que responda à conjugação de
dois factores: características da escola e perfil geral do professor, à luz dos presentes
critérios.
“Compete aos responsáveis pela coordenação da EMRC, sobretudo no plano diocesano, acompanhar e apoiar os professores, promover a sua formação permanente
e proceder à avaliação da qualidade da actividade docente.” (CEP, 5) Na Diocese de
Leiria-Fátima, compete ao Director do SEIE, nomeado pelo Bispo Diocesano, aplicar estes critérios na selecção e proposta de pessoas para a docência de EMRC.
Leiria, 23 de Junho de 2008.
† António Augusto dos Santos Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
Homilia Dia Mundial da Paz
Paz do coração e paz civil: a bênção da paz
Na porta de entrada deste novo ano de 2008, que hoje iniciamos em oração, está
escrita uma bênção, referida na primeira leitura do livro dos Números: “Que o Senhor te abençoe e te guarde! Que o Senhor dirija para ti o olhar do Seu rosto e te dê
a paz!” Pedimos, antes de mais, a paz do coração, sem a qual não há paz verdadeira
e profunda; mas pedimos também a paz civil que é a condição para a sobrevivência
e a convivência da humanidade.
Por sua vez, o Evangelho convida-nos a contemplar os pastores como representantes da humanidade, que vão à gruta de Belém receber a Paz de Deus anunciada
pelos anjos aos homens por Ele amados. No presépio, o Filho de Deus, nos braços
de sua mãe, une os homens ao seu redor e une-os entre si.
S. Paulo, na segunda leitura, recorda-nos uma palavra decisiva e chave deste mistério: Pai – palavra típica da experiência cristã da nossa filiação e fraternidade: “Que
vós sois filhos, prova-o o facto de que Deus enviou aos nossos corações o Espírito
do Seu Filho que clama: Abba, ó Pai”.
No mistério do Natal de Cristo, em Belém, torna-se claro que Deus quer fazer
dos homens uma família humana que seja uma comunidade de paz. É este precisamente o tema da mensagem do Papa Bento XVI para este dia mundial da paz.
Onde bate hoje o coração da paz?
A paz não se reduz ao silêncio das armas. É uma cultura e um ambiente a construir, a trabalhar e cultivar, em cada dia, por todos nós. O tema proposto reveste-se
pois de grande actualidade e particular relevância em tempos de crescente globalização, de riscos e crises globais, com efeitos de boomerang.
Se a humanidade quer experimentar um futuro em dignidade e paz, deve reconhecer-se como família na sua múltipla unidade e no seu destino comum, deve
reconhecer os valores comuns do viver uns com os outros. Para quem sabe ver a
história com um olhar de síntese, são evidentes os sinais desta necessidade. É aqui,
nesta necessidade, que bate hoje o coração da paz e que Bento XVI captou com genialidade ao propor este tema para nossa reflexão.
Numa leitura singularmente original, ele desenvolve o empenhamento pela paz a
partir da visão cristã da família, fundada no matrimónio, para depois alargar o olhar à humanidade inteira. Esta interacção entre a família e a paz constitui uma condição para uma
abordagem cultural, social, política e ética dos complexos temas da paz no nosso tempo.
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Documentos
Onde bate hoje o coração da paz?
. escritos episcopais .
A família, casa e escola da paz
Antes de mais, o Papa propõe o valor da família em si como centro de educação
para a paz, como casa e escola onde se respira, bebe e aprende a paz. Ilustra-o de
um modo muito belo. Numa saudável vida familiar faz-se a experiência de todos os
ingredientes fundamentais da paz: a justiça e o amor nas relações entre irmãos e irmãs, a importância da lei e da autoridade dos pais, o serviço aos mais débeis que, em
família, se tornam centro de interesse quando estão em dificuldade, a ajuda recíproca
nas necessidades da vida, a disponibilidade para acolher, para fazer renúncias, para
perdoar. “Por isso, a família é a primeira e insubstituível educadora para a paz… É
fundamento da sociedade também por isto: porque permite fazer experiências determinantes de paz…Onde é que poderia o ser humano em formação aprender melhor
a apreciar o “sabor” genuíno da paz do que no “ninho” originário que a natureza lhe
prepara?”
Eis a bondade e a beleza da família que sobressaem nestas experiências fundamentais. Elas fazem da família uma profecia para um mundo unido e pacificado. É aí
que, desde pequenino, cada ser humano aprende o a-b-c da linguagem e a gramática
(as regras primárias) do amor e da convivência pacífica que depois extravasam para
a grande família humana. Por isso, na inflação das linguagens, a sociedade não pode
perder este léxico e esta gramática “ que cada criança aprende dos gestos e olhares
da mãe e do pai, antes mesmo das suas palavras”.
Gostaria de ilustrar isto com um exemplo concreto. Li algures o episódio de um
rapaz canadiano que, todos os dias, levava às costas o seu irmão paralítico para a
escola. Certo dia, uma senhora preocupada perguntou-lhe: “Não é demasiado pesado
este fardo para ti?” E ele respondeu: “Não é um fardo; é meu irmão!”.
Num mundo onde tudo se vende e tudo se compra, onde se tende a medir o valor
das relações humanas em termos de rendimento, utilidade e eficiência, a família
aparece como uma reserva profética dos valores da gratuidade, da fraternidade, do
acolhimento do outro, do diálogo, da solidariedade, do sentido do bem comum e da
justiça.
A mensagem papal é verdadeiramente uma provocação para o mundo e um desafio para a família. Ao propor a família como “primeira agência de paz” valoriza a
sua presença na sociedade de uma maneira nova; por outro lado, convida-nos a ler
a comunidade dos homens como grande família humana, não de modo idealista ou
sentimental, mas realista e concreto.
Para uma nova convivência mundial: a família das nações ou dos povos
A linguagem familiar como léxico da paz não é só da esfera privada. Na era da
globalização, entre tantas dificuldades, o mundo tem necessidade de pensar-se como
família. Fazê-lo a partir da célula fundamental da sociedade internacional dá vida e
conteúdo humanos à globalização.
Para uma correcta relação entre os povos é pois necessário deixar-se inspirar
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pelo conceito de “família das nações” ou dos povos, já lançado por João Paulo II, na
ONU, em 1995. O conceito de família, como vimos, evoca algo que vai mais para
além das simples relações funcionais ou da mera convergência de interesses. Implica
laços profundos de fraternidade, solidariedade, apoio recíproco, respeito sincero que
devem guiar as relações entre os povos. Bento XVI esclarece: “É necessário saber
dizer o “sim” pessoal a esta vocação que Deus inscreveu na nossa própria natureza.
Não vivemos uns ao lado dos outros por acaso; todos estamos percorrendo um mesmo caminho como homens e, por isso, como irmãos e irmãs… Sem este fundamento
transcendente, a sociedade é apenas uma agregação de vizinhos e não uma comunidade de irmãos e irmãs, chamados a formar uma grande família” (n. 6).
Assumir esta perspectiva requer, de todos nós, um sentido profundo e cristão
de pertença ao género humano. Recordo, a propósito, as palavras de um monge,
conhecido escritor, Thomas Merton: “Cada homem é uma parte de mim, porque eu
sou parte e membro do género humano. Cada cristão faz parte do meu próprio corpo,
porque nós todos somos membros de Cristo” (Nenhum homem é uma ilha).
Porém, a categoria de pertença parece cada vez mais estranha à cultura contemporânea, individualista e de interesses de parte. O sentido de pertença – quando existe – é fluido e a prazo. A pertença mútua gera deveres, laços, estabilidade, tradição;
nada de mais contrário à cultura líquida da pós-modernidade.
E todavia nada há de mais necessário numa sociedade tão dividida, ferida e conflitual do que a necessidade de atenção, de vínculos solidários, de ajuda recíproca,
de amor e sentido de pertença, de um coração universal, para criar uma consciência
colectiva de família universal em ordem à paz.
A paz assume o nome de defesa do trabalho
e de salvaguarda da solidariedade
Um outro aspecto da mensagem que merece a nossa reflexão é a referência a
uma economia de paz em analogia com a experiência familiar: “A família faz uma
autêntica experiência de paz quando a ninguém falta o necessário e o património
familiar – fruto do trabalho de alguns, da poupança de outros e da activa colaboração
de todos – é bem gerido na solidariedade, sem excessos nem desperdícios” É uma referência singularmente sugestiva para o nosso tempo de globalização da economia.
De facto, o panorama mundial modificou-se profundamente e é cada vez mais
dominado pela globalização dos mercados, do capital financeiro especulativo (bolsístico e virtual) e das novas tecnologias, com novas chances e novos riscos.
Em virtude de uma globalização desgovernada, sem o alicerce de valores éticos
e espirituais compartilhados, assistimos a um aumento da pobreza, de desigualdades
gritantes, de exclusão social de milhões de pessoas.
O próprio trabalho torna-se cada vez mais um “bem escasso” e precário, com
consequências dramáticas a nível pessoal e familiar. Neste contexto, a defesa da
paz assume o nome de defesa do trabalho e da sua dignidade e de salvaguarda da
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Documentos
. escritos episcopais .
. escritos episcopais .
solidariedade no bem comum que veja empenhados, com audácia criativa, todos os
actores: Estado, empresários, sindicatos e cidadãos.
Uma globalização dos mercados e capitais que se funde só no princípio do “mercado autoregulador” e na competitividade das diversas forças põe em risco o futuro
dos jovens e das famílias e é um obstáculo à unidade do género humano. “É preciso
ter na devida conta a exigência moral de fazer com que a organização económica
não obedeça só às duras leis do lucro imediato que podem tornar-se desumanas” (n.
10). Porque a sociedade é também família, não pode ser só mercado. O mercado não
é tudo!
E como não é só mercado, a comunidade humana também não pode ser um farwest sem lei (ou da lei do mais forte), como bem assinala o Papa, quando apela ao
crescimento de uma cultura jurídica universal cujas normas estejam cada vez mais
impregnadas de conteúdo profundamente humano.
Mobilização global a favor do desarmamento e da desmilitarização
Por fim, a mensagem papal fala das “densas sombras” que pairam sobre o futuro da humanidade, das tensões e conflitos crescentes. E recorda a África, o Médio
Oriente e o aumento da corrida aos armamentos. Para compreender o estado actual
desta corrida armamentista é bom ter presente que a despesa militar de 2006 foi
de 1.204 biliões de dólares. Significa um aumento médio de 37% no decénio de
1997-2006: a despesa mais alta até agora registada, mesmo em relação ao período
da chamada “guerra fria”. Eis porque, face a este escândalo, o Papa faz um apelo
do coração a uma mobilização global de todas as pessoas de boa vontade a favor de
“uma eficaz desmilitarização, sobretudo das armas nucleares”.
Estando atentos, é verdade que não podemos dizer que estamos no melhor dos
mundos. Mas o Santo Padre oferece-nos uma calorosa mensagem de esperança
apelando às melhores reservas espirituais e morais que existem nas famílias para
testemunharmos uma maior consciência da unidade da grande família humana como
alicerce e espiritualidade da paz no mundo.
“Senhor Jesus, concede-nos acolher a tua paz, concede-nos fazê-la florescer
sobre a terra e dar-lhe uma figura viva e irradiante nas nossas famílias e nas nossas
comunidades. Faz com que em Ti nos redescubramos todos irmãos, todos filhos do
mesmo Pai, para fazer da humanidade uma só grande família que saiba viver em paz,
sob a protecção maternal de Maria, Rainha da paz. Ámen!”
Leiria, 1 de Janeiro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
55º Dia Mundial dos Leprosos
No próximo dia 27 de Janeiro celebra-se o 55º Dia Mundial dos Leprosos.
A Lepra é uma doença que afecta 10 milhões de pessoas, sobretudo em Angola,
no Brasil e em Moçambique. É uma doença que pode ser tratada e prevenida. Só por
carências económicas desumanas continua a fazer tantas vítimas.
Os leprosos são nossos irmãos, “os mais pobres dos pobres” como dizia Raoul
Follereau. Também eles invocam a nossa ternura que se exprima num gesto de solidariedade efectiva e generosa.
Neste sentido uno-me à Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau que
no dia 27 promove uma acção de recolha de ofertas a favor dos leprosos. Apelo às
paróquias para que lhe dêem a melhor colaboração e aos fiéis a melhor generosidade.
Leiria 21/01/2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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Também os leprosos
invocam a nossa Ternura
. escritos episcopais .
Homilia na Semana de Estudos sobre a Vida Consagrada
Cristo é tudo para vós, consagrados (as)
Minhas irmãs e meus irmãos
na graça da fé e da vocação de especial consagração:
Saúdo com muito afecto a todos e todas vós que formais esta singular assembleia, expressão da multiforme riqueza e beleza da vida consagrada na Igreja e no
mundo.
Convido-vos a fazer juntamente comigo uma meditação sobre a página evangélica que acabámos de escutar e que é a carta do Pai para nós, hoje e aqui, neste momento. Para melhor entendermos a sua mensagem devemos ter presente que ela se
encontra no Evangelho de Marcos, conhecido como o “evangelho do catecúmeno”
pela sua intencionalidade de preparar os catecúmenos para a fé em Jesus e para o
baptismo. Além disso, Marcos apresenta-nos dois milagres entrosados um no outro,
numa só narração. É um convite a interpretá-los e meditá-los em conjunto.
Tendo isto como pano de fundo, faremos a nossa meditação à maneira de lectio
divina, a partir de algumas frases-chave do texto.
O desafio a crer mais e a crer melhor
“Minha filha, a tua fé te salvou”; “Não temas, basta que tenhas fé” – diz Jesus,
respectivamente, à mulher hemorraíssa e ao chefe da sinagoga.
Tendo presente a intencionalidade do evangelho de Marcos, podemos dizer que
a fé é a primeira palavra-chave. Quer ressaltar o significado e a importância da fé
requerida ao catecúmeno para o baptismo.
O primeiro passo do percurso da fé é a coragem de sair do meio da multidão e ir
ter com Jesus tal como Jairo ou a ousadia de “tocar a orla do manto” como desejo
e expressão de entrar em comunhão com Jesus e o seu poder salvífico. Muitos da
multidão tocaram certamente Jesus em virtude do aperto, mas só esta mulher tocou
o manto com fé.
Se lermos os dois milagres em conjunto, vemos que Jesus felicita a mulher hemorraíssa pela audácia da sua fé e propõe-na ao chefe da sinagoga como modelo de
atitude da fé que entra em comunhão com a pessoa do Salvador.
Este primeiro aspecto ilumina o tempo presente da “crise de fé” que atravessa
o ocidente e convida-nos a ir ao coração da fé que é Jesus Cristo. De facto, a actual
crise de fé é uma crise acrisoladora, purificadora da nossa fé. Não é só negativa. A
passagem dum cristianismo transmitido de geração em geração, por uma espécie de
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pertença passiva, a uma fé de opção livre, vivida como um percurso deliberado de
adesão convicta e alegre, caracteriza hoje os países ocidentais, ontem chamados “de
cristandade”.
Na origem da fé cristã não está, antes de mais, a adesão a um conjunto de verdades ou preceitos, mas a adesão a uma Pessoa que se encontra como Pessoa viva
e fonte de vida na nossa existência: Jesus Cristo descoberto nos evangelhos através
dos cristãos. Aqui joga-se, a meu ver, o futuro do cristianismo no ocidente.
Tudo isto representa um desafio para nós a crer mais (em profundidade) e a crer
melhor (em qualidade), de modo particular aos homens e às mulheres que se consagraram de modo radical a Cristo. A Igreja e o mundo pedem-vos que sejais, em
primeiro lugar, homens e mulheres de fé viva, convicta, alegre, entusiasta, corajosa,
irradiante que realize aquela expressão tão bela de Santo Ambrósio: “Cristo é tudo
para nós”.
Cristo é tudo para vós, consagrados (as): o sentido, a meta, a alegria de ser e de
viver! Parafraseando o Cardeal Ratzinger: se não nos enamorarmos de Cristo, não
valemos nada como consagrados.
Mas como enamorarmo-nos de Cristo se não descobrimos a beleza da Sua ternura?
A Beleza da Ternura de Cristo que salva
Contemplemos agora a beleza da ternura de Cristo que transparece nas suas palavras e nos seus gestos: “Minha filha…vai em paz”; “Pegou na mão da menina e
disse-lhe: levanta-te”.
A mulher hemorraíssa é anónima, identificada pelo (e com o) mal que a atormenta; sofre a solidão, o isolamento, a exclusão, a humilhação e o medo de ser considerada impura e não poder tocar os outros, a suprema humilhação de não poder ter vida
familiar (casar e ter filhos) interpretada então como reprovação divina.
Jesus pára, fá-la sair do anonimato da multidão, acolhe-a, dialoga com ela e dizlhe ternamente: “Minha filha…”, expressão cheia da ternura paterna, tal como Jairo
apresenta a sua menina a Jesus: “a minha filha está doente…”. A mulher é curada e
salva, reintegrada na comunidade dos filhos de Deus, na comunhão da família que
se forma à volta de Jesus.
A mesma ternura encontramos em relação à menina já morta: “pegou na mão
da menina…”: o gesto e as palavras de Jesus são precisamente os dos pais que, de
manhã, com toda a ternura despertam os filhos para um novo dia.
O catecúmeno aprende assim que Jesus, no baptismo, nos levanta (ressuscita)
para uma vida nova e que para Jesus não há situações incuráveis, desesperadas.
Basta ter fé.
Notemos ainda nesta narração um outro aspecto particular: a correspondência
dos números. Doze anos de enfermidade e humilhação levava a mulher hemorraíssa;
doze anos de vida tinha a menina. Se tivermos em conta que, na altura, aos doze
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. escritos episcopais .
. escritos episcopais .
anos a mulher era dada em casamento, então podemos arriscar uma interpretação
simbólica. A mulher que sofre do fluxo de sangue representa a humanidade (e também a Igreja ou a comunidade) tornada estéril pelas suas enfermidades, pelos medos
e bloqueios, pelas solidões…enfim, pelo pecado que a torna impura. Mas eis que
quando tudo parece perdido, pode reencontrar a sua juventude, a sua vitalidade, a
sua fecundidade, vida nova e horizontes novos, mediante a fé viva e vivificada pela
ternura de Jesus.
Cada família de consagrados é chamada a ser um raio da beleza e da ternura do
rosto de Deus. Sede testemunhas da Ternura de Deus. Vivei-a antes de mais na vossa
própria comunidade. E levai-a no coração, nos olhos, nos lábios e nos gestos a este
nosso mundo tão inóspito, árido, frio, egoísta e mercantilista que clama pelo calor da
ternura em todas as relações e situações humanas.
A Eucaristia, o Pão da Ternura que é Cristo
É interessante notar que Jesus, após ter restituído a vida à menina, ordenou aos
presentes para lhe darem de comer. Podemos ver aqui uma alusão ao milagre da
multiplicação dos pães quando Jesus diz aos apóstolos: “dai-lhes vós de comer”. Por
conseguinte, uma alusão à eucaristia.
Por sua vez, comentando o tocar a orla do manto por parte da mulher enferma, S.
Pedro Crisólogo diz: “Esta mulher, mostrando-nos que há algo de muito grande na
orla do manto, ensinou-nos o que vale o Corpo de Cristo. Escutem os cristãos que
tocam cada dia o Corpo de Cristo, que medicina podem receber do mesmo Corpo, se
uma mulher alcançou toda a saúde só ao tocar a orla do manto de Cristo”.
O catecúmeno aprende assim que para ser cristão não basta ser baptizado, mas
é preciso alimentar-se do Pão vivo, do Pão quotidiano da ternura que é Cristo em
pessoa.
Que seria, de facto, a Igreja sem a Eucaristia? Seria como um museu cheio de
coisas antigas, belas e preciosas, mas sem o tesouro vivo que é Aquele que lhe dá
vida e dinamismo; seria como uma casa desolada sem a presença d’Aquele que a
enche do calor da ternura e da comunhão; seria como uma viúva que relê com saudade as cartas do esposo defunto mas sem a proximidade e a ternura da sua presença
amiga que a acompanhe e lhe dê a alegria e o sabor da comunhão esponsal.
A Igreja vive da Eucaristia, isto é, de Cristo ressuscitado e vivo presente na
eucaristia, do mistério da sua presença querida e do seu amor oferecido por nós e
a nós em comunhão. Na celebração da Eucaristia, Jesus não nos deixou uma coisa.
Deixou-se a si mesmo. A Eucaristia não é algo; é Alguém! Não é uma coisa, uma
oração qualquer; é uma Pessoa viva com todo o seu mistério de amor. Por isso, ela é
o coração da Igreja, o coração de cada comunidade. Tal como o coração, ela leva o
sangue, a vida a todas as partes do Corpo de Cristo de que somos membros.
Este é o mistério admirável, a maravilha das maravilhas da nossa fé que deve
suscitar em nós deslumbramento, estupefacção. Caros consagrados (as), tende fé
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na Eucaristia! Sede enamorados da Eucaristia! Que ela seja o alimento, a força e a
inspiração quotidiana da vossa missão!
Para terminar, desejo retomar o que o cardeal Ratzinger disse pouco antes de ser
eleito Papa e aplicá-lo a vós consagrados, a modo de síntese, como voto e oração:
“Aquilo de que temos sobretudo necessidade neste momento da história é de homens e de mulheres que através de uma fé iluminada e vivida, tornem Deus credível
neste mundo. Temos necessidade de homens e mulheres que tenham o olhar voltado
para Deus, aprendendo dele a verdadeira humanidade.
Temos necessidade de homens e mulheres cuja inteligência seja iluminada pela
luz de Deus e a quem Deus abra o coração, de modo que a sua inteligência possa
falar à inteligência dos outros e o seu coração possa abrir o coração dos outros. Só
através de homens e mulheres tocados por Deus, pode Deus voltar de novo para
junto dos homens”.
Assim seja para todos nós!
Fátima, 5 de Fevereiro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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Meditações e homilias do Ano da Misericórdia do Senhor
Introdução ao livro
“Graça e Misericórdia”
O ciclo das aparições ligadas à Mensagem de Fátima encerra com a última aparição de Nossa Senhora a Lúcia em Tuy, em 1929, e precisamente com uma visão
extraordinária e deslumbrante. Trata-se da representação da Trindade na Cruz. Num
só e único olhar abrange o mistério da Santíssima Trindade, o sacrifício redentor
de Cristo, o sacrifício eucarístico e a presença e a participação singular de Maria
sob a cruz no mistério da redenção do mundo. E a descrição da Irmã Lúcia termina
do seguinte modo: “Sob o braço esquerdo [de Cristo na cruz], umas letras grandes,
como se fossem de água cristalina que corresse para cima do altar, formavam estas
palavras: Graça e Misericórdia”.
“Graça e Misericórdia” – as duas grandes palavras que Lúcia leu como comentário à visão da Trindade, podem bem sintetizar toda a Mensagem de Fátima como
manifestação do Deus compassivo que se inclina sobre o mundo do século XX então
mergulhado no ódio e na guerra, e sobre o sofrimento humano de milhões de pessoas
para lhes fazer sentir o poder da Sua misericórdia.
Como afirmou João Paulo II: “Para além da misericórdia de Deus, não há outra
força da esperança para os seres humanos” capaz de pôr limite ao poder do mal.
A Divina Misericórdia pode mudar o mundo. É uma revolução de amor capaz de
erradicar o mal e semear o bem. O Papa Bento XVI explica-o com a clareza e a
profundidade que lhe são próprias: “Só a misericórdia de Deus encarnado em Jesus
pode restabelecer o equilíbrio entre o mal e o bem, começando pelo pequeno mundo
que é o coração do homem” (Angelus, 23.02.07).
A misericórdia é um dos atributos mais belos do nosso Deus e tem um nome e
um rosto: Jesus Cristo. Da sua contemplação brota a atitude de deslumbramento e
assombro, como sobressai das palavras de Santa Catarina de Sena perante a “loucura” da misericórdia do Pai celeste:
“Ó misericórdia que brota da tua divindade, Pai eterno, a qual governa com o teu
poder o mundo inteiro!
Na misericórdia fomos criados; na Tua misericórdia fomos recriados no sangue
do Teu Filho. A tua misericórdia conserva-nos; a Tua misericórdia fez com o Teu
Filho estendesse os seus braços no madeiro da cruz, lutando a morte com a vida e a
vida com a morte. E então a vida derrotou a morte da nossa culpa e a morte da culpa
tirou a vida corporal ao cordeiro imaculado.
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Quem ficou vencido? A morte. E qual foi a causa? A Tua misericórdia”.
E perante a loucura de amor do Verbo encarnado exclama:
“Por misericórdia lavaste-nos no sangue; por misericórdia quiseste conversar
com as tuas criaturas. Ó louco de amor! Não te bastou encarnar, mas também quiseste morrer!”
A mensagem da Misericórdia Divina de que Maria se fez mensageira em Fátima
foi um apoio especial e fonte de fortaleza e esperança para a Igreja e para o mundo
face aos dramas e às tragédias do século XX. Esta mensagem é hoje mais necessária
do que nunca, como nos confirmam os acontecimentos mundiais de cada dia. Ela
promove a paz no mundo, entre os povos e entre as religiões.
Eis a razão porque o Santuário de Fátima comemorou os 90 anos das Aparições
consagrando a ano de 2007 como “Ano da Misericórdia do Senhor”, com uma série
de celebrações e iniciativas em ordem a redescobrir a beleza e a profundidade da Misericórdia Divina. Esta, por sua vez, ajuda a descobrir o verdadeiro rosto de Deus, o
verdadeiro rosto do homem e da Igreja e também o verdadeiro rosto de Maria, como
Mãe da Misericórdia.
A presente obra oferece aos leitores as principais homilias e meditações que foram feitas ao longo do ano, no Santuário, com esta finalidade.
“Salvé Rainha, Mãe da Misericórdia... Eia, pois, advogada nossa, esses vossos
olhos misericordiosos a nós volvei!” – assim reza e canta o povo cristão. Que a Mãe
de Deus volte os seus olhos misericordiosos para a humanidade aflita, tão necessitada da sua sabedoria e da sua ajuda, e nos ajude a ser testemunhas do amor misericordioso! Misericórdia e Coragem, eis aquilo de que tanto precisam a Igreja e o mundo
no momento presente!
Leiria, 7 de Fevereiro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
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Inauguração do Domus Carmeli
– Padres Carmelitas Descalços – Fátima
Casa de Deus e Porta do Céu
Foi com íntima alegria que aceitei o convite para presidir à dedicação desta igreja
e assim poder associar-me à festa da família dos Carmelitas descalços, à qual me
ligam grandes laços de afecto desde há muitos anos. Com esta alegria saúdo todos
vós aqui presentes com muita estima e fraterno afecto.
Celebramos esta dedicação num dia muito significativo, este 13 de Fevereiro,
dia de peregrinação em memória das aparições e de memória grata, junto do altar do
Senhor, do terceiro aniversário da morte da Irmã Lúcia. Acontecimentos que são expressão da ligação particular dos Carmelitas à Mensagem e ao Santuário de Fátima.
Em nome do Santuário, de todos os presentes e em meu nome pessoal dirijo-vos as
mais vivas congratulações por esta nova casa “Domus Carmelli, Fatimae atrium”!
Convosco quero fazer uma meditação deixando-nos inspirar pela Palavra de
Deus que acabámos de escutar.
1. Uma escada que chega ao céu
A igreja que hoje dedicamos ao Senhor é um lugar privilegiado onde nós, cristãos, podemos celebrar a presença de Deus, escutá-Lo e receber d´Ele a luz e a
força para o nosso caminho, segundo a sua promessa perene feita a Jacob “Eu estou
contigo”.
É esta realidade que nos evoca a primeira leitura desta missa, que nos descreve
a visão de Jacob, a quem apareceu uma escada erguida sobre a terra e que chega até
ao céu, ao longo da qual os anjos subiam e desciam.
Em cada igreja realiza-se a visão de Jacob: através da escada da nossa oração
nós subimos até Deus e Deus desce até nós com os seus dons para estar e caminhar
connosco. Eis porque cada igreja é definida como uma casa de Deus, tal como Jacob
definiu o lugar em que Deus lhe falou: “É nada menos que a casa de Deus e a porta
do céu”.
Com esta visão de fé também nós entraremos muitas vezes neste templo, com a
certeza de encontrar um espaço sagrado em que o Senhor virá até nós e nós poderemos aproximar-nos d´Ele, Caminho, Verdade e Vida. E então como o Salmo responsorial (Sl 94), poderemos cantar sempre no nosso coração tal como hoje “Vamos à
presença do Senhor com cânticos de alegria”.
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2. O templo espiritual
A segunda leitura lembra-nos, de seguida, que o templo material não é tudo: existe, com efeito, um outro lugar onde Deus pode e quer habitar, se nós lhe somos fiéis.
Sim, Ele pode e quer habitar em nós se O acolhermos com amor. O nosso coração
é o Seu templo preferido. Esta é a doutrina que o Apóstolo Paulo apresentava já há
dois mil anos aos cristãos de Corinto: “Irmãos, vós sois o edifício de Deus... Não
sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?... O templo
de Deus é santo e vós sois esse templo”.
Este grito do Apóstolo, simultaneamente de assombro (diante da grandeza deste
mistério) e de imploração, ressoa hoje e aqui de novo, neste belo templo. Que este
templo seja sempre símbolo de uma outra presença mística: a presença de Cristo
no coração de cada cristão, “esse castelo ou morada interior” em cujo centro habita
Deus, segundo a bela expressão de Santa Teresa de Jesus.
3. O apelo do Evangelho:
ser verdadeiros adoradores em espírito e verdade
A liturgia da palavra apresenta-nos, por fim, um outro apelo de Jesus indicado,
propositadamente, para esta celebração solene.
Com efeito, no diálogo com a samaritana, Jesus revela a novidade extraordinária
e inesperada do culto cristão: “Mulher, acredita em mim… Vai chegar a hora – e já
chegou – em que os verdadeiros adoradores de Deus hão-de adorar o Pai em espírito
e verdade”. O culto a Deus não está mais ligado, indissoluvelmente, a um lugar concreto ou espaço físico, mas a um “espaço” novo, humano e divino ao mesmo tempo,
que se identifica com o próprio Jesus, com a Sua “sacratíssima humanidade” e o Seu
mistério. Os verdadeiros adoradores em espírito e verdade são os que acolhem o
mistério do Amor eterno e santo do Pai “que amou tanto o mundo que lhe entregou
o Seu Filho” e com Ele o Seu Espírito de Amor; os que acolhem a Sua Palavra e,
animados pelo Espírito, vivem na santidade de vida quotidiana; os que comunicam
e testemunham o Seu amor de reconciliação e unidade no coração do mundo, que
derruba os muros de separação entre judeus e samaritanos, isto é, entre todas as
pessoas e todos os povos.
Neste sentido, Jesus ensina-nos que a casa de Deus deve ser também a casa dos
homens na qual os filhos do mesmo Pai se reconhecem como irmãos e são enviados
ao mundo para levarem a fraternidade em nome de Cristo.
Um dia, entrando numa pequena igreja dos Alpes italianos, notei sobre o pórtico
esta inscrição que me impressionou: “Aqui entra-se para amar a Deus; e daqui sai-se
para amar os homens”.
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4. Uma mensagem actual
Caros irmãos carmelitas: a igreja que hoje dedicamos, coração da “Domus Carmelli, Fatimae atrium” é também símbolo da vossa missão aqui em Fátima.
Na esteira dos vossos pais fundadores, Santa Teresa de Ávila e S. João da Cruz,
sois chamados a oferecer aos peregrinos de Fátima a dimensão contemplativa e mística da fé, a experiência gozosa da Beleza de Deus que a Irmã Lúcia testemunhou
nas suas memórias e na sua vida, “o pequeno caminho da santidade” proposto por
Santa Teresinha de Lisieux como caminho simples e acessível a todos. Como vedes,
trata-se de uma mensagem de profunda actualidade.
Sede testemunhas eloquentes da unidade de mística e acção, de oração e apostolado, dum clima de serenidade e de alegria onde se experimenta a presença de Deus.
Assim ireis ao encontro do homem contemporâneo tentado pelo cansaço, pela resignação, pela falta de confiança na bondade da vida e tão necessitado de interioridade
e de esperança; e ajudareis a tornar Fátima um oásis espiritual.
Que vos acompanhe e ilumine no vosso itinerário espiritual e na vossa missão
a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Jesus, que vós invocais com o belo nome de
Nossa Senhora do Carmo!
Leiria 13 de Fevereiro de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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Exéquias do padre Manuel António Henriques
O nosso caro padre Manuel Henriques, como peregrino para a casa eterna do
Pai, realiza a sua última paragem nesta igreja paroquial de Fátima, onde durante 50
anos exerceu dedicadamente o seu ministério sacerdotal. Aqui hoje, recebe o adeus
afectuoso, grato e comovido do seu povo e de quantos o estimam e dele se despedem
para a sua última viagem.
Neste momento, também nos unimos todos à dor dos seus familiares a quem quero exprimir em nome dos presentes, de toda a diocese e em nome pessoal, o sentido
pesar pela perda de um familiar tão querido.
As leituras da Palavra de Deus que escutámos iluminam o sentido desta despedida em celebração eucarística, como expressão de acção de graças a Deus pelo dom
do sacerdócio do Pe. Manuel Henriques e expressão do nosso sufrágio que o acompanha na comunhão dos santos, confiando-o à misericórdia do Senhor.
A primeira leitura convida-nos a contemplar o rosto de Deus, como Deus da
Aliança: o Deus próximo e solícito pela sorte dos seus filhos; o Deus compassivo
que quer bem ao Seu povo errante, o guia, o acompanha e lhe infunde novo ânimo.
De todos os modos possíveis e imaginários, o profeta Isaías repete, marcadamente, a certeza deste Amor de Deus pelo Seu povo e do socorro que lhe oferece.
Para isso serve-se das imagens mais sugestivas e expressivas, belas e ternas, de Deus
como pastor que guia e protege, como agricultor que restaura a terra, como médico
que cura as feridas, para concluir com a esplêndida imagem de Deus como Mãe que
não pode “esquecer-se da criança que amamenta e não ter carinho pelo fruto das suas
entranhas”.
O Seu amor, como diz o salmista, é ternura profunda, amor de entranhas. E o
povo tem necessidade desta ternura, de ser consolado por este amor único e inigualável.
Nesta luz vemos a luz e a beleza do dom do sacerdócio ministerial: os sacerdotes
são chamados a serem testemunhas e servidores da ternura de Deus. A eles é confiada a missão de levarem o conforto, a consolação, a ternura, o perdão, a esperança de
Deus às pessoas, às comunidades, ao mundo.
A esta luz apraz-nos dar graças pelo testemunho sacerdotal do Pe. Manuel Henriques impregnado de ternura para com o seu povo e que se manifestou de vários modos, que aqui desejo sublinhar: o grande empenhamento na catequese das crianças e
adolescentes, o cultivo da amizade a toda a gente, a grande capacidade para ouvir as
pessoas e as encorajar, o acolhimento com bondade dos migrantes que chegavam à
paróquia, a sua devoção terna a Nossa Senhora, Mãe da Ternura, e aos Pastorinhos,
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Um Pastor Terno e Generoso
. escritos episcopais .
a atenção especial às vocações sacerdotais. Ainda hoje estão vivos doze sacerdotes
da paróquia de Fátima que, de algum modo, são fruto da sementeira do Pe. Manuel
Henriques.
O testemunho de ternura e apoio para com o seu povo estendeu-se numa dimensão cultural, como iniciador do Colégio de S. Miguel; fundador de uma rádio e do
Centro Paroquial que depois se transformou no actual Centro Desportivo de Fátima;
promotor da música na sua paróquia, especialmente entre os jovens, tendo mesmo
criado um grupo musical.
Foi um pastor terno e generoso. Foi um pai bom, capaz de amar muito. E, por
isso, foi muito amado. Disso é prova a vossa presença tão numerosa aqui no último
adeus, como testemunho da vossa gratidão: uma presença numerosa dentro e fora da
igreja, a formar uma coroa de corações como quem lhe quer dar o último abraço.
O Evangelho convida-nos a fixar os nossos olhos em Jesus Cristo. Contemplando-o como Filho eterno do Pai, o filho encarnado no mundo dos homens, encontramos as palavras e os gestos de conforto e esperança de que tanto necessitamos.
Ele é o rosto visível do Pai. N´Ele habita a plenitude da divindade, do Amor e da
Vida que vencem a morte: “como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, assim o
Filho dá a vida a quem Ele quer”; “Quem ouve a minha Palavra e acredita n´Aquele
que me enviou, tem a vida eterna!”
A Ressurreição do próprio Senhor Jesus é a revelação visível de que não fomos
lançados na vida ao acaso, para cairmos no vazio do nada! É uma grande revelação:
sabermos que aqueles que já partiram, partiram apenas! Que não se desfizeram no
pó, mas continuam num outro âmbito, na luz de Deus, a olharem-nos com ternura e
a seguirem as nossa pegadas de peregrinos neste mundo.
Esta é também a grande esperança que Jesus nos oferece, que dá nova luz à nossa
existência quotidiana, que nos sustém e sustenta na fadiga e no sofrimento de cada
dia.
Esta foi também a esperança que deu ao Pe. Manuel Henriques a força da perseverança ao longo de 54 anos de sacerdócio e que não lhe faltou nos dias do seu
último sofrimento.
Quem lhe esteve próximo, testemunha com quanta serenidade ele se ofereceu
todo e ofereceu tudo ao Senhor pela sua Igreja, a exemplo dos beatos Pastorinhos
Francisco e Jacinta, como escreveu na sua última carta ao bispo.
Que a companhia terna e materna de Nossa Senhora juntamente com os Pastorinhos te introduzam, caro Pe. Manuel Henriques, na luz e na alegria da Páscoa
eterna, junto do Senhor. Feliz Páscoa na eternidade do nosso Deus e Senhor é o que
te desejamos!
Leiria, 5 de Março de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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. escritos episcopais .
Mensagem
O nosso jornal diocesano “A Voz do Domingo” completa 75 anos de vida e de
serviço à Igreja e à sociedade. É uma idade provecta que merece a nossa veneração.
São as “Bodas de Diamante” que requerem ser celebradas com júbilo e em acção de
graças.
“A Voz do Domingo”, ao longo de todo este tempo, tem-se distinguido como
órgão eclesial de comunicação ao serviço da pessoa humana, da cultura cívica e
religiosa, do bem comum da sociedade, da divulgação do magistério da Igreja. À
cultura da informação alia a cultura da sabedoria para que aquela não se torne num
mero acumular de informações e factos sem sentido.
O seu 75º aniversário oferece-me a oportunidade para, em nome da Diocese e em
meu nome pessoal, manifestar o reconhecimento grato ao seu Director e a todos os
colaboradores e funcionários. E muitos parabéns!
Leiria, 10 de Março de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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75º aniversário do Jornal
“A Voz do Domingo”
. escritos episcopais .
Homilia da Missa Crismal
Servidores da Ternura
e da Consolação de Deus
É uma hora de graça esta que nos é dado viver, juntos, na celebração da missa
crismal, verdadeira festa da unidade da Igreja diocesana recolhida à volta do seu
pastor. É um acontecimento de beleza e de ternura, de consolação e de alegria em
que nos sentimos amados por Deus com um amor particular: aquele amor que nos
alcançou e mudou as nossas vidas, fazendo de nós testemunhas humildes e enamoradas do Ressuscitado, ao serviço do nosso povo e de toda a família humana. Neste
clima de beleza, de comunhão e alegria saúdo-vos, caros padres, com fraterna estima
e sincera gratidão. Convosco saúdo jubilosamente e com gratidão o nosso estimado
Vigário Geral, Pe. Jorge Guarda, que este ano celebra o dom de 25 anos de sacerdócio. Na Comunhão dos Santos recordo junto do Senhor os três irmãos sacerdotes que
partiram para a casa eterna do Pai. E quero também enviar uma mensagem de afecto
àqueles que deixaram de exercer o ministério.
Uma hora histórica única, decisiva e preciosa
Desejaria começar esta nossa reflexão confidenciando-vos as primeiras impressões da Visita Pastoral que iniciámos. Tive assim a oportunidade de entrar no interior
das comunidades onde fui acolhido como irmão. Procurei sentir o pulsar da vivência
da fé e da vida espiritual de cada comunidade que visitei. Constatei uma boa reserva de muitas energias ao serviço do anúncio e da construção do Reino de Deus.
Recolhi entusiasmos, alegrias, expectativas e esperanças, como também cansaços,
desalentos, temores, e até sofrimentos interiores relativos à indiferença ou à apostasia silenciosa de muitos. Mas, sobretudo, verifiquei em todos, sacerdotes e leigos,
um enorme desejo de um salto de qualidade: na vitalidade da fé e da vida espiritual,
no serviço comum de evangelização, na reconfiguração das comunidades cristãs em
ordem a uma maior participação e corresponsabilidade, no desejo de ser uma Igreja
viva de comunhão e missão, que não se quer deixar envelhecer e acomodar.
Há um desejo de “transfiguração” do rosto da Igreja a fim de que a beleza e a
ternura do rosto de Cristo resplandeçam em cada comunidade, nos modos e nos
métodos que somos chamados a seguir para viver, testemunhar e comunicar a fé no
novo contexto social e cultural.
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É preciso um caminho que nos envolva a todos, ministros e todo o povo de Deus,
e leve ao centro e fundamento da experiência cristã. É preciso um regresso às fontes
originárias de todo o impulso e ardor apostólicos, que nos leve a sair da rotina, da
repetitividade monótona, do uso banal e consumista do tempo, conscientes de que
“não há duas horas iguais: cada hora é única, a única concedida naquele tempo, exclusiva e infinitamente preciosa” (Abraam Heschel).
Também a hora histórica que nos é dado viver e em que somos chamados a
exercer a nossa missão é única, decisiva e preciosa. É uma hora de “crise epocal”,
um tempo de grave crise espiritual, moral e civil de fragmentação, de desencanto e
desolação existencial que nos pode contagiar e abater o nosso ânimo.
Mas Deus vem ao nosso encontro com o dom da consolação, que é outra face da
ternura de Deus, como podemos verificar em toda a liturgia desta Missa Crismal.
O óleo e o perfume da consolação
O texto do profeta Isaías (61) é um verdadeiro canto da consolação e da esperança para o povo no tempo do exílio. Juntamente com o texto do Evangelho (Lc 4)
é um compêndio de teologia do dom e da missão de consolação. O Servo, o Consagrado do Senhor é ungido “para anunciar a boa nova aos infelizes, curar os corações
atribulados, consolar os tristes, levar aos aflitos de Sião uma coroa em vez de cinza,
o óleo da alegria em vez do trajo de luto, cânticos de louvor em vez de um espírito
abatido”.
O Servo de Deus é o consolador que leva a confiança de Deus a um povo abatido
que vive a experiência da desolação e do abandono. E Jesus, no Evangelho, identificando-se com este Servo, anuncia e torna presente a consolação divina aos pobres,
prisioneiros, cegos, oprimidos e escravos. Ele é a Luz e a Consolação; é a presença
da consolação no meio do seu povo; é a revelação visível, pessoal do eterno rosto
consolador de Deus!
O profeta Isaías para anunciar esta realidade superior às forças humanas serve-se
de símbolos e imagens entre os quais se destaca o óleo. É uma imagem carregada de
sentidos. Mas as suas várias significações (medicina, vigor, paz, alegria, consagração) podem sintetizar-se na consolação. É o perfume deste óleo da consolação que
enche de solenidade a liturgia de hoje e dela parte para consolar, confortar inúmeras
histórias de fé, de amor, de sofrimento, de entrega, de esperança e de vida, através
dos sacramentos marcados pela unção: o baptismo, o crisma, a ordem e a unção dos
enfermos.
Portanto, a partir de Jesus consagrado com o “óleo do Espírito”, através de nós,
bispos e presbíteros “participantes do ministério da salvação”, até todo o povo sacerdotal dos fiéis, o mistério da unção unido à Palavra, difunde um bálsamo de consolação, de conforto, de suavidade e ternura sobre toda a Igreja de Deus.
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A consolação da mente, do coração e da vida
O nosso Deus é “Pai misericordioso e Deus de toda a consolação”. É seu atributo
específico ser Consolador (cf. Is 52,1). A sua acção em nós é principalmente a de nos
consolar e confortar. Ele quer a nossa paz, a nossa alegria, a nossa felicidade. Mas
surge a interrogação: como é que o nosso Deus nos consola, nos assiste e infunde
coragem?
Pensamos imediatamente no belíssimo hino de S. Paulo que podemos fazer nosso: “Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias
e o Deus de toda a consolação! Ele nos consola em toda a nossa tribulação, para que
também nós possamos consolar aqueles que estão em qualquer tribulação, mediante
a consolação que nós mesmos recebemos de Deus.” (2 Cor1,3-4).
É uma passagem muito bela e tocante. O apóstolo sente-se consolado, vive fortes
experiências de consolação no meio das tribulações e aflições da sua vida apostólica.
Isto vale também para a nossa acção pastoral.
A situação de ser consolado por Deus é, na verdade, típica da vida cristã. Se o
Senhor nos deixa passar através de provações, não deixa porém que nos falte consolação e conforto.
A consolação divina é como uma mola poderosa para o nosso caminhar, para
“voar” nos caminhos da santidade e da pastoral porque “dá asas aos pés”, segundo a
expressão de Santo Inácio de Loyola. Em que consiste esta consolação?
Na linha da espiritualidade inaciana desejaria exprimir três modos típicos - que
são três graças -, com que o Senhor nos consola no nosso tempo:
1. A consolação da mente, hoje tão fragmentada e dispersa,
sem pontos de referência
É uma espécie de luz (iluminação) que nos oferece uma visão sintética, unitária
e mística do admirável desígnio de Deus e da história da salvação, tal como aos discípulos de Emaús; um conhecimento íntimo que nos permite intuir, num único olhar,
a riqueza, a harmonia, a coerência e a beleza dos conteúdos da fé; que nos concede
ver com claridade, a certeza, a confiança absoluta e a beleza da vocação, do carisma
e da missão que nos são confiados; que nos dá a capacidade de ver e julgar, à luz de
Deus, as realidades humanas e divinas e os sinais dos tempos.
Quem recebe este dom compreende com que imenso amor Deus abraça o mundo
e como a pequena história de cada um, com os seus acontecimentos mesmo dolorosos, tem significado e valor dentro da grande história da salvação.
Isto é de grande importância para quem tem responsabilidades na Igreja, porque
o ajuda a pensar em grande e a pensar positivo mesmo no meio de circunstâncias pequenas e mesquinhas. Por vezes, ainda sentimos a dificuldade em pensar numa visão
grande e positiva. Sentimos que é mais cómodo encerrar-se em horizontes estreitos
e mesquinhos e viver neles com amargura e lamentações. A consolação da mente
mostra-nos que não é este o desígnio de Deus.
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2. A consolação do coração, hoje tão ferido, dividido e insatisfeito
É a inclinação afectiva a crer no Evangelho, a confiar e a confiar-se ao mistério
do infinito amor de Deus por cada um de nós, porque é bom e belo, dá paz interior e
alegria. “É como um raio de felicidade de Cristo ressuscitado e glorioso que ilumina
e aquece o coração” (C. Martini). É Deus que chega com a sua consolação à intimidade mais profunda da pessoa, ao seu coração, lugar dos sentimentos, dos afectos
e das decisões profundas. E purifica o coração e a memória, reconcilia o próprio
consigo mesmo e os seus limites, com os outros e com Deus; abre-o ao amor verdadeiro, puro e casto; liberta-o da impaciência, da frustração, da solidão, da desolação,
do desespero. Dá serenidade e abre-o à esperança que não defrauda, mesmo nas
circunstâncias mais difíceis. “Quem tem fé, nunca está só” (Bento XVI).
3. Consolação da vida, hoje tão ameaçada pelo medo e pela insegurança
É uma força interior que nos ajuda a prosseguir, com coragem e perseverança, no
autêntico caminho da vida, mesmo quando está semeado de obstáculos ou quando
tudo parece confuso e perdido. Sim, a presença do Senhor, a Sua companhia dá-nos
uma força superior, humanamente inexplicável, que nos permite resistir nos dias
mais difíceis, como tão bem expressa o salmista: “O Senhor está comigo; com Ele
a meu lado, não vacilarei”! Ou então com o hino de Completas: “Se me envolve a
noite escura e caminho sobre abismos de amargura, nada temo, porque a Luz está
comigo”!
Penso também na famosa parábola das “Pegadas na areia” tão elucidativa. No
início, são quatro pegadas (as de Jesus e do amigo a seu lado). A um certo ponto ficam só as duas pegadas do amigo. Mas quando o amigo pergunta a Jesus onde estava
nos momentos mais difíceis, ouve a resposta surpreendente: nessa altura, levava-te
eu nos braços.
Mesmo quando parece que somos abandonados por Deus, Ele continua a caminhar connosco, a levar-nos nos seus braços. Como é importante esta confiança no
caminho da Igreja e na vida pastoral nos tempos mais difíceis!
Esta consolação da vida traduz-se hoje na confiança na vida, na bondade e na
beleza da vida, de que tanto precisa a nossa sociedade e a nossa cultura.
Sede servidores da ternura e da consolação de Deus
Neste tempo difícil que vivemos, considero muito importantes estes três tipos de
consolação para o nosso ministério e para as nossas comunidades. Hoje, o mundo
está cheio de motivos que levam ao temor, ao medo, ao desencanto, à confusão e
desorientação, à desolação, à angústia e à depressão. E as pessoas esperam, avidamente, dos sacerdotes o testemunho da consolação, do conforto.
A própria vida cristã e pastoral está sob o signo da consolação e da ternura, porque está sob o signo do Amor eterno, santo e compassivo de Deus e do desejo de
comunicá-lo aos outros.
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O Senhor, Pai de misericórdia, faz cair a consolação como bálsamo gota a gota.
Também nós, com Ele, podemos fazer do mesmo modo, sem qualquer presunção. A
nossa sincera participação nas fadigas e cansaços do nosso povo, nos sofrimentos da
gente é garantia de que estamos com o Senhor; de que podemos servir o óleo da consolação porque, em primeiro lugar temos necessidade dele e o invocamos de Deus,
particularmente neste dia, pedindo-lhe que reavive o dom que está em nós.
A Sagrada Escritura apresenta-nos figuras de curadores feridos, de consoladores
aflitos, de médicos carregados com as doenças dos outros, de curadores de chagas
chagados. À semelhança de S. Paulo que se considera consolado para consolar, sede
servidores da ternura e da consolação de Deus!
É o vosso serviço aos irmãos: ser aquele que acompanha, apoia, estimula, consola, dá motivações, indica metas justas, abre horizontes para infundir força e conduzir
a Cristo, mostrando que a graça de Deus, a mão do Senhor nos acompanha.
Significa também que devemos semear calma, sentido de objectividade, capacidade de olhar as coisas a partir do Alto e ao longe, promover em toda a situação a
reconciliação, a conversão dos corações, o bem comum. Trata-se de uma sementeira
paciente, perseverante e capaz de esperar os frutos quando Deus quiser. Vacklav
Havel, grande escritor e homem político, exprimiu assim os sentimentos que nos
devem animar no tempo da provação: “Eu queria fazer progredir a história à maneira
de uma criança que puxa uma planta para a fazer crescer mais depressa. Creio que
é preciso aprender a esperar... Semear pacientemente o grão, regar assiduamente a
terra que o cobre e conceder às plantas os seus tempos. Se os políticos e os cidadãos
compreendessem que cada coisa, neste mundo, tem os seus tempos e que, para além
do que se espera do mundo e da história, é importante saber o que o mundo e a
história esperam, então a humanidade não acabaria tão mal como às vezes imaginamos... Não há nenhuma razão para ser impacientes, se se semeou e regou bem. Basta
compreender que a nossa actividade não está privada de sentido. É uma actividade
que tem sentido porque nasce da esperança e não do desespero, da fé e não da desconfiança, da humildade perante os tempos deste mundo e não do medo”.
Ó Maria, Mãe da ternura e da consolação, intercede por nós para que nunca nos
falte a consolação da mente, do coração e da vida, que sustenta a nossa fé, a nossa
esperança, o nosso amor e o nosso ministério.
Ámen!
Leiria, 20 de Março de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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Mensagem para a publicação anual da Cercilei
Comemoramos este ano o sexagésimo aniversário da Declaração Universal dos
Direitos do Homem. É uma bela ocasião para tomarmos consciência e para reafirmar
que toda a pessoa portadora de deficiência é sempre um sujeito plenamente humano
com os direitos sagrados e invioláveis de cada pessoa humana. Por isso, as pessoas
portadoras de deficiência devem ser ajudadas a participar na vida familiar e social
em todas as dimensões e a todos os níveis acessíveis às suas possibilidades.
Ao reconhecimento dos direitos deve corresponder o empenho sincero de todos
para criar condições de vida, estruturas de apoio, tutelas jurídicas capazes de responder às necessidades e às dinâmicas de crescimento das pessoas portadoras de deficiência e daqueles que partilham a sua situação, a começar pelos seus familiares.
Não se lhes pode negar o necessário apoio e a necessária protecção na difícil tarefa de enfrentar a vida. Mais do que outros, precisam de atenção, afecto, proximidade,
compreensão e amor.
À Cercilei e a todos quantos aí trabalham deixo expresso todo o meu reconhecimento e toda a minha estima pela exemplar dedicação e pelo notável trabalho que
desenvolvem, de que o 24º SARAU é testemunho.
Um abraço amigo,
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
[14 de Abril de 2008]
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24º Sarau de Actividades Corporais
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Abertura das XVI Jornadas de Direito Canónico
O Direito, a Caridade
e a Comunhão Fraterna
Saúdo cordialmente todos os participantes nestas jornadas e agradeço ao Prof.
Saturino o convite para presidir a esta sessão de abertura, o que me proporciona
associar-me à comemoração dos vinte e cinco anos do novo Código de Direito Canónico.
Que vos pode, a este respeito, dizer um bispo que não é um especialista em direito? E no entanto, o bispo, como pastor da Igreja local, é talvez quem mais sente
de perto, em concreto e ao vivo, a necessidade, o valor e o significado do Direito
Canónico para a sua missão, para a vida das comunidades e dos fiéis. Por isso, num
olhar pastoral e teológico, ofereço-vos uma breve reflexão sobre o direito, a caridade
e a comunhão na Igreja, em dois pontos.
O direito ao serviço da Igreja do amor
O teólogo ortodoxo N. Afanassieff, no seu livro A Igreja do Santo Espírito, escrevia assim a propósito do ordenamento jurídico da Igreja: “O princípio da ordem e da
organização na Igreja é o Espírito. A Igreja começa no Espírito. A Igreja vive graças
ao Espírito e no Espírito. Os dons do Espírito não são dados por si mesmos, mas em
vista de um ministério na Igreja para constituir o corpo da Igreja. O Espírito não é na
Igreja um princípio de anarquia, mas de organização”1.
Isto significa que as leis e as codificações de que a comunidade eclesial, na sua
articulação ministerial, se dotou ao longo do tempo, nascem do mesmo princípio
pelo qual é animado todo o fruto do Espírito, isto é, da caridade divina que o próprio
Espírito derrama nos nossos corações; e estão finalizadas no mesmo objectivo em
vista do qual todo o carisma e todo o serviço da comunhão são suscitados, ou seja,
a utilidade comum, entendida como crescimento na unidade da comunhão e no testemunho do dom recebido. Neste sentido, pode-se dizer que o direito é, na Igreja,
uma irradiação do dogma, uma concretização da fé no Deus Trindade, que é Amor:
“Os cânones que regulam a vida da Igreja no seu ‘aspecto terreno’ são inseparáveis
do dogma cristão; não se trata de estatutos jurídicos propriamente ditos, mas da
aplicação dos dogmas da Igreja, da sua tradição revelada, a todos os campos da vida
prática da sociedade cristã”2.
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Na Igreja, o direito nasce, pois, do amor que vem do Alto, e serve a causa da
salvação (salus animarum), cuja alma é o amor. Não há pois contraposição entre a
Igreja do amor e a Igreja do direito como bem ilustra o Cardeal Ratzinger: “No nosso
século tornou-se moda a contraposição entre a Igreja do direito e a Igreja do amor; o
direito foi apresentado como o oposto do amor. Tal contraste pode certamente emergir na aplicação concreta do direito, mas elevar isto a princípio, perverte a essência
do direito como também a essência do amor. (…) A eliminação do direito é desprezo
do homem; onde não há direito não há liberdade”3.
Também é extremamente elucidativa, a este propósito, a concepção de João
Paulo II na Constituição Apostólica da promulgação do novo código: “O Código não
tem de modo algum a finalidade de substituir a fé, a graça, os carismas e, sobretudo,
a caridade dos fiéis na vida da Igreja. Ao contrário, o seu fim é sobretudo criar uma
ordem na sociedade eclesial que, dando o primado ao amor, à graça e aos carismas,
torne mais ágil contemporaneamente o seu desenvolvimento orgânico na vida da sociedade eclesial como também na vida das pessoas singulares que a ela pertencem”4.
Por isso, se a codificação da disciplina da comunhão é tarefa e expressão do ministério da unidade na Igreja, ela envolve também na sua génese toda a comunidade dos
crentes na variedade das formas da sua vida e do seu pensamento.
É precisamente a concepção da Igreja do amor que, partindo do único Corpo de
Cristo dado a todos os comungantes na eucaristia, vê nela o ícone vivo da Trindade
e vê a unidade e a diversidade articuladas numa espécie de ‘pericorese eclesiológica’, que permite superar a oposição entre instituição e carisma, evidenciando a sua
raiz comum na acção do Ressuscitado e na do Espírito: de facto, na Ceia do Senhor
tudo é “instituição” em obediência ao mandato de Jesus e, ao mesmo tempo, tudo
é “carisma”, porque realizado e vivificado pelo Espírito, que age na comunidade e
nas suas articulações ministeriais, levando todos e cada um a convergir na tensão
comum para a unidade, e tornando presente em todas as Igrejas particulares a única
Igreja universal, a Catholica, que nelas se exprime e por elas é constituída como
comunhão na caridade divina.
A caridade, alma e finalidade do direito na Igreja
Escreve Johann Adam Möhler: “Na vida da Igreja são possíveis dois extremos;
e ambos se chamam egoísmo. Verificam-se, respectivamente, quando cada um ou
quando um só pretendem ser tudo. Neste último caso, o vínculo da unidade é tão
apertado e o amor tão sufocante que não se pode evitar extingui-lo; no primeiro caso,
tudo é tão desconexo e frio, que se gela. Um destes egoísmos gera o outro. Mas nem
um só nem cada um podem ser o todo. Só todos constituem o todo e só a união de
todos forma um todo. Esta é a ideia da Igreja católica”5.
Para vencer estas duas formas opostas de egoísmo com a força da caridade, a
Igreja é ajudada pelo direito, que nasce do Amor e só nele está finalizado. Precisamente assim, a caridade oferece-se como a alma e a finalidade do direito na Igreja e
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compreende-se, mais uma vez, como o direito canónico nasce da urgência de tutelar
e promover o exercício da caridade. Pelo mesmo motivo, não se deve hesitar em
afirmar que ele só é rectamente exercido se a ânsia da caridade é a sua alma e a sua
inspiração contínua.
Resta-me desejar-vos umas jornadas profícuas que possam fazer brilhar o direito
na Igreja como um reflexo da beleza da caridade e da Igreja do amor!
Fátima, 24 de Abril de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
Notas
1
N. Afanassief, L’Église du Saint Esprit, Paris 1975, 30.
2
P. Evdokimov, La teologia mistica della Chiesa d’Oriente, Bologna 1967, 168.
3
J. Ratzinger, Lectio doctoralis, in Per il diritto. Omaggio a Joseph Ratzinger e Sergio Cotta,
Torino 2000, 13.
4
João Paulo II, Constitución Apostólica Sacrae disciplinae leges, in Código de Derecho
Canónico, BAC, Madrid 1983, 6-7.
5
J. A. Möhler, L’unità nella Chiesa. Il principio del cattolicesimo nello spirito dei Padri della
Chiesa dei primi tre secoli, Roma 1969, 292-293.
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Mensagem de Abertura
Salvé, Rainha, Mãe de Misericórdia!
Vida, Doçura, Esperança nossa!
Salvé!
1. É uma exclamação que brota espontânea do coração do peregrino que chega
à meta, a esta capelinha das aparições, e quer saudar do fundo do coração, efusivamente, a Virgem Mãe, a Mãe da Igreja, a Mãe espiritual da humanidade, a nossa
Mãe. Por isso, em nome de todos os peregrinos, diante da imagem de Nossa Senhora
de Fátima, repito a afectuosa saudação: Salvé, Rainha, Mãe de Misericórdia! Vida,
Doçura, esperança nossa! Salvé!
Saúdo com particular e fraterno afecto Sua Eminência, o Senhor Cardeal D. José
Saraiva Martins, que se dignou aceitar tão amavelmente o convite para presidir a esta
peregrinação aniversária do mês de Maio.
A presença e a presidência de Vossa Eminência é para nós muito significativa e
particularmente grata. Sabemos bem da sua ligação íntima e profunda a esta “história maravilhosa de Fátima que ainda não acabou” segundo a bela expressão de V.
Eminência e de que tem sido arauto. Seja muito bem-vindo Senhor Cardeal e muito
obrigado!
Saúdo também, afectuosamente, os irmãos no episcopado, os sacerdotes e todos
os peregrinos, que dos vários ângulos do país e do mundo acorreram a esta peregrinação.
2. O peregrinar é uma viagem que se empreende pondo-se a caminho: não só
pelas estradas do mundo, mas sobretudo pondo-se a caminho em direcção à parte
mais profunda de si mesmo onde se encontra com o mistério de Deus. O peregrino
é convidado a sair do “seu mundo” para ir ao encontro do Outro, a fazer caminho
espiritual até à meta.
Por isso, a peregrinação é uma “viagem santa”, uma experiência espiritual de
oração, reconciliação, de busca de verdade e paz.
Aqui em Fátima, experimentamos a bondade consoladora da Mãe: aqui, com
Ela, encontramos Jesus Cristo, Deus connosco; aqui, Ela ensina-nos e ajuda-nos a
pôr Deus no centro da realidade e da nossa vida pessoal a fim de viver na sua Luz e
Verdade – “consagrados na Verdade” – e a pôr ordem e verdade nas nossas vidas.
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Peregrinação de Maio a Fátima
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O peregrino de Fátima traz consigo ânsias e anseios pessoais e íntimos e daqueles que lhe são queridos; mas traz também os problemas e os dramas do mundo. Ao
Imaculado Coração da Mãe de Misericórdia queremos confiar em comunhão com o
Santo Padre, a Igreja na China e os sofrimentos e as esperanças da humanidade na
hora presente, particularmente no Darfur e na Birmânia.
“Salvé, Rainha, Mãe de Misericórdia! Eia, pois, advogada nossa! Esses vossos
olhos misericordiosos a nós volvei!” – assim reza e canta o povo cristão. Que a Mãe
de Deus volte os seus olhos misericordiosos para a humanidade aflita, tão necessitada da sua sabedoria e da sua protecção materna e nos ajude a viver na verdade e no
amor fraterno, solidário e misericordioso.
Leiria, 12 de Maio de 2008
† António Marto,
Bispo de Leiria-Fátima
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Intervenção nas Jornadas Pastorais da CEP – Critérios
evangélicos e pastorais para a liderança e para a gestão de
pessoas e administração dos bens ao serviço da Igreja
Feliz o administrador sábio, fiel e vigilante... (Lc 12, 42-48)
Introdução
“Comunhão e Missão” são os dois traços – intimamente ligados – do rosto da
Igreja tal como Jesus a sonhou e quis e tal como a vem realizando no tempo e no
espaço, com a luz e a força do Espírito Santo. Um rosto que Jesus e o Espírito confiam à responsabilidade de todos os membros da Igreja, chamados a escutar a voz
do Espírito e a discernir os sinais dos tempos no seu caminho ao longo da história
(cf. Apoc. 2,7).
A Igreja existe no mundo para a missão: “Ide por todo o mundo e anunciai o
Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15). E Paulo VI específica: “Evangelizar é a
graça e a vocação própria da Igreja, a sua identidade mais profunda. Ela existe para
evangelizar...” (E.N. 14).
Todavia, a condição, o conteúdo e o fruto da missão é a Comunhão. Assim, o
caminho missionário da Igreja exige, concretiza-se e frutifica como caminho de comunhão. A comunhão define, pois, o quadro global e unitário, o horizonte da missão
e da acção pastoral, o seu estilo e o seu método.
Na reforma e renovação da Igreja promovidas pelo Concílio Vaticano II, olhando
simultaneamente às suas origens, à sua essência e à sua missão pastoral no mundo
contemporâneo, emergiu de novo e impôs-se a categoria da “comunhão”. Foi um
vigoroso impulso renovador de ordem teológica, espiritual, canónica e pastoral, de
modo a podermos dizer que a comunhão é a forma da existência, da vida e da missão da Igreja, tanto a nível da vivência como da instituição.
O que significa, em concreto, esta comunhão?
A comunhão é uma realidade omniabrangente que inclui diferentes aspectos,
místico-sacramental, comunitário e institucional:
- a sua amplidão parte da unidade na fé, na esperança e no amor cristão, selados
sacramentalmente pelo baptismo que cria a situação básica da comunhão: todos
filhos de Deus, todos irmãos;
- reforça-se pela participação na Eucaristia, essencialmente orientada à “unitas
Ecclesiae” (Corpo de Comunhão), e refaz-se pelo sacramento da reconciliação com
Deus e com a Igreja;
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“Comunhão e Missão”
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- traduz-se, comunitariamente, em relações de comunhão fraterna, no intercâmbio de dons oferecidos e recebidos em reciprocidade aberta e confiante e na “colecta” de bens para os necessitados e as necessidades da Igreja;
- é visivelmente presidida e salvaguardada pelos que receberam o ministério
apostólico.
O seu sentido não é, pois, de um afecto vago, indefinido, mas de uma realidade
simultaneamente espiritual e visível, relacional e orgânica que exige também uma
fórmula jurídica e que, por sua vez, está animada pela caridade. Esta estrutura da
comunhão eclesial deve ser tida em conta na organização da vida da Igreja. Deve
manifestar-se nas diversas perspectivas da comunidade cristã, já que é a sua lei de
fundo e profunda.
À luz do que acabamos de dizer, compreende-se facilmente que a própria
existência cristã, toda a vocação específica, os diferentes ministérios e carismas, as
diversas acções através das quais a Igreja realiza a sua missão, a sua organização, os
seus organismos pastorais, a gestão de recursos humanos e bens materiais levem o
selo característico da comunhão com o Senhor e entre os discípulos.
A comunhão eclesial é harmonia vital no funcionamento de todos os membros e
sistemas do corpo. O contrário da comunhão que flui, seriam os apertos, as estenoses, as oclusões, as tromboses… como no corpo humano.
A Carta Apostólica “Novo Millennio Ineunte” recorda, como tarefa pastoral
para o futuro, a realização da comunhão: “Outro aspecto importante em que será
necessário pôr decidido empenho programático, tanto no âmbito da Igreja universal
como no das Igrejas particulares, é o da comunhão que incarna e manifesta a própria
essência da Igreja” (n. 42).
O bispo é o primeiro responsável pela vitalidade da comunhão na Igreja. O seu
ministério não se reduz, de modo algum, a um simples moderador já que a autoridade recebida do Senhor inclui um aspecto jurisdicional e, por isso, deve promover
a espiritualidade da comunhão, suscitar sempre formas de participação e dar vida a
estruturas de comunhão.
Como se traduz esta espiritualidade da comunhão na liderança, na organização,
na gestão de recursos humanos e na economia da comunidade cristã? Deixemo-nos
iluminar e inspirar, antes de mais, por alguns ícones bíblicos.
1. O ícone de Moisés, condutor e ecónomo do povo
A Moisés, o Senhor confiou a tarefa da condução de um povo e da recomposição
da sua unidade, que inclui, por sua vez, o serviço de ecónomo dos bens fundamentais
(pão, água e carne) e o serviço da comunhão.
“Isto leva-nos a considerar a personagem sobretudo como homem de acção.
E, todavia, o que impressiona a uma primeira leitura é a abundância de textos que
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apresentam Moisés na atitude de se dirigir a Deus. A primeira coisa que salta à vista
é a intensidade e a frequência da oração de Moisés... Ele poderia pensar: “se sou o
homem de Deus, se tenho a sua promessa, se devo executar as ordens para as quais
me prometeu a sua assistência, não tenho necessidade de me dirigir a Ele na oração.
E como garantia tenho na mão o bastão capaz de realizar prodígios.”
Ele poderia pensar que estava perfeitamente equipado com promessas e poderes
e, portanto, dispensado da necessidade de recorrer a cada momento àquele que o envia. Mas não é assim. Apesar de todas estas garantias – missão, promessa, assistência, bastão – Moisés recorre constantemente a Deus quando se encontra frente a um
problema ou dificuldade. Nestes momentos, ele levanta o olhar e o coração, ergue os
braços e reza. Isto já é um grande ensinamento” (A. Schökel). É a consciência de que
“se o Senhor não edifica a casa, em vão se afadigam os construtores”.
1.1. A primeira forma de planificação religiosa: Ex 18, 13-26
Deus porém educa-o na arte de conduzir o povo, enviando-lhe o sogro Jetro.
Jetro mostra que Moisés não envolve suficientemente o povo e a comunidade nas
diversas opções. Faz tudo sozinho. Jetro tem a preocupação pelo bem do povo e de
Moisés. Verifica que está em perigo a gestão da comunidade como também o bemestar físico e psíquico de Moisés.
Por isso, ousa propor-lhe uma série de conselhos práticos, linhas prioritárias com
o fim de planificar a acção de governo e organizar as tarefas subsidiárias. No fundo
é um convite a uma gestão mais correcta do poder.
“Jetro encontra a solução para o problema de Moisés. Descobre a lei da subsidiariedade que partilha os encargos e as responsabilidades em vista de uma missão mais
eficaz. O próprio Jetro ensina com o exemplo. Depois de ter dado o seu conselho,
retira-se da cena. Realizada a missão, põe-se de parte e não se intromete nas coisas
de Moisés. Como homem sábio, expôs a ideia e agora deixa que sejam os outros a
favorecer a sua realização” (Prado Flores).
Moisés aceita o conselho e escolhe colaboradores com as qualidades requeridas: capacidade, respeito sagrado de Deus, fidelidade, incorruptibilidade. Foi um
momento importante na vida de Moisés: também ele devia aprender a governar. No
início, na sua incompetência, julgava que tinha que fazer tudo. Depois, aprendeu a
distribuir tarefas. Dele aprendemos o que ele mesmo teve que aprender na condução
do povo ao fazer caminho com ele: a corresponsabilidade e a subsidiariedade.
1.2. O “êxodo interior” e a humildade de Moisés: Num 11, 11-17.24-29
Aprofundemos, um pouco mais, este momento na sua interioridade, no aspecto
da conversão interior provocada em Moisés, à luz de Num. 11
Moisés está realmente esgotado. Não tem outro remédio senão constatar a sua
fragilidade, as suas debilidades. Vê-se obrigado a reconhecer amargamente: “Não sou
o que pensava ser; é demasiado para mim; não posso mais”. Esta atitude deixa-nos
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perplexos, a nós que prestamos um certo culto ao heroísmo ou ao protagonismo, ao
individualismo e activismo do chefe. Mas a Bíblia, que é mais humana do que nós,
apresenta-nos essa atitude mais que uma vez: vg. a atitude de Elias: “Senhor, faz que
morra; não sou melhor que meus pais”. Pode acontecer a qualquer um de nós. É muito
humano este aspecto de Moisés, mas é também, de algum modo, humilhante. Moisés
tem que reconhecer que se julgava alguém capaz de tudo mas tem que render-se.
Deus aceita. A crise de Moisés é uma crise útil e salvífica porque, no fundo, fá-lo
tomar consciência de um “êxodo interior” que Deus lhe pede. Tal como nos sucede a
nós quando nos metemos num assunto que julgamos dominar e depois damos conta
que nos escapa e temos necessidade dos outros.
É uma passagem a uma espécie de “passividade”: nem tudo depende de mim,
não sou o único, tenho que descentralizar as coisas, tenho que buscar colaboração
ainda que me custe… Nestas ocasiões, o Senhor quer purificar-nos de uma forma de
orgulho.
Este difícil “êxodo interior” de Moisés é o êxodo da sua auto-suficiência e autocomplacência – que até lhe tinha permitido fazer muitas coisas boas –, para uma
participação (partilha) cordial do próprio peso com os outros. Moisés aceita dar este
passo e, deste modo, cresce como homem, como crente e como líder (condutor do
povo). De facto, Moisés convoca os anciãos, o Senhor desce sobre a nuvem, toma
o seu Espírito e infunde-o sobre os 70 anciãos. Eis como Moisés realizou verdadeiramente um êxodo, se tornou livre, não sentiu ciúmes, nem sentiu ameaçada a sua
autoridade pelos dons dos outros e reconheceu neles a acção do Espírito. E tomou
consciência de que só assim estava à altura da sua responsabilidade de servir
melhor e do melhor modo de poder servir. “Moisés era um homem humilde, mais
humilde que algum homem sobre a face da terra” diz Num 12,3.
O Novo Testamento explicita como o Espírito suscita e distribui vários dons,
serviços e ministérios para a edificação e crescimento da Igreja que devem ser coordenados e articulados como os vários membros de um corpo. “É a partir d’Ele (Cristo) que o corpo inteiro coordenado e bem unido pela união de todas as articulações
que o sustentam, segundo uma actividade repartida à medida de cada um (membro)
realiza o seu crescimento orgânico para se construir a si mesmo no amor” (Ef. 4,16;
cf. 1 Cor 12; Rom 12, 3-8).
A Igreja é um corpo organizado, estruturado, articulado; não é um campo de mortos
nem de aventureiros espontâneos e anárquicos, nem uma empresa em auto-gestão.
O Bispo e presbítero possuem o ministério da síntese (comunhão), mas não a
síntese (o açambarcamento) dos ministérios. Compete-lhes suscitar e organizar a participação diversificada dos fiéis com os seus dons, serviços e ministérios, elencando as
tarefas e confiando-as a alguns fiéis idóneos. A comunhão implica a partilha ou participação activa na vida da comunidade que é de todos, onde todos recebemos e damos de
tal modo que “o bem de todos torna-se o bem de cada um e o bem de cada um torna-se
o bem de todos” (ChFL 28). Inclui a participação e corresponsabilidade de todos.
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Para que a comunhão construtora da comunidade se exerça realmente, de modo
orgânico e articulado, deve ter expressão em organismos de participação onde se
realiza a comunhão de intenções e projectos pastorais na diversidade dos dons: os
diversos conselhos, cuja coordenação o Bispo ou o pároco devem promover. Estes
órgãos de participação são uma etapa decisiva para configurar a Igreja comunhão.
Isto faz parte da santidade dos cristãos, leigos, padres e bispos, como estilo de vida
em comunhão.
2. O ícone, por excelência, do líder:
Jesus que lava os pés dos apóstolos
Jesus introduziu no mundo um novo estilo de liderança em nítido contraste
com o estilo dos líderes das nações. Ele mesmo se apresenta como modelo para
aqueles a quem confia o encargo pastoral das comunidades. O ícone, por excelência, da autoridade na comunidade cristã é o “Lava-pés” dos apóstolos que sintetiza
a experiência de Jesus como liderança de serviço: “Compreendeis o que eu vos
fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se
eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós vos deveis lavar os pés uns
aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como eu fiz, vós façais
também” (Jo 13, 13-15).
Três imagens bíblicas exprimem este modelo do Mestre e Senhor:
- o servo, numa perspectiva de serviço à graça de Deus e à comunidade, de apoio
e de partilha de responsabilidades;
- o pastor, em ordem à solicitude, à coragem e ao papel de guia;
- o administrador, em ordem à afabilidade, à responsabilidade e à fidelidade.
O líder como servo
A verdadeira grandeza é o serviço. E não é por acaso que no Novo Testamento
Jesus é o exemplo mais alto do Servo.
As características da liderança como serviço podem sintetizar-se em: escuta,
empatia, atenção e cuidado, persuasão, empenho no serviço e em fazer crescer os
outros. O objectivo final: construir a comunidade fraterna.
O líder como pastor
O líder pastor, inspirando-se no bom Pastor, é convidado a cuidar do Rebanho do
Senhor, não por obrigação, mas de bom grado, sem interesse pelos ganhos materiais:
não só o dinheiro, mas também outros ganhos como o desejo de popularidade, de
protagonismo ou de receber reconhecimentos, o pôr no centro a própria pessoa (o
ego) afastam da missão de ser um pastor segundo o coração de Deus.
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As características da liderança como pastor podem sintetizar-se em: “ conhecer
as ovelhas”, os seus problemas, as suas necessidades e anseios através do contacto pessoal; guiar para objectivos claros e partilhados, promovendo a criatividade;
procurar as ovelhas perdidas indo ao encontro dos que estão fora ou andam longe,
ter competências específicas para motivar ou decidir. O maior problema de quem é
chamado a guiar uma comunidade é a falta de capacidades directivas, de orientação
e decisão. O objectivo final: cuidar e guiar.
O líder como administrador
Um líder, alem de servo e pastor, é chamado a ser administrador dos dons e talentos, e também da economia da comunidade.
É interessante relevar como nas parábolas de Jesus os administradores aparecem
muitas vezes associados a um conjunto de qualidades próprias: fidelidade, lealdade,
honestidade, transparência, perspicácia nos negócios e capacidade de prover aos
súbditos: “Feliz o administrador sábio e fiel” (Lc 12, 42-48)! No contexto da responsabilidade de quem gere os bens “como bons administradores”, a parábola dos
talentos é significativamente clara.
Os líderes das comunidades podem ser, todavia, administradores irresponsáveis.
Por isso, a praxis de uma economia saudável e transparente da comunidade é uma
medida realista da saúde espiritual da mesma. Está em causa a prática da comunhão de
bens. Subtrair-se a ela, é atentar à vida fraterna, como acontece com Ananias e Safira.
Neste aspecto, os líderes são chamados a vigiar atentamente, para criar uma relação evangélica com o dinheiro, para responsabilizar as comunidades e os seus membros numa visão de fraternidade que leva à comunhão dos bens e dons espirituais e
materiais. O objectivo final: a comunhão de bens.
3. O ícone da Igreja dos Apóstolos
Na Igreja apostólica encontramos duas experiências particularmente significativas e pertinentes para o nosso tema.
3.1. A capacidade de delegar:
metodologia adoptada pelos Apóstolos (Actos 6,1-2)
Que fazer perante o serviço absorvente aos pobres e necessitados da comunidade?
Para os apóstolos foi ocasião de tomarem consciência de que era preciso delegar
certas responsabilidades noutros, confiando neles, renunciar a ter todos os cordelinhos na mão.
Uma questão de justiça distributiva (repartir os bens) abriu-lhes os olhos a uma
evidência capital para aqueles que receberam a missão da autoridade: não podem
fazer tudo.
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3.2. A colecta a favor de Jerusalém (2 Cor 8 e 9): a organização material
das comunidades e a espiritualidade da comunhão.
1Cor 16, 1-4; Rom 15, 25-28: justifica o projecto com o motivo de fazer comunhão.
2Cor 8, 10-21; 9, 6-14: comunhão e motivo de culto a Deus (v.12).
Os capítulos 8 e 9 da Segunda Carta aos Coríntios constituem o texto mais longo
da Igreja antiga no qual se fala de problemas financeiros e económicos. Encontramos
aqui uma preciosa indicação sobre a organização material das igrejas paulinas e a
sua solidariedade financeira. É interessante notar que também o Novo Testamento
enfrenta esta temática com grande dignidade e, ao mesmo tempo, com grande eficácia.
Em 2Cor 9 é citado um provérbio geral que se pode aplicar à generosidade com
os pobres, à Igreja, às necessidades da caridade e do serviço de Deus: “Ficai sabendo: quem semeia pouco, também pouco recolherá; mas quem semeia com generosidade, com generosidade também recolherá” (v.6).
Ao provérbio segue uma exortação: “Cada um dê conforme decidiu no seu coração, não com tristeza e à força, porque Deus ama quem dá com alegria” (v.7). É o
convite a oferecer a sustentação à Igreja com a mesma alegria com que se vivem os
outros aspectos da vida cristã.
Uma alegria que é reforçada por uma perspectiva de confiança: “ Deus tem o poder de vos cumular de toda a espécie de graças para que, tendo sempre o necessário
em tudo, ainda vos sobre para as boas obras de todo o género” (v.8). Quer dizer, o
Senhor é grande em generosidade com os que são generosos.
E acrescenta uma promessa: “Aquele que dá a semente ao semeador e o pão em
alimento, também vos dará a semente em abundância e multiplicará os frutos da vossa justiça. Assim, sereis enriquecidos em tudo, para exercer toda a espécie de generosidade que suscitará, por nosso intermédio, a acção de graças a Deus” (v.10-11)
No cap. 8 acresce ainda um dado interessante de grande relevo, a transparência e
a boa gestão em equipa: “Queremos, assim, evitar o risco de que alguém nos censure a respeito desta abundante colecta que é administrada por nós, porque nos esforçamos por fazer o bem não só diante do Senhor, mas também diante dos homens. Com
eles enviámos também o nosso irmão…”. Trata-se, pois, da transparência na gestão
de tal modo que nem sequer permita levantar suspeitas. Isto significa que “à mulher
de César não lhe basta ser honesta; é preciso que apareça como tal”.
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A sua prioridade é o serviço da Palavra e da oração. Quanto ao serviço social é
preciso confiá-lo a pessoas que tenham o espírito mais livre e que tenham sentido
prático.
Se bem o discerniram, bem o executaram: eis então o novo ministério dos diáconos.
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4. Gestão dos recursos humanos
dentro duma pastoral integrada e integral
À semelhança do que aconteceu a Moisés e aos Apóstolos que perante situações
novas empreenderam nova planificação e nova metodologia, também nós hoje estamos perante uma nova situação caracterizada pelas mutações culturais, por novos
desafios à missão, pela penúria de vocações de especial consagração, pela escassez
de recursos humanos em certas comunidades, pelo surgir de novos movimentos e
novas comunidades eclesiais, que requerem um novo olhar pastoral e uma nova gestão. Tudo isto veio pôr em evidência que acabou o tempo da paróquia e do pároco
autosuficientes, que respondiam sozinhos a todas as situações e a todos os problemas. Isto exige uma reorganização e reconfiguração das comunidades cristãs através
duma pastoral integrada e integral.
Por pastoral integrada entendemos a integração da actividade pastoral da paróquia dentro de um agregado mais vasto da relação com as outras paróquias (na
vigararia ou em unidades pastorais), numa pastoral de conjunto. Assim põem-se em
rede os múltiplos recursos de que se dispõe nesse agregado: humanos, espirituais,
culturais, pastorais. Torna possível realizar uma valorização de competências, um
intercâmbio de dons e ministérios, uma partilha e poupança de recursos, um reequilíbrio de encargos de trabalho.
A pastoral integral procura integrar os vários sujeitos (pessoas, grupos, movimentos) e os vários ministérios dentro dum projecto pastoral comum, valorizando
cada recurso e cada sensibilidade, o específico de cada um.
5. Bens eclesiásticos e finalidade evangelizadora
Encorajados pelas indicações de S. Paulo, que pertencem à palavra inspirada de
Deus, procuraremos exprimir também algumas reflexões sobre o significado dos
bens da Igreja e sobre o Conselho para os Assuntos Económicos, ao qual é confiada
a gestão dos bens da comunidade cristã.
Na linha da grande reflexão conciliar, o Código de Direito Canónico, que procurou traduzi-la em disciplina concreta, enquadra a sempre delicada relação entre a
Igreja e os bens temporais dentro da missão evangelizadora. O anúncio e o testemunho do Evangelho englobam também os bens temporais destinados a fazer crescer
a fé professada, celebrada, vivida. Fica claro que os bens são somente instrumentos
para a consecução dos fins espirituais da Igreja: o anúncio, a realização do culto
divino, o exercício das obras de apostolado e caridade, especialmente dos mais necessitados, o honesto sustentamento do clero e quanto se refere à missão espiritual
que Cristo lhe confiou.
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Não é, certamente, conforme à natureza da Igreja uma busca do dinheiro e dos
meios materiais como fim em si mesmo, uma procura finalizada à acumulação ou
ao uso indiscriminado. Isto vale para cada comunidade. Não se trata de aumentar sem medida as possibilidades concretas de uma paróquia, seja em relação aos
meios financeiros, seja em relação às estruturas. Se uma comunidade tem meios em
abundância, deve pensar – depois de ter provido às próprias necessidades – numa
equitativa partilha de recursos com paróquias menos avantajadas: a comunhão dos
bens entre as comunidades.
O Evangelho condena sem meios termos uma acumulação de bens como fim em
si mesmo e uma subjugação ao “mamona iniquitatis”; o dinheiro não é um ídolo a
adorar e o afecto desordenado ao dinheiro é rotulado como demoníaco. Ao contrário,
o dinheiro usado responsavelmente e em medida equitativa ao serviço da missão da
Igreja torna-se facto positivo e necessário. É preciso, pois, estar animados por uma
atenta vigilância e uma sábia prudência, nunca perdendo de vista a radicalidade
evangélica: “Bem aventurados os pobres de espírito (que o são no seu íntimo) porque deles é o Reino dos Céus”. Todavia devemos recordar que é parte da pobreza
da Igreja o saber fazer um bom uso, correcto, transparente, responsável e solidário
dos recursos que lhe são confiados e, por conseguinte, de uma gestão inteligente,
racional e honesta dos mesmos.
O tomar consciência do justo fundamento do direito da Igreja a possuir e utilizar
bens materiais, económicos e financeiros, e as suas finalidades, pode fazer resplandecer melhor o verdadeiro rosto da Igreja e chamar os fiéis a partilhar os bens, inspirando-se no ideal evangélico incarnado pela comunidade apostólica primitiva (cf.
Act 2, 44-45).
5.1. Natureza do Conselho para os Assuntos Económicos
O C.A.E. situa-se dentro da realidade da Igreja mistério de comunhão na qual se
insere também a perspectiva da valorização do contributo dos fiéis leigos.
Por isso, a constituição e o funcionamento efectivo do CAE são um sinal da vontade de acolhimento da comunhão na vida concreta de cada diocese ou paróquia.
De facto, os fiéis não são chamados só a partilhar os bens necessários para a missão da Igreja, mas também à sua cuidadosa e transparente administração através da
participação directa nos órgãos colegiais indicados pela normativa canónica.
5.2. Características
Se é esta a natureza do Conselho, quais as suas características?
Recordo sobretudo três: participação corresponsável, transparência e sentido
eclesial, a observar com rigor.
Todos nos damos conta de que a Igreja, no seu conjunto, se torna credível quando
cada fiel participa corresponsavelmente e quando a administração dos bens é transparente e correcta. Esta transparência obtém-se graças também ao contributo profis| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 63
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sional e competente dos leigos. É claro que a capacidade técnica e eficiente se deve
conjugar com um forte sentido eclesial porque está ao serviço de uma comunidade
cristã e não de um empresa privada.
5.3 O bom funcionamento
Do que foi dito, deriva o empenho dos membros do Conselho para os assuntos
económicos a viver, por dentro, a vida da comunidade e a saber interpretá-la no
âmbito de um território preciso e de uma história particular da paróquia, da Igreja
diocesana e da Igreja universal.
Gostaria de sublinhar ainda que um bom funcionamento do Conselho não pode
depender exclusivamente dos mecanismos institucionais, mas exige por parte de
todos os membros uma consciência profunda de comunhão eclesial, um estilo de
comunicação fraterna e a convergência comum num projecto pastoral. Se uma boa
presidência requer do bispo ou do pároco a disponibilidade para a escuta, a delicadeza no discernimento, a paciência na relação, todavia, na base, tem de estar a
solicitude pelo bem comum da Igreja que requer em todos a aptidão para o diálogo,
a argumentação das propostas e a familiaridade com o Evangelho e com a doutrina
e a disciplina da Igreja.
6. Três desafios para a gestão quotidiana de uma diocese
Coloco-os em forma de questões:
6.1. É possível utilizar para o bom governo de uma diocese os conceitos
e os princípios gerais que valem para qualquer instituição
produtora de bens e serviços?
É claro que as diferenças entre uma diocese e qualquer instituição produtiva
são muito grandes. Basta ver que esta última actua num contexto de mercado, de
competitividade e de lucro, enquanto a diocese actua numa perspectiva espiritual,
sócio-caritativa, não lucrativa.
Todavia, a natureza particular da visão espiritual da Igreja não impede que se
desenvolva na produção e prestação de serviços.
Como também o facto de os serviços serem oferecidos num contexto que não é
o do mercado (não lucrativo), nada tira ao carácter de organização de algum modo
produtiva, própria da diocese e que requer racionalização.
Há, pois, uma analogia entre o bom governo de uma diocese e o de uma instituição produtiva.
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6.2. Como conjugar qualidade, eficiência e rentabilidade económica
no contexto da organização eclesiástica?
É possível numa diocese actuar, de modo harmónico, os valores de serviço, de
eficiência, de gestão organizativa e de rentabilidade de gestão que constituem a raiz
do bem estar (saúde) de uma organização produtiva?
É claro que a qualidade do serviço no âmbito da diocese não pode prescindir de
uma eficiência nem de uma rentabilidade de gestão.
É preciso, pois, que uma diocese adopte e adapte estes critérios à sua missão.
Neste sentido, eficiência não quer dizer eficientismo, mas uso inteligente e criterioso
dos recursos.
Rentabilidade não significa enriquecimento e lucro como fim em si mesmo; mas
realizar um equilíbrio económico-financeiro duradoiro que não exponha a vida da
diocese a riscos prejudiciais para a sua missão e que seja funcional ao seu desenvolvimento.
Há que desconfiar do eficientismo e do economicismo; mas também há que desconfiar de uma qualidade de serviço assente na cultura do desperdício, do desleixo,
do descuido das exigências de uma economia saudável.
6.3. Como promover, numa instituição eclesial, os valores da dedicação,
do profissionalismo e da criatividade que distinguem uma empresa?
O bom ou mau funcionamento da organização depende da capacidade de valorizar as
pessoas, consentindo-lhes desenvolver as suas potencialidades ao serviço da missão.
Isto pressupõe atitudes de grande respeito e confiança nas pessoas e nas suas capacidades, um contínuo empenho no terreno que requer um diálogo frequente com elas.
Requer também o aprofundamento, a partilha e a interiorização da missão e das
suas implicações no plano dos objectivos, meios, programas e comportamentos.
E tudo isto requer ainda e sobretudo uma espiritualidade de comunhão e uma
formação específica, como também disciplina, certo rigor, regras precisas.
Se isto não acontece, o corpo da Igreja perde os seus traços e desfigura-se na
mediocridade, na banalidade e no facilitismo do meio ambiente ou circundante.
Sintetizando, a diocese configura-se também como uma organização produtiva
de bens e serviços, que, em autonomia, se orienta para uma missão produtiva que lhe
é própria e original.
A sua organização requer que se vivam, por parte de todos os membros, os valores da qualidade do serviço, da eficiência da gestão e organização e da rentabilidade
da gestão.
Isto implica da parte de todos, a começar pelos vértices, dedicação à missão,
profissionalismo e criatividade.
Por sua vez, tudo isto exige relações verdadeiras, autênticas, transparentes.
E a alma de tudo, que há-de enformar a organização e a gestão, é a espiritualidade
da comunhão.
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7. Investir na formação
A colaboração corresponsável não se improvisa. Exige uma formação específica
para os leigos e presbíteros.
Trata-se de uma formação que, por um lado, deve ser prévia ao serviço ou ministério concreto no âmbito pastoral e, por outro, nasce como exigência permanente (formação permanente) do próprio exercício concreto dos cargos na comunidade. Não só
uma formação técnica, mas também humana (v.g. capacidade relacional) e espiritual.
O investimento de recursos para a formação torna-se prioritário em relação a
todo o outro investimento. As nossas paróquias ou dioceses, por vezes, são afectadas
pelo “mal da pedra”. Gasta-se muito para os edifícios, as estruturas, etc. São coisas
boas e necessárias; mas devemos recordar a importância fundamental da formação
cultural, espiritual, ministerial dos leigos que requer investimentos próprios. O risco
que se corre é ter boas estruturas, mas leigos não formados ou mal formados.
Este aspecto deveria fazer parte do orçamento duma diocese e duma paróquia
que deverão preocupar-se por formar uma comunidade adulta na fé, inteligente,
pronta e preparada.
8. O líder religioso hoje: desafios e atitudes
Desejaria terminar com um breve apontamento sobre questões e atitudes de liderança
na Igreja, hoje. Que tipo de problemas e desafios há que enfrentar cada dia na qualidade
de líder de uma diocese ou paróquia? E que atitudes são necessárias para os enfrentar?
Em primeiro lugar, há os problemas internos: de pessoal (colaboradores, vocações); programas e prioridades; administração e gestão, tensões nas comunidades.
Cada um é chamado a encontrar o seu modo próprio, segundo a inspiração de
Deus, a lei canónica, a tradição da Igreja e o bom senso, privilegiando o diálogo e
ouvindo os órgãos próprios de conselho.
Surgem também os problemas externos: as grandes questões da sociedade e da
humanidade, problemas de ética pública, bioética, economia…
Aqui há que olhar os problemas como pessoa de fé que encontra na revelação,
no magistério e na teologia as palavras e os princípios de uma acção justa; olhá-los
também com um olhar de compreensão e afecto para dar uma marca humana a questões tratadas por técnicos e políticos. Como líderes eclesiais temos que levar para o
debate público a dimensão humana, ética e de fé sobre estes problemas.
Este aspecto exige atenção e esforço contínuo para reservar tempo para a leitura,
reflexão e diálogo com peritos.
Temos ainda as questões específicas da fé, os problemas transcendentes: mistério
de Deus, salvação, fé, esperança, caridade, reconciliação, vida eterna, etc.
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Por fim, algumas atitudes indispensáveis para um líder religioso hoje:
1. Em primeiro lugar uma profunda comunicação com Deus e um forte espírito
de oração. Com o crescimento das responsabilidades deve crescer também o tempo
da escuta orante e do silêncio meditativo. A experiência da fé tem um peso muito
forte na maneira de animar os colaboradores e as comunidades.
2. Uma grande paz interior, fonte de serenidade e alegria, como recomenda S.
Paulo: “Não vos deixeis angustiar por nada. Pelo contrário, em tudo, pela oração e
pela prece apresentai os vossos pedidos a Deus, em acção de graças. Então, a paz
de Deus, que ultrapassa toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos
pensamentos em Cristo Jesus” (Fil 4, 6-7).
3. A convicção de ser testemunhas de uma grande esperança para o nosso tempo. É um
tempo em que crescem, continuamente, solidão, frustração, perda de confiança na vida e
na bondade da vida. A nossa tarefa é oferecer sentido e levar esperança e alegria cristãs.
4. Um grande sentido de comunhão, de corresponsabilidade e colaboração como
caminho para envolver a todos no projecto-Igreja e ajudar a resolver os problemas.
Há que dar confiança e manifestar estima, apreço e consideração por quanto fazem
os outros, motivá-los positivamente, criar um clima de comunhão e liberdade de
expressão nos conselhos.
5. A consciência de que o melhor investimento da Igreja, hoje, é em recursos humanos: a Igreja precisa de gente intelectual e espiritualmente muito bem preparada
para a sua missão no mundo novo de hoje com desafios inéditos.
6. Enfim, é útil ter um pouco de bom humor cristão, uma atitude serena que vem
da fé e da esperança e que nos ajuda a relativizarmo-nos e a relativizar certos problemas. Estamos todos nas mãos de Deus, e portanto, estamos em boas mãos!
E termino com uma citação de J. Adam Möhler a modo de síntese: “Na Igreja
são possíveis dois extremos; e ambos se chamam egoísmos. Verificam-se, respectivamente, quando cada um ou quando um só pretendem ser tudo. Neste último caso,
o vínculo da unidade é tão apertado e o amor tão sufocante que não se pode evitar
extingui-lo; no primeiro caso, tudo é tão desconexo e frio que o gelo é insuportável.
Um destes egoísmos gera o outro. Mas nem um só nem cada um podem ser o todo.
Só todos constituem o todo e só a união de todos forma uma totalidade. É esta a ideia
de Igreja Católica”.
Leiria, 16 de Junho de 2008
† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima
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Estes não interessam muito à sociedade secularizada e mediatizada em que vivemos. Mas pertencem à essência dos seres humanos e à essência do nosso ministério.
Qual então a atitude do líder religioso?
Deve ficar claro que estes temas constituem a nossa verdadeira e principal preocupação. Não os podemos ocultar ou silenciar. São temas vitais para a humanidade e
deles dependem todas as outras questões.
. diversos .
Comunicado do Conselho Pastoral
Reflexão sobre a Palavra de Deus
Sob a presidência do Bispo D. António Marto reuniu-se, no dia 19 de Janeiro,
no Seminário Diocesano, o Conselho Pastoral da Diocese de Leiria-Fátima, tendo
como ponto principal da sua ordem de trabalhos a «Reflexão dos conselheiros sobre
a valorização da Palavra de Deus em sintonia com a preparação para o sínodo dos
Bispos sobre a ‘Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja».
D. António Marto, num momento de oração e meditação, deu início aos trabalhos
reflectindo – a partir de Tgo 1, 22-25) – sobre a necessidade de, mais do que ler e
ouvir a Palavra de Deus, os cristãos a deverem praticar.
Seguidamente, o Bispo diocesano fez uma breve comunicação aos conselheiros
presentes intitulada “Um novo olhar pastoral: paróquia, vigararia e missão do vigário”, na qual apresentou as linhas orientadoras que pretende rejam as comunidades:
paróquia e vigararia. Para D. António Marto há que rentabilizar os recursos humanos
existentes nas diversas paróquias, não devendo estas serem vistas como comunidades isoladas. Assim, propõe uma nova valorização da vigararia, em que todas as
paróquias desenvolvam uma pastoral de conjunto, trabalhando na espiritualidade da
comunhão.
Convidados a reflectir sobre a valorização da Palavra de Deus na vida da Igreja,
os conselheiros concluíram que muito se tem feito a nível diocesano para que a Palavra de Deus seja valorizada, havendo, no entanto, ainda muito caminho a percorrer,
pois são notórios o desconhecimento e a dificuldade de entendimento da Palavra de
Deus entre os cristãos. Assim, pareceu importante para os conselheiros incentivar
os fiéis leigos a ler a Bíblia, começando-se por valorizá-la nos diversos anos da catequese e implementando-se um trabalho mais sistemático ao nível da catequese de
adultos. É preciso que os fiéis conheçam a Palavra de Deus, para que lhe possam dar
valor, a leiam à luz da fé e a pratiquem.
Concluindo os trabalhos, D. António Marto relembrou que a Igreja e a vida cristã
nascem e vivem da Palavra de Deus que é portadora da Salvação. Alertou, ainda,
para a necessidade de as comunidades cuidarem da proclamação da Palavra nas
celebrações litúrgicas, devendo-se para isso investir na formação dos leitores. Finalmente, pediu empenho aos presentes para que se estimulem e motivem as diversas
comunidades à participação no “retiro popular” a viver na Quaresma, tal como propusera na sua Carta Pastoral “Testemunhas da Ternura de Deus”.
O Secretariado Permanente
68 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. diversos .
Comunicado do Conselho Presbiteral
Sob a presidência de D. António Marto, o Conselho Presbiteral da diocese de
Leiria-Fátima reuniu-se na manhã do dia 12 de Fevereiro, no Seminário Diocesano,
para reflectir e avaliar o modo como a Diocese escuta e acolhe, contempla e proclama a Palavra de Deus, tendo em conta o próximo Ano Pastoral – que será dedicado
à estruturação dos diversos itinerários de formação cristã – e a sua feliz coincidência
com o Ano Paulino e o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e missão
da Igreja, mais de quatro décadas após a publicação da constituição dogmática Dei
Verbum (Palavra de Deus).
Depois do canto dos Salmos, os Conselheiros ouviram o testemunho de dois dos
seus membros – um que celebrou recentemente as bodas de ouro sacerdotais e outro
que foi ordenado há três anos – sobre o lugar e a importância da Palavra de Deus
na sua vida e ministério. Dos seus testemunhos se comprovou a grande evolução da
Igreja Católica no contacto e relação com a Palavra de Deus, nestas últimas décadas,
mas que precisa de ser continuada e aprofundada!
Depois do intervalo, os restantes membros do Conselho partilharam expectativas, dificuldades e lacunas em relação à sua formação bíblica e à das Comunidades
que lhe estão confiadas. Foram apresentadas diversas sugestões, convergindo todas
elas no convite à mudança de mentalidade e conversão do coração para que todos, na
Igreja Diocesana, se tornem “ouvintes, discípulos e servidores da Palavra”, segundo
as palavras de D. António Marto.
Por último, os conselheiros foram informados sobre o andamento dos diversos
projectos inerentes à requalificação do edifício do Seminário, pensado para acolher
a Comunidade do Seminário, uma Casa de Retiros/Formação, o Centro Pastoral
Diocesano e uma Residência Sacerdotal.
O Secretariado
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 69
Documentos
Escutar e acolher a Palavra de Deus
. diversos .
Comunicado do Conselho Pastoral
Co-responsabilidade dos leigos
Na sequência da apresentação, feita pelo Bispo diocesano na sessão plenária de
Janeiro, do documento “Um novo olhar pastoral: paróquia, vigararia e missão do
vigário”, o Conselho Pastoral Diocesano, reunido no dia 12 de Abril, teve como
ponto principal da sua agenda a reflexão sobre co-responsabilidade dos leigos na
actividade pastoral, formação de Leigos e Diaconado Permanente.
D. António Marto, num momento de oração e meditação, deu início aos trabalhos
reflectindo – a partir de um excerto da I Epístola de São Pedro (1 Pe 2, 4-5) – sobre
a importância de todas as pedras vivas estarem presentes na construção da Igreja,
realçando assim a co-responsabilidade de todos os seus membros.
Seguidamente, o Bispo diocesano partilhou com os conselheiros presentes a
experiência das visitas pastorais que já realizou na Diocese. Assim, salientou como
aspectos positivos o entusiasmo e a alegria manifestados pela presença do Bispo
nas comunidades. Consequência de algum cansaço e desalento manifestados pelos
fiéis, afirmou que sentira um enorme desejo de mudança, para um cristianismo de
qualidade, assente na vitalidade da fé e na vida espiritual. Para D. António Marto,
é preciso fazer um caminho que envolva a todos, sendo necessária uma reorganização. E para que ela aconteça, urge vencer a resistência que tem sentido por parte
de alguns padres e leigos à execução do documento “Um novo olhar pastoral”. Aos
primeiros, falta reconhecer o papel específico dos leigos na vida da Igreja; ao povo,
falta o sentido de pertencer à Igreja e o amor por ela.
Convidados a reflectir sobre a concretização do referido documento, os conselheiros concluíram que a co-responsabilidade dos leigos é fundamental para o futuro,
pois a vida da Igreja local tem de assentar na comunidade cristã e não no padre.
No entanto, para que a reorganização se concretize é necessário que os leigos em
primeiro lugar tomem consciência do que é pertencer à Igreja. No que diz respeito à
formação de leigos, o Conselho reconheceu que muito tem sido feito nesse âmbito
na Diocese. Assim, há que dar continuidade ao que existe, revendo e reorganizando
para melhorar. Quanto ao Diaconado Permanente, os conselheiros foram da opinião
que será importante a sua existência, mas antes de o implementar há que, em primeiro lugar, dá-lo a conhecer ao povo de Deus.
Finalmente, em Semana de Oração pelas Vocações, o Conselho Pastoral Diocesano fez um voto no sentido de interpelar as comunidades cristãs que mostrem apreço por todas as vocações, mas especialmente pelos consagrados que se encontram
ao seu serviço.
O Secretariado Permanente
70 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. diversos .
Comunicado do Conselho Presbiteral
O Conselho Presbiteral da diocese de Leiria-Fátima reuniu-se sob a presidência
do Sr. Bispo, D. António Marto, na manhã do dia 24 de Junho, no Seminário
Diocesano, para avaliar o Ano Pastoral e perspectivar o próximo, integrando as
grandes iniciativas da Igreja Católica, tanto a nível nacional como internacional,
nomeadamente o Ano Paulino e o Sínodo dos Bispos sobre A Palavra de Deus na
vida e missão da Igreja, a realizar em Outubro.
Depois do canto dos Salmos, os Conselheiros passaram em revista os principais
momentos deste Ano, dedicado à consolidação dos dinamismos criados no primeiro
biénio do Projecto Pastoral, intitulado A Vocação Pessoal é Dom e Missão. Além
de salientarem a sua importância, referiram o bom acolhimento que as propostas
lançadas (Carta Pastoral, Retiro Popular, Vigílias, Campanhas da Catequese...)
tiveram junto das comunidades, suscitando novas oportunidades para acolher,
saborear e testemunhar a ternura de Deus.
Num segundo momento e após breve introdução de D. António Marto, os
membros do Conselho, tendo em conta o previsto para o primeiro ano do segundo
biénio do Projecto Pastoral, “Testemunhar Cristo, fonte de Esperança”, dedicado ao
aprofundamento da dimensão comunitária da fé, reflectiram sobre os caminhos a
percorrer no próximo Ano Pastoral, que terá como objectivo cuidar da formação dos
cristãos. Este cuidar, nas palavras de D. António, concretizar-se-á em três dimensões:
a fé professada, a fé celebrada e a fé vivida.
No diálogo que se seguiu, os membros do Conselho acentuaram duas linhas de
acção: por um lado, a formação cristã deverá levar à renovação dos dinamismos
existentes e, por outro, promover a coragem de inovar, na fidelidade à Palavra de
Deus e ao tempo que nos foi dado viver, segundo o exemplo de São Paulo.
Também se foi sentindo que as propostas da Igreja, vindas dos âmbitos nacional
e internacional, são uma ajuda preciosa para lançar e articular, com os diversos
níveis de acção pastoral da Diocese, um itinerário de formação cristão que responda
aos novos desafios, expressos numa diversidade cada vez maior de situações.
O Secretariado
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 71
Documentos
Professar, celebrar e viver a fé
. diversos .
Resumo Geral das Contas - Ano de 2007
Seminário Diocesano de Leiria
FORMAÇÃO
Mensalidades Tempo Propedeutico
RENDIMENTOS
Rendimentos de Prédios Urbanos
Ocupação de salas
Juros de depósitos
Rendimento de titulos
EVENTUAL
Reembolso despesas de alimentação
Contributo Serviços Diocesanos
Reembvolso de Impostos
Restituição de despesas
SECTOR AGRÍCOLA
Venda de Choupos
DONATIVOS
Ofertório Diocesano
Benfeitores
Legados
Ofertórios das Missas
RECEITA INTERNA
Receitas de Secretaria
72 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
RECEITAS
total
89,209.40
89,209.40
total
12,511.20
3,616.00
13,336.25
54,516.39
83,979.84
total
3,548.72
254.00
7,136.72
626.33
11,565.77
total
25,682.72
25,682.72
total
52,114.75
14,372.38
65.00
4,608.65
71,160.78
total
TOTAL DA RECEITA
3,172.10
3,172.10
284,770.61
. diversos .
DESPESAS
SEGURANÇA SOCIAL
Segurança Social
SEGUROS
Seguros Acidentes de Trabalho
Outros seguros
IMPOSTOS
Imp. Rodoviários
Taxas
IMI
Juros e encargos
FORNECIMENTOS E SERVIÇOS EXTERNOS
Electricidade Seminário
Electricidade Algarve
Electricidade Quintas
Combustíveis
Gás
Água
Ferramentas e Utensílios
Livros, Revistas, Jornais
Material expediente
Telefones
Material de Higiene e limpeza
Conservação e Reparação
Outros fornecimentos diversos
Honorários
Deslocações e estadias
total
48,975.00
85,807.84
1,500.00
16,291.44
2,199.40
154,773.68
total
12,379.12
12,379.12
total
2,453.55
970.52
3,424.07
total
98.46
250.00
1,617.25
281.45
2,247.16
total
14,004.49
108.23
664.93
3,923.40
10,600.21
7,996.06
1,660.71
5,699.10
679.89
2,609.66
5,489.86
21,793.31
1,915.54
726.00
1,124.03
78,995.42
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 73
Documentos
REMUNERAÇÕES
Professores
Empregados
Serviço Eventual -Seminário
Serviço Eventual Quintas
Outros custos
. diversos .
SEMINÁRIO MAIOR / ISET
Mensalidades
Propinas do ISET
total
32,890.00
10,281.00
43,171.00
total
70.81
70.81
total
9,806.60
9,806.60
total
TOTAL DA DESPESA
32,777.88
32,777.88
337,648.74
CULTO
Culto
FORMAÇÃO
Despesas com Retiros
BENS DIVERSOS
Géneros alimentícios
RESUMO DO ANO
Receita
Despesas
saldo
OBRAS NO SEMINÁRIO
Contribuição da Diocese
Encargo do Seminário
284,770.61
337,648.74
-52,878.13
INVESTIMENTOS EM CURSO
INVESTIMENTO NAS QUINTAS
Serviços de Reflorestação
48,973,89
84,030,09
total 133,003,98
37,987,31
total 37,987,31
Nota: O saldo negativo apresentado nas contas de exploração do Seminário em 2007,
deve-se às despesas fixas existentes com pessoal efectivo e formadores, mas também à
ausência de legados durante o ano de 2007.
Leiria, 31 de Dezembro de 2007
O Ecónomo,
Pe. Pedro Miguel Ferreira Viva
O Técnico Oficial de Contas,
Vítor Manuel Joaquim
74 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
Vida Eclesial
. destaque . notícias . Santuário de Fátima .
. serviços e movimentos . entrevistas .
. destaque .
Bispo diocesano ao encontro da realidade eclesial e social
D. António em Visita Pastoral à Diocese
Pedro Jerónimo
Na primeira entrevista pastoral que concedeu após a sua entrada na diocese de
Leiria-Fátima, ao jornal O Mensageiro, D. António Marto referiu a sua intenção de
efectuar uma visita pastoral a todas as paróquias. Ano e meio depois, deu o primeiro
passo desse périplo, na vigararia da Batalha, mais concretamente, na paróquia do
Juncal, no dia 31 de Janeiro. A chegada à meta está prevista para 2012.
Segundo a carta de anúncio que enviou a todas as comunidades, D. António abraça
esta tarefa como “um dever do Bispo, enquanto pai e pastor da porção do povo de Deus
confiada à sua solicitude, para aprofundar o conhecimento, a estima e a ajuda recíproca”. E o espírito com que o faz é o de “anunciar o Evangelho e confirmar os irmãos na
fé, como pai que se encontra com os filhos para os iluminar e encorajar, para promover
a unidade e a comunhão em Cristo e na Igreja, e dar um novo impulso missionário”.
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 77
Vida Eclesial
Por Luís Miguel Ferraz
. destaque .
Nesse sentido, apontou quatro grandes objectivos: “encorajar em todos um renovado encontro com Cristo que leve a redescobrir a beleza e a alegria da fé e da vocação cristã; valorizar o sentido de co-responsabilidade do Povo de Deus, revitalizando
os organismos de participação (conselho pastoral e conselho económico) e os ministérios nos vários sectores da pastoral; promover a comunhão eclesial, intensificando
o diálogo, a colaboração e a partilha, para fortalecer a experiência da fraternidade
cristã na paróquia, na vigararia e na diocese; e avivar em todos os fiéis cristãos a
consciência da missão, para que o dom da fé irradie na sociedade actual”.
Para atingir esses objectivos, é necessário mobilizar as comunidades, logo na
preparação da visita, para “a análise e discernimento da situação da paróquia, à luz da
fé”, sensibilizá-las para participarem nos actos agendados e motivar, ao mesmo tempo,
para uma vida de oração mais intensa, nomeadamente pela “participação nos grupos
ou assembleias para a leitura familiar e orante da Palavra de Deus (Lectio divina)”.
Na visita, propriamente dita, cada paróquia programa as acções que acha mais
oportunas, incluindo encontros com os diversos grupos da acção pastoral e outros
representativos do tecido social local, para um diálogo com o prelado. E a terminar,
uma celebração eucarística onde é administrado o sacramento do Crisma.
Alguns frutos da visita pastoral serão colhidos no imediato, como sejam um conhecimento mais próximo entre o Bispo e as pessoas mais envolvidas na pastoral,
melhor compreensão do múnus episcopal por parte dos fiéis e uma percepção mais
objectiva da realidade eclesial e social das paróquias por parte do Pastor. Mas o fruto
mais importante há-de frutificar a partir da semente lançada, se cada comunidade
souber interiorizar as indicações que o Bispo lhe comunicar e promover, a partir
delas, uma renovação consistente da sua vivência cristã e participação.
Já não se fazia há cerca de 30 anos…
A última visita pastoral de um Bispo de Leiria-Fátima a todas as comunidades da
diocese foi efectuada por D. Alberto Cosme do Amaral, entre 1976 e 1981. Durante
estes cinco anos, o prelado promoveu encontros com crianças, jovens e adultos,
visitou doentes, rezou e celebrou com as comunidades, informou-se sobre a realidade eclesial e social de todas as paróquias e exortou todos a caminharem na fé e na
coerência de vida cristã.
No comunicado que apresentou no encerramento desta visita, em Abril de 1981,
no Santuário de Fátima, D. Alberto afirmava que “há muitos espaços pastorais que
os nossos sacerdotes não podem cobrir porque são poucos, e débeis as suas capacidades de resposta, perante as necessidades cada vez mais prementes”, identificando
a pastoral vocacional como a “absoluta prioridade” e pedindo aos padres “que se
dediquem ao ministério sacerdotal vinte e quatro horas por dia e deixem aos leigos
tarefas que eles podem realizar, para que os sacerdotes tenham tempo, saúde e dispo78 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
nibilidade para fazerem o que só eles podem fazer: ministério da Palavra e ministério
dos Sacramentos”. Para tal, pedia também aos leigos “uma maior participação na
missão salvadora da Igreja”.
O documento contém ainda uma análise de cada um dos sectores da pastoral e
indicações sobre o que fazer para os dinamizar.
Na pastoral catequética, afirma que “muitos de nós ainda não ultrapassámos uma
ideia de catequese quase infantil, para passarmos a pensar seriamente numa catequese que atinja todas as pessoas, a todos os níveis etários e em todos os espaços”,
e que “há que arrancar, desde já, para a organização de uma catequese sistemática
para adultos”.
Na pastoral da juventude, alegra-se porque “se abriram já caminhos até agora
não andados” e por ter encontrado uma “juventude generosa”, mas lamenta que “a
maioria dos jovens estamos a perdê-la: uma primavera sem flores!”.
D. Alberto vai referindo que “não podemos perder mais tempo neste campo
imenso que é a pastoral familiar”, que “é pobre, muito pobre, a pastoral dos doentes
e idosos”, que “na pastoral sacramental há muito que fazer, pois a maior parte dos
nossos cristãos não cumpre, sequer, o preceito dominical”, e que “a pastoral não
pode ignorar que a genuína comunidade cristã tem de ser uma comunidade de amor
(…), um campo imenso que entregamos aos cuidados da Cáritas Diocesana”.
Sem ser um quadro muito animador, em que “a seara se abre diante de nós a gritar
as suas carências”, o prelado aponta, no entanto, para a esperança e apela ao trabalho
de todos em prol de um programa pastoral comum, que resume em seis prioridades:
“a pastoral específica das vocações de consagração; a pastoral familiar; a pastoral
de evangelização na infância, adolescência, juventude e idade adulta; a pastoral dos
sacramentos; a pastoral da caridade; e a formação apostólica dos leigos”.
A terminar, D. Alberto afirmava que “bem desejaria que a Visita Pastoral não se
encerrasse agora, mas fosse antes uma porta escancarada sobre a seara que espera
por todos nós”, e apelava: “Vamos todos, mesmo todos, lançar-nos com fé e audácia
na ingente tarefa de levar a toda a Diocese a salvação de Jesus Cristo”.
Entrevistas aos párocos
A visita à vigararia da Batalha obedeceu ao seguinte calendário: de 31 de Janeiro
a 3 de Fevereiro na paróquia do Juncal, de 7 a 10 de Fevereiro na Calvaria, de 14 a
17 de Fevereiro nas paróquias de S. Vicente e de Nossa Senhora dos Prazeres, Aljubarrota, de 21 a 24 de Fevereiro nas Pedreiras, de 27 de Fevereiro a 2 de Março na
Batalha e de 13 a 16 de Março no Reguengo do Fetal.
Para um conhecimento mais próximo do que significou esta visita, fizemos aos
respectivos párocos uma pequena entrevista, que passamos a publicar. No caso do
Juncal, publicamos as perguntas e respostas, mas para as paróquias seguintes ela| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 79
Vida Eclesial
. destaque .
. destaque .
borámos uma lista padrão de perguntas, que enumeramos desde já e que apenas
indicaremos pelos seus números junto às respostas obtidas:
1 - Que pensa desta iniciativa do Bispo diocesano de fazer uma visita pastoral a
todas as paróquias?
2 - Como se preparou a comunidade para receber o Bispo?
3 - Qual foi o critério na elaboração do programa?
4 - De forma geral, como correu a visita?
5 - Houve algum momento especial que queira destacar?
6 - Qual a principal mensagem ou marca deixada por D. António Marto?
7 - Quais as expectativas criadas a partir da Visita Pastoral? Foi já definida alguma prioridade pastoral ou tomada alguma decisão em ordem à renovação da
dinâmica paroquial?
• Pároco do Juncal
Como decorreu a visita episcopal ao Juncal?
Foi uma visita que contou com grande parte da população do Juncal – participaram mais de 150 pessoas. Quase todos os idosos compareceram e o encontro com
os jovens foi muito positivo, tal como o encontro com as crianças do centro infantil.
Foram momentos de grande alegria.
Houve algum momento especial que queira destacar?
O encontro com os jovens da catequese foi maravilhoso. Tinham um programa
especial para apresentar, que organizaram em conjunto com as catequistas. O encontro com as crianças do centro infantil também foi muito bonito.
Quais as expectativas criadas com este encontro?
A visita foi anunciada de casa em casa e todos a desejavam. Foi sentida como o
lançar da semente. Espera-se agora que germine e cresça. A ligação do povo ao seu
Bispo é muito importante. Há com que um despertar e um novo ânimo.
Qual foi a maior marca deixada por D. António?
A sua presença deixou uma marca de proximidade e veio abanar a monotonia.
Foi como que uma sementeira. Não podemos continuar a ver o Bispo como uma
pessoa distante. Aprendemos que ele quer estar cada vez mais próximo.
Pároco de Aljubarrota
1 - Ninguém pode amar o que não conhece. À maneira do Bom Pastor, é preciso
conhecer as ovelhas e elas conhecerem-no. Aproximando-se delas, reconhecerão
melhor a sua voz…
2 – A comunidade foi sendo preparada de diversas formas. Pela leitura da carta
do anúncio da Visita Pastoral nas seis assembleias eucarísticas (sábados e domin80 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
gos), explicando durante várias semanas os quatro objectivos da visita. Pelo convite
à oração intensa, sobretudo na adoração semanal do Santíssimo Sacramento, quer
em Sagrado Lausperene, quer ao “Jesus escondido” no sacrário. E também nos cinco encontros semanais dos grupos que fizeram a Lectio Divina. Finalmente, com a
publicação de 2000 desdobráveis a cores, com pequeno excerto da Carta Pastoral
do Anúncio, com o programa e a oração proposta, que atingiu todas as famílias da
comunidade das duas freguesias.
3 – Na elaboração do programa houve a preocupação de atingir toda a vida da
comunidade, desde as crianças até aos idosos, dos industriais de extracção e transformação de pedra aos da loiça, dos estudantes aos comerciantes…
4 – A visita revelou-se profundamente positiva, pela aproximação do Bispo ao
seu Povo: o contacto pessoal deixa mensagem viva. É preferível ir do que mandar
recados.
5 - Destaco a visita à Misericórdia, pela qual se principiou: a recepção pelos
corpos gerentes – o provedor e demais mesários, as 160 crianças e suas canções de
saudação, educadoras e auxiliares, empregadas, os idosos do Centro de Dia, que o
senhor Bispo cumprimentou um por um com uma palavrinha de conforto, e até os
mais pequeninos da creche, com poucos meses de idade. Foi também especial o
acolhimento feito pelas senhoras, no alpendre da igreja, ao saudarem o senhor Bispo
com o antigo hino da Diocese: “Salvé, salve, Pastor venerando, que fiéis tradições
reatais, vosso anel reverentes beijando, vos cantamos bem-vindo sejais”.
Mas houve outros momentos importantes, como o encontro com os industriais,
tanto pela mensagem que o Bispo lhes deixou como pelo convívio final, e a celebração da Santa Unção a cerca de 50 doentes e idosos, entre os quais se encontrava
o pároco.
6 - A mensagem ou marca especial deixada pelo senhor Bispo foi a descoberta
mais profunda da ternura de Deus, que nos ama e nos quer fazer felizes, se nós também quisermos…
7 - A maior consciência do lugar que cada um ocupa na Igreja e da missão que a
cada um cabe cumprir permite acreditar que é possível revitalizar os movimentos e
serviços já existentes: formação dos catequistas, actualmente 55 e 56 auxiliares nos
seis centros de catequese; Apostolado da Oração com 40 zeladores e 950 associados;
Associação da Sagrada Família com 11 zeladores e 250 associados; principalmente,
o devido funcionamento dos Conselhos Pastoral e Económico.
• Pároco da Calvaria e Pedreiras
1 – Iniciativas como a visita pastoral fazem parte do ministério sacerdotal e episcopal de ir ao encontro de todos, homens e mulheres, no seu meio. É fundamental
conhecer as preocupações e as alegrias que os habitam para que a nossa acção e a
nossa palavra não sejam desajustadas. A visita foi uma oportunidade e uma Graça
de Deus para as pessoas e para as comunidades, motivando-as a despertarem a sua
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 81
Vida Eclesial
. destaque .
. destaque .
fé, algo adormecida, a não se contentarem com o pouco que têm e a quererem mais
para a paróquia.
2 – A preparação não foi fácil sobretudo porque, estando há pouco tempo nas paróquias, não tenho deles um conhecimento suficiente. Dá que tenha começado pela
criação de uma equipa para preparar e programar a visita. Depois veio a fase da divulgação com cartazes nos lugares públicos, a apresentação do programa nas folhas
paroquiais, o anúncio feito nas Eucaristias e diversas reuniões. Nas Pedreiras, onde
a visita foi um pouco mais tarde, houve tempo para distribuir folhetos informativos
em todas as casas.
3 - Não houve apenas um critério, mas várias linhas condutoras. Primeiro, procurámos que esta visita fosse um novo fôlego para as pessoas mais relacionadas com
a Pastoral. Por isso, realizou-se, logo no primeiro dia, uma assembleia paroquial.
Além disso, pensou-se num contacto entre D. António e o meio civil das paróquias.
Assim, fora dos espaços paroquiais, D. António foi às escolas e às instituições de solidariedade social e encontrou-se com as autoridades civis. Terceira linha condutora,
para criar laços entre movimentos, serviços e lugares das paróquias, promoveram-se
encontros para toda a comunidade paroquial.
4 – A visita correu muito bem. Todos elogiaram a proximidade de D. António,
sempre atentos aos aspectos positivos da nossa realidade. Ele próprio disse, várias
vezes, que não vinha criticar mas salientar o que está bem e dar algumas pistas sobre
o que pode melhorar. A sua mensagem foi de um optimismo, contrariando a tendência generalizada.
5 - Há muitos momentos a salientar, porque D. António imprimia sempre aos
seus encontros novidade e frescura. Referirei especialmente as celebrações com os
doentes e idosos a quem disse reconhecer nos seus rostos “os traços dos seus pais
que já partiram para a eternidade”. Além dos idosos e doentes, também os funcionários e familiares que os acompanhavam se mostraram muito sensibilizados. Também
gostaria de salientar o encontro com as crianças, que foi um momento de grande
encanto e ternura.
6 – De tudo o que nos disse salientarei ainda a sua mensagem nas celebrações do
Crisma “Não tenham medo de abrir os corações a Cristo”. Penso que resume toda a
visita pastoral. Não ter medo de Cristo significa querer conhecê-Lo e a necessidade
de aprofundar o nosso relacionamento com Ele. Como afirmou D. António, o maior
perigo para a fé é a ignorância religiosa. Não ter medo de abrir os corações a Cristo é
também procurar descobrir a beleza de ser cristão e fazer parte de uma comunidade
e saber assumir as responsabilidades que nos cabem pelo crescimento da mesma. E
ainda, como D. António explicou aos crismados, é ser capaz de dar testemunho de
uma vida com valores, diante de todos.
7 – Quanto a expectativas, estamos ainda na fase de digerir o que foi a visita
pastoral. Espero brevemente reunir os grupos que estiveram na preparação para
definirmos prioridades. Entretanto, podemos já indicar o desejo de crescimento em
82 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. destaque .
• Pároco da Batalha
1 - A visita pastoral do Sr. Bispo às paróquias da diocese é, no meu entender, de
grande importância. Este contacto directo com grupos, pessoas e locais ajuda, certamente, o Bispo a adquirir um conhecimento mais exacto da realidade diocesana.
Ficará assim em melhores condições de vir ao encontro das necessidades de todos.
2 - Começámos a preparação com algumas reuniões do Conselho Pastoral Paroquial e o anúncio da Visita Pastoral a toda a paróquia. Logo depois, a comunidade
foi convidada a rezar por esta intenção e formaram-se, em toda a paróquia, grupos
de reflexão e oração com a Lectio divina, apoiados por temas vindos da diocese A
presença e participação do Sr. Bispo em duas reuniões preparatórias, na vigararia,
muito contribuiu para a consciencialização das pessoas. Na última semana de preparação, a vinda da Imagem Peregrina, de Fátima, proporcionou a todos uma reflexão
sobre os pontos fundamentais da mensagem de Fátima e foi decisiva para dinamizar
toda a paróquia.
3 – Para a elaboração do programa, o Conselho Pastoral Paroquial estudou o documento do Sr. Bispo sobre a visita pastoral, olhou para a realidade da paróquia, o que
permitiu levar ao Sr. Bispo os aspectos mais significativos da vida da comunidade.
4 – A visita decorreu de modo muito positivo. Houve boa participação, muito
interesse e parece-me que se conseguiu apresentar ao Sr. Bispo a realidade da paróquia, não só no campo religioso, mas também social, escolar, económico, cultural e
recreativo.
5 - Tenho dificuldade em destacar este ou aquele momento, esta ou aquela actividade. Mas sensibilizou-me especialmente o encontro muito personalizado do Sr.
Bispo com cada um dos doentes do Centro Hospitalar de Nossa Senhora da Conceição, nas Brancas.
6 - A maneira como o Sr. Bispo soube estar com todas as pessoas marcou muito a
comunidade. E o seu “fraquinho” pelos “amiguitos e amiguitas” foi muito apreciado
pelas crianças e contagiou os pais. Da mensagem saliento a necessária incrementação da formação cristã em todas as idades, a santificação do Dia do Senhor e o
apreço pela família e vida familiar.
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Vida Eclesial
quantidade e sobretudo em qualidade, que implica melhoria das acções pastorais
desenvolvidas, em ordem ao amadurecimento da fé, não nos contentando apenas
com o que já se vai fazendo. Um grande passo será a constituição de um conselho
paroquial nas duas paróquias, pois os padres não podem nem deve fazer tudo, um
conselho que pense e reflicta sobre a realidade paroquial e ajude a fazer as melhores
opções. Em breve serão convocados os movimentos e serviços das duas paróquias
para escolherem os seus representantes. Outra decisão é a maior atenção à pastoral
juvenil, com criação e apoio de grupos de jovens e de um agrupamento de escuteiros
que seja escola de fé e de humanidade, como dizia D. António. Esta maior atenção à
juventude corresponde ao desejo manifesto das duas paróquias.
. destaque .
7 - Certamente que algo irá melhorar. Ainda sem adiantar algum aspecto, há que
avaliar, em pormenor, toda esta actividade, olhar seriamente para a realidade paroquial e recordar as mensagens que o Bispo foi deixando nos sucessivos encontros.
Algumas decisões irão ser tomadas, nomeadamente no campo da pastoral familiar.
• Pároco do Reguengo do Fetal
1 - É uma iniciativa muito proveitosa que estimula todos os que trabalham nas
comunidades cristãs. Todos, padres e leigos, precisamos de nova motivação para
viver melhor a fé, tantas vezes adormecida pelos problemas do dia-a-dia.
2 - A preparação da visita pastoral foi longa. No início de Novembro começou-se
a informar a comunidade. Depois de a informação chegar às famílias da paróquia,
houve uma maior sensibilização dos grupos (movimentos e serviços), nomeadamente nos encontros que já se realizavam. Mais proximamente, formaram-se em cada
lugar da paróquia grupos de Lectio divina, seguindo a proposta de D. António Marto
como preparação mais específica da visita.
3 - A elaboração do programa foi simples. Nos diversos grupos da paróquia, escutou-se a opinião das pessoas e, especialmente em reuniões do Conselho Económico Paroquial, definiu-se um programa que correspondesse à realidade da paróquia..
4 - Na minha opinião, a Visita Pastoral correu muito bem. Houve entusiasmo e
alegria, e foi um meio para trabalharmos em conjunto (comunidade paroquial) na
concretização desta acção, que seria o ponto culminante e fecho da visita pastoral na
vigararia da Batalha.
5 – Se todos os momentos foram especiais, sobretudo pela presença do Sr. D.
António, marcou-me, enquanto pároco, a sua forma de estar com cada pessoa, desde
a mais nova à mais idosa, sempre próximo e amigoTodas as pessoas recordam esse
aspecto. Posso, mesmo assim, referir três momentos significativos: a celebração da
Eucaristia, no Centro Paroquial de Assistência, com os idosos; a Assembleia Paroquial; e os encontros com a catequese, continuados no almoço com as crianças e
adolescentes.
6 - Como disse, a grande marca que ficou foi a presença próxima do nosso Bispo.
A mensagem principal retiro-a da Assembleia Paroquial: a verdadeira comunidade
cristã tem de assentar em três alicerces: comunidade de fé, de oração e de fraternidade, nos quais radicam todos os seus movimentos e serviços. Outro aspecto em foco
foi a nova situação de uma fé que, sendo cada vez menos herança e tradição, terá de
ser cada vez mais opção consciente de cada um.
7 - As expectativas são muitas. Principalmente, um novo impulso para formarmos
comunidades que vivam melhor a comunhão. Como disse D. António, não vivermos
como ilhas, mas em ‘rede’ uns com os outros, tanto na paróquia como na vigararia.
Não será necessário criar muitas coisas novas. Para a comunidade do Reguengo do
Fetal, o importante é cuidar melhor do que existe e dar-lhe novo fulgor e nova vida.
Como prioridade, temos de constituir o Conselho Pastoral Paroquial.
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. destaque .
Encerramento da Visita Pastoral à vigararia da Batalha
LMFerraz
A 16 de Março, no pavilhão da associação de Alcaidaria, paróquia do Reguengo
do Fetal, realizou-se o encerramento da visita pastoral do Bispo diocesano à vigararia da Batalha. Juntaram-se cerca de 600 fiéis de todas as paróquias num momento de
celebração, convívio e partilha das experiências vividas nos últimos dois meses.
Começou-se pela procissão que caracteriza a liturgia do Domingo de Ramos
e seguiu-se a Missa, presidida por D. António Marto e concelebrada por todos os
párocos da vigararia. Partindo das palavras de São Paulo à comunidade de Filipe (Fl
1, 3-11), o Bispo diocesano referiu serem idênticos os seus sentimentos ao encerrar
esta primeira etapa da visita pastoral: “A todos guardo no coração com muita amizade e gratidão. Senti-me acolhido como irmão, constatei a boa reserva de muitas
energias de homens, mulheres, crianças e jovens de fé viva, dedicação e criatividade
ao anúncio do Evangelho. Verifiquei alegrias, expectativas, cansaços, desânimos, e
um enorme desejo de salto de qualidade de fé”.
Pedindo a todos “um esforço na reorganização das comunidades e mais co-responsabilidade para uma Igreja viva de comunhão e missão”, o prelado manifestou
o desejo de “transfiguração do rosto da Igreja, de cada comunidade, para que nela
resplandeça a beleza do rosto de Cristo”. Conscientes do “mistério do amor louco
de Deus por nós”, apesar de todas as nossas infidelidades, como fora recordado no
relato do Evangelho deste domingo, “devemos descobrir no mundo concreto em que
vivemos as manifestações desse amor”. Este é o caminho para o referido “salto de
qualidade”, que deverá envolver todo o Povo de Deus, sobretudo em três grandes
linhas de acção.
Em primeiro lugar, o regresso às fontes originais da nossa fé: “não nos devemos
esquecer de que na origem da fé está o encontro com a pessoa viva de Jesus Cristo
ressuscitado”. Joga-se aqui o futuro da fé, numa crise que atinge actualmente toda a
Europa. Estamos a passar do cristianismo herdado para uma fé de opção consciente e
de adesão livre, alegre e convicta à pessoa de Cristo. “É uma crise que pode ser puri-
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Vida Eclesial
“Desejo paróquias fraternas e em rede”
. destaque .
ficadora, porque nos desafia a crer mais e a crer melhor, a sermos homens e mulheres
de fé viva, entusiasta, corajosa e assumida”. Por isso, é preciso “reformarmo-nos por
dentro, acender o coração com a luz nova de Cristo, animar e trazer os cristãos que
se afastaram ou se deixaram vencer pelo cansaço”.
Depois, é necessário “reconfigurar a paróquia como casa de acolhimento e fraternidade, onde todos estão ao serviço dos outros, uns para os outros, uns com os
outros”. Não podemos continuar a ver a paróquia como um supermercado ou uma
estação de serviços religiosos, mas como espaço de comunhão e partilha, “onde todos se sentem em casa e de casa”. Nessa linha, é importante constituir ou revitalizar
os órgãos de coordenação, como os conselhos económicos e pastorais paroquiais.
Finalmente, torna-se fundamental “trabalhar em rede, na paróquia e na vigararia”. Se todos partilhamos a mesma fé, devemos também partilhar recursos humanos
e técnicos, trabalhando projectos comuns, sobretudo em áreas pastorais como a pastoral juvenil, a catequese e o serviço sócio-caritativo.
A terminar, o Bispo lançou o apelo que fez em cada paróquia: “Querida vigararia
da Batalha, abre de par em par as portas do teu coração a Cristo. Não tenhas medo de
Cristo. Renova na alegria a tua fé em Cristo, teu Senhor e Salvador. Dá testemunho
do Evangelho”. Apelo que foi aplaudido com entusiasmo por toda a assembleia.
No final, houve um lanche oferecido pelas pessoas da paróquia anfitriã, onde
muitos dos presentes aproveitaram para passar o resto da tarde. Espera-se que este
momento de união e confraternização venha a repetir-se e a dar frutos em outras iniciativas pastorais, tal como D. António Marto defendeu durante toda a sua visita.
“Lectio Divina” preparou a visita pastoral
Uma das iniciativas de preparação da visita pastoral foi a constituição de grupos
para a “Lectio Divina”, como recomendava a carta pastoral sobre a visita, tendo em
vista “um renovado encontro com Cristo, que lhes possibilite redescobrir a beleza e a
alegria da fé e da vocação cristã”.
O primeiro passo foi a formação de orientadores. Porque “é fazendo que se aprende
a fazer”, cerca de 60 pessoas da vigararia, incluindo os párocos, reuniram-se várias vezes, sob a presidência do Bispo diocesano e com a ajuda do Vigário-geral da Diocese, e
dum especialista em Bíblia, para fazerem a experiência de leitura, meditação e partilha
de um texto bíblico, auxiliados por instrumentos preparados pela equipa diocesana de
preparação das visitas. Os encontros serviram também para receberem indicações práticas sobre o procedimento nos grupos já formados ou a formar expressamente.
A experiência alargou-se às comunidades, em pequenos grupos, num percurso de
cinco temas, e viria a ser muito bem acolhida, como referiram alguns dos animadores:
“é uma experiência nova para muita gente, que tem despertado o interesse, até em
pessoas normalmente afastadas da vida religiosa da paróquia”.
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. notícias .
Diocese peregrina sob o signo da ternura
“Oh, quanto eu sonho…
ver comunidades renovadas”
D. António Marto tem insistido na unidade da diocese como comunidade de vida
cristã, atenta aos sinais da ternura de Deus, imbuída do espírito de comunhão e fraternidade e testemunha da alegria que brota da vivência do Evangelho.
Desde 1931, um ano após a declaração de credibilidade das aparições por
D. José Alves Correia da Silva, a peregrinação anual a Fátima vem
cultivando e exprimindo essa unidade da Igreja diocesana. Depois da
entrada de D. António, tem vindo a constituir-se em momento forte da
comunicação e celebração da mensagem pastoral que aponta o projecto diocesano do ano.
Se o visível corresponde a uma vivência efectiva da comunhão na
Diocese, só Deus sabe, Ele a quem se confia o germinar da semente
lançada. Olhando ao tamanho da diocese, a peregrinação reúne
uma verdadeira multidão. Procurando cooperar com a acção do
Espírito transformador, a organização empenha-se na máxima
valorização dos aspectos celebrativo e catequético desta reunião
da única Igreja diocesana que vê a diversidade dos seus membros
congregada sob o amparo maternal de Maria.
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Vida Eclesial
Por Luís Miguel Ferraz
. notícias .
Acolher a ternura
A 77ª Peregrinação Diocesana, a 9 de Março, sob o lema “Testemunhas da Ternura de Deus”, iniciou-se com o acolhimento na igreja da Santíssima Trindade, pelas
09h00. Aí se juntaram alguns milhares de peregrinos para a leitura orante da Palavra
de Deus (Lectio divina), centrada na transfiguração de Jesus no monte Tabor.
Neste primeiro acto, D. António Marto dava o tom a toda a peregrinação: subir
ao monte e aí permanecer em contemplação “é para nós, hoje, o convite a escutar
a Palavra de Deus e nela meditar”; ao descer, após o contacto com Cristo glorioso,
abraçamos a missão de “testemunhar a beleza da vida cristã”.
Da igreja da Santíssima Trindade, o cortejo, uno e multiforme, no colorido de
bandeiras paroquiais, de outras comunidades e de movimentos, avançou em direcção
ao altar principal do Santuário, para a grande Celebração Eucarística, e fez paragem
na Capelinha para uma saudação a Nossa Senhora com os cânticos próprios e a
recitação dos mistérios do Rosário. Prosseguiu depois, acompanhando a imagem
da Senhora de Fátima até ao altar-mor. Laicado, religiosos e presbitério, a diocese
constituiu-se Assembleia Eucarística, presidida pelo seu Bispo.
Saborear e testemunhar
À homilia, D. António exortou ao acolhimento da ternura de Deus, que há-de
manifestar-se na “beleza da comunhão eclesial”.
Partindo do Evangelho, exaltou a união dos irmãos Lázaro, Marta e Maria, que
acolhiam Jesus, e exclamou em forma de apelo: “Quanto eu sonho, minha querida
Igreja de Leiria-Fátima, ver comunidades cristãs como a casa de Betânia, uma Igreja que não seja vista como um supermercado religioso ou uma estação de serviço,
mas como uma casa onde vivem uns para os outros, em amizade e comunhão”. E
evocando a comoção de Jesus pelo seu amigo morto, insistiu: “Como sonho, minha
querida Igreja de Leiria-Fátima, ver comunidades cristãs onde se exprime este afecto, esta compaixão, esta capacidade de partilhar as tristezas e as alegrias da vida,
como expressão do poder do amor e da bondade de Deus”. Finalmente, lembrando a
afirmação de Jesus, “Eu sou a ressurreição e a vida”, apelou à esperança e à alegria
de uma vida nova em Jesus Cristo, como forma de triunfar sobre “o desencanto, o
desânimo, a inércia e a lamentação da sociedade actual” e poder responder à “crise
das famílias, da educação, e da sociedade em que vivemos”.
Ao concluir, de forma emocionada, deixou o seu último voto: “Oh, quanto eu
sonho, minha querida Igreja de Leiria-Fátima, ver comunidades renovadas”. Atenta
aos veementes apelos do seu pastor, a assembleia não pôde dispensar-se de um forte
aplauso, como a comprometer-se no caminho de uma “vida espiritual de qualidade”,
“ao serviço dos outros como expressão do amor de Deus”.
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. notícias .
Vida Eclesial
Em forma de oratória
O último acto da jornada, da parte da tarde, a execução da Oratória “Fátima, sinal
de esperança para a humanidade”, levou à igreja da Santíssima Trindade cerca de 7
mil pessoas.
Trata-se de uma obra musical do padre António Cartageno, com um texto dos
padres António Aparício e Paulo Quelhas, a partir das “Memórias” da Irmã Lúcia,
estreada no encerramento das comemorações dos 90 anos das Aparições de Fátima.
Num grandioso conjunto de 350 executantes (11 coros e a orquestra Filarmonia das
Beiras), sob a direcção do maestro Mário Nascimento, sobressaem o brilho, a simplicidade e a ternura dos solistas mais pequenos que interpretam os três pastorinhos.
Numa viajem pelos acontecimentos de 1917, a Oratória pretende “ser um grande
momento de difusão da mensagem de Fátima”, segundo depoimento que o seu autor
corrobora com um desejo: “Que as palavras e a música com que as revesti toquem
realmente o coração das pessoas e as ajudem a encontrar-se com Deus”. Outra forma, concluímos, de dar corpo ao mote do programa pastoral, acolhendo a ternura de
Deus, manifestada aos seus filhos, através de Maria, e testemunhada de forma bela e
confiante na Vida que brota.
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. notícias .
Formação Permanente do Clero
A formação permanente do clero é uma exigência da fidelidade ao dom divino da ordenação sacerdotal porque condição indispensável para servir com maior
competência e dinamismo aqueles a quem Deus envia os seus ministros, mediante
as tarefas confiadas pelo Bispo. Com estas acções de estudo, reflexão e partilha, os
padres procuram enriquecer-se e valorizar o seu ministério, nos domínios teológico,
pastoral, espiritual e humano.
No Seminário dos Missionários do Espírito Santo, em Silva, Barcelos, em dois
turnos, para facilitar a participação e assegurar o serviço pastoral indispensável, de
21 a 25 de Janeiro e de 28 de Janeiro a 1 de Fevereiro, o clero de Leiria-Fátima
debruçou-se sobre a “Existência cristã e organização da comunidade: ministério
ordenado e presença dos leigos”.
D. António Marto acompanhou os dois turnos com a sua presença de Pastor e
amigo, e orientou uma lição introdutória sobre a recente visita “Ad limina” dos Bispos Portugueses e suas implicações na diocese.
Depois de uma intervenção pontual sobre a “Dimensão sanante da fé”, pelo P.
Dr. Nuno Almeida, de Viseu, o Padre Doutor Arnaldo Pinho, da diocese do Porto, professor na Faculdade de Teologia da Universidade Católica naquela cidade,
desdobrando o tema central em várias lições sobre o lugar do episcopado, lugar
do presbiterado e a função do diaconado na Igreja, fê-lo culminar na perspectiva
da “prioridade dos valores da existência cristã sobre os valores da organização, no
Vaticano II e no Sínodo Especial de 1985”. Uma Igreja cuja relevância se afirma na
fidelidade à sua identidade, terá que fugir à centralização em si própria para aparecer
como sinal e sacramento de Jesus Cristo, sob pena de não ser.
O estudo e reflexão foram completados por momentos intensos de partilha pastoral e espiritual baseada na eclesiologia da comunhão na diversidade.
Dia Mundial do Doente
Depois de uma semana de visitas a quase todos os doentes, com as quais se quis
dar cumprimento efectivo à mensagem do Papa que convidava a partilhar com os
que sofrem sentimentos e gestos de solidariedade e de esperança, e a fim de proporcionar a preparação espiritual que cada um entendeu fazer, chegou o Dia Mundial
do Doente, a 10 de Fevereiro, calendarizado no pleno de actividades da capelania
hospitalar.
Uma equipa de dedicados voluntários colaborou na deslocação dos doentes que
puderam e manifestaram o desejo de participar na missa celebrada por sua intenção.
A assembleia, constituída pelos doentes, pelos fies que habitualmente ali participaram na missa dominical, a que se juntaram alguns profissionais da saúde e o grupo
de voluntários, viveu um momento muito expressivo de fé e de solidariedade a que
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. notícias .
não foi indiferente a colaboração do grupo coral que, habitualmente, ali amima as
celebrações.
Toda a liturgia teve presente a ocorrência do dia instituído há dezasseis anos pelo
saudoso papa João Paulo II, que tão profundamente doutrinou sobre o sofrimento
que soube assumir de forma tão singular.
Nesta mesma data, assinalou-se o 11º aniversário da visita que o Cardeal Fiorenzo Angelini efectuou ao Hospital de Santo André, como consta da lápide descerrada
pelo próprio na capela, aquando da sua vinda a Portugal, em 1997, para presidir às
comemorações que, nesse ano, decorreram em Fátima.
Seguindo as orientações emanadas da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde
e, com o intuito de concretizar a mensagem de Bento XVI, “estava doente e visitaste-me”, os Voluntários visitaram todos os doentes a quem entregaram uma prenda
oferecida pela Liga dos Amigos do Hospital que a todos sensibilizou.
Dentro das várias actividades em que se vai concretizando o programa do ano
pastoral, D. António Marto propôs um “retiro popular”, na Quaresma, para “saborear
a ternura de Deus e cultivar a espiritualidade do acolhimento e da comunhão”. Os
textos do guião foram disponibilizados em caderno e na Internet, depois de apresentados na formação do clero, em fins de Janeiro. Os próprios padres puderam fazer
em primeira mão a experiência da fórmula proposta, a leitura orante da palavra de
Deus.
D. António Marto explica deste modo o conceito de “retiro popular”: “Os evangelhos contam que Jesus se retirava para o monte ou outros sítios fora das povoações,
a fim de se dedicar à oração e entrar na comunhão íntima com o Pai. E revelam-nos
que Ele o fazia movido pelo Espírito. A esse exercício espiritual para escutar a Deus
e falar-lhe, a Igreja chama fazer retiro. Há muitos cristãos que a isso dedicam periodicamente algum tempo, retirando-se das suas ocupações e dos lugares habituais e
indo para onde há silêncio e ambiente de recolhimento. Mas também se pode fazer
um “retiro espiritual” na vida quotidiana, sem sair dos lugares e ocupações habituais,
dedicando determinados momentos a essa finalidade, na própria casa, nas igrejas ou
noutros locais. Nesse sentido, ousei lançar a proposta de, na Quaresma deste ano, se
realizar na Diocese um grande “retiro popular”, isto é, para todo o Povo de Deus”.
Os destinatários são todas as pessoas que aceitem reunir-se em família, em grupo
ou em assembleia, uma vez por semana, para ler, meditar e partilhar a Palavra de
Deus segundo o método da “Lectio divina”. Depois, em casa, a sós ou com a família,
cada uma pôde retomar a experiência da meditação, contemplação e oração diante
de Deus.
Sob o título “Acolher, saborear e testemunhar a ternura de Deus” a dinâmica incluía seis temas com outros tantos textos bíblicos, que ritmavam um itinerário de fé:
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Vida Eclesial
Retiro popular: Saborear a ternura de Deus
. notícias .
começando pelo “encanto do primeiro acolhimento” de Deus ao homem e à mulher,
criados «à sua imagem e semelhança», com a vocação ao amor inscrita em seus corações; seguia-se a revelação de que cada pessoa é “acolhida nas suas fragilidades”,
por Deus, em Jesus Cristo, e chamada a converter-se e retomar ânimo; vinha depois
o encontro com Jesus, que valoriza e sacia a sede de quem O procura e descobre
“o dom de Deus”; o quarto tema, apontava a atitude de Maria, irmã de Marta, que
escuta Jesus, como a do discípulo e da Igreja que acolhem a presença e a palavra do
Senhor; depois, abordava-se o acolhimento fraterno, dentro e fora das comunidades
cristãs; por fim, havia um convite a voltar o olhar para Maria, mãe de Jesus, por Ele
dada aos seus discípulos como “mãe da ternura” e modelo do acolhimento e do sim
à vocação.
Estima-se que mais de 250 grupos ou assembleias, num total de 5 mil as pessoas,
terão feito este retiro popular nas suas paróquias, como preparação para a Páscoa. A
iniciativa interessou também pessoas e grupos de outras dioceses, que solicitaram
centenas dos guiões de apoio. Animados quer pelos padres quer por leigos, os grupos
reuniam-se em igrejas e capelas, mas também em casas de famílias, envolvendo pais
e filhos na mesma experiência espiritual de contacto com a palavra de Deus.
Entusiasmados com esta experiência, alguns continuaram este tipo de caminhada, aproveitando ocasiões especiais como a preparação para as festas dos padroeiros
das suas comunidades.
Quinta-Feira Santa - Missa crismal - Óleo da consolação
O Dia do Sacerdócio e da Eucaristia tem a nível diocesano dois momentos litúrgicos fundamentais: a Ceia do Senhor, nas igreja catedral e nas paróquias, e a chamada Missa crismal presidida pelo Bispo diocesano rodeado do seu Presbitério, durante
a qual são benzidos os Óleos que serão usados em diversas ocasiões, ao longo do
ano, sobretudo na administração dos sacramentos do Baptismo, da Confirmação, da
Unção dos Enfermos e da Ordem. O Presbitério diocesano, que se dispersa para as
múltiplas celebrações da Ceia do Senhor nas comunidades, tem na Missa crismal a
manifestação por excelência da sua unidade.
Como de costume, a presenças dos sacerdotes foi quase total na manhã da Quinta-Feira Santa, este ano a 20 de Março. Apesar da hora laboral, os fiéis leigos vieram
também em grande número. D. António Marto ofereceu a todos uma meditação eivada de espiritualidade e sentido pastoral (ver texto integral na secção “Documentos”).
Partindo de uma primeira leitura da visita pastoral que iniciou na diocese e tendo
presentes as inquietações e esperanças dos fiéis, desenvolveu o tema “servidores da
ternura e da consolação de Deus”, enquadrado pela forte simbologia dos Óleos santos e endereçado especialmente aos presbíteros. Consolados primeiro por Deus, que
os envia a consolar os irmãos, os sacerdotes, apelou, devem proceder sem pressa,
de forma serena e persistente, procurando consolar na mente, no coração e na vida,
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. notícias .
como se exprimia Santo Inácio, cooperando com a acção de Deus que chama os seus
fiéis ao entendimento e ao amor, da sua proposta de Vida com Ele e com os irmãos.
Na continuação da celebração, D. António, voltando-se para os fiéis leigos e religiosos, pediu-lhes com viva emoção, que rezassem pelos sacerdotes, por ele e pela
sua acção de pastor desta Igreja diocesana.
O Senhor não cessa de derramar o óleo da consolação e da alegria nos corações
que se abrem à sua presença sempre fiel e constante.
D. António Marto eleito vice-presidente da CEP
Primeira pedra da igreja dos Pousos
D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima presidiu à celebração de bênção da
primeira pedra da reconstrução e ampliação da igreja paroquial de Nossa Senhora do
Desterro e respectivo Centro Pastoral, nos Pousos. A tarde de Domingo, 6 de Abril
de 2008, ficará na memória de todos os presentes: para além do Bispo Diocesano,
muito povo, e também amigos ilustres: vários sacerdotes, o vigário-geral, a presidente da Câmara de Leiria, o Governador Civil, os presidentes da Junta e da Assembleia
de Freguesia e a autora do projecto, arquitecta Alexandra Cantante.
Como o pároco teve oportunidade de afirmar, depois de 50 anos de expectativa,
a nova igreja já existe no projecto; vai ter um espaço celebrativo para 500 pessoas
e a primeira fase das obras começa no princípio de Maio, logo a seguir à festa do
Senhor dos Aflitos; a empresa a quem vai ser adjudicada a obra terá 200 dias úteis
para concluir a 1ª etapa; o Conselho Económico está imbuído de boa vontade e vai
coordenar os trabalhos; dispõe neste momento de cerca de 200 mil euros, mas faltam
ainda cerca de 500 mil; a obra é de todos e para todos.
Nas suas várias intervenções, D. António exortou os presentes a levarem a bom
termo a obra que ali se lançava, uma igreja com o seu centro pastoral, que será
“espaço para onde as pessoas hão-de convergir, centro de unidade, de fraternidade,
de cultura humana e espiritual” e simultaneamente “centro de irradiação de toda a
experiência humana e espiritual que ali se há-de receber”.
A Banda Filarmónica da SAMP acompanhou toda a celebração e no final houve
um lanche com animação a cargo dos Pauliteiros do Vidigal.
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Vida Eclesial
Reunidos em Fátima, no final de Março de 2008, os bispos da Conferência Episcopal Portuguesa elegeram os seus órgãos representativos para o próximo triénio.
Para o cargo de presidente foi reeleito o Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga. Para
vice-presidente foi eleito D. António Marto, bispo da nossa Diocese de Leiria-Fátima.
. notícias .
Assembleia do Clero: o Sensus ecclesiae
No dia 22 de Abril, reuniu-se em Assembleia-Geral o clero da diocese de LeiriaFátima, sob a presidência do Bispo Diocesano.
Dando continuidade à oração inicial, D. António Marto endereçou aos presentes
uma importante meditação/mensagem. Depois de felicitar os sacerdotes pelo seu
empenho e zelo apostólico, apelou a que nunca cessem de crescer no sentido de
Igreja que há-de manifestar-se no seio do Presbitério e transbordar para toda a comunidade diocesana, e se empenhem cada vez mais na criação de um ambiente em
que se respire comunhão na mesma vida cristã. Contra a “fé particular”, e “a ideia de
que a minha paróquia é o meu quintal”, incentivou à criação de laços de fraternidade
que façam da Diocese uma igreja particular embebida de um verdadeiro “Sensus
ecclesiae”, segundo o espírito do Concilio Vaticano II que coloca na comunhão o
centro de toda a pastoral e vida da Igreja. Deixando “uma organização centrada no
pároco, como responsável e executor de toda a pastoral, precisamos de partir para
uma organização eclesial baseada na co-responsabilidade e na comunhão”.
Os trabalhos prosseguiram com uma análise da evolução demográfica do clero
diocesano, de 1965 a 2007, pelo padre Luís Inácio João. Se naquele ano havia 128
padres, em 2007 contavam-se apenas 108, numa evolução de média etária de 43,5
anos para os 59,5 anos. Numa linha de prospecção, estima-se que em 2010 haja
somente 88 sacerdotes com 61,8 anos, em média. Relacionados estes dados com o
número de celebrações dominicais e locais, verifica-se que a diminuição de sacerdotes contrasta com o aumento das celebrações (342 em 1977, 378 em 2001, segundo
o respectivos sensos) e com o aumento do número de locais de celebração (246 em
1977, e 278 em 2001. Os dados observados, destacou ainda o sacerdote, apelam a
uma preparação do futuro. A sobrecarga não conseguirá mais responder às necessidades. Outras medidas terão que ser pensadas e adoptadas com urgência.
Seguiu-se a apresentação testemunhal de um trabalho paroquial na perspectiva
de comunhão e co-responsabilidade, pelo padre Armindo Castelão, pároco de Nossas Senhora das Misericórdias, Ourém, e uma reflexão sobre a dimensão comunitária
da acção pastoral, pelo padre Adelino Guarda.
Em clima de abertura e diálogo, os sacerdotes reflectiram depois, em pequenos
grupos, sobre duas questões fundamentais: “quais as prioridades, preocupações e objectivos da acção pastoral?” e que aspectos do trabalho pastoral podem ser confiados
a outros agentes da fé?
De tarde, um plenário permitiu verificar uma consciência assumida da necessidade de trabalhar em rede e co-responsabilidade, dando aos leigos um papel pastoral
mais activo, para que a Igreja diocesana seja cada vez mais expressão viva de comunhão e unidade.
A devido tempo, o ecónomo diocesano, padre Cristiano Saraiva, apresentou o
relatório de contas da Diocese, relativo ao ano 2007 e chamou a atenção para a legis94 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. notícias .
lação fiscal após a recente revisão da Concordata.
No final, D. António Marto voltou a exprimir a sua gratidão pelo esforço e dedicação de todos e pediu que levassem para as suas comunidades o desafio de um cada
vez maior “sensus ecclesiae”.
“Dou graças a Deus pelo dom que me concedeu e pela ajuda, ao longo da vida,
para o pôr a render ao serviço dos irmãos”, foi a mensagem do padre Jorge Faria
Guarda, vigário-geral da Diocese, na celebração do 25º aniversário da sua ordenação
sacerdotal, no passado 24 de Abril.
A igreja do Seminário encheu-se de familiares e amigos, padres, religiosos e
leigos, que quiseram associar-se na Eucaristia presidida pelo Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto e concelebrada também pelo Bispo emérito da Diocese, D.
Serafim Ferreira e Silva.
“É uma festa pessoal, porque o dom é pessoal, mas também festa da Igreja,
porque lhe foi dada para o serviço da comunidade dos fiéis”, sublinhou D. António,
na homilia durante a qual agradeceu ao padre Jorge “a colaboração dedicada, leal e
amiga no governo pastoral da Diocese”. Remetendo para o Evangelho do dia – “Eu
sou a videira e vós os Meus ramos; como o Pai Me amou, também Eu vos amei;
permanecei no Meu amor” – o prelado lembrou que “não existe Cristo sem nós e
nós não existimos sem Cristo”, e salientou a importância da efeméride sacerdotal
como “momento propício para ir de novo à raiz do compromisso assumido no dia da
ordenação”. Essa relação de amor entre Deus que chama e o homem que responde
“resulta em fonte de alegria, que vence o medo e as dificuldades e que é transformadora da vida, tornando-nos colaboradores da alegria de Deus para os nossos irmãos”,
concluiu.
Numa palavra final, o aniversariante exprimiu a sua gratidão a Deus pelo dom
recebido e aos presentes pela demonstração de amizade. “Perante vós renovo o compromisso que assumi há 25 anos, com o mesmo lema que adoptei – «Tudo posso naquele que me dá força», afirmou, recordando os passos principais do seu percurso de
vida sacerdotal, nas paróquias, no seminário, em experiências missionárias, na condução do Sínodo Diocesano e, nos últimos anos, como vigário-geral. “Sempre foi
Cristo que me conduziu e nunca me senti só, pois muitas pessoas me acompanharam
e ajudaram”, concluiu o padre Jorge, com o propósito de “continuar esta entrega,
cada vez mais perfeita, a Deus e aos homens e mulheres com quem me cruzo”.
No final, muitos dos presentes apresentaram os seus cumprimentos de amizade
ao aniversariante, e seguiu-se um jantar de convívio, também no Seminário.
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Vida Eclesial
Padre Jorge Guarda: 25 anos de sacerdócio
. notícias .
Padre Carlos Cabecinhas, Doutor em Liturgia
No dia 8 de Maio, no Instituto de Liturgia do Ateneu de S. Anselmo, o padre Carlos Manuel Pedrosa Cabecinhas defendeu a sua tese de doutoramento: “A Ciência
Litúrgica como disciplina universitária. Manuel de Azevedo s.j. (1713-1796) e as
primeiras cátedras de ciência litúrgica”. Obteve a classificação “summa cum laude
probatus”.
A tese trata das primeiras cátedras universitárias de Liturgia, que foram regidas e
criadas por portugueses em Roma e em Coimbra, no século XVIII. O moderador foi
o Doutor Ildebrando Scicolone o.s.b., professor do referido Instituto.
O Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, bem como o reitor do Seminário
Maior de Coimbra e outros padres da Diocese deslocaram-se a Roma, para assistirem à defesa.
Os membros do júri consideraram imprescindível a publicação deste trabalho,
por se tratar de uma investigação inédita e de fundamental importância para a investigação posterior. Foram unânimes na afirmação de que a tese apresentada pelo
novo Doutor se destaca significativamente do panorama geral das teses que anualmente são apresentadas nesta instituição académica e distinguiram o Doutor Carlos
Cabecinhas como “um dos melhores alunos que já passaram por aquele instituto
internacional”.
Movimentos na vigília de Pentecostes
“Os dons de Deus testemunham a ternura de Deus”. Com esta afirmação, a diocese de Leiria-Fátima celebrou a vigília de Pentecostes, a 10 de Maio, com uma acção
litúrgica presidida pelo seu Bispo, D. António Marto.
Quatro dezenas de movimentos, associações, novas comunidades e outras obras
apostólicas enchiam a Catedral. Numa visão positiva e animadora, D. António Marto reconheceu que o Espírito Santo continua a surpreender-nos com os seus dons e
a suscitar forças de renovação e de dinamismo evangelizador. Por isso, convidou
todos a “saírem da caverna” dos seus medos, como o profeta Elias, para receberem
a iluminação e consolação do Espírito de Deus e cooperarem com a sua acção, de
modo a testemunharem a ternura de Deus aos homens e mulheres do nosso tempo.
E exortou os diferentes movimentos e novas comunidades a darem as mãos, com
verdadeiro sentido de Igreja, na comunhão e na missão que Cristo a todos confia.
Preparada por representantes de muitos movimentos, associações e obras, a
Vigília foi uma manifestação de unidade em torno do único Espírito, que distribui
diversamente os seus carismas em proveito de todos sem excepção. Como frisou D.
António, éramos como os Apóstolos reunidos no cenáculo; agora, em dia de Pentecostes, vivemos como eles a alegria do Espírito.
96 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. notícias .
Um dos momentos mais significativos foi a recepção do ícone da Virgem da
Ternura que, colocado no centro de um enorme coração, foi sendo rodeado dos dons
do Espírito Santo, trazidos pelos diversos movimentos como sinal dos seus carismas
específicos. Sol, farol, poema de amor, Maria que se abriu totalmente ao Espírito
divino, abraça a todos no seu carinho e ternura maternal.
Os testemunhos de uma família de três filhos, de um jovem, de uma pessoa
portadora de deficiência e de um ex-toxicodependente reforçaram ainda que todos,
diferentes e únicos, são chamados a acolher o mesmo Amor de Deus.
No dia 11 de Maio, Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes – Leiria
(Alto Comissariado para a Imigração) e a associação AMIGrante promoveram mais
uma “Festa dos Povos”, encontro artístico e inter-cultural que anualmente anima a
cidade. Segundo a organização, neste Ano Europeu do Diálogo Inter-cultural, o objectivo foi “promover a igualdade de oportunidades e comemorar a diferença, aquilo
que nos torna verdadeiramente seres únicos, sem que, ao mesmo tempo, abdiquemos
do repto de Fernando Pessoa: «Sê plural, como o universo»”.
Pelas 15h00, no teatro Miguel Franco, Mercado de Sant’Ana, foi projectado o
documentário “Djunta Mo” (juntar as mãos). De seguida, teve lugar um encontro
inter-religioso, na igreja do Espírito Santo, sob o lema “Celebrar e facilitar a diversidade”. De regresso ao Mercado de Sant’Ana, o “Espectáculo InterCultural” trouxe
cantares, danças, artesanato, artes plásticas, gastronomia, etc., de vários países.
D. António representa CEP na Alemanha
O “Katholikentag” (Assembleia dos Católicos) é uma espécie de grande congresso dos católicos alemães, que aborda temas de religião, teologia e espiritualidade,
mas também questões sociais, éticas e políticas. O programa inclui mais de mil
actividades: celebrações, colóquios, conferências, seminários, espectáculos, arte,
oração, oficinas, concertos, meditação, exposições... Realiza-se de dois em dois
anos e vai já na 97ª edição.
Este ano, o Katholikentag realizou-se na cidade de Osnabrück, de 21 a 25 de
Maio, e contou com mais de 20 mil participantes de todas as condições: eclesiásticos, leigos, representantes de movimentos e instituições católicas, bem da política e
da sociedade. São também convidadas personalidades de outros países, como foi o
caso do Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, em representação da Conferência Episcopal Portuguesa.
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Vida Eclesial
AMIGrante promoveu “Festa dos Povos”
. notícias .
Diocese celebra Corpo de Deus
No dia 22 de Maio, celebrou-se a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, este
ano enriquecida pela sintonia com a preparação do 49º Congresso Eucarístico Internacional sobre “Eucaristia, dom de Deus para a vida do mundo”.
Em Leiria, as celebrações iniciaram-se com a Eucaristia, às 16h00, no jardim de
Santo Agostinho, e prosseguiram com a solene procissão com o Santíssimo Sacramento para o adro da Sé.
Na ausência do Bispo diocesano, a representar a Conferência Episcopal Portuguesa, na Alemanha, D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo emérito da Diocese, assumiu
a presidência.
Entre clero, religiosos e leigos, foi notória a participação de todas as paróquias
que reuniram sobretudo ministros extraordinários da comunhão, acólitos, confrarias
e irmandades do Santíssimo, e outros agentes pastorais mais activos. A variedade
soltava à vista no colorido das numerosas bandeiras. Como é tradição, quase todas
as filarmónicas marcaram presença.
Igreja ajuda a divulgar complemento solidário para idosos
O Bispo de Leiria-Fátima acolheu favoravelmente o pedido da Segurança Social
de Leiria no sentido de a Igreja colaborar na divulgação do complemento solidário
para idosos, com o qual o Estado Português ajuda, com uma prestação monetária e
benefícios de saúde, as pessoas com mais de 65 anos, com reformas inferiores a 350
euros e sem outros rendimentos.
Com esta finalidade, o Director do Centro Distrital reuniu-se, no final de Junho,
com os párocos e outras pessoas que prestam apoios sócio-caritativos nas paróquias,
para programar acções de divulgação, com a deslocação de equipas da Segurança
Social às várias paróquias, após as missas dominicais. Participaram nestas acções
vários voluntários, nomeadamente membros das Conferências de São Vicente de
Paulo e de outros serviços sociais paroquiais, bem como as Instituições Particulares
de Solidariedade Social.
98 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
Falecimento
A 24 de Fevereiro, faleceu em sua
casa, em Fátima, o Padre Manuel Pereira Júnior, de 79 anos, sacerdote da
diocese de Leiria-Fátima que durante
mais de quarenta anos serviu no Santuário de Fátima como capelão.
Pertencia a uma família numerosa.
Era filho de Manuel Pereira de Almeida e de Rosário de Jesus e nasceu em
Pederneira, Fátima, a 16.01.1929.
Entrou para o Seminário de Leiria em Outubro de 1942 e terminou
o curso do Seminário, em Julho
de 1953. Ordenado sacerdote em
19.09.1953, um mês depois foi
nomeado pároco de Carnide, onde
se manteve até Junho de 1959, tendo sido obrigado a abandonar as responsabilidades paroquiais por motivos de saúde. Em Agosto de 1961, foi para
o Santuário de Fátima, nomeado capelão e, mais tarde, também membro do
Conselho de Administração. Manteve-se neste serviço do Santuário de Nossa
Senhora até que doença o impediu. Há poucos anos retirou-se para a sua casa,
onde vivia com suas irmãs.
Ao mesmo tempo que comunica a sua passagem deste sacerdote para a
eternidade, a Diocese de Leiria-Fátima agradece a Deus a vida, o exemplo,
o testemunho de serenidade e confiança com que viveu o seu sofrimento, e o
longo e zeloso ministério que desempenhou ao serviço da Igreja, a maior parte
dos quais, em benefício dos peregrinos de Fátima e implora para ele a graça da
comunhão plena com Deus, na eternidade. Aos familiares apresenta sentidas
condolências e manifesta público reconhecimento e especial gratidão à irmã
deste sacerdote que o acompanhou mais proximamente, assistindo-o de forma
tão fiel, dedicada e carinhosa durante a sua prolongada doença.
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Vida Eclesial
Padre Manuel Pereira Júnior
Falecimento
Padre Manuel António Henriques
Faleceu, na madrugada do dia 4 de Março, no Hospital de Santo André, em Leiria, o
Padre Manuel António Henriques, de 76 anos,
sacerdote da diocese de Leiria-Fátima, que
durante cinquenta anos foi pároco de Fátima,
no concelho de Ourém. O seu corpo esteve
em câmara ardente na igreja paroquial de
Fátima, onde se celebraram as exéquias no
dia seguinte, antes do seu funeral para o
cemitério local.
Pertencia a uma família de sete irmãos.
Era filho de Maria Pereira e de Manuel António Henriques, nasceu em 07.10.1931, na
Ladeira do Fárrio, na altura da freguesia da Freixianda. Entrou para o Seminário
de Leiria em Outubro de 1943 e terminou o curso em Junho de 1954. Ordenado
sacerdote em 11.07.1954, na basílica do Santuário de Fátima, começou o seu
ministério como prefeito e professor do Seminário Diocesano, em Fátima. Em
1.07.1957, assumiu a missão de pároco de Fátima, serviço que desempenhou até
13 de Julho de 2007, data em que deixou tal tarefa por motivos de saúde. Em
acumulação, foi ainda director do Colégio de São Miguel, em Fátima, de 1962 a
1966, onde leccionou Religião, Português e Música, durante vários anos.
Entre as características e méritos que revelou no seu ministério, destacam-se:
o grande empenho na catequese, o cultivo da amizade e a grande capacidade para
escutar a todos e acolher os migrantes que chegavam à paróquia. A sua devoção a
Nossa Senhora e aos Pastorinhos era notável. Como obras mais marcantes da sua
acção contam-se a reconstrução da igreja paroquial, a fundação de uma rádio e do
Centro Paroquial, actual Centro Desportivo de Fátima. Foi o iniciador do Colégio
de S. Miguel e incentivou muito a música na sua paróquia, especialmente entre os
jovens, tendo mesmo criado um grupo musical.
Ao mesmo tempo que comunica a sua passagem para a eternidade, a Diocese
de Leiria-Fátima agradece a Deus a vida, o exemplo, a obra extraordinária e o
testemunho de afabilidade, criatividade e zelo pastoral demonstrados pelo Padre
Manuel Henriques ao serviço da Igreja na paróquia de Fátima e no Colégio de
São Miguel. Implora para ele a graça da comunhão plena com Deus na eternidade.
Aos familiares apresenta sentidas condolências e manifesta público reconhecimento e gratidão, particularmente à irmã e ao irmão que mais o acompanharam e
ajudaram na vida, no ministério sacerdotal e, por último, na doença.
100 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. Santuário de Fátima .
Mensagens de agradecimento a Nossa Senhora
Mais de 199 mil confissões em 2007
Fátima é sempre mais procurada como lugar de encontro com a Misericórdia
de Deus. “Sendo o tema do ano de 2007 «Deus é amor misericordioso», tivemos a
oportunidade de constatar como a Mãe sabe orientar os Seus filhos para se encontrarem com a misericórdia de Deus no Sacramento da Reconciliação”, refere o padre
Clemente Dotti, responsável por esta área do Santuário de Fátima.
No ano de 2007, confessaram-se no Santuário de Fátima 199.333 pessoas, 9.016
pessoas a mais do que no ano de 2006. Entre estas, 34.653 são de outras línguas,
1.049 a mais do que no ano anterior. Os sacerdotes confessores, 190 ao longo do ano
de 2007, desenvolveram um bom trabalho. Além de Portugal, vieram do Brasil, de
Angola e de Moçambique, para a língua portuguesa; de Malta, Itália, Espanha e de
outros países, para as restantes línguas.
Abertura do processo de beatificação da Ir. Lúcia
Foi recebido com alegria pelo Santuário o anúncio da abreviação do prazo para
abertura do processo de beatificação da Irmã Lúcia, feito no início deste ano, no
Convento de Santa Teresa, em Coimbra, pelo Cardeal D. José Saraiva Martins. Esta
autorização especial concedida pelo Papa Bento XVI “é mais um testemunho da profunda importância da Irmã Lúcia para a Igreja e para o mundo”, considerou o reitor do
Santuário, monsenhor Luciano Guerra, adiantando que será também sinal de que “já
houve testemunhas qualificadas que verificaram junto das entidades da Santa Sé acerca
da devoção à Irmã Lúcia e do seu papel na difusão da mensagem de Fátima”.
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 101
Vida Eclesial
Durante o ano de 2007, foram entregues ao Santuário de Fátima 210.133 mensagens dedicadas a Nossa Senhora de Fátima. As mensagens chegam de diversas
formas: via Internet, para o endereço de correio electrónico [email protected], por correio, entregues nas recepções e outros locais de atendimento
ao público do Santuário ou colocadas directamente na Capelinha das Aparições.
Apenas as que são deixadas directamente na Capelinha não são lidas. As outras são
entregues às religiosas responsáveis, que as levam até à Capelinha para que sejam
colocadas junto da peanha onde está a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Quando
é solicitada ou quando se entende que a pessoa necessita de uma palavra é enviada
uma mensagem resposta. Em termos de idiomas, a maioria das mensagens é escrita
em Inglês, logo seguidas daquelas que são escritas em Português.
. Santuário de Fátima .
Igreja da Santíssima Trindade recebe Prémio Secil
O Prémio Secil de Engenharia Civil 2007, promovido pela Secil – Companhia
Geral de Cal e Cimento, SA e pela Ordem dos Engenheiros, foi atribuído à Igreja
da Santíssima Trindade, em Fátima, com projecto de estrutura do Engenheiro José
Fonseca da Mota Freitas, no âmbito da empresa de projectos ETEC Lda.
II Encontro de Reitores de Santuários de Portugal
Nos dias 14 e 15 de Janeiro de 2008 decorreu na Casa de Nossa Senhora do
Carmo, no Santuário de Fátima, o II Encontro de Reitores de Santuários de Portugal.
Participaram reitores ou responsáveis de 29 santuários de doze dioceses portuguesas, com o objectivo comum de reflectir sobre “a pastoral dos santuários em Portugal
e a sua relação com a vivência da fé na Igreja”.
Foram estas as principais conclusões:
1 - A pastoral dos santuários tem uma importância cada vez maior na fé das pessoas e na vida da Igreja.
2 – Com a criação de uma rede de santuários, os santuários de Portugal poderão
servir melhor os fiéis e a própria Igreja:
a) Em termos práticos, para a constituição desta rede, os reitores acordaram na
criação da Associação de Santuários de Portugal, como entidade que estabelecerá laços de comunhão para uma pastoral em comum, que tenha em vista a reflexão sobre
a evangelização e, também, sobre temas relacionados com os aspectos organizacionais e com os desafios que se colocam, no seu conjunto, aos santuários em Portugal.
É propósito da Comissão criada para a constituição da Associação, estudar os Estatutos, a apresentar a todo o grupo de santuários, e o estabelecimento de contactos
com os bispos das dioceses de Portugal e com a Conferência Episcopal Portuguesa,
em ordem ao fortalecimento desta rede;
b) Outro aspecto prático a desenvolver até ao próximo encontro é a criação da
página oficial da Associação dos Santuários de Portugal na Internet, que se propõe
ser um local privilegiado para os santuários portugueses se darem a conhecer. Nesta
página, cada santuário, apresentará os principais aspectos que o identificam: localização, história e espiritualidade, fotografias e festas principais.
3 – O III Encontro dos Santuários de Portugal ficou agendado para 12 e 13 de
Janeiro de 2009, no Santuário de Fátima. De entre os vários propostos, os reitores
escolheram “O Santuário como lugar de celebrações culturais”, como tema para o
próximo encontro.
102 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. Santuário de Fátima .
VI Bênção do Ciclista
Numa organização da União de Ciclismo de Leiria, mais de cinco mil ciclistas,
vindos um pouco de todo o Portugal Continental, peregrinaram a Fátima, a 27 de Janeiro de 2008, para a que foi a VI Bênção do Ciclista. Presidiu à celebração o Bispo
Emérito de Leiria-Fátima, D. Serafim Ferreira e Silva, que saudando os presentes
evidenciou o valor da modalidade desportiva, que permite o contacto com a natureza
e também possibilita os momentos individuais de oração e de reflexão. No final da
Eucaristia desta peregrinação, a que D. Serafim chamou também de “momento de
compromisso e de promessa”, os ciclistas renovaram a consagração a Nossa Senhora
de Fátima, e o mesmo prelado benzeu as bicicletas e sobretudo, como afirmou, as
pessoas que as conduzem.
A 28 e 29 de Janeiro decorreu na Casa de Nossa Senhora do Carmo, no Santuário
de Fátima, a 27ª edição do Encontro de Guias-Intérpretes, iniciativa de âmbito nacional e anual, organizada por uma comissão de guias e pelo Serviço de Peregrinos
do Santuário.
Teresa Torres, guia desde 1981, explica que o tema proposto, “Os Jesuítas”, vem
ao encontro dos pedidos feitos por colegas desde há muitos anos, “sendo muito importante no discurso de um guia, onde quer que ele se encontre em Portugal, e muito
rico, polémico e interessante”. Os guias tinham já abordado em anos anteriores os
Carmelitas, os Dominicanos e os Agostinhos. Este ano juntaram o 150º aniversário
das aparições de Lurdes, Santo Inácio de Loyola e São Francisco Javier, como referências.
O encontro reuniu uma centena de pessoas, o que, segundo a organização, justifica a continuidade da iniciativa. Teresa Torres sublinha, para além do trabalho efectuado, a amizade que se gera: “É uma ocasião de belos momentos de enriquecimento
cultural, pessoal, profissional e espiritual, que favorece o convívio entre profissionais que, devido à natureza da sua profissão, raramente se encontram”.
Encontro de Hoteleiros e Responsáveis de Casas Religiosas
Conhecimento mútuo e aprofundamento de laços de amizade é o mote da realização anual do Encontro de Hoteleiros e Responsáveis de Casas Religiosas que
acolhem peregrinos, uma organização do Santuário de Fátima, através do Serviço de
Peregrinos, que tem contado com grande interesse e participação de todos.
O encontro deste ano, na 30ª edição, realizou-se a 7 de Fevereiro, com a Eucaristia, na Capelinha das Aparições, e uma sessão de trabalho, na Casa de Nossa Se| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 103
Vida Eclesial
Guias-intérpretes estudam os Jesuítas
. Santuário de Fátima .
nhora das Dores, com a participação do reitor do Santuário, do presidente da Câmara
Municipal de Ourém, do presidente da Junta de Freguesia de Fátima, do presidente
da Sociedade de Reabilitação Urbana da Cova da Iria, e do presidente da Região de
Turismo de Leiria-Fátima. No final, o momento de confraternização teve lugar em
Boleiros, com um jantar oferecido pelo Complexo Turístico D. Nuno.
Livro de “Meditações do Ano da Misericórdia”
De Outubro de 2006 a Outubro de 2007, viveu-se em Fátima o “Ano da Misericórdia do Senhor”, que deu enquadramento à preparação e celebração do 90º
aniversário das Aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria. Nas palavras do Bispo
da diocese de Leiria-Fátima, foi um ano em que se procurou “redescobrir a beleza e
a profundidade da Misericórdia Divina”
O livro “Graça e Misericórdia”, editado pelo Santuário de Fátima em Março de
2008, perpetuará alguns dos muitos momentos de oração e de reflexão que tiveram
lugar neste período. A publicação é enriquecida com outros textos, nomeadamente
com as palavras que o Papa Bento XVI dirigiu aos peregrinos e ao Santuário de
Fátima em datas mais significativas e por ocasião da nomeação dos seus Legados
às celebrações de Maio e de Outubro de 2007. “O livro, recolhendo as meditações
e as homilias dos presidentes das vigílias e das Peregrinações Aniversárias do Ano
da Misericórdia do Senhor, oferece excelentes oportunidades para, no dizer da Irmã
Lúcia, «saborear os segredos do amor de Deus» e «cantar as grandezas da sua misericórdia»”, explica o padre Armindo Janeiro, coordenador da edição.
A propósito do título, D. António Marto recorda que “«Graça e Misericórdia» –
as duas grandes palavras que Lúcia leu como comentário à visão da Trindade, podem
bem sintetizar toda a Mensagem de Fátima como manifestação do Deus compassivo
que se inclina sobre o mundo do século XX, então mergulhado no ódio e na guerra,
e sobre o sofrimento humano de milhões de pessoas para lhes fazer sentir o poder da
Sua misericórdia”. O prelado salienta ainda, no prefácio, que “a mensagem da Misericórdia Divina, de que Maria se fez mensageira em Fátima, foi um apoio especial
e fonte de fortaleza e esperança para a Igreja e para o mundo face aos dramas e às
tragédias do século XX. Esta mensagem é hoje mais necessária que nunca como nos
confirmam os acontecimentos mundiais de cada dia. Ela promove a paz no mundo,
entre os povos e entre as religiões”.
Padre Virgílio Antunes será o novo reitor
Terminado o mandato do actual reitor, monsenhor Luciano Guerra, o Bispo de
Leiria-Fátima, D. António Marto, apresentou ao Conselho Nacional do Santuário de
Fátima o nome do padre Virgílio do Nascimento Antunes para assumir esta função,
104 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
cuja indigitação foi aprovada pela Assembleia Plenária da Conferência Episcopal
Portuguesa, em Abril deste ano. O novo reitor tomará posse no início do próximo
ano pastoral, para um mandato de cinco anos.
Virgílio Antunes, de 46 anos de idade, é natural de São Mamede, paróquia da
Batalha, e presbítero da diocese de Leiria-Fátima. Frequentou o Seminário Menor
de Leiria e fez o Curso Filosófico-Teológico no Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra.
Após ter completado os estudos, fez estágio pastoral nas paróquias de Marinha
Grande e Milagres, em 1984 e 1985. Durante este tempo leccionou a disciplina de
Educação Moral e Religiosa Católica na Escola Preparatória da Marinha Grande.
Depois da ordenação sacerdotal, em 1985, prestou serviço pastoral nas paróquias
da Barreira e Cortes, até 1992.
De 1985 a 1992 foi formador no Seminário Diocesano de Leiria, membro do Secretariado Diocesano da Pastoral Vocacional e director do Pré-Seminário, tendo sido
o responsável pela sua instituição e estruturação inicial, em 1988. Durante estes anos
leccionou no ensino secundário as disciplinas de Religião, Português e História.
De 1992 a 1996 realizou estudos de especialização em ciências bíblicas, no
Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica de Jerusalém, e obteve o mestrado e
licenciatura canónica em Exegese Bíblica. A sua investigação de especialização foi
sobre o Evangelho de São Lucas.
Regressado à diocese de Leiria-Fátima, em 1996, foi nomeado reitor do Seminário Diocesano de Leiria, funções que desempenhou até 2005. Durante estes anos
implementou e desenvolveu o “Ano Propedêutico” para candidatos ao sacerdócio
de diversas dioceses do País e assumiu diversas tarefas no campo da formação de
seminaristas em várias dioceses, através de cursos, conferências e retiros.
Entre 1985 e 1992, escreveu para o Diário de Leiria, durante 70 edições, uma
coluna semanal sobre a Palavra de Deus. No jornal A Voz do Domingo escreveu
durante 30 edições um artigo sobre temática vocacional. De 2000 a 2005 foi director
do jornal semanário O Mensageiro, onde publicava semanalmente a coluna editorial.
Desde que se encontra ao serviço do Santuário de Fátima, tem colaborado regularmente no seu órgão oficial, A Voz da Fátima.
Ao longo dos anos do seu ministério sacerdotal acompanhou continuamente equipas
de casais, integrou o Conselho Pastoral Diocesano, o Conselho Económico, a Comissão
para a Formação Permanente do Clero e foi secretário do Conselho Presbiteral.
No campo académico, tem exercido funções docentes na área da teologia bíblica,
da língua grega e da língua e cultura hebraicas. É docente, desde 1996, no Instituto
Superior de Estudos Teológicos de Coimbra, onde integra a direcção. Exerce ainda funções de docência no Centro de Formação e Cultura de Leiria, no Seminário
Diocesano de Leiria e, ocasionalmente, na Universidade Católica Portuguesa. Tem
proferido diversas conferências na área da sua especialidade em cursos, seminários
e jornadas.
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Vida Eclesial
. Santuário de Fátima .
. Santuário de Fátima .
Colaborou na nova edição da Bíblia dos Capuchinhos, traduzindo do original
grego e comentando a Carta aos Hebreus. Publicou alguns artigos de especialidade:
“Jesus e o dom do Espírito” (Communio), “A Criação na Bíblia” (Dabar), “O Inferno na Mensagem de Fátima” (Publicações do CFC), “Seminário, casa e escola de
comunhão” (Actas do Simpósio do Clero). Nos últimos anos tem elaborado os temas
de estudo para o Boletim da Mensagem de Fátima.
Actualmente, é docente universitário, Juiz do Tribunal Eclesiástico, desde o ano
2000, delegado episcopal para o Diaconado Permanente, desde 2005, membro do
Colégio de Consultores e Capelão no Santuário de Fátima, onde desempenha as funções de director do Serviço de Peregrinos e do Serviço de Alojamentos, e membro
do Serviço de Ambiente e Construções, membro do Conselho de Administração e
membro do Conselho de Gestão Financeira.
“Via Lucis” na igreja da Santíssima Trindade
No dia 2 de Junho foi inaugurada na zona da Reconciliação da igreja da Santíssima Trindade, em Fátima, uma “Via Lucis” (Caminho da Luz), composta por 14 quadros que representam o mistério do Ressuscitado, desde o momento da Ressurreição
até ao envio dos discípulos e vinda do Espírito Santo.
A obra foi oferecida pelo grupo católico de leigos de Itália, “Testemunhas do
Ressuscitado”, e é da autoria do artista italiano, Vanni Rinaldi. Nascido em Soverato, no ano de 1937, este pintor, incisor, desenhador e ilustrador vive e trabalha em
Roma, desde 1950, onde iniciou a sua carreira, em 1968, na “Biennale d’Arte”.
A celebração teve início na basílica do Santuário de Fátima, com a Eucaristia
presidida por D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, que apresentou a ressurreição de Jesus como “uma novidade humanamente impossível e a grande alegria do
Evangelho, que veio mudar para sempre a humanidade, pois a partir dela é um novo
tempo que começa para os homens”.
106 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. serviços e movimentos .
Centro de Apoio ao Ensino Superior
Regressaram ao final da manhã de 24 de Março, segunda-feira de Páscoa, os 44
participantes na Peregrinação a Taizé, organizada pelo Centro de Apoio ao Ensino
Superior (CAES) e apoiada pela Pastoral Juvenil da Diocese. Tinham partido no sábado, 15 de Março, depois da celebração de envio na igreja do Seminário de Leiria, e
chegado a Taizé ao final da manhã de Domingo de Ramos, exaustos, mas carregados
de expectativas: cerca de metade do grupo participava pela primeira vez.
A vivência da semana foi ritmada pelos momentos fortes de oração (manhã, meio
dia e noite), pela reflexão e partilha em grupo e pelo trabalho, pois todas as tarefas
ligadas à gestão da vida comunitária, da preparação das refeições à limpeza e manutenção dos espaços, são garantidas pelo serviço voluntário dos participantes.
No regresso, para lá do cansaço, fica a alegria que todos puderam experimentar
ao longo da semana, a riqueza da vivência da fé junto a jovens de outras confissões
e culturas, e as dinâmicas de oração e reflexão comunitária e pessoal.
Bênção dos finalistas de 2008
O aumento do número de finalistas nas Escolas Superiores de Leiria, decorrente
da aplicação do processo de Bolonha, obrigou a organização a pensar em duas celebrações: a 17 de Março para a Escola Superior de Artes e Design, Escola Superior
de Educação e Instituto Superior de Línguas e Administração; a 31 de Março para a
Escola Superior de Saúde e Escola Superior de Tecnologia e Gestão.
O espaço da Sé encheu-se pelas duas vezes com largas centenas de estudantes e
seus familiares e amigos.
D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, invocou a bênção de Deus para todos
na esperança de virem a concretizar na vida pessoal e ao serviço da sociedade o que
foram preparando durante a vida académica.
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Vida Eclesial
Peregrinação a Taizé: Voltaram felizes…
. serviços e movimentos .
Centro de Formação e cultura
Início do segundo semestre
No dia 11 de Fevereiro iniciou-se o 2º semestre no Centro de Formação e Cultura
da diocese de Leiria-Fátima, com os novos cursos:
No Seminário de Leiria, às segundas-feiras, das 19h00 às 21h00: Dom e Mistério. Itinerário para aprofundar a vocação e as vocações – Dr. Luís Miranda; 21h00 às
23h00: Encontros com o P. António Vieira – Dra. Maria Augusta Macedo. Quartasfeiras das 21h00 às 23h00: Introdução à Ética Teológica com Doutor Vítor Coutinho.
Quintas-feiras: das 21h00 às 23h00: Teologia Pastoral – Dr. Adelino Guarda
Na paróquia de Ourém (Nª. Sr.ª da Piedade), às segundas-feiras das 21h00 às
23h00: O agir moral cristão - Doutor Vítor Coutinho.
No Centro Paroquial da Marinha Grande às sextas-feiras das 21h00 às23h00:
Nascer. Viver. Morrer... Introdução à Bioética - Doutor Vítor Coutinho.
Escola Diocesana Razões da Esperança
Recomeçou no dia 12 de Fevereiro o percurso académico da Escola Diocesana
Razões da Esperança, com as disciplinas “Perspectivas do Novo Testamento” e
“Deus e o Homem”, ministradas das 21h00 às 21h50. Das 22h00 às 23h00, funcionarão os grupos em separado, assim distribuídos: Curso Geral de Catequese, Curso
de Iniciação, Curso de Coordenadores, Os ministérios na liturgia, A Palavra e o Tempo – Lectio divina do Evangelho do Domingo, Grupo do CNE, Grupo Missionário
Ondjoyetu e Linguagens da Esperança – Leituras da Spes Salvi.
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. serviços e movimentos .
Semana Nacional da Cáritas
Solidariedade na primeira linha
Pode sempre questionar-se o alcance prático de um dia ou semana de uma qualquer causa, sabendo-se que muitos destes dias são de imediato submergidos uns
pelos outros, não escapando, na maior parte, a uma indiferença comum. O facto de
não ser mensurável o que fica, não diminui a importância de, ao menos uma vez em
cada ano, levar ao espaço público a proposta de um humanismo novo, alicerçado na
justiça e na solidariedade, capaz de interpelar consciências, desafiar indiferenças e
suscitar comportamentos e práticas que exprimam o reconhecimento da igual dignidade de todos os seres humanos.
Parecem princípios e valores teóricos; mas ganham gritante visibilidade nos rostos de centenas de milhões de homens e mulheres, em todo o mundo e também ao
pé de nós, se nos dispusermos a alargar o olhar para lá da estreiteza dos interesses
e horizontes pessoais. Acentuam-se as desigualdades, acumulam-se nas mãos de
poucos a riqueza produzida e continua a reproduzir-se sem descontinuidade uma
pobreza endémica, com as maiores vítimas entre as pessoas idosas, as crianças sem
futuro, os desempregados, os imigrantes explorados, as pessoas afectadas por desequilíbrios do foro psíquico, as famílias monoparentais, quantos e quantas a subsistir
em condições de extrema precariedade.
Não custa reconhecer que os sucessivos dias da Cáritas contribuem também,
à sua medida, para o desenvolvimento da consciência individual e colectiva destes problemas, e despertam para a solicitude activa, para com este cada vez mais
alongado cortejo de empobrecidos e marginalizados. Estimulam para sentimentos
e práticas de humanização solidária e fazem muitas pessoas abrirem-se em gestos
de entreajuda, e reconhecerem-se também, individualmente ou em associação com
outros, como parte da solução dos problemas.
As acções que a Cáritas preparou, entre 16 e 24 do mês de Fevereiro, respondem
a necessidades concretas, seja das famílias, dos cidadãos em geral ou das pessoas
mais fragilizadas; mas também propõem a todos o descentramento dos interesses
pessoais, convidando a abrir o coração e o olhar às necessidades de outros.
A Cáritas não se assume como central de distribuição de bens materiais nem
como solução para todos os problemas humanos. Mas também não pode entender-se
apenas como gabinete de estudos, para elaboração de estatísticas ou diagnósticos,
e levantamento de necessidades, por importantes que sejam. Porque os pobres têm
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Vida Eclesial
Por Ambrósio Santos
. serviços e movimentos .
rosto e nome e são concretas as suas necessidades, não pode refugiar-se em idealismos estéreis ou em retórica inútil e vazia.
Para se organizar, para promover e ser escola de valores, para realizar gestos
concretos de ajuda nas necessidades maiores, a Cáritas não pode deixar de dispor de
alguns bens materiais. É espaço de gratuidade voluntária, não pesando um cêntimo
ao orçamento público. Por isso, todos os anos, por esta ocasião, leva às cidades, vilas
e aldeias da diocese, o chamado “peditório público”, como proposta de partilha do
que sobra ou porventura faz falta, para que a outros não falte tanto. E agradece a
participação de todos e de cada um, bem como o acolhimento alegre e compreensivo
com que vão continuar a ser recebidos os seus colaboradores/as. Diferentes na capacidade de repartir, sejamos iguais no mesmo afecto do coração.
A partilha de bens constitui um exercício de cidadania activa de quem livremente
se assume solidário com todos os membros da família humana. E para os discípulos
de Jesus, como para todas as pessoas de boa vontade, constitui também uma fonte
de bem-estar interior, como salienta Bento XVI na mensagem para esta Quaresma:
“todas as vezes que, por amor de Deus, partilhamos os nossos bens com o próximo
necessitado, experimentamos que a plenitude da vida provém do amor, e tudo nos
retorna como bênção, sob a forma de paz, satisfação interior e alegria.
No programa deste ano, realizou-se, no dia 16, no auditório do Instituto Português
da Juventude, em Leiria, uma jornada de formação para cuidadores de doentes de
Alzheimer. Com cerca de 200 participantes, visou proporcionar o desenvolvimento de
competências dos cuidadores (nas famílias ou em instituições), por forma a conseguir
que o façam com o máximo de eficácia para o bem estar dos doentes, e com o mínimo
de desgaste para si próprios. No dia 17, o Dr. Luciano Guerra, reitor do Santuário de
Fátima, proferiu uma conferência sobre o tema “Aceitar as diferenças – desafios da
liberdade”. A conferência foi apresentada no XI Encontro Anual de colaboradores da
Cáritas, no salão do Centro Paroquial Paulo VI, em Leiria, e destinou-se aos grupos paroquiais, voluntários e colaboradores da Cáritas, bem como às pessoas que desejaram
melhorar o seu conhecimento e formação. E no dia 19 de Fevereiro, nos Bombeiros
Municipais de Leiria, efectuou-se uma sessão de recolha de sangue.
O peditório público decorreu de 21 a 24 de Fevereiro, nas ruas e nas superfícies
comerciais. No dia 24 de Fevereiro, as comunidades cristãs da diocese destinaram
à Caritas as ofertas dos fiéis durante as celebrações da missa dominical. Na cidade
de Leiria, uma parte substancial destas ofertas foi endereçada ao Centro de Acolhimento de Leiria.
Colégio de Monte Redondo ajuda Cáritas
“Quando, por amor, se reparte com os necessitados, tudo nos retorna sob a forma de bênção, de satisfação interior, de alegria e de paz”. Esta frase da mensagem
de Bento XVI para a Quaresma constitui uma versão erudita da expressão popular
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“quando se dá com uma mão, recebe-se com as duas”.
Era legítima a satisfação do grupo de professores e estudantes do Colégio Dr.
Luís Pereira da Costa, de Monte Redondo que, no dia 13 de Março, em representação de toda a comunidade educativa, se deslocaram à sede da Cáritas, em Leiria.
Na bagagem traziam a expressão de uma campanha de solidariedade desenvolvida
naquele Colégio, um lote de equipamentos reveladores da apurada sensibilidade
social que presidiu à sua selecção e cuja originalidade e oportunidade o presidente
da Cáritas não deixou de salientar: as duas camas articuladas e a cadeira de rodas
respondem a necessidades muito concretas dos actuais condicionalismos sociais e
demográficos, acrescentando capacidade de resposta a tantas famílias que solicitam
ajuda nesta área.
Ambrósio Santos teve ainda palavras de agradecimento para toda a comunidade
educativa daquela escola, a quem felicitou também pela criteriosa orientação que
imprimiu à campanha: “Embora devam ser sempre apreciadas as iniciativas que visem dinamizar as comunidades para a solidariedade para com os mais necessitados,
é preciso fazê-lo também com racionalidade e inteligência, como foi o caso, para que
os bens recolhidos correspondam às necessidades mais sentidas, numa sociedade em
mudança permanente.”
Como em tudo na vida, muitas vezes não chega a boa vontade. A solidariedade e
a ajuda necessitam também de organização e acção esclarecida porque o bem também precisa de ser bem feito. Foi assim em Monte Redondo, com os mais novos.
Estão de parabéns professores, estudantes, auxiliares e pais. Boas férias e uma santa
Páscoa para todos.
“Deus Caritas Est” em análise na vigararia da Batalha
Cerca de quarenta pessoas da Vigaria da Batalha juntaram-se aos seus párocos, no
salão paroquial do Juncal, nos dias 17 e 18 de Abril, para uma reflexão sobre a preciosa
encíclica com que Bento XVI quis iniciar o seu pontificado: “Deus Caritas Est”.
Numa organização conjunta daquela vigararia e da Cáritas Diocesana de Leiria, os
dois encontros foram orientados por Carlos Neves, da Cáritas de Coimbra. A preparação humana e teológica do apresentador, a experiência pastoral de contacto diário com
os grupos sócio-caritativos da sua diocese, aliados a uma capacidade de comunicação
invulgar, abriram os participantes para a descoberta de um documento extraordinário
que, não sendo fácil de digerir na sua profundidade, constitui uma enorme interpelação
a toda a Igreja e merece uma atenção que ainda não encontrou.
No final, os participantes exprimiram satisfação e os párocos destacaram a
oportunidade da iniciativa e sugeriram a sua continuidade com aprofundamento de
matérias que, de outro modo, ficarão esquecidas ou nunca chegarão a ser conhecidas
e exploradas.
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Vida Eclesial
. serviços e movimentos .
. serviços e movimentos .
Serviço Pastoral das Prisões
Nas prisões… “A Caminho de Emaús”
No domingo, 30 de Março de 2008, nos Estabelecimentos Prisionais de Leiria,
celebrou-se a Festa da Páscoa que, além dos reclusos e seu Capelão, envolveu vários
grupos de jovens e os visitadores, “Os Samaritanos”.
De manhã, no Estabelecimento Prisional de Leiria, alguns reclusos participaram
na Eucaristia presidida pelo Capelão e animada pelos Jovens das Colmeias.
No final da celebração, Joaquim Carrasqueiro de Sousa, presidente da direcção
de “Os Samaritanos”, orientou os vários grupos que iriam visitar os reclusos nos
pavilhões: Grupo de Jovens das Colmeias, Grupo da JUFRA Franciscana de Leiria,
Grupo Missionário Ondjoyetu, e Escuteiros da Marinha Grande, Maceira, Pataias,
Fátima e Pousos.
Após a saudação, uma explicação e alguns cânticos, a desconfiança desfazia-se
e o responsável propunha um jogo: depois da leitura do episódio dos Discípulos de
Emaús (Lc 24, 13-35), cada equipa responderia a cinco questões, com palavras, mímica e desenho. Uma resposta certa permitia avançar uma casa no tabuleiro colocado em cima da mesa, até chegar à meta. O prémio, mesmo que aplaudido, ficou para
segundo plano e sobressaía a alegre surpresa dos discípulos que, na manhã de Páscoa, identificaram o Senhor ressuscitado. Como se afirmava num postal em banda
desenhada, a mesma alegria estende-se a quantos acreditam. Por isso, as tradicionais
amêndoas tiveram o sabor de jubiloso brinde.
Depois da despedida aos reclusos, os grupos não debandaram sem antes procederem uma breve avaliação que se soldou pela grande satisfação dos sorrisos obtidos.
De tarde, a mesma dinâmica iria repetir-se no Estabelecimento Prisional e Regional de Leiria, primeiro na zona feminina, e depois na masculina.
Os voluntários sentiram, mais uma vez, que o amor vence todos os receios e que
o Espírito do Senhor não cessa de impelir à partilha da alegre descoberta dos discípulos: “Ele ressuscitou verdadeiramente!”
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. serviços e movimentos .
Comissão Diocesana Justiça e Paz - Ciclo de Colóquios
A Comissão Diocesana Justiça e Paz (CDJP) da Diocese de Leiria-Fátima iniciou em
Janeiro de 2008 um ciclo de colóquios sobre o tema dos direitos fundamentais, em várias
vertentes da sociedade portuguesa – e particularmente da nossa diocese –, detectando os
seus principais problemas e ponderando soluções, à luz da Constituição de República, da
Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Doutrina Social da Igreja.
Os colóquios serão organizados ao longo de dois anos, contando com a colaboração de especialistas nos diversos domínios, nos planos nacional e local. Segundo
Tomás Oliveira Dias, da CDJP, “a Constituição proclama na sua Parte I uma extensa
enumeração dos direitos e deveres fundamentais e interessa averiguar, no essencial,
em que medida estão a ser respeitados; por sua vez, a Constituição remete expressamente para a Declaração Universal dos Direitos do Homem, que defende a dignidade
da pessoa humana em todos os aspectos e que, assim, há que ter também em conta;
finalmente, a Doutrina Social da Igreja, sobretudo nas encíclicas dos últimos papas
e nos diversos documentos do Concílio Vaticano II, tem tomado posições claras em
matéria dos direitos humanos, denunciando situações atentatórias e chamando a
atenção para a complementaridade dos direitos e deveres, constituindo um imenso
repositório de estudos envolvendo o apontar de soluções para a problemática social
do nosso tempo, que interessa ter presente”.
Não ignorando a vastidão do tema dos direitos humanos, propuseram-se alguns
que ajudassem a chamar a atenção dos cristãos – particularmente dos empenhados
em temas de carácter social – e de todos os que estejam abertos ao aprofundamento
das questões sociais em foco na sociedade portuguesa, para as seguintes questões:
Pobreza e Direitos Humanos; Desemprego e Direito ao Trabalho; Solidariedade e
Segurança Social; Direito à protecção e Saúde; Direito à Habitação, Ambiente e Qualidade de Vida; Estado e Direitos da Família; Direito à Educação, Cultura e Ciência;
Liberdade Religiosa.
1º colóquio
O primeiro colóquio, com o tema “Direitos Humanos e Doutrina Social da Igreja”, realizou-se no dia 17 de Janeiro, no Seminário de Leiria, e teve como convidado
o professor Marcelo Rebelo de Sousa.
O orador elogiou o esforço diplomático da Igreja Católica na defesa dos direitos
humanos e destacou também a atenção da hierarquia e de Bento XVI às mudanças
sociais em Portugal. Lembrando o trabalho dos últimos Papas nas Nações Unidas,
“envolvidos em todas as questões diplomáticas sensíveis”, recordou a posição da
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Vida Eclesial
“Direitos Humanos e Realidades Actuais”
. serviços e movimentos .
Santa Sé no apoio à solução de problemas mundiais como os que atingem a África,
o Médio Oriente, a Palestina ou a América Latina, muitas vezes em oposição aos
Estados Unidos e os próprios países europeus, e destacou o papel da Doutrina Social
da Igreja. No seu entender, a doutrina da Igreja choca as pessoas por falar do respeito dos direitos humanos não apenas na letra mas também no espírito e apostar em
mudanças sociais a longo prazo. Lamentando a excessiva laicização da sociedade,
que “prejudica a afirmação da liberdade religiosa de cada indivíduo na sociedade”,
defendeu que “todo o cristão tem o direito de denunciar o que considera negativo
na sociedade, mesmo que existam ‘modismos’ na sociedade ateia e na comunicação
social, marcados pelo amoralismo e relativismo dos valores”.
2º colóquio
Realizado no dia 17 de Abril, sobre “Quem são os pobres hoje”, o segundo colóquio teve como convidados a Dra. Mavíldia Frazão, assistente social, e o Prof.
Carlos Farinha Rodrigues, reconhecido especialista em matérias económicas e sociais, com referência especial ao problema da pobreza. A Dra. Mavíldia referiu-se à
situação social da área da diocese, em termos de pobreza, enquanto o Prof. Carlos
Farinha salientou, num conspecto nacional, que “um dos principais motores de desigualdade em Portugal continua a ser a desigualdade salarial”, não deixando, por
isso, de denunciar o desmesurado aumento dos salários mais elevados que se tem
verificado. Autor de diversos estudos publicados sobre a matéria, apontou ainda que
“há uma forte discriminação a nível salarial devido ao nível educacional”. E acrescentou que “Portugal só conseguirá reduzir a desigualdade e a pobreza, apostando
fortemente na educação”.
3º colóquio
O 3º colóquio deste ciclo, a 20 de Junho, versou sobre “Desemprego e Direito ao
Trabalho”, assunto actual e candente na sociedade portuguesa, que toca a todos, trabalhadores, patrões e simples cidadãos. Apesar de uma pequena redução, o desemprego
mantém-se muito alto, atingindo mais de 400.000 portugueses, e torna-se dramático
por ser para muitos igual a pobreza tanto do trabalhador como da sua família.
A Doutrina Social da Igreja tem-se debruçado largamente sobre a matéria e classifica o desemprego como uma “verdadeira calamidade social”. A Constituição da
República Portuguesa proclama a segurança no emprego, proíbe os despedimentos
sem justa causa e afirma o direito de todos ao trabalho. Não obstante, o trabalho
precário generaliza-se e adensam-se as preocupações sobre uma maior facilidade de
despedimentos no novo Código do Trabalho.
Para a explanação desta temática e tendo também em conta a situação na nossa
região, e em particular da nossa diocese, foram convidados dois reputados especialistas: Dr. Acácio Catarino, sociólogo e especialista em matéria de emprego e
formação profissional, que foi Secretário de Estado da População e Emprego e con114 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. serviços e movimentos .
São várias as causas do desemprego. Entre as fundamentais, sobressaem três: o insuficiente crescimento económico; desajustamentos vários; e a conflitualidade permanente.
Sendo insuficiente o crescimento económico, não se criam os empregos necessários para
quem os procura. Os desajustamentos verificam-se a nível quantitativo e noutras dimensões,
tais como: - entre o local de residência e o de trabalho; entre as profissões ou níveis de qualificação de quem procura emprego e os exigidos para os postos de trabalho disponíveis; entre
as remunerações e outras condições de trabalho procuradas e as oferecidas; entre a vocação
pessoal e as oportunidades de trabalho; entre a necessidade de trabalhar e a vontade de dedicação a outros tipos de actividade... A conflitualidade permanente, visível ou oculta, aparece
como causa do desemprego, na medida em que acentua as divergências entre os trabalhadores e os empregadores, reduzindo a disponibilidade destes para oferecerem empregos e a
daqueles para aceitarem os que vão surgindo.
Verificam-se, pelos menos, cinco patamares de conflitualidade, visíveis ou invisíveis: - o
primeiro, mais reconhecido como tal, traduz-se em manifestações contestatárias da insuficiência de empregos e da sua baixa qualidade; o segundo consiste no esforço empresarial de
aumento da produtividade, com diminuição do número de postos de trabalho para o mesmo
nível de produção; o terceiro reveste a forma de deslocalização de actividades produtivas
para outros territórios, deixando no desemprego os respectivos trabalhadores; o quarto
respeita a outros despedimentos; o quinto corresponde ao desinvestimento nas actividades
económicas, transferindo-se os respectivos recursos para aplicações financeiras, porventura
especulativas, que não geram emprego. Muitas vezes, esta conflitualidade parece resultar da
evolução económica normal; no entanto, insere-se num processo histórico, algo hostil, de
eliminação de postos de trabalho.
Face a tal processo, as organizações representativas dos trabalhadores e outras entidades preocupadas com o desemprego têm, fundamentalmente, dois caminhos à sua frente: - ou
a contestação sistemática ou a procura dos entendimentos possíveis. O primeiro caminho
provoca a intensificação de comportamentos empresariais desfavoráveis ao emprego, sendo
vistos os trabalhadores como inimigos; o segundo pode atenuar estes comportamentos e, porventura, contribuir para se desenvolverem hipóteses de criação sustentável de emprego. Pode
também favorecer a sustentabilidade do crescimento económico e contribuir para a procura
dos ajustamentos possíveis entre os trabalhadores e os postos de trabalho.
Os defensores da contestação sistemática já deixaram, há muito, de atingir o
seu suposto alvo prioritário - o «grande capital»; na verdade, este já se pôs a salvo
de pressões laborais, especialmente pelo recurso à deslocação dos seus empreendimentos produtivos para países onde não exista contestação, ou transformando os
seus activos em aplicações financeiras, altamente lucrativas, que funcionam com
muito poucos, e até com nenhuns, postos de trabalho. Por tal motivo, dir-se-á que
tudo aconselha à prática do diálogo social e da negociação colectiva, lutando pela
viabilidade efectiva dos postos de trabalho, qualquer que seja o sistema económico
existente ou idealizado.
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Vida Eclesial
sultor do Presidente da República. Eduardo Silva, presidente da Junta da Freguesia
de Gaeiras e membro da Assembleia Municipal de Óbidos, que foi Director de vários
Centros de Emprego inclusive do de Leiria.
O Dr. Acácio Catarino, deixou o seguinte resumo da sua intervenção:
. serviços e movimentos .
Serviço Diocesano de Catequese
Encontro Interdiocesano de Catequistas
“Como anunciar Jesus Cristo aos adolescentes?” foi a questão central do
Encontro Interdiocesano de Catequistas, que decorreu em Fátima, nos dias 2 e 3 de
Fevereiro. O encontro reuniu catequistas das cinco dioceses da zona centro (LeiriaFátima, Lisboa, Portalegre-Castelo Branco, Santarém e Setúbal), que durante dois
dias tiveram oportunidade de partilhar conhecimentos e experiências e reflectir e
rezar em conjunto.
Do programa salientamos a intervenção do padre Queirós (Vila Real) que
apresentou globalmente os conteúdos e métodos dos catecismos da adolescência
recentemente publicados, e a intervenção da Dra. Cristina Sá de Carvalho (UCP
Lisboa) sobre os comportamentos religiosos da adolescência. Os trabalhos práticos
de concretização de catequeses e o espaço de reflexão com uma mesa redonda sobre
o perfil do catequista para a adolescência actual completaram o programa.
Retiro diocesano de catequistas
O Serviço Diocesano de Catequese propôs mais uma vez a realização de um
retiro diocesano para catequistas. Realizou-se nos dias 22 a 24 de Fevereiro, no
Centro Catequético de Fátima, e foi orientado pelo padre Gonçalo Diniz, que
desenvolveu o tema “Testemunhas da Ternura de Deus”.
Festa dos Ramos
Ao longo das semanas da Quaresma, as crianças e adolescentes da catequese
fizeram a campanha subordinada ao tema “A Árvore da Vida”. A construção da
árvore não foi mais do que a construção ou desenvolvimento que cada um foi
fazendo, servindo-se, para tal, dos dons que Deus coloca no seu caminho para que
os acolha e faça crescer.
Um dos momentos altos da campanha foi a Festa dos Ramos. Aí, as crianças
da catequese apresentaram ao Senhor a caminhada feita, como agradecimento e
compromisso. Todas as crianças e adolescentes dos vários centros de catequese foram
convidados a “fazer festa com Jesus” e apresentarem a árvore que foram construindo
na sua sala de catequese. A festa foi integrada nas celebrações comunitárias, porque
toda a comunidade deve sentir os dons de Deus na sua vida e os deve acolher em si,
de modo que se transforme em acção no mundo.
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. serviços e movimentos .
Serviço Diocesano de Pastoral Litúrgica e Música Sacra
“Quem tiver notado em si mesmo esta espécie de centelha divina que é a vocação
artística – de poeta, escritor, pintor, escultor, arquitecto, músico, actor... – adverte
ao mesmo tempo a obrigação de não desperdiçar este talento, mas de o desenvolver
para colocá-lo ao serviço do próximo e de toda a humanidade. (...) A Igreja precisa
particularmente de quem saiba realizar tudo isto no plano literário e figurativo, trabalhando com as infinitas possibilidades das imagens e suas valências simbólicas.”
(João Paulo II, Carta aos Artistas).
“Recomenda-se também, para formar os artistas, a criação de Escolas ou Academias de Arte Sacra e de Sagrada Liturgia.” (Vaticano II, Constituição sobre A
Sagrada Liturgia, 127)
É querendo dar uma resposta sólida a estes apelos e aos do nosso Bispo, D. António Marto, a sermos verdadeiras Testemunhas da Ternura de Deus, e ainda tentando
responder às necessidades que se têm vindo a sentir por toda a Diocese que o Serviço
Diocesano da Pastoral Litúrgica e Música Sacra (SDPLMS) tem estado a programar
a criação de um curso de Música Litúrgica na Escola de Ministérios que possa dar
apoio e formação àqueles que vão desempenhando, como sabem e podem, um dos
ministérios mais importantes da vida litúrgica: o Ministério da Música.
Neste sentido, no dia 3 de Maio, o SDPLMS promoveu um encontro para todos
os que têm responsabilidades no Ministério da Música nas suas paróquias. O objectivo foi a partilha do que está a acontecer na vida musical litúrgica das paróquias,
procurando detectar necessidades, disponibilidades e interesses a que possa responder uma formação mais específica.
O Curso de Música Litúrgica propõe-se preparar litúrgica, espiritual e tecnicamente os agentes da música litúrgica, em sintonia com as orientações da Igreja, em
três departamentos: cantores, directores de coros e organistas, cada um com as respectivas cadeiras de tronco comum e específicas.
O Curso terá a duração de 3 anos e as condições gerais de admissão, nas variadas
vertentes, são: a) prova de bom ouvido e boa voz, para todos e, sobretudo, para os
Cantores; b) prova de formação musical, de média dificuldade, para todos; c) prova
de domínio de teclado para os organistas; d) prova de capacidade de direcção para
os directores de Coros; e) aceitação de regulamento do Curso que, por ser intensivo,
implica trabalho, disciplina e amor à causa.
Os Párocos, os Reitores ou Responsáveis das igrejas e os Superiores ou Superioras das Casas religiosas deverão apresentar à Direcção do Curso uma apresentação
escrita dos candidatos, com o compromisso do seu acompanhamento e integração
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Vida Eclesial
Curso de música litúrgica
. serviços e movimentos .
pastoral.
Haverá um número “clausus” de alunos: 40 Cantores, 30 Directores de Coros e
30 Organistas.
O Curso admitirá dois níveis: A e B cujos conteúdos e metodologia serão definidos pelos júris que fizerem as admissões dos candidatos.
O número de professores será de 13: dois de formação musical; dois Direcção
Coral; quatro de Órgão; dois de Canto; um de Liturgia; um de História da Salvação;
e um de História da Música Sacra.
Para que o Curso funcione bem, as condições logísticas serão alargadas, relativamente ao passado: mais departamentos, mais alunos, mais professores e mais
cadeiras.
Os anos lectivos iniciar-se-ão na segunda metade de Agosto de 2008, 2009 e
2010, e terminarão na segunda metade de Agosto de 2011. No final do Curso será
entregue um diploma.
O ano lectivo terá um perfil próprio: uma sessão de 12 dias completos de trabalho
intensivo, nos meses de Agosto, e duas sessões de trabalho com a duração de dois
dias, por altura do Natal e Páscoa, de 2008 a 2011.
A primeira sessão do próximo Curso começará no dia 18 de Agosto de 2008, às
10h00, e terminará no dia 30 com o almoço. Haverá um intervalo no fim-de-semana
desta sessão.
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. serviços e movimentos .
Departamento do Património Cultural
Dia Internacional dos Monumentos e Sítios
O ICOMOS (Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios) elegeu como
tema estruturante do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios de 2008 o tópico
“Património Religioso e Espaços Sagrados” com o objectivo de contribuir para o
reconhecimento, protecção e valorização dos edifícios e obras de arte religiosas,
bem como de todos os espaços investidos de valor sagrado pelas respectivas comunidades humanas.
A 18 de Abril, no Santuário de Nossa Senhora da Encarnação, em Leiria, o Departamento do Património Cultural da Diocese de Leiria-Fátima, aceitando o desafio
do ICOMOS, promoveu um momento cultural com o objectivo de chamar a atenção
para a importância do estudo e preservação dos Ex-votos existentes naquele santuário.
A sessão abriu com um concerto de música coral da responsabilidade do grupo
Adesba Chorus da Barreira, Leiria, regido pelo maestro Jorge Narciso e acompanhado ao órgão por Rita Pereira. Seguiu-se depois uma palestra do Padre Dr. Luciano
Cristino que apresentou exemplos de alguns ex-votos, que narram milagres atribuídos à intercessão de Nossa Senhora da Encarnação. O orador salientou o contributo
destes pequenos documentos para um estudo da época, em campos como o trajo, o
mobiliário e a arquitectura, para além do seu significado religioso.
A terminar, Rita Gameiro, autora de um trabalho de conservação e estudo de exvotos do Santuário de Nossa Senhora da Encarnação, no âmbito da sua licenciatura,
prestou diversos esclarecimentos guindo os presentes ao interior da sala adstrita à
igreja, onde se encontram expostos os referidos ex-votos.
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Vida Eclesial
Por Gonçalo Cardoso
. serviços e movimentos .
Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil
Festival da Canção Jovem
Normalmente, associa-se um festival da canção a um desfile de canções com
proclamação de uma vencedora. O que o Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil
realizou no passado dia 25 de Maio fugiu à regra sobretudo pela envolvência e o
espírito de grupo que se foram estabelecendo entre os participantes.
O dia nem começou muito bem. Num lapso, as condições climatéricas
desfavoráveis obrigaram a abandonar o jardim de Santo Agostinho, e a recorrer ao
Colégio da Cruz da Areia. Houve quem dissesse que a opção não tinha sido má, mas
chegou para aflições e ficou o travo de um dia sem sol.
Ainda se tomavam decisões e já os concorrentes se juntavam no seminário,
desde as 9h30, não para ensaios e aquecimento das vozes e instrumentos, mas para
um momento de convívio e oração. A animação da Eucaristia das 11h30, na igreja
do seminário, coube a todos e, com apenas 20 minutos de ensaio, todos estiveram
verdadeiramente à altura.
Após um almoço bem saboreado e convivido, passou-se ao festival propriamente
dito cujo início ia sendo retardado por infindáveis testes de som. O público
impacientava-se mas a equipa de animação ia conseguiu que todos fossem antes
sentindo a intensidade imprevista da preparação. O desfile das canções correu
dentro da normalidade mas com surpreendente empatia de todos os concorrentes
que não regateavam aplausos aos que se iam apresentando. Na segunda parte, depois
da participação dos seminaristas das dioceses do centro, em ambiente de enorme
expectativa, foram proclamados e aclamados os vencedores:
1º lugar: Acolhe (Animachorus; paróquia das Cortes)
2º lugar: Um grito de esperança (Paróquia de Albergaria do Doze)
3º lugar: Em busca da tua ternura (Grupo JPJ; paróquia das Colmeias)
Melhor letra: Um grito de esperança (Cândida Dias; paróquia de Alb. dos Doze)
Melhor música: Um grito de esperança (Paróquia de Albergaria do Doze)
Melhor interpretação: Acolhe (Animachorus; paróquia das Cortes)
Prémio auditório: Acolhe (Animachorus; paróquia das Cortes)
Prémio Ser: Acolhe (Animachorus; das Cortes)
120 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. serviços e movimentos .
Departamento de Pastoral Familiar
Conselho Diocesano da Família
O Departamento de Pastoral Familiar, com o seu Serviço de Pastoral da Família,
sabendo que só pode cumprir a sua missão contando com a acção das famílias em
favor das famílias, que define a autêntica pastoral familiar, tem procurado criar e
desenvolver laços de união e co-responsabilidade, nomeadamente com os Delegados
Paroquiais e os Movimentos. Mesmo não sendo perfeito, este esforço de partilha e
entreajuda foi evidenciando que a aproximação às famílias e suas realidades implica
formas ainda mais sólidas e constantes de cooperação aos níveis diocesano, vicarial
e paroquial. Impunha-se um novo passo.
Com a aprovação e incentivo do Senhor D. António Marto, Bispo da Diocese,
o Departamento procedeu à constituição do Conselho Diocesano da Família, no
qual têm assento casais representantes das vigarias e dos movimentos, e que foram
convidados a fazer o seu o seu compromisso na Eucaristia de encerramento do Dia
Diocesano da Família, no dia 18 de Maio.
O escasso número de Equipas Paroquiais de Pastoral Familiar e a sua
representação vicarial exígua trazem algumas dificuldades à formação do Conselho
Diocesano. Mesmo assim, decidiu-se não adiar o que se espera venha a ser um
verdadeiro elemento de transformação e avanço. Tendo em conta estes factores,
passam a representar o Conselho:
- O Departamento da Pastoral Familiar da Diocese e seus órgãos, que, por
inerência, assumirá a coordenação;
- O Casal Responsável do CPM diocesano;
- O Casal Responsável de cada um dos Sectores das ENS, na Diocese;
- Uma representante do Instituto Secular das Cooperadoras da Família;
- Casais representantes das vigararias, segundo o seguinte critério:
- Cada vigararia em que não haja nenhuma Equipa Paroquial de Pastoral
Familiar, será representada por um casal escolhido pelos Párocos e apresentado pelo
respectivo Vigário;
- Cada vigararia que tenha uma ou mais Equipas Paroquiais, será representada
por todos os casais coordenadores dessas mesmas Equipas.
Com este critério de representatividade, o Conselho Diocesano da Família é
constituído por cerca de 20 casais, uma representante das Cooperadoras da Família
e o sacerdote do Departamento Diocesano da Pastoral Familiar.
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Vida Eclesial
Acção das famílias em favor das famílias
. serviços e movimentos .
A periodicidade das reuniões pautar-se-á pela necessidade de programação e
avaliação das actividades de cada ano pastoral e dependerá, em muito, do próprio
Conselho. Até que se redijam normas estatutárias que deverão ter a aprovação do
Bispo diocesano, a forma de funcionamento será proposta pelo Departamento
Diocesano segundo os princípios usuais e no espírito que preside à instituição do
Conselho.
Dia Diocesano da Família
Como forma de viver melhor a Semana da Vida, a diocese de Leiria-Fátima fez
chegar às paróquias uma colectânea de textos, meditações e esquemas de oração
para serem executadas ao nível paroquial ou mesmo familiar. Para o dia 18 foi
marcado o Dia Diocesano da Família, que teve por tema “Família, Expressão da
Ternura de Deus”. Como a família não é só o lugar privilegiado para vocações, mas
é, ela própria, vocação para todos, acrescentámos ainda um subtítulo: “Acolher a
Vocação na Família”. Planeou-se um painel com três aspectos principais: a família
na intenção de Deus; a experiência familiar da convivência de vocações; o papel
da família na pastoral vocacional. Foram oradores os padres Emanuel Matos
Silva (Pastoral Vocacional Diocese Portalegre-Castelo Branco) e Luís Inácio João
(Departamento de Pastoral Familiar Leiria-Fátima), bem como o casal Maria Artur e
Ângelo Couto Soares (Pastoral Familiar Diocese do Porto).
O Dia Diocesano, para além de ser um convite a reunir pessoas e famílias de
toda a Diocese, numa tarde de descoberta, oração e empenhamento, ficou marcado
pelo arranque do Conselho Diocesano da Família, cujos membros fizeram o seu
compromisso na Eucaristia de encerramento dos trabalhos.
122 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. serviços e movimentos .
Serviço de Animação Vocacional
O Serviço de Animação Vocacional da diocese de Leiria-Fátima promoveu, no
dia 9 de Fevereiro, no Seminário de Leiria, uma acção de formação para animadores
vocacionais, destinada a sacerdotes, religiosos e leigos, sobretudo os que, nas vigararias e comunidades religiosas, assumem mais directamente o serviço das vocações.
Esta preparação inscreveu-se no objectivo apontado por D. António Marto para
este ano: “imprimir um novo ardor à pastoral vocacional, levando-a ao coração de
cada comunidade cristã para que a sinta e assuma como elemento constitutivo da
experiência de fé viva e como uma responsabilidade que a todos diz respeito”.
Os 25 participantes, maioritariamente das vigararias de Fátima, Ourém e Leiria, partindo da lectio divina de Jo 1, 35-42, aprenderam a pedagogia de Jesus no
acompanhamento vocacional e partilharam experiências neste trabalho. Houve ainda
tempo para uma reflexão sobre “Vocação e Vocações na Igreja”, e para a apresentação de alguns instrumentos úteis: um desdobrável sobre os animadores vocacionais
e os grupos vocacionais, e outro de divulgação do Serviço de Animação Vocacional
– para que serve, o que faz, como se organiza e quem o constitui.
Na linha do Projecto Pastoral Diocesano, foram delineadas as seguintes normas:
1. A nível das paróquias e das vigararias, devem formar-se equipas compostas
por um sacerdote e outros animadores de adolescente e jovens.
2. O objectivo das equipas é “imprimir novo ardor à pastoral vocacional, levando-a ao coração de cada comunidade cristã para que a sinta e assuma como elemento
constitutivo da experiência de fé viva e como uma responsabilidade que a todos diz
respeito”. As equipas deverão “animar e acompanhar vocacionalmente cada idade,
desde o começo da iniciação cristã até aos anos da juventude madura, através de
vários itinerários, sobretudo, os itinerários da fé”. Deverão ainda “investir energias
precisas no itinerário da catequese, oferecendo uma leitura vocacional da vida”. Esta
animação será feita em colaboração com a catequese, os crismandos, o Grupo Vocacional de Santo Agostinho, o Pré-Seminário ou Seminário em Família, nomeadamente através de retiros ou exercícios espirituais e a direcção ou orientação espiritual.
Encontro de namorados
Subordinado ao tema “A ternura de Deus no nosso amor”, teve lugar no dia 16 de
Fevereiro, no Centro Pastoral da Barreira, um encontro para namorados, promovido
pelo Serviço de Animação Vocacional e a paróquia da Barreira. A iniciativa visou
“ajudar a descobrir o amor e o matrimónio como vocação”, ao encontro da exortação
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Vida Eclesial
Formação para animadores vocacionais
. serviços e movimentos .
de D. António Marto na sua carta pastoral para este ano, para que “cada fiel cristão
acolha a vocação que recebe como dom da ternura de Deus, pois todas as vocações
são um raio da beleza da ternura de Deus que quer encher o mundo”.
O encontro contou com 14 pares provenientes de várias paróquias da Diocese, e
desenrolou-se em três momentos distintos: uma reflexão do Dr. Luís Marques, médico psiquiatra, sobre a condição de namorados e o namoro como fase de descoberta
e discernimento da vocação; um momento de oração com colaboração dos jovens da
paróquia da Barreira; e, a terminar, a partilha de um simpático lanche.
Grupo Vocacional Santo Agostinho
Foi intenso o encontro dos jovens, rapazes e raparigas, que iniciaram a sua caminhada no Grupo Vocacional Santo Agostinho. A actividade decorreu na tarde de 2 de
Março, em Fátima e constou da leitura orante do Evangelho, catequese vocacional,
partilha de atitudes procura e discernimento da própria opção e projecto de vida,
convívio e oração.
Os trabalhos que serão continuados nos próximos seis meses, com encontros
mensais e um retiro espiritual, tiveram a participação de jovens da Diocese de Leiria-Fátima e também de Lisboa, todos já na vida profissional, e foram orientados
por uma equipa dos serviços de animação vocacional e da pastoral juvenil. Tudo se
passou na comunidade das Irmãs da Aliança de Santa Maria, que proporcionaram
um bom acolhimento e precioso apoio. No fim, era visível a satisfação de todos pela
experiência espiritual vivida.
Este itinerário vocacional foi proposto aos jovens por D. António Marto com
um apelo: “Dai um projecto belo à vossa vida”. E no seu convite, o nosso Bispo
caracteriza a proposta como “uma experiência de fé, em grupo, cuja finalidade é:
ajudar a buscar a vontade de Deus na própria vida, orientar a liberdade e a escolha
do projecto de vida para servir o projecto de Deus no mundo na parte que a cada um
diz respeito.”
A primeira experiência tivera lugar o ano passado, com 18 jovens, um dos quais
agora integrado na equipa de apoio. No presente, procura-se melhorar o projecto
e adequando-o às actuais circunstâncias dos jovens, nomeadamente às sua idades.
Embora sem rigidez, destina-se aos que estão entre os 20 e os 30 anos. O grupo actualmente em caminha iniciou-se com 11 inscrições.
Grande Oração Vocacional
O mês de Abril foi inteiramente dedicado à grande oração vocacional na Diocese
de Leiria-Fátima. As comunidades de vida consagrada comprometeram-se a reservar-lhe um tempo especial, cada uma no seu dia. As paróquias, nomeadamente na
124 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
semana de 6 a 13, que terminou no Dia Mundial de Oração pelas Vocações, tomaram
as suas próprias iniciativas. Nas vigararias de Porto de Mós e Marinha Grande, nos
dias 11 e 18, respectivamente, houve vigílias com adolescentes e jovens, presididas
por D. António Marto. No Santuário de Fátima, no dia 19, também sob a presidência
do Bispo diocesano, realizou-se a celebração do jubileu das vocações, abrangendo
sacerdotes, religiosos, religiosas e casais, nos 25, 50 ou 60 anos do seu compromisso.
Tendo em conta o calendário divulgado, os catequistas de adolescentes, animadores de jovens, párocos e outros líderes de grupos ou movimentos foram convidados a contactar as várias comunidades de vida consagrada, para participarem nos
momentos de oração por elas programados e muitas outras pessoas viriam a associar-se a esses momentos de oração. A diocese parecia corresponder ao ensinamento
e recomendação do Pastor na sua Carta sobre a beleza e a alegria da vocação cristã:
“Sabemos pela fé que toda a vocação é dom de Deus como aliás toda a vida e vitalidade da Igreja. Por isso, devemos implorar também este dom. É um compromisso
que se deve estender a todo o povo de Deus e ser assumido por cada comunidade.
Por este caminho passa o processo misterioso de toda a vocação apostólica. A vocação nasce da invocação, isto é, da oração. Esta, se inserida num caminho de fé, abre
os corações a Deus, põe-nos à escuta e torna-os disponíveis a qualquer solicitação
da graça. Feita a nível comunitário, cria o ambiente propício para qualquer semente
que o Senhor aí queira semear. Assim, a cultura da oração gera também uma cultura
vocacional. Faço, pois, um sentido apelo a toda a Diocese e a todas as comunidades
e movimentos para dar vida a uma Grande Oração pelas Vocações: uma oração vivida com intensa confiança e perseverança, capaz de envolver pessoalmente todos os
membros do povo de Deus e a realizar com oportunas modalidades comunitárias, de
modo programado e calendarizado ao longo do ano e não episódico ou pontual”.
Aceitaram este desafio (uma em cada dia do mês), as seguintes comunidades:
Irmãs do Bom Pastor, Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima, Irmãs
Clarissas, Servas de Maria Reparadoras, Sagrado Coração de Maria, Irmãzinhas da
Assunção, Irmãs Escravas da Eucaristia e da Mãe de Deus, Fraternidade Franciscana
da Divina Providência, Irmãs de S. José de Cluny, Filhas da Igreja, Irmãs Apresentação de Maria, Filhas de Santa Maria de Leuca, Missionárias Reparadoras do
Sagrado Coração de Jesus, Servas de Nossa Senhora de Fátima, Irmãs Franciscanas
de Nossa Senhora da Vitória, Padres Carmelitas Descalços, Irmãs da Virgem Maria
do Monte Carmelo, Monfortinos, Sociedade Missionária da Boa Nova, Franciscanas
Hospitaleiras da Imaculada Conceição, Padres Missionários da Consolata, Ordem
dos Frades Menores Capuchinhos, Congregação Missionária do Verbo Divino,
Dominicanas do Rosário Perpétuo, Padres Dominicanos, Padres Crúzios, Ordem
Hospitaleira de S. João da Cruz, Irmãs da Santa Cruz, Padres Marianos, Comunidade Canção Nova, Missionários Claretianos, Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos
Pobres e Ordem dos Frades Menores (Franciscanos).
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Vida Eclesial
. serviços e movimentos .
. serviços e movimentos .
Celebração do Jubileu das Vocações
O Bispo de Leiria-Fátima convidou os casais, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e outros consagrados da Diocese, que, durante o ano de 2008, completam 25,
50 e 60 anos da sua vocação, para uma celebração jubilar em comum, no Santuário
de Fátima, no dia 19 de Abril. Quase uma centena de casais e 12 religiosas, religiosos e sacerdotes, participaram nesta festa da “beleza das vocações”. D. António fezlhes um apelo: serem testemunhas da alegria da sua vocação, com palavras e com a
vida. E repetindo as palavras do relato da Anunciação, “a Deus nada é impossível”,
afirmou que, para quem acredita em Deus, não é impossível assumir com confiança o
amor matrimonial ou fazer a entrega total de si mesmo no sacerdócio ou na vocação
consagrada e manter-se fiel. “O testemunho pessoal e conjugal da graça divina fará
irradiar a fé e a esperança, de tal modo que os jovens sejam também tocados pelos
dons divinos e se tornem capazes de abraçar a própria vocação”.
Na Eucaristia, que teve lugar na igreja da Santíssima Trindade, com a presença
de muitos outros peregrinos, os jubilários renovaram os seus compromissos e deram
graças a Deus pelo dom da vocação. Antes, num encontro de apresentação e testemunho, representantes das diferentes vocações falaram das suas experiências de vida e
da gratidão a Deus pelo dom da vocação.
Após a celebração, seguiu-se um almoço de confraternização juntamente a que se
juntaram familiares e amigos. Cooperaram na organização os serviços diocesanos da
pastoral familiar e da animação vocacional, a Fraternidade Sacerdotal e a Confederação
dos Institutos Religiosos na Diocese. Inserida no programa do presente ano pastoral dedicado a saborear como o Senhor é bom e a experimentar e testemunhar a sua ternura, a
celebração dos jubileus foi um hino à beleza das várias vocações que adornam a Igreja e
fazem dela um jardim florido com o esplendor dos mais variados dons de Deus.
Jovens em formação
“Não venho vender um produto que não consumo”, afirmou o Padre Luís Maurício logo no início dos trabalhos. Na manhã de sábado, 26 de Abril, este missionário da Consolata apresentou a três dezenas de pessoas, dirigentes do Escutismo,
animadores de jovens e catequistas, pistas sobre o PPV – Projecto Pessoal de Vida,
numa acção organizada pelos Serviços de Animação Vocacional, da Catequese e do
Escutismo da diocese de Leiria-Fátima.
Questionar os jovens, provocá-los com o próprio exemplo de vida foi o desafio
que deixou a todos, recomendando a criatividade e a “linguagem do coração”, r
desafiando a responder na primeira pessoa às perguntas sobre o que queremos, para
onde estamos a ir e que valores mexem com a nossa vida”. Daí a importância de ter
um PPV com metas e objectivos concretos nas dimensões humana, religiosa, vocacional, comunitária e de testemunho/empenhamento.
126 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. serviços e movimentos .
Acompanhamento espiritual e vocacional pessoal
A aproximação e o acolhimento, a escuta e a interrogação, o esclarecimento à luz
da palavra de Deus e o abrir de horizontes, o consolar e o encorajar a pessoa a dar os
próprios passos para o seu crescimento na vida cristã e clarificação vocacional são
atitudes importantes no acompanhamento espiritual pessoal. Assim ensinou o bispo de
Leiria-Fátima, nesta acção de formação realizada a 27 de Junho passado, em Leiria.
Partindo da caminhada de Jesus com os discípulos de Emaús, inspiradora de todo o
acompanhamento espiritual, D. António Marto sublinhou a importância da ajuda pessoal para a resposta ao chamamento divino e defendeu que, na Igreja, é preciso maior
disponibilidade para oferecer este serviço aos fiéis e, em especial, aos jovens. Disse
ainda que poderão fazer este acompanhamento, além dos sacerdotes e dos religiosos,
também as religiosas e mesmo os leigos com preparação e maturidade espiritual.
A acção foi promovida pelo Serviço Diocesano de Animação Vocacional e teve
a adesão de sessenta pessoas, entre sacerdotes, religiosas, leigos e mesmo jovens, o
que surpreendeu positivamente os organizadores.
Na partilha de experiências, foi evidenciada a procura crescente de ajuda por parte
de jovens. Muitos concluíram cursos superiores, mas ainda não têm clarificado o rumo
que pretendem seguir. O acompanhamento é, por vezes, pontual, dado por quem está
próximo, quer em casa quer em grupos, movimentos e comunidades paroquiais. Mas há
também os que pedem um acompanhamento pessoal regular e mais prolongado a quem
tem mais conhecimentos e experiência de vida cristã, nomeadamente os sacerdotes.
Esta formação deverá ser continuada ao longo do próximo ano pastoral, integrada na escola diocesana “Razões da Esperança”.
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Vida Eclesial
Não se pode definir o projecto pessoal sem a “vontade de tomar a sério a própria
vida”, isto é, sem o anseio de verdade e a capacidade de análise, numa “infatigável procura de sentido”, “decididos a caminhar”. Só assim teremos animadores que testemunhem
a beleza da vida cristã e procurem quem os ajude a discernir as coisas do Espírito”.
O missionário argentino, de 35 anos, que, contrariando as expectativas da família,
deixou o curso de medicina para se tornar padre e missionário, defendeu que, na vida
louca que levamos, “devemos ser cristãos “loucos”, como os dos primeiros tempos, apaixonados por este Deus da Vida” e instrumentos do Seu plano. Assim, o PPV exige “ser
confrontado com o silêncio infinito de Deus, lá onde o Espírito fala e a nossa liberdade se
compromete perante o grito inexorável da alma: Senhor que queres que eu faça?”.
De tarde, já em Serro Ventoso, o padre Luís Maurício encontrou-se com cerca
de 60 jovens escuteiros e falou-lhes da “bússola da vida”. Na actividade formativa,
forneceu-lhes elementos para alinharem a própria bússola interior com Cristo, em
ordem a descobrirem o caminho certo, o sentido das suas vidas, a própria vocação
que leva ao crescimento e desenvolvimento da pessoa e ao desempenho de uma
missão na Igreja e no mundo.
. serviços e movimentos .
Espectáculo de solidariedade do grupo Ondjoyetu
Obrigado a todos!
Por padre Vítor Mira
Gratidão é a palavra que
melhor exprime os sentimentos
do Grupo Missionário Ondjoyetu,
no balanço final do espectáculo
do passado 29 de Março, no
Centro Pastoral em Fátima. A
quem agradecer primeiro? Porque
seria muito difícil estabelecer
uma
ordem,
avançamos
aleatoriamente..
Quase dois mil espectadores...
Um grande bem-haja a todos
e a cada um. Juntos, valemos
muito.
Ao
Santuário
de
Fátima, que sempre nos acolhe
nestas iniciativas e aos seus
colaboradores sempre disponíveis
e solícitos. Aos Postos da Região de Turismo de Leiria-Fátima e seus colaboradores,
às lojas, institutos missionários, paróquias, juntas de freguesia e pessoas individuais
que divulgaram o espectáculo e venderam bilhetes. Às empresas patrocinadoras – só
o seu apoio permitiu potenciar os lucros deste espectáculo. à comunicação social
– jornais, revistas e rádios que levaram a notícia.
Uma palavra de especial gratidão ao Roberto Leal, músicos, técnicos, equipa de
apoio, grupo “Tocandar” pelo bom espectáculo que proporcionaram e pelo empenho
que colocaram na sua realização e êxito.
Agradecemos a todas as pessoas e antes de mais, a Deus que tocou os seus
corações e permitiu a realização de um espectáculo que agradou à maioria.
Depois de alguma espera por questões técnicas, pelo que pedimos desculpa,
houve um crescendo até ao final. Muitos nem queriam ir embora.
O balanço é amplamente positivo. Foi mais um óptimo contributo para que o
trabalho missionário do Grupo Ondjoyetu possa prosseguir. Mais uma vez, um
grande obrigado a todos.
128 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. entrevistas .
Grupo Ondjoyetu - Entrevista a D. Benedito Roberto
Geminação Leiria-Fátima/Sumbe
Por Cátia Biscaia
Dois anos depois da geminação das duas
Dioceses, quais foram as mudanças que
sentiu?
Posso vê-las na presença permanente dos
missionários de Leiria na Diocese do Sumbe,
de que resultou necessariamente a construção
da residência missionária e a criação de mais
uma Missão, até então simples Centro Missionário de São José do Gungo.
A história da Diocese do Sumbe mostra que a presença missionária e muito particularmente a “ad gentes”, é uma bênção para os povos evangelizados. Esta graça
de que beneficia toda a Diocese do Sumbe, sente-a de modo especial o povo do
Gungo.
Em que sentido a geminação veio alterar as relações entre as duas comunidades?
O mútuo conhecimento das duas dioceses vai sendo cada vez mais forte. A
experiência da presença de jovens na Diocese de Leiria-Fátima e sobretudo a do
movimento de Leiria para o Sumbe, ainda que incipiente e sem muito impacto na
Diocese do Sumbe, é muito significativa. O trabalho da Comissão Mista, constituída
para acompanhar o processo da geminação, vai certamente encontrar mais propostas
para o desenvolvimento e a consolidação das bases lançadas há dois anos.
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 129
Vida Eclesial
Esteve entre nós D. Benedito Roberto, bispo do Sumbe, diocese geminada com LeiriaFátima. O Grupo Missionário Ondjoyetu, que
tem em curso uma acção missionária naquela
diocese angolana, aproveitou para lhe fazer
algumas perguntas.
. entrevistas .
Considera que os missionários têm desempenhado um bom papel no acolhimento e bem-estar da população do Gungo?
Tenho ainda bem frescos os testemunhos dos delgados da Missão do Gungo na
Assembleia Diocesana Anual de Pastoral do passado mês de Janeiro. Para eles os
missionários são mestres em coisas não só grandes, mas também nas pequenas e
simples, pois vivem e convivem com o povo. É verdade. A presença missionária de
Leiria é uma bênção para os povos do Gungo. O que foi feito até agora, não obstante
as dificuldades da falta de uma casa própria na sede da missão e apesar da via de
comunicação para aquela localidade, pode ajudar-nos a adivinhar o muito que serão
para o Gungo os missionários nessa Missão.
Como tem sido a recepção dos missionários pela população?
Todos os missionários gozam de um carinho especial dos diocesanos do Sumbe.
Graças à abertura aos valores do angolano, experiência que notei sobretudo nos últimos grupos, os missionários de Leiria são acolhidos como amigos e mestres em toda
a Diocese. E melhor do que eu, são os próprios que o podem dizer.
Como tem sido, na sua opinião, a adaptação dos missionários à Diocese?
Alegra-me imenso constatar a capacidade de resistência dos nossos missionários
às doenças tropicais, principalmente o paludismo. Aliado a isso, o seu espírito missionário facilita-lhes a adaptação a outros níveis: alimentação, convívio com todos
os sacerdotes, irmãs e povo em geral.
Tem tido algum “eco” de pessoas que estejam a acompanhar este processo de
geminação?
A presença de Leiria na Diocese do Sumbe alegra todos os diocesanos como, da
mesma forma, a de todos os missionários que trabalham nesta Igreja Particular. Mas
está a custar compreender o que, como geminação de duas dioceses, seria também
o impacto do Sumbe na Diocese de Leiria-Fátima. Mas, como afirmei mais acima,
uma Comissão Mista está a trabalhar no sentido de a geminação responder às expectativas dos fiéis de ambas as Dioceses.
Do seu ponto de vista quais serão os próximos passos a dar?
Acho que serão ditados pelas propostas da Comissão Mista sob a apreciação e
aprovação dos dois Bispos. Mas seja bom dizer já que muito se pode vir a fazer.
130 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. entrevistas .
Entrevista ao padre Augusto Pascoal
S. Romão e Guimarota em movimento
O crescimento demográfico e a expansão urbana da
cidade não passam despercebidos. Depois da experiência
bem sucedida da criação de paróquia da Cruz da Areia,
outras zonas da cidade merecem a atenção dos responsáveis da pastoral vicarial e diocesana. Numa estratégia que
passa pela definição da zona geográfica e o estudo das
suas necessidades e características, vem-se reflectindo,
há muito, sobre o aproveitamento e desenvolvimento de
dinamismos comunitários que permitam a implantação
de “novos centros de vida cristã”. A comunidade de S.
Romão e Guimarota será, actualmente, a única em franca
caminhada. Para sabermos o que já se faz e falta fazer, conversámos com o padre
Augusto Ascenso Pascoal, responsável pastoral pela comunidade.
Qual o estatuto da Comunidade Pastoral de São Romão e Guimarota?
Está tudo dito no próprio título: Comunidade Pastoral de São Romão e Guimarota. A figura canónica da “Comunidade Pastoral” é uma novidade do Código de 1982,
que quis assim dar enquadramento jurídico a soluções pastorais diversificadas, fora
do quadro tradicional da paróquia ou quase-paróquia.
Segundo o cânone 516 §2, “onde certas comunidades não possam ser erectas em
paróquias ou quase-paróquias”, o bispo deve providenciar de outro modo ao serviço
pastoral dessas comunidades. Foi o que fez o Senhor Dom Serafim de Sousa Ferreira
e Silva, ao tempo bispo de Leiria-Fátima, por decreto de 21 de Novembro de 2004.
Quais as razões que levaram à constituição desta comunidade?
A preocupação de aproximar os serviços pastorais das populações, que, como
acontece geralmente nas zonas urbanas, dependem cada vez menos das estruturas de
âmbito territorial, ligadas ao passado. Trata-se, por isso, de uma solução urgente que
já foi proposta para outras zonas da cidade e arredores, ocupadas por gente que nada
tem a ver com as paróquias a que pertencem territorialmente.
Quais os objectivos imediatos e de longo prazo?
O que se disse acima: aproximar os serviços pastorais das populações. Imediatamente, a paróquia, no sentido tradicional da palavra, não entra nesses objectivos,
como força impulsionadora. Isso implica muita imaginação e iniciativas inovadoras,
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 131
Vida Eclesial
Por Rui Ribeiro
. entrevistas .
ainda que se tenha como referência a estrutura tradicional de uma paróquia; sobretudo porque a nível das instâncias decisórias, se torna difícil sair dessa estrutura.
Actualmente, que estruturas e serviços funcionam na comunidade?
O previsto no decreto de criação, ainda que de forma muito incipiente. Temos a
funcionar o Conselho Económico e em preparação o Conselho Pastoral. A catequese
vai ter no próximo ano as dez etapas previstas a nível nacional. Está em formação
um grupo de acção solidária, a fim de se iniciar a pastoral neste sector.
Quais as maiores dificuldades que sente na formação da comunidade?
Em primeiro lugar, as dificuldades comuns, sobretudo ao nosso mundo ocidental,
onde os cristãos se não defendem convenientemente do individualismo que domina
todos os cidadãos, com a agravante de, no caso dos cristãos, terem perdido, se é que
alguma vez a tiveram, a consciência de pertença a uma comunidade mais ampla,
para a qual nasceram pelo Baptismo.
Que infra-estruturas possui e quais os problemas que enfrenta neste sector?
Se quisermos acentuar a pobreza, diremos que, quanto a infra-estruturas, não
temos nada. Se queremos realçar o positivo, dizemos que, apesar do seu carácter
provisório e de não ser nossa a respectiva propriedade, temos um espaço que, bem
aproveitado, vai servindo para a celebração bastante digna da Eucaristia e funcionamento desafogado da catequese da infância e da adolescência.
Como define religiosa e socialmente esta zona da cidade?
Nada que a distinga das outras dos arredores de Leiria. Há quem diga que se trata
de comunidades que, apesar da riqueza individual dos seus membros, já perderam as
virtudes da ruralidade e ainda não adquiriram as da urbanidade.
Como se estabelece a ligação com as paróquias dos Pousos e Leiria?
O decreto de criação da comunidade não prevê que, para já, se celebrem nela os
sacramentos que, para além da Eucaristia, poderiam dar-lhe alguma visibilidade; ou
seja, o Baptismo e o Matrimónio. Prevê, no entanto, que seja o responsável a preparar os respectivos candidatos. A nível da estrutura canónica, as coisas estão muito
claras, ainda que pareça necessário modificá-la. Quanto ao seu funcionamento, como
acontece com tudo, conta muito o modo como as pessoas vêem essa estrutura.
Que apelo gostaria de deixar aos fiéis aqui residentes?
Apenas o que vale para toda a gente: na medida em que procurarmos tomar consciência da nossa condição de pertença à comunidade crente e organizarmos a nossa
vida de acordo com essa condição, não há problemas insolúveis no nosso relacionamento dentro da Igreja.
132 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
Reflexões
. teologia/pastoral . história .
. teologia/pastoral .
Do sofrimento à Páscoa
Histórias actuais da Paixão
Texto e fotos: Luís Miguel Ferraz
Reflexões
Fomos visitar o Centro Hospitalar de Nossa Senhora da Conceição, na Batalha,
onde estão internados cerca de 30 doentes, uns em recuperação, outros a receber
tratamentos paliativos para doenças terminais. Estão ao cuidado de quatro médicos,
nove enfermeiros e 15 auxiliares, para além de um grupo de voluntários.
Adivinhávamos um pouco: haverá sempre quem se revolte, quem se resigne na
amargura do seu fado e desista de lutar, e quem se agarre ao que pode, na esperança
de uma solução que pode vir da medicina e até de uma intervenção divina. Quando
nos aproximámos das pessoas concretas e as vimos e ouvimos, a nossa quadrícula
revelou-se, de súbito, insuficiente e ridícula. Por mais que soubéssemos e imaginássemos, a realidade não deixou de nos surpreender.
Deixamos os testemunhos tocantes de quem carrega hoje a sua cruz. Também
não esquecemos aqueles cuja missão é serem “cireneus” procurando curar, minorar
a dor e aliviar, nem que seja com um sorriso, o peso dessa cruz de cada um.
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. teologia/pastoral .
Exemplos vivos
Maria Alice Neves, de 63 anos, natural das Colmeias,
foi a primeira a chegar a este novo hospital. Desde os 40
anos de idade que se viu atingida pela doença, mas foram
os últimos dez o seu “maior Calvário” na luta contra várias
manifestações de cancro. Submeteu-se a diversas cirurgias
e a múltiplos tratamentos, já esteve em situação crítica,
ligada a uma máquina, sem conseguir ver, ouvir e falar. Recuperou algumas faculdades, mas continua acamada desde
há quatro anos e quase não consegue mexer-se. Embora não
Maria Alice Neves
sinta grandes dores, sabe que o seu mal dificilmente terá
solução. Conta com o apoio e carinho da família, mas nem esse é como desejaria,
pois o marido também está acamado em casa, acompanhado pela filha.
Ao falarmos com ela, a simpatia, o sorriso fácil e a boa disposição são quase
desconcertantes. Apesar da caminhada de sofrimento que marca a sua vida, revela
serenidade, paz e coragem para enfrentar cada novo dia. “Deus Nosso Senhor é que
sabe, seja o que Deus quiser”, responde Alice quando lhe perguntamos como se
sente ao pensar no futuro. Gostaria que as coisas tivessem sido diferentes, mas não
foram. Agora, encontrando na fé a sua força, diz-nos o que lhe resta: “Rezar todos
os dias por mim, pelos outros doentes que aqui estão e pelos funcionários, que são
muito nossos amigos e simpáticos”.
Vítima de um AVC repentino e sem sintomas anteriores, no Natal dos seus 44 anos, Maria Rodrigues Marques,
natural da Memória, rasga o sorriso para dizer que confia
plenamente na recuperação e ainda quer “ir a Fátima a pé”,
como prometeu a Nossa Senhora na hora de maior aflição.
Está feliz por ter encontrado esta instituição, com pessoas
tão boas a tratar dela, o que é “uma grande ajuda, depois de
ter saído do Hospital de Leiria a chorar”. Com optimismo
renovado e coragem para “voltar ao que era”, encara cada
dia como uma nova luta para esse objectivo e sente que “já
falta pouco... o braço esquerdo é que está mais preguiçoso”.
Maria Marques
Paula (nome fictício) não quer revelar o nome, nem o rosto, de aparência bem
mais jovem do que a sua idade. “Fale antes das pessoas que encaram a vida com optimismo, porque assim é que devia ser e elas é que têm razão, mas eu não consigo”,
confessa. Foi também apanhada por um AVC que lhe roubou a vitalidade, a energia corporal que cuidava com regularidade e a independência que sempre prezou.
Mulher de fé, catequista quase toda a vida, ensinou aos filhos os valores cristãos e
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. teologia/pastoral .
continua a acreditar neles e a rezar diariamente pela sua cura. “Agarro-me à fé para
tentar superar esta limitação, tenho vontade de voltar a andar, mas a dor é mais forte
e não consigo aceitar o que aconteceu”, lamenta-se, deitada na fisioterapia onde tenta
a custo recuperar os movimentos perdidos. Tem o apoio da família, sobretudo dos
filhos que lhe dizem que a querem ver de novo a andar, mas “às vezes acho que não
vou conseguir”... e deixa escapar um lágrima de dor, de desgosto e de frustração.
Depois, recompõe-se e começa a ginástica. Deixámos o nosso voto de coragem.
“Vamos a ver..”, sorri.
Com a mesma esperança vive Miguel José Bernardo,
de 72 anos, residente nos Parceiros. Há dois meses em
recuperação, confia na sua força de vontade, até porque o
médico lhe deu essa pista de cura: “você é que tem de ser
o seu médico”. Não sente dores, está a ser “bem tratado”,
tem o apoio dos familiares “que não faltam aqui a dar-me
força”, pelo que vê com optimismo o seu futuro fora do
hospital. “A fé também ajuda a gente e vou à missa quando
posso”, afirma.
Miguel Bernardo
Chega a hora do almoço. Olho em redor, antes de me despedir dos muitos utentes
que se passeiam com desenvoltura ou em cadeiras de rodas pelo amplo espaço de
convívio, de cores alegres, cheio de luz e de transparência. Ainda cheira a novo, com
brilho semelhante aos sorrisos de quem está por ali de serviço. “Isto é tão bom, que
até vai dar pena sair de cá”, confessava uma doente. Sente-se que o ambiente, esse
tratamento humano, é uma das peças fundamentais para o bem-estar da maioria dos
internados.
Mas nem todos revelam a mesma cara alegre; há rostos mais vincados e os que
não conseguem esconder as marcas de uma vida já perto do fim, confinados a uma
cama articulada. Sente-se que ali, como em lugares semelhantes ou em tantos lares
pelo mundo fora, há quem viva hoje, na carne, a experiência viva da Paixão.
E sente-se que o nosso dever de humanidade e, ainda mais, de cristãos é contribuir, ainda que com o gesto simples da mão que oferece um carinho, para que
aqueles que estão mergulhados na escuridão possam vislumbrar um raio de luz. Para
que, na medida do humanamente possível, possam fazer o percurso vitorioso do
sofrimento à Páscoa. Tal como Jesus, na hora da salvação: “Eu sou a ressurreição e
a vida, quem acredita em Mim terá a vida plena”.
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Reflexões
Por uma luz libertadora
. teologia/pastoral .
José Leite, director clínico do CHNSC
“Todos precisamos de atenção e amor”
Neste hospital, todos os que nele trabalham têm consciência
da citação de Olivier Holmes (médico francês do século XVI):
“O objectivo da Medicina é curar às vezes, aliviar frequentemente, confortar sempre”. O doente é um ser humano, é uma
pessoa, é um ser moral, é um ser com dignidade, não se medindo em termos económicos, mas estes devem estar ao serviço do
doente, pois este é o valor supremo.
A medicina contemporânea enfatiza a cura e o prolongamento da vida e depois,
muitas vezes, negligencia o cuidado necessário ao fim da vida, abrindo caminho a uma
quantidade de doentes, incapacitados, mal cuidados e em sofrimento, que aguardam o
momento de morrer. É hoje exigida a utilização de tecnologia cara e nem sempre ajustada à situação do doente que, com o fim à vista, vai sendo submetido a tratamentos
que o mantêm vivo durante algum tempo, normalmente com sofrimento, dor, solidão e
angústia. Por estas razões, os exames complementares deverão ser apenas os estritamente
necessários, perfeitamente claros e, se possível, sem aumentar a dor e ou o incómodo
para o doente.
Vivemos numa cultura e num tempo em que é suposto haver “um medicamento para
cada sofrimento”, o que determina expectativas – quer dos doentes, quer dos familiares,
quer dos médicos – de que em cada consulta ou visita médica deverá ser prescrito novo medicamento. Consequentemente, os médicos podem sentir dificuldades em impor limites.
Nestes doentes, na maioria idosos, sofrendo de pelo menos cinco doenças e múltiplos
medicamentos, com elevados custos para a sua mísera reforma, associados a interacções medicamentosas e ao aparecimento de complicações e outras doenças iatrogénicas
[causadas pelos medicamentos]. Devemos ter o bom senso de tratar sempre a doença de
maior risco ou que cause maior sofrimento, pois tratar tudo em simultâneo é impossível.
Muitas das vezes, o que custa não é saber o que fazer, mas decidir o que fazer e não fazer,
lembrando-nos sempre de que, em primeiro lugar, será não fazer mal – “primum non
nocere”. Assim, os medicamentos prescritos deverão ser apenas os estritamente necessários, mas nunca nos devemos esquecer do tratamento adequado da dor. Prevenir e tratar
a dor é um imperativo ético, uma condição inalienável dos cuidados de saúde, associada
a uma diminuição das complicações clínicas e até da mortalidade.
Todos precisamos de atenção, de amor e de uma interacção com os outros seres
humanos, pois sem relacionamento não somos nada. Toda a equipa de saúde que nesta
instituição trabalha sabe que tem sempre um remédio no bolso, disponível a qualquer
hora e a qualquer momento – o seu sorriso.
Como dizia Confúcio, “ama aquilo que fazes e não terás de trabalhar mais na vida”.
E relembrando Madre Teresa de Calcutá, “a falta de amor é a maior das pobrezas”. Todos
nós estamos imbuídos destes ideais, que em conjunto com entusiasmo, dedicação e esforço, usamos para contribuir para o bem-estar físico, psíquico e social dos doentes que
nos procuram.
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. teologia/pastoral .
Graça Pereira, enfermeira chefe do CHNSC
A ciência evoluiu, a esperança de vida aumentou, a taxa
de natalidade diminuiu, e a sociedade depara-se hoje com a
incapacidade familiar de assistir duma forma contínua e capaz
os seus progenitores.
As Unidades de Cuidados Continuados (UCC) surgem
precisamente com o objectivo de tratar e cuidar daqueles
cujas capacidades estão diminuídas, quer pela velhice, quer
por outras doenças que lhes possam ter retirado, temporariamente ou definitivamente, a
capacidade de se cuidarem sem ajuda de outra pessoa. Importa salientar que na medicina,
o grande objectivo é “tratar”, enquanto nos cuidados continuados a finalidade principal é
“cuidar”, mesmo quando já é impossível “tratar”.
O trabalho que fazemos nesta UCC do Centro Hospitalar Nossa Senhora da Conceição, integrada numa rede nacional, é sobretudo colaborar no dever da sociedade em
apoiar no tratamento, na reabilitação ou manutenção da saúde, e garantir o bem-estar
físico, psíquico e social a todos os doentes que aqui passam.
Conscientes do sofrimento que envolve estes doentes e suas famílias, tentamos de
uma forma digna e humana, em equipa multidisciplinar, recuperar as capacidades perdidas mesmo que já sejam pequenas. O nosso empenhamento, na medida do possível, é
devolver às pessoas o bem-estar, o alívio da dor e a sua recuperação.
Embora ainda no início de uma caminhada de aperfeiçoamento na prestação de
cuidados continuados, já fazem parte da história desta unidade algumas situações que
ficarão para sempre na nossa memória e no nosso coração, quer pelo sucesso alcançado,
quer pelas lições de vida que quase todos os doentes diariamente nos transmitem, pelo
modo como enfrentam o seu contínuo sofrimento e pela coragem e alegria de viver que
demonstram, tendo sempre esperança no amanhã.
Lembro o exemplo de um doente que veio logo no início, tetraplégico após ter sofrido
um tétano, sem capacidade para andar, para comer ou para falar, com poucas garantias
de recuperação. A força que revelou, a esperança e a vontade de recuperar foi tão grande que, passados dois meses, saiu para sua casa a andar pelo próprio pé. Já nos visitou
depois, cheio de alegria e grato pela experiência que aqui viveu. São estes verdadeiros
“milagres”, de quem passa pelo calvário da dor e da doença e depois volta a conseguir ter
uma vida nova, que nos dão alento para o trabalho que abraçamos diariamente. É essa a
razão da “pequena” ajuda que lhes podemos oferecer.
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Reflexões
“Assistimos a verdadeiros milagres”
. teologia/pastoral .
Dignidade do trabalho
Sob este título genérico, publicamos os dois artigos seguintes, retirados
de uma edição do Jornal O Mensageiro. São dois testemunhos de como o
cristão é chamado a olhar para a questão da dignidade do trabalho.
Para além das políticas
Por José Dias da Silva
À boleia das comemorações do 25 de Abril, o governo anunciou reformas liberalizantes dos contratos de trabalho, o que proporcionou um amplo debate público
sobre o assunto. Importa lançar um olhar cristão sobre este sector da vida.
Para lá das preocupações políticas e economicistas, o trabalho humano vale por
si mesmo e merece ser considerado como espaço de humanização e co-criação. Pode
dizer-se que a dignidade do trabalho decorre de duas fontes: da pessoa que trabalha e
das características do próprio trabalho humano. Um dos princípios fundamentais da
doutrina social da Igreja recorda que a dignidade do trabalho decorre da dignidade
da pessoa que trabalha e não o contrário. João Paulo II insistia muito na prioridade
absoluta da pessoa: “Embora seja verdade que o homem está destinado e é chamado
ao trabalho, contudo, antes de mais nada o trabalho é ‘para o homem’ e não o homem ‘para o trabalho’… (pelo) que cada trabalho se mede sobretudo pelo padrão
da dignidade do sujeito do trabalho, isto é, da pessoa, do homem que o executa”.
Até porque “em última análise, a finalidade do trabalho, de todo e qualquer trabalho
realizado pelo homem - ainda que seja o trabalho do mais humilde ‘serviço’ ou o
mais monótono na escala comum de apreciação ou o mais marginalizador - é sempre
o próprio homem” (LE 6).
Nunca é de mais insistir nisto, até porque a realidade é um contínuo desmentido
desta prioridade da pessoa. Olhando à nossa volta o que vemos é a prioridade dada
ao trabalho. As próprias pessoas sentem-se mais ou menos dignas conforme a “dignidade” do seu trabalho. Como se ser gestor fosse mais digno que varredor de ruas.
Daí esta doença que ataca a sociedade portuguesa: a doutorite. O que os grupos de
técnicos não têm feito para que os seus cursos sejam equiparados a universitários?
O que os pais não fazem para que os filhos sejam doutores? E que desonra para a
família se eles não o forem!
Por outro lado, o trabalho, pelo facto de ser humano, tem características próprias
que lhe conferem a dignidade de ser “um prolongamento da obra do Criador, um
serviço aos irmãos e uma contribuição pessoal para o cumprimento do plano providencial na história” (GS 34). O trabalho é uma vocação, já que é a resposta mais
adequada ao mandamento primeiro de Deus que, ao criar a terra para todos, a todos
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. teologia/pastoral .
Deturpação do trabalho
Muitas vezes, porém, o trabalho, em vez de ser um instrumento para reforçar a
dignidade da pessoa e estar ao serviço do seu desenvolvimento integral, converte-se,
antes, em ocasião de degradação, alienação e desumanização: “A alienação verifica-se também no trabalho, quando é organizado de modo a «maximizar» apenas os
seus frutos e rendimentos, não se preocupando que o trabalhador, por meio de seu
trabalho, se realize mais ou menos como homem, conforme cresça a sua participação
numa autêntica comunidade humana solidária ou então cresça o seu isolamento num
complexo de relações de exacerbada competição e de recíproco alheamento, no qual
ele aparece considerado apenas como um meio e não como um fim” (CA 41). Mais, o
homem não pode ser deixado de lado quando já não interessa, pois “uma sociedade,
onde este direito seja sistematicamente negado, onde as medidas de política económica não consintam aos trabalhadores alcançarem níveis satisfatórios de ocupação,
não pode conseguir nem a sua legitimação ética nem a paz social” (CA 43).
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Reflexões
mandatou para a cultivar e guardar (Gn 2,15). Estes dois verbos têm na Bíblia uma
forte ressonância religiosa: “só o cristianismo deu um sentido religioso ao trabalho
e reconhece o valor espiritual do progresso técnico. Não há vocação mais religiosa
que o trabalho” (João Paulo II aos jovens; Inglaterra; 1982). O trabalho é uma das
formas privilegiadas para continuar a obra da criação, pois faz de cada pessoa um
colaborador na acção divina, um verdadeiro criador: “Deus, que dotou o homem de
inteligência, de imaginação e de sensibilidade, deu-lhe assim o meio para completar,
de certo modo, a sua obra: seja artista ou artífice, empreendedor, operário ou camponês, todo o trabalhador é um criador” (PP 27). Esta dimensão criadora de cada
ser humano é uma das mais esquecidas. A pessoa não é vista nesta sua dimensão
estrutural; caso contrário, não haveria tanto desemprego.
O trabalho torna-nos também colaboradores de Deus na obra da redenção ao
criar condições para uma melhor qualidade de vida, mais justa, mais fraterna, mais
solidária, mais humana: “Tudo o que o homem faz para conseguir mais justiça, mais
fraternidade e uma organização mais humana das relações sociais tem mais valor
que os progressos técnicos. Porque estes podem fornecer a base material para a promoção humana, mas são impotentes, só por si, para a realizar” (GS 35).
O trabalho é ainda o principal instrumento de libertação e, portanto, de desenvolvimento harmonioso da pessoa, de cada pessoa, porque é meio de subsistência mas
também de desenvolvimento e progresso sociais: “O homem, ao trabalhar em qualquer tarefa no seu ‘banco’ de trabalho, pode facilmente cair na conta de que, pelo seu
trabalho, entra na posse de um duplo património; ou seja, do património daquilo que
é dado a todos os homens, sob a forma dos recursos da natureza, e do património daquilo que os outros que o precederam já elaboraram, a partir da base de tais recursos,
em primeiro lugar desenvolvendo a técnica, isto é, tornando realidade um conjunto
de instrumentos de trabalho, cada vez mais aperfeiçoados” (LE 13).
. teologia/pastoral .
Um exemplo de “economia de comunhão”
Por António Faria Lopes
Faria & Irmão é uma empresa de cariz familiar fundada em 1957, situada em
Leiria. Tem como objecto produzir formas de plástico (moldes) para calçado.
Enquanto jovens, eu e o Acácio, meu irmão, conhecemos um grupo de jovens dos
Focolares. Tinham, como característica, pôr tudo em comum, com toda a liberdade:
as ideias, os conhecimentos, os bens, etc. Isto permitiu-nos descobrir a riqueza da
complementaridade das diferenças, potenciar a tolerância, a unidade, o respeito pelo
outro, a solidariedade.
Ao entrar no mercado de trabalho, parecia óbvio dar continuidade a um tipo de
vida que até ali nos havia fascinado. É certo que a realidade era outra mas o homem
ao lado do homem mantinha-se. Este novo contexto implicava apenas algumas
responsabilidades específicas que tinham a ver com a gestão de uma pequena
empresa. É pacífico, para quem estuda a dinâmica das organizações, que os recursos
humanos são muito importantes. Na “Economia de Comunhão” para além de serem
importantes, são a razão de ser, são o centro de todas as decisões.
Em 1987, quando comprámos os 50% ao nosso tio, foi espontâneo incluir na
sociedade em igualdade de circunstâncias um outro irmão, embora estivesse ainda
a estudar. Quando se trata de decidir, de delinear estratégias, obviamente que eu e
o Acácio estamos quase sempre em sintonia. Todavia, esta proximidade não evita
divergências, é apenas garantia de respeito e de saber ouvir.
Com o tempo, um sonho que inicialmente era apenas partilhado por dois, foi
seduzindo os outros dois. Os resultados justificavam a continuidade dos princípios.
Faria & Irmão é motivo e resultado de um enorme esforço da sua administração
e dos seus colaboradores a fim de continuar a ser um local em que, não obstante as
dificuldades, se respire liberdade, criatividade, paz, trabalho, solidariedade, isto é,
uma nova cultura.
A experiência que tínhamos feito em jovens não só se mantinha mas até se
consolidava.
Não que houvesse grandes referências para a condução da empresa, mas a
criatividade, a prudência e a vontade iam-lhe dando forma. Tratava-se de ouvir bem,
de dar atenção a todos, clientes, colaboradores, fornecedores, etc.; de cumprir sempre
as obrigações, o que nem sempre foi fácil; de cuidar que as relações estabelecidas
fossem para além do meramente profissional, atentos a todas as dificuldades, com
a certeza de que não seria nunca perda de tempo; de pagar salários justos sem olhar
apenas ao desempenho, necessidades e capacidades da empresa; de manter os
trabalhadores informados das estratégias, das transformações, dos objectivos, das
preocupações. Aquando da aquisição de novos equipamentos, dar-lhes tranquilidade
quanto à sua formação e segurança no emprego.
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. teologia/pastoral .
Será que uma empresa gerida assim pode sobreviver?
Claro que vive, e mais, consegue proporcionar a outras mais dignidade.
Paga impostos. Apoia organismos de solidariedade social, sobretudo os menos
mediatizados, sempre com discrição. Apoia iniciativas de âmbito social e cultural,
nomeadamente revistas, congressos e escolas que divulguem e formem a ”cultura
do dar”. Está atenta à pobreza que nos está mais próxima, por exemplo através de
emprego social que neste momento corresponde a 3 postos de trabalho sem qualquer
apoio estatal. Participa e apoia projectos de solidariedade.
Não pretendemos ser uma alternativa às empresas já existentes, procuramos
apenas – humildemente - provar que é possível transformar as estruturas já existentes
sem que se perca competitividade.
É também verdade que a Economia de Comunhão não é um toque de magia, algo
de paradisíaco. Há imensas dificuldades, quase desilusões, cansaço. Aí somos todos
iguais. Porém há uma grande certeza: as soluções surgem sempre e, arrisco afirmar
porque essa é a nossa experiência, surpreendem sempre de forma positiva.
Uma particularidade de Economia de Comunhão é a alegria de participar num
enorme projecto que vai muito para além do nosso mérito e capacidades pessoais. É
sentir a presença daquele sócio que parece oculto mas que se sente, que sugere, que
modera, que dá confiança, coragem, que ilumina e tempera as decisões, as iniciativas
e as estratégias.
Procuramos que tudo seja decidido por unanimidade. Sempre entre nós imperou
o respeito pelas diferenças.
Outra particularidade da nossa experiência é que advertimos, por várias
circunstâncias que estão para além do nosso empenho, que alguém parece confiar
em nós mais do que seria de supor.
Há mais valias que seguramente não resultam do nosso mérito, que ocorrem
e que (com normalidade) nos levam a dar continuidade àquele fluxo que vem não
sabemos bem de onde, e que passa por nós para chegar aos seus destinatários de
direito.
É um movimento contabilístico de dever e haver que nos surpreende,
verdadeiramente espectacular, que desfaz as nossas dúvidas e nos estimula a acreditar
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Reflexões
No âmbito da Economia de Comunhão, os lucros deveriam orientar-se em três
vertentes: uma parte para reinvestir, outra parte para os pobres e outra ainda para
formar homens novos. O lucro vale não pela quantidade mas pela sua humanidade.
Seria absurdo pôr em comum um lucro desumanizado.
Como é que Faria & Irmão se organizou em função do projecto “Economia
de Comunhão”?: estimulando o respeito recíproco; estimulando um ambiente de
família, de solidariedade e de entreajuda; cuidando do enquadramento legal de todos;
promovendo a formação técnica; pagando salários justos e criando condições dignas
de trabalho; pondo à disposição todas as ajudas e meios solicitados à empresa.
. teologia/pastoral .
cada vez mais na “providência”. Rapidamente dizemos: não tem acontecido nada
porque não “demos” nada, está na hora de voltar a acreditar.
Em Faria & Irmão, onde se procura gerir em função da economia de comunhão,
deixa-se espaço para a intervenção de Deus, conta-se mesmo com ela. Experimentase que, após cada decisão - muitas delas tomadas em sentido contrário daquele que
a prática comercial aconselha – Deus não deixa que falte aquele cêntuplo que Jesus
prometeu: um lucro inesperado, uma oportunidade imprevista, a oferta de uma nova
colaboração, a ideia para uma nova estratégia.
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. teologia/pastoral .
Semana da Vida - À luz da Encíclica Spe Salvi de Bento XVI
Vida com Esperança
As expectativas e os níveis de confiança são temas recorrentes, cada vez mais
abundantes, nas páginas informativas. Podemos reflectir muito sobre a questão,
sem excluir indesmentíveis interesses. Ficaremos sempre em falta se esquecermos
o desejo nativo e íntimo que relança a pessoa na busca do durável, do sólido e do
eterno, mesmo numa sociedade concentrada no supérfluo e no imediato. A coragem
de abraçar a vida todos os dias radica em anseios naturais, alguns manifestamente
superiores às estritas possibilidades humanas.
Após o referendo de 11 de Fevereiro de 2007, que abriu as portas à liberalização do
aborto, a Conferência Episcopal Portuguesa apelou a uma resposta criativa e ousada,
aos desafios de uma acentuada mutação cultural, marcada pela ausência de valores
éticos fundamentais (cf. Nota Pastoral de 16/2/2007). Nesse novo contexto, a Semana
da Vida – 2007 indicava a vocação fundamental de todos à felicidade construída na
comunhão, e fortalecia os crentes na certeza de que os desejos humanos mais genuínos
e profundos são também anseios de Deus. No mesmo contexto, a Comissão Episcopal
do Laicado e Família propõe agora a Semana da Vida – 2008, dedicada à Vida com
Esperança, à luz da recente encíclica Spe Salvi do Papa Bento XVI.
Fomos salvos na esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar o nosso
tempo presente (SS 1). Bento XVI inicia assim a sua proposta de um entendimento
da esperança baseado no testemunho bíblico e na fé da Igreja, ao contrário das pretensões do tempo moderno de encontrar esse entendimento longe de Deus.
No fim da primeira parte da Encíclica, o Papa propõe um resumo da sua reflexão
sobre a fisionomia da esperança cristã. Começando pela apresentação quase integral
deste resumo, prosseguiremos ao mesmo ritmo, lendo e sintetizando a Encíclica e
procurando manter o próprio texto, sempre que possível. A intenção é destacar os
pontos principais, facilitar a sua apreensão e incentivar uma leitura integral.
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 145
Reflexões
Sobre a “Vida com Esperança”, tema da Semana da Vida 2008 (11 A 18 DE
Maio), o Departamento Nacional da Pastoral Familiar, órgão da Comissão Episcopal do Laicado e Família, publicou um texto introdutório que
apresenta o fio condutor da Encíclica “Spe salvi” do Papa Bento XVI. Na
perspectiva de vir a ser útil preparando uma leitura integral mais atenta,
proporcionando um apanhado final das ideias fundamentais, ou possibilitando ao menos um resumo a quem nunca venha a contactar directamente
com o texto, publicamos a referida introdução que é parte integrante da
documentação distribuída para a celebração da Semana da Vida 2008.
. teologia/pastoral .
1. Das nossas esperanças à grande esperança
O homem, na sucessão dos dias, tem muitas esperanças – menores ou maiores
– distintas nos diversos períodos da sua vida. […] Quando estas esperanças se realizam, resulta com clareza que na realidade, isso não era a totalidade. O homem
necessita de uma esperança que vá mais além. Vê-se que só algo de infinito lhe pode
bastar, algo que será sempre mais do que aquilo que ele alguma vez possa alcançar.
[…] (30).
Precisamos das esperanças – menores ou maiores – que, dia após dia, nos mantêm a caminho. Mas, sem a grande esperança que deve superar tudo o resto, aquelas não bastam. Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e
nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir […]. Deus é o
fundamento da esperança – não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um
rosto humano e que nos amou até ao fim: cada indivíduo e a humanidade no seu conjunto. O seu reino não é um além imaginário, colocado num futuro que nunca mais
chega; o seu reino está presente onde Ele é amado e onde o seu amor nos alcança.
Somente o seu amor nos dá a possibilidade de perseverar com toda a sobriedade,
dia após dia, sem perder o ardor da esperança, num mundo que, por sua natureza,
é imperfeito. E, ao mesmo tempo, o seu amor é para nós a garantia de que existe
aquilo que intuímos só vagamente e, contudo, no íntimo esperamos: a vida que é
«verdadeiramente» vida (31).
2. Jesus, Mestre e Pastor
Lembrando duas imagens que os cristãos colocavam nos túmulos para afirmarem
a vitória sobre a morte, o Papa apresenta Cristo como o filósofo – que ensinou a arte
de ser rectamente homem, a arte de viver e de morrer – e como o pastor – que, mesmo na estrada da derradeira solidão, onde ninguém me pode acompanhar, caminha
comigo, servindo-me de guia ao atravessá-la. Ele mesmo percorreu esta estrada,
desceu ao reino da morte, venceu-a e voltou para nos acompanhar (6). Deus pode
saciar o nosso desejo, propondo e dando-nos o que não conseguimos sozinhos. Aliás,
Jesus não se limita a informar-nos sobre as realidades futuras: transforma e sustenta
a nossa vida presente trazendo desde já para ela, em antecipação, algo da perfeição
anunciada (cf. 6).
3. Do amor humano ao amor incondicionado
Entre as esperanças humanas, todas limitadas, Bento XVI destaca o amor. Frágil
em si mesmo, este pode ser salvo por Deus que, tendo-nos amado e amando-nos
ainda agora «até ao fim», é a nossa única grande esperança (26).
Quando alguém experimenta um grande amor, conhece, um momento de «redenção» que dá um sentido novo à sua vida. Mesmo assim, o ser humano necessita do
amor incondicionado e só está «redimido» quando exclamar: «Vivo na fé do Filho de
Deus, que me amou e se entregou a Si mesmo por mim» (Gal 2,20), (26).
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. teologia/pastoral .
Quem é atingido pelo amor começa a intuir em que consistiria propriamente a
vida. Explicando que a vida plena e abundante (cf. Jo 10,10), consiste em conhecer
o Pai e a Jesus Cristo que Ele enviou (cf. Jo 17,3), Jesus afirma que só há vida total
na relação com Aquele que é fonte da vida, a própria Vida e o próprio Amor. Por isso,
mesmo podendo ter muitas esperanças, quem não conhece Deus, no fundo está sem
esperança (cf. Ef 2,12), (27).
Mesmo indiciando “redenção” e com intuições de vida, o amor humano, na sua
estrita dimensão, permanece frágil. Conduzindo-nos à necessidade intrínseca de o
amor humano se entender no desígnio divino, Bento XVI coloca-nos na senda da
Exortação Familiaris Consortio de João Paulo II: Jesus Cristo revela a verdade
originária do matrimónio […] e, libertando o homem da dureza do seu coração,
torna-o capaz de a realizar inteiramente. O seu Espírito infunde, doa um coração
novo e torna o homem e a mulher capazes de se amarem como Cristo nos amou (FC
13). Somente na fé, (os esposos) podem descobrir e admirar com jubilosa gratidão
a que dignidade Deus quis elevar o matrimónio e a família, constituindo-os sinal
e o lugar da aliança de amor entre Deus e os homens, entre Jesus Cristo e a Igreja
sua esposa (FC 51).
4.1. A oração como escola de esperança
Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar
com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar. Se não há
mais ninguém que me possa ajudar – por tratar-se de uma necessidade ou de uma
expectativa que supera a capacidade humana de esperar – Ele pode ajudar-me. Se
me encontro confinado numa extrema solidão... o orante jamais está totalmente só
(32).
Juntando o exemplo de Santo Agostinho, Bento XVI prossegue: O homem foi
criado […] para o próprio Deus, para ser preenchido por Ele. Mas, o seu coração
é demasiado estreito para a grande realidade que lhe está destinada. Tem de ser
dilatado. Citando Agostinho: “Supõe que Deus queira encher-te de mel […]. Se tu,
porém, estás cheio de vinagre, onde vais pôr o mel? O vaso, ou seja o coração, deve
primeiro ser dilatado e depois limpo […]” (cf. In 1 Joannis 4,6: PL 35, 2008s). […]
O homem neste esforço, com que se livra do vinagre e do seu sabor amargo, não se
torna livre só para Deus, mas abre-se também para os outros. […] O modo correcto
de rezar é um processo de purificação interior que nos torna aptos para Deus e […]
aptos também para os homens (33).
4.2. Agir e sofrer, lugares de aprendizagem da esperança
Sem a luz daquela esperança que não pode ser destruída por falências de alcance histórico, o esforço cansa-nos ou transforma-se em fanatismo. Só a certeza de que
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Reflexões
4. «Lugares de aprendizagem e de exercício da esperança
. teologia/pastoral .
a minha vida e a história estão conservadas no poder indestrutível do Amor e possuem, por isso, sentido e importância, dá coragem para continuar. O nosso agir não
é indiferente a Deus e, portanto, também não o é para o desenrolar da história.
Abertos ao ingresso de Deus, contribuímos para a salvação do mundo. Isto conserva um sentido, mesmo quando, aparentemente, não temos sucesso […] face à
hegemonia de forças hostis. […] É a grande esperança apoiada nas promessas de
Deus que […] nos dá coragem e orienta o nosso agir (35).
Também o sofrimento faz parte da existência humana. […] Eliminá-lo completamente não está ao nosso alcance. Só Deus o poderia fazer: só um Deus que pessoalmente entra na história fazendo-Se homem e sofre nela. Sabendo da sua presença
e do seu poder que «tira os pecados do mundo» (Jo 1,29), possuímos a esperança da
cura do mundo, conscientes, embora, do seu ainda não cumprimento. Esta esperança
dá-nos a coragem de nos colocarmos da parte do bem (36).
Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, que cura o homem, mas a
capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido
através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor. Descendo ao mais atroz
sofrimento, Ele ficou perto de quem sofre e transformou as trevas em luz. […] O
sofrimento – sem deixar de o ser – torna-se, apesar de tudo, canto de louvor (37).
A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. É cruel e desumana a sociedade que não aceita os que
sofrem e não é capaz de assumir e partilhar os seus sofrimentos. Aceitar o outro que
sofre significa, de facto, assumir de alguma forma o seu sofrimento, de tal modo que
este se torna também meu. O sofrimento partilhado é penetrado pela luz do amor,
como exprime a palavra latina con-solatio, consolação, sugerindo um estar-com na
solidão, que então deixa der ser solidão.
Mas, a capacidade de aceitar o sofrimento por amor do bem, da verdade e da
justiça é também constitutiva da grandeza da humanidade, porque se o meu bem-estar é mais importante do que a verdade e a justiça, vigoram o mais forte, a violência
e a mentira.
Por fim, também o «sim» ao amor é fonte de sofrimento, porque o amor exige
sempre expropriações do meu eu, nas quais me deixo podar e ferir.
O amor não pode existir sem esta renúncia mesmo dolorosa a mim mesmo (38).
O outro é suficientemente importante, para que por ele eu me torne uma pessoa que
sofre? Para mim, a verdade é tão importante que compensa o sofrimento? A promessa do amor é assim tão grande que justifique o dom de mim mesmo? O homem tem
para Deus um valor tão grande que Ele mesmo Se fez homem para poder padecer
com o homem. […] A partir de lá, propaga-se em todo o sofrimento a consolação do
amor solidário de Deus. Surgiu assim a verdadeira grande esperança de que necessito para assumir antepor a verdade ao bem-estar, à carreira e à propriedade (39).
Fazia parte duma forma de devoção […] a ideia de poder «oferecer» as pequenas canseiras da vida quotidiana […]. Que significa «oferecer»? Estas pessoas
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. teologia/pastoral .
4.3. O Juízo como lugar de aprendizagem e de exercício da esperança
«De novo há-de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos» (Credo
da Igreja). […] O ateísmo dos séculos XIX e XX protestou contra as injustiças do
mundo e da história. […] Sem um Deus que crie justiça, essa tarefa caberá então ao
homem. Ora, se diante do sofrimento deste mundo o protesto contra Deus é compreensível, a pretensão de a humanidade poder e dever fazer aquilo que nenhum Deus
faz nem é capaz de fazer, é presunçosa e intrinsecamente não verdadeira. Desta
pretensão resultaram as maiores crueldades e violações da justiça. Um mundo que
deve criar a justiça por sua conta, é um mundo sem esperança. Nada nem ninguém
responde pelo sofrimento dos séculos […] nem garante que o cinismo do poder não
continue (42).
Deus fez-Se uma «imagem» em Cristo que Se fez homem […] e revela a sua
Face na figura do servo sofredor que partilha a condição do homem abandonado
por Deus, tomando-a sobre si. Este sofredor inocente tornou-se esperança-certeza:
Deus existe e sabe criar a justiça de um modo que nós não somos capazes de conceber mas que, pela fé, podemos intuir. Existe a ressurreição da carne. Existe uma
justiça. Existe a «revogação» do sofrimento passado, a reparação que restabelece o
direito. Por isso, a fé no Juízo final é, primariamente, e sobretudo esperança. Estou
convencido de que a questão da justiça constitui o argumento essencial […] a favor
da fé na vida eterna […] (43).
Só Deus pode criar justiça. […] A imagem do Juízo final não é primariamente
uma imagem aterradora, mas de esperança […]. Mas não é porventura também
uma imagem assustadora? Eu diria: é uma imagem que apela à responsabilidade.
[…] Deus é justiça e cria justiça. […] Mas, na sua justiça, Ele é conjuntamente
também graça […] que não exclui a justiça. Não é uma esponja que apaga tudo, de
modo que tudo quanto se fez acabe por ter o mesmo valor […] (44).
Com a morte, a opção de vida feita pelo homem torna-se definitiva e está diante
do Juiz. A sua opção […] pode ter caracteres diversos. Pode haver pessoas que
destruíram totalmente o desejo da verdade e a disponibilidade para o amor […] Em
tais indivíduos, não haveria nada de remediável […]: é já isto que se indica com a
palavra inferno. Por outro lado, podem existir pessoas puríssimas, que se deixaram
penetrar inteiramente por Deus […] totalmente abertas ao próximo – pessoas […]
cuja chegada a Deus apenas leva a cumprimento aquilo que já são (45). Mas, […]
na maioria dos homens – como podemos supor – perdura […] uma derradeira abertura interior para a verdade, para o amor, para Deus. […] porém, aquela é sepultada sob repetidos compromissos com o mal: muita sujeira cobre a pureza que, apesar
de tudo, […] continua presente na alma. O que acontece […] diante do Juiz?
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Reflexões
estavam convencidas de poderem inserir no grande com-padecer de Cristo as suas
pequenas canseiras […]. Deveríamos talvez interrogar-nos se verdadeiramente isto
não poderia voltar a ser uma perspectiva sensata também para nós (40).
. teologia/pastoral .
São Paulo, usando imagens […], dá-nos uma ideia da distinta repercussão do
juízo de Deus sobre o homem, conforme as suas condições e afirma que a existência
cristã está construída sobre um fundamento comum, Jesus Cristo, que não nos será
tirado: «Se alguém edifica sobre este fundamento com ouro, prata, pedras preciosas,
madeira, feno ou palha, a obra de cada um ficará patente, pois o dia do Senhor a fará
conhecer. Pelo fogo será revelada e o fogo provará a obra de cada um […]» (1 Cor
3,12-15). No texto torna-se evidente que a salvação dos homens pode acontecer sob
distintas formas: algumas coisas edificadas podem queimar completamente; para alcançar a salvação, é preciso atravessar pessoalmente o «fogo» para se tornar definitivamente capaz de Deus e poder sentar-se à mesa do banquete nupcial eterno (46).
Teólogos recentes são de parecer que o fogo que simultaneamente queima e salva
é o próprio Cristo. […] As coisas edificadas durante a vida podem então revelar-se
palha seca […] Porém, na dor deste encontro está a salvação. […] Uma dor feliz, em
que o poder do seu amor nos penetra como chama, consentindo-nos no final sermos
totalmente nós mesmos e, por isso mesmo, totalmente de Deus. […] O nosso modo
de viver não é irrelevante, mas a nossa sujeira não nos mancha para sempre, se ao
menos continuámos inclinados para Cristo, para a verdade e para o amor. No fim de
contas, esta sujeira já foi queimada na Paixão de Cristo. […] O Juízo de Deus é esperança quer porque é justiça, quer porque é graça. […] A graça permite-nos esperar
e caminhar cheios de confiança ao encontro do Juiz que conhecemos como nosso
«advogado», parakletos (cf. 1 Jo 2,1).
Que o amor possa chegar até ao além, […] constituiu uma convicção fundamental
do cristianismo através dos séculos e ainda permanece uma experiência reconfortante.
Quem não sentiria a necessidade de fazer chegar aos seus entes queridos, […] um sinal
de bondade, de gratidão ou mesmo de pedido de perdão? […] Deveremos dar-nos
conta de que nenhum homem é uma mónada fechada em si mesma. As nossas vidas
estão em profunda comunhão […]. Deste modo, a minha intercessão pelo outro não é
uma coisa que lhe é estranha. […] A minha oração por ele pode significar uma pequena
etapa da sua purificação. Como cristãos, não basta perguntarmo-nos: como posso salvar-me a mim mesmo? Deveremos antes perguntar-nos: o que posso fazer a fim de que
os outros sejam salvos e nasça também para eles a estrela da esperança? (48).
5. Maria, estrela da esperança
Rumo à meta, a vida é como uma viagem no mar da história, com frequência
enevoada e tempestuosa. Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol erguido sobre
todas as trevas da história. Mas para chegar até Ele, precisamos também de luzes
vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da luz d’Ele. E quem mais do que Maria
poderia ser para nós estrela de esperança? O Santo Padre convidando-nos a uma
longa e terna oração. Com ele rezamos: […] Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a
crer, a esperar e a amar convosco […]. Estrela do Mar, brilhai sobre nós e guiai-nos
no nosso caminho.
150 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. teologia/pastoral .
Breves notas históricas
A Misericórdia de Leiria e o seu hospital
No passado dia 7 de Junho, fez-se a celebração inaugural e implorou-se a bênção
de Deus para o Hospital D. Manuel de Aguiar, para os doentes e para todos os que
ali irão prestar serviço.
Fundada no ano longínquo de 1544, tendo com o objectivo fundacional de prover
às necessidades espirituais e temporais dos irmãos mais carenciados, a Santa Casa
da Misericórdia de Leiria, inspirando-se em princípios evangélicos, começou desde
logo a debruçar-se sobre a situação dos doentes da sua área de actuação.
As doenças eram muitas, com destaque para a lepra, e as instituições humanitárias,
de iniciativa privada ou por concertação entre pessoas da mesma profissão e condição
social, mesmo se numerosas, não tinham condições nem dimensão.
O bispo D. Martim Afonso Mexia (1605-1615) obteve autorização régia para que
as muitas albergarias, gafarias e hospitais existentes na área da Diocese transferissem
os seus fracos recursos para a Misericórdia e que esta assumisse o encargo de zelar
por todos os doentes, solução já adoptada em Lisboa com o Hospital de Todos os
Santos. E o bispo que lhe sucedeu, D. Diniz de Mello (1627-1636), na qualidade de
Provedor da instituição, promoveu a construção do primeiro hospital de Leiria, nas
imediações da igreja da Misericórdia. O hospital da Misericórdia permaneceu nessa
zona da judiaria, cerca de século e meio.
D. Manuel de Aguiar, pouco depois de chegar a Leiria, em Agosto de 1790,
visitando as várias instituições ligadas à Igreja, inventariou as necessidades
existentes e traçou um plano de intervenção de acordo com a disponibilidade dos
recursos. A construção dum novo hospital é então considerada prioritária por as
condições em que os muitos doentes eram alojados não garantirem um mínimo de
dignidade. Apoiado nos que compreendiam o alcance do seu sonho, D. Manuel de
Aguiar decide que o mesmo seja implantado no Bairro dos Anjos, no local da capela
que servia aquele núcleo citadino.
O reconhecimento geral da necessidade e a mobilização dos esforços de muitos
fizeram com que o nobre e majestoso edifício, iniciado em 1798, estivesse concluído
e em condições de receber os primeiros doentes a 8 de Junho de 1800. O próprio
Bispo, conduzindo a sua carruagem, colaborou no transporte dos doentes para o
novo hospital da Misericórdia que os leirienses, com merecimento reconhecido,
designaram, até hoje, com o nome do seu fundador, D. Manuel de Aguiar.
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Reflexões
Por padre João Trindade
. teologia/pastoral .
Dois séculos volvidos, quantas histórias belas não podiam ser contadas pelos
milhares de doentes, mendigos e desafortunados que ali recuperaram a saúde ou
obtiveram o acompanhamento digno de seres humanos que se despedem da vida.
Quantas mães ali deram à luz os seus filhos quando o saber e jeito das parteiras
não garantiam o êxito em partos complicados! Quantos médicos, enfermeiros,
empregados e capelães não lidaram com situações complicadas em que a vida e a
morte dependiam da sua competência e zelo!
Nem tudo foram rosas. Foram muitos os reveses ao longo de dois séculos. O
estado de degradação a que o hospital se viu votado após a ocupação, na sequência
da revolução de Abril de 1974, só teve paralelo nas invasões napoleónicas. Só
faltaram os incêndios.
Agora, que se encontra recuperado, equipado e, em parte, já activado, importa
respeitar a sua bela história bissecular e secundar o ingente esforço que a sua
restauração exigiu às Mesas Administrativas que se empenharam em tornar realidade
o sonho de devolver à cidade, à diocese, ao distrito e por que não, ao país, este belo
monumento.
152 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. história .
Capelas e ermidas
na Paróquia da Batalha em Setecentos
Saul António Gomes
(Universidade de Coimbra)
— Nossa Senhora da Conceição das Brancas, “no mesmo sitio em que esteve
outra, muito antiga e pequena”.
— Santo Antão da Faniqueira, “antiquissima, devotos a fabricam, e a confraria
que tem, posto que sem renda, o Santo é de vulto, tem retabulo, antigo, com
figuras, tudo dourado.”2
— S. Bento da Cividade, antiga “mas já reformada e fabricada por devotos; tem
sacristia e um alpendre á porta principal, que se fez no anno de 1582”.
— Jesus da Golpilheira [em 1721 será referida como do Bom Jesus] com duas
capelanias de missas, uma instituída por Diogo Frade (com 20 missas por
ano) e outra por Pedro Gomes3, “escrivão que foi da chancelaria do reino,
que mandou fazer esta ermida” (com 50 missas anuais).
— Santa Maria Madalena, “na estrada que vai para a Boutaca (…) a qual foi
feita no anno de 1571 e dotada por pessoa particular”. Referida, em 1721,
como ficando “aos Olivais”, erecta por “huma Fulana de Vivar”, nela celebrando missa e sermão todos os anos, a 22 de Julho, os frades dominicanos.
— Nossa Senhora da Consolação [de Nossa Senhora da Esperança, em 1721], na
Canoeira, com 15 missas de obrigação em cada ano, ao cuidado do morgado
Mateus Trigueiro, que a instituiu e com cujas casas pegava4. Foi fundada por
Rui Lopes Cea, cerca de 1550.
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Reflexões
1 — Ao aludir às ermidas existentes na freguesia religiosa da Batalha, meado
do Século XVII, o ainda não identificado, pelo menos em definitivo, autor de O
Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria1, preciosíssimo repertório da história
eclesiástica da região leirenense, depois de descrever o majestoso Mosteiro de Santa
Maria da Vitória, a Capela de Santa Maria-a-Velha, a Capela de Nossa Senhora da
Vitória, erecta no Hospital do mesmo orago e a igreja matriz da vila, da invocação da
Santa Cruz, passa a enunciar as demais ermidas existentes no termo paroquial.
Para umas, dá-nos as datas de construção ou instituição, enquanto que, para
outras, de maior antiguidade, tais dados lhe escaparam. Menciona, deste modo, as
seguintes ermidas:
. história .
— S. João Baptista, abaixo da Canoeira, de que era administradora, cerca de
1650, D. Maria de Sousa, do Arrabalde da Ponte de Leiria.
— Santo António, no lugar de Bico-Sachos, “feita e dotada por um sacerdote
chamado Jeronymo Ribeiro, no anno de 1625”5.
— [Santo Antonio] da Rebolaria, “feita no anno de 1643 pelos moradores do
mesmo lugar”.
— S. Sebastião no lugar do Freixo [então Casal do Freixo]6.
Uma relação devida a Manuel Cardoso de Mendonça, vigário da Batalha, datada
de 17 de Maio de 17217, acrescenta às enumeradas pelo autor de O Couseiro, as
seguintes novas capelas:
— Capela de S. Sebastião na Quinta de Manuel Correia, “mistica com as cazas”, instituída por Tomé Pereira de Mesquita, com obrigação de missa dominical somente.
— Ermida da Quinta do Pinheiro da invocação de Nossa Senhora dos Anjos do
Bom Sucesso, levantada pelos religiosos dominicanos em 1677 e reparada,
cerca de 1713-1714, pelo enfiteuta da Quinta, Manuel da Costa Pereira.
— Ermida de S. João na Quinta de Sebastião Soares Evangelho, “por elle modernamente edificada e elle a fabrica”. Em 1758, esta capela é dita da “Quinta de André Cardozo Moniz, da sidade de Leiria, de que hé administrador e
está a capella separada das cazas da Quinta.”8
A relação do estado da freguesia, subscrita pelo Vigário Paulino da Silva e Carvalho, a 1 de Maio de 1758, confirma a rede de capelas batalhenses enunciada pelos
seus antecessores, precisando a invocação de S. Gonçalo, para a Capela da Quinta
da Várzea, dos padres dominicanos, bem como os administradores responsáveis por
esses templos no seu tempo. De novo, refere-se a Capela de Nossa Senhora do Desterro, na Quinta do Sobrado, instituída e administrada pelo Pe. José dos Reis9. Não
se menciona em nenhum destes apontamentos a pequenina ermida de Nossa Senhora
do Caminho, levantada nas imediações da antiga cerca do Mosteiro.
2 — Todas as anteriores ermidas e capelas pressupõem construções arquitectónicas de templos. No estabelecimento ou fundação dessas casas de oração estiveram
tanto instituições eclesiásticas, quanto vontades individuais, enformadas numa vontade religiosa ou espiritual. Mas a fundação de “capelas” nem sempre obrigava à
construção de um templo ou altar. Poderia resultar de um contrato ou compromisso,
para celebração de missas por alma, entre um piedoso instituidor e um instituto religioso secular ou regular.
Para garantir a sobrevivência destas “capelas por alma”, os instituidores afectavam ou dotavam fazenda e bens próprios, sempre com autorização legal, de cujos
rendimentos deveria resultar o dinheiro necessário para a sustentação dessas mesmas
154 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. história .
Reflexões
Igreja de Nossa Senhora da Conceição - Brancas (Foto LMFerraz)
Igreja do Bom Jesus - Golpilheira (Foto LMFerraz)
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. história .
capelas. Esses bens ficavam vinculados ou obrigados à garantia de realização do
contrato estabelecido.
É a este género de capelanias que se refere a relação elaborada pelo provedor da
Comarca de Leiria, também no ano de 1721, quando enumera as capelas instituídas
por particulares tais como:
— Capela instituída por Luís Machado da Costa, em 7 de Dezembro de 1655, na
Misericórdia da Batalha.
— Capela instituída por Mateus Fernandes, de Alcanada, em 1 de Junho de
1620, de que era administrador João dos Reis Neto.
— Capela instituída por Isabel Vieira, do termo de Porto de Mós, chamada do Almoxarife, em 7 de Janeiro de 1674, de que era administrador João Vieira Leite.
— Capela instituída por Francisco Leite Henriques, em 4 de Fevereiro de 1654,
de que era administrador o mesmo.
— Capela instituída por Fernando Alves, em 23 de Junho de 1618, de que era
administrador José Henriques.
— Capela instituída pelo Pe. Miguel Gonçalves, morador que fora nas Brancas, em
8 de Outubro de 1671, da qual era administrador o citado José Henriques10.
Não é referida, para a maior parte destas instituições, a igreja em que ficavam
estabelecidas, mas cremos que seja a igreja de Santa Cruz da Batalha, matriz paroquial. Terá sido uma capela deste género que instituiu Duarte Boutaca, em 1587, da
qual pouco mais sabemos do que a notícia genealógica que a refere e que associa esta
luzida família à vila da Batalha:
“Boutaca da Batalha.
Felipe Boutaca Henriques e sua mulher Jeronima Boutaca: Padrão de 65
330 [réis] na Caza da India por Bartolomeu Froes escrivam da Fazenda, 17 de
Setembro 1566, filha de Bernardo Boutaca <… (?)>. Este lhe deyxou per titulo
de 11 de Abril de 1571, irmã de Duarte Boutaca em que diz que teve a Jeronima
em Maria Eytor que deixa h(erdeiro) e tutor a seu irmão delle tutor por nome <o
Licenciado> Antão Boutaca e que a caza com hum Padrão dexa ao irmão o officio de Juiz da Alfandega … (?). Diz que com seus irmaos aceitara a instituiçam
da Capela que fez seu irmão Duarte Boutaca, escrita por Theodozio Mendes
tabeliam de Leyria e o filho e a mulher venderão a Eytor Mendes, 30 de Julho
1587. Notas de Miguel Alvarez.”11
Na Batalha dessa época pesavam, entre outras e para além dos Boutaca, as famílias dos Arruda e dos Seixas, entroncando todas elas na aristocracia dos mestres
arquitectos, canteiros e oficiais das obras do estaleiro do claustro gótico ali edificado
ao longo de mais de um século12.
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3 — A Capela de S. Sebastião, edificada junto às casas da Quinta de Manuel
Correia, segundo a relação paroquial de 1721, não pode deixar de identificar-se com
a ermida actualmente existente na conhecida Quinta do Fidalgo. Já aí estava como
vemos, em 1721, devendo-se a sua instituição a Tomé Pereira de Mesquita, pai do
citado Manuel Correia.
Este Manuel Correia deverá identificar-se como sendo o Dr. Manuel Correia
de Mesquita Barba, casado com D. Teodora Bernardina Marques de Almeida, os
quais, por escritura de 18 de Maio de 1740, lavrada nas “suas casas de morada”,
dotaram a referida capela com uma renda de cinco mil réis anuais. Nesta data, revela
o documento que seguimos, eles propunham-se pela sua “devossam de edificarem
a esta dita sua quinta huma capella do Martri [sic] Sam Sebastiam para o que tem
recorrido ao Excelentissimo e Reverendissimo Senhor Bispo de Leiria para mandar
exeminar o citio e conseder licensa”13.
Deve tratar-se da edificação ou beneficiação de um novo edifício uma vez que,
como vimos, a capela existia já em 1721 e era da fundação paterna de Manuel Correia de Mesquita Barba. São poucos os dados de que dispomos para a história desta
quinta e dos seus morgados. O nome completo da mulher do Dr. Manuel Correia era
Teodora Bernardina de Almeida Pacheco e Arnizaut, filha do Capitão André Marques e de D. Isabel de Almeida, colonos que foram no Brasil, tratando-se na cidade
da Baía, por 1765, a questão da herança deixada pelos mesmos. Uma sua irmã, de
nome Maria, era “demente a natividade”, reclamando-se D. Teodora sua tutora e
herdeira, posto que tivesse outros irmãos e irmãs14.
Era herança apreciável, cujas partilhas e inventário mereceram interposição de
apelação. D. Teodora e seu marido louvaram-se, em 13 de Fevereiro do ano de 1765,
no Reverendo Dr. António da Costa Andrade, residente na Baía, para seu procurador
ou, no impedimento deste, em José Pereira da Fonseca. Também as filhas do casal,
D. Ana Isabel Antonina Barba de Vera Pimentel, D. Isabel Joana Rita Barba de Vera
e Arnizaut e D. Teresa de Jesus Maria Barba Pacheco e Arnizaut, um dia depois,
subscreveram idêntica procuração. Por ela relevam serem sobrinhas de Bernardino
Marques de Almeida e Arnizaut, residente na Baía, o qual entregou dos legados que
lhes cabiam, um milhão quinhentos e trinta e oito mil setecentos e cincoenta réis,
quantia que as constituintes consideravam inferior à devida, pois que se “lhe não
pagaram logo os ditos legados do muyto dinheyro que ficou por morte do dito seu
avô na cidade de Lisboa”. Ao pai das requerentes ficaram dois mil cruzados, devendo-se-lhe “mayor quantia do legado”15.
O Dr. Manuel Correia de Mesquita Barba tinha parentesco com os Mesquita
Barba e/ou Barba Alardo, de Leiria. Já os Marques de Almeida e Arnizaut ou Vera
e Arnizaut entroncam a sua genealogia noutras famílias, sobrepondo-se o apelido
Arnizaut. Desta família fidalga, conhecemos alguns descendentes que permaneceram na Batalha. Data, de facto e a mero título ilustrativo, de 18 de Maio de 1792, o
óbito de D. Rita Felicidade Perpétua Mesquita Barba, viúva do Dr. Manuel Marques
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Reflexões
. história .
. história .
Ribeiro e irmã do Dr. Carlos Barba Alardo, em cuja casa, ou seja, no solar da Quinta
do Fidalgo, recebeu os últimos sacramentos e faleceu16.
Uma outra capela batalhense, menos conhecida, era a do Menino Jesus ou Menino Deus. Era edifício anexo às casas do Capitão Agostinho António de Mendonça. A
sua primeira mulher, D. Vicência Rosa da Mata, foi aí sepultada em 25 de Fevereiro
de 1792. Deixou por suas herdeiras a D. Maria Rosa, sua prima, e a D. Vicência
Clara, sua sobrinha17. Agostinho António de Mendonça casou, então, segunda vez,
com D. Luísa do Amor Divino, da qual tivera três filhos, cuja legitimação impetrara
junto de Sua Alteza Real.
O Capitão Agostinho António de Mendonça não terá tido o melhor relacionamento com a sua primeira e legítima mulher, mas da leitura do seu testamento,
com data de 11 de Janeiro de 1794, ressalta um grande enternecimento para com a
segunda mulher e os filhos que com ela tivera. Redigido com o auxílio do Pe. José
Vieira Neto, coadjutor da vigararia, oferece um testemunho de original e elevada
sensibilidade religiosa e espiritual. Nele determina querer ser enterrado, amortalhado no hábito de S. Domingos, “na minha Cappella intitulada do Menino Deos junto
as cazas em que vivo”18. Foi efectivamente sepultado, em 31 de Agosto de 1796,
“dentro da Cappella do Menino Jesus”, ficando por testamenteira sua filha mais
velha, Luísa, como sua mãe, e principal auxiliadora do pai nos momentos de doença
e achaques que sofria19.
Pouco poderemos adiantar, de momento, sobre estes Mendonça, aparentemente
de currículo militar, integrando a aristocracia batalhina em finais do Século XVIII.
É possível que as “suas casas” sejam as do antigo solar que hoje se observa ao lado
da igreja da Misericórdia, se bem que só novas e mais aprofundadas investigações o
possam confirmar definitivamente.
4 — A instituição de capelas, quer em forma e aparato arquitectónicos, quer
como mero instituto piedoso, assumia, nessas centúrias da Época Moderna, tanto um
manifesto de devoção espiritual, de crença e de fé, quanto se traduzia num acto de
afirmação social20. Na Batalha como por toda a Europa católica tridentina e demais
espaços imperiais afectos a Portugal ou a outros Estados21.
Na cronologia dessas instituições verificamos, no caso batalhense que nos ocupa, tanto a tradição medieva e pastoral crúzia (S. Bento da Cividade, Santo Antão,
Santa Cruz), como também monárquica ou régia (Santa Maria da Vitória, orago do
Mosteiro e da igreja de Santa Maria-a-Velha), quanto o florescimento das devoções
novas próprias da experiência mendicante do fim da Idade Média (Bom Jesus da
Golpilheira, Nossa Senhora do Ó de Bico-Sachos, Nossa Senhora da Conceição das
Brancas, Santa Maria Madalena dos Olivais, Santo António da Rebolaria) ou de
base sociológica mais moderna, nobiliárquica e laica - bem característica do Portugal dos Séculos XVII e XVIII e dos portugueses que se espalharam pelo império,
com destaque para o Brasil, ao qual, como vimos, se encontravam ligadas famílias
158 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. história .
fidalgas batalhenses desse tempo -, intitulando devoções familiares ou individuais
(Nossa Senhora da Consolação ou da Esperança (Canoeira), Nossa Senhora do
Desterro (Quinta do Sobrado), S. João (Canoeira), S. Gonçalo (Quinta da Várzea),
S. Sebastião (Quinta do Fidalgo e Casal do Freixo), Menino Jesus ou Menino Deus
(Batalha)).
Constituíram estas capelas, no passado, como referimos, a expressão de um sentimento religioso. Hoje esse sentido do sagrado permanece em muitas delas, ainda
abertas ao culto, com maiores ou menores transformações arquitectónicas, ampliando-se o seu significado histórico pela dimensão cultural que assumem, tornando-se
jóias preciosas do património monumental da Batalha.
Doc. 1
1740 MAIO, 18, Batalha — Escritura de doação que faz o Dr. Manuel Correia
de Mesquita Barba e sua mulher, D. Teodora Bernardina Marques de Almeida, de
cinco mil réis anuais para levantamento de uma capela do título de S. Sebastião, na
Quinta que possuíam junto à Batalha.
ADL — Registos Notariais: Batalha, 5-E/20, fls. 47-48
Saibam quantos este publico instromento de duassam ou como em dereito milhor
dizer se possa e força de direito tenha virem como no anno do nascimento de Nosso
Senhor Jezus Christo de mil e setecentos e quarenta annos aos dezanove dias do mes
de Maio do dito anno em esta villa de Nossa Senhora da Vitoria da Batalha // [Fl.
47vº] da Batalha e cazas de morada do Doutor Manoel Correa de Mesquita Barba
onde eu tabaliam do dito digo ao diante nomeado, sendo elle ahi prezente com sua
molher Dona Theodora Bernardina Marques de Almeida pessoas conhessidas de
mim tabaliam pellos quais foi dito em prezenssa das testemunhas no fim desta nota
asignadas que elles tem devossam de edificarem a esta dita sua quinta huma capella
ao Martri [sic] Sam Sebastiam para o que tem recorrido ao Excelentissimo e Reverendissimo Senhor Bispo de Leiria para mandar exeminar o citio e conseder licensa,
e pera esta ter efeito doam pera a fabrica da dita capella a quantia de sinco mil reis
de renda em cada hum anno no mais bem parado de suas terças pera o que já desde
agora despoem delles nesta parte. E cazo antes de falecerem nam nomeem fazenda
de competente rendimento pera pagamento dos ditos sinco mil reis cada anno ham
por nomeada esta dita quinta na parte em que for nessessario tomando esta na de
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 159
Reflexões
Escreptura de duaçam que fazem o Doutor Manoel Correa de Mesquita Barba e
sua molher D. Theodora Bernardina Marques de Almeida de sinco mil reis em cada
hum anno para fabrica de huma capella que [qu]erem edeficar em huma sua quinta
que tem junto a esta villa.
. história .
suas terças pera por ella se pagarem os ditos sinco mil reis cada anno pera a dita
fabrica havendo lhe por posto o dito encargo, e querem que a todos os possuidores
que forem della passe com o mesmo declarando que a dita quinta he livre de morgado nem pensam alguma // [Fl. 47vº] digo e livre declarando os ditos devadores que
a dita quinta he livre de morgado nem pensam alguma e nesta boa fee a pessuem e
o mesmo disseram as testemunhas abaixo assignadas. E eu tabaliam a dou por fé e
por assim sempre o ouvir dizer e de como fizeram a dita duassam entre vivos a qual
queriam tivesse sempre seu devido efeito pormetendo estar sempre por ella por si e
seus herdeiros, assignaram aqui comigo tabaliam sendo testemunhas prezentes que
assignaram com os duadores Joze Pereira Torino e Bento Luis das Neves, ambos
moradores nesta dita villa e eu Felix Pereira tabaliam o escrevi.
(Assinaturas)
D. Theodora Bernardina Mesquita de Almeyda.
Manoel Correa de Mesquita Barba.
Jozeph Pereira Torino.
Bento Luiz das Neves.
Doc. 2
1765 FEVEREIRO, 13, Batalha — Procuração feita por D. Teodora Bernardina de Almeida Pacheco e Arnizaut, mulher de Manuel Correia Mesquita Barba,
residentes na Quinta do Fidalgo, Batalha, ao Reverendo Dr. António da Costa e Andrade, ou, em sua ausência, a José Pereira da Fonseca, para que a representassem
na apelação interposta, na cidade da Baía, sobre a herança de seus pais, o Capitão
André Marques e D. Isabel de Almeida.
ADL — Registos Notariais: Batalha, 5-F/19, fls. 20-21
Procuraçam bastante que faz D. Theodora Bernardina de Almeyda Pacheco e
Arnizaut moradora nesta sua Quinta do Fidalgo junto desta villa da Batalha ao Muito
Reverendo Doutor Antonio da Costa e Andrade morador na cidade da Bahia.
Saybam quantos este publico instromento de procuraçam bastante virem como
no anno do nascimento de Nosso Senhor Jizus [sic] Crispo [sic] de mil setecentos
e sesenta e sinco annos aos treze dias do mez de Fevereiro do dito anno em esta
villa de Nossa Senhora da Vitoria da Batalha e Quinta chamada do Fidalgo // [Fl.
20vº] do Fidalgo junto a dita villa aonde eu tabaliam vim sendo ahi prezente Donna
Theodora Bernardina de Almeyda Pacheco e Arnizaut pessoa conhessida de mim
tabaliam e das testemunhas ao diente nomiadas e assignadas de que dou minha fê
ser a propria e por ella foy dito perante mim tabaliam e das mesmas testemunhas ao
160 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. história .
Reflexões
Fachada da igreja de São Sebastião - Quinta do Fidalgo, Batalha (Foto LMFerraz)
Interior da igreja de São Sebastião - Quinta do Fidalgo, Batalha (Foto LMFerraz)
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 161
. história .
diente nomiadas e assignadas que ella por este instromento de procuraçam bastante
fazia ordenava e constetuhia seu bastante procurador na cidade da Bahia ao Muyto
Reverendo Doutor Antonio da Costa e Andrade para ratificar a appelaçam entreposta
na dita cidade ou em outra qualquer parte ou juizo das partilhas feytas no inventario
de seus pais o Capitam André Marquiz e Donna Izabel de Almeyda cujo inventario
se fez na dita cidade da Bahia em o Juizo dos horfaos na qual se retificará ou em
outro qualquer que competente for e dou puder ao dito digo for e pella sobredita
constetuhinte foy mais dito que dava poder ao dito seu procurador para seguir a dita
apelaçam, que foy entreposta na sobredita cidade da Bahia em seu nome e de seu
marido Manoel Correya de Mesquita Barba, e requerer todo o seu direyto e justissa
na dita cauza, apellar, agravar, embargar e tudo seguir emthe mayor alssada, vir com
artigos de nova rezam, pondo acçois, libellos e todos os mais artigos por senugados
e por qualquer rezão que lhe pertenssa ou possa pertencer tanto a respeito da dita
heranssa como a respeito da seguranssa da que falava sua irmam Donna Maria que
por cer demente a natividade lhe ha-de pertenser por sua morte ou a seus filhos e
juntamente a seu irmam e hirmans e poderá nesta parte e pella que lhe toca requerer
a inmenda das ditas partilhas e reformaçam dos seus her[r]os seguindo tudo athe
mayor alssada e contra todos os seus devedores por acçois quaisquer que for de
direyto e tudo seguirem the mayor alssada que para tudo cobrar e dar quitasois lhe
dá seu comprido puder e para puder dar de suspeitos quaisquer juizes e oficiais de
justissa e se lo[u]var em ellles depois consentir e jurando em sua alma qualquer
lissito juramento de calunia e com poder de sustebalecer desta os puderes que lhe
parecer ficando sempre em seu vigor e em sua aubzensia ou empedimento nomeya
em seu lugar para procura // [Fl. 21] procurador com os mesmos puderes de sustebalecer a Jozé Pereyra da Fonceca morador na dita cidade da Bahia e revoga todos os
procuradores antesedentes e assim o disse e outrogou e afirmou e me pediu a mim
tabaliam de tudo lhe fizesse este instromento de procuraçam bastante que asseytou.
E eu tabaliam tanto quanto em direito o devo e posso fazer assim em nome nome
[sic] dos prezentes como dos aubzentes a que tocar possa por me cer destrebuhida
aos treze dias do mez de Fevereyro do anno de sua contenuaçam e carregada no livro
da da [sic] destrebuhiçam a folha cento e huma como me constou por hum bilhete do
destrebuhidor do Juizo sendo testemunhas prezentes que aqui assignaram depois que
esta lhes foy lida por mim tabaliam João da Silva que o escrevy.
Manoel de Santo Antonio escudeyro da dita Senhora, e Francisco Carreyra, anbos desta dita villa.
(Assinaturas)
D. Theodora Bernardina de Almeida Pacheco e Arnizaut.
Manoel de Santo Antonio.
† Da testemunha Francisco Carreira.
162 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. história .
Doc. 3
Procuraçam que faz D. Anna Izabel Antonina Barba de Vera Pimentel, e D. Izabel Joanna Rita Barba de Vera e Arnizaut e Dona Thereza de Jezus Maria Barba Pacheco e Arnizaut todos moradores na Quinta do Fidalgo nesta villa cuja procuraçam
fazem com autoridade de seus pais ao Muito Reverendo Doutor Antonio da Costa
Andrade da cidade da Bahia.
Fora.
Saybam quantos este publico instromento de procuraçam bastante virem como
no anno do nassimento de Nosso Senhor Jezus Crispo [sic] de mil e setecentos e
sesenta e sinco annos aos catorze dias do mez de Fevereyro do dito, em esta villa de
Nossa Senhora da Vitoria da Batalha e cazas de morada do Doutor Manoel Correya
de Mesquita Barba aonde eu tabaliam ao diente nomeado vim chamado, ahi perante
mim e das testemunhas ao diente nomiadas e assignadas foram prezentes a Senhora
Donna Anna Izabel Antonina Barba de Vera e Arnizat [sic], e Donna Thereza de
Jezus Maria Barba Pacheco e Arnizaut, pessoas conhecidas de mim tabaliam e das
mesmas testemunhas de que dou minha fê serem as proprias filhas do Doutor Manoel Correya de Mesquita Barba e de sua mulher Donna Theodora Bernardina de
Almeyda Pacheco e Arnizaut por ellas foy dito em minha prezenssa e das mesmas
testemunhas que ellas com autoridade dos ditos seus pais por este instromento de
procuraçam bastante faziam e hordenavam e constetuhiam seu bastante procurador
na cidade da Bahia ao Reverendo Doutor Antonio da Costa e Andrade para que em
seu nome possa ratificar hum protesto que fizeram no Juizo ordinario desta dita villa
em que receberam huma quitaçam que em // [Fl. 19vº] que em seu nome deu [a]o
Reverendo Padre Jozé Gonsalvez Machado na dita cidade da Bahia seu thio Bernardino Marquez de Almeyda e Arnizaut de parte da quanthia dos legados que lhe
deichou seu avó o Cappitam Andre Marquiz em cujo protesto juntamente apelaram
e assim lhe dam para o referido todo o poder ao dito procurador e juntamente para
requerer todo o seu direyto e justissa na dita dependensia e em todas as mais que
pertensam ou possam pertencer as ditas constituhintes apelando, agravando e tudo
digo agravando, embargando e tudo seguindo athe mor alsada e juntamente para cobrar o resto que se lhes deve dos ditos legados tanto nos juros do prinsipal como do
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 163
Reflexões
1765 FEVEREIRO, 14, Batalha — Procuração feita por D. Ana Isabel Antonina Barba de Vera Pimentel, D. Isabel Joana Rita Barba de Vera e Arnizaut e D.
Teresa de Jesus Maria Barba Pacheco e Arnizaut, filhas do Dr. Manuel Correia de
Mesquita Barba, ao Reverendo Dr. António da Costa Andrade, morador na cidade
da Baía, a fim de que as representasse no requerimento do pagamento dos legados
e juros devidos de que eram herdeiras por falecimento do seu avô, o Capitão André
Marques.
ADL — Registos Notariais: Batalha, 5-F/19, fls. 19-20
. história .
proprio porquanto a quanthia resebida de hum conto quinhentos e trinta e ouito [sic]
mil setecentos e sincoenta reis há de cér descontada em primeyro lugar nos juros a
sinco por cento desde o tempo que faleseu o dito nosso avó digo que faleseu o dito
seu avó porque sem nenhuma justissa se lhe não pagaram logo os ditos legados do
muyto dinheyro que ficou por morte do dito seu avó na cidade de Lisboa e o resto
que subejou ficara por conta da prinsipal e deste se lhe há-de de pagar o dito juro
emthe o dia em que ellas constetuhintes forem inteyra e cabalmente satisfeytas. E
os dois mil cruzados que se pagaram ao dito seu pay os não aprovam no seu legado
porque ao dito seu pay se deve mayor quanthia do legado e nesta conformidade e
debaicho deste protesto dam puder ao dito seu procurador para a dita cobranssa e dár
quitaçam publica e raza e requerer toda a sua justissa sumaria e ordinariamente pondo acçois e oferecendo libellos e vindo com todas as petissois e artigos nessessarios
athe concluhir a dita cobranssa.
E mais foy dito pellas ditas constetuhintes que tambem dam puder ao dito seu
procurador para recuzar menistros e escrivais e outros ofessiais de justissa e nelles depois consentir e tambem para sustabalecer desta os puderes que lhe parecer
ficando sempre em seu vigor e em segundo lugar na auzensia ou inpedimento do
dito seu procurador consedem os mesmos puderes assima // [Fl. 20] assima decllarados a Jozé Pereyra da Fonseca morador na dita cidade da Bahia. E pellas mesmas
constituhintes foy dito que ellas revogam todos os procuradores antessedentes, e
aos que novamente fazem lhe dam a todos pudere de jurar em suas almas qualquer
lisito juramento, e de calunia rezervando somente nova citaçam e assim o disseram
e outorgarám e afirmaram e me pediram a mim tabaliam lhe fizesse este instromento
de procurassam bastante que asseytaram e eu tabaliam tanto que em direyto o devo e
posso fazer assim em nome dos prezentes como dos aubzentes a que tocar possa por
me cer destrebuhida aos treze de Fevereyro do anno de sua contenuaçam e carregada
no livro da destrebuhiçam a folhas cento e huma como me constou por hum bilhete
do destrebuhidor do Juizo sendo testemunhas prezentes Manoel de Santantio digo de
Santo Antonio, escudeyro das ditas constetuhintes e Francisco Carreyra, anbos desta
dita villa que todos aqui assignaram depois que esta lhe foy lida por mim taballiam
João da Silva que o escrevy.
(Assinaturas)
D. Anna Izabel Antonina Barba de Vera Pimentel.
D. Izabel Joana Rita Barba de Vera e Arnizaut.
D. Tereza de Jezus Maria Barba Pacheco e Arnizaut.
Manoel de Santo Antonio.
† Da testemunha Francisco Carreyra.
164 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. história .
Doc. 4
1795 SETEMBRO, 5, Batalha — Assento e cópia do testamento feito em 11 de
Janeiro de 1794, Batalha, pelo Capitão Agostinho António de Mendonça, no qual,
reconhecendo os filhos ilegítimos que tivera de D. Luísa Maria do Amor Divino, determinava querer ser sepultado, amortalhado no hábito de S. Domingos, na Capela
do Menino Deus, anexa às casas em que habitava na vila da Batalha. Testamento
validado pelo notário António de Magalhães Pinto Avelar, nessa mesma data, tendo
sido aberto a 30 de Agosto de 1796, Batalha, dia do falecimento do testador.
ADL — Registos Notariais: Batalha, 5-G/22, fls. 14-17
Em nome da Santissima Trindade Padre, Filho, Espirito Santo, amen.
Eu Agostinho Antonio de Mendonça desta villa da Batalha meditando a certeza
da morte e a incerteza da hora em que Deos será servido levar-me para si, para evitar
as dezordens que podem suscitar-se depois da minha morte estando em meo perfeito
juizo e intendimento de minha propria e livre vontade faço meu testamento da forma
seguinte.
Primeiramente dou graças a Deos todo poderoso por todos os beneficios que
me fez pelo espaço de minha vida e a elle como criador entrego minha alma redemida com o preciozo sangue de Jezus Christo meu amantissimo Salvador e nas
suas santissimas maos lha entrego. E lhe rogo pelos infinitos merecimentos de Seu
Santissimo Filho, e pela Sua infinita mizericordia a queira rece // [Fl. 14vº] queira
receber entre o numero de seos escolhidos, e para o mesmo fim imploro umilde e
devotamente as pias preces e intercessão da Sempre Virgem Maria Santissima minha
advogada, e de todos os Santos e Santas do Ceo.
Em segundo lugar quero que o meu corpo seja sepultado na minha cappella
intitulada do Menino Deos junto as cazas em que vivo, amortalhado no habito de
São Domingos. E que no dia do meu enterro se me faça officio de corpo prezente. E
sendo este empedido no seguinte dia. E que me acompanhem a sepultura as irmandades que houver nesta villa e os clerigos que se poderem achar, a quem se dará a
costumada esmola. E no dia do meu falecimento se dirão por minha alma as missas
que se poderem dizer pelos clerigos desta freguezia e religiozos do Convento de
esmola de cento e sincoenta reis. E se dará de esmola a cada hum dos pobres que se
juntarem no dia do meu falecimento vinte reis.
Determino que por minha alma se digão mais duzentas e sincoenta missas de
esmola de cento e vinte reis cada huma, ditas todas dentro de hum anno depois do
meu falecimento. E sincoenta missas de esmola de cem reis pelas almas de meos
pays, ditas dentro do dito anno, onde a minha testamenteira as quizer mandar dizer.
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 165
Reflexões
Testamento com que faleceo o Cappitam Agostinho Antonio de Mendonça lançado nesta nota.
. história .
E deixo de falhas cem reis.
Nomeio por minha testamenteira a minha filha Luiza Angelica a quem rogo faça
bem cumprir este meo testamento.
Declaro eu testador que fui primeiramente cazado com Dona Vicencia Roza da
Matta, da qual não tive filhos alguns nem ao prezente tenho ascendentes ou herdeiros
necessarios, e que levando os herdeiros de minha mulher a metade dos bens do cazal,
eu fiquei viuvo e passei a segundas nuptias com minha mulher existente Luiza Maria
do Amor Divino, com a qual faço vida conjugal, e porque cazei com ella por carta de
ametade he ella mieira nos bens que há no cazal, e sobrevivendo ella a mim testador
quero com effeito que tire a miação dos bens do cazal. E quando haja algua duvida
por se conciderar que coando cazou comigo testador tinha a idade de sincoenta annos ficando lhe salvos os bens que ella trouxe para o cazal que são mui poucos quero
que leve a meação de todos os bens que eu testador levei para o mesmo matrimonio
tanto por intender que lhe pertencem, e da mesma forma metade dos adquiridos,
como porque eu testador a constituo minha // [Fl. 15] minha herdeira na metade de
todos esses bens em ordem a tirar toda a duvida que houver a esse respeito.
Declaro mais eu testador que na constancia do primeiro matrimonio tive tres
filhos, a saber, Antonio, Luiza e Angelica, que os tive da dita minha existente mulher
Luiza Maria do Amor Divino, aos quais reconheço e tenho reconhecido por meos
filhos e supposto elles sejão de costo pussivel, eu testador tenho requerido a Sua
Magestade a legitimação de Antonio e Luiza e supposto a não tenho ainda requerido
de Angelica protesto de a requerer.
Instituto eu testador estes tres meos filhos por meos universaes herdeiros em
todos os meus bens havidos e por haver com a obrigação de cumprirem os legados
deste meo testamento.
A minha filha Luiza por mayoria nomeio dois prazos vitalicios de que sou emphiteuta hum foreiro a Collegiada de Santa Maria de Porto de Moz de que pago de
foro dois alqueires de trigo e consta de duas terras huma aonde chamão a Coredora
e outra que chamão a Carboneira, o outro foreiro a Collegiada de São Pedro é hum
alqueire de trigo, e consta de huma propriedade onde chamão a Loureira, e estando
as vidas findas lhe nomeio o dereito de pedir renovação aos dividos senhorios. A
estes dois prazos se acham fazendas pegadas e unidas que são minhas livres estas
fazendas misticas aos ditos prazos as deixo a dita minha filha Luiza por ser a que
me trata e acode nas minhas molestias, digo, minha filha Luiza em mayoria de terça,
isto pelo maior beneficio que devo a dita minha filha Luiza por ser a que me trata e
acode nas minhas molestias.
E sendo cazo que os ditos meos filhos tenhão algua empossibilidade para herdarem meos bens ou que não valha a instituição que nelles faço em tal cazo instituto
por minha unica e universal herdeira a dita minha mulher Luiza Maria do Amor
Divino para que ella seja senhora de todos os meus bens havidos e por haver de qualquer qualidade e natureza que sejão com obrigação de pagar todos os meos legados
166 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. história .
Aprovação do prezente testamento.
Anno do nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil setecentos e noventa
e quatro annos aos onze dias do mes de Janeiro do dito anno nesta villa de Nossa
Senhora da Vitoria da Batalha e cazas de morada do Cappitão Agostinho Antonio de
Mendonça desta dita villa aonde eu tabelião ao diante nomeado e assignado vim a
seu chamado sendo elle ahi perante mim prezente de pé e perfeita saude em seo perfeito juizo e entendimento segundo o parecer de mim tabelião e das testemunhas no
fim deste auto nomeadas e assignadas segundo se via pelas perguntas que fazia e respostas que dava tudo com muito acerto, o qual reconhecido das mesmas testemunhas
e de mim tabelião que de tudo dou minha fé. E logo pelo dito testador Agostinho
Antonio de Mendonça me foi dado hum papel da sua mão á mi // [Fl. 16] á minha
que eu tabelião lhe perguntei se era o seu testamento, ultima e derradeira vontade,
e se queria que eu lho aprovasse, e por elle testador me foi respondido em prezença
das mesmas testemunhas que era o seu testamento, ultima e derradeira vontade que
a seu rogo tinha escripto o Reverendo Padre Joze Vieira Neto cura coadjutor na paroquial igreja desta villa que a seu rogo assignara com elle testador pelo ler e achar
conforme lho tinha mandado escrever que me requeria que como publico tabelião
lho aprovasse tanto quanto em Direito me hera permitido para sua inteira validade.
O qual testamento eu tabelião abri e achei ser escrito pela letra do dito Reverendo
Joze Vieira Neto em duas meias folhas de papel e hua lauda dentro no fim, da qual
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 167
Reflexões
e dividas e de dar todos os alimentos necessarios aos ditos meos filhos conforme a
seos estados e qualidade de minha pessoa, com cujos ali // [Fl. 15vº] alimentos penciono e ficão pencionados todos os meos bens havidos e por haver.
Determino e he minha vontade que cazo alguma pessoa se oponha em todo ou
em parte ao que determino neste meo testamento seja por isso excluido de meo
herdeiro.
Declaro que se neste meo testamento faltar alguma clauzula que seja essencialmente necessaria para sua inteira validade aqui a hei por expressa e declarada para
sua maior validade.
E por ser esta a minha ultima e derradeira vontade roguei o Padre Joze Vieira
Neto desta villa que este a meo rogo fizesse, o qual assignei de meo proprio signal
pelo ler depois de feito e achar estar em tudo conforme eu lho tinha mandado escrever, e por isso rogo as justiças a quem o seu cumprimento pertencer lhe deem inteiro
credito e o fação em tudo cumprir como nelle se contem e declaro e por este mesmo
revogo outra qualquer despozição ou testamento, cedula ou codicilo que antes deste
tenha feito, pois só este quero que valha como minha ultima e derradeira vontade.
Batalha des de Janeiro de mil e setecentos e noventa e quatro.
Eu dito Padre Joze Vieira Neto cura coadjutor nesta freguezia que a rogo do dito
testador o escrevy e assigney.
O Cura coadjutor Joze Vieira Neto. Agostinho Antonio de Mendonça.
. história .
estava assignado o dito Padre Joze Vieira Neto e o testador cujo signal eu tabelião
reconheço de que dou fé, sem que na dita escripta houvesse emenda, borrão ou entrelinha que possa cauzar duvida, cujo testamento eu tabelião passei pela vista sem que
tomasse conhecimento do que nelle se contem em a sobredita forma em que o achei
lho aprovo e hei por aprovado tanto quanto em Direito me he permitido como a publico tabelião. Dizendo o testador que por este revogava outro qualquer testamento,
cedula ou codicilo que antes deste tivesse feito pois só este queria que valesse como
testamento, ultima e derradeira vontade ou pella forma que em Direito melhor lugar
tiver. E que rogava as justiças a quem o conhecimento delle pertencer lhe dessem
inteiro cumprimento.
O qual testamento eu tabelião depois de aprovado e assignado numerei e rubriquei com a minha rubrica que dis: Magalhaens, juntamente com esta approvação,
e o cozi e lacrei com linha branca e sinco pingos de lacre encarnado por banda e
nesta forma o entreguei ao dito testador. E a tudo forão testemunhas prezentes Joze
Ferreira de Azevedo çapateiro desta villa, Manoel Joaquim ferreiro da mesma villa,
Silverio da Silva çapateiro e Manoel Henriques Moreira // [Fl. 16vº] Moreira sangrador, e Joze Vieira Neto cura coadjutor desta freguezia todos desta villa, e Francisco
Joze trabalhador do lugar de Sam Jorge e Joaquim Pereyra solteiro do lugar do Tojal
e ambos do termo de Porto de Moz, que todos aqui assignarão com o dito testador
depois que este lhes foi lido e declarado por mim tabelião Antonio de Magalhaens
Pinto Avellar que o escrevi e em publico e razo assigney.
Lugar do signal publico em testemunho da verdade.
Antonio de Magalhaens Pinto Avellar. Agostinho Antonio de Mendonça. O Padre
Joze Vieira Neto. Joze Ferreyra. Manoel Henriques Moreira. Manoel Joaquim. Da
testemunha Francisco Joze hua cruz. Da testemunha Silverio da Silva hua cruz. Da
testemunha Joaquim Pereira hua cruz.
Auto de abertura.
Anno do nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil e setecentos e noventa e seis aos trinta dias do mes de Agosto nesta villa de Nossa Senhora da Vitoria da
Batalha e cazas onde no dia de hoje faleceo o Cappitão Agostinho Antonio de Mendonça onde eu escrivão ao diante nomeado vim em companhia do juiz ordinario desta
mesma villa o Alferes Manoel Vieyra de Azevedo, e ahi antes de ser levado o corpo
á sepultura pela viuva que delle ficou Dona Luiza do Amor Divino foi aprezentado
ao dito juiz na prezença das testemunhas ao, digo, testemunhas abaixo nomeadas
e assignadas o prezente testamento, o qual se achava cozido com linhas brancas e
lacrado com sinco pingos de lacre vermelho, e sendo por elle aberto e por mim lido e
examinado na prezença das referidas testemunhas o achei em tudo conforme ao que
se declara no auto de approvação retro do que dou minha fé, e o assinei.
E para tudo constar o dito juis mandou fazer este auto em que assignou com as
testemunhas que forão prezentes Antonio de Magalhaens Pinto Avellar e o Doutor
168 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. história .
Manoel Inacio dos Santos Alves Justo ambos desta villa e eu Luis Antonio Bello dos
Reis o escrevi e com os ditos assigney, Luis Antonio Bello dos Reis. Vieira. Manoel
Ignacio dos Santos Alves Justo. Antonio de Magalhaens Pinto Avellar.
Titulo do testamento:
Testamen // [Fl. 17] testamento do Senhor Cappitão Agostinho Antonio de Mendonça da villa da Batalha aprovado em onze de Janeiro de mil e setecentos e noventa
e quatro.
E não continha mais o testamento original com que faleceo o Capptião Agostinho
Antonio de Mendonça, o qual a requerimento da pessoa que mo aprezentou aqui
lancei neste meo livro de notas e bem e fielmente vay aqui transcripto e copiado sem
que leve couza que duvida faça, e havendo-a ao proprio me reporto na mão da pessoa
que o aprezentou, a quem o tornei a entregar, e de como o recebeo aqui assigney digo
assignou, e com o proprio o conferi e concertei nesta villa da Batalha aos sete dias
do mes de Setembro de mil e setecentos e noventa e seis. E eu Luis Antonio Bello
dos Reis tabelião proprietario nesta dita villa que o escrevy, consertey e assigney em
publico e razo.
(Assinaturas)
Concertado por mim tabeliam: Luiz Antonio Bello dos Reis.
(Sinal) Em testemunho de verdade. Luiz Antonio Bello dos Reis.
Recebi o proprio.
Antonio de Magalhaens Pinto Avellar.
1792 FEVEREIRO, 25, Batalha — Registo de óbito de D. Vicência Rosa da
Mata, casada que era com o Capitão Agostinho António de Mendonça, sepultada na
capela do Menino Jesus, anexa às casas em que vivia, na mesma vila da Batalha.
Arquivo Paroquial da Batalha — Livro dos Óbitos da Freguesia de Santa Cruz
da Batalha (1792-1822), fl. 2.
Villa. D. Vicencia Roza
200$000
4$000
6$000
210$000 de missas.
Satisfeyto na Provedoria por sentença.
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 169
Reflexões
Doc. 5
. história .
Aos vinte e sinco dias do mez de Fevereyro do anno do mil setecentos noventa
e dois na Cappella do Menino Jesus contigua às cazas desta mesma defunta, nesta
villa, foy sepultado o corpo de Dona Vicencia Roza da Matta cazada com o Capitão
Agostinho Antonio de Mendonça, desta villa e freguezia de Sancta Cruz. Recebeo
os Sacramentos da Penitencia, Sacro Viatico e Unção. Fez testamento em que determina se dissessem duzentos mil reis de missas por sua alma; e dissessem mais
quarenta missas pellas almas de seus pays, e secenta missas mais de tenção; e todas
estas missas de esmolla de tostão; intrando as missas, que se dissessem no dia do
seu interro, no mesmo numero de duzentos mil reis. São obrigadas suas herdeyras
D. Maria Roza, prima, e D. Vicencia Clara, sobrinha; e nomeou-me testamenteyro.
Falhou secenta reis. E para constar fiz este assento que assigney.
(Assinatura) O Vigario Manoel de Oliveyra Soarez.
<Falhas 60>.
Doc. 6
1796 AGOSTO, 31, Batalha — Registo de óbito do Capitão Agostinho António
de Mendonça, sepultado na capela do Menino Jesus, anexa às casas em que vivia,
na vila da Batalha.
Arquivo Paroquial da Batalha — Livro dos Óbitos da Freguesia de Santa Cruz
da Batalha (1792-1822), fl. 23.
Villa. O Capitão Agostinho Antonio de Mendonça. Testamento.
Aos trinta e hum dias do mez de Agosto do anno de mil setecentos noventa e
seis, dentro da Cappella do Menino Jesus, junto às cazas do Capitão Agostinho Antonio de Mendonça, desta villa, foy sepultado o corpo do mesmo Capitão Agostinho
Antonio, cazado, que foy ultimamente com Luiza Maria do Amor Divino; recebeo
os Sacramentos da Penitencia, Sacro Viatico e Unção. Fez testamento de que deve
dar conta a mesma sua mulher e filhos, digo, sua filha Luiza. E para constar fiz este
assento que assigney.
(Assinatura) O Vigario Manoel de Oliveira Soarez.
170 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. história .
Notas
Teve esta obra a sua primeira edição em Braga, na Tipografia Lusitana, 1868. Foi feita uma
nova edição, em 1898, em Leiria, recomendável sobre aquela por apresentar bom número
de elementos para a história do Bispado de Leiria depois de 1650 e, em especial, para o
período oitocentista. Em 1980, a benemérita acção do Jornal O Mensageiro procedeu a uma
nova edição, conforme à de 1868, desta obra. O historiador João Madeira Martins atribui ao
Pe. Dr. Simão da Rosa Guerra, provisor do Bispado de Leiria, em Seiscentos, a responsabilidade da autoria deste livro. O mesmo autor cita documento de 15 de Junho de 1615, em
que o governador do Bispado, por D. Denis de Melo, era o Licenciado João Galvão Botelho,
mestre-escola da Sé de Leiria, no que se deve confrontar o Capº 148º de O Couseiro: “Foi
sé vacante, como fica dicto no capitulo 142, ate aos dez dias de setembro de 1636, no qual
se tomou posse por D. Pedro Barbosa d’Eça (…). E isto sei [refere o autor da obra em causa
ao expor o conflito que houve entre D. Afonso Mexia e o novo Ordinário da cidade] com
tanta clareza e miudeza, porque fui n’esta causa arbitro de ambos os dous prelados.” (Vd.
O Couseiro, Capº 148º, p. 211 e, na edição de 1898, pp. 293-294; João Madeira Martins, Antiguidades de Minde, 1º vol., Odivelas, 1988, [Ed. do Autor], pp. 123-124 e artigo do mesmo
autor editado no Jornal A Voz do Domingo, de 23 de Julho de 2000). Com D. Denis de Melo,
anote-se como elemento para a história do clero leiriense desta época, seguiu, para a Diocese
da Guarda, o Dr. Pe. Álvaro Martins Pereira, cónego na doutoral de Cânones da Sé de Leiria
e provisor e vigário geral no espiritual e temporal na cidade da Guarda, que nos surge a julgar
causa desfavorável ao Pe. Francisco Rodrigues, em Castelo Branco, a 30 de Agosto de 1639.
(Arquivo da Misericórdia de Castelo Branco — Caixa 4, Pasta 2, Doc. 59).
2
Refere-se seguramente ao bem conhecido retábulo gótico já então existente nesta capela,
o qual se é diferente de outro ou outros que existiram nos altares do Mosteiro da Batalha,
sobretudo na Capela do Fundador, dos quais nos chegam descrições, já oitocentistas, que
permitem estabelecer a diferença.
3
Deve tratar-se do escrivão Pêro Gomes, ao serviço da chancelaria régia de D. Manuel I, o
qual subscreve alguns diplomas régios relativos ao Mosteiro e aos vizinhos da Batalha, pelo
menos entre 1513 e 1519. (Vd. S. A. Gomes, Fontes Históricas e Artísticas do Mosteiro e
da Vila da Batalha (Séculos XIV a XVII), Vol. III, (1501-1519), Lisboa, Ippar, 2004, Docs.
634, 695, 697 e 726),
4
Este morgado instituiu também capela privativa no Convento de S. Francisco de Leiria, conforme recorda O Couseiro: “Abaixo desta [Capela de Nossa Senhora da Conceição], está outra
capella, juncto das grades da egreja, da invocação de Santo Antonio, instituida por Matheus
Trigueiro, desta cidade, com obrigação d’alampada sempre acceza, missa quotidiana e duas
cantadas cada anno, uma dellas pelos Santos, offertada com tres alqueires de trigo e um
cantaro de vinho; dão aos padres 17$000 reis em dinheiro e quatro alqueires d’azeite, para
a alampada; ficou obrigada toda a fazenda do dicto Matheus Trigueiro, assim de Leiria
como de fóra della, excepto a da Canoeira, onde instituiu outra capella, que annexou ás
suas casas, da rua Direita; consta tudo da cópia do seu testamento, no livro das verbas do
bispado, fl. 51.” (O Couseiro, Capº 55º, p. 85).
5
Na relação das ermidas da freguesia de 1721, que anotaremos de seguida, esta ermida tem
a invocação de Nossa Senhoria do Ó, referindo-se ter sido erecta em 1623 e não em 1625.
Poderá haver lapso em O Couseiro, cuja tradição textual e crítica, em boa verdade, nunca
foi estabelecida.
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 171
Reflexões
1
. história .
O Couseiro…, Capº 66º, pp. 95-96.
Publicada mais recentemente por mim no livro Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas. 3. Batalha, Viseu, Centro de História da Sociedade e da Cultura e Palimage, 2005, pp.
45-51
8
S. A. Gomes, Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas. 3. Batalha, p. 69.
9
S. A. Gomes, Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas. 3. Batalha, pp. 69-71.
10
S. A. Gomes, Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas. 3. Batalha, p. 55.
11
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra — Códices de “D. Flamínio de Sousa”, Tomo
1, fl. 231vº.
12
Vd. Gonçalo d’Aguiar Cabral, A propósito de umas pedras tumulares da vila da Batalha,
Lisboa, 1982. A elite ou aristocracia batalhina na primeira metade de Quinhentos pode observar-se a partir do meu estudo introdutório na obra O Livro do Compromisso da Confraria
e Hospital de Santa Maria da Vitória da Batalha (1427-1544), Leiria, Magno, 2002.
13
Vd. Doc. 1, em apêndice.
14
Vd. Doc. 2, em apêndice.
15
Vd. Doc. 3, em apêndice.
16
“Aos dezoito dias do mez de Mayo do anno de mil setecentos noventa e dois dentro desta
igreja parochial de Sancta Cruz da villa da Batalha foy sepultado o corpo de Dona Ritta
Felicidade Perpetua Mesquita Barba veuva do Doutor Manoel Marques Ribeyro, que falesceo
em caza de seu irmão o Doutor Carlos Barba Alardo desta villa; recebeo os Sacramentos
da Penitencia, Sacro Viatico e Unção. E para constar fiz este assento que assiney. <Cova
280>. (Ass.) O Vigario Manoel de Oliveira Soares. [À margem] Villa. D. Ritta Felicidade
Perpetua, viuva. Em 4 de Abril de 1803 passey a primeyra certidão por despacho a Carlos
Barba Ribeyro de Souza de Leiria. (Ass.) Soares.” (Arquivo Paroquial da Batalha — Livro
dos Óbitos da Freguesia de Santa Cruz da Batalha (1792-1822), fl. 2vº).
17
Vd. Doc. 5, em apêndice.
18
Vd. Doc. 4, em apêndice.
19
Vd. Docs. 4 e 6, em apêndice.
20
Cf. Nuno Gonçalo Monteiro, “17th and 18th century Portuguese nobilities in the European
conetx: a historiographical review”, in e-JPH, Vol. 1, Summer 2003, pp. 1-15.
21
Cf. Isabel dos Guimarães Sá, “Catholic charity in perspective: the social life of devotion in
Portugal and its Empire (1450-1700)”, in e-JPH, Vol. 2, Nº 1, Summer 2004, pp. 1-19.
6
7
172 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. história .
As Relações de Entrada do Bispo de Leiria
D. João Cosme da Cunha (1746)
Ricardo Pessa de Oliveira
(Mestre em História Moderna pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
1. D. João Cosme da Cunha nasceu em Lisboa a 28 de Setembro de 1715. Foi o
terceiro filho de Manuel Carlos da Távora e Silveira, 4.º conde de S. Vicente, e de D.
Isabel de Noronha. Aos 16 anos de idade viajou para Coimbra. Nesta cidade obteve
uma beca de porcionista no Sacro Pontifício e Real Colégio de São Pedro, tendo alcançado o grau de doutor em Leis a 11 de Julho de 1737. Concluído o percurso académico pretendeu servir a Inquisição de Coimbra na qualidade de deputado. As suas
diligências foram aprovadas a 3 de Dezembro de 1737. Iniciava desta forma a actividade na instituição a que, mais tarde, havia de presidir. Em Maio do ano seguinte,
ingressou na congregação dos cónegos regrantes de Santo Agostinho. Recebeu o
hábito das mãos de D. Miguel da Anunciação, futuro bispo de Coimbra1. Professou
no ano seguinte com o nome de D. João de Nossa Senhora da Porta, razão pela qual
mais tarde viria a ser apelidado de Cardeal Otomano2. Regressou a Lisboa no ano
de 1742, ficando a assistir no mosteiro de São Vicente de Fora. De 1746 a 1760 foi
bispo de Leiria. Neste último ano sucedeu a frei Miguel de Távora no arcebispado
de Évora. Em 1770, foi nomeado inquisidor geral por D. José I e criado cardeal por
Clemente XIV. Foi ainda Conselheiro de Estado e presidente da Casa da Suplicação
(1760), presidente da Real Mesa Censória (1768), inspector da Junta de Providência
Literária (1770) e ministro assistente ao Despacho (1772). Faleceu a 31 de Janeiro
de 1783, em Lisboa, no palácio da Inquisição, ao Rossio3.
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 173
Reflexões
O texto que agora se publica pretende estudar e dar a conhecer duas relações da
entrada pública de D. João Cosme da Cunha, cujo nome religioso era João de Nossa Senhora da Porta, na cidade de Leiria. Este tipo de documento não é único. Na
verdade, a narração destas cerimónias foi bastante comum na primeira metade do
século XVIII. Não obstante, não temos conhecimento de nenhuma memória, relação
ou notícia referente a Leiria. Como tal consideramos relevante a sua publicação para
a história da diocese de Leiria-Fátima.
. história .
2. O calendário festivo compreendia cerimónias previstas que se repetiam ao
longo dos anos, quase sempre ligadas ao ano litúrgico, e cerimónias excepcionais
promovidas pelas autoridades para celebrar acontecimentos específicos4. Disso são
exemplo o nascimento, casamento e morte de membros da família real. As entradas régias, as chegadas dos monarcas a uma localidade em ocasião especial, quase
sempre o casamento, constituíam igualmente momentos de festejo5. As cerimónias
de entrada não foram de uso exclusivo dos monarcas, ou dos seus representantes.
Foram igualmente protagonizadas pelas figuras cimeiras da Igreja, como o Papa e os
cardeais6. Também os prelados diocesanos fizeram uso destas cerimónias. Estas traduziram-se em momentos de grande importância servindo fundamentalmente como
meio de estes afirmarem a sua autoridade nos respectivos bispados7.
José Pedro Paiva ao analisar um conjunto de relações de entradas de bispos nas
suas dioceses, ocorridas nos anos 40 e 50 do século XVIII, apresentou uma morfologia do ritual compreendendo seis núcleos principais: preparação da entrada antes da
vinda do prelado; actos de recepção do bispo pelas várias entidades da cidade, ainda
fora das portas das muralhas que delimitavam a zona urbana; encontro da comitiva
que havia ido esperar o prelado fora de portas, com os que a aguardavam à porta da
cidade; cortejo desde a porta da cidade até à sé catedral; cerimónia religiosa ocorrida
no interior da Sé; festejos após a saída do bispo da catedral – cerimónia profana8.
3. A 18 de Novembro de 1745, D. João de Nossa Senhora da Porta foi nomeado,
por D. João V, coadjutor e futuro sucessor da diocese de Leiria. Foi confirmado com
o título de Olímpia, por Bento XIV, a 29 de Março de 1746. Contudo, em virtude
do falecimento de D. Álvaro de Abranches, não chegou a entrar na diocese naquela
condição. No momento em que o cabido tomou conhecimento da nomeação régia
incumbiu o doutor Alexandre de Almeida Pacheco de ir a Lisboa, ao mosteiro de
São Vicente de Fora, cumprimentar o novo prelado. Este foi sagrado por D. Tomás
de Almeida, na Patriarcal, a 29 de Junho de 17469. Depois de sagrado o bispo “deve
o mais depressa que lhe for possivel hir a sua Igreja a tomar posse della, & receber
o Officio que se lhe cometeu na sagração […]”10. O novo bispo tomou posse por
procuração a 23 de Junho de 174611. A sua entrada solene em Leiria realizou-se a 5
de Outubro desse mesmo ano.
O cerimonial de entrada teve início no momento em que D. João de Nossa Senhora da Porta partiu de Lisboa com destino a Leiria. Toda uma comunidade trabalhava em prol de um objectivo comum: proporcionar uma recepção digna ao prelado.
Estradas, praças e fachadas eram arranjadas e decoradas. De igual forma a catedral,
onde teria lugar uma das partes cruciais da entrada solene, era preparada com o intuito de se tornar apta para a cerimónia. Para o efeito o novo bispo enviou à sua diocese
um arquitecto leigo da congregação dos cónegos regrantes de Santo Agostinho12. A 2
de Outubro de 1746, tudo se encontrava minuciosamente preparado13.
174 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
4. O termo relação surge por norma associado a um impresso separado. No entanto, as duas relações que ora publicamos encontram-se incorporadas em dois periódicos de setecentos. A primeira, divulgada no Mercúrio de Lisboa, jornal manuscrito da autoria de Luís Montês Mattoso, intitula-se Relaçam da Entrada publica, e
solemne, que o Excelentissimo, e Reverendissimo Senhor D. Joam Cosme de Tavora,
Bispo de Leyria, fez na mesma Cidade. A segunda, publicada na Gazeta de Lisboa,
jornal impresso, cujo redactor era José Freire Montarroio, não possui qualquer título.
São dois textos que se complementam. A primeira relação, mais extensa e completa,
circulou dez dias após a cerimónia, ou seja, no dia 15 de Outubro. A segunda, compreendendo três páginas, apenas foi dada à estampa no dia 1 de Novembro, portanto
quase um mês depois da entrada do bispo.
Um dos momentos altos do ritual consistia no encontro da comitiva que havia ido
esperar o prelado a alguma distância da cidade com as entidades que a aguardavam
às portas da mesma. Neste ponto, terceiro na morfologia apresentada por José Pedro
Paiva, era proferido um discurso de boas vindas, o qual estava por norma a cargo do
vereador mais velho, no caso Gregório Sernache de Noronha, e procedia-se à entrega das chaves da cidade. A importância deste núcleo era tal que o autor da primeira
relação publicou na íntegra o breve discurso do vereador. A entrega das chaves era
uma cerimónia repleta de simbolismo e de duplo significado, pois estas abriam não
só as portas de Leiria, mas também os corações dos diocesanos14.
O cavalo e o pálio são dois elementos destacados nas relações de entrada. Ambos
asseguravam ao prelado a visibilidade pretendida, evidenciando-se ainda mais das
restantes entidades que formavam o cortejo. Instrumentos de afirmação do poder
episcopal foram tidos por largo período como exclusivos dos monarcas, o que chegou a originar alguns atritos. O efeito da altura era ainda assegurado e reafirmado
pela posição em que se encontrava a cadeira episcopal. Esta estava colocada sobre
um estrado sendo apenas acessível por intermédio de degraus.
Os elementos de arte efémera estão igualmente presentes nas relações da cerimónia. A cidade, palco da representação de poder, alterava a sua fisionomia habitual.
Templos, altares e arcos triunfais, estes envergando normalmente as armas do antístite, eram erguidos nas principais praças e artérias por onde passariam os cortejos. Em
Outubro de 1746, na cidade de Leiria, destacaram-se os arcos construídos na entrada
da praça, por ordem do brigadeiro Pedro de Sousa. Os autores realçaram igualmente
os enfeites que embelezavam as habitações, nomeadamente os adornos colocados
nos frontispícios das casas do brigadeiro Pedro de Sousa Castelo-Branco, de Miguel
Luís da Silva de Ataíde e Costa, e de Alberto Homem Spínola de Vasconcelos.
Terminada a parte sagrada da cerimónia tinha inicio a fase dita profana. O bispo raramente participava nestes festejos, preferindo recolher-se ao paço episcopal.
Eram inúmeras as actividades culturais que decorriam pela cidade tendo por pano
de fundo a entrada episcopal. Os festejos podiam ser preenchidos com luminárias,
fogo-de-artifício, danças, touros, simulações de duelos, ou pequenas batalhas, outei| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 175
Reflexões
. história .
. história .
ros, representações teatrais e banquetes, que seguramente muito contribuíam para a
grande adesão popular a estes actos15. Em Leiria apenas existe registo de luminárias
e repiques de sinos. A primeira relação menciona que “chegando á porta [do paço]
lançou a bênção a todos e se recolheu em paz, seguindo-se de noyte e nas duas seguintes luminarias e repiques em todas as igrejas em obzequio de Sua Excelencia”16.
A segunda apenas acrescenta que se trataram de “iluminações engenhosas”17. Ainda
assim não excluímos a possibilidade da ocorrência de outras actividades nomeadamente o recitar de poesia laudatória em homenagem a D. João de Nossa Senhora da
Porta.
Estes textos fazem sair do anonimato uma série de figuras locais, destacando os
que desempenhavam tarefas de relevo no decorrer da cerimónia. Tal é o caso daqueles que seguravam no fiador, na cauda ou no pálio. Concomitantemente, atribuem
grande importância à ordem em que seguiam as diferentes entidades nas procissões.
As cerimónias de entrada encontravam-se fortemente codificadas sendo que todos
os gestos, palavras, lugares ocupados e forma dos assentos assumiam uma enorme
importância. Era um momento ímpar na vida da diocese em que a principal mensagem que se pretendia transmitir era a de superioridade dos bispos, relegando para
segundo plano o clero local e os restantes órgãos do poder civil.
Apêndice
Documento 1
1746, Outubro, 15, Lisboa – Relação manuscrita da entrada pública de D. João
Cosme da Cunha em Leiria.
Évora, Biblioteca Pública de Évora, cod. CIV/I-16 d., fls. 248-253v. [Mercúrio
de Lisboa, n.º 42, de 15 de Outubro de 1746].
/fl. 248/ Relaçam da Entrada publica, e solemne, que o Excelentissimo e Reverendissimo Senhor D. Joam Cosme de Tavora, Bispo de Leyria, fez na mesma
Cidade.
176 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
Ainda o excelentissimo e reverendissimo bispo de Leyria D. Alvaro de Abranches (hum dos mais perfeytos Prelados que teve não somente aquella diocese mas
taobem este Reyno) era vivo; porem tão carregado de annos, porque passava de 84;
e cheyo de achaques que contrahira na laborioza vigilancia das suas ovelhas, que se
achava entrevado e sem os alentos que sam precizos em hum pastor para apascentar
o seu rebanho, quando a Magestade do nosso Augustissimo Monarca, D. João V, que
Deos guarde, foy servido nomear para bispo coadjuctor, e futuro succesor da mesma
diocese em 18 de Novembro de 1745 ao excelentissimo e reverendissimo senhor D.
João Cosme de Tavora filho dos illustrissimos e excelentissimos condes de S. Vicente, Manoel Carlos da Cunha e Tavora e D. Izabel de Noronha, o qual sendo porcionista do real collegio de S. Pedro de Coimbra, doutor em leys, /fl. 248v./ deputado
do Santo officio da mesma cidade, e oppozitor às cadeyras, entrou na santa e reformada Congregação dos Conegos Regrantes de S. Agostinho no mosteyro de S. Cruz
de Coimbra em o mez de mayo de 1738. Falleceu o excelentissimo D. Alvaro de
Abranches em 5 de Abril de 1746, e ficou o excelentissimo e reverendissimo senhor
D. Joam Cosme de Tavora sendo o decimo septimo prelado de Leyria, e como tal foy
sagrado na Sancta Igreja de Lisboa em 29 de Junho, dia dos Principes dos Apostolos,
S. Pedro e S. Paulo, pello excelentissimo e reverendissimo senhor Cardeal Patriarca
Dom Thomaz de Almeyda, sendo assistentes os excelentissimos e reverendissimos
arcebispo de Lacedemonia, D. José Dantas Barboza e o bispo que acabara do Rio de
Janeyro D. frei João da Cruz.
Preparou-se Sua Excelencia para hir dar principio ao governo da sua diocese,
nomeando logo para provizor della ao M. R. Joze Ferreyra Xavier, conego doutoral
da insigne, e real collegiada de Santa Maria de Alcassova de Santarém. Sahiu de Lisboa a 26 de Setembro, dia em que El Rey nosso Senhor fez jornada para a villa das
Caldas a aproveitar se do remedio dos seos banhos e demorando-se Sua Excelencia
ali com a corte oyto dias, partiu para Leyria na manhãa de terça-feira 4 de Outubro,
acompanhado do reverendissimo reformador frey Gaspar da Encarnaçam seu thio,
dos dous reverendissimos pupilos, o senhor Dom Antonio e o senhor Dom Gaspar,
do padre D. Joam de Jezus Maria e do padre D. Manoel da Conceiçam conegos Regrantes /fl. 249/ e este ultimo mestre de ceremonias do Real mosteyro de S. Vicente
de Fora. Foy jantar a Patayas, primeyro lugar do seu bispado. Pelas 4 horas da tarde
chegou aos Fornos da Cal huma Legoa distante de Leyria, onde o esperavão o seu
provisor e o seu vigario geral, com o juizo eccleziastico, e comprimentando a Sua
Excelencia aos reverendissimos e mais padres que o acompanhavam, se pozeram
junto da sua carroagem esperando as suas ordens, e recebendo Sua Excelencia os
comprimentos do prelado do convento dos Eremitas de S. Agostinho, do vigario e
do procurador do mosteyro das Religiozas Dominicas, mandou embarcar os seos
ministros nas carroagens em que tinham hido e proceguio a jornada.
Chegando ao lugar de Parceyros meya legoa de distancia da cidade, esperavam
a Sua Excelencia o doutor provedor da comarca, Affonso da Sylva, e Carvalho, o
| 45 • LEIRIA-FÁTIMA | 177
Reflexões
. história .
. história .
doutor juiz de fora Luiz Estanislau da Sylva, o brigadeiro Pedro de Souza de Castello
Branco, com os seos tres filhos (o morgado, hum religiozo Augustiniano e outro
estudante) Martim Barba Correa Alardo, Miguel Luiz da Sylva e Atayde, Andre
Cardozo Moniz Evangelho, e o arcediago da Sé todos em seges à boleya. Beijando
as mãos a Sua Excelencia e comprimentando aos mais, o seguiram athe à capela de
Nossa Senhora da Encarnação, junto da cidade, onde chegou pelas cinco horas e
meya. /fl. 249v./ Naquelle sitio se achavão esperando os guardiaens dos conventos
dos religiozos de S. Francisco e dos Arrabidos, alguma nobreza e bastante povo.
Dezembarcando-se Sua Excelencia com toda a sua cometiva se encaminhou para a
porta principal da igreja onde recebendo o aspersorio tomou agoa benta e a lançou
nos mais: foy à capela mor fazer oraçam e se recolheu ás cazas contiguas que lhe
estavam preparadas para a hospedagem: ali foi outra vez comprimentado por todos
os eccleziasticos regulares e seculares e ultimamente deu as ordens precizas aos seos
ministros e ficou descançando.
Na quarta feira pela manhaã tornarão os mesmos ministros assim eccleziasticos,
como regulares e seculares, e varios religiozos e pessoas seculares a saber de Sua
Excelencia e comprimentalo, concorrendo tambem os superiores dos religiozos de
S. Domingos da villa da Batalha e dos Eremitas Descalços de S. Agostinho de Porto
de Mós que governavam na auzencia dos seos priores, acompanhados de muytos
religiozos seos subditos. A todos Sua Excelencia correspondeu com demonstraçoens
de benignidade, executando o mesmo com a nobreza que lhe foi dar as boas vindas.
O cabido nomeou para hirem na mesma manhaã comprimentar a Sua Excelencia
ao chantre João Manoel Correa de Lacerda e ao conego Antonio Soares da Costa,
que forão pelas 8 horas em hum coche executar esta deligencia /fl. 250/ da parte do
mesmo cabido. Sua Excelencia os recebeu com a afabilidade de pastor, sem faltar á
innata docilidade do seu genio nem á precioza gravidade do seu caracter.
Durarão os comprimentos athe ao meyo dia e se dispoz a entrada solemne até
ás duas horas da tarde. Da huma para as duas se preparou a procissam na cathedral,
juntando-se nella (segundo o edital) o clero, a communidade dos religiozos de S.
Francisco, hindo debaixo da sua cruz (por ser a que naquella cidade acompanha so
as procissoens) todos os mais religiozos assim Augustinianos e Arrabidos da cidade
como os Dominicos da Batalha e Agostinhos Descalços de Porto de Mós compondo-se a communidade regular de mais de outenta religiozos e as confrarias assim de
dentro como de fora da cidade que custumam acompanhar a procissam do Corpo de
Deos.
Emquanto na cathedral se preparava a procissam sahiu Sua Excelencia das cazas
em que estava alojado, entrou na igreja de Nossa Senhora da Encarnação, fez oração
pouco antes das duas horas, tomou a capa e veyo até a porta servindo-lhe de caudatario Pedro de Souza de Castello Branco, a quem havia feyto a honra de o mandar
convidar pelo seu provisor dous dias antes para este ministerio. Montou a cavalo
em huma mulla que estava preparada com /fl. 250v/ jaezes roxos, manto da mesma
178 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
cor, com estribos e freyos dourados; e pondo-lhe o mestre de ceremonias na cabeça
o capello da capa magna e em cima o chapeu pontifical forrado de verde com cordoens e borlas da mesma cor, caminhou com gravidade precedido de quatro pagens,
dous capellaens, o mestre de ceremonias, quatro conegos deputados pelo cabido para
conductores de Sua Excelencia Rafael Barreto, o doutor Antonio Joaquim Torram,
Antonio Soares da Costa e Patricio Pereyra, e alguma nobreza que por obzequio
o foy acompanhar hindo atraz de Sua Excelencia montado tambem a cavalo o seu
caudatario Pedro de Souza Castello Branco.
Chegou Sua Excelencia á igreja do Espirito Santo a tempo que tambem chegava
a procissão, emquanto o cabido se acomodou na bancada que nella se lhe tinha preparado, se apeou demorando-se fora algum espaço. Entrou e depois de fazer oração
subiu ao trono e se assentou na cadeyra debaixo de hum docel de damasco branco
que se havia colocado junto ao arco da capella mor da parte do Evangelho, tomando os da familia de Sua Excelencia cotas, lhe tirarão a capa magna e foram dando
por boa ordem os paramentos pontificaes que se achavam preparados sobre o altar.
Serviu de diaconos os assistentes de Sua Excelencia o conego Antonio da Costa á
mam direyta /fl. 251/ e o conego Antonio Joaquim Torram á esquerda, os quaes lhe
administrarão os ornamentos que eram preciozos. Revestido de pontifical com alva,
estolla, cruz, anel tomou a capa pluvial com as suas armas bordadas de ouro e verde
nas partes inferiores da banda de diante, se assentou hum pouco depois de tomar a
mithra emquanto se ordenava a procissam que a este tempo hia ja voltando para a
cidade na mesma forma com que viera da cathedral pela maneyra seguinte.
Hia diante o estandarte do senado da camara com as armas da cidade levado por
Alvaro de Brito Evangelho pegando da borla da parte direyta seu irmão Sebastiam
Soares Evangelho e na parte esquerda Francisco de Souza Castello Branco, fidalgos
da Caza de Sua Magestade, seguindo a cada hum delles seos criados de pe, seguia-se
huma aparatoza cometiva com muyto luzimento composta de setenta pessoas montadas a cavallo, cobrindo este corpo no lugar dos fidalgos da Caza Real Andre Cardozo
Moniz Evangelho com dous cavallos á mam com seos telizes e criados. Em terceyro
lugar o magistrado em que hia o doutor provedor da comarca com os officiaes da sua
jurisdição e os do juizo geral: dous almotacez, com as suas varas, o juiz do povo e
mister /fl. 251v/ tambem com varas. Seguia-se o guiam da irmandade do Santissimo
Coraçam de Jezus cujos irmãos levão medalhas do mesmo coraçam pendentes ao
pescoço em fitas vermelhas. A irmandade de Nossa Senhora do Rosario com seu
guiam, metendo-se na procissam junto da igreja do Espirito Santo. As confrarias
do Santissimo Sacramento em dous corpos, debaixo de duas cruzes, compostas de
mais de duzentos e cincoenta irmãos. A communidade dos religiozos de S. Francisco
com os de mais conventos da cidade e de fora della, como fica dito. O clero em dous
corpos, precedidos de duas cruzes em numero de mais de duzentos eccleziasticos. O
juizo ecclesiastico composto de dous solicitadores, quatro escrivaens do auditorio,
o da camara, o promotor com o vigario geral á mam esquerda e o provizor á direyta
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Reflexões
. história .
. história .
com varas brancas, cada hum nos habitos de seu estado e caracter. Seguia-se a cruz
capitular com dous ceriaes levados por dous meninos do coro, vestidos de opas e
barretes vermelhos: os musicos, quatro meninos de coro mais, e o cabido composto
de beneficiados e meyos conegos e dos conegos a que prezidia o chantre com a sua
vara de regencia; os dous cantores no meyo do cabido que erão o sub chantre da Sé e
o beneficiado Joze Ferraz, os quaes levantavão os Psalmos /fl. 252/, o cabido cantava
hum ramo e os muzicos outro. Em ultimo lugar hia Sua Excelencia montado em hum
cavallo branco, ajaezado de seda branca com os arreyos dourados, o qual, como o
de Alexandre, parece que reconheceu a Sua Excelencia pela quietação com que o
esperava quando sahiu da igreja do Espirito Santo para montar com o caudatario
Pedro de Souza Castello Branco, tomando ali obridam [sic] Miguel Luiz da Sylva e
Atayde a quem tambem Sua Excelencia tinha mandado convidar para este honorifico
emprego pelo seu provisor: de traz se seguia a mulla em que tinha feyto a primeyra
cavalgata, segundo o modo mais moderno de Roma porque os ceremoniaes lhe asignam o lugar deante da familia. Mostrava-se Sua Excelencia igualmente magestozo
que amavel e dando o cavallo pouco mais de cinco passos sahiu da porta que ali se
tinha formado e chegando ao lugar em que o senado da camara o esperava em hum
teatro bem ordenado com mais alguns vereadores dos annos passados para levarem
as varas do paleo, lhe fez o vereador mais velho Gregorio Sernache de Noronha a
falla seguinte:
“Excelentissimo e reverendissimo senhor
Bem podia a fortuna ter nomeado outro sugeyto, que cheyo de erudiçam
melhor expozesse /fl. 252v/ a Vossa Excelencia os alvoroços com que o recebem
os coraçoens de todos os seos subditos. Seguro a Vossa Excelencia que nam encontrará neste Bispado peyto, que nam seja hum Altar, em que veja sacrificado o
amor à Sua Illustrissima Pessoa. Entre Vossa Excelencia a governar feliz, e não
sinta pezar-lhe na cabeça a mithra, nem cancar-lhe o braço o bago, e, se illustrado, e discreto entendimento do nosso Monarca, que Deus nos guarde, elegeu
a Vossa Excelencia nosso Bispo; para que esta felecidade se nos dilate, queyra o
Ceo, que neste Bispado viva Vossa Excelencia Nestorios annos”.
Acabada a pratica continuou Sua Excelencia o caminho unindo de sorte o magestozo com o grato pelo meyo das duas alas que formavam as ordenanças desde a
porta em que foy servido athe à Sé por todas as ruas da ci[d]ade que fez que os olhos
para dezempenho dos vivas, fizessem juntamente todas as suas operaçoens unindo
o ver com o chorar, milagre que só sabe fazer quando he o mais crescido. Antes de
Sua Excelencia partir descerão do theatro o juiz de fora e vereadores e pegaram nas
primeyras varas do paleo o mesmo juiz e vereador mais velho, nas segundas Carlos
Cardozo Moniz de Castello Branco, fidalgo da Caza Real segundo vereador e Tho180 | LEIRIA-FÁTIMA • 45 |
. história .
Documento 2
1746, Novembro, 1, Lisboa – Relação impressa da entrada pública de D. João
Cosme da Cunha em Leiria.
Gazeta de Lisboa, n.º 44, de 1 de Novembro de 1746.
/p. 869/ Portugal. Leiria 8 de Outubro.
O Excelentissimo e Reverendissimo Senhor D. Joam de Nossa Senhora da
Porta, bispo desta diocesi que já havia tomado posse do bispado em 23 de Junho
deste anno, fez a sua entrada pûblica nesta cidade no dia 5 do corrente, havendo
sido esperado pelas justiças e nobreza della no lugar dos Parceiros, que dista daqui
meya légua, até a igreja da Encarnaçam, onde se alojou aquella noite nas casas, que
se lhe tinham prevenido, e ali concorreu em procissam numerosa, e bem ordenada,
o cabido, nobreza, comunidades e confrarias ostentando muito luzimento. Montava
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Reflexões
maz da Mota Sarmento vereador do anno passado; nas terceyras Alberto /fl. 253/ Homem de Espinola e Vasconcellos vereador do anno passado, e Martim Barba Correa
Alardo por seu filho Joam Pereyra da Sylva terceyro vereador: nas quartas Manoel
Correya de Mesquita, procurador do concelho e Venancio Vieyra da Sylva, escrivão
da camara, os quaes chegando à capela de Nossa Senhora da Graça forão rendidos
por outros oyto cavalleyros que ahi se achavão para isso esperando, e elles partirão
em dous coches para a Sé, onde tornarão a pegar nas varas. Tudo foy com muyto boa
ordem, sezudeza [sic] e modestia pelas ruas que se achavam ornadas com bastante
asseyo no que se distinguirão as frontarias das cazas de Pedro de Souza de Castello
Branco, mandando fabricar junto dellas hum arco com as armas de Sua Excelencia
no remate; a de Miguel Luiz que seguiu a mesma idea, a de Alberto Homem e de
outros cavalheros.
Chegando Sua Excelencia ao adro se apeou e sobindo os degraos delle estava
dentro hũa alcatifa com genuflectorio de tella branca em que ajoelhou, beijando a
cruz que lhe offereceu o chantre revestido com capa pluvial, e recebendo o aspersorio tomou agoa benta, lançou incenso no thuribulo e foi incensado pelo mesmo
chantre. Encaminhou se para a capella do Santissimo Sacramento onde fazendo breve oração passou à capella mor na qual feytas as ceremonias custumadas e ditas pelo
chantre as oraçoens subiu Sua Excelencia ao trono debaixo do docel, onde o cabido
por sua ordem lhe beijou a mam e depois publicou o mesmo chantre pela tabella as
indulgencias. /fl. 253v/ Ultimamente tirados a Sua Excelencia os ornamentos pontificais e tomando outra vez a capa magna e barrete partiu a pé para o seu paço pontifical
acompanhado de todas as irmandades, clero, camera e nobreza. Chegando á porta
lançou a bênção a todos e se recolheu em paz, seguindo-se de noyte e nas duas seguintes luminarias e repiques em todas as igrejas em obzequio de Sua Excelencia.
. história .
Sua Excelencia hum cavalo branco com arreyos da mesma cor e fivelões dourados,
como eram os estribos, revestido pontificalmente com alva, e estola, cruz, anel e
capa pluvial, pegando no fiador Miguel Luiz da Silva de Ataide e Costa, e na cauda
o brigadeiro Pedro de Souza de Castelo-Branco, ambos fidalgos bem conhecidos /p.
870/ montados em formosos cavalos ricamente ajaezados, com outros á destra. Foy
recebido á porta da cidade pelo senado da camera e ali lhe fez huma fala em nome de
todos os moradores Gregorio Sernache de Noronha, fidalgo da Casa de Sua Magestade, como vereador mais velho. O estandarte do senado da camera era levado por
Alvaro de Brito e Vasconcelos, cavaleiro da Ordem de Maltha, que o senado elegeu
para fazer a funçam de seu alferes mor: pegando na borla da parte direita Sebastiam
Soares de Souza Evangelho, seu irmam, e na da esquerda Francisco de Souza de
Castelo-Branco, filho do brigadeiro Pedro de Souza, todos montados em formosos
cavalos com riquissimos arreyos, levando outros cavalos á mam, cobertos de telizes
ricos, com as armas das suas familias. Diante de Sua Excelencia hia o arcediago
com o bago na mam, e chegando ao adro da Sé se apeou Sua Excelencia e subindo
os degraos, ajoelhou sobre hum genuflexorio coberto de tela branca sobre huma
boa alcatifa; e beijando a cruz, que lhe ofereceu o chantre, revestido com capa de
asperges, tomou agua benta, lançou incenso em hum tribulo, com que foy incensado
pelo mesmo chantre, e debaixo do mesmo palio (como vinha desde que entrou na
cidade, em que pegavam nas primeiras varas o juiz de fora Luiz Stanisláo da Silva, e
o vereador mais velho Gregorio Sernache de Noronha, nas segundas Carlos Cardozo
Muniz de Castelo Branco, fidalgo da Casa Real, e Thomás da Motta Sarmento, nas
terceiras Alberto Homem Spinola de Vasconcelos e Martim Barba Correa Alardo,
por seu filho Joam Pereira da Silva, terceiro vereador, e nas ultimas Manuel Correa
de Mesquita, procurador do concelho, e Venancio Vieira da Silva, escrivam da camera) caminhou para a capela do Santissimo Sacramento, e fazendo alî breve oraçam,
passou á capela mór, onde feitas as ceremónias costumadas se assentou no trono que
lhe estava preparado debaixo de hum docel, onde o cabido por sua ordem lhe /p.
871/ beijou a mam. Publicadas as indulgencias pelo mesmo chantre, despiram a Sua
Excelencia os ornamentos pontificaes, e tomando a capa magna e barrete partiu para
o palacio episcopal, acompanhado de todas as irmandades, clero, camera e nobreza,
e chegando á porta se recolheu, despedindo-se de todo o acompanhamento com lhe
lançar a sua bençam.
A cidade estava magnifica e primorosamente armada, distinguindo-se nos adornos os frontispicios das casas do brigadeiro Pedro de Souza Castelo-Branco, as de
Miguel Luiz da Silva de Ataide e Costa, e as de Alberto Homem Spinola de Vasconcelos. Na entrada da praça se tinha erigido hum arco por ordem do brigadeiro
Pedro de Souza, a que serviam de remate as armas do prelado, e no fim della outro
em correspondencia. Houve 3 noites de luminárias e iluminações engenhosas, e em
todas os repiques festivos de todas as igrejas.
Este prelado se chamava no século D. Joam Cosme de Tavora, he filho dos
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. história .
ilustrissimos e excelentissimos senhores condes de S. Vicente Manuel Carlos da
Cunha e Tavora, e Dona Isabel de Noronha, e sendo porcionista do Real colegio de
S. Pedro de Coimbra, doutor em leys, deputado do Santo Oficio da mesma cidade e
opositor ás cadeiras, desprezou todas as esperanças do século no mez de Mayo de
1738, professando a santa reforma da Congregaçam dos conegos regrantes de Santo
Agostinho, donde o merecimento das suas virtudes, e letras o elegeu para prelado
desta diocesi.
Notas
José Maria Latino Coelho, História Política e Militar de Portugal desde os fins do XVIII
século até 1814, tomo I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1874. p. 214.
2
Cf. José Maria Latino Coelho, História Política […], p. 214; Afonso Zúquete, Leiria: Subsídios
para a História da Sua Diocese, Leiria, Gráfica, 1943, p. 227.
3
Sobre esta figura cf. Ricardo Pessa de Oliveira, Uma Vida no Santo Ofício: o Inquisidor
Geral D. João Cosme da Cunha, Lisboa, Dissertação de Mestrado em História Moderna
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2007, exemplar mimeografado. Existem ainda estudos anteriores de carácter geral. De entre estes, cf. principalmente
José de Castro, O Cardial Nacional, Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1943, pp. 269296; Afonso Zúquete, Leiria: Subsídios […], pp. 225-243; Fortunato de Almeida, História
da Igreja em Portugal, nova edição preparada e dirigida por Damião Peres, vol. II, Porto,
Lisboa, Civilização, 1968, p. 636, vol. III, Porto, Lisboa, Civilização, 1970, pp. 531-532;
José Pedro Paiva, Os Bispos de Portugal e do Império (1495-1777), Coimbra, Imprensa da
Universidade de Coimbra, 2006, pp. 544-545.
4
Cf. Maria de Fátima Reis, Santarém no Tempo de D. João V, Administração, Sociedade e
Cultura, Lisboa, Edições Colibri, 2005, pp. 152-268. Retomamos aqui parte do que escrevemos in Ricardo Pessa de Oliveira, “Encenação de Poder: A entrada pública de D. João
Cosme da Cunha em Leiria (1746)”, Turres Veteras – X, (História do Sagrado e do Profano),
coordenação de Carlos Guardado da Silva, Lisboa, Edições Colibri, Torres Vedras, Câmara
Municipal de Torres Vedras, Universidade de Lisboa, 2008, pp. 187-199.
5
Cf. Ana Maria Alves, As Entradas Régias Portuguesas: uma Visão de Conjunto, Lisboa,
Livros Horizonte, [s.d.].
6
José Pedro Paiva, “Etiqueta e Cerimónias públicas na esfera da Igreja (séculos XVII-XVIII)”,
Festa cultura e sociabilidade na América Portuguesa, direcção de Istuán Jancsó e de Íris
Kantor, vol. I, São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 2001, p. 79.
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Reflexões
1
. história .
7
Sobre as entradas episcopais cf. José Manuel Alves Tedim, “Entrada triunfal de D. José de
Bragança na sé primacial de Braga”, IX Centenário da Dedicação de Sé de Braga. Congresso
Internacional. Actas, vol. II / 2, Braga, Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de
Teologia, Cabido Metropolitano e Primacial de Braga, 1990, pp. 413-420; José Pedro Paiva,
“O Cerimonial da Entrada dos Bispos nas suas dioceses uma encenação de poder (17411757)”, Revista de História das Ideias, vol. 15, Coimbra, 1993, pp. 117-146; Idem, “Etiqueta
e Cerimónias públicas […]”, pp. 76-94; Martin Elbel, “Bishop’s Secular Entry: Power and
representation in Inauguration Ceremonies of the Eighteenth-Century Bishops of Olomouc”,
Religious Ceremonials and images: power and social meanings (1400-1750), direcção de José
Pedro Paiva, Centro de História da Sociedade e da Cultura, European Science Foundation,
Coimbra, 2002, pp. 47-60; Maria Manuela de Campos Milheiro, Braga: a cidade e a festa no
séc. XVIII, Guimarães, NEPS, 2003; Luís Alexandre Rodrigues, “Os Poderes em Presença.
A Entrada Pública de D. Diogo Marques Mourato em Miranda do Douro”, Brigantia, vol.
XXIV, n.º 1-2 e 3-4, Bragança, 2005, pp. 161-183; Ricardo Pessa de Oliveira, “Encenação
de Poder: A entrada pública […]”, pp. 187-199.
8
José Pedro Paiva, “O Cerimonial da Entrada […]”, pp. 124-134; José Pedro Paiva, “Etiqueta
e Cerimónias […]”, pp. 81-84.
9
Évora, Biblioteca Pública de Évora (B.P.E.), cod. CIV/I-16 d, [Mercúrio de Lisboa, n.º 27, de
2 de Julho de 1746]; Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), cod. 49, fl. 126.
10
Lucas D’Andrade, Acçoens Episcopaes, tiradas do Pontifical Romano, & Ceremonial dos
Bispos, com hum breve compedio dos poderes, & Privilegios dos Bispos, Lisboa, Oficina
de João da Costa, 1671, p. 74.
11
Lisboa, BNP, cod. 49, fl. 125v.
12
Évora, B.P.E, cod. CIV/I-16 d, [Mercúrio de Lisboa, n.º 32, de 6 de Agosto de 1746].
13
Évora, B.P.E, cod. CIV/I-16 d, [Mercúrio de Lisboa, n.º 41, de 8 de Outubro de 1746].
14
Luís Alexandre Rodrigues, “Os Poderes em Presença […]”, p. 169.
15
José Pedro Paiva, “Etiqueta e Cerimónias […]”, p. 84; Maria Manuela de Campos Milheiro,
Braga […], pp. 327-466.
16
Évora, B.P.E., cod. CIV/I-16 d, [Mercúrio de Lisboa, n.º 42, de 15 de Outubro de 1746].
17
Gazeta de Lisboa, n.º 44, de 1 de Novembro de 1746.
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