Disputa marítima reaviva tensão entre Chile e Peru Santiago chama seu embaixador após publicação de mapa com novos limites. Lima pretende recorrer a Haia LIMA e SANTIAGO. No ressurgimento de uma antiga tensão entre os dois países, o Chile chamou ontem o seu embaixador no Peru "para consultas", após protestar contra a publicação de um mapa oficial que define a fronteira marítima conjunta e que, segundo Santiago, viola acordos internacionais. Além disso, o presidente da Câmara de Deputados chilena, Patricio Walker, cancelou a viagem oficial que faria a Lima, onde se encontraria com o presidente Alan García. O mapa publicado no domingo pelo jornal oficial "El Peruano" inclui uma extensa zona marítima, rica em recursos, que o Chile considera parte de seu território. O fato irritou o governo chileno, que classificou o mapa como "inaceitável". Para o Peru, a representação gráfica sustenta sua reivindicação sobre a área, que Alan García pretende levar à arbitragem internacional. - A cartografia é parte do processo peruano que será levado, no caso da divergência marítima, à Corte de Haia - disse o chanceler peruano José Antonio Belaúnde, em visita a Bogotá. Santiago diz que mapa dificulta relações bilaterais Um dia antes de chamar o embaixador Cristián Barros, a Chancelaria chilena entregou ao embaixador peruano, Hugo Otero, a carta de protesto formal. - Achamos que esse tipo de publicação (o mapa) e esta posição certamente dificultam um relacionamento bilateral fluido - disse o porta-voz do governo chileno, ministro Ricardo Lagos Weber, que ontem participou de uma reunião da presidente Michelle Bachelet com seu Gabinete. - O Chile continuará exercendo seus direitos e competências sobre seu território. O deputado Patricio Walker, que viajaria no dia 21 para um encontro com Alan García e para um seminário do Parlamento Andino, classificou o mapa de "provocação maior": - Decidimos suspender a viagem em sinal de rechaço a este ato inamistoso contra o Chile e todos os chilenos - disse. O Chile afirma que o Tratado de Limites com o Peru, de 1929, traçou a fronteira terrestre, e que os acordos internacionais de 1952 e 1954 definiram os limites marítimos. "Esse limite foi materializado segundo as Atas de Representantes de Chile e Peru, em 1968 e 1969", afirmou a Chancelaria. O Peru, no entanto, classifica os documentos de 52 e 54 como acordos pesqueiros. O mapa publicado domingo tem como fundamento a Lei de Linhas de Base do Domínio Marítimo do Peru, aprovada em 2005, e que estabelece a largura das águas territoriais em até 200 milhas marítimas. Para senador, pesca pode funcionar como estopim O senador chileno Sergio Romero, integrante da Comissão de Relações Exteriores, espera que o Peru explique que o mapa não inclui assuntos pesqueiros. - Seria virtualmente uma declaração de guerra se disserem que "em pesca temos nossos direitos". A situação já é muito grave, mas colocar algo desse nível equivale a uma situação bélica - acredita o senador. A tensão não é nova nas relações entre os países, que travaram uma guerra entre 1879 e 1883. Na época, o Peru perdeu parte do território costeiro sul. Houve, depois, uma aproximação entre os dois governos, ainda que cruzada pelo debate sobre limites marítimos e, mais recentemente, pela repentina chegada ao Chile do ex-presidente peruano Alberto Fujimori, cuja extradição é tentada por Lima. O Chile tem ainda uma contenda com a Bolívia, que reclama a restituição da saída para o mar perdida no século XIX. Jornal O GLOBO http://www.exercito.gov.br/resenha - Acessado em 14/08/2007