UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE IMPACTO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA COM EQUIPE DE SAÚDE BUCAL SOBRE INDICADORES DE SAÚDE BUCAL: ANÁLISE EM MUNICÍPIOS DO NORDESTE COM MAIS DE 100 MIL HABITANTES CARMEN REGINA DOS SANTOS PEREIRA Natal-RN 2010 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE IMPACTO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA COM EQUIPE DE SAÚDE BUCAL SOBRE INDICADORES DE SAÚDE BUCAL: ANÁLISE EM MUNICÍPIOS DO NORDESTE COM MAIS DE 100 MIL HABITANTES CARMEN REGINA DOS SANTOS PEREIRA Tese apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Doutor em Ciências da Saúde, pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Orientador: Prof. Dr Kenio Costa de Lima. Co-Orientador: Prof. Dr. Angelo Giuseppe Roncalli Natal 2010 Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”. Pereira, Carmen Regina dos Santos. Impacto da estratégia saúde da família com equipe de saúde bucal sobre indicadores de saúde bucal: análise em municípios do nordeste com mais de 100 mil habitantes / Carmen Regina dos Santos Pereira – Natal, RN, 2011. 124 f. : il. Orientador: Prof. Dr. Kenio Costa de Lima. Co-orientador: Prof. Dr. Ângelo Giuseppe Roncalli. Tese (Doutorado em Ciências da Saúde) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. 1. Saúde da família – Tese. 2. Saúde bucal – Tese. 3. Avaliação de serviços de saúde – Tese. I. Lima, Kênio Costa de. II. Título. RN/UF/BSO Black D585 iii UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde: Profa Dra Técia Maria de Oliveira Maranhão iv CARMEN REGINA DOS SANTOS PEREIRA IMPACTO DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA COM EQUIPE DE SAÚDE BUCAL SOBRE INDICADORES DE SAÚDE BUCAL: ANÁLISE EM MUNICÍPIOS DO NORDESTE COM MAIS DE 100 MIL HABITANTES PRESIDENTE DA BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Kenio Costa de Lima BANCA EXAMINADORA Profa. Dra Maria do Socorro Costa Feitosa Alves - UFRN Prof. Dr George Dantas de Azevedo - UFRN Prof. Dr. Paulo Sávio Angeiras de Góes - UPE Prof. Dr. Samuel Jorge Moysés – PUC-PR v Dedicatória Para Francisco de Paula Pereira vi Agradecimentos Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde pela oportunidade de fazer parte do seu quadro de alunos e pelo conhecimento adquirido. Ao Departamento de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como instituição executora por todo o auxílio e orientação que me foram fornecidos. Ao CNPq, que, com edital, destinado à saúde bucal, possibilitou o desenvolvimento do estudo através do trabalho compartilhado com outros pesquisadores. Também quero externar meu reconhecimento ao Programa Permanente de Capacitação Docente da PUC Minas pela condução de todo o processo de licença. Esta tese é o resultado de um esforço coletivo de professores e alunos vinculados ao projeto de pesquisa “Impacto do Programa Saúde da Família no perfil de saúde bucal: análise em municípios do Nordeste com mais de 100 mil habitantes” que se iniciou em 2005, portanto destaco e reconheço a parceria, fundamental para o êxito da pesquisa dos professores pesquisadores: Maria Cristina Teixeira Cangussu, Luis Roberto Augusto Noro, Alberto Allan Rodrigues Patrício e Eudes Euler Lucena. Agradecimentos especiais e em particular são destinados ao meu orientador Prof. Dr Kenio Costa de Lima e ao Co-Orientador e Coordenador da Pesquisa Prof. Dr Angelo Giuseppe Roncalli pelo carinho, confiança, dedicação e fundamental orientação em todas as etapas da tese. Agradeço também aos professores Maria Angela Ferreira e Prof. Aldo Aloisio Dantas da Silva, por ocasião da minha qualificação, pelas contribuições fundamentais e pela forma descontraída e incentivadora com que apresentaram suas considerações. Também sou grata a prof. Elizabethe Cristina Fagundes de Souza pelas nossas conversas. Meus sinceros agradecimentos a gestores e coordenadores de atenção básica, de saúde da família e de saúde bucal dos 5 Estados e 12 Municípios, além dos trabalhadores das unidades básicas de saúde, agentes comunitários de saúde, população entrevistada e todos aqueles que colaboram com a pesquisa fornecendo vii informações, contribuindo para a realização do trabalho de campo e viabilizando os inúmeros treinamentos dos entrevistadores. Igualmente externo minha gratidão ao apoio e estímulo recebidos de um grande número de pessoas que, em diferentes municípios, viabilizaram o meu trabalho de pesquisa e com sua atenção amenizaram minha saudade de casa. Agradeço a todos os meus colegas da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, especialmente a Maria do Carmo Silva, carinhosamente, DuCarmo, por me orientar junto ao recursos humanos da prefeitura e assim viabilizar meu afastamento para realizar a pesquisa. Aos amigos professores da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais que me incentivam sempre e me acolheram em meu retorno às atividades acadêmicas. Agradeço as minhas famílias Pereira e Oliveira. Todos me ajudaram muito. Meu carinho especial para minha cunhada-sogra Veroka por sua atenção e ajuda por ocasião da minha cirurgia. Destaco as duas matriarcas D. Maria e D. Julieta por serem, cada uma, a sua maneira, exemplos de força e determinação. Também gostaria de novamente agradecer, por tudo, ao Lô. Agradeço, por fim, ao meu filho Victor pela compreensão de ter a mãe tão distante e mesmo assim ser meu grande companheiro. viii Sumário Dedicatória ........................................................................................................................................................ vi Agradecimentos ................................................................................................................................................ vii Lista de Figuras .................................................................................................................................................. x Lista de Tabelas ................................................................................................................................................ xi Lista de Quadros .............................................................................................................................................. xii Lista de Abreviaturas e Siglas ......................................................................................................................... xiii Resumo ........................................................................................................................................................... xiv Abstract............................................................................................................................................................. xv 1. Introdução ................................................................................................................................................... 1 1.1. Motivações .......................................................................................................................................... 9 2.1. Breve revisão dos conceitos de avaliação ........................................................................................12 2.2. A Estratégia Saúde da Família (ESF) ...............................................................................................13 2.3. Estudos de avaliação sobre a ESF ...................................................................................................14 2.4. Estudos sobre ESF com Saúde Bucal ..............................................................................................17 Artigo 1: Impacto da Estratégia de Saúde da Família com Equipe de Saúde Bucal sobre a utilização de serviços odontológicos ........................................................................................................................24 Artigo 2: Impacto da Estratégia Saúde da Família com equipe de saúde bucal sobre indicadores de saúde bucal: análise em municípios do Nordeste com mais de 100 mil habitantes. ...............................37 Artigo 3: Efeito da Saúde Bucal no PSF e desigualdades sociais sobre o acesso ao serviço odontológico público no Nordeste ............................................................................................................69 Considerações finais ......................................................................................................................................104 Apêndices .......................................................................................................................................................109 Referências Bibliográficas ..............................................................................................................................118 ix Lista de Figuras Artigo1 Figura 1. Descrição dos setores experimentais e controles do município de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil.2006............................................................................................... 33 Figura 2. Descrição da amostra do estudo. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. 2006........ 35 Figura 3. Percentual de indivíduos que referiram acesso à assistência odontológica de acordo com o grupo etário, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. 2006................................. 39 Artigo2 Figura 1. Descrição da amostra do estudo em 12 municípios do Nordeste. Brasil, 2006.... 55 Figura 2. Distribuição dos 8 indicadores com relação ao seu resultado (positivo, ausência ou negativo) nos 12 municípios estudados. A ordem foi estabelecida da esquerda para a direita, considerando o melhor até o pior resultado.............................. 59 Figura 3. Distribuição dos 12 municípios analisados com relação aos resultados encontrados para os indicadores de saúde bucal utilizados. A ordem foi estabelecida de baixo para cima, considerando o pior até o melhor resultado..................... 60 Artigo3 Figura 1. Esquema do procedimento para o cálculo do tamanho da amostra...................... 82 Figura 2. Descrição da amostra por setores do estudo em 12 municípios do Nordeste. Brasil, 2006....................................................................................................... 87 x Lista de Tabelas Artigo 1 Tabela 1. Elenco de variáveis independentes de confusão para o estudo.......................... 34 Tabela 2. Distribuição, em números absolutos e percentuais, da assistência odontológica segundo modalidade de cobertura e faixa etária, Natal, Rio Grande do Norte. Brasil.2006............................................................................................................................ 36 Tabela 3. Razão de prevalência (RP) para assistência odontológica segundo o tipo de cobertura estudada e aglomeração domiciliar. Natal, Rio Grande do Norte. Brasil.2006............................................................................................................................ 37 Artigo2 Tabela 1. Resultados dos indicadores de saúde bucal em áreas com Modelo 1 (SB-PSF) e Modelo 2 nos 12 municípios investigados. Para cada análise, valores de “p” e Razão de Prevalência (RP) ajustada pela Regressão de Poisson (*) e respectivos intervalos de confiança................................................................ 57 Artigo3 Tabela 1. Matriz dos componentes rotacionados, cargas e rótulos dos componentes para nove variáveis de 214 setores censitários do Nordeste, 2006.............. 90 Tabela 2. Valores de eigenvalue, comunalidade e porcentagem da variância total explicada pelos três fatores das nove variáveis de 214 setores censitários do Nordeste, 2006.................................................................................................................. 90 Tabela 3. Acesso a serviços de saúde bucal em áreas cobertas e não cobertas pelas ESB/PSF em 214 setores censitários de 12 municípios do Nordeste, classificados segundo situação de desigualdade social. Brasil, 2006........................................................ 92 Tabela 4. Acesso a serviços de saúde bucal em áreas cobertas e não cobertas pelas ESB/PSF em 214 setores censitários de 12 municípios do Nordeste, classificados segundo situação socioeconômica (Fator 1). Brasil, ............................................................ 93 Tabela 5. Acesso a serviços de saúde bucal em áreas cobertas e não cobertas pelas ESB/PSF em 214 setores censitários de 12 municípios do Nordeste, classificados segundo situação socioeconômica (Fator 2). Brasil, 2006.................................................... 94 Tabela 6. Acesso a serviços de saúde bucal em áreas cobertas e não cobertas pelas ESB/PSF em 214 setores censitários de 12 municípios do Nordeste, classificados segundo situação socioeconômica (Fator 3). Brasil, 2006.................................................... 94 xi Lista de Quadros Quadro 1. Elenco de variáveis dependentes e independentes do estudo............................ 52 Quadro 1. Elenco de variáveis para extração dos componentes principais.......................... 85 Quadro 2. Análise das comunalidades das variáveis............................................................88 xii Lista de Abreviaturas e Siglas ACD – Auxiliar de Consultório Dentário AF – Análise Fatorial ACP – Análise de Componente Principal CD – Cirurgião Dentista CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico DAB – Departamento de Atenção Básica ESB – Equipe de Saúde Bucal ESB-PSF – Equipe de Saúde no Programa Saúde da Família ESF – Estratégia Saúde da Família IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH – Índice de Desenvolvimento Humano IDH-M – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal MS – Ministério da Saúde NHS – Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde PNAD – Pesquisa Nacional de Domicílio PNUD – Programa das Nacões Unidas para o Desenvolvimento PROESF – Programa de expansão da Estratégia Saúde da Família RP – Razão de Prevalência SAS – Secretária de Atenção a Saúde SUS – Sistema Único de Saúde TMI – Taxa de Mortalidade Infantil UBS – Unidade básica de Saúde MCT – Ministério das Ciências e Tecnologia xiii Resumo Este estudo verificou, nos municípios da região Nordeste com mais de cem mil habitantes que incorporaram a equipe de Saúde Bucal (SB) na Estratégia de Saúde da Família (ESF), o possível impacto sobre os indicadores de saúde bucal. Procurou responder se a implantação da ESF com equipe de SB trouxe melhores indicadores de agravos e cobertura, comparativamente às áreas sem cobertura da estratégia por meio de um ensaio comunitário em paralelo, quase-randomizado. Em cada um dos municípios foram pesquisados 20 setores censitários, sendo 10 inseridos em áreas cobertas pelas equipes de saúde bucal na ESF e 10 setores de áreas não cobertas. A amostra final constou de 59.221 indivíduos. Foram comparados indicadores de saúde bucal relativos a agravos, acesso a serviços e cobertura de ações de saúde bucal. A estratégia de análise baseou-se no cálculo das razões de prevalência e respectivos intervalos de confiança, ajustadas para os fatores de confundimento por intermédio da regressão de Poisson com variância robusta. Também foi realizada medida de associação entre um indicador de desigualdade social para comparação entre as áreas. Os melhores resultados estão associados aos indicadores de acesso e cobertura de ações de saúde bucal em detrimento dos indicadores de agravos, sugerindo a provável manutenção de um modelo de prática ainda tradicional. Os resultados também apontam para um possível efeito de uma política pública específica na área de atenção primária sobre a desigualdade no acesso. A partir das discussões apresentadas ao longo deste trabalho, podemos perceber que a análise de impacto de uma política pública, obtida por meio da comparação entre áreas com e sem a intervenção, capta não só o efeito sobre a população alvo, mas outras dimensões da organização do serviço e, portanto deve ser compreendida como uma das possibilidades analíticas ligadas à gestão. Palavras-chave: Saúde da Família, Saúde Bucal, Avaliação de Serviços de Saúde. xiv Abstract This study examined in municipalities of Northeast of Brazil with more than one hundred thousand people who incorporation of Oral Health Teams (OHT) into the Family Health Strategy (FHE) the possible impact on oral health indicators. Sought to answer whether implementation OHT brought the best indicators of health problems and coverage, compared to areas without coverage by the FHE through a community trial in parallel, quasi-randomized. In each of the municipalities surveyed were 20 census tracts, 10 were located in areas covered by oral health teams in the ESF and 10 industries in areas not covered. The final sample consisted of 59.221 individuals. We compared oral health indicators related to health problems, access to services and coverage of oral health actions. The analysis strategy was based on the calculation of prevalence ratios and confidence intervals, adjusted for confounding factors through Poisson regression with robust variance. It also has measured the association between an indicator of social inequality for comparison between areas. The best results are associated with indicators of access and coverage of oral health actions at the expense of the indicators of health problems, suggesting a possible maintenance of a traditional model of practice yet. The results also suggest a possible effect of a specific policy in the area of primary care on inequality in access. From the discussions presented throughout this work, we can see that the impact analysis of public policy, obtained by comparing areas with and without the intervention, not only captures the effect on the target population, but other dimensions of organization service and therefore should be understood as one of the analytical possibilities related to the management. Keywords: Family Health Program, Oral Health, Health Services Evaluation xv 1. Introdução Estudos, pesquisas e atividades de avaliação das políticas públicas sobre a saúde da população apóiam-se em um conjunto de decisões que o pesquisador toma no início e ao longo do trabalho. Como se sabe, é preciso identificar, de início, o recorte do objeto, no caso, a intervenção que se pretende avaliar (Draibe, 2001). Essa é uma decisão difícil, principalmente quando se pretende avaliar um programa, ou estratégia, como é o caso da Estratégia Saúde da Família, por sua abrangência e complexidade. De modo geral, as avaliações de serviço respondem a dois objetivos principais: produção de conhecimento a partir da relação entre condições, meios, resultados e impactos da intervenção ou identificação de obstáculos, visando a melhoria do processo de implementação e do desempenho de determinada intervenção (Draibe, 2001). No plano teórico, portanto, foi necessária a elaboração de referenciais teóricos apropriados para a compreensão das relações entre condições de vida e situação de saúde bucal. No plano metodológico, foi preciso desenvolver estratégias de investigação, com seus correspondentes instrumentos de coleta e análise da informação, que permitiriam retroalimentar o plano teórico. No plano prático, o de intervenção na realidade dos serviços de saúde bucal, foi preciso definir os modos de operacionalização, coletar os dados e explorar os recursos de análise para atingir o objetivo de identificar os resultados das intervenções sob investigação. Portanto, para melhor compreensão dos resultados da pesquisa, a apresentação, será feita em três partes: a primeira parte caracteriza o problema, esclarece a escolha do tema, a hipótese da pesquisa, a motivação para realizá-la e o objetivo da Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 2 mesma. Na segunda parte serão apresentados os artigos, o primeiro deles, “Impacto da Estratégia Saúde da Família com equipe de saúde bucal sobre a utilização de serviços odontológicos”, já se encontra publicado. Este artigo objetivou verificar se a incorporação da equipe de saúde bucal no Programa Saúde da Família (PSF) gerou uma maior utilização dos serviços odontológicos no Município de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. Tomou-se como referência 22 setores censitários, 11 inseridos em áreas cobertas pela saúde bucal no PSF há pelo menos um ano, emparelhados, com base em critérios sócio-econômicos, com 11 setores de áreas não-cobertas. Os resultados mostraram que a saúde bucal no PSF apresenta impacto positivo sobre o indicador avaliado, somente quando comparada com áreas sem cobertura. O segundo artigo constituiu a base da tese, pois sintetiza os resultados de impacto da Estratégia Saúde da Família com equipes de saúde bucal sobre indicadores de saúde bucal na população nordestina residente em 12 municípios com mais de 100 mil habitantes. Tomou-se como referência, em cada um dos municípios pesquisados, 20 setores censitários, 10 inseridos em áreas cobertas pela Saúde Bucal no PSF há pelo menos um ano, emparelhados a partir de critérios socioeconômicos, com 10 setores de áreas não cobertas. Foram comparados indicadores de saúde bucal relativos a agravos (morbidade referida e dor de origem dentária), acesso a serviços e cobertura O terceiro artigo buscou avaliar a desigualdade de acesso aos serviços de saúde bucal públicos em áreas cobertas e não cobertas pela Saúde bucal na Estratégia Saúde da Família em 12 municípios de 5 estados do Nordeste em nível dos setores Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 3 censitários. Estes foram avaliados com base em nove variáveis socioeconômicas constantes nas bases de dados dos mesmos. Os resultados indicaram um nível baixo de utilização de serviços odontológicos nos setores com indicador geral classificatório desfavorável das áreas não cobertas pela Estratégia Saúde da Família. Os achados sugerem que é possível que a ESF com SB esteja cumprindo o princípio de reduzir os efeitos das desigualdades sociais sobre saúde bucal em áreas cobertas. A terceira parte são comentários a respeito dos trabalhos que foram gerados pela pesquisa, das dificuldades metodológicas, metas atingidas e outras ainda com possibilidade de serem alcançadas. É importante mencionar que o projeto de tese foi apresentado ao Programa de PósGraduação em Ciências da Saúde da UFRN com o título “Impacto das ações de Saúde Bucal no Programa de Saúde da Família sobre indicadores odontológicos: análise ecológica dos determinantes municipais no Nordeste”, pois, na época, estava prevista uma amostra de 26 municípios do Projeto de Pesquisa financiado pelo Ministério da Saúde e CNPq (Edital MCT-CNPq / MS-DAB/SAS – Nº 49/2005) que tinha como objetivo analisar o impacto do Programa Saúde da Família no perfil de saúde bucal. A idéia fundamental era tentar entender a força com a qual o modelo de desenvolvimento dos municípios, tanto do ponto de vista socioeconômico, quanto com relação às suas políticas públicas de saúde bucal, exerce sobre os indicadores de saúde bucal e, conseqüentemente, sobre a possibilidade concreta de uma determinada ação gerar impacto sobre os mesmos. A Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 4 metodologia sugerida seria a mais indicada, caso o projeto tivesse alcançado o número de municípios propostos. A redução no número de municípios previstos ocorreu por problemas inerentes aos trabalhos de campo, tais como dificuldades de obtenção e adequação das informações, ou seja, municípios sem os dados gerenciais disponíveis ou desatualizados impossibilitando a definição da amostra; alta rotatividade dos coordenadores tanto da atenção básica quanto de saúde bucal inviabilizando o início do treinamento e, portanto, comprometendo a execução da pesquisa em tempo hábil e até uma situação de recusa formal, no caso de um município, por considerar o projeto de pesquisa sem relevância no momento proposto. Pelas razões apresentadas a operacionalização do projeto resultou em 12 municípios efetivamente concluídos. A estratégia utilizada de realizar visitas, pessoalmente, para apresentação da pesquisa, exposição da sua contribuição para o contexto da avaliação local e discussão da viabilidade operacional em cada um dos 26 municípios se mostrou positiva, pois grande parte das anuências dos gestores foi obtida nesta fase. No entanto, quando lidamos com pesquisa avaliativa, ou seja, realizada por pesquisadores externos à gestão do município estaremos sujeitos a organização, compromisso e decisão dos gestores locais. Significa, como nos alertam Contandriopoulos et al (1997), que a avaliação é um dispositivo de produção de informação e, conseqüentemente, de que é fonte de poder para os atores que a controlam. Deve o pesquisador, portanto, assegurar-se do real interesse do gestor Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 5 quanto à realização da pesquisa, pois ele pode se sentir ameaçado ou considerar que os resultados quando obtidos, muitas vezes, chega tarde para agir. Caracterização do Problema Estudos de impacto das ações de saúde bucal sobre os indicadores odontológicos da população em geral, e de grupos sociais em particular, têm merecido atenção crescente no campo da Saúde Bucal Coletiva, seja com o intuito de aprimorar teorias e métodos que possam sustentar que o processo saúde-doença bucal não é passível de mudança unicamente através de ações especificas da área, seja com a preocupação de construir sistemas de monitoramento que permitam a tomada de decisão no âmbito da Política Nacional de Saúde Bucal do país, com desdobramentos nas instâncias estaduais e municipais. De acordo com Fucs e Victora apud Barata (1997), a situação de saúde e doença, em países em desenvolvimento, resulta da distribuição desigual de recursos entre indivíduos e populações, o que significa trabalhar com problemas complexos que são quantificáveis através da observação de variações na freqüência ou na intensidade do acometimento. No entanto, a investigação, análise e a interpretação dos dados são, na maioria das vezes, simplificados, ignorando a determinação social da doença. Os estudos que se propõem relacionar a situação de saúde com as condições de vida, incluindo, nesta perspectiva, o impacto do modelo assistencial vigente, baseiam-se na coleta de grande número de variáveis, as quais devem ser analisadas mediante técnicas estatísticas adequadas tais como análise de variáveis interdependentes que poderiam, porventura, impactar. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 6 Em seu capítulo “explorando novos caminhos na pesquisa avaliativa das ações de saúde”, Hartz (1997) afirma que devemos pensar em utilizar metodologias onde cada problema de pesquisa possa ser compreendido em duas perspectivas: no todo do sistema em que se está inserido, e também na sua perspectiva de unidade, contendo ela mesma um conjunto de subproblemas que é preciso conhecer. Continuando o raciocínio, alerta para o fato de, na área da saúde, ao se negligenciar as dimensões complexas na pesquisa avaliativa, teremos como conseqüência a produção de resultados pouco úteis para influenciar no comportamento das instituições. Significa também que é preciso considerar a interdependência das variáveis em sua inserção contextual, o que exigirá uma multiplicidade de abordagens metodológicas. Em sua revisão sobre avaliação, Contandriopoulos et al (1997) sugerem que adotemos a seguinte definição: “avaliar consiste, fundamentalmente, em fazer um julgamento de valor a respeito de uma intervenção ou sobre qualquer um de seus componentes, com o objetivo de ajudar na tomada de decisões”. Este julgamento pode ser resultado da aplicação de critérios e de normas (avaliação normativa), habitualmente executada por gerentes, ou ser elaborado a partir de um procedimento científico (pesquisa avaliativa), tarefa confiada, geralmente a pesquisadores que são exteriores à intervenção. Questão a ser respondida Dentre as possibilidades de uma pesquisa avaliativa, a análise de implantação significa medir a influência que pode ter a variação no grau de implantação de uma intervenção nos seus efeitos e, por outro, em apreciar a influência do ambiente, do Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 7 contexto, no qual a intervenção está implantada nos efeitos da intervenção. Este tipo de análise é pertinente quando observamos uma grande variabilidade nos resultados obtidos por intervenções semelhantes implantadas em contextos diferentes (Contandriopoulos et al,1997). Os resultados do estudo de linha de base do Programa de Expansão e Consolidação do Saúde da Família (PROESF) confirmam essas premissas e serviram de base para a elaboração do projeto desta pesquisa e, conseqüentemente, para a hipótese desta pesquisa. O ensaio comunitário é explorado nesta tese no intuito de responder a seguinte pergunta: as áreas com implantação da Estratégia Saúde da Família com equipe de Saúde Bucal apresentam melhores indicadores de saúde bucal? Para responder a essa pergunta foi preciso estabelecer os critérios de comparação: se iríamos comparar com o modelo que existia antes da intervenção ou comparar com áreas sem intervenção. Na obtenção da informação sobre cobertura da ESF com SB encontramos o seguinte dilema: existem municípios que não possuem áreas sem intervenção, ou seja, a população é referenciada para alguma modalidade de atendimento público, portanto, apenas o município de Natal (objeto do estudo piloto), pôde ser analisado considerando a categoria “áreas sem intervenção”. Nos demais municípios a análise foi realizada considerando as áreas cobertas pela ESF com SB em comparação com as demais, isto é, áreas sem cobertura do modelo objeto de estudo, ou seja, ESF com SB. Outra questão considerada consistiu na viabilidade da comparabilidade entre as áreas quanto às características socioeconômicas. Portanto, esses questionamentos geraram a seguinte pergunta de pesquisa: Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 8 Em áreas de mesma característica socioeconômica, a implantação da ESF com equipe de SB produz melhores indicadores de acesso, agravos e cobertura de ações e serviços de saúde bucal, comparativamente às áreas sem cobertura da estratégia? O produto final seria, portanto, a geração de resultados consistentes a esse respeito, no sentido de contribuir para uma melhor compreensão dos fenômenos de saúdedoença bucal e das estratégias de saúde coletiva para eles direcionados. Para tanto, aliados à pergunta, foram definidos os seguintes objetivos: Geral • Avaliar o impacto da Estratégia Saúde da Família com Equipe de Saúde Bucal sobre indicadores de saúde bucal na população nordestina, residente em municípios com mais de 100.000 habitantes, bem como o efeito desta política pública sobre a equidade no acesso à saúde bucal. Específicos • Avaliar o impacto da Estratégia Saúde da Família sobre agravos à saúde bucal na população nordestina residente em municípios com mais de 100.000 habitantes. • Avaliar o impacto da Estratégia Saúde da Família sobre o acesso ao dentista e aos diferentes tipos de serviços ofertados pela equipe de saúde bucal na população nordestina, residente em municípios com mais de 100.000 habitantes. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal • 9 Avaliar o efeito da Estratégia Saúde da Família na redução das desigualdades no acesso aos serviços de saúde bucal público. 1.1. Motivações É importante, neste momento, apresentar as motivações que me levaram a ingressar em pesquisa de avaliação de serviço de saúde bucal. Inicialmente, devo reconhecer, de público, que minha inserção na Saúde Coletiva, em pesquisa, foi tardia. Graduei-me na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais em 1983, sob a orientação pedagógica do modelo de Odontologia Integral que levou para o campo da Odontologia a idéia de extensão da prática às populações carentes, através de mecanismos integradores e de racionalização dos recursos da Odontologia institucionalizada. Pretendia-se uma Odontologia, na época, tida como "mais social". A concepção de social, segundo Mendes e Marcos (1985), estava relacionada às noções de necessidade de saúde bucal apontadas pelo quadro de saúde-doença encontrado na população, na carência das populações periféricas da cidade e no direito à saúde, ou melhor, no direito a uma atenção odontológica regulada pelas diferenças sociais. Considero que ter vivenciado diferentes práticas em clínicas extra-muros, onde fazíamos o reconhecimento do território, entrevistas com moradores e discutíamos a realidade daquela comunidade, uma influência marcante no meu processo de formação, portanto, minha formação acadêmica explica, em parte, minha busca natural por questões relacionadas à área de Saúde Coletiva. Outro fato que também reforçou minha atuação na área foi ter me tornado servidora pública, em 1986, na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Trabalhei por muitos anos em unidade básica. Na verdade, foi o meu primeiro emprego público e Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 10 atribuo a ele e a relação que estabeleci com outros trabalhadores da saúde, momentos importantes de aprendizado. Tive a oportunidade, nos anos 90, de participar de uma dessas capacitações para dentista da rede de serviços em que os participantes deveriam propor alguma intervenção sobre os problemas que foram abordados. Fiz uma proposta de capacitação para o pessoal auxiliar por reconhecer, por experiência própria, que o trabalho em equipe é resolutivo e qualifica o trabalho de toda a equipe de saúde bucal. Para minha surpresa, a proposta foi aceita e não só capacitamos o pessoal auxiliar como conseguimos que eles fossem regularmente formados pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais por meio de um convênio. Foram formados em torno de 400 profissionais entre técnicos e auxiliares entre 1989 e 1992, quando o convênio foi extinto. Tornei-me professora na mesma escola que me formei, leciono, entre outras disciplinas, conteúdos do campo da Saúde Coletiva. A partir dessas experiências, fui selecionada para fazer a capacitação pedagógica do Ministério da Saúde para formar dentistas para atuar no SUS e, desde então, o universo do serviço público tem sido meu campo de trabalho e atualmente de pesquisa. Por esse trabalho de capacitação de recursos humanos, conheci muitos profissionais em muitos estados do País e acabei sendo convidada para participar da linha de pesquisa da Saúde Coletiva do Departamento de Odontologia da UFRN, surgindo, então, a oportunidade de ingressar no programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Sempre me interessei pela Epidemiologia nos serviços de saúde e atribuo minha aproximação em relação ao tema avaliação dos serviços de saúde bucal, o fato de, mais recentemente, trabalhar no sistema de informação do distrito sanitário Noroeste em Belo Horizonte. No distrito, além das minhas funções no setor de Epidemiologia Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 11 e informação, faço parte do Grupo de Condução, que tem como objetivo acompanhar a implantação e monitoramento da atenção básica, discutindo com as Unidades de Saúde a organização do processo de trabalho, buscando viabilizar e garantir as diretrizes pactuadas. Cabe também ao Grupo de Condução subsidiar a capacitação dos gerentes locais, através da incorporação de instrumentos para conhecimento do território e ferramentas para o planejamento e gestão. Quando fiz a opção de cursar o Doutorado, em outro estado, tinha como expectativa conhecer, dentro da área de Saúde Coletiva, instrumentos que pudessem ajudar a entender a gestão do nível local de realidades distintas. Compreendo que não é tarefa simples, porém, necessária. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 12 2. Revisão de Literatura 2.1. Breve revisão dos conceitos de avaliação O desenvolvimento da avaliação de programas públicos se deu num contexto pósguerra de incorporação da assistência a saúde às políticas sociais. De acordo com Contandriopoulos et al (1977) os economistas foram os pioneiros nos processos de avaliação que se mostraram insuficientes principalmente nos campos da saúde e educação. O aperfeiçoamento metodológico aconteceu a partir das inúmeras abordagens interdisciplinares resultando em uma diversidade de definições e focos avaliativos propostos. Um exemplo clássico é considerar que resultados de ações e programas de saúde podem ser avaliados sob dois focos: mudanças verificadas no estado de saúde da população ou no comportamento da mesma. Tem sido, portanto, considerado que, através da avaliação de resultados, consegue-se pesquisar se determinados programas cumpriram ou estão cumprindo seus objetivos. De acordo com Draibe (2004), este tipo de avaliação é também denominado de avaliação de impacto. Os impactos referem-se às alterações ou mudanças efetivas na realidade sobre a qual um programa intervém e por ele são provocadas. Os indicadores de impacto devem ser, portanto, capazes de aferir os efeitos líquidos do programa sobre a população alvo. Baker (2001) afirma que a avaliação de impacto determina se o programa teve os efeitos projetados em indivíduos, lares e instituições, assim como se tais efeitos podem ser atribuídos, de fato, à intervenção do projeto. Para isso, a autora sugere que é preciso controlar o elemento contrafactual ou a contrapartida: “o que aconteceria se o projeto não existisse?” Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 13 De modo geral, os estudos sobre avaliação em saúde tendem a verificar o desempenho do programa, o que caracteriza uma avaliação de resultado e processo, com uso de técnicas quantitativas ou qualitativas ou ambas, no sentido de se complementarem. Segundo Silva Jr e Mascarenhas (2004), a abordagem qualitativa na pesquisa avaliativa capta a percepção dos movimentos de mudanças na qualidade da atenção no que se refere, principalmente, ao processo de trabalho das equipes, na relação com as populações adscritas e à integralidade da atenção à saúde. Desse modo, os gestores, financiadores e pesquisadores, diante da necessária avaliação do serviço público, devem levantar dados pertinentes para tomada de decisão relativa à melhoria, expansão ou mesmo contra-indicação do programa avaliado. Deve-se atentar para o fato, como nos lembra Santos e Victora (2004), da legitimidade dos resultados, principalmente quando esses não são tão positivos quanto o esperado. 2.2. A Estratégia Saúde da Família (ESF) Na primeira metade da década de 1990, mais precisamente em 1994, o Ministério da Saúde adotou em nível nacional a Estratégia Saúde da Família (ESF) (Brasil, 1994). Seu principal propósito era a organização da prática da atenção à saúde sob novas bases, substituindo o modelo tradicional, fazendo a saúde chegar mais perto das famílias, a fim de que houvesse uma melhoria na qualidade de vida dos brasileiros. Essa estratégia incorpora e reafirma os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e está estruturada a partir da Unidade de Saúde da Família (USF), que se propõe a organizar suas ações sob a égide da integralidade e hierarquização, Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal territorialização e cadastramento da clientela, a partir de uma 14 equipe multiprofissional. Draibe (2004) afirma que a adscrição territorial da clientela em conjunto com a opção pela unidade familiar constituem-se duas das principais inovações da ESF que, se não representam um avanço do SUS, são, pelo menos, uma correção de suas insuficiências. A adoção da ESF parte do reconhecimento de que iniciativas de introdução de mudanças substantivas no setor saúde, a partir da implantação do SUS, apesar de seus avanços, têm resultados pouco perceptíveis na estruturação dos serviços de saúde, exatamente por não promover alterações significativas no modelo assistencial (Senna, 2002). A implementação dessa estratégia, tida como eixo estruturante da atenção básica, embora sob mesma orientação macropolítica, vem produzindo experiências qualitativamente diferentes e, em muitos casos, reproduzindo o modelo tradicional em novas embalagens, como já ressaltaram Silva Júnior (1998) e Merhy e Franco (2002). 2.3. Estudos de avaliação sobre a ESF Senna (2002) comenta que, em uma primeira avaliação sobre a ESF, observou-se impacto positivo em áreas com grande déficit de serviços básicos de saúde, sobretudo na região Nordeste do país. Um dos grandes desafios do programa, segundo a autora, se refere ao seu impacto nas grandes regiões metropolitanas, onde, ao menos em tese, há uma oferta mais estruturada de serviços de saúde e onde se concentra um expressivo contingente populacional com elevado índice de pobreza urbana e, ao mesmo tempo, extremamente heterogênea. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 15 Diversos estudos avaliando o impacto sobre indicadores de saúde foram realizados desde a implantação da ESF, em meados dos anos 1990. Uma maior produção tem sido dedicada a indicadores passíveis de sofrerem efeitos por estratégias de atenção primária, como a mortalidade infantil, por exemplo. Monteiro et al (2009) observaram um declínio considerável na desnutrição infantil entre 1996 e 2006 (de 13,5% para 6,8%). Ao associar este declínio com diversos fatores, observaram que 11,6% de todo o efeito poderia ser creditado à assistência à saúde, com destaque para a assistência pré-natal. Outro aspecto, frequentemente avaliado, é o efeito sobre internações hospitalares por condições sensíveis à Atenção Primária em Saúde. Nesse sentido, Veloso e Araújo (2009), trabalhando com municípios de pequeno porte em Minas Gerais, observaram um declínio de 43% em 1999 para 29% em 2007 nas internações sensíveis. Apesar do estudo não ter controlado o efeito de outros fatores, as autoras creditam parte deste efeito à coincidente expansão da ESF no mesmo período. Nos últimos anos, muitos estudos têm apontado os efeitos da ESF para a promoção da eqüidade em saúde no Brasil, tanto em termos de acesso, como na melhoria mais significativa de indicadores de saúde nos municípios com menor nível de desenvolvimento social. Utilizando dados de séries temporais entre 1999 e 2004 no Brasil, Macinko et al (2007) avaliaram as Taxas de Mortalidade Infantil (TMI), buscando a associação com a cobertura de ESF e controlando por variáveis socioeconômicas e relativas aos serviços. Encontraram uma relação significativa entre o crescimento da ESF e o declínio na mortalidade infantil, de modo a estabelecer um modelo preditivo, em que um aumento em 10% na cobertura da ESF provoca um declínio de 0,45% na TMI. Resultados semelhantes foram encontrados Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 16 por Aquino, Oliveira e Barreto (2009). Neste estudo, após o controle dos fatores confundidores, foram observadas reduções de 13% a 22% na TMI, para níveis igualmente crescentes de cobertura pela ESF. Ficou evidente, também, que os resultados tendem a ser mais significativos em municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Victora et al (2005) concordam que a ESF desempenha papel essencial na provisão de cuidados de saúde aos mais pobres. Goldbaum et al (2005) avaliaram a utilização de serviços de saúde em dois distritos de saúde no município de São Paulo. Os autores encontraram “certo nível de acesso e utilização de serviços de saúde na população moradora em áreas mais pobres do Município de São Paulo, mesmo aquela não coberta pela ESF. No entanto, nessas áreas, a presença da ESF mostrou-se capaz de diminuir o efeito das condições sociais desiguais (medidas através de variáveis selecionadas), sobre o perfil de acesso e utilização ali existente”. A análise de indicadores de saúde (Brasil, 2008) tem evidenciado uma expansão da ESF significativamente maior nos municípios com menor renda familiar per capita. A ampliação da cobertura vacinal e a redução da mortalidade infantil e da desnutrição proteico-calórica, tem sido particularmente melhores nos estratos de maior cobertura dessa estratégia e nos municípios de baixo IDH, assim como o controle de doenças crônicas não transmissíveis. É preciso esclarecer que os resultados aqui apresentados são passíveis de questionamentos. O primeiro deles é o fato de não ser adequado comparar resultados encontrados em municípios com IDH alto, como São Paulo e os resultados obtidos em municípios com IDH baixo. Os resultados tendem a ser mais Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 17 significativos em municípios com baixo IDH, como referenciado acima, mas esses resultados podem ser um reflexo dos efeitos de regressão à média, pois o IDH pode não estar explicando a diferença de cobertura. 2.4. Estudos sobre ESF com Saúde Bucal Há dez anos a saúde bucal foi incorporada à estratégia saúde da família (Brasil, 2000) na tentativa de se alcançar esse modo integral de atenção, tomando-a como parte integrante da saúde das famílias e comunidades (Brasil, 2000, 2001, 2004). No entanto, são relativamente recentes os incentivos e o estabelecimento de indicadores (Brasil, 2006), no sentido de monitorar tal inclusão e avaliar seus impactos. Em relação à incorporação da Equipe de Saúde Bucal na ESF, aponta-se que esta se deu num contexto político, econômico e social favorável. Político, pelo apoio dos diferentes atores envolvidos; econômico pelo financiamento recebido, cujo início de sua consolidação se deu através da NOB-SUS 96; e social pelo provável impacto que causaria nos elevados índices de cárie da população brasileira e na possibilidade de se por em prática os princípios e diretrizes do SUS (Souza, 2005). No campo da Saúde Bucal, os estudos avaliativos da ESF ainda são menos freqüentes e poucos deles abordam diretamente o impacto sobre indicadores epidemiológicos ou de serviços. Baldani et al (2005) analisaram o perfil de implantação da Saúde Bucal na ESF em 136 municípios do Estado do Paraná, um ano após a vigência da portaria no 1.444, e encontraram pontos positivos no sentido da recepção favorável por parte da população e participação dos cirurgiões-dentistas Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 18 em cursos de capacitação e já antecipava a questão do nó crítico do encaminhamento dos casos complexos e a necessidade de formação de profissionais generalistas com perfil adequado. Andrade e Ferreira (2005), Oliveira e Saliba (2005) e Santos e Assis (2006) também identificaram que ações individuais e coletivas da ESB apresentaram resolutividade limitada nos municípios Campos de Goytacazes (RJ), Recife (PE), e Alagoinhas (BA), respectivamente. Nascimento (2009) comparou, por meio de uma análise qualitativa, dois modelos de atenção com base na ESF: o método Paidéia de Saúde da Família de Campinas (termo adotado pelo Colegiado de Gestão da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas) e o modelo ESF de Curitiba. Para tanto, empregou indicadores de análise que captassem avanço, retrocesso ou estagnação nas práticas em Saúde Bucal. Os resultados confirmaram avanço no acesso dos usuários e nas ações que o profissional tem condições de instituir, tais como a humanização do cuidado. Na análise do modelo de atenção à Saúde Bucal desenvolvida em nove municípios de Pernambuco, sob o ponto de vista dos coordenadores municipais, associada ao estudo do perfil da ESB, foi constatada uma pior situação: a maioria dos municípios apresentou dificuldades na estruturação do modelo de prática, tanto do ponto de vista da incorporação de novas práticas, como na deficitária qualificação dos profissionais (Martelli et al, 2008). Outros estudos avaliaram fatores associados aos resultados, como o estudo comparativo conduzido por Chaves e Vieira-da-Silva (2007), em dois municípios baianos (escolhidos por serem opostos do ponto de vista do estágio de implantação da gestão em saúde), que avaliou em que medida a descentralização da gestão da Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 19 atenção à saúde tem influenciado a organização da atenção à saúde bucal. As autoras consideram que, se existisse um projeto de governo com clara “imagemobjetivo” da atenção à saúde bucal, favoreceria a formulação de uma política adequada, o que por sua vez reorganizaria a atenção e poderia vir a ter impacto sobre os agravos bucais. Diferentemente, Souza e Roncalli (2007), numa tentativa de identificar, através de entrevista estruturada em 19 municípios do Rio Grande do Norte, os fatores capazes de interferir no processo de mudança dos modelos assistenciais em saúde, concluíram que, devido à precariedade nas relações de trabalho e dificuldades no referenciamento para os níveis de maior complexidade, a maioria dos municípios apresentou pouco ou nenhum avanço no modelo assistencial. As avaliações da oferta de cuidados em saúde bucal, expressa em termos de quantidade e qualidade de recursos de estrutura, humanos e tecnológicos, sem dúvida, podem contribuir para melhorar a qualidade do serviço. No entanto, esse modelo de avaliação vem cedendo lugar, dentro da Saúde Pública, a outras concepções que se apóiam, essencialmente, na complexidade que caracteriza os fenômenos coletivos. Por exemplo, algumas intervenções municipais exitosas de reorganização das ações odontológicas no setor público em Curitiba (Paraná), Campinas (São Paulo), Belo Horizonte e Ipatinga (Minas Gerais) estão claramente associadas ao apoio do governo local (Roncalli, 2000). Os estudos já realizados claramente demonstram um aumento da oferta, o que pode significar apenas a “presença” de serviços odontológicos em áreas cobertas pela ESF, sem, no entanto, se traduzir em reversão do modelo de atenção à saúde bucal, Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 20 caracterizado por ser cirúrgico-restaurador, ineficiente, monopolizador, de tecnologia densa, de alto custo e elitista além de pouco resolutivo, mutilador e, portanto, centrado na doença. De acordo com a revisão sistemática de Jesus e Assis (2010) o termo acesso quando aplicado a serviços de saúde tem sido considerado no sentido de “porta de entrada”, como o local de acolhimento do usuário no momento de expressão de sua necessidade e, de certa forma, os caminhos percorridos por ele no sistema na busca da resolução dessa necessidade. Ao tratar a questão do acesso a partir das possibilidades de aproximação com os serviços de saúde, devese ter em conta uma visão compreensiva, na qual seja possível comportar uma dimensão econômica, referente à relação entre oferta e demanda, uma visão técnica, relativa à planificação e organização da rede de serviços; uma visão política, relativa ao desenvolvimento da consciência sanitária e da organização popular; e uma dimensão simbólica, relativa às representações sociais acerca da atenção e ao sistema de saúde. De acordo com as diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal (2004), o estímulo à construção de uma consciência sanitária, em que a integralidade seja percebida como direito a ser conquistado, permitirá, com as formas possíveis de participação, desenvolver o processo de controle social das ações e serviços em saúde bucal. Os resultados de estudos sobre impacto de programas de Saúde Bucal na ESF, na sua maioria, são descritivos e apontam para características de implantação diversas em todo o País. É necessário, portanto, desenvolver pesquisas de avaliação de impacto de maior abrangência que incorporem as características sócio-econômicas, de oferta de serviço e políticas públicas de um modo geral. Um exemplo deste tipo Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 21 de abordagem é o estudo realizado por Fischer (2008) que trabalhou os indicadores de atenção básica em saúde bucal (cobertura, razão de exodontias em relação aos procedimentos individuais e cobertura de procedimentos coletivos na população de até 14 anos de idade) em municípios do Sul do Brasil (n=1159) entre 2000 a 2005. Adicionalmente testaram-se os indicadores com variáveis socioeconômicas, fluoretação de águas e cobertura da Estratégia de Saúde da Família no Sul do Brasil. Estes foram associados positivamente com o aumento da cobertura, o estado (RS com a menor), população rural, IDH, número de dentistas pela população e cobertura da saúde bucal no PSF. Para razão de exodontias foram associados o estado (SC e RS maiores), negativamente com população rural, IDH, número de dentistas pela população e cobertura da saúde bucal no PSF e positivamente o índice de Gini. Procedimentos coletivos foram associados negativamente com índice de Gini, intensidade de indigência e razão do número de dentistas pela população e positivamente com estado (menor no RS), população rural IDH e cobertura da saúde bucal no PSF. Um dos estudos mais representativos sobre avaliação de políticas públicas é o estudo de Moysés (2000) que encontrou como resultado que as políticas públicas saudáveis, mediadas por coesão social, podem afetar significativamente a saúde bucal de crianças que vivem em áreas urbanas de baixa renda.O Programa de Expansão e Consolidação do Saúde da Família (PROESF, 2005) também avaliou alguns indicadores de saúde bucal na região nordeste e encontrou que estes foram piores para os municípios da região metropolitana. Nos doze meses anteriores à pesquisa, 35% dos entrevistados foram atendidos por dentistas não tendo sido Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 22 observadas diferenças quanto ao modelo de unidade básica de saúde (USB), porte do município, região e unidade da federação. Um dos trabalhos originados do banco de dados da pesquisa, publicado nos anais do congresso da ABRASCO (2009), estimou os efeitos de variáveis socioeconômicas contextuais na chance dos indivíduos terem “necessidade de tratamento”, “acesso a dentista da rede pública” e “dor de dente”. Para tanto, foi realizado um estudo ecológico que abrangeu 107 setores censitários cobertos pelas ações de saúde bucal da estratégia da saúde da família referente a 12 municípios do Nordeste no ano de 2007. Para se evitar viés de agregação, comuns em estudos ecológicos, adotou-se a estratégia de classificação dos setores sorteados mediante um indicador agregado, o que solucionou a questão da homogeneidade interna. Os dados foram retirados do estudo “Impacto do Programa Saúde da Família no perfil de saúde bucal: análise em municípios do Nordeste com mais de 100 mil habitantes” e da base de dados de setores censitários do IBGE. Os dados foram analisados a partir de regressão linear múltipla. Os resultados mostraram associação dos indicadores socioeconômicos “percentual de desemprego”, “percentual de pobreza” e “renda média“ com os desfechos “necessidade de tratamento” (r2=0,34), “acesso ao dentista da rede pública” (r2=0,25) e “dor de dente” (r2=0,19). Conclui-se ser uma relação fraca: os indicadores socioeconômicos contextuais permanecem influenciando as condições de acesso a serviço e agravo à saúde bucal, mesmo em áreas cobertas pela Estratégia de Saúde da Família. Até o momento é possível constatar a diversidade metodológica dos estudos sobre avaliação da ESF (seja com ou sem ESB) agravado pelo fato dos resultados, em Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 23 muitos casos, serem contraditórios entre si. O entendimento que se tem de uma pesquisa avaliativa não se restringe a verificar os impactos obtidos pelas ações de saúde, nem tampouco se resume a evidência de não neutralidade do investigador, apesar do aparente “rigor científico” com que os resultados são travestidos. Novaes (2000) já apontava que a subjetividade e intencionalidade são inerentes ao processo. De modo geral, o pesquisador é levado a verificar se existem impropriedades ou desajustes no desenvolvimento do programa avaliado valendo-se de uma projeção do que deveria ser. Neste processo existe o risco de esquecermos que a realidade observada é uma intervenção que já aconteceu e como tal é realidade sócio-histórica e, portanto, nossas expectativas prévias podem deturpar na identificação dos fatos. Como nos recomenda Sala (1990): a pesquisa deve produzir conhecimento novo sobre uma dada realidade de uma intervenção social. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Artigo 1: Impacto da Estratégia de Saúde da Família com Equipe de Saúde Bucal sobre a utilização de serviços odontológicos Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 25 ARTIGO ARTICLE Impacto da Estratégia Saúde da Família com equipe de saúde bucal sobre a utilização de serviços odontológicos Inclusion of oral health teams in the Family Health Program and its impact on the use of dental services Carmen Regina dos Santos Pereira 1 Alberto Allan Rodrigues Patrício 2 Fábio Andrey da Costa Araújo 2 Eudes Euler de Souza Lucena 2 Kenio Costa de Lima 2 Angelo Giuseppe Roncalli 2 1 Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil. 2 Programa de Pós-graduação em Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil. Correspondência C. R. S. Pereira Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Rua Romualdo Galvão 3673, apto. 404H, Natal, RN 59056-100, Brasil. [email protected] Abstract Introdução The aim of this study was to determine whether the incorporation of Oral Health Teams (OHT) into the Family Health Program (FHP) led to greater use of dental services in Natal, Rio Grande do Norte State, Brazil. Twenty-two census tracts were studied, 11 located in areas covered by the FHP for at least one year and paired according to socioeconomic criteria with 11 tracts in areas without coverage. The final sample consisted of 4,604 subjects. The areas covered by OHT in the FHP (model 1) were compared to areas covered by the FHP but without OHT (model 2) and to areas covered by traditional primary care services or without any coverage (model 3). In areas covered by model 1, 32% of the population used dental care, whereas in models 2 and 3 the rates were 45.4% and 17.5%, respectively (p < 0.001). With respect to age, model 1 only exceeded model 2 in the age bracket 12 years and under. The study concludes that OHT in the FHP only had a positive impact on the target indicator when compared to model 3. O Programa Saúde da Família (PSF), estratégia adotada em nível nacional desde 1994, tem como principal propósito a organização da prática da atenção à saúde sob novas bases, centrando o foco na família, na tentativa de alcançar uma melhoria na qualidade de vida dos brasileiros. A implementação dessa estratégia, considerada eixo estruturante da atenção básica, embora sob os preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS), vem produzindo experiências qualitativamente diferentes e, em muitos casos, reproduzindo o modelo tradicional em novas embalagens 1,2. Na avaliação de Ronzani & Stralen 3 não há uma atuação uniforme das equipes do PSF, de forma que, mesmo com um discurso travestido de novo, o modelo de atenção individual curativa continua se perpetuando de forma hegemônica. No que se refere à saúde bucal, o Ministério da Saúde publicou a Portaria GM/MS nº. 1.444 4, em 2000, estabelecendo o incentivo financeiro para a reorganização da atenção à saúde bucal prestada nos municípios por meio do PSF, incluindo desta maneira as ações de saúde bucal no PSF na tentativa de se alcançar este modo integral de atenção, tomando-a como parte integrante da saúde das famílias e comunidades 5,6. Em todo esse tempo, desde que foi estabelecido o incentivo para a implantação das equipes de saúde bucal no PSF, houve um crescimento exponencial do número de equipes em todo o Brasil. De acordo com os Health Services Evaluation; Family Health Program; Oral Healh Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(5):985-996, mai, 2009 985 986 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal Pereira CRS et al. dados mais recentemente disponibilizados pelo Ministério da Saúde, um total de 16.190 equipes de saúde bucal estavam implantadas em todo o território nacional até janeiro de 2008. Esse número era 4.261 em 2002, indicando um crescimento de 280% em cinco anos 7. Apesar disso, pouco tem sido feito no sentido de monitorar tal inclusão e avaliar seus impactos, o que pode ser constatado pela escassa literatura sobre este tema. Chaves & Vieira-da-Silva 8 em sua revisão ressaltam que há poucos estudos sobre como se desenvolvem as práticas de saúde bucal nos serviços odontológicos públicos no Brasil 9,10,11. Os trabalhos de Serra 12, Roncalli 9 e Peres10, desenvolvidos nos anos 1990, investigaram algumas intervenções municipais exitosas de reorganização das ações odontológicas no setor público em Curitiba (Paraná), Campinas (São Paulo), Belo Horizonte e Ipatinga (Minas Gerais). Nesses casos, o principal fator relacionado ao êxito tem sido o apoio do governo local 9,11. Esses estudos apontam para a importância da investigação também dos componentes da gestão municipal mais favoráveis para o desenvolvimento da atenção à saúde bucal pública do país 9,10,12. Na verdade, os processos de avaliação e monitoramento dentro dos serviços de saúde são amiúde raros. Segundo Bodstein et al. 13 a avaliação em saúde ganha relevância a partir de 2000 em torno da metodologia de avaliação de desempenho proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, os estudos de linha de base iniciados a partir de 2005 aparecem como um componente importante para o processo de institucionalização da avaliação em saúde do país 13. No campo da saúde bucal tais estudos ainda são menos freqüentes. Baldani et al. 14 analisaram o perfil de implantação da odontologia no PSF em 136 municípios do Estado do Paraná um ano após a vigência da Portaria GM/MS no. 1.444 4 e encontraram pontos positivos no sentido da recepção favorável por parte da população e participação dos cirurgiões-dentistas em cursos de capacitação, e já antecipavam a questão do nó crítico do encaminhamento dos casos complexos e a necessidade de formação de profissionais generalistas com perfil adequado. Andrade & Ferreira 15 e Oliveira & Saliba 16 também identificaram lacunas na implantação da saúde bucal nos municípios avaliados. No entanto, tais estratégias são extremamente importantes para uma adequada condução das ações de saúde. O processo de monitoramento, segundo Silva Jr. & Mascarenhas 1, necessita ser complementado com a abordagem da pesquisa avaliativa na busca da percepção dos movimentos de mu- Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(5):985-996, mai, 2009 danças na qualidade da atenção no que se refere, principalmente, ao processo de trabalho das equipes, na relação com as populações adscritas e à integralidade da atenção à saúde. Portanto, resultados de ações e programas de saúde podem ser avaliados com relação às mudanças verificadas, tanto no estado de saúde das populações, como em termos de conhecimentos e comportamentos derivados das práticas desenvolvidas 17. A pesquisa de avaliação, que tem como objeto uma dada intervenção na realidade social, trata de avaliar a política pública, entendida, segundo Draibe 18, como a que se desenvolve em esferas públicas da sociedade e não no plano privado e interno das instituições ou organizações da sociedade. Por meio da avaliação de resultados, consegue-se pesquisar se determinados programas cumpriram ou estão cumprindo seus objetivos. Ainda de acordo com Draibe 18, esse tipo de avaliação é também denominado de avaliação de impacto. Os impactos referem-se às alterações ou mudanças efetivas na realidade sobre a qual um programa intervém e por ele são provocadas. Os indicadores de impacto devem ser, portanto, capazes de aferir os efeitos líquidos do programa sobre a população alvo. Desde a publicação da Pesquisa Mundial de Saúde 19, que colocou em evidência as desigualdades em saúde na população brasileira, estudos locais vêm comprovando a associação entre as condições de vida e o acesso a serviços públicos de saúde. No tocante à saúde bucal, alguns estudos já realizados claramente demonstram um aumento da oferta de serviços odontológicos em áreas cobertas pelo PSF, sem, no entanto, se traduzir em reversão do modelo de atenção à saúde bucal, caracterizado por ser pouco resolutivo, mutilador e, portanto, centrado na doença 20,21,22. Do ponto de vista conceitual, percebe-se que, apesar das discordâncias na terminologia e na abrangência dos conceitos de utilização e de acesso, podem ser traçadas algumas linhas de concordância entre os autores. Quanto à terminologia, a acessibilidade é preferida pelos autores que a descrevem como uma característica da oferta de serviços de saúde ou do ajuste entre a oferta e a população, seja esta uma característica geral, seja restrita à acessibilidade geográfica. Já os autores que optam pelo termo acesso, em geral, centram-no na entrada inicial dos serviços de saúde, podendo-se citar, como exemplo, o modelo de Andersen 23. De qualquer forma, prevalece a idéia de que acesso é uma dimensão do desempenho dos sistemas de saúde associada à oferta. Quanto à abrangência do conceito, observa-se uma tendência de ampliação do escopo, 26 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 27 EQUIPE DE SAÚDE BUCAL: IMPACTO SOBRE USO DE SERVIÇO ODONTOLÓGICO com deslocamento do seu eixo da entrada nos serviços para os resultados dos cuidados recebidos 23. No presente estudo, será tomado como referência o termo “utilização” ou “uso” de serviços de saúde, considerando que foi avaliada a freqüência de ida ao dentista no setor público em relação à morbidade dentária referida. Desse modo, tendo em vista a necessidade de se avaliar os programas implementados pela atual política vigente e a complexidade de implantá-los em grandes centros urbanos que abrigam populações com diferentes níveis sócio-econômicos, o objetivo do presente estudo foi verificar se a incorporação da equipe de saúde bucal no PSF gerou uma maior utilização dos serviços odontológicos no Município de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. Metodologia Tipo de estudo Trata-se de um ensaio comunitário em paralelo, quase-randomizado. Na tipologia dos estudos epidemiológicos, constitui-se num estudo individuado do ponto de vista do seu tipo operativo, e cuja intervenção, implantação da equipe de saúde bucal já foi realizada. Seus efeitos, portanto, foram avaliados no tempo atual, o que caracteriza um estudo longitudinal. É um estudo em paralelo, no qual um grupo é classificado como sendo alvo da intervenção (equipe de saúde bucal – PSF) e outro não 24. Plano amostral • Definição das unidades amostrais Por se tratar de um conjunto de dados obtidos por meio de uma amostra complexa, que combina setores censitários (primeiro estágio) e, dentro dos setores, os domicílios (segundo estágio) é fundamental buscar a homogeneidade entre as áreas nas quais temos a intervenção (áreas cobertas) e as áreas onde ela não se faz presente (não-cobertas). Assim, de algum modo, foram necessários dados relativos às áreas cobertas e não-cobertas no sentido de agrupá-los e gerar critérios de emparelhamento das mesmas. Uma unidade de análise que contém informações relevantes para esse fim em todas as áreas, independente de cobertura, é o setor censitário, o qual se constitui na menor unidade de análise utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para as quais se pode dispor de dados sócio-econômicos, constando de aglomerados de, em média, 300 domicílios. Pelo fato do PSF trabalhar com a idéia de microáreas e não de setor censitário, em sua territorialização, foi necessário transferir as informações sobre as microáreas de atuação das equipes coletadas em cada unidade de saúde para o mapa da cidade de Natal, construído com base nos cartogramas do IBGE, determinando quais setores censitários faziam parte das áreas cobertas e não-cobertas pelas equipes de saúde bucal. Da totalidade de setores, foram excluídos aqueles que estavam parcialmente inseridos em áreas cobertas pelas equipes de saúde bucal. Portanto, somente aqueles totalmente inseridos em áreas cobertas e não-cobertas compuseram o universo a partir do qual foram estabelecidos os grupos. Uma vez estabelecido o universo a ser incluído, foram sorteados 15 setores das áreas cobertas pelas equipes de saúde bucal, os quais compuseram as áreas sob intervenção. Para compor as áreas de não intervenção (controles), foi realizado um emparelhamento intencional valendose dos dados constantes nas bases de dados dos setores censitários. Esses dados são relativos às principais variáveis as quais, sabidamente, exercem influência sobre as variáveis de estudo, entre elas as de natureza sócio-econômica e sanitária. A partir da Base de Dados por Setor Censitário 25, disponibilizada pelo IBGE, foram selecionadas algumas variáveis sócio-econômicas, as quais compuseram um índice classificatório final 26, para que o emparelhamento pudesse ser realizado. Desse modo, ficou garantido o controle dos vieses relativos às variáveis citadas. Além disso, a randomização realizada para a alocação dos setores do grupo experimental (cobertos) possibilitou que diferentes pontos em toda a área do município fossem contemplados. O emparelhamento intencional também buscou manter essa distribuição geográfica, de modo que, para cada par “experimental/controle” tivesse não só a mesma classificação, mas uma semelhança geográfica, como se observa na Figura 1. • Variáveis A variável de interesse explanatória foi a presença da equipe de saúde bucal no PSF. A variável resposta (dependente) foi o acesso à assistência odontológica pública, entendida como a proporção de indivíduos que foram consultados por cirurgião-dentista da rede pública nos 12 meses anteriores à pesquisa, associada à necessidade referida de tratamento dentário. As variáveis independentes de confusão foram obtidas em nível da família (domicílio). A Ta- Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(5):985-996, mai, 2009 987 988 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal Pereira CRS et al. Figura 1 Distribuição dos setores experimentais e controles do Município de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2006. PSF com equipe de saúde bucal Modelo tradicional ou sem cobertura Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2003 (PNAD 2003) 27, realizada pelo IBGE e o Ministério da Saúde. A PNAD 2003 apresenta, entre outros dados, o perfil das necessidades em saúde no país, com base em declarações sobre a auto-avaliação do estado de saúde das pessoas, bem como sobre o acesso e utilização dos serviços e atendimento no SUS, parâmetros de interesse do presente trabalho. De acordo com este estudo, cerca de 38% da população avaliada teve acesso à assistência odontológica nos 12 meses anteriores à pesquisa. Supondo um efeito presumido da intervenção (neste caso, a implantação das equipes de saúde bucal) de 20%, associado a um nível de significância de 0,05 e um poder de 95%, e de acordo com a técnica preconizada por Altman 28 e também utilizada por Roncalli & Lima 26, chegou-se a um número de 2.300 indivíduos em cada grupo. Considerando uma taxa de não-resposta de 20% e um efeito de desenho de 1,5, a amostra requerida passou a ser de 4.140 indivíduos em cada grupo, totalizando 8.280 pessoas. • PSF: Programa Saúde da Família. bela 1 traz a descrição dessas variáveis que foram utilizadas na análise. • Coleta dos dados Foi desenvolvida uma ficha a ser aplicada pelos auxiliares de consultório dentário nas residências. Esse questionário-entrevista foi aplicado junto ao informante mais qualificado, sendo, portanto, um instrumento que agrega informações relativas a todos os residentes no domicílio. Os auxiliares de consultório dentário do próprio serviço foram treinados em oficinas de trabalho de 12 horas de duração (três turnos), associando a familiarização com os instrumentos a um treinamento em campo. No primeiro turno, foi feita a discussão dos objetivos do estudo e suas principais características. Em seguida, o treinamento propriamente dito foi realizado a partir da discussão do manual de instruções e da ficha de coleta, previamente validada, além do reconhecimento dos mapas dos setores e identificação das áreas de trabalho e dos percursos. No segundo turno (tarde), os auxiliares de consultório dentário fizeram um treinamento em suas áreas de atuação e, no terceiro turno, foram esclarecidas todas as dúvidas a respeito do exercício e estabelecidos os encaminhamentos e prazos da pesquisa. Tamanho da amostra • Para o cálculo do tamanho da amostra deste estudo, tomou-se como base a proporção de indivíduos que tiveram acesso à assistência odontológica no ano anterior, segundo os dados da Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(5):985-996, mai, 2009 Análise dos dados O banco de dados da pesquisa foi construído em programa especificamente desenvolvido para a entrada dos dados, com posterior verificação de 28 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 29 EQUIPE DE SAÚDE BUCAL: IMPACTO SOBRE USO DE SERVIÇO ODONTOLÓGICO Tabela 1 Elenco de variáveis independentes de confusão para o estudo. Variável Aglomeração domiciliar Descrição Número de indivíduos por cômodo no domicílio dicotomizados a partir da mediana, formando as categorias: “desfavorável” (< 0,80) e “favorável” (≥ 0,80) Renda familiar Renda em reais do chefe da família no último mês dicotomizados a partir da mediana, formando as categorias: “desfavorável” (< R$ 500,00) e “favorável” (≥ R$ 500,00) Escolaridade da mãe Anos de estudo da mãe dicotomizados a partir da mediana, formando as categorias: “desfavorável” (< 4 anos) e “favorável” (≥ 4 anos) consistência da digitação. Considerando o modelo teórico do estudo, as variáveis independentes e o desfecho foram devidamente trabalhados no sentido de comporem um modelo de análise estratificada. Nesse sentido, os efeitos da intervenção, ajustados para todas as variáveis de confusão, foram observados no principal desfecho com base no teste do qui-quadrado e sua magnitude verificada pelo cálculo da razão de prevalência (RP), ajustada para cada estrato e seus respectivos intervalos de confiança. Considerouse como nível de significância para este estudo o limite de α = 0,05. a) Descrição da estratégia de análise A análise da assistência odontológica, considerada como variável dependente principal (desfecho), foi baseada nas questões: “Acha que necessita de tratamento dentário atualmente?” e “Foi ao cirurgião-dentista da sua unidade de saúde?”. A nova variável, criada baseando-se nessas informações, se refere à utilização do programa de saúde bucal para os indivíduos que responderam positivamente a essas questões (achavam que tinham necessidade de tratamento dentário e foram ao cirurgião-dentista da rede pública) ou que responderam sim à primeira questão e não à segunda (achavam que tinham necessidade, mas não foram ao cirurgião-dentista da rede pública), formando as categorias “assistido” e “não-assistido” da amostra estudada. É importante ressaltar que, no Município de Natal, à época da coleta dos dados, todas as equipes de saúde bucal eram constituídas de cirurgiões-dentistas e auxiliares de consultório dentário (modalidade 1). A inserção dessas equipe de saúde bucal ocorreu, como em outros municípios, de forma gradual, gerando situações do tipo: equipes de saúde bucal lotadas e trabalhando integradas ao PSF, cirurgiões-dentistas em unidades com Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) ou PSF mas não integrados a esse novo processo de trabalho e, por fim, consultórios dentários nas unidades básicas de saúde (UBS) sem a presença do PACS ou PSF. Portanto, por essa particularidade, na análise dos dados com relação à variável independente principal, o tipo de cobertura foi dividido em três modelos: i) Modelo 1: se caracteriza pela efetiva implantação do Programa de Saúde Bucal no PSF (SB-PSF) com tempo mínimo de um ano (o tempo médio de cobertura encontrado para as áreas cobertas pela equipe de saúde bucal foi de 3,22 anos). Neste estudo foi considerado como grupo experimental; ii) Modelo 2: se caracteriza pela existência de cirurgiões-dentistas, lotados em unidades com PSF ou PACS, mas sem vinculação a um ou outro modelo assistencial, trabalhando numa organização de trabalho “não-PSF”. Neste estudo, será considerado um modelo de transição e comporá um dos grupos controle; iii) Modelo 3: se caracteriza pela presença de UBS tradicional (sem PACS nem PSF), que mantém um cirurgião-dentista trabalhando também numa organização de trabalho “não-PSF”. Esse modelo será considerado no contexto do estudo, nível mínimo de organização de serviço. Também fazem parte desse modelo as demais áreas sem cobertura. Para efeito de análise, será considerado como segundo grupo controle. Para verificação do possível efeito de variáveis de confusão relacionadas às condições sócio-econômicas do domicílio, optou-se pela estratégia de análise estratificada. As variáveis “aglomeração domiciliar”, “renda familiar” e “escolaridade da mãe”, devidamente dicotomizadas, foram incluídas no modelo com o intuito de verificar possíveis efeitos de confusão e interação de acordo com a técnica descrita por Luiz 29. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(5):985-996, mai, 2009 989 990 Pereira CRS et al. Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal • Resultados Aspectos éticos O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para a devida análise, recebendo parecer favorável à sua execução, estando registrado no Sistema Nacional de Ética em Pesquisa (SISNEP) sob o número 0028.1.051.00006.033/2006, apresentando-se de acordo com a Resolução nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Figura 2 Descrição da amostra do estudo. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2006. População do município Grupo I Intervenção Grupo II Não-intervenção PSF com equipe de saúde bucal Modelo tradicional ou sem cobertura Amostra calculada Indivíduos = 4.140 Setores = 15 (Randomização) Amostra calculada Indivíduos = 4.140 Setores = 15 (Emparelhamento) Amostra final Indivíduos = 3.573 (Perda 13,7%) Setores = 11 (Perda 26,7%) Amostra final Indivíduos = 3.649 (Perda 12,7%) Setores = 11 (Perda 26,7%) Amostra final Indivíduos = 7.186 (Perda 13,2%) Setores = 22 (Perda 26,7%) Amostra do estudo Indivíduos que referiram necessidade de tratamento no último ano = 4.604 Modelo tradicional ou sem cobertura 2.307 Modelo 1 Indivíduos = 2.297 Modelo 2 Indivíduos = 1.259 PSF: Programa Saúde da Família Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(5):985-996, mai, 2009 Modelo 3 Indivíduos = 1.048 Descrição da amostra Dos 15 setores previstos para compor cada grupo, de acordo com a descrição da amostra na Figura 2, alguns setores, quatro em áreas cobertas pelo modelo SB-PSF, e conseqüentemente, os quatro setores controle, deixaram de ser investigados devido a problemas operacionais. A análise, portanto, se refere aos dados coletados em 22 setores, sendo 11 em cada grupo, perfazendo um total de 7.186 indivíduos. A perda final (13,2%) está dentro dos limites esperados para o desenho do estudo proposto, o qual previu uma taxa de não-resposta de 20%. Do total de indivíduos entrevistados, 4.604 referiram necessidade de tratamento no último ano. Desse universo, 2.297 entrevistados pertenciam às áreas com cobertura do SB-PSF e o restante às áreas com modelo tradicional ou sem cobertura. Avaliação do impacto da SB-PSF sobre a assistência odontológica • Análise do impacto em função da idade A Tabela 1 apresenta as freqüências dos indivíduos assistidos segundo a modalidade de cobertura e de acordo com as faixas etárias. Verifica-se, na análise entre as categorias de assistência odontológica, que as diferenças entre os modelos foram significativas em todas as faixas etárias, tendo como referência o modelo 1. Os grupos de adolescentes, adultos e idosos apresentaram um percentual maior de indivíduos atendidos no modelo 2, considerado, no estudo, um modelo tradicional. Somente a faixa etária menor de 12 anos apresentou uma inversão, em que o modelo 1 (SB-PSF) ultrapassa o modelo 2. O percentual de entrevistados que compõem o grupo “não-assistido”, independentemente do modelo de assistência odontológica, é superior a 63%, conforme mostrado na Tabela 2. • Análise considerando potenciais fatores de confusão As variáveis “aglomeração domiciliar”, “escolaridade da mãe” e “renda familiar” foram avaliadas em relação à variável desfecho e somente a primeira apresentou associação significativa (p < 0,001). Nesse sentido, essa foi a única variável incluída na análise estratificada. Foram calculadas as RP bruta e ajustada para assistência odontológica, segundo o tipo de cobertura, considerando 30 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 31 EQUIPE DE SAÚDE BUCAL: IMPACTO SOBRE USO DE SERVIÇO ODONTOLÓGICO Tabela 2 Distribuição, em números absolutos e percentuais, da assistência odontológica segundo modalidade de cobertura e faixa etária. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2006. Grupo etário Cobertura de saúde bucal Modelo 1 n Modelo 2 % n Valor de p * % Total Modelo 3 n Valor de p ** % n % 327 35,0 Crianças (< 12 anos) Assistido 212 42,2 77 33,6 38 18,7 Não-assistido 291 57,8 152 66,4 0,035 163 81,3 < 0,001 606 65,0 Total 503 100,0 229 100,0 201 100,0 933 100,0 Adolescentes (13 a 19 anos) Assistido 139 36,7 94 45,6 48 26,4 285 37,1 Não-assistido 240 63,3 112 54,4 0,043 135 73,6 0,018 483 62,9 Total 379 100,0 206 100,0 183 100,0 768 100,0 Assistido 342 26,6 362 48,3 87 14,5 805 30,5 Não-assistido 945 73,4 387 51,7 516 85,5 1.834 69,5 1.287 100,0 749 100,0 603 100,0 2.639 100,0 Assistido 42 32,6 41 54,5 11 17,5 92 35,0 Não-assistido 85 66,4 34 45,5 50 82,5 172 65,0 Total 128 100,0 75 100,0 61 100,0 264 100,0 Adultos (20 a 59 anos) Total < 0,001 < 0,001 Idosos (60 anos e mais) 0,004 0,048 Amostra total Assistido 733 31,9 572 45,4 183 17,5 1.506 32,7 Não-assistido 1.564 68,1 687 54,6 < 0,001 865 82,5 < 0,001 2.914 63,3 Total 2.297 100,0 1.259 100,0 1.048 100,0 4.604 100,0 * Valores de p relativos à comparação entre o modelo 1 e modelo 2 (teste de χ2 com correção de Yates); ** Valores de p relativos à comparação entre o modelo 1 e modelo 3 (teste de χ2 com correção de Yates). esta variável como potencial fator de confusão e interação. O objetivo dessa estratégia foi verificar uma possível associação entre as variáveis, independentemente de condições sócio-econômicas. De acordo com a Tabela 3, nas áreas com SBPSF (modelo 1) a “desassistência” esteve presente em 68% dos indivíduos; este percentual foi de 54,6% nas áreas cobertas pelo modelo 2. Isso se traduziu em uma razão de prevalência ajustada, quando comparados os dois modelos, de 0,71 (intervalo de 95% de confiança – IC95%: 0,650,77; p < 0,001), indicando um “efeito protetor” nas áreas cobertas pelo modelo 2. No entanto, quando se compara o modelo 1 com o modelo 3, a RP para a desassistência foi de 1,84 (IC95%: 1,60-2,13; p < 0,001), indicando maior probabilidade de não obter assistência odontológica para os indivíduos residentes nas áreas relacionadas ao modelo 3, considerado, neste estudo, como modelo tradicional ou sem cobertura. Ainda de acordo com a Tabela 3, o efeito da variável “aglomeração domiciliar” enquanto pro- vável fator de confusão foi nulo, uma vez que os valores de RP bruta e ajustada são iguais nas duas comparações. Observando-se os valores das RP nos dois estratos de aglomeração domiciliar (favorável e desfavorável), percebe-se que as mesmas não diferem da RP total, indicando ausência de possível efeito de interação. Em outras palavras, o efeito dos distintos modelos de cobertura sobre a variável desfecho (assistência odontológica) pode ser analisado, desconsiderando as interferências das condições sócio-econômicas. Isso, em certa medida, já era esperado, considerando o cuidado em evitar esse tipo de viés pela estratégia descrita anteriormente de emparelhamento dos setores pesquisados. Discussão Medidas de avaliação do acesso e utilização de serviços são importantes indicadores das condições de saúde da população. Em grandes centros, sabidamente, é possível confrontar-se Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(5):985-996, mai, 2009 991 992 Pereira CRS et al. Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal Tabela 3 Razão de prevalência (RP) para assistência odontológica segundo o tipo de cobertura estudada e aglomeração domiciliar. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2007. Aglomeração Cobertura Assistência odontológica pública domiciliar Favorável (< 0,80) Desfavorável (≥ 0,80) Total Assistido RPbruta Não-assistido RPajustada IC95% Total Valor de p n % n % n % Modelo 1 297 28,4 749 71,6 1.046 100,0 Modelo 2 211 40,7 307 59,3 518 100,0 1,00 0,70 0,61-0,88 < 0,001 Modelo 3 71 15,7 383 84,3 454 100,0 1,82 1,44-2,30 < 0,001 Modelo 1 438 35,1 809 64,9 1.247 100,0 1,00 Modelo 2 361 48,9 378 51,1 739 100,0 0,72 0,65-0,89 < 0,001 < 0,001 Modelo 3 112 18,8 482 81,2 594 100,0 1,86 1,55-2,24 < 0,001 Modelo 1 734 32,0 1.559 68,0 2.293 100,0 1,00 1,00 Modelo 2 571 45,4 686 54,6 1.257 100,0 0,70 0,71 0,65-0,77 < 0,001 Modelo 3 183 17,5 865 82,5 1.048 100,0 1,84 1,84 1,60-2,13 < 0,001 < 0,001 Modelo 1: unidades com Programa Saúde da Família com equipes de saúde bucal; Modelo 2: unidades com Programa Saúde da Família sem equipes de saúde bucal e unidades básicas de saúde com Programa de Agentes Comunitários de Saúde; Modelo 3: unidade básica de saúde tradicional e áreas descobertas. com diferentes estratos sócio-econômicos. A estratégia de definição do setor censitário como unidade amostral foi fundamental para que fossem identificados esses diferentes grupos populacionais existentes no município. O uso de indicador classificatório permitiu, por sua vez, que o emparelhamento das áreas cobertas e não-cobertas fosse realizado controlando-se a existência de vieses. O percentual relativamente pequeno de perdas e recusas, considerando-se as dificuldades operacionais de um estudo desta natureza, deveu-se, em parte, ao investimento no controle do trabalho de campo e no apoio institucional. No intuito de evitar problemas na análise comparativa, o critério para inclusão de áreas cobertas considerou apenas as áreas onde efetivamente se deu a implantação das equipes de saúde bucal pelo período mínimo de um ano. Trata-se de um corte arbitrário e pode ser considerado pouco tempo para se realizar uma avaliação de impacto. No entanto, os resultados aqui apresentados representam um primeiro esforço de análise e preenchem uma lacuna de conhecimento, uma vez que não havia dados recentes disponíveis no município, seja sob a forma de levantamentos epidemiológicos ou inquéritos, como aplicado nesta pesquisa. Ademais, o tempo médio de cobertura encontrado para as áreas cobertas pela equipe de saúde bucal foi de 3,22 anos. Nos resultados obtidos neste estudo, o percentual de entrevistados que compõem o grupo Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(5):985-996, mai, 2009 “não-assistido”, independentemente do modelo de assistência odontológica, ultrapassa 63%, com variações entre 62,9% (adolescentes) e 69,5% (adultos), o que pode ser considerado alto. Esses valores, entretanto, não surpreendem quando os comparamos com pesquisas de base populacional mais recentes e que utilizaram metodologia semelhante, como o Projeto SB Brasil 30 e a PNAD 2003 27. De acordo com os dados do IBGE, em 2003, 65,9% da população representativa para o Estado do Rio Grande do Norte não haviam consultado cirurgião-dentista nos 12 meses anteriores à pesquisa, cuja média nacional era de 61,2%. Os dados do Projeto SB Brasil 30 também mostram semelhanças, indicando que, no Município de Natal, no ano de 2002, 53,3% dos entrevistados não tiveram acesso ao cirurgião-dentista no último ano. Entretanto, desagregando esse dado por tipo de serviço procurado, observa-se que o percentual sobe para 63,5% quando avaliamos somente a procura pelo serviço público, valor também muito próximo da média nacional de 62,1%. Esses dados, em certa medida, reforçam a qualidade da informação coletada neste estudo e demonstram, também, que o município analisado não é muito diferente dos padrões nacionais de acesso a serviços. Contudo, a grande questão na qual se debruçou esta pesquisa diz respeito ao possível efeito que uma estratégia como a inclusão das equipes de saúde bucal no PSF poderia gerar sobre esses indicadores. O Município de Natal tinha, à época 32 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal em que os dados foram coletados, 110 equipes de saúde da família, cobrindo 47,44% da população, e 94 equipes de saúde bucal com uma cobertura de 40,54%, representando aproximadamente 80 mil famílias cobertas pelas equipes de saúde bucal. Essas equipes de saúde bucal estavam distribuídas entre os quatro Distritos Sanitários, com uma concentração maior nos distritos norte e oeste, justificada pelo fato de serem os dois distritos com os piores indicadores sociais da cidade e com um tempo médio de implantação de três anos, conforme destacamos anteriormente. Nessas áreas, a população tem disponível equipes com perfil diferenciado, em que o processo de trabalho é (ou, pelo menos deveria ser) mais adequado. Essas equipes têm melhor salário, trabalham maior número de horas, se qualificaram e respondem por uma estratégia que se propõe a reestruturar a atenção básica sob novas bases, com acolhimento, vínculo, responsabilização e centrada na família. É esperado que, decorridos três anos, essas áreas tivessem melhores indicadores, particularmente os de acesso, como os aqui pesquisados. Fica claro, portanto, o efeito positivo da saúde bucal no PSF, nesse tipo de comparação. Contudo, quando as áreas cobertas pelo modelo 1 são comparadas com as cobertas por unidades de saúde, cuja única diferença é o fato de não terem a presença de equipe de saúde bucal (modelo 2), o efeito se inverte. Em outras palavras, o acesso à assistência odontológica é mais facilitado em áreas cobertas pelo modelo 2, traduzindo-se em uma RP de 0,71 indicando “efeito protetor”. É possível inferir, valendo-se desses dados, que o impacto da saúde bucal no PSF só é significativo quando tomamos como base áreas sem nenhuma cobertura ou quando são cobertas por unidades tradicionais, sem PSF e nem PACS. Em certa medida, esse tipo de análise “isola” o efeito da presença da equipe de saúde bucal na unidade de saúde e fica demonstrado que esta presença não afeta o acesso à assistência odontológica. Uma primeira hipótese para a ocorrência desse quadro é que a inclusão das equipes de saúde bucal nas unidades de saúde da família não se traduziram em uma mudança no processo de trabalho. Ao que parece, a prática das equipes de saúde bucal continua se dando no modo tradicional, com baixo impacto, baixa cobertura e um processo de trabalho ainda pautado na abordagem curativo-reparadora, embora este estudo não reúna dados suficientes para estabelecer conclusões neste sentido, pois este não foi seu objetivo 20,21,22. Entretanto, um outro dado que chama atenção e que reforça esse raciocínio, é quando fra- 33 EQUIPE DE SAÚDE BUCAL: IMPACTO SOBRE USO DE SERVIÇO ODONTOLÓGICO cionamos essa análise a partir da modalidade de cobertura e faixa etária. Como claramente demonstrado na Figura 3, o modelo 1 supera todos os outros somente quando consideramos o grupo de menores de 12 anos. Isso faz com que as diferenças em relação ao modelo 2 sejam piores ainda nas faixas etárias de adultos e de idosos. Isso denota uma manutenção de estratégias tradicionais de priorização das ações de saúde bucal voltadas para crianças, caracterizando o modelo de SB-PSF em Natal como “escolar-sespiano”, utilizando a expressão proposta por Zanetti et al. 31. Trata-se de uma abordagem sem base epidemiológica, uma vez que dados do Projeto SB Brasil para o Nordeste indicam que, considerando o grupo até 19 anos, as necessidades de tratamento para cárie dentária no grupo até 12 anos representam 47% do total 30. Desse modo, 53% das necessidades estão concentradas no grupo de 13 a 19 anos, exatamente o de menor possibilidade de acesso. Trata-se, pois, de uma inversão de prioridades e é importante ressaltar que está em discussão apenas as necessidades básicas relativas à cárie dentária. Esse processo de incorporação gradativo da equipe de saúde bucal no PSF provavelmente é o responsável, em parte, pela produção ambulatorial em Odontologia, que segundo registro do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA/ SUS, 2006. Departamento de Informática do SUS; http://www.datasus.gov.br), apresenta uma proporção de procedimentos preventivos individuais e coletivos com relação ao total de ações ambulatoriais da ordem de 30% a 48% entre janeiro e setembro. De fato, em estudo realizado no mesmo município por Almeida 22, foi observado que os cirurgiões-dentistas do PSF de Natal realizavam atividades preventivas em âmbito individual e coletivo, predominando no primeiro orientação de higiene bucal e aplicação tópica de flúor, enquanto que, no segundo, predominava a aplicação tópica de flúor em escolares. Apesar do PSF trabalhar com a família, existia uma ênfase na fluorterapia, reproduzindo ações do movimento preventivista 32. Outra conclusão que chamou a atenção foi o fato de ter havido maior regularidade de ações nos grupos de escolares e gestantes. Ainda segundo a autora, o repertório de atividades preventivas realizadas pelos cirurgiões-dentistas pertencentes ao PSF reproduz, de um modo geral, o modelo tradicional. Nas suas palavras, “verifica-se atuação em diferentes grupos, mas com maior atenção a escolares, assim como direcionamento das atividades à cárie dentária, existindo pouca ênfase a outros problemas bucais”. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(5):985-996, mai, 2009 993 994 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal Pereira CRS et al. Figura 3 Percentual de indivíduos que referiram acesso à assistência odontológica de acordo com o grupo etário. Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 2006. 60,0 Modelo 1 Modelo 2 50,0 Modelo 3 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 Crianças (≤ 12 anos) Adolescentes (13 a 19 anos) Adultos (20 a 59 anos) Considerações finais Sem dúvida, o PSF se constitui em uma estratégia ímpar na reorganização da atenção básica no Brasil, e diversos estudos 13,33,34,35,36 têm demonstrado isto desde a sua implantação oficial a partir de 1994. O presente trabalho, feito em apenas um município de grande porte, capital de um estado do Nordeste, não demonstra a ausência de efeito da SB-PSF per se. Demonstra que a maneira como as estratégias são implantadas nos municípios são cruciais para o seu sucesso. O modo como se estabeleceu o processo de consolidação da Reforma Sanitária Brasileira – cujo eixo assistencial Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(5):985-996, mai, 2009 Idosos (60 anos e mais) População total é representado pelo SUS – apostou radicalmente na municipalização como a melhor maneira para se atingir seu ideário de universalização, integralidade, eqüidade e controle social. Se por um lado temos hoje um dos mais significativos processos de descentralização em todo o mundo, por outro ainda persistem modelos assistenciais das mais distintas formas, espalhados pelos mais de 5.500 municípios do Brasil. Assim, um grande processo de amadurecimento ainda é necessário para que políticas se traduzam em programas e modelos. E, mais ainda, que esses modelos impactem (duplamente) sobre o processo de trabalho e sobre as condições de saúde da população. 34 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 35 EQUIPE DE SAÚDE BUCAL: IMPACTO SOBRE USO DE SERVIÇO ODONTOLÓGICO Resumo Colaboradores Este estudo objetivou verificar se a incorporação da equipe de saúde bucal no Programa Saúde da Família (PSF) gerou uma maior utilização dos serviços odontológicos no Município de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. Tomou-se como referência 22 setores censitários, 11 inseridos em áreas cobertas pela saúde bucal no PSF há pelo menos um ano, emparelhados com base em critérios sócio-econômicos, com 11 setores de áreas não-cobertas. A amostra final constou de 4.604 indivíduos. Foram comparadas áreas cobertas pela saúde bucal no PSF (modelo 1) com áreas cobertas por unidades de PSF porém sem saúde bucal (modelo 2) e com áreas cobertas por unidades básicas de saúde tradicionais ou sem nenhuma cobertura (modelo 3). Os resultados mostraram que, nas áreas cobertas pelo modelo 1, 32% referiram assistência odontológica, sendo este resultado igual a 45,4% para o modelo 2 e 17,5% para o modelo 3 (p < 0,001). Analisando-se as faixas etárias, o modelo 1 supera o modelo 2 apenas na faixa de até 12 anos. Conclui-se, portanto, que a saúde bucal no PSF apresenta impacto positivo sobre o indicador avaliado somente quando comparada com áreas sem cobertura (modelo 3). C. R. S. Pereira participou das etapas de análise dos dados, construção e redação final do texto. A. A. R. Patrício foi responsável pela concepção do trabalho, coleta dos dados, análise e redação final do texto. F. A. C. Araújo e E. E. S. Lucena participaram da elaboração dos desenhos amostrais, da coleta e análise dos dados e redação final do texto. K. C. Lima e A. G. Roncalli foram responsáveis pela concepção do trabalho, elaboraram o desenho amostral, participaram da análise dos dados e redação final do texto. Agradecimentos Os autores agradecem às instituições financiadoras: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq pelo fomento) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES pela bolsa) e à Secretaria Municipal de Saúde de Natal pelo apoio à realização da pesquisa. Avaliação de Serviços de Saúde; Programa Saúde da Família; Saúde Bucal Referências 1. 2. 3. 4. 5. Silva Jr. AG, Mascarenhas MTM. Avaliação da atenção básica em saúde sob a ótica da integralidade: aspectos conceituais e metodológicos. In: Alves DS, Guljor AG, organizadores. Cuidado: as fronteiras da integralidade. São Paulo: Editora Hucitec/ Rio de Janeiro: ABRASCO; 2004. p. 241-55. Merhy E, Franco TB. Programa Saúde da Família: somos contra ou a favor? Saúde Debate 2002; 26:118-22. Ronzani TM, Stralen CJ. Dificuldades de implantação do Programa Saúde da Família como estratégia de reforma do sistema de saúde brasileiro. Rev APS 2003; 6:7-22. Ministério da Saúde. 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Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 38 Impacto da Estratégia Saúde da Família com equipe de saúde bucal sobre indicadores de saúde bucal: análise em municípios do Nordeste com mais de 100 mil habitantes. Impact of Health Family Program with oral health team: analysis in Northeastern cities in Brazil with more than 100 thousand inhabitants. Título resumido: SB-ESF: impacto sobre indicadores de Saúde Bucal Carmen Regina dos Santos Pereira Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde; Universidade Federal do Rio Grande do Norte Angelo Giuseppe Roncalli Programa de Pós-Graduação em Odontologia; Departamento de Odontologia; Universidade Federal do Rio Grande do Norte Maria Cristina Teixeira Cangussu Universidade Federal da Bahia Luiz Roberto Augusto Noro Programa de Pós-Graduação em Odontologia; Departamento de Odontologia; Universidade Federal do Rio Grande do Norte Alberto Allan Rodrigues Patrício Programa de Pós-Graduação em Odontologia; Departamento de Odontologia; Universidade Federal do Rio Grande do Norte Kenio Costa de Lima Programa de Pós-Graduação em Odontologia e Ciências da Saúde; Departamento de Odontologia; Universidade Federal do Rio Grande do Norte Endereço para correspondência: Carmen Regina dos Santos Pereira Rua Romualdo Galvão, 3673 – Apto 404H – Lagoa Nova 59056-100 – RN Fone: 84-3234-5310 / 84-8102-0990 Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 39 RESUMO Este estudo objetivou verificar o impacto da Estratégia Saúde da Família (ESF) sobre a saúde bucal na população nordestina de 12 municípios com mais de 100.000 habitantes. Tomou-se como referência 20 setores censitários, 10 inseridos em áreas cobertas pela Saúde Bucal na ESF há pelo menos um ano, emparelhados com 10 setores de áreas não cobertas. A amostra foi de 59.221 indivíduos. Foram considerados três efeitos possíveis: negativo, positivo e ausência de efeito sobre os desfechos, com base na Razão de Prevalência ajustada pela Regressão de Poisson. Com relação aos resultados encontrados, verificou-se que, tanto o “acesso a ações preventivas coletivas” quanto o “tratamento da dor de dente” apontam para um efeito positivo no modelo de prática da ESB na ESF. Porém, os desfechos “cobertura de exodontia” e “tratamento restaurador” demonstraram efeito negativo ou sem efeito na maioria dos municípios pesquisados. Há indícios de que os resultados obtidos refletem os modelos de organização locais da SB na ESF. Palavras-chave: Programa Saúde da Família, Saúde Bucal, Avaliação de Serviço de Saúde. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 40 ABSTRACT We examined the impact of the Family Health Strategy (FHS) on oral health in 12 municipalities in Northeast of Brazil with over 100,000 inhabitants. Was taken, as reference, 20 census tracts, 10 located in areas covered by the Oral Health Team (OHT) in the FHS at least one year and paired with 10 areas not covered. The sample consisted of 59,221 individuals. We considered three possible effects: negative, positive and no effect on outcomes, based on the Prevalence Ratio (PR) adjusted by Poisson Regression. Regarding the results, it was found that both the "access to collective preventive actions" and the "treatment of dental pain" point to a positive effect on the practice model of OHT in FHS. However, the outcomes were "covering extraction" and "restorative treatment" showed a negative or no effect in most cities surveyed. There are indications that the results reflect local organizational models of OHT in FHS. Key-words: Family Health Strategy, Oral Healh, Health Services Evaluation Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 41 Introdução O desenvolvimento técnico-científico e as transformações político-econômicas que caracterizam as sociedades capitalistas ocidentais reforçam a necessidade de implementação de sistemas de atenção à saúde cada vez mais amplos e complexos. Nessa perspectiva, o acúmulo de conhecimento existente em Saúde Coletiva, obtido, entre outros aspectos, por meio das experiências bem sucedidas no País, tem ajudado no desenvolvimento de métodos e tecnologias que dêem suporte ao pleno desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Para tanto, a investigação em serviços de saúde assume especial relevância, pois um dos seus objetivos é orientar o desenho de políticas e a melhoria do seu desempenho. A área de saúde bucal, apesar de ter uma produção científica relativamente consolidada no campo dos determinantes sociais e nos estudos epidemiológicos, ainda precisa avançar nas análises que tenham como objeto os sistemas, os serviços de saúde e as práticas assistenciais. O Sistema Único de Saúde, por suas características doutrinárias e organizacionais, tem norteado as políticas de assistência à saúde no Brasil (Brasil, 1990). Nesse contexto, a Estratégia Saúde da Família busca incorporar efetivamente os princípios de universalidade, integralidade e equidade. No tocante à Política de Saúde Bucal, as ações passaram a integrar as atividades do ESF por meio da Portaria GM/MS nº 1.444 de 2000, a qual estabelece o incentivo para a implantação das Equipes de Saúde Bucal (ESB) no PSF. A presença da ESB no PSF visa ampliar o acesso coletivo às ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal e a conseqüente melhoria de seus indicadores epidemiológicos (Brasil, 2000). Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 42 Foram implantadas na Estratégia Saúde da Família, de dezembro de 2002 a abril de 2010, 19.488 equipes de saúde bucal que atuam em 4.753 municípios, atingindo 71% de cobertura de toda população brasileira (Brasil, 2010). Tamanho investimento requer, por sua vez, esforços no sentido de monitorar e avaliar seus impactos, os quais se constituem na abordagem deste trabalho. Considerando tal dimensão, o objetivo do presente estudo foi verificar se a incorporação da equipe de saúde bucal na ESF gerou impacto sobre indicadores de saúde bucal relativos à prevalência de agravos e sua respectiva cobertura de tratamento, bem como ao acesso ao serviço público e às ações preventivas em saúde bucal. Tomou-se como referência a população nordestina residente em municípios com mais de 100.000 habitantes. Método Tipo de estudo Trata-se de um ensaio comunitário quase-randomizado, cuja intervenção, a implantação da Equipe de Saúde Bucal (ESB), já foi realizada e onde um grupo foi classificado como sendo alvo da intervenção (ESB-ESF) e outro não (Almeida Filho e Rouquayrol, 2003). Plano Amostral Definição dos Domínios de Estudo Foram identificados, dentre os municípios da região Nordeste com mais de 100 mil habitantes, aqueles que apresentavam equipes de saúde bucal na ESF. Segundo Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 43 dados do Sistema de Informações da Atenção Básica (SIAB), disponibilizados pela Coordenação Nacional de Saúde Bucal, para setembro de 2005, 48 municípios do Nordeste com mais de 100 mil habitantes possuíam equipes de saúde bucal na ESF com distintos graus de cobertura, tanto para a modalidade I, quanto para a modalidade II de incorporação (Brasil, 2005). Considerando que uma cobertura total, bem como uma baixa cobertura, não seriam adequadas para um estudo comparativo, pela clara impossibilidade de obtenção de áreas-controle, optou-se por um corte arbitrário de modo a incluir somente municípios com, no mínimo, 20% e, no máximo, 70% de cobertura de saúde bucal da ESF (apêndice 1). Vinte e seis, dos 48 municípios preencheram esses critérios e foram convidados a participar do estudo. Ao final, 12 municípios que compõem a amostra, concluíram todas as etapas. Os demais municípios deixaram de participar por vontade do gestor, pela demora no retorno dos dados solicitados ou problemas de ordem operacional. Definição das Unidades Primárias de Amostragem (UPA) Foi utilizado, como UPA, o setor censitário, uma vez que se trata de uma unidade de análise que contém informações socioeconômicas que permitem emparelhar as áreas que estão sendo comparadas. Considerando que os limites dos setores censitários não seguem a mesma lógica de delimitação das áreas de cobertura da ESF com saúde bucal, tais áreas foram sobrepostas aos mapas de setores censitários de modo a identificar aqueles total ou parcialmente cobertos e os totalmente descobertos pela Estratégia. Os setores parcialmente cobertos foram excluídos, os totalmente cobertos foram considerados como grupo experimental e os não-cobertos como grupo controle. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 44 Uma vez estabelecido o universo a ser incluído, foram sorteados 10 (dez) setores das áreas cobertas pela ESB na ESF, considerados como representantes das áreas sob intervenção há, pelo menos, um ano. Para compor as áreas sem cobertura (controles), foi realizado um emparelhamento intencional a partir dos dados socioeconômicos constantes nas bases de dados dos setores censitários. Foram selecionadas nove variáveis socioeconômicas, as quais compuseram um índice classificatório final, para que o emparelhamento pudesse ser realizado (IBGE, 2005). Tamanho da Amostra Levando em consideração a característica de um ensaio comunitário em que são comparadas duas áreas diferentes, tomou-se como base o efeito presumido da intervenção (Saúde Bucal na ESF) sobre um dos desfechos utilizados no estudo, o acesso a serviço odontológico público, medido pela freqüência de consulta ao dentista nos 12 meses anteriores à pesquisa. Os dados do estudo feito em Natal-RN (Pereira et al, 2009), por terem sido os primeiros a serem obtidos, foram utilizados como referência. De acordo com os resultados, a freqüência de consulta ao dentista em áreas com Saúde Bucal na ESF foi de 78% e, em áreas com modelo tradicional ou sem cobertura foi de 63%. A diferença entre as áreas denota um efeito (impacto) de 20%, a qual foi tomada como referência para o cálculo do tamanho global da amostra em cada município. Este efeito, associado a um nível de significância (α) de 0,05 e um poder (β) de 85%, de acordo com a técnica preconizada por Altman (1990) e também utilizada por Roncalli e Lima (2006), gera um tamanho inicial de amostra de 300 indivíduos. Por se tratar de um delineamento com múltiplos estágios, foi estabelecido um efeito de Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 45 desenho de 1,5 e, ainda, estimada uma taxa de não-resposta de 20%, o que resultou em uma amostra final de 495 indivíduos. Tendo em conta, ainda, o efeito da idade sobre o desfecho “acesso ao serviço odontológico”, uma pré-estratificação foi realizada, considerando os grupos etários de 0 a 12 anos (crianças), 13 a 19 (adolescentes), 20 a 59 (adultos) e 60 anos ou mais (idosos). Tomou-se como base a proporção da população em cada uma dessas faixas etárias em cada um dos 12 municípios da amostra, considerando, ainda, que um mínimo de 495 indivíduos fosse pesquisado na faixa etária de 13 a 19 anos. Desse modo, o tamanho final da amostra, em cada grupo ficou em torno de 3 mil indivíduos, totalizando cerca de 6 mil indivíduos a serem examinados em cada município. Considerando os 12 municípios estudados, a amostra final prevista foi de 37.574 em cada grupo (coberto ou não coberto), totalizando 75.148 indivíduos. Processo de alocação dos elementos amostrais O número de domicílios percorrido para que se pudesse obter o número final de amostra foi estabelecido a partir da média de moradores do domicílio. O segundo estágio, o qual consiste no sorteio dos domicílios a serem pesquisados, seguiu a metodologia semelhante às pesquisas para avaliação de cobertura vacinal, proposta pela OMS e descrita por Barros e Victora (1998). Estratégias e instrumentos de coleta de dados Todos os indivíduos participantes do estudo foram entrevistados em suas residências por Agentes Comunitários de Saúde (ACS) devidamente capacitados em oficinas de trabalho com 12 horas de duração. Estas oficinas abordaram as técnicas Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 46 de reconhecimento da área e dos domicílios, assim como o preenchimento do questionário-entrevista desenvolvido para a pesquisa. Este questionário-entrevista foi aplicado pelo ACS junto ao informante mais qualificado do domicílio, sendo, portanto, um instrumento que agregou informações relativas a todos os moradores. Variáveis A variável de interesse explanatória é a presença de saúde bucal na ESF da área. As variáveis de resposta (dependentes) são as relativas à situação de saúde bucal e que possuem a capacidade de serem influenciadas pela presença da ESB: morbidade dentária auto-referida, prevalência de dor de origem dentária, tratamento da dor de origem dentária, freqüência ao serviço odontológico no último ano, tratamento restaurador ou mutilador e ações preventivas individuais ou coletivas (Quadro 1). A morbidade dentária auto-referida pode ser considerada um indicador válido para medir a necessidade acumulada na população. Por outro lado, a medida “prevalência de dor de origem dentária” é uma estimativa relevante sobre a demanda acumulada de necessidade refletindo um descaso das políticas públicas municipais frente a uma urgência odontológica que é passível de intervenção na atenção básica. Os dados de cobertura buscam, por sua vez, apresentar um quadro geral da utilização de serviço odontológico (se curativo-reparador ou preventivo). Pelo fato de termos emparelhado as áreas pesquisadas, as variáveis: número de bens, renda per capita e escolaridade da mãe passam a se comportar como variáveis confundidoras e não explicativas do efeito da variável principal. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 47 Quadro 1. Elenco de variáveis dependentes e independentes do estudo. Independentes Variáveis Principal Presença de ESB na ESF Presença ou ausência de cobertura pela ESB na ESF Confundidoras Número de bens Número de bens por domicílio dicotomizados a partir da mediana, formando as categorias: “desfavorável” (<4) e “favorável” (≥ 4). Renda per capita Renda em reais do chefe da família no último mês dicotomizada a partir da mediana, formando as categorias: “desfavorável” (< R$ 112,50) e “favorável” (≥ R$ 112,50). Escolaridade da mãe Anos de estudo da mãe, dicotomizados a partir da mediana, formando as categorias: “desfavorável” (< 4 anos) e “favorável” (≥ 4 anos). Acesso a serviço odontológico Frequência de consulta ao dentista no último ano obtida através da pergunta “Foi ao dentista da sua unidade de saúde nos últimos 12 meses?” Prevalência de dor de origem dentária Prevalência de dor de origem dentária obtida através da pergunta “Teve dor de dente nos últimos 12 meses?” Morbidade dentária autoreferida Prevalência obtida através da pergunta: “Acha que necessita de tratamento dentário atualmente?” Tratamento de dor de origem dentária Frequência obtida através da pergunta feita aos que tiveram dor de dente: “Foi tratado no serviço público local?”. Tratamento restaurador Prevalência obtida através da pergunta “Fez obturação na sua unidade de saúde? Tratamento mutilador Prevalência obtida através da pergunta “Fez extração na sua unidade de saúde?” Ações Preventivas individuais Prevalência obtida através da pergunta “Fez prevenção (limpeza, aplicação de flúor) na sua unidade de saúde?” Ações Preventivas Coletivas Prevalência de indivíduos obtida através da “Participou de palestras sobre saúde bucal?” Indicadores de Saúde Bucal Dependentes Descrição Análise dos dados Para a análise do efeito da intervenção sobre os desfechos, foram calculadas medidas de associação, relacionando as freqüências entre as áreas estudadas. A magnitude dos efeitos foi verificada pelo cálculo da Razão de Prevalência (RP) e seus respectivos intervalos de confiança (95%), ajustada para os fatores de Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 48 confusão, por intermédio da regressão de Poisson com variância robusta. O limite de significância foi estabelecido para um α=0,05. Estratégia de análise Nos 12 municípios, todas as ESB eram constituídas de Cirurgião-Dentista (CD) e Auxiliar de Saúde Bucal (ASB) (Modalidade 1). A inserção destas ESB ocorreu, de modo geral, de forma gradual, gerando situações de três tipos: a) ESB trabalhando integradas à ESF, b) CD em unidades com Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) ou ESF, mas não integrados a esse novo processo de trabalho, c) CD nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) sem a presença do PACS ou ESF. Portanto, por esta particularidade, na análise dos dados com relação à variável independente principal, o tipo de cobertura foi estabelecido do seguinte modo: a) Modelo 1 (Grupo Experimental): caracteriza-se pela efetiva implantação da Equipe de Saúde Bucal na ESF (SB-ESF) com tempo mínimo de 1 ano. b) Modelo 2 (Grupo Controle): caracteriza-se pela existência de CD lotado em unidades com ESF ou PACS, mas sem vinculação a um ou outro modelo assistencial, trabalhando numa organização de trabalho “não-ESF” (modelo tradicional) ou ainda áreas sem nenhuma assistência. Aspectos Éticos O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN para a devida análise, recebendo parecer favorável à sua execução, estando registrado no SISNEP sob número 0028.1.051.000-06.033/2006, apresentando-se de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 49 Resultados A população prevista para compor a amostra era de 75.148 indivíduos. Foram percorridos 16.457 domicílios, gerando um banco de dados de 59.221 indivíduos (78,8% da amostra prevista). Dos 120 setores censitários previstos para compor cada grupo, de acordo com a descrição da amostra na Figura 1, alguns setores de áreas cobertas pelo modelo ESF com SB e, conseqüentemente, o mesmo número de setores controle, deixaram de ser investigados, devido a problemas operacionais. A análise, portanto, se refere aos dados coletados em 214 setores, sendo 107 em cada grupo. Do total de indivíduos entrevistados, 30.165 pertenciam às áreas com cobertura do ESF com SB (Modelo 1). O restante pertencia às áreas com modelo tradicional ou sem cobertura de saúde bucal (Modelo 2). A perda final de indivíduos (21,2%) está próxima do limite permitido para o desenho do estudo proposto, o qual previu uma taxa de não-resposta de 20% (Figura 1). Também foi assegurada uma distribuição equilibrada da amostra entre as áreas do Modelo 1 e do Modelo 2, mantendo o que fora previsto com o emparelhamento intencional dos setores. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 50 População do Município Grupo I Intervenção Grupo II Não-Intervenção PSF com Saúde Bucal Modelo Tradicional ou sem Cobertura Amostra Calculada Amostra Calculada Indivíduos = 37.574 Indivíduos = 37.574 Setores = 120 (Randomização) Setores = 120 (Emparelhamento) Amostra Final Amostra Final Indivíduos = 30.165 (Perda 19,7%) Indivíduos = 29.056 (Perda 22,7%) Setores = 107 (Perda 10,8%) Setores = 107 (Perda 10,8%) Amostra Final Indivíduos =59.221 (Perda 21,2%) Setores = 214 (Perda 10,8%) Figura 1. Descrição da amostra do estudo em 12 municípios do Nordeste. Brasil, 2006. Distribuição da amostra segundo sexo e idade Da população pesquisada em áreas com cobertura ESF com SB 46,7% eram do sexo masculino e 53,5% do sexo feminino. Na área não coberta 46,4% eram do sexo masculino e 53,6% do sexo feminino, indicando que não existe diferença entre as áreas com relação ao sexo. O mesmo comportamento é observado quando se compara a faixa etária da amostra em relação aos dois grupos estudados. Análise do impacto sobre indicadores de saúde bucal A Tabela 1 ilustra as freqüências de cada indicador de acordo com os modelos estudados, os valores de “p”, as Razões de Prevalência (RP) e respectivos intervalos de confiança, ajustados para fatores sócio-demográficos por intermédio da Regressão de Poisson. Isto significa que, em linhas gerais, as diferenças entre as Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 51 áreas cobertas pelo Modelo 1 e pelo Modelo 2, com significância estatística, podem ser interpretadas independentemente de um possível efeito de confusão. Os símbolos indicam, tendo como referência o Modelo 1, um impacto positivo (), ausência de efeito () ou impacto negativo (). Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Tabela 1. Resultados dos indicadores de saúde bucal em áreas com Modelo 1 (SB-PSF) e Modelo 2 nos 12 municípios investigados. Para cada análise, valores de “p” e Razão de Prevalência (RP) ajustada pela Regressão de Poisson (*) e respectivos intervalos de confiança. Os símbolos indicam impacto positivo (), ausência de impacto () e impacto negativo () tendo como referência o Modelo 1. Brasil, 2010 Agravos à Saúde Bucal Morbidade Dentária auto-referida Mun A Tratamento mutilador (exodontia) Acesso a ações preventivas individuais Acesso a ações preventivas coletivas N % N % n % n % n % n % 1.460 56,8 598 23,2 553 21,4 168 28,1 319 55,9 259 45,2 267 46,4 249 9,6 Modelo 2 1.604 64,4 558 22,4 679 27,1 177 31,8 408 60,1 405 58,8 377 55,1 313 12,7 p <0,001 0,524 <0,001 0,172 0,132 <0,001 <0,001 <0,001 Modelo 1 1,15 (1,10-1,20) 0,97 (0,88-1,08) 1,33 (1,19-1,47) 1,14 (0,95-1,35) 1,08 (0,98-1,19) 1,25 (1,11-1,43) 1,25 (1,12-1,39) 1,35 (1,15-1,61) Modelo 1 1.850 68,6 715 26,7 1.050 38,9 372 52,1 657 62,9 436 41,8 605 58,4 495 18,7 Modelo 2 1.496 62,1 465 19,4 547 22,9 92 19,7 232 42,2 112 20,2 307 55,2 94 4,0 p 0,910 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 0,227 <0,001 1,00 (0,96-1,04) 0,80 (0,71-0,89) 0,59 (0,54-0,65) 0,38 (0,31-0,46) 0,67 (0,59-0,76) 0,55 (0,44-0,67) 0,94 (0,94-1,04) 0,21 (0,17-0,26) Modelo 1 1.814 69,7 441 17,0 793 30,5 153 35,0 400 51,4 342 43,8 454 57,7 365 14,2 Modelo 2 1.885 69,9 674 24,9 461 17,1 288 42,7 258 56,1 201 43,7 182 39,4 170 6,3 p 0,905 <0,001 <0,001 0,012 0,101 0,974 <0,001 <0,001 1,67 (1,49-1,89) 0,56 (0,51-0,63) 1,22 (1,04-1,43) 1,09 (0,62-1,22) 1,00 (0,88-1,14) 0,70 (0,62-0,79) 0,58 (0,48-0,71) Modelo 1 1.434 53,2 489 18,0 457 16,8 125 25,4 297 65,9 165 36,6 325 71,5 391 14,4 Modelo 2 1.178 51,9 796 34,4 421 18,3 302 37,9 314 74,8 153 36,4 233 54,8 103 4,5 p 0,355 <0,001 0,147 <0,001 0,003 0,962 <0,001 <0,001 1,00 (0,97-1,04) 0,98 (0,93-1,03) 2,04 (1,82-2,22) 1,10 (0,97-1,10) 1,49 (1,25-1,79) 1,14 (1,04-1,25) 1,00 (0,83-1,19) 0,78 (0,70-0,86) 0,34 (0,27-0,43) Modelo 1 1.117 56,9 686 35,1 755 38,3 432 63,0 488 64,9 404 53,8 353 47,4 318 16,3 Modelo 2 1.110 57,7 406 21,0 317 16,4 171 42,2 160 50,5 143 45,1 51 16,1 141 7,3 P 0,618 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 0,001 <0,001 <0,001 RP (IC95%) F Tratamento restaurador % RP (IC95%) E Tratamento de dor de origem dentária n RP (IC95%) D Consulta ao dentista no último ano Cobertura de ações preventivas % RP (IC95%) C Prevalência de dor de origem dentária Cobertura de ações curativo-reparadoras n RP (IC95%) B Acesso a serviço odontológico Modelo 1 1,01 (0,96-1,08) 0,66 (0,59-0,74) 0,49 (0,43-0,54) 0,68 (0,60-0,78) 0,80 (0,71-0,90) 0,79 (0,69-0,91) 0,34 (0,26-0,44) 0,38 (0,31-0,47) 865 35,6 699 28,7 411 47,5 494 70,8 310 44,3 417 59,5 425 17,8 1.751 72,5 Modelo 2 1.113 58,0 713 37,3 161 8,3 369 52,0 109 67,3 94 59,1 96 59,3 366 19,5 P <0,001 0,268 <0,001 0,074 0,399 0,001 0,958 0,152 RP (IC95%) 0,84 (0,80-0,88) 1,04 (0,97-1,14) 0,28 (0,24-0,34) 1,10 (0,99-1,20) 0,95 (0,85-1,08) 1,35 (1,16-1,59) 1,00 (0,87-1,15) 1,10 (0,97-1,25) 53 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal Agravos à Saúde Bucal Morbidade Dentária auto-referida Mun G H Tratamento restaurador Tratamento mutilador (exodontia) Acesso a ações preventivas individuais Acesso a ações preventivas coletivas % n % n % n % n % n % n % Modelo 1 1.448 61,5 785 32,9 625 26,3 199 25,4 323 51,5 417 66,5 262 41,9 303 12,8 Modelo 2 1.676 67,8 701 28,3 338 13,7 147 20,9 162 47,8 236 69,4 135 39,7 166 6,7 P <0,001 <0,001 <0,001 0,034 0,274 0,351 0,520 <0,001 RP (IC95%) 1,09 (1,04-1,14) 0,85 (0,78-0,93) 0,52 (0,46-0,59) 0,82 (0,68-0,99) 0,93 (0,81-1,06) 1,04 (0,95-1,15) 0,95 (0,81-1,12) 0,53 (0,45-0,64) Modelo 1 956 57,3 275 16,4 205 12,3 107 38,9 41 19,9 95 46,1 62 30,1 89 5,3 Modelo 2 1.075 56,5 613 32,3 381 20,1 256 42,3 132 34,7 189 49,5 131 34,8 264 14,0 P 0,632 <0,001 <0,001 0,347 <0,001 0,441 0,251 <0,001 0,99 (0,93-1,04) 2,04 (1,75-2,38) 1,64 (1,41-1,92) 1,09 (0,92-1,30) 1,75 (1,28-2,38) 1,08 (0,87-1,28) 1,16 (0,91-1,54) 2,70 (2,13-3,33) 762 24,3 759 24,1 231 30,3 247 32,8 215 28,4 516 68,1 784 24,9 Modelo 1 2.344 74,7 Modelo 2 2.256 76,2 734 24,6 90 3,0 99 13,6 31 34,8 37 41,6 51 57,3 188 6,3 P 0,176 0,747 <0,001 <0,001 0,694 0,010 0,102 <0,001 1,02 (0,99-1,05) 1,01 (0,93-1,11) 0,13 (0,10-0,16) 0,54 (0,45-0,65) 1,19 (0,79-1,45) 1,43 (1,09-1,85) 0,85 (0,71-1,03) 0,23 (0,20-0,27) Modelo 1 1.312 51,8 744 29,3 442 17,4 189 25,6 284 63,3 162 36,0 204 45,4 277 10,9 Modelo 2 1.153 46,8 455 18,2 417 16,7 180 39,6 340 81,5 238 57,2 285 68,3 363 14,5 P 0,013 <0,001 0,484 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 0,93 (0,88-0,99) 0,65 (0,58-0,74) 0,96 (0,85-1,09) 1,54 (1,32-1,85) 1,28 (1,19-1,41) 1,61 (1,41-1,89) 1,56 (1,39-1,75) 1,47 (1,28-1,69) Modelo 1 1.634 67,5 586 24,0 654 26,7 189 33,6 299 45,8 255 39,1 294 44,8 317 13,0 Modelo 2 1.717 72,6 765 32,3 135 5,7 127 17,9 83 61,5 88 65,2 49 36,3 64 2,7 P 0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 0,084 <0,001 RP (IC95%) L Tratamento de dor de origem dentária n RP (IC95%) K Consulta ao dentista no último ano Cobertura de ações preventivas % RP (IC95%) J Prevalência de dor de origem dentária Cobertura de ações curativo-reparadoras n RP (IC95%) I Acesso a serviço odontológico 1,37 (1,25-1,49) 0,21 (0,17-0,25) 0,49 (0,40-0,60) 1,33 (1,14-1,56) 1,59 (1,35-1,85) 0,81 (0,64-1,03) 0,19 (0,15-0,25) Modelo 1 1.221 59,7 483 23,9 469 23,9 156 37,2 275 61,8 181 44,0 117 28,4 191 9,5 Modelo 2 1.325 62,2 676 31,9 93 4,3 62 9,2 53 57,0 43 46,2 50 53,8 220 10,3 P 0,098 <0,001 <0,001 <0,001 0,406 0,697 <0,001 0,396 RP (IC95%) 1,06 (1,03-1,11) 1,04 (0,99-1,10) 1,33 (1,22-1,54) 0,13 (0,10-0,17) 0,23 (0,17-0,31) 0,93 (0,76-1,11) 1,05 (0,83-1,33) 2,04 (1,61-2,560 1,09 (0,90-1,32) (*) Ajustes feitos a partir da Regressão de Poisson, com as variáveis “idade”, “sexo”, “renda per capita”, “número de bens” e “escolaridade da mãe”. Dependendo do desfecho, uma ou mais dessas variáveis fizeram parte do modelo final. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Estes resultados expressos na Tabela 1 podem ser lidos a partir de duas perspectivas. A primeira delas é observar os dados horizontalmente, onde um dado município pode ser analisado isoladamente e comparado aos demais com relação ao seu desempenho frente aos indicadores. Um segundo modo de interpretar os dados é observá-los verticalmente, tentando entender como um determinado indicador se comporta, em termos de impacto, nos 12 municípios pesquisados. As Figuras 2 e 3 tentam sintetizar essas duas leituras. A Figura 2 sintetiza os resultados tendo como referência o número de indicadores em cada categoria para cada um dos 12 municípios avaliados e a Figura 3 ilustra a distribuição dos municípios em relação a cada um dos 8 indicadores. 8 0 1 1 1 1 7 3 6 4 5 5 3 3 4 5 3 6 4 5 Positivo 4 3 3 7 4 1 2 3 Ausência Negativo 4 3 2 4 1 3 1 2 1 1 E B 2 1 1 C G 2 1 1 I L 0 K D F A H J Figura 2. Distribuição dos 8 indicadores com relação ao seu resultado (positivo, ausência ou negativo) nos 12 municípios estudados. A ordem foi estabelecida da esquerda para a direita, considerando o melhor até o pior resultado Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal Acesso a serviço odontológico 2 2 Acesso a ações preventivas coletivas 3 Tratamento da dor de dente 3 Dor de Dente 8 2 7 3 6 4 Morbidade dentária 3 2 Acesso a ações preventivas individuais 5 7 3 3 6 Cobertura de Exodontia 3 5 Cobertura de Tratamento Restaurador 5 4 0 1 Negativo 2 2 6 3 55 4 Ausência 5 6 7 2 8 9 10 11 12 Positivo Figura 3. Distribuição dos 12 municípios analisados com relação aos resultados encontrados para os indicadores de saúde bucal utilizados. A ordem foi estabelecida de baixo para cima, considerando o pior até o melhor resultado Pode-se observar que em nenhum município houve um impacto global da SB-ESF (Modelo 1), refletindo-se em um impacto positivo em todos os 8 indicadores avaliados. O município “E” apresentou os melhores resultados, com impacto positivo em 6 indicadores porém, no outro extremo, o município “J” apresentou impacto negativo em 7 dos 8 indicadores. Desse modo, não há como estabelecer um padrão uniforme nos municípios avaliados com relação à avaliação de impacto, o que denota que, na verdade, os modelos assistenciais, ou seja, o modo como são organizadas as práticas de saúde bucal é consideravelmente diferente em cada um deles. Tomando como base a análise para cada indicador especificamente, pode-se observar, pela análise da Figura 3, que os indicadores relativos a acesso e cobertura Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 56 (“acesso a serviço odontológico”, “acesso a ações preventivas coletivas” e “tratamento da dor de dente”) foram os que apresentaram maior número de municípios com resultados positivos. A diferença encontrada no indicador “acesso ao dentista” entre as áreas foi significativa e favorável ao Modelo 1 em oito municípios. Nos quatro restantes, metade apresentou impacto negativo e metade ausência de impacto. O acesso a ações preventivas coletivas teve um comportamento semelhante, diferindo em um município a mais com impacto negativo. O “tratamento da dor de dente” apresentou metade dos municípios com impacto positivo, três com impacto negativo e três com ausência de impacto. No caso dos indicadores relativos aos agravos (“dor de dente” e “morbidade dentária auto-referida”), os resultados tenderam mais para ausência de impacto ou impacto negativo. Com relação à “dor de origem dentária” foram observados resultados positivos em cinco municípios, em três deles não existiu diferença significativa entre as áreas e em quatro não foi possível apontar uma tendência de redução da prevalência deste agravo em áreas do Modelo 1. Já com relação à “morbidade dentária auto-referida”, verificou-se um impacto positivo nas áreas cobertas pela ESB-ESF nos municípios “A”, “G” e “K”. O município “F” e “j” apresentaram um resultado inverso, ou seja, as áreas com Modelo 1 apresentaram maior prevalência deste agravo quando comparadas às áreas com Modelo 2. Os demais municípios apresentaram percentuais semelhantes entre as Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 57 áreas. É possível constatar, também, que na quantidade de necessidade acumulada, o percentual mínimo encontrado foi de 46% e, na grande maioria dos casos, mais da metade dos entrevistados tinham necessidade de algum tipo de intervenção odontológica. Em números absolutos, significa um montante de 35.929 indivíduos, ou seja, 63% da amostra. Finalmente, para os indicadores relativos à cobertura de ações preventivas individuais, de exodontia e de tratamento restaurador, a tendência maior foi de ausência de impacto (6, 5 e 6 municípios respectivamente) ou mesmo impacto negativo (3, 5 e 4 municípios respectivamente). De uma maneira geral, os resultados indicam uma situação preocupante em pelo menos sete municípios (D, I, L, F, A, H e J) onde se observa predominância de uma ausência de impacto ou impacto negativo nos indicadores (Tabela 1 e Figura 2). Discussão A análise do impacto dos municípios em relação aos indicadores, sintetizada na Figura 2, pode conduzir à leitura de que em apenas três municípios houve uma maioria de efeitos positivos em relação aos negativos ou ausência de efeito (E, B e K). Em dois deles houve “empate”, com metade dos indicadores com resultado positivo (C e G) e, nos outros sete, há uma tendência maior para ausência de efeito ou efeito negativo. Na leitura fria dos números, temos um fraco desempenho da incorporação da saúde bucal na ESF, considerando os resultados gerais nos 12 municípios pesquisados. É possível, no entanto, ponderar que resultados positivos em três municípios, dentre 12 pesquisados, podem ser vistos sob uma lente mais otimista, tendo em conta o tempo de implantação da Estratégia, as dificuldades na Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 58 gestão e a conhecida dívida assistencial acumulada durante décadas (Martelli et al, 2008) Assim, dada a ausência de parâmetros claros e tendo em conta a subjetividade exposta no parágrafo anterior, os autores deste estudo consideram que estes resultados devem ser interpretados como um fraco desempenho da saúde bucal na ESF nos municípios avaliados e devem ser vistos com preocupação por gestores e formuladores de políticas de saúde. Tal assertiva se baseia nos seguintes pontos: (a) a Estratégia Saúde da Família, com a incorporação das equipes de saúde bucal desde 2001, tem proporcionado um aumento considerável na cobertura dos serviços de saúde bucal, tanto do ponto de vista do aumento no número de profissionais quanto das horas efetivamente trabalhadas. (b) Os profissionais da ESF têm regime de trabalho diferenciado, com diferenças salariais e de condições de trabalho marcantes em comparação com profissionais “não-ESF”. (c) O processo de trabalho preconizado para a saúde bucal na ESF pressupõe uma abordagem que proporcione a ampliação do acesso coletivo às ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal, segundo as Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal (Brasil, 2001). (d) Os indicadores avaliados neste estudo são todos passíveis de serem afetados por intervenções assistenciais no espaço de tempo considerado (em média, três anos de implantação). Desse modo, é importante especular sobre quais os fatores que estão fazendo com que equipes de saúde bucal com melhor remuneração (e com mais horas disponíveis), mais presentes nas áreas adscritas e com um modelo de prática que Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 59 deveria ser pautado na promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal, praticamente não se diferenciem na tarefa de reduzir o sofrimento bucal. A análise em sentido vertical da Tabela 1, sintetizada na Figura 3, pode dar uma pista. É possível notar que o maior número de municípios com desempenho positivo ocorre nos três indicadores relativos ao acesso e à cobertura dos serviços. Os dois indicadores de agravos (dor de dente e morbidade referida), por sua vez, têm um menor número de municípios com efeito positivo. Sintomaticamente, o acesso a ações preventivas individuais também tem fraco desempenho. Conforme já apontavam Souza e Roncalli (2007), um aumento no acesso a serviços odontológicos não se traduz, num primeiro momento, em reversão do modelo de atenção à saúde bucal caracterizado por ser pouco resolutivo, mutilador e, portanto, centrado na doença. Nesta mesma linha concluem Pereira et al (2009), analisando o impacto sobre indicadores de agravos e cobertura de saúde bucal depois de decorridos mais de um ano de implantação da ESB em áreas com e sem cobertura de ESF no município de Natal-RN. Uma primeira hipótese para a ocorrência deste quadro é que a inclusão das equipes de SB na ESF não se traduziram em uma mudança no processo de trabalho. Ao que parece, a prática das ESB continua se dando no modo tradicional, com baixo impacto, baixa cobertura e um processo de trabalho ainda pautado na abordagem curativo-reparadora. Ainda assim, os resultados deste estudo, considerando o efeito sobre o acesso a serviços odontológicos, podem ser considerados favoráveis. Em uma pesquisa de base populacional, conduzida por Rocha e Góes (2007), em Campina Grande, com uma amostra composta por pessoas acima de 18 anos, não foi encontrada Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 60 associação, após os ajustes, entre residir em uma área coberta ou não pela ESF com relação ao acesso aos serviços de saúde bucal. Do ponto de vista da cobertura por ações preventivas individuais, apenas três municípios apresentaram resultados positivos em áreas com cobertura da estratégia. O acesso a ações preventivas individuais, portanto, aparece entre os piores resultados, sendo que esta situação vai de encontro às recomendações presentes nas diretrizes da PNSB (Brasil, 2004). No entendimento de Almeida e Ferreira (2008) a regularidade e a freqüência do procedimento preventivo em saúde bucal ainda são informações escassas, o que as motivou verificar, não só a incorporação das práticas preventivas e educativas, como também a existência de instrumentos de avaliação dessas atividades. Através de entrevista estruturada com 80 dentistas da ESF e análise documental no SIA-SUS (Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS) e no Sistema de Informação de Atenção Básica, identificaram que as atividades individuais predominantes são a orientação de higiene bucal e a aplicação tópica de flúor, correspondendo a 87,5% e 95%, respectivamente. Nos registros do SIA-SUS, as atividades preventivas representaram 41% do total de procedimentos. Mais de 70% dos dentistas relataram não ter instrumento de avaliação ou não ter como avaliar o impacto das ações. Neste mesmo estudo concluem que, apesar da ESF se apresentar como um modelo reestruturador, verifica-se que ainda existe reprodução de métodos tradicionais. Se compararmos os resultados encontrados nas atividades individuais com o bom resultado do acesso às ações preventivas coletivas (sete municípios apresentaram resultados positivos em áreas cobertas pela Estratégia), à primeira vista pode Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 61 parecer uma priorização das ações preventivas coletivas em detrimento das ações individuais em áreas cobertas pela Estratégia, porém os percentuais estão bem abaixo (máximo de 20%) dos obtidos nas atividades individuais (acima de 30%). Finalmente, há que se considerar, também, a base de organização dos municípios, a qualidade das informações básicas tais como percentual de cobertura das ESF com e sem ESB, ausência, em muitos casos, de uma base cartográfica atualizada com os dados de saúde bucal e lentidão dos processos o que inviabilizou a operacionalização e ou término da coleta nos demais municípios originalmente previstos no projeto. A execução de um ensaio comunitário pressupõe trabalhar com as limitações de toda pesquisa de campo, tais como momento político, alta rotatividade de gestores associada a limitação do tempo em executar os projetos o que interferiu no recorte da amostra. Considerações Finais Sem dúvida, a Estratégia Saúde da Família se constitui em uma estratégia ímpar na reorganização da atenção básica no Brasil desde sua implantação oficial a partir de 1994. O presente trabalho, feito em 12 municípios com mais de 100 mil habitantes do Nordeste, não demonstra a ausência de efeito da SB-PSF per se, conforme também foi demonstrado anteriormente por Pereira et al (2009). Ademais, é importante destacar os bons resultados da ESF, na Atenção Primária em Saúde, sobre indicadores tradicionais como a mortalidade infantil, a desnutrição e as internações por causas preveníveis, conforme foram demonstrados pelos estudos de Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 62 Macinko et al (2007), Aquino, Oliveira e Barreto (2009), Monteiro et al (2009), Rocha e Soares (2009), Veloso e Araújo (2009) e Goldbaum et al (2005). É pertinente, também, alertar para as limitações deste trabalho. Como critério para inclusão de áreas cobertas considerou-se apenas as áreas onde efetivamente se deu a implantação das ESB pelo período mínimo de um ano (ao fim do estudo, o tempo médio de cobertura encontrado para as áreas cobertas pela ESB foi de três anos). Trata-se de um corte arbitrário e poderia ser considerado pouco tempo para se realizar uma avaliação de impacto, entretanto, conforme discutimos anteriormente, ainda não temos este parâmetro. Além disso, mesmo considerando que a avaliação a partir de indicadores auto-referidos já está consolidada na literatura (Cesar et al, 1996), outros estudos que incluam indicadores de morbidade a partir de uma avaliação por parte do profissional devem ser conduzidos. Do ponto de vista da articulação destes resultados com a atual política de saúde, é oportuno destacar que a PNSB é clara ao afirmar em suas diretrizes que as ações e serviços devem resultar de um adequado conhecimento da realidade de saúde de cada localidade para, a partir disso, construir uma prática efetivamente resolutiva. Segue frisando que é imprescindível, em cada território, aproximar-se das pessoas e tentar conhecê-las, estudar suas condições de vida, as representações e as concepções que têm acerca de sua saúde, seus hábitos e as providências que tomam para resolver seus problemas quando adoecem bem como o que fazem para evitar enfermidades. Entendemos que os indicadores que foram utilizados, embora constituam passos indispensáveis de qualquer avaliação sobre saúde bucal, são limitados para uma avaliação das condições institucionais e sociais dos resultados Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 63 nem se prestam a avaliar a qualidade dos processos de implantação. Para tanto, existem outras formas de pesquisas mais adequadas que buscam explicar os êxitos e fracassos de um programa. Ressalte-se, ainda, que as mudanças em um modelo assistencial, no caso o odontológico, segundo Souza e Roncalli (2007), dependem, dentre outros fatores, do contexto político, da organização dos serviços, de processos de capacitação e do envolvimento da equipe. Desse modo, a Academia (entendida aqui como o conjunto de instituições voltadas para o ensino e para a pesquisa) tem tido papel importante nos últimos anos, realizando estudos que procuram promover e reafirmar o Sistema Único de Saúde (SUS) como a política de saúde de todos os brasileiros. Embora reconhecendo que a avaliação é um atributo que se estabelece primordialmente na esfera dos municípios, a função da universidade como geradora de conhecimento se estrutura em um caminho duplo: por um lado gera informações importantes para as ações de planejamento e avaliação e, por outro, pode (e deve) proporcionar empoderamento dos serviços no sentido de incorporar tais práticas às suas rotinas e protocolos de gestão. Referências Bibliográficas 1. Almeida Filho N, Rouquayrol Z. Desenhos de pesquisa epidemiológica. In: Rouquayrol Z, Almeida Filho N. Epidemiologia & Saúde. 6 ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. p.149-78. 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Participação dos autores: Carmen Regina dos Santos Pereira participou das etapas de coleta de dados, análise dos dados, construção e redação final do texto; Angelo Giuseppe Roncalli participou da elaboração e coordenação do projeto, do delineamento amostral e da análise dos dados, construção e redação final do texto; Maria Cristina Teixeira Cangussu conduziu a pesquisa em dois municípios, participou da análise dos dados, construção e redação final do texto; Luiz Roberto Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 68 Augusto Noro conduziu a pesquisa em dois municípios, participou da análise dos dados, construção e redação final do texto; Alberto Allan Rodrigues Patrício conduziu a pesquisa em três municípios, participou da análise dos dados, construção e redação final do texto; Kenio Costa Lima participou da elaboração e coordenação do projeto, do delineamento amostral e da análise dos dados, construção e redação final do texto. Agradecimentos: Os autores agradecem às instituições financiadoras (CNPq pelo fomento e Capes pela bolsa), às Secretarias Municipais de Saúde dos municípios, pelo apoio à realização da pesquisa e às Universidades que participaram da execução do estudo. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Artigo 3: Efeito da Saúde Bucal na ESF e desigualdades sociais sobre o acesso ao serviço odontológico público no Nordeste Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 70 Efeito da Saúde Bucal na ESF e desigualdades sociais sobre o acesso ao serviço odontológico público no Nordeste Effect of Oral Health in Family Health Program on inequalities in access to oral health public service in Brazil Northeast Título resumido: Saúde Bucal na ESF e desigualdades Carmen Regina dos Santos Pereira Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde; Universidade Federal do Rio Grande do Norte Angelo Giuseppe Roncalli Programa de Pós-Graduação em Odontologia; Departamento de Odontologia; Universidade Federal do Rio Grande do Norte Maria Cristina Teixeira Cangussu Universidade Federal da Bahia Luis Roberto Augusto Noro Programa de Pós-Graduação em Odontologia; Departamento de Odontologia; Universidade Federal do Rio Grande do Norte Alberto Allan Rodrigues Patrício Programa de Pós-Graduação em Odontologia; Departamento de Odontologia; Universidade Federal do Rio Grande do Norte Kenio Costa de Lima Programa de Pós-Graduação em Odontologia e Ciências da Saúde; Departamento de Odontologia; Universidade Federal do Rio Grande do Norte Endereço para correspondência: Carmen Regina dos Santos Pereira Rua Romualdo Galvão, 3673 – Apto 404H – Lagoa Nova 59056-100 – RN Fone: 84-3234-5310 / 84-8102-0990 Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 71 Resumo Para avaliar a desigualdade de acesso aos serviços de odontologia públicos utilizaram-se dados da Pesquisa Impacto do Programa Saúde da Família no perfil de saúde bucal: análise em municípios do Nordeste com mais de 100 mil habitantes, realizada pela Universidade Federal do Rio grande do Norte, em áreas cobertas e não cobertas pela Saúde bucal na Estratégia Saúde da Família em 12 municípios de 5 estados do Nordeste. Investigou-se de forma aleatória 214 setores censitários. A coleta de dados foi realizada, nos domicílios, por meio de questionários aplicados por Agentes Comunitários de Saúde treinados. Um dos objetivos do estudo foi identificar um parâmetro de comparação entre os setores censitários cobertos e não cobertos pela ESF com SB, para tanto, foi construído um indicador de desigualdade social para os setores censitários pela técnica de análise fatorial (AF). Os resultados obtidos nesta pesquisa confirmam que os 107 setores localizados em áreas cobertas apresentam melhor desempenho quanto ao acesso quando comparados com áreas não cobertas. Portanto, os resultados apontam para um possível efeito de uma política pública específica na área de atenção primária sobre a desigualdade no acesso. Palavras-chave Desigualdades em saúde bucal, Utilização de serviços de saúde bucal, Acesso a serviços de saúde bucal, Análise fatorial Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 72 Abstract To evaluate the inequality of access to public dental services were used data from the Impact of the Family Health Program in the profile of oral health: analysis in the Northeast with more than 100,000 subjects, held at the Federal University of Rio Grande do Norte in areas covered and not covered by oral health in the Family Health Program in 12 municipalities in five Northeastern states. We investigated 214 randomly census tracts. Data collection was performed at home, through a questionnaire applied by trained Community Health Agents. One of the objectives of the study was to identify a parameter of comparison between the census covered and not covered by the ESF with SB to that end, we constructed an indicator of social inequality for the census tracts with the technique of factor analysis (FA). The results of this study confirm that the 107 census tracts located in areas covered are performing better with regard to access when compared with areas not covered. Therefore, the results suggest a possible effect of a specific policy in the area of primary care on inequality in access. Keywords Inequalities in oral health, use of oral health services, access to oral health services, Factor analysis Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 73 Introdução Do ponto de vista conceitual, o termo desigualdade, segundo Silva e Barros (2002) tem uma conotação descritiva e corresponde a dois tipos de diferenças, as naturais e as sociais. As desigualdades consideradas como naturais seriam as diferenças de sexo, raça e idade, por exemplo. As diferenças consideradas sociais dizem respeito à organização social do processo de produção, ou seja, se originam das diferentes posições de ocupação no mundo do trabalho. Para estes autores, as desigualdades sociais, não indicam, necessariamente, a existência de injustiça. Esta, por ser um julgamento, exige o estabelecimento de parâmetros do que é justo e injusto. Qualquer julgamento, especialmente ao tratar de questões como níveis de saúde é orientado, em grande parte, por princípios morais, éticos e políticos, que são historicamente dados e, portanto, em constante mudança. A falta de justiça remete ao conceito de iniqüidade e falar de iniqüidades em saúde significa, principalmente, identificar uma manifestação mensurável de injustiça social, geralmente representada pelos diferenciais no risco de adoecer ou morrer. Para este estudo, nos interessa identificar, junto aos dados da pesquisa, aquelas desigualdades consideradas inaceitáveis, seja por sua elevada magnitude ou por serem passíveis de intervenções. Apesar de reconhecermos que o Brasil apresenta um dos níveis mais elevados de concentração de renda do mundo, estudos como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) vêm demonstrando que a desigualdade nos rendimentos caiu, mas ainda persiste (IBGE, 2008). É de se esperar, portanto, a permanência de grandes disparidades na situação de saúde, inclusive na área de saúde bucal. Em Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 74 uma abrangente análise sobre a epidemiologia das desigualdades em saúde bucal realizada em 2008, Roncalli procurou demonstrar que as principais variáveis socioeconômicas são componentes explicativos importantes das desigualdades, tanto em relação ao perfil da cárie dentária quanto ao acesso aos serviços de saúde bucal. Os estudos epidemiológicos, de modo geral, têm procurado explicar as desigualdades na saúde da população segundo fatores sociais e econômicos tais como educação, habitação, ambiente, renda, ocupação, configurando as condições de vida (Marmot et al., 1987). As análises, de modo geral, têm sido restritas às verificações de freqüências e medidas de posição e de variabilidade. No entanto, essas medidas nos dão informações sobre cada variável isoladamente, não contribuindo para o entendimento das relações de interdependência entre elas. Para Favero et al (2009), estas relações são importantes por que ajudam na compreensão das dimensões contextuais ou multidimensionais da saúde. Uma técnica estatística bastante ampla e utilizada quando se deseja avaliar construtos, que não são mensuráveis diretamente, ou quando desejamos criar indicadores do tipo socioeconômico a partir de variáveis como renda, escolaridade, desemprego, condições sanitárias e ambientais é conhecida como análise fatorial (AF). A análise fatorial tem sido aplicada como uma técnica exploratória de dados, no sentido de construir indicadores que agregassem diversas informações de diferentes ordens com vistas à construção de componentes ou fatores que melhor representem o conjunto de variáveis pesquisadas. No caso deste estudo, as variáveis socioeconômicas e sanitárias foram submetidas à AF para, a partir daí, entender as Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 75 diferenças nos resultados do “acesso aos serviços odontológicos públicos”, entre áreas cobertas e não cobertas pela Saúde bucal na Estratégia Saúde da Família (ESF), com o objetivo de verificar o efeito desta política pública sobre a desigualdade no acesso. Método Origem dos Dados Os dados utilizados para a análise foram oriundos da pesquisa “Impacto do Programa Saúde da Família no perfil de saúde bucal: análise em municípios do Nordeste com mais de 100 mil habitantes”, realizada pela Universidade Federal do Rio grande do Norte, em áreas cobertas e não cobertas pela Saúde bucal na Estratégia Saúde da Família em 12 municípios de 5 estados do Nordeste. Os resultados da análise do impacto da ESB na ESF sobre indicadores de saúde bucal foram analisados por Pereira et al (2009). Plano Amostral Definição das Unidades Amostrais Primárias Foram identificados, dentre os municípios da região Nordeste com mais de 100 mil habitantes, aqueles que apresentavam equipes de saúde bucal no ESF (todas do tipo I) com taxas de cobertura de, no mínimo, 20% e, no máximo, 70%. Ao final, 12 municípios, dos 26 que potencialmente poderiam compor a amostra, efetivamente concluíram todas as etapas. Os demais municípios deixaram de participar por Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 76 vontade do gestor, pela demora no retorno dos dados necessários e problemas de ordem operacional. Definição das Unidades Amostrais Secundárias Em cada um dos municípios, dados primários relativos a determinados indicadores foram coletados em áreas cobertas e não cobertas, considerando que nestas, tais dados não estão disponíveis de forma satisfatória a partir dos sistemas de informação. Uma unidade de análise que contém informações relevantes para este fim em todas as áreas, independente de cobertura, é o setor censitário. Da totalidade de setores de cada um dos municípios, foram excluídos aqueles que estavam parcialmente inseridos em áreas cobertas pela ESF, de modo que somente aqueles totalmente inseridos em áreas cobertas e não cobertas fizeram parte do universo a partir do qual foram estabelecidos os grupos. Uma vez estabelecido o universo a ser incluído, foram sorteados, em cada município, 10 (dez) setores das áreas cobertas pela ESB na ESF, os quais constituíram as áreas sob intervenção. Para compor as 10 áreas de não intervenção (controles), foi realizado um emparelhamento intencional a partir dos dados constantes nas bases de dados dos setores censitários (IBGE, 2005). Tamanho da Amostra Levando em consideração a característica de um estudo transversal em que são comparadas duas áreas diferentes, tomou-se como base o efeito presumido da intervenção (Saúde Bucal na ESF) sobre um dos desfechos utilizados no estudo, o acesso a serviço odontológico público, medido pela freqüência de consulta ao Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 77 dentista nos 12 meses anteriores à pesquisa. Os dados do estudo feito em NatalRN, por terem sido os primeiros a serem obtidos, foram utilizados como referência. De acordo com os resultados, a freqüência de consulta ao dentista em áreas com Saúde Bucal na ESF foi de 78% e, em áreas com modelo tradicional ou sem cobertura foi de 63%. A diferença entre as áreas denota um efeito (impacto) de 20%, a qual foi tomada como referência para o cálculo do tamanho global da amostra em cada município. Este efeito, associado a um nível de significância (α) de 0,05 e um poder (β) de 85%, de acordo com a técnica preconizada por Altman (1990) e também utilizada por Roncalli e Lima (2006), gera um tamanho inicial de amostra de 300 indivíduos. Por se tratar de um delineamento com múltiplos estágios, foi estabelecido um efeito de desenho de 1,5 e, ainda, estimada uma taxa de não-resposta de 20%, o que resultou em uma amostra final de 495 indivíduos (Figura 1). Ida ao dentista no último ano (acesso) Resultados em Natal Modelo SB-PSF Modelo Tradicional 78% 63% Impacto = 20% P1 − P2 ( 0,78 − 0,63 0,70 (1 − 0,70) ) P 1− P Diferença Padronizada 0,34 α = 0,05 β = 0,85 Amostra Final 495 = TNR 20% X deff 1,5 X Amostra 300 Figura 1. Esquema do procedimento para o cálculo do tamanho da amostra. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 78 Tendo em conta, ainda, o efeito da idade sobre o desfecho “acesso ao serviço odontológico”, uma pré-estratificação foi realizada, considerando os grupos etários de 0 a 12 anos (crianças), 13 a 19 (adolescentes), 20 a 50 (adultos) e 60 anos ou mais (idosos). Tomou-se como base a proporção da população em cada uma dessas faixas etárias em cada um dos 12 municípios da amostra, considerando, ainda, que um mínimo de 495 indivíduos fosse pesquisado na faixa etária de 13 a 19 anos. Desse modo, o tamanho final da amostra em cada grupo ficou em torno de 3 mil indivíduos, totalizando cerca de 6 mil indivíduos a serem examinados em cada município. Processo de alocação dos elementos amostrais Uma vez definido o número de indivíduos por município, estimou-se uma média de 4 indivíduos por domicílio para que se chegasse ao número de domicílios a serem visitados nos 20 setores censitários sorteados e ou emparelhados (em média 80 domicílios por município). Considerando os 12 municípios estudados, a amostra final de setores prevista foi de 240 setores e 37.574 indivíduos em cada grupo, 75.148 ao todo. O segundo estágio, o qual consiste no sorteio dos domicílios a serem pesquisados, seguiu a metodologia semelhante às pesquisas para avaliação de cobertura vacinal, descrita por Barros e Victora (1998). Instrumentos e estratégias de coleta de dados Todos os indivíduos participantes do estudo foram entrevistados em suas residências por Agentes Comunitários de Saúde (ACS) devidamente treinados para Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 79 tal fim. Foi desenvolvida uma ficha que foi aplicada pelos ACS nos domicílios. Este questionário-entrevista foi aplicado junto ao informante mais qualificado do domicílio, sendo, portanto, um instrumento que agregou informações relativas a todos os residentes no domicílio. Para o treinamento dos agentes, foi desenvolvido um manual de instruções, contendo informações relativas ao preenchimento da ficha e às técnicas de reconhecimento da área e dos domicílios. Os ACS foram treinados em oficinas de trabalho de 12 horas de duração (três turnos). Variáveis As variáveis de interesse são a desigualdade social e a presença de saúde bucal na ESF na área estudada. A variável de resposta (dependente) é relativa ao acesso a serviço odontológico a qual foi aferida a partir da pergunta “O sr(a) foi ao dentista da sua unidade de saúde nos últimos 12 meses?”. Análise dos dados Para a análise da associação entre as variáveis foi utilizado o teste qui-quadrado, bem como a medida da Razão de Prevalência e seu respectivo intervalo de confiança (95%). O indicador de desigualdade social para os setores censitários foi obtido pela técnica de análise fatorial (AF). Esta é uma técnica multivariada cuja idéia básica reside na premissa de que é possível representar um conjunto de variáveis originais por meio de um número menor de fatores intrínsecos (Favero et al, 2009). Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 80 Para o propósito deste estudo foram escolhidas variáveis as quais, sabidamente, exercem influência sob as variáveis de estudo, entre elas as de natureza socioeconômica. A partir da “Base de dados por setor censitário”, disponibilizada pelo IBGE, foram selecionadas algumas variáveis de natureza econômica, educacional e sanitária (IBGE, 2005), as quais compuseram o elenco de variáveis para extração dos componentes principais. Todas as variáveis possuem natureza quantitativa e escalas de medida distintas (anos de estudo, reais, percentual). No quadro a seguir, estas variáveis estão descritas detalhadamente. Quadro 1. Elenco de variáveis para extração dos componentes principais. Variável Natureza Descrição Escolaridade Educacional Média de anos de estudo do chefe da família contados a o partir do 1 ano do ensino fundamental Analfabetismo adultos Educacional % de responsáveis por domicílios particulares permanentes não-alfabetizados Analfabetismo infantil Educacional % de indivíduos de 5 anos analfabetos Renda média Econômica Rendimento nominal mensal médio do setor (em reais) relativo aos chefes de domicílios particulares permanentes Desemprego Econômica % de responsáveis por domicílios particulares permanentes sem rendimento Pobreza Econômica % de responsáveis por domicílios particulares permanentes com renda até meio salário mínimo Acesso a água tratada Sanitária % de domicílios com água fornecida por rede geral Instalações Sanitárias Sanitária % de domicílios sem banheiro Lixo Sanitária % de domicílios com lixo coletado Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 81 Aspectos Éticos O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN para a devida análise, recebendo parecer favorável à sua execução estando registrado no SISNEP sob número 0028.1.051.000-06.033/2006, apresentando-se de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Resultados Dos 240 setores censitários previstos para compor os grupos de intervenção e não intervenção, de acordo com a descrição da amostra na Figura 2, alguns setores de áreas cobertas pelo modelo ESF com SB e, conseqüentemente, o mesmo número de setores controle, deixaram de ser investigados, devido a problemas operacionais. A análise, portanto, se refere aos dados coletados em 214 setores, sendo 107 em cada grupo. Do total de indivíduos entrevistados, 30.165 pertenciam às áreas com cobertura da ESF com SB. O restante pertencia às áreas com modelo tradicional ou sem cobertura de saúde bucal. Foram percorridos 16.457 domicílios, gerando um banco de dados de 59.221 indivíduos (78,8% da amostra prevista) Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 82 População do Município Grupo I Intervenção Grupo II Não-Intervenção ESF com Saúde Bucal Modelo Tradicional ou sem Cobertura Amostra Calculada Amostra Calculada Setores = 120 (Randomização) Setores = 120 (Emparelhamento) Amostra Fina Amostra Final Setores = 107 (Perda 10,8%) Setores = 107 (Perda 10,8%) Amostra Final Setores = 214 (Perda 10,8%) Figura 2. Descrição da amostra por setores do estudo em 12 municípios do Nordeste. Brasil, 2006 Resultados da Análise Fatorial (AF) O Quadro 2 apresenta as comunalidades de cada uma das 9 variáveis incluídas no modelo fatorial. As comunalidades representam a variância total aplicada pelos fatores em cada variável. Devem ser interpretadas da seguinte maneira: quando mais próxima de 1 significa que quase toda a variância é explicada por todos os fatores. No exemplo, observa-se que todas as variáveis possuem forte relação com os fatores, pois tem altos valores de comunalidades na coluna extração. Assim é correta a decisão de não excluir as variáveis “água tratada” e “lixo”. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 83 Quadro 2. Análise das comunalidades das variáveis. Variável Inicial Extração Escolaridade chefe da família 1,000 0,917 Responsáveis analfabetos 1,000 0,905 Percentual crianças analfabetas 1,000 0,973 Renda média 1,000 0,835 Desemprego 1,000 0,866 Pobreza 1,000 0,976 Acesso água tratada 1,000 0,764 Percentual sem banheiro 1,000 0,946 Lixo 1,000 0,775 Na etapa de extração dos fatores iniciais é determinado o número de fatores comuns necessários para descrever adequadamente os dados. Há, basicamente, dois métodos principais: Análise de Componentes Principais (ACP) ou Análise de Fatores Comuns (AFC). A escolha do método de extração depende do objetivo do estudo. No caso deste estudo o objetivo foi reduzir os dados para a obtenção do mínimo número de fatores necessários para explicar o máximo de variância representada pelas variáveis originais, portanto, a ACP foi o método utilizado. A Tabela 1 apresenta os três componentes gerados pela “matriz de cargas rotacionadas”. As variáveis que apresentaram maior carga ajudam na definição do próprio componente. Foram dados os seguintes rótulos a cada componente: “condições materiais de vida”, “Políticas públicas” e “Saneamento”. O componente “condições materiais de vida” tenta expressar aquelas condições materiais de vida imposta por falta de recursos de ordem educacional, econômica e Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 84 sanitária. É composto pelas variáveis de carga positiva “responsáveis por domicílios particulares permanentes não-alfabetizados”, “indivíduos de cinco anos analfabetos”, “responsáveis por domicílios particulares permanentes sem rendimento”, “responsáveis por domicílios particulares permanentes com renda até meio salário mínimo” e “domicílios sem banheiro”. O componente “Políticas Públicas” foi formado pelas cargas positivas da “média de anos de estudo do chefe da família” e o “rendimento nominal mensal médio do setor (em reais) relativo aos chefes de domicílios particulares permanentes”. É um composto que busca expressar a influência direta das políticas públicas nas áreas educação e trabalho. O componente “Saneamento” também foi formado por cargas positivas das variáveis “porcentagem de domicílios com água fornecida por rede geral” e “porcentagem de domicílios com lixo coletado”. Também corresponde a políticas públicas com o enfoque específico no saneamento. Outras tentativas foram feitas no sentido de melhor expressar as correlações, no entanto, essa disposição se mostrou mais adequada, pois nenhuma variável aparece em mais de um componente e apresentam cargas superiores a 0,80. Segundo Moysés (2000) quanto maior a carga, mais a variável é uma pura medida do componente. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 85 Tabela 1. Matriz dos componentes rotacionados, cargas e rótulos dos componentes para nove variáveis de 214 setores censitários do Nordeste, 2006. Rótulos dos componentes 1 2 3 “Condições materiais de vida” “Políticas públicas” “Saneamento” Responsáveis analfabetos 0,872 Percentual de crianças analfabetas 0,961 Desemprego 0,924 Pobreza 0,984 Percentual sem banheiro 0,964 Escolaridade chefe da família 0,955 Renda média 0,909 Acesso água tratada 0,868 Lixo 0,867 Método de Extração: Análise de Componentes Principais. Método de Rotação: Varimax com normalização Kaiser A Tabela 2 mostra a variância explicada pela solução encontrada. Na tabela 2, observa-se que os componentes responderam por 88,42% da variância. O componente “Precárias condições materiais de vida” correspondeu a quase 50% da variância, seguido do componente “políticas públicas” com mais de 20%. Tabela 2. Valores de eigenvalue, comunalidade e porcentagem da variância total explicada pelos três fatores das nove variáveis de 214 setores censitários do Nordeste, 2006. Soma das rotações de cargas ao quadrado Componentes Total % de Variação % cumulativo 1. “Condições materiais de vida” 4,45 49,43 49,43 2. “Políticas públicas” 1,96 21,79 71,21 3. “Saneamento” 1,54 17,20 88,42 Método de Extração: Análise de Componentes Principais Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 86 Análise da desigualdade em áreas cobertas e não cobertas Um dos objetivos do estudo foi identificar um parâmetro de comparação entre os setores censitários cobertos e não cobertos pela ESF com SB. Para atingirmos esse objetivo foi realizada a soma entre as pontuações originais dos três componentes, gerando um único fator que denominamos “Indicador de Desigualdade”. Embora, na análise comparativa entre as áreas, as variáveis quantitativas devam ser analisadas pelas medidas de tendência central e variabilidade, é importante que sejam categorizadas para que possam ser analisadas em função da variável de acesso e estabelecendo as medidas de associação. Para tanto, as novas variáveis geradas pela AF foram categorizadas a partir da mediana, gerando os critérios favorável e desfavorável para cada uma delas. As Tabelas 3, 4, 5 e 6 a seguir, apresentam os resultados da variável acesso aos serviços odontológicos dos 107 setores censitários cobertos, comparados com os 107 não cobertos pela ESF com SB. A variável também foi dicotomizada em alto e baixo percentual de acesso, a partir da mediana. O setor com percentual de acesso abaixo de 17,65% foi considerado “baixo acesso” e aqueles com valores acima constituíram os setores com “alto acesso”. A Tabela 3 compara áreas cobertas e não cobertas pela ESF com SB nas duas situações de acesso: baixo e alto. Comparativamente, os 107 setores localizados em áreas cobertas apresentam melhor desempenho quanto ao acesso, ou seja, 67% foram classificados como “alto acesso”, inversamente, os setores localizados em áreas não cobertas apresentam o mesmo percentual, porém, na classificação “baixo acesso”. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 87 Quando se analisa sob a perspectiva da classificação de desigualdade social, não se observa diferença significativa na variável acesso das áreas cobertas, independentemente se o setor foi classificado como desfavorável ou favorável. Em áreas não cobertas existe diferença (limite de significância) no acesso ao serviço odontológico público. Esta diferença é dada pelo maior percentual de setores com baixo acesso classificados como desfavorável (76%). Tabela 3. Acesso a serviços de saúde bucal em áreas cobertas e não cobertas pelas ESB/PSF em 214 setores censitários de 12 municípios do Nordeste, classificados segundo situação de desigualdade social. Brasil, 2006. Desigualdade Social NãoCoberto Coberto Desfavorável Favorável 2 Total Qui RP Acesso n % n % N % (p-valor) (IC95%) Baixo 15 33,3 20 32,3 35 32,7 0,000 1,03 Alto 30 66,7 42 67,7 72 67,3 (1,00) (0,64-1,64) Total 45 100 62 100 107 100 Baixo 39 76,5 33 58,9 72 67,3 3,732 1,58 Alto 12 23,5 23 41,1 35 32,7 (0,050) (0,95-2,62) Total 51 100 56 100 107 100 A Tabela 4, cujo componente foi interpretado como “Precárias condições Materiais de vida”, apesar de não haver sido encontrada diferença significativa entre as áreas, mantém a mesma proporção encontrada na tabela anterior, ou seja, em áreas não cobertas é maior o percentual de setores com baixo acesso naqueles classificados como tendo “condições materiais de vida” desfavorável. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 88 Tabela 4. Acesso a serviços de saúde bucal em áreas cobertas e não cobertas pelas ESB/PSF em 214 setores censitários de 12 municípios do Nordeste, classificados segundo situação socioeconômica (Fator 1). Brasil, 2006. Condições Materiais de Vida NãoCoberto Coberto Desfavorável Favorável 2 Total Qui RP Acesso n % n % N % (p-valor) (IC95%) Baixo 18 33,3 17 32,1 35 32,7 0,000 1,02 Alto 36 66,7 36 67,9 72 67,3 (1,00) (0,69-1,52) Total 54 100 53 100 107 100 Baixo 38 71,7 34 63,0 72 67,3 0,057 1,23 Alto 15 28,3 20 37,0 35 32,7 (0,45) (0,79-1,93) Total 53 100 54 100 107 100 As Tabelas 5 e 6 correspondem aos componentes “Políticas Públicas” e “ Saneamento”. Também não foi encontrada diferença significativa entre as áreas, e da mesma forma mantém a mesma proporção encontrada na tabela anterior, ou seja, em áreas não cobertas é maior o percentual de setores com baixo acesso naqueles classificados como tendo “condições materiais de vida” desfavorável. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 89 Tabela 5. Acesso a serviços de saúde bucal em áreas cobertas e não cobertas pelas ESB/PSF em 214 setores censitários de 12 municípios do Nordeste, classificados segundo situação socioeconômica (Fator 2). Brasil, 2006. Políticas Públicas NãoCoberto Coberto Desfavorável Favorável 2 Total Qui RP Acesso n % n % N % (p-valor) (IC95%) Baixo 20 34,5 15 30,6 35 32,7 0,048 1,08 Alto 38 65,5 34 69,4 72 67,3 (1,00) (0,75-1,55) Total 45 100 62 100 107 100 Baixo 33 67,3 39 67,2 72 67,3 0,000 1,00 Alto 16 32,7 19 32,8 35 32,7 (1,00) (0,65-1,55) Total 49 100 58 100 107 100 Tabela 6. Acesso a serviços de saúde bucal em áreas cobertas e não cobertas pelas ESB/PSF em 214 setores censitários de 12 municípios do Nordeste, classificados segundo situação socioeconômica (Fator 3). Brasil, 2006. Políticas Públicas NãoCoberto Coberto Desfavorável Favorável 2 Total Qui RP Acesso n % n % N % (p-valor) (IC95%) Baixo 16 29,1 19 36,5 35 32,7 0,378 0,84 Alto 39 70,9 33 63,5 72 67,3 (0,54) (0,55-1,28) Total 45 100 62 100 107 100 Baixo 37 71,2 35 63,6 72 67,3 0,387 1,19 Alto 15 28,8 20 36,4 35 32,7 (0,53) (0,77-1,87) Total 52 100 55 100 107 100 Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 90 Discussão A metodologia para estudos que podem explicar o efeito contextual da desigualdade de renda na saúde, segundo Celeste e Nadanovsky (2010), necessita de teorias bem formuladas que identifiquem o papel de cada variável no modelo, e o nível de agregação ideal das variáveis contextuais. Para estes autores, existem quatro categorias de explicações: artefato estatístico; comparação social; subinvestimento público e capital social. A contribuição relativa de cada um desses mecanismos não está ainda bem avaliada e, portanto, a existência de diferentes mecanismos de ação pode explicar parte da heterogeneidade dos resultados. Outra explicação é que a desigualdade de renda pode captar outros construtos, como estratificação social ou políticas públicas e, em alguns casos, pode não ser um bom marcador de tais construtos. Estudos com maior poder de estabelecimento de relação causal são necessários. Uma possibilidade é a avaliação do impacto de políticas de intervenção direcionadas para redistribuição de renda. Resultados anteriores (Pereira, 2009) sobre a prevalência dos agravos e cobertura desta mesma pesquisa verificaram se a incorporação da Equipe de Saúde Bucal no ESF gerou uma maior utilização aos serviços odontológicos no município de NatalRN. Os resultados mostraram que, nas áreas cobertas pela ESF, 32% referiram assistência odontológica, sendo este resultado igual a 45,4% para áreas com modelo tradicional e 17,5% para áreas sem cobertura (p<0,001). A Saúde Bucal ESF apresentou impacto positivo sobre o acesso, somente quando comparada com áreas sem cobertura. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 91 Na pesquisa mais ampla sobre impacto da Estratégia Saúde da Família sobre a saúde bucal na população nordestina residente em 12 municípios com mais de 100.000 habitantes, (Pereira et al, 2010), iniciada em 2005, foram comparadas áreas cobertas pela Saúde Bucal na ESF com áreas não cobertas. Considerou-se “área não coberta” setores com unidades de ESF sem Saúde Bucal; áreas cobertas por unidades básicas de saúde (UBS) ou sem nenhum tipo de cobertura. Através da Regressão de Poisson com variância robusta foram obtidas as RP ajustadas, categorizadas em três efeitos possíveis: negativo, positivo e ausência de efeito sobre os desfechos (agravo, acesso e cobertura). Analisando a distribuição dos 12 municípios com relação aos resultados encontrados para os indicadores de saúde bucal prevalência de morbidade referida, agravos e sua respectiva cobertura de tratamento, bem como o acesso às ações e serviços de saúde bucal, verificou-se que tanto a variável “acesso a ações preventivas coletivas” quanto o desfecho “tratamento da dor de dente” apontam para uma mudança positiva no modelo de prática da SB na ESF. Porém, os desfechos cobertura de exodontia e tratamento restaurador demonstraram efeito negativo ou sem efeito na maioria dos municípios pesquisados. Há indícios de que os resultados obtidos refletem os modelos de organização locais da SB na ESF. Contudo, tais evidências necessitam de futuras investigações. Ainda assim, os resultados deste estudo, considerando o efeito sobre o acesso a serviços odontológicos, podem ser considerados favoráveis. O recurso da AF ajudou a criar um indicador geral que possibilitou comparar as áreas cobertas e não cobertas pelo serviço odontológico de forma mais contextualizada. Outros estudos utilizaram desse mesmo recurso como o estudo em Curitiba (Moysés, 2000) que se concentrou na questão de como políticas Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 92 relacionadas ao modelo de “Cidades Saudáveis” afetam a prevalência de cáries dentais, em escolares de doze anos de idade. Em seus resultados foi confirmada a hipótese central do trabalho de que políticas públicas saudáveis, mediadas pelo efeito de coesão social, afetam significativamente a saúde bucal dos escolares. Comunidades periféricas de baixa renda que tinham recebido sistematicamente a intervenção de políticas públicas, pela administração de Curitiba, foram comparadas com outras que não tinham recebido a mesma atenção. Variáveis sócio-ambientais foram coletadas e permitiram a extração de três Componentes Principais, pela técnica de análise fatorial. Os três componentes permitiram a consolidação de um índice de desigualdade para classificar as áreas estudadas. Correlação ordinal de Spearman indicou uma associação estatisticamente significativa entre os índices das áreas e as prevalências de cáries dentárias entre os escolares das respectivas áreas. A conclusão é que políticas públicas saudáveis, mediadas por coesão social, podem afetar significativamente a saúde bucal. Para Mendoza-Sassi e Béria (2001), quando quantificamos a utilização do serviço de saúde estamos estudando, também, o acesso aos mesmos. Ressaltam, no entanto, que não podemos interpretá-lo como uma medida exata, apesar de ser uma tendência natural destes modelos de estudo. Chamam a atenção para o fato da avaliação do binômio utilização-acesso por grupos sociais significar, na verdade, uma avaliação da equidade do sistema em questão. Para tanto, os autores, realizaram uma revisão sistemática de 1970 e 1999 em diferentes países. Foi encontrado que a média de consultas, a proporção de pessoas que consultam e a proporção que concentra o maior número de consultas foram similares entre os estudos. Entre os fatores demográficos, crianças e mulheres em idade fértil utilizam Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 93 mais o serviço. Entre os fatores socioeconômicos, a classe social mais baixa e o grupo com menos anos de estudo utilizam mais o serviço por terem maior necessidade de saúde. No entanto, de acordo com o tipo de sistema, estes grupos menos favorecidos podem receber uma atenção insuficiente (grifo nosso). Na época, entre os fatores relacionados ao serviço de saúde, ter um médico definido determinava uma utilização mais adequada. Concluem que as diferenças encontradas demonstram a influência do tipo de sistema na utilização dos serviços de saúde. De certa forma esses achados nos levam a questionar até onde a implantação de uma estratégia de atenção, como a ESF com SB, contribui na redução da desigualdade no acesso aos serviços odontológicos, principalmente, naqueles setores censitários que tradicionalmente sempre ficaram à margem das políticas públicas. De acordo com Roncalli (2008), é bastante conhecido que as condições socioeconômicas afetam com maior força os indicadores relativos à assistência odontológica, a qual, sabidamente, é mediada pelo poder de compra e pela inserção no mercado dos indivíduos e das famílias. Portanto, na ausência de uma política pública de atenção odontológica as classes menos favorecidas serão as mais afetadas. Diferentes estudos têm buscado identificar o padrão das desigualdades geográficas e sociais no acesso aos serviços de saúde. Travassos et al, (2006) trabalharam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1998 e de 2003 comparando os dados da população de crianças e adultos residentes em áreas Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 94 urbanas que referiram restrição de atividades nos últimos 15 dias nas duas pesquisas. O estudo reafirmou o padrão de que, no Brasil, o acesso é fortemente influenciado pela condição social das pessoas e pelo local onde residem. Embora tenha havido alguma diminuição das desigualdades sociais no acesso, no entanto, as desigualdades geográficas no acesso aumentaram no período de estudo Na área de saúde bucal, os estudos sobre o uso regular de serviços odontológicos têm sido explicados nas diferentes dimensões do modelo elaborado por Andersen & Newman (1963), como, por exemplo, o estudo desenvolvido na cidade de Bambuí, Minas Gerais. Resultados mostraram que o uso regular de serviços odontológicos foi significativamente associado à mais anos de estudo e melhores condições de saúde bucal (Matos et al.. 2001). Outro estudo que também utilizou o modelo de Andersen (Baldani et al ,2010), encontrou que os determinantes individuais mostraram-se importantes indicadores de acesso aos serviços de saúde bucal. O estudo de Barros e Bertoldi (2002) procurou analisar a situação de acesso e utilização de serviços odontológicos entre diferentes grupos de renda e, para tanto, foram utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) de 1998, realizada pelo IBGE. O grupo mais pobre apresentou uma tendência de redução de acesso com a idade, contrária à tendência global observada. As maiores desigualdades no acesso e na utilização de serviços odontológicos foram encontradas, exatamente, nos grupos de menor acesso ou utilização. Outro estudo (Matos,Giattie e Lima-Costa 2004) também analisou os dados da PNAD (1998) na população idosa para determinar a prevalência e os fatores sócio-demográficos associados ao uso de serviços odontológicos. Os resultados deste trabalho mostram Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 95 que os idosos brasileiros apresentam uma baixa taxa de uso de serviços odontológicos, e que diferenças regionais e sócio-econômicas são importantes para determinar a freqüência de uso de serviços odontológicos entre idosos brasileiros. Posteriormente Pinheiro e Torres (2006) também analisaram comparativamente os dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílios (PNAD) de 1998 e 2003 avaliando a relação entre as características dos indivíduos e do contexto no uso de serviços odontológicos no Brasil. A utilização é menor entre as unidades da federação mais pobres, com menor estrutura, com menor oferta de serviços odontológicos, médicos e serviços de saúde de maior complexidade. Resultado semelhante foi obtido por Fernandes e Peres (2005) ao testar associações entre indicadores de atenção básica em saúde bucal e indicadores municipais socioeconômicos e de provisão de serviços odontológicos. As maiores coberturas foram associadas ao aumento de dentistas no SUS e municípios com piores condições socioeconômicas foram associados a maiores proporções de exodontias. Os autores concluem enfatizando que Políticas de Saúde Bucal devem priorizar municípios que apresentam piores indicadores socioeconômicos. Os dados do levantamento de saúde bucal no Brasil, em 2002-2003, de jovens entre 15 a 19 anos agrupados por municípios, foram avaliados com o objetivo de identificar a relação entre condição de saúde bucal, Coeficiente de Gini e um indicador Municipal de Políticas Públicas. O aumento do menor para o maior valor de Gini, no Brasil, foi associado a um aumento no número de perda dentária e dentes cariados. O efeito da desigualdade de renda foi explicado, principalmente pelas políticas públicas, que teve um efeito independente, maior entre os mais abastados (Celeste e Nadanovsky, 2010). Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 96 Mesmo em países com melhor distribuição de renda, estudos como o de Tickle, Milsom e Blinkhorn (2002) procuraram identificar a relação entre o status sócioeconômico das crianças que tem acesso ao serviço nacional de saúde (NHS) do Reino Unido. As crianças provenientes de contextos desfavorecidos que regularmente participaram do serviço eram mais propensas a ter extrações do que seus pares mais ricas, independentemente da sua experiência de cárie. Partindo do princípio de que um dos objetivos dos serviços odontológicos públicos é reduzir os efeitos das desigualdades sociais sobre saúde bucal, diferentes estudos vêm tentando identificar esses efeitos. Em um destes primeiros estudos, Matos et al (2002), avaliaram a presença de desigualdade entre usuários dos serviços odontológicos públicos, privados e de sindicato de uma amostra representativa de adultos residentes na cidade de Bambuí, MG. Naquela época, os serviços públicos odontológicos, aparentemente não tinham conseguido reduzir as desigualdades sociais com referência à saúde bucal. Por outro lado, Gabardo et al (2008), ao investigarem as associações entre o índice de desenvolvimento humano na cidade (IDH-M), e a duração do tempo de exposição da população à fluoretação de água (intervalo de tempo) com a respectiva média do CPOD de crianças em idade escolar. Olhando para possíveis desigualdades nessas associações, encontraram que nas cidades com um melhor IDH-M, a medida de fluoretação da água havia sido implementada mais cedo. A correlação indicou que locais com um melhor IDH-M tem um melhor CPOD, devido ao provável efeito mediador por estarem recebendo fluoretação há mais tempo. É possível concluir que esta medida de baixo custo é capaz de melhorar o estado de saúde bucal. Contudo, nas áreas brasileiras Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal estudadas, fluoretação parece refletir as desigualdades já existentes 97 de desenvolvimento social. Antunes e Narvai (2010) sistematizaram o conhecimento disponível sobre o estágio atual de efetivação das principais políticas de saúde bucal no Brasil e seu impacto sobre as desigualdades em saúde. São apresentados dados sobre o grau de efetivação da medida de fluoretação das águas e são revisados estudos que avaliaram seu impacto sobre a ampliação da desigualdade na experiência de cárie dentária. A discussão do efeito diferencial dessas medidas propiciou a proposição de estratégias focais (direcionar a fluoretação para as áreas com maiores necessidades), visando reduzir a desigualdade na experiência de cárie no País. Em uma pesquisa de base populacional, conduzida por Rocha e Góes (2007), em Campina Grande, com uma amostra composta por pessoas acima de 18 anos, não foi encontrada associação, após os ajustes, entre residir em uma área coberta ou não pela ESF com relação ao acesso aos serviços de saúde bucal. Este resultado, de certa forma, contradiz os resultados encontrados neste estudo. Em áreas não cobertas pela ESF, podemos identificar uma ampliação da desigualdade. Setores com indicador geral desfavorável detêm também os mais baixos percentuais de acesso. Tem sido demonstrado que indivíduos situados no limite inferior da escala social têm condições bem piores de saúde bucal do que aqueles pertencentes aos estratos mais favorecidos. Os dados da PNAD (2008) apontam para uma melhora dos indicadores quando comparado com os dados da PNAD de 1998. Embora o percentual de 19% da população que nunca consultou um dentista tenha reduzido Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 98 para 12% nestes 10 anos o comportamento das pessoas em relação à saúde bucal, no último ano, ainda se mantém o mesmo, ou seja, as pessoas das classes de rendimento mais elevadas visitaram mais o dentista que os das classes mais baixas. Os resultados obtidos nesta pesquisa confirmam que os 107 setores localizados em áreas cobertas apresentam melhor desempenho quanto ao acesso, ou seja, 67% foram classificados como “alto acesso”. Os setores selecionados para implantação da ESF são, prioritariamente, áreas de risco social e que corresponde a áreas de maior prevalência das principais doenças bucais. A demanda é reconhecidamente, alta. A informação coletada utilizou como critério de inclusão os indivíduos atendidos no serviço odontológicos público, informações sobre outros serviços particulares ou filantrópicos não foram coletados. O fato de termos feito opção pelo agente comunitário de saúde das áreas sorteadas facilitou não só a obtenção, mas contribuiu também para a veracidade dessa informação. Inversamente, os setores localizados em áreas não cobertas apresentam o mesmo percentual, porém, na classificação “baixo acesso” e com o agravante de ter o maior percentual em setores classificados como “desfavorável”. Os critérios de emparelhamento definidos no desenho do estudo garantiram a comparabilidade das áreas, a única diferença estaria em relação à variável principal: ter ou não ESF com SB implantada a mais de um ano. Portanto, os resultados apontam para um possível efeito de uma política pública específica na área de atenção primária sobre a desigualdade no acesso. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 99 Considerações Finais Tem sido bastante discutido na literatura o argumento de que políticas públicas reduzem iniqüidades em saúde e que o acesso a serviços é modulado pelas condições socioeconômicas. O Brasil é, sabidamente, um dos países mais desiguais em distribuição de renda e a influência desse fator na saúde das pessoas tem sido evidenciada por diferentes metodologias e perspectivas. Do ponto de vista do crescimento econômico e distribuição de renda ainda temos um longo percurso, apesar de haver sinais de que estamos nos caminho certo, considerando os informes nacionais sobre redução da pobreza e aumento real nos rendimentos das camadas mais baixas do estrato social. Por outro lado temos uma Política Nacional de Saúde Bucal que defende uma estratégia pública específica (SB-ESF) que conta, atualmente, com um contingente bastante significativo de equipes e que vem sendo avaliada tanto interna quanto externamente sob diferentes aspectos. Desse modo, as análises sobre impacto da intervenção das políticas públicas em saúde bucal na população brasileira precisam se consolidar com a necessária discussão da desigualdade no acesso a serviços de saúde bucal. Referências Bibliográficas 1. Almeida Filho N, Rouquayrol Z. Desenhos de pesquisa epidemiológica. In: Rouquayrol Z, Almeida Filho N. Epidemiologia & Saúde. 6 ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. p.149-78. 2. Altman DG. Practical Statistics for Medical Research. New York: Chapman & Hall/CRC; 1990. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 100 3. Antunes JLF, Narvai PC. 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Monitoramento e Avaliação do Projeto de Expansão e Consolidação da Saúde da Família (PROESF) : Relatório Final do Estudo de Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 101 Linha de Base do Lote Sul. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas, 2006.339p. 12. Gabardo MCL, Silva WJ, Moysés ST, Moysés SJ. Water fluoridation as a marker for sociodental inequalities. Community Dent Oral Epidemol 2008; 36: 103–107. 13. Giovanella L, Fleury S. Universalidade da Atenção à Saúde: acesso como categoria de análise. In: Eibenschutz C, organizadora. Política de Saúde: o público e o privado. Rio de aneiro: Fiocruz; 1996. p.177-198. 14. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Base de dados por setor censitário. CD-ROM. Rio de Janeiro: IBG 2005. 15. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2008: Tabelas completas – atendimento dentário. 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Ministério da Saúde Coordenação de Saúde Bucal, Departamento de Atenção Básica, Secretaria de Atenção à Saúde, Ministério da Saúde. Política nacional de saúde bucal. Brasília: Ministério da Saúde; 2004. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 102 21. Ministério da Saúde, Datasus. Pacto da Atenção Básica 2005. Disponível na Internet em http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/siab/pacto2005/pacmap.htm. Capturado em setembro de 2005 22. Ministério da Saúde. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde/NOB-SUS 96. Brasília: Ministério da Saúde; 1997. 23. Ministério da Saúde. Portaria nº 267. Aprova as Normas e Diretrizes de Inclusão da Saúde Bucal na Estratégia do Programa de Saúde da Família (PSF). Diário Oficial da União 2001; 7 mar. 24. Ministério da Saúde. Portaria nº. 1.444/GM. 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Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2008: Um panorama da saúde no Brasil acesso e utilização dos serviços, condições de saúde e fatores de risco e proteção à saúde. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/panorama_saude_brasil_20032008/PNAD_2008_pdf. Acessado em 15 de outubro de 2010. 30. Roncalli AG, Lima KC. Impacto do Programa Saúde da Família sobre indicadores de saúde da criança em municípios de grande porte da região Nordeste do Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2006; 10 Suppl 3: 297-302. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 103 31. Roncalli AG. A organização da demanda em serviços públicos de saúde bucal: universalidade, eqüidade e integralidade em saúde bucal coletiva [Tese de Doutorado]. Araçatuba: Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; 2000. 32. Silva JB, Barros MBA. Epidemiologia e desigualdade: notas sobre a teoria e a história. Rev Panam Salud Publica [online]. 2002, vol.12, n.6, pp. 375-383. 33. Souza TMS, Roncalli, AG. Saúde bucal no Programa Saúde da Família: uma avaliação do modelo assistencial. Cad Saúde Pública 2007; 23 Suppl 11:27272739. 34. Tickle M, Milsom KM, Blinkhorn AS. Inequalities in the dental treatment provided to children: an example from the UK. Community Dent Oral Epidemiol 2002; 30: 335–41. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 104 Considerações finais As políticas ou os programas têm vida. Nascem, crescem, transformam-se, reformam-se. Eventualmente estagnam, às vezes morrem. Percorrem então, um ciclo vital, um processo de desenvolvimento, de maturação e, alguns deles, de envelhecimento ou decrepitude. Draibe, 2001. p.26 O Brasil Sorridente investiu, de 2003 até 2007, mais de R$ 1,8 bilhão na assistência à saúde bucal dos brasileiros. Foi neste cenário de incentivo financeiro e expansão das equipes de saúde bucal que se criou uma agenda de pesquisas com o objetivo de investigar os principais problemas relativos à saúde bucal, bem como o monitoramento e avaliação de impacto do serviço. Os resultados desta tese foram obtidos, portanto, por meio de um destes editais que foram disponibilizados para a comunidade científica. Este é um estudo de linha base que cumprirá sua função para além da questão levantada pelo pesquisador pela possibilidade, inerente ao assunto, de abrir novos horizontes. A estratégia operacional desenvolvida na pesquisa se mostrou factível, uma vez aceita pelo gestor municipal, por sua característica de poder ser introduzida junto às atividades rotineiras de visita do Agente Comunitário de Saúde, sem alterar, significativamente, suas funções específicas. Outro aspecto relevante é que sua aplicação poderá ocorrer a qualquer momento do processo de implantação do objeto de estudo, no caso, a ESF com SB. É uma possibilidade de monitoramento tanto do Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 105 processo de implantação quanto das metas previstas. Consideramos um recurso possível dentro dos demais recursos de planejamento da gestão local. Esta pesquisa deve ser compreendida como um estudo de linha base, pois o tempo de implantação da estratégia identificada nos municípios é recente (em média dois anos), portanto, o fator tempo pode ser um dos condicionantes dos resultados adversos encontrados para alguns desfechos. O que, a princípio pode ser um fator limitante, deve ser entendido como uma oportunidade de registrar este momento de implantação incipiente para o desenvolvimento de parâmetros futuros. Ao longo da pesquisa foram produzidas reflexões que geraram alguns trabalhos submetidos aos congressos e conferências na área de Saúde Coletiva. Um consolidado destes trabalhos pode ser visto no apêndice. Os primeiros trabalhos produzidos foram relacionados ao Município de Natal por ter sido o município onde se aplicou o estudo piloto e foram realizadas as principais mudanças e ajustes na metodologia. No ano de 2007 foram apresentados três trabalhos, cujos resultados já indicavam, naquela época, desigualdade de acesso ao serviço odontológico público em áreas com e sem intervenção. Apesar de representar um efeito positivo do impacto da ESF com SB neste resultado, posteriormente, como detalhado no primeiro artigo, desaparecia quando analisávamos, em separado, as áreas com presença de uma assistência odontológica pública que chamamos aqui de tradicional, para diferenciá-la da ESF. Nos anos subseqüentes, à medida que mais municípios iam sendo incorporados ao banco de dados, novas análises mostraram um comportamento bastante discrepante entre as áreas com e sem intervenção. Buscamos, paralelamente, Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 106 descrever o perfil sócio demográfico relacionado aos desfechos como, por exemplo, a variável “necessidade de tratamento” que identificou uma associação positiva em relação a ser mulher e pertencer a estrato social desfavorável. Curiosamente, as mulheres, em áreas cobertas pela ESB na ESF, apesar de terem mais acesso, contraditoriamente, referem mais dor de dente do que os homens. Em outra análise sobre a relação entre tratamento de dor de dente e faixa etária foram encontrados avanços na melhoria do acesso, porém restrita aquela faixa tradicionalmente alvo dos programas bucais, as crianças. No caso da variável dor de dente e seu respectivo tratamento em áreas cobertas pela ESF com SB (sem comparar com áreas não cobertas) foi identificada uma associação positiva entre ter tido “dor de dente” com indivíduos residentes em domicílios com renda per capita inferior a R$ 112,50 e cujas mães possuem menos de 6 anos de estudo. No caso do tratamento da dor de dente, também foi encontrada associação positiva com a classe de menor renda, apontando para uma possível equidade no serviço. O modelo de análise correspondeu à expectativa de identificar as razões de prevalências entre as áreas cobertas e não cobertas pela ESF com SB, como pode ser visto no artigo 2. No entanto, reconhecemos que os resultados, como apresentado, são de difícil interpretação. Como já explicitado anteriormente, o estudo ecológico não foi possível pelo número final de municípios que efetivamente concordaram em participar. Tivemos, portanto, que alterar a metodologia de análise na tentativa de viabilizar a comparação entre as áreas cobertas e não cobertas por meio de um índice de classificação geral, como apresentado no artigo 3. A pesquisa trouxe como resposta a questão levantada inicialmente: “em áreas de mesma característica socioeconômica, a implantação das ESF com SB trouxe melhores Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 107 indicadores de agravos e cobertura, comparativamente às áreas sem cobertura da estratégia? A resposta parece simples: dependendo do agravo e de sua respectiva cobertura a que estamos nos referindo, o resultado será diferente. É interessante verificar o fato de que existir uma orientação política única para o País, no caso a ESF com SB, não significa que será, automaticamente, cumprida pelas autoridades locais. O mérito do estudo está em mostrar o quanto, apesar da decisão do nível central, os resultados no curto prazo podem variar em função dos inúmeros percalços no nível local interferindo na operacionalização da Estratégia. Os resultados desfavoráveis encontrados, não invalidam a ESF com SB. A metodologia adotada não permite responder a questão do modo como se deu a implantação em cada contexto. Neste aspecto, as pesquisas qualitativas, particularmente os estudos de caso, poderão contribuir para esse questionamento. Os achados desta pesquisa apontaram para uma diversidade de resultados, indo desde uma ausência de impacto em alguns indicadores a, até mesmo, situações em que o impacto era negativo. Estes resultados os tornam indícios de que a estratégia de implantação da Estratégia e o processo de trabalho eram variáveis importantes a serem investigadas. Novas demandas surgiram: é preciso investigar o modo como as estratégias são implantadas nos municípios. A principal limitação encontrada se refere à dificuldade de captar, somente pela comparação entre o índice de classificação geral obtido pelas áreas cobertas e não cobertas, a influência do modelo que existia “antes” da implantação da ESF com SB. Como mencionado na citação de Draibe (2001) no início deste tópico, as políticas públicas ou programas têm vida. Os resultados aqui apresentados fazem parte de Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 108 um projeto mais amplo de uma linha de pesquisa que, atualmente, se lançou a novos desafios: buscar os componentes explicativos para esses resultados. Para tanto, concorremos a novo edital de financiamento, em 2008. Fomos contemplados para avaliarmos as mudanças no perfil do impacto da implantação da equipe de saúde bucal na ESF em seis municípios com mais de 100 mil habitantes do Nordeste, após dois anos da verificação da primeira avaliação de impacto. Está prevista a análise da influência do modelo de desenvolvimento dos municípios, tanto do ponto de vista socioeconômico, quanto da relação com as políticas públicas de saúde bucal e do processo de trabalho sobre os resultados de impacto nos indicadores. A nova pergunta que se apresenta é: por que em alguns municípios são observados resultados positivos e em outros não, mesmo considerando que a política de saúde bucal apresenta diretrizes e formas de financiamento semelhantes, a partir do modelo municipalista de saúde? Há, portanto, de minha parte, uma convicção de que os estudos sobre avaliações de serviço devam ser desmistificados, desvendados por diferentes linhas de pesquisa, como já vem sendo proposto, e que possam contribuir para a melhoria no impacto dos serviços de saúde bucal. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal Apêndices Apêndice 1 Relação dos municípios selecionados para a pesquisa. Brasil, 2005. Estado Município BA Vitória da Conquista BA População Cobertura ESF (%) 274.618 67,84 Salvador 2.556.429 20,78 CE Caucaia 276.781 69,80 CE Juazeiro do Norte 224.014 58,52 MA Imperatriz 231.397 59,64 MA Codó 114.962 36,01 MA Sao Luís 924.370 24,63 PE Garanhuns 122.188 62,12 PE Caruaru 266.054 51,87 PE Recife 1.461.320 40,61 PE Cabo de Santo Agostinho 160.968 34,29 RN Natal 744.794 61,14 Fonte: COSAB/MS sobre dados do SIAB, 2005. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN 109 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal Apêndice 2 Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN 110 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal Apêndice 2 Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN 111 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 112 Apêndice 3 Produção Científica relativa ao projeto de Avaliação do Impacto da Saúde Bucal na ESF Eventos 2007 Títulos Modalidade Autores 24a Acesso a assistência odontológica pública e fatores associados: estudo de base populacional em Natal-RN Pôster/Anais Brazilian Oral Research v. 21, Supl 1, set. 2007 Pereira CRS, Patrício AAR, Lucena EES, Araújo FAC, Lima KC, Roncalli AG Impacto da Saúde Bucal no PSF sobre o acesso a assistência odontológica Pôster/Anais Brazilian Oral Research v. 21, Supl 1, set. 2007 Araújo FAC, Roncalli AG, Patrício AAR, Lima KC, Pereira CRS Avaliação da prevalência e tratamento da dor de dente em áreas cobertas e não cobertas por ESB/PSF Melhor trabalho categoria POAC, SBPqO Brazilian Oral Research v. 21, Supl 1, set. 2007 Patrício AAR, Pereira CRS, Araújo FAC, Lima KC, Roncalli AG Eventos 2008 Títulos Modalidade Autores 25a Avaliação da prevalência e tratamento da dor de dente em áreas cobertas e não cobertas pela ESB/PSF em São Luís-MA Pôster Brazilian Oral Research v. 22, Supl. 1 set. 2008 Patrício AAR*, Oliveira AGRC, Lima KC, Lucena EES, Pereira CRS Caracterização sócio-demográfica da utilização do serviço odontológico em áreas com e sem PSF no Nordeste Pôster Brazilian Oral Research v. 22, Supl. 1 set. 2008 Pereira CRS*, Patrício AAR, Lucena EES, Araújo FAC, Lima KC, Oliveira AGRC Avaliação do impacto da Saúde Bucal no PSF sobre indicadores de saúde bucal em municípios de grande porte no Nordeste. Pôster Brazilian Oral Research v. 22, Supl. 1 set. 2008 Lucena EES, Patrício AAR, Roncalli AG, Pereira CRS, Lima KC, Araujo FAC Proposta para uma metodologia de avaliação de impacto das ações da equipe de saúde bucal no programa Pôster Pereira CRS, Lima KC, Roncalli AG Impacto da Saúde Bucal no PSF em município do interior da Bahia: acesso e morbidade Pôster Barros SG, Cruz DN, Cangussu MC, Roncalli AG, Lima KC Impacto da Saúde Bucal no PSF sobre indicadores de saúde bucal em municípios de grande porte no estado do Maranhão. Pôster Patrício AAR, Roncalli AG, Lima K C, Pereira CRS, Lucena, EES Avaliação do Impacto da Saúde Bucal no PSF sobre indicadores de saúde bucal em municípios de grande porte no Nordeste Coordenada Roncalli AG, Patrício AAR, Pereira CRS, Lucena, EES, Lima KC Avaliação do impacto da Saúde Bucal no PSF sobre a assistência odontológica em diferentes grupos etários Coordenada Pereira CRS, Patrício AAR, Lucena EES, Lima KC, Roncalli AG Reunião da SBPqO, 2007, Atibaia – SP. Reunião da SBPqO, 2008, Águas de Lindóia – SP. 30 de agosto a 2 de setembro III Mostra Saúde da Família, 2008 – Brasília, DF. XVIII Congresso Mundial de Epidemiologia, 2008, Porto Alegre - RS. Anais do EPI 2008 Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 113 Eventos 2008 Títulos Modalidade Autores XIX Enatespo 2008, João Pessoa – PB. Anais do XIX Enatespo 19 a 21 de junho de 2008 Caracterização sócio-demográfica da utilização do serviço odontológico público de municípios do Estado de Pernambuco Apresentação oral 1 hs Pereira CRS, Lucena EES, Araújo FAC, Lima KC, Roncalli AG Impacto da Saúde Bucal no PSF sobre o acesso à assistência odontológica em municípios de Pernambuco Apresentação oral 1 hs Lucena EES, Pereira CRS, Araújo FAC, Lima KC, Roncalli AG SNPq0_2008 07 a 09 de novembro de 2008 Caruaru-PE Avaliação do impacto da Saúde Bucal no PSF na prevalência da dor de dente em 12 municípios de grande porte no Nordeste Pôster Menção Honrosa Pereira,CRS, Patrício, AAR, Lucena, EE, Lima, K, Roncalli, AG Eventos 2009 Títulos Modalidade Autores Abrasco 15. Associação entre indicadores de saúde bucal e contexto socioeconômico de áreas cobertas 31 de outubro a 04 de novembro pela estratégia saúde da família: estudo ecológico em municípios do nordeste Anais (ISSN14138123) Lucena EES*, Pereira CRS, Lima KC, Oliveira AGRC 26a Reunião da SBPqO, 2009, Águas de Lindóia 16. Prevalência e fatores associados à ocorrência de dor de dente e seu tratamento em áreas cobertas pela Estratégia Saúde da Família no nordeste. Braz Oral Res 2009;23(Suppl. 1):31952 (Proceedings of the 26th SBPqO 324 Annual Meeting) Lucena EES*, Alves RTC, Pereira CRS, Patrício AAR, Lima KC, Oliveira AGRC 26a Reunião da SBPqO, 2009, Águas de Lindóia 17. Acesso ao dentista em áreas cobertas e não cobertas pela ESB/PSF em três municípios de grande porte no estado do Maranhão Braz Oral Res 2009;23(Suppl. 1):31952 (Proceedings of the 26th SBPqO 324 Annual Meeting) Patrício AAR*, Oliveira AGRC, Lima KC, Pereira CRS, Lucena EES XI SNPqO_2009 05 a 07 de novembro de 2009 Int J Dent, Recife, 8(Supl 2): 22-93 Avaliação do acesso ao dentista em áreas cobertas e não cobertas pela ESB/PSF em duas capitais do Nordeste Resumos Patrício, A. A. R. ; Roncalli, AG Lima, K. C. ;; Pereira, CRS. ; Araujo, F. A.C. ; Lucena, E. E. S. I Encontro Sul Brasileiro de Saúde Bucal: Equipes de Saúde Bucal na Estratégia da Saúde da Família 03/10/2009 Camboriú Avaliação do acesso ao dentista em áreas cobertas e não cobertas pelas ESB/PSF em São Luis-MA Pôster Patrício, A. A. R. ; Lima, K. C. ; Roncalli, AG ; Pereira, CRS. ; Lucena, E. E. S. 2ª. Reunião de Pesquisa Científica em Saúde Bucal Coletiva 21/05/2009 Piracicaba/ Unicamp Assessment of the prevalance and treatment of toothache in áreas covered by OHT/FHP in São Luis, Brazil Painel Patricio AAR, Roncalli AG; Lima KC III ENESB/PSF Encontro do Nordeste de Equipes de Saúde Bucal no Programa de Saúde da Família 14 a 16/08/2008 - São Luís - MA As Equipes de Saúde Bucal na ESF e a acesso à assistência odontológica no município de Juazeiro do Norte, Ceará Coordenada Luiz Roberto Augusto Noro; Lucianna Leite Pequeno III Encontro de Odontologia em Saúde Coletiva e Bioética, 2009, Araçatuba - SP. Rev.Odontologia e Sociedade. São Paulo : FOUSP, 2009. v. 11. p. 57-57. Avaliação da prevalência e tratamento da dor de dente em áreas cobertas e não cobertas pela ESB/PSF em duas capitais do Nordeste Pôster Patrício, A. A. R. ; Roncalli, AG Lima, K. C. Pereira, CRS. ; Araujo, F. A.C. ; Lucena, E. E. S. Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 114 Eventos 2010 Títulos Modalidade Autores FDI 2 a 5 setembro de 2010 Avaliação do impacto sobre necessidade de tratamento e dor de dente da ESF com SB em Pernambuco Pôster Pereira CRS*, Lucena EES, Patrício AAR, Lima KC, Oliveira AGRC 27a Reunião da SBPqO, 2010, Águas de Lindóia Desigualdades no acesso ao serviço odontológico público no nordeste Pôster Braz Oral Res 2010;24(Suppl. 1):284-320 Pereira CRS*, Lucena EES, Patrício AAR, Lima KC, Oliveira AGRC Prevalência e fatores associados à morbidade bucal referida e acesso a serviços em população idosa de municípios do Nordeste Pôster Braz Oral Res 2010;24(Suppl. 1):284-320 Lucena EES*, Lima KC, Pereira CRS, Oliveira AGRC, Patrício AAR Odontologia - Avaliação do acesso ao dentista em áreas cobertas e não cobertas pela ESB/PSF em quatro capitais do Nordeste Pôster Braz Oral Res 2010;24(Suppl. 1):284-320 Patrício AAR*, Dourado CRL, Pereira CRS, Lucena EES, Oliveira AGRC, Lima KC, Araújo FAC Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal ANEXO Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN 115 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 116 Anexo 1 Modelo novo do manuscrito de tese e dissertações do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal Carmen Regina dos Santos Pereira – Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde – UFRN 117 Impacto da ESF com ESB sobre indicadores de saúde bucal 118 Referências Bibliográficas 1. 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