COLAÇÃO DE GRAU - 2013.1 - 30\08\2013 “Homens é o que sois! – lembrou-nos, um dia, Charles Chaplin, nos desnudando a todos de nossos cargos, sobrenomes, vaidades, adereços e empáfias. Somos pessoas e não funções – reconhecia o gênio do cinema mudo. Por isso, permiti-me saudar a todos da plateia e da mesa, sem distinções efêmeras, com a palavra da igualdade, da fraternidade e da solidariedade: Companheiras e companheiros, No idos de minha juventude, Edu Lobo, Boal e Guarnieri nos alertavam: “Triste tempo presente Em que falar de amor e flor É esquecer que tanta gente Tá sofrendo tanta dor.” Vestimo-nos do entusiasmo e dos arroubos da juventude e corremos para mudar o mundo. A geração dos hippies queria falar de amor e flor, mas isso era esquecer a dor de tantos. Adotamos um lema que nos distinguisse e gritávamos: “Nós que amamos tanto a revolução!” O Che se tornou nosso símbolo: “Aquele que não é capaz de se indignar contra uma injustiça, em qualquer parte do mundo, não é digno de ser chamado companheiro.” Lutamos no campo e na cidade. Sofremos todos, morreram tantos, continuaram uns, desistiram muitos. Os que foram ficando pelos caminhos não atentaram para as palavras de Ernst Bloch em “O princípio da Esperança”: “O difícil não é ser revolucionário. Difícil é continuar revolucionário depois da vitória da revolução”. No meio de tanta luta, tanta dor e recompensas exíguas, cada pequena vitória que nos sorrisse sabia a “missão cumprida” e com facilidade esquecíamos o jargão: ”A luta continua”! Queridas e queridos graduandos, Por que, em dia de festa e alegria, vos retorno com o tema da dor? Falo como João Cabral: “Falo sempre com o que falo: com as mesmas vinte palavras”. E lembro Belchior: “Na parede da memória, esta lembrança é o quadro que dói mais: apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. E Gonzaguinha conclui cruel: “Não dá pra ser feliz! Não dá pra ser feliz!” Falo porque “um outro mundo” continua sendo apenas uma mera possibilidade. Mas, como sempre o fiz, não quero falar apenas da constatação da dor. E por isso, peço emprestado a Goiás a poesia bonita e terna da doceira Cora Coralina que temperava seus quitutes com o amargo e doce de seus versos de Esperança: “É que tem mais chão nos meus olhos Do que cansaço nas minhas pernas; Mais esperanças nos meus passos Do que tristeza nos meus ombros; Mais estradas no meu coração Do que medo na minha cabeça.” Sim! Por mais que doam as minhas pernas já combalidas, assim como Vandré, “quanto mais eu ando mais vejo estrada”, os mecanismos de opressão se modernizam, se reciclam, se agigantam, nossos avanços são ameaçados e “se eu não caminho, eu não sou é nada”. Se meus ombros carregam tristezas - e as tenho tantas! -, se o medo se renova nos meus pensamentos, me visto cada vez mais de esperança e busco estradas novas no meu coração. É preciso sonhar. É preciso lutar. É preciso mudar. Pedagogia alguma faz sentido se não se fundar na esperança porque a esperança – vós o lembrais – é o ainda-não e o que ainda não é, pode vir a ser. Só o que dá sentido à vida, faz sentido na Educação. É preciso acreditar, pela Esperança, na capacidade transformadora do Homem. Porque o Homem – e eu vos disse que vos cobraria neste dia a quem foi meu aluno ou aluna – é um vir-a-sercada-vez-mais capaz de ação/reflexão transformadora da realidade. Ele é, ele se faz Homem pela sua práxis. Fundai na Esperança a vossa ação pedagógica. Jamais cedei à tentação fácil e costumeira e arraigada nas escolas de uma pedagogia da obediência e do medo que cria homens servis, acomodados, podres, desumanizados e impedidos pelo opressor e por si próprios de crescerem, de serem verdadeiramente homens. A história da humanidade não deve absolutamente nada às pessoas obedientes. Opor-se ao status quo é o primeiro passo de uma Utopia libertadora para construir o Novo e o Diferente. É o primeiro passo para que o ainda-não possa-vir-a-ser. A desobediência é o início de caminho penoso mas eficiente para a mudança de que se nutre a esperança. Não à toa tenha ela sofrido ameaças e castigos nos mitos fundadores do mundo - como nos atesta Erick Fromm. No mito greco-romano da criação do mundo, Prometeu é acorrentado a um penhasco onde os abutres vêm diariamente lhe arrancar as entranhas que se renovam para que o castigo da desobediência se perpetuasse; no mito hebraico-cristão, Adão e Eva são expulsos do Paraíso e condenados a ganhar o pão com o suor de seus rostos por haverem provado da fruta da árvore da ciência do bem e do mal. Mas em um e em outro mito, é aí que o homem se liberta e passa a definir o seu destino com liberdade, sem o que à vida mérito algum lhe caberia. Não tenhais medo da mudança. Nós vivemos porque a mudança existe em nosso sangue, em nossas células e em nossas almas. Mudança é Vida! A realidade é mutável. Lembro a lição – deliciosa lição, do vate português Luiz de Camões: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades Diferentes em tudo da esperança: Do mal ficam as mágoas na lembrança E do bem, se algum houve, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto Que já coberto foi de neve fria E, em mim, converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, Outra mudança faz, de mor espanto, Que não se muda mais como soía.” Mudai. Mudai sempre que preciso. Encarai a vida, a luta, o trabalho pedagógico sempre como um processo de transformação. Somos o inacabado em busca da perfeição – este o desafio que nos dá sentido à vida. Lembro, ainda, outro português, este de novos e mais recentes tempos, Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas Que já têm a forma do nosso corpo... E esquecer os nossos caminhos Que nos levam sempre aos mesmos lugares... É o tempo da travessia... E se não ousarmos fazê-la, Teremos ficado para sempre À margem de nós mesmos...” Tempo da travessia é todo o tempo da nossa vida. E que seja ela guiada pela estrela da Esperança, do ainda-não que pode-vir-a-ser. E que não seja esta uma esperança ingênua e infantil de um Vandré que tinha “certezas e esperanças pra trocar por dores e tristezas”, quando chegasse o dia novo e diferente. O dia não viria só. Nem o seja adolescente e inquieta, como ele preconizava: “fazendo contas pra junto a gente cobrar” na aurora de um dia novo que não viria. Seja ela a esperança adulta de um Vandré mais maduro que aprende e ensina que “esperar não é saber” e “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Construtores e apascentadores da esperança é o que precisamos ser. Ao educador – intelectual orgânico – já vos falei alhures -, compete esta missão. Muitos passarão por vós e, com a certeza de que a neutralidade não existe e de que a educação, por ser um ato humano, é essencialmente um ato político porque se guia por uma concepção de homem, de mundo e de realidade, a vossa intervenção em suas vidas não pode ser a do sacerdote, aquele que doa e conserva o sagrado, aquilo que está posto e definido, a imutabilidade. Esta, aliás, do educador a imagem que tradicionalmente se faz, a de sacerdócio, como desejam determinados governantes. Mas é muito mais que isto. Mais que sacerdote há que ser Profeta. Não a simples distribuição, em partículas, de um currículo e de programas consentidos e limitados. O Profeta vai além, denuncia o status quo, anuncia o Novo, o que não é normal, o não convencional, o que não está colocado no cotidiano, o diferente, o vir-a-ser e aponta caminhos que superem estas distâncias. Lembra, a propósito, Rubem Alves que este é tempo de poucos profetas e numerosíssimos sacerdotes. E sacerdotes são aqueles que compactuam com o poder pela própria assepsia política de sua ação, pelo que se assentam às mesas de honra, enquanto, dissidentes, desobedientes, ousados, verdadeiros, os profetas são mandados aos calabouços. Com clareza, afirmou Roger Garaudy que “o momento profético é um momento necessário de toda pedagogia, bem como de toda ação revolucionária”. Não sejais simples professores transmissores de saber. Tendes vidas em vossas mãos. Sejais educadores na concepção plena do termo. Sejais cuidadores de vidas. Gente não se administra. De gente se cuida. Não eucaliptos plantados em série para o descarte, mas jequitibás que marcam paisagens, marcam vidas, como o afirma Rubem. Quero vos falar ainda da militância da fala. Exercitai esta militância. Ela,sim, é nossa arma, mas para que isto aconteça há que se vestir de coerência a nossa voz. A palavra está nos momentos fundadores de mundo. É o “fiat” do criador no antigo testamento, o de Maria no testamento novo, e o “ide e falai a todos”. Nela a nossa força. Se é verdade, como dizia Paulo, que “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam em comunhão”, é com a fala coerente, calcada na prática, que se constrói esta comunhão. Por isso ela precisa estar indissoluvelmente ligada à nossa prática, guardando a coerência que gera a paixão do fazer. Ainda Rubem nos recorda a Malvina de Jorge Amado inquirida pela mãe sobre seu amor: “O que é um professor na ordem das coisas? Que tem o ensino a ver com o poder? Como podem as palavras se comparar com as armas? Por acaso a linguagem já destruiu e já construiu mundos?” Sim! “No princípio era a Palavra!” Não descurai da vossa Palavra. Seja ela a construtora de mundos novos, diferentes, mais justos, mais humanos, mais honestos, mais felizes e verdadeiros. Sede construtores da nova escola que o povo brasileiro precisa. Antônio Ciço, lavrador do Sul de Minas se pergunta: ”O que é que a escola ensina, meu Deus!” E ele mesmo responde: “Sabe? Tem vez que eu penso que pros pobres a escola ensina um mundo como ele não é. Precisamos de uma escola de reunir, pensar juntos, defender o que é seu, pelo que devia ser... Pra toda gente saber de novo o que já sabe mas pensa que não... dum jeito que pudesse juntar o saberzinho da gente que é pouco, mas não é, eu lhe garanto, e ensinar o nome das coisas que é preciso pronunciar pra mudar os poderes... é o saber que tá faltando pro povo saber.” Essa a escola democrática, popular, real, consistente que precisamos trabalhar para construir, a partir de nossa própria universidade. Uma escola que aponte para o universal a partir do entendimento do local. Uma escola que , localizada na periferia, não seja determinada pelo centro que despreza seus problemas. Há que ter consciência,por exemplo, que o calendário escolar da FECLESC, tal e qual determinam as instruções emanadas de Fortaleza não se coadunam com a logística de transportes do interior. Somos nós aqui que temos de tomar consciência disto e gritarmos: Não! Não podemos esperar que venha de lá a resolução. Não percais de vista a justiça. Combatei as verdadeiras causas das injustiças sociais. Lembro Brecht, o poeta alemão: “A corrente impetuosa é chamada de violenta, Mas o leito de rio que a contém Ninguém chama de violento. A tempestade que faz dobrar as bétulas É tida como violenta. E a tempestade que faz dobrar Os dorsos dos operários na rua?...” Lembro o mestre Paulo Freire: “Inauguram a violência os que oprimem, os que exploram, os que não se reconhecem nos outros; não os oprimidos, os explorados, os que não são reconhecidos pelos que os oprimem como outro.” “Falo sempre com o que falo.” Eu vos quero falar, nesta noite sobre a beleza e o prazer. Vivemos um mundo de feiura e de dor. Um mundo que reprime ou banaliza e ridiculariza os gestos de amor, mas não tem uma palavra sobre a repressão. Um mundo que recebe com flores, no Rio de Janeiro, um presidente americano que nos espiona e declara guerras e explora tantos povos, mas recebe com vaias e insultos, em Fortaleza, os médicos cubanos que vêm salvar vidas. Um mundo de mídia que faz passar uma distribuição de renda mais igualitária como trabalho escravo e defende as consultas caras e a exploração de exames tantas vezes desnecessários que expropriam o trabalhador. Insisto em falar em amor, beleza, prazer, por mais que contra mim haja dedos acusadores. Quero ser, sim, como educador, alguém que se ponha a serviço da libertação de todos. Lembrai “O nome da Rosa”. Alí se retratam os crimes contra os homens perpetrados por uma sagrada inquisição feita em nome do amor de Deus e que envenenava livros para matar frades desobedientes. E que livro era este tão cruelmente proibido, capaz de executar quem se apoderasse dos frutos desta árvore da ciência do bem e do mal! Era a “Estética” de Aristóteles que celebrava a beleza, a alegria e o prazer. Por que isto? Porque num mundo de dor e de tristeza e de tanta feiura, fazer prazer, alegria e beleza são armas revolucionárias, fazem parte das grandes utopias que se opõem ao status quo. E a Utopia é simplesmente o começo de uma viagem que faz a mudança. É a luta com os oprimidos contra a opressão porque a dor, a tristeza e o feio são armas dos opressores pois submetem pela acomodação e pelo medo. A dor, a feiura e a tristeza submetem e acomodam enquanto o prazer, a alegria, e a beleza libertam porque eles sempre hão de querer mais. Mais prazer, mais alegria, mais beleza. E o homem é um vir-a-ser-mais. Queridas e queridos graduandos, “Falo sempre com o que falo”. Quero falar da Utopia. Sim. Da Utopia desprezada pelos opressores. “Sonhos, acredite neles!” – disse Lênin. Ele, porém, nos alerta: ”É preciso sonhar, mas com a condição de crer no sonho, de examinar com atenção a vida real, de confrontar a nossa realidade com nosso sonho e de seguir escrupulosamente a nossa fantasia”. Não basta sonhar. É preciso ter estratégia, é preciso ter rumo certo, é preciso acumular forças e é preciso lutar sempre por nosso sonho. “Falo sempre com o que falo”. É das emoções que vos quero falar. Carregai de emoções e afeto as vossas lutas. Não acrediteis nos discursos assépticos que buscam o objetivismo puro negando o subjetivo. São homens que tendes em vossas mãos e responsabilidades. Não são máquinas. Homem tem tempo, homem tem histórias, homens têm sentimentos, emoções, afetos, desejos, sonhos, alma. “Falo sempre com o que falo”. Falo do Nordeste, do nosso pedaço de Brasil, maltratado, espezinhado, desprezado por tantos governos. Pois bem, até os anos 30 do século atrasado, Norte e Nordeste alavancaram a economia brasileira. Foram os Nordestinos que invadiram o Norte enfrentando as adversidades para buscar a borracha. Foram os nordestinos que apesar dos revezes do clima plantaram o algodão, o cacau, a agave, a cana de açúcar, e a carnaúba de onde advinham as demais divisas de exportação. Do Sudeste só o café. Mas quando Getúlio resolveu industrializar o Brasil - um passo necessário, e o fez utilizando as divisas de exportação advindas do Nordeste, fez isto de Volta Redonda para baixo, esquecendo politicamente o Nordeste e reduzindo seu povo à mão de obra barata que construiu São Paulo, fez Brasília, plantou a primeira agricultura do oeste do Paraná e de Goiás e conquistou o Acre para o Brasil. Acharam pouco e proibiram a exportação e importação diretamente pelo Nordeste, reservando as benesses fiscais para o porto de Santos, fazendo crescer São Paulo. Só após o governo Lula, continuado por Dilma, o Nordeste volta a ser a região que mais cresce no país. Não esqueçamos de lutar por esta libertação, sem o que nosso povo não será feliz. Queridas e queridos graduandos, François de Malherbe, citado por Alfred de Musset e Victor Hugo, escreveu um poema que, dizem, serviu de epitáfio para uma recém nascida chamada Rosa. “ E Rosa, ela viveu O que vivem as rosas: O espaço de uma manhã!” O vosso caminhar, nesta querida FECLESC, também foi o espaço de uma manhã. Quando nem bem esperávamos, a saudade bate à nossa porta e vos leva em suas asas. Ficamos nós aqui, carentes de vossos risos, de vossos choros, de vossas reclamações – muitas justas, outras não -, carentes de vossos sorrisos, dos avanços que nos deliciávamos em perceber. Ides por outros caminhos e nós sedentos de vossos retornos, mas principalmente de notícias de vossas vitórias e mais ainda de vossas lutas. De vós esperamos prática coerente, de vós almejamos fidelidade aos rumos aqui alicerçados, de vós desejamos felicidade. Para vós, para os vossos, para todos. Não vos desejamos sucesso como se fala em outras regiões do país. Dizemos apenas, a cada uma e cada um de vós, com um jeito bem nordestino de ser, orgulhosamente nordestino: “Seja feliz!” A felicidade é muito mais que sucesso. A busca da Felicidade é busca de Libertação, de plenitude. Ela não cai do céu de repente, ela não é meta alcançada; ela é conquista e reconquista de cada dia. E ouso parodiar o mestre: Ninguém faz feliz ninguém, ninguém se faz feliz sozinho, os homens só são felizes em comunhão. “O espaço de uma manhã”! Como foi intenso, muitas vezes sofrido, o espaço deste vosso alvorecer. Quantas vindas em ônibus não apropriado para longas viagens, às vezes de até 150 km de distância, para esperar um professor que só vai assumir no fim do semestre, por falta de planejamento de quem sabe que não se faz concurso do dia pra noite. Quanto tempo esperando, em um semestre, um novo professor que vai chegar faltando um ou dois meses para o final das aulas quando se sabe que, diferente de Fortaleza, aqui se precisa de um transporte que não vai existir nas férias! Quanto tempo perdido de aula à noite por um horário cortado pelos motoristas dos ônibus e os alunos de outras instituições sem que os responsáveis por isso esbocem a mínima reação! Como é difícil estudar apenas com livros dos anos 80 porque a UECE que ganhou desta comunidade um prédio mobiliado, pronto e equipado com biblioteca atualizada trinta anos atrás, teve dinheiro para construir e equipar prédios e bibliotecas de outras faculdades, mas não tem recursos para atualizar a nossa. E chegamos ao absurdo de doação de clássicos, às vezes raros, por falta de estantes. Por falta de estantes condenou-se ao anonimato uma hemeroteca criada pelo esforço de tantos alunos e professores. E o que dizer, diante disto, de uma reforminha que merece placa com tamanho destaque que a comunidade de Quixadá que tudo fez , jamais mereceu. Chega de ser patinho feio! As comunidades de Quixadá e do Sertão Central não querem placa. Quixadá e todo o Sertão Central merecem e exigem respeito. E repetindo a Bíblia: “Se nós nos calarmos, as pedras falarão!” Os monólitos falarão mais fortes. Não estamos em situação em que possamos ceder verbas de extensão, não estamos em situação em que possamos ceder para o CVT instalações que foram conseguidas pelas lutas de estudantes, professores, funcionários e comunidade. Nossos cursos de Química, Física e Botânica precisam de laboratórios. Exigem laboratórios. Não dá mais para dar aula em corredores e ao relento como fiz no semestre passado, enquanto, lá no fundo, silenciosas, salas dormem com o vazio. Quanto vivestes no espaço de uma manhã! Sair do trabalho para a aula, muitos viajando quilômetros de distância, para enfrentar a falta de um restaurante universitário que todos os candidatos a reitor que por aqui passaram prometeram, não é justo. Sei que a atual administração ainda não teve tempo suficiente de nos atender, mas vamos continuar lembrando porque se eu não falar, as pedras falarão. Que, pelo menos, não o façam na minha consciência de educador que se recusa a ser sacerdote e opta por ser profeta. O espaço de uma manhã, mas de uma manhã intensa é o que celebramos agora. Manhãs de dias alegres e noites tristes. Manhãs de lutas, agora coroadas. E, apesar de tantos percalços, aqui chegais vitoriosos. Queridas e queridos graduandos, Há que falar de vossos pais, de vossos parentes, esposos, esposas, filhas, filhos, namoradas e namorados. A falta que sentiram de todos vós, o que enfrentaram para que esta vitória de hoje se tornasse realidade, os duros trabalhos, a superação das faltas, a dor que machuca sempre compensada pelo carinho que encoraja. Estais aí. Vitoriosos. Prontos para novas batalhas. É hora de coroar suas lutas, com a certeza, saibam eles de que “fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas”. Professores, funcionários, todos que colaboraram com esta luta exultam com este momento e depositam, em vossas mãos, novas esperanças de um mundo mais justo, mais honesto, mais humano e mais feliz. Esta vitória é vossa. Orgulhai-vos dela. Superastes muito mas conquistastes, não sem lágrimas, vossos sonhos. Fazei como o velho Timbira de Gonçalves Dias: “Corram livres as lágrimas que choro, Estas lágrimas, sim, que não desonram.’ E, a par com meus parabéns pela grandeza e a felicidade deste momento, o agradecimento pela alegria e a dignidade que me concedestes, 30 anos depois da realização de um sonho que se chama FECLESC, vos falar estas últimas palavras em nome de nossa Faculdade. Parto feliz por ver, hoje, aqui, concretizado o que foi um grande sonho perseguido e que tantas marcas me deixou no corpo e na alma. Criei a Faculdade Aberta do Brasil – UAB – e sei o que ela significa para o país, mas ela não me fala com tanto carinho na alma como a FECLESC. Foi Quixadá muito especialmente a FECLESC, que me deu “régua e compasso” para tudo que fiz por aí. Nada como a FECLESC, como vós e tantos que já partiram, me acaricia tão suave e terno o coração. Muito obrigado. Queridas e queridos graduandos, Como em um copo pleno de água onde não cabe mais uma gota sequer, ainda cabe com leveza uma macia pétala de rosa, eu vos entrego com carinho e afeto, para lembrança deste dia e guia dos que virão um poema que criei: Vanguarda Quem vai na frente Não vê caminho; Cai no buraco, Pisa no espinho. Pés machucados, Olhar dolente, Mãos calejadas - quem vai na frente. Quem vai na frente Não vê estrada; Em plena mata, Abre picada. Cavando a terra, Joga a semente. Não colhe flores Quem vai na frente. Quem vai na frente Não tem asfalto, Não tem conforto; Só sobressalto. Planta e não colhe, Luta e não vence, Sofre e não canta... Quem vai na frente. Mas abre estrada, Planta caminhos, Buracos tapa, Arranca espinhos E deixa as flores Quem sempre faz Feliz e alegre Quem vem atrás. Queridas e queridos graduandos, De tanto ir na frente, vos deixamos algumas flores. Ide na frente e semeai. Plantai um jardim. Deixai flores aos que virão. Beijos no coração. Luiz Oswaldo Sant’Iago Moreira de Souza