Coluna do maddog CORPORATE E se o Windows fosse... Se o Windows fosse um software livre, maddog o usaria? F iz recentemente um vídeo para a empresa 4Linux, em São Paulo. Recebemos algumas perguntas ao vivo e respondi o máximo que pude, mas algumas ficaram sem resposta por causa da falta de tempo. Após a conferência, o presidente da empresa, Marcelo Marques, me mandou uma pergunta de um jovem estudante – Lucas Schenkel Schieferdecker – e me pediu para comentá-la. A pergunta era: “Se o Windows também fosse Software Livre, você o usaria?”. que não limitasse a forma como eu uso o software. Acredito que essa liberdade é incorporada pela GPL. Alguns argumentam que a GPL é mais restritiva que a BSD, mas Lucas perguntou o que seria necessário para que eu usasse o Windows, e meu primeiro critério foi que o Windows fosse livre sob a GPL, e não apenas Código Aberto. Não me importo em pagar por software. Já comprei vários. Como resultado da minha formação (e da minha natureza), comprei poucos serviços de software, pois geralmente posso escrever ou modificar o software de que preciso para fazer meu trabalho, e sistemas operacionais como Unix e GNU/Linux me oferecem as ferramentas de que preciso para tal. Acho que os autores de softwares têm o direito de determinar o que eles farão com o software e, se quiserem vendê-lo como produto e eu achar que o programa atende minhas necessidades, posso pagar por ele. Porém, licenças restritivas geralmente reduzem o valor do software para menos de zero, e como eu acredito em seguir licenças, não uso seus produtos. A segunda consideração sobre usar ou não o Microsoft Windows tem relação com seu valor. Infelizmente o Windows tem um valor muito pequeno porque é, na maior parte, apenas um sistema operacional; ele não vem com compiladores e programas realmente úteis. Muitos dos programas que vêm em computadores novos são apenas uma forma de os desenvolvedores de software proprietário convencerem você a comprar extensões de seus softwares gratuitos. Após comprar o resto dos softwares para tornar o sistema realmente útil (por exemplo, Microsoft Office, Os autores de softwares têm o direito de determinar o que eles farão com o software e, se quiserem vendê-lo como produto e eu achar que o programa atende minhas necessidades, posso pagar por ele. Em primeiro lugar, acho que preciso definir o que eu penso quando digo Software Livre. Neste caso, não é o que se define como Código Aberto ou Open Source. Eu usei código aberto durante muitos anos em formas não livres do BSD Unix e outros sistemas operacionais cujos distribuidores não precisavam disponibilizar o código-fonte. Vários desses softwares eram muito bons, mas eu acabava precisando dos fontes para corrigir um problema ou fazer alterações, e esses fontes não estavam disponíveis. Para eu cogitar usar o Windows, minha primeira exigência seria de que o software fosse verdadeiramente livre, com o código-fonte disponível sob uma licença 32 http://www.linuxmagazine.com.br Maddog | CORPORATE Adobe Photoshop e programas multimídia), você provavelmente já gastou centenas ou milhares de reais por computador. Supondo que esses programas fossem livres, eu não me importaria de comprar uma cópia deles, mas eu gostaria da possibilidade de eu mesmo mantê-los e estendê-los, ou até mesmo fazer uma cópia para usá-los temporariamente em outro computador sem ativar montes de softwares de prevenção de pirataria. O GNU/Linux, por outro lado, me oferece todos os programas de que preciso para fazer minhas tarefas, com mais softwares surgindo diariamente. Portanto, meu segundo critério seria de que a maioria dos – senão todos – softwares que rodassem no Windows (em particular aqueles de que preciso) também fossem livres. A terceira consideração é mais uma questão pessoal: eu gosto de várias interfaces para usuários finais. Não me importo em aprender uma nova interface ou um programa de linha de comando se isso me ajudar a fazer minhas tarefas. Muitas pessoas fogem da linha de comando e preferem a interface gráfica em sistemas Linux Magazine #52 | Março de 2009 como o Windows. Para eu usar produtos Microsoft, eu precisaria de uma interface completa e rica em linha de comando que integrasse o sistema. Um fator final para mim seria relacionado à qualidade. Eu trabalhava numa empresa que produzia software e conheço as dificuldades inerentes à criação de produtos de qualidade que atendam às necessidades de milhões de clientes. Também entendo as questões a respeito de analisar, testar e distribuir correções de segurança, e prefiro tomar sozinho as decisões de quais correções aplicar e quando aplicá-las. Na maioria dos casos, isso também requer o código-fonte. Eu usaria o Microsoft Windows se ele fosse um software livre? Talvez no passado, mas agora já passou essa hora. Tenho tudo de que necessito em meus atuais softwares livres, e a Microsoft precisaria fazer algo realmente espetacular para me fazer usar seus produtos. n Jon ‘maddog’ Hall é presidente da Linux International, instituição internacional dedicada a promover o Linux e o Software Livre e de Código Aberto. Maddog viaja o mundo ministrando palestras e debatendo com decisores sobre o uso do Software Livre em âmbito tanto corporativo quanto comunitário. 33