Garimpo Bom Futuro: extração de cassiterita e impactos ambientais Mauricio Jonas Weirich Urban1, a, Elias Alves Bonfim Neves 1,b, Mayara Kitielle Borba Armini 1,c , Joseane dos Santos Soares 1,d. 1 a Graduação em Química - Licenciatura [email protected], b [email protected], c [email protected] d [email protected] Introdução A exploração de recursos naturais nas atividades de mineração provoca grandes impactos ambientais. A alteração da paisagem, contaminação do solo e da água causados pelos resíduos deixados pela exploração do garimpo são visíveis. (SILVA, 2007). Propõe-se neste trabalho relatar a experiência didática vivenciada em uma visita técnica realizada ao Garimpo Bom Futuro, em uma unidade de extração de minério pertencente à empresa Coopersanta, localizada no Distrito de Bom Futuro, município de Ariquemes, no estado de Rondônia, Brasil. Esse momento teve grande importância por proporcionar conhecimentos relacionados à extração, separação e fundição da cassiterita, principal minério manufaturado no estado de Rondônia (CRUZ, 2015). Além disso, os impactos ambientais gerados pelas ações no garimpo são de grande interesse, onde se observa que na busca pelo estanho, os ambientes naturais foram transformados em um aglomerado de sistemas mecânicos complexos, com utilização maciça de veículos e máquinas pesadas, resultando em sistemas avançados de industrialização do minério (AZEVEDO, 2002). Em contraponto à rede complexa de processamento da cassiterita da empresa, ainda existem na região mais de três mil famílias que vivem em regime de subsistência familiar, dependentes do garimpo, através da extração manual rudimentar do minério, essas famílias são denominadas requeiras. No distrito do Garimpo Bom Futuro, são constantes as disputas que ocorrem entre moradores e a cooperativa, uma vez que a empresa é detentora dos direitos sobre a exploração das terras que geram conflitos, através de duas concessões de extração, emitidas por tempo indeterminado, datadas de 1991 (MARQUES, 2015). Revista Científica Química Geral (online) 1ª EDIÇÃO, VOLUME 1 - ARTIGOS CIENTÍFICOS - 2015 Objetivos Este trabalho tem por objetivo associar os conhecimentos teóricos adquiridos durante as graduações às atividades realizadas no ambiente da indústria mineradora, contribuindo diretamente na formação profissional, bem como, integrar conceitos teóricos de forma interdisciplinar e transversal. No sentido de desenvolver o senso crítico-reflexivo e o espírito proativo, fazendo com que os leitores compreendam e avaliem criticamente os aspectos sociais, tecnológicos, ambientais, políticos e éticos relacionados às aplicações da Química na sociedade. Metodologia Neste estudo, os autores utilizaram preponderantemente a pesquisa básica estratégica, ou seja, direcionada à obtenção de novos conhecimentos relacionados ao garimpo (GIL, 2010). Os dados foram obtidos na empresa Coopersanta, localizada no município de Ariquemes-RO, especificamente na área de extração mineral denominada de Garimpo Bom Futuro, através de visita técnica que ocorreu no dia onze de outubro de dois mil e quatorze (11/10/2014). Na referida visita técnica, verificaram-se os processos que ocorrem durante a transformação do minério cassiterita em estanho puro, com a ajuda de técnicos do quadro de funcionários da Coopersanta. Sendo esse assunto de grande importância, buscou-se na literatura existente complementação teórica do sistema verificado. Para isso, foram utilizados mecanismos de buscas presentes em bases de dados online e livros. As informações obtidas foram expressas criteriosamente, com o intuito engrandecer a literatura existente acerca do tema. Relato de experiência A Coopersanta faz parte do grupo Coopermetal, uma organização cooperativista de mineração produtora de estanho-metal Grau A. Tem como missão a produção de estanho para atender empresas dos mercados interno e externo. No ambiente no qual são realizadas as extrações do minério, pode-se verificar um grande fluxo de veículos de carga. Segundo o técnico de segurança da Coopersanta, Alex Ota Barreto, em um veículo caçamba de médio porte carregado, Revista Científica Química Geral (online) 1ª EDIÇÃO, VOLUME 1 - ARTIGOS CIENTÍFICOS - 2015 utilizado pela empresa, é possível obter de 10 a 15 kg de cassiterita. Além do transporte de grandes quantidades de terra, observa-se a presença de requeiros, trabalhadores manuais, que realizam a atividade de extração de modo esmiuçado, que antes das máquinas extraem quantidades grandes do minério. Esses trabalhadores não têm vínculo empregatício com a empresa. Os requeiros retiram manualmente a cassiterita, contida em percursos do mineral, posteriormente sobem em motocicletas transportando-a em sacos, cada qual contém de 5 a 8 kg da cassiterita, já livre de terra. A cassiterita misturada à terra do garimpo é repassada para a sede da empresa - localizada fora da área de extração - na qual são realizados experimentos para avaliar o teor de mineral presente na amostra, sua pureza e qualidade do mineral. Cada batelada do estanho é passada para um quarteador, aparelho utilizado para separar a amostra, que recebe dez toneladas de cassiterita, realizando várias divisões, até chegar-se a uma amostra de 50 g, utilizada em diversas análises referentes ao estanho. Para análises imediatas, no local de extração, a empresa conta com espectrômetro. Ele é um aparelho que demonstra informações importantes, momentaneamente, para a produtividade da indústria. Os dados obtidos retornam para a metalúrgica permitindo aos operadores do forno determinar a quantidade de carvão vegetal necessária nas reações que ocorrem no forno. O carvão tem imprescindível utilização, pois facilita as reações, agindo como agente redutor sobre o estanho, mesmo assim para facilitar a reação são utilizados, por forno, dois eletrodos, de 14 polegadas, feitos de grafite. O processo de redução é realizado a cada duas horas, na reação de fundição da cassiterita são utilizados carvão e calcário calcítico, que é uma rocha, usada em blocos de aproximadamente 5 cm, com baixa densidade, presente em Minas Gerais, inclusive em Rondônia, porém a principal fonte da rocha é o estado de Mato Grosso. O calcário calcítico facilita a ocorrência das reações, pois aumenta a temperatura durante os processos envoltos (JÚNIOR, 2014). Durante a fusão do estanho atingese a temperatura de 1.200 graus Celsius no forno. Por isso, ele é revestido com uma pasta especial, para suportar as reações. A escória, resíduo da fundição do minério, é retirada do forno ainda em forma líquida, que contém 20% de estanho, sendo britada, ou seja, reduzida em pequenas Revista Científica Química Geral (online) 1ª EDIÇÃO, VOLUME 1 - ARTIGOS CIENTÍFICOS - 2015 partes. Devido à escória ter enorme porcentagem de estanho, os operadores colocam-na novamente ao forno, com o intuito de obter maior aproveitamento. O estanho puro comercializado pela Coopersanta segue diversas normas, tendo destaque a American Society for Testing and Materiais (ASTM). Por seguir tais recomendações o produto é comercializado com menos de 500PPM de chumbo; sendo considerado de alta qualidade. Ao final dos processos obtém-se como resultado, o almejado, estanho, com uma pureza de 99,98%, exportado para diversos países, além do consumo interno do Brasil. É utilizado em diversas áreas industriais, tais como eletrônica, siderúrgica, alimentícia, automobilística. Considerações finais Pôde-se notar que as ações do homem afetaram negativamente o meio ambiente com as ações garimpeiras, deixando um rastro de modificações naquela região. Nisso, cabe à empresa e aos requeiros contribuírem para um desenvolvimento sustentável, de forma a garantir às gerações futuras a subsistência de suas necessidades básicas. Deve-se levar em conta a capacidade de sustentação, conforme defende Mihelcic (2015), os recursos são limitados frente ao tamanho de uma população composta por uma resistência ambiental. Têm-se ainda, os avanços tecnológicos que podem ser utilizados como solução para os problemas ambientais de forma a resolver questões como diminuição ou dificuldade de extração de recursos, levando-nos a um desenvolvimento sustentável (MIHELCIC, 2015). Ressalta-se, que por conta da presença de assoreamentos nos cursos híbridos, poluições no subsolo, desmatamentos, turbidez das águas, fuga de animais silvestres, entre outras alterações drásticas no ambiente, a existência de estigmas que provavelmente nunca serão cicatrizadas (FENILI, 1992). REFERÊNCIAS AZEVEDO, Adalberto Mantovani Martiniano de; DELGADO, Célio Cristiano. Mineração, Meio Ambiente e Mobilidade Populacional: um levantamento nos estados do Centro-Oeste expandido. XIII Encontro da Associação Brasileira de Revista Científica Química Geral (online) 1ª EDIÇÃO, VOLUME 1 - ARTIGOS CIENTÍFICOS - 2015 Estudos Populacionais. Ouro Preto: Minas Gerais, 2002. Disponível em: http://www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2002/GT_MA_PO30_Azevedo _texto.pdf. Acesso em: 19 out. 2015. CRUZ, Montezuma. É de Rondônia quase a metade da cassiterita do País. Rondônia: SECOM, 2015. Disponível em: http://www.rondonia.ro.gov.br/2015/01/36718/. Acesso em: 30 out. 2015. FENILI, C.; WEXLER, S. 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Acesso em: 24 out. 2015. SISTI, Cristina. Aplicação de diferentes metodologias na preparação de matrizes orgânicas para a determinação voltamétrica de elementos traço. São Paulo: IPEN, 2011. Revista Científica Química Geral (online) 1ª EDIÇÃO, VOLUME 1 - ARTIGOS CIENTÍFICOS - 2015