Revista Científica ISSN 2179 6513 AMAZÔNIC A Faculdades Integradas do Tapajós Ano 3 Nº 6 Revista Científica ISSN 2179 6513 AMAZÔNIC A Faculdades Integradas do Tapajós Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Biblioteca Ubaldo Corrêa – Santarém/Pa PERSPECTIVA AMAZÔNICA-Revista de Publicação Acadêmica da FIT. Santarém - Pará: FIT,v.6, n.3, 2013. xxp . Semestral ISSN 2179-6513 1. Estudos Multidisciplinares. 2. Amazônia. 3. Faculdades Integradas do Tapajós-FIT. CDD 050 Selma Mª de Souza Duarte - Bibliotecária - CRB2- 1096 “Contribuir para o entendimento aprofundado das questões amazônicas nos diversos campos do conhecimento mediante a divulgação de produção científica local que possa subsidiar as atividades acadêmicas e práticas tendo em vista o estudo da Amazônia para o progresso da humanidade e o aumento da qualidade de vida da população Amazônica”. Escopo e Foco A revista Perspectiva Amazônica publica trabalhos teóricos e teórico-empíricos nas seguintes modalidades: artigo original, artigo de revisão, resenha, relato de caso e ensaio, em qualquer área do conhecimento e preferencialmente que tenham relação com a região Amazônica. Público alvo O público-alvo é constituído principalmente de profissionais e estudantes da academia amazônica e brasileira, e, paralelamente, de todas as pessoas interessadas nas questões da Amazônia nos diversos campos do conhecimento. Requisitos Os artigos originais, artigos de revisão, resenhas, relatos de caso e ensaios submetidos à apreciação da revista “Perspectiva Amazônica” devem ser inéditos, nacional e internacionalmente, não estando sob consideração para publicação em nenhum outro veículo de divulgação. Trabalhos publicados ou em consideração para publicação em anais de congressos podem ser considerados pelo Conselho Editorial e pelos Avaliadores, desde que estejam em forma final de artigo. Os artigos e documentos podem ser redigidos em língua portuguesa, inglesa ou espanhola. Para serem publicados, os trabalhos deverão adequar-se às normas para publicação da revista e serem aprovados pelos Avaliadores. PERSPECTIVA AMAZÔNICA Missão Conselho Mantenedor Paulo Roberto Carvalho Batista Presidente Antônio de Carvalho Vaz Pereira Vice-Presidente Ana Paula Salomão Mufarrej Edson Raymundo Pinheiro de Sousa Franco Etiane Maria Borges Arruda Marlene Coeli Vianna Direção Geral da FIT Helvio Moreira Arruda Direção Financeira William José Pereira Coelho Direção do Centro de Estudos Sociais Aplicados Ana Campos da Silva Calderaro Direção do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde José Almir Moraes da Rocha Editor Responsável (Coordenação de TCC e Pesquisa) Gabriel Geller Conselho Editorial Ana Campos da Silva Calderaro Gabriel Geller Helvio Moreira Arruda José Almir Moraes da Rocha Concepção gráfica e Coordenação Gráfica Publicittá Agência de Comunicação da FIT Thais Helena Medeiros Capa Lígia Augusta Aluna Curso de Publicidade e Propaganda da FIT Foto da capa Arquivo THMedeiros A imagem mostra a massa da farinha após sair do tipiti (cesto cilíndrico e longo tecido de tala em que se espreme a massa da mandioca), ainda dentro da gareira (barca de madeira onde se coloca a massa da mandioca). Diagramação Juliana Azevedo Impressão: Gráfica Global Há três anos, no segundo semestre de 2010, nossa Faculdade ainda não tinha um periódico científico regular, o que passou a ser um desafio para a Instituição. Com a colaboração de abnegados professores e gestores da Educação Superior, publicamos a primeira edição da Revista Perspectiva Amazônica em Janeiro de 2011, que agora é reconhecida nacionalmente. Desde o início desta jornada as conquistas foram grandes, porém ainda estamos longe do que temos como visão de futuro para a pesquisa e a publicação científica no Tapajós. A construção deste edifício é lenta, mas está fundada em bases sólidas que sustentarão o cumprimento da missão da Perspectiva Amazônica ao longo dos anos vindouros. A atribuição de conceito no sistema Qualis foi mais um passo adiante nesta caminhada. Agora precisamos subir a escada da qualidade em busca, no longo prazo, do conceito A! Gabriel Geller Editor Geral Revista Perspectiva Amazônica EDITORIAL A Revista Perspectiva Amazônica, nesta sexta edição, pode se orgulhar de já estar incluída no mapa das publicações científicas brasileiras, com atribuição de conceito no sistema Qualis, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. AVALIADORES · · · · · · · · · · · · · · · · · · · Alexandre Rodrigo Batista de OliveiraFIT/UEPAMestre20000006. Ciências Biológicas; 40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências) Ana Karine Albuquerque de00005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências) Alves Brito, FIT, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas Edivaldo da Silva Bernardo, FIT, Doutor, 80000002. Linguística, Letras e Artes Francisco Edson Sousa de Oliveira, FIT, Doutor, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas; 70000000. Ciências Humanas; 80000002. Linguística, Letras e Artes; 90000005. Multidisciplinar (Sociais e Humanidades) Gabriel Geller, FIT, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas Hipócrates Menezes Chalkidis, FIT, Mestre, 20000006. Ciências Biológicas; 40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências) José Almir Moraes da Rocha FIT/UEPA/UFOPA,Doutor, 20000006. Ciências Biológicas; 40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências) José de Lima Pereira, FIT, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas Lidiane Nascimento Leão, UFOPA, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas; 70000000. Ciências Humanas; 90000005. Multidisciplinar (Sociais e Humanidades) Mara Rejane Miranda de Almeida,FIT, Mestre, 80000002. Linguística, Letras e Artes Maria Irene Escher Boger, FIT, Doutora, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas; 70000000. Ciências Humanas; 80000002. Linguística, Letras e Artes; 90000005. Multidisciplinar (Sociais e Humanidades) Marla T. Barbosa Geller, CEULS/ULBRA , Mestre, 10000003. Ciências Exatas e da Terra (Computação); 30000009. Engenharias Martinho Leite, FIT, Mestre, 10000003. Ciências Exatas e da Terra (Computação); 30000009. Engenharia Maura Cristiane e Silva Figueira, FIT, Mestre, 40400000. Enfermagem Raimunda Nonata Monteiro, UFOPA, Doutor, 50000004. Ciências Agrárias; 60000007. Ciências Sociais Aplicadas Robinson Severo, UFOPA, Doutor, 50000004. Ciências Agrárias Rodrigo Tenório Padilha, FIT, Mestre, 50500007. Medicina Veterinária Rubens de Oliveira Martins, Ministério da Ciência e Tecnologia, Doutor, 7000000. Ciências Humanas Síria Lissandra de Barcelos Ribeiro, FIT, Doutora, 20000006. Ciências Biológicas; 40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências) Metodologia de Impactos Sociais na Pesquisa Agropecuária: Aplicação a Partir de uma Experiência de Pesquisa Participativa no Município de Igarapé-açu, Pará 10 Mônica Carvalho; Carlos Douglas S. Oliveira A Produção de Artesanato como Motivação para a Fundação da Terra Indígena Beija-flor 17 Aureliano Marques Pinheiro Os Fundamentos da População Santarena na Análise do Crédito: uma Amostra em dois Bairros de Santarém-PA Aurecley Gomes da Silva; Francisco Edson Sousa de Oliveira Comunidades Ribeirinhas na Amazônia: Relato de Experiência Franciane de Aguiar Santana A Educação: Razão da Inteligência Grega Edivaldo da Silva Bernardo 35 47 57 SUMÁRIO ciências humanas e sociais aplicadas ciências biológicas e da saúde Estudo de Métodos de Coleta de Mosquitos (Diptera:culicidae) Alternativos ao de Atração Humana Paoola Cristina Bezerra VieirA; Inocêncio de Sousa Gorayeb A Interferência do Estresse na Qualidade de Vida do Profissional de Enfermagem Jeyse Aliana Martins Bispo; Domingas Machado da Silva; Eloane Hadassa Sousa Nascimento; Jacqueline Silva dos Santos Uso do Plasma Rico em Plaquetas (PRP) Associado a Fisioterapia como Recurso Terapêutico nas Lesões Musculares Flavio Tavares Freire da Silva; Giovanni Gustavo Gomes Barros; Eduarda Estefa; Mendonça Pinto; Kelly Cristiane do Socorro Ferreira Barbosa; Maria Paula Martins do Espirito Santo 64 79 85 ciências tecnológicas Controle de Fluxo para Provisionamento de QOE em Rede LTE Eric A. Diniz; João Wagner L. Miranda; Karleno R. Ribeiro; Ananias P. Neto VRML e Javascript: Integração de Linguagens para Criar Matrizes de Objetos Tridimensionais em Tempo de Execução Rafael Brelaz Normas para Publicação 103 114 125 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.10-16 Metodologia de Impactos Sociais na Pesquisa Agropecuária: Aplicação a partir de uma Experiência de Pesquisa Participativa no Município de Igarapé Açu, Pará Mônica C. Carvalho* Carlos Douglas S. Oliveira** RESUMO No início da década de 2000, foi conduzida uma pesquisa sobre metodologia de impactos sociais na pesquisa agropecuária, tendo como experiência a pesquisa participativa. A pesquisa teve como objetivo principal, aplicar a metodologia participativa com visitas a campo, reuniões, acompanhamento e discussão dos resultados. O trabalho apresenta os elementos importantes para o desenvolvimento de trabalhos dessa natureza, ou seja, P&D no âmbito de projetos agropecuários junto à agricultura familiar, bem como sua aplicação, seguida de uma síntese dos resultados obtidos na avaliação dos impactos diretos do projeto Pimenta Longa, isto é, impactos de primeiro nível, que na classificação de Bonacelli e Marciel (2000) é quando os agentes impactados estão diretamente ligados com a instituição que promove tais impactos. Para melhor visualização, os impactos foram classificados como: impactos positivos – aqueles que geram benefícios aos agentes impactados (agricultores e/ou comunitários) e impactos negativos – aqueles que não conseguem promover benefícios ou satisfação aos agentes impactados. Palavras-chave: Metodologia de impactos sociais, metodologia participativa, agricultura familiar ABSTRACT In the early 2000, was conducted a research on methodology of social impacts on agricultural research, participatory research experience. The survey aimed to apply the participatory methodology, with field visits, meetings, monitoring and discussion of the results. The paper presents the key elements in the development of works of this kind, i.e. P&D in agricultural projects near the family farm, as well as its application, followed by a summary of the results obtained in the evaluation of the project's direct impacts long pepper, i.e. first-level impacts, sorting of Bonacelli and Marciel (2000) is impacted when agents are directly linked with the institution that promotes such impacts. For better visualization, the impacts have been classified as: positive impacts – those that generate benefits for impacted stakeholders (farmers and/or community) and negative impacts. Key words: Methodology of social impacts, participatory methodology, family farms *Socióloga , Mestre em Planejamento do Desenvolvimento pela UFPA/NAEA. Professora Titular I das Faculdades Integradas do Tapajós (FIT). [email protected] ; [email protected] **Agrônomo, Doutorando em Desenvolvimento Rural pela UFRGS/PGDR. Bolsista Capes. [email protected] 10 ¹ Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.10-16 Introdução O trabalho foi desenvolvido no início da década de 2000, no âmbito de um projeto de pesquisa e desenvolvimento (Projeto Pimenta Longa) coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental em comunidade de agricultores familiares no município de Igarapé Açú, Pará, situado no território Nordeste Paraense. No entanto, os dados são relevantes haja vista que este foi o único trabalho realizado no âmbito desse projeto, com foco nos impactos sociais da pesquisa agropecuária. A demanda em realizar um estudo sobre o impacto social da pesquisa agropecuária, bem como uma metodologia¹, surge especialmente no âmbito da cooperação internacional, sobretudo a inglesa, que neste período ainda tinha uma forte atuação na Amazônia, visando o fortalecimento da agricultura familiar, com base em sistemas de produção sustentáveis. Por outro lado, a cobrança de instituições financeiras de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)² em relação ao retorno social da pesquisa agropecuária é cada vez mais forte, seja devido a falta de preocupação com esta questão, especialmente na Amazônia, seja também devido ao fato dos recursos públicos voltados às ações sociais estarem cada vez mais escassos. Diante dessa perspectiva, o desafio está em empregar tais recursos de maneira eficaz, gerando benefícios concretos à sociedade. Benefícios estes que consigam ser sustentáveis, ou seja, que tenham ação prolongada no processo de desenvolvimento de uma comunidade ou de uma determinada sociedade. A partir de instrumentos de avaliação é possível promover o autoconhecimento das instituições sociais envolvidas em atividades afins, assim como a correção de rumos e o posicionamento em relação aos usuários da pesquisa. Porém, as avaliações, de um modo geral, têm estado historicamente, restritas à dimensão econômica (BONACELLI e MARCIEL, 2000). Estas autoras citam que os estudos que procuram quantificar e qualificar os impactos sociais (muitas vezes socioeconômico) são bem menos frequentes na literatura especializada. desenvolvimentistas e os que são contra, o que demonstra o real dilema imposto pelo projeto da racionalidade tecnológica que não deixa transparecer suas reais pretensões, mas somente as conseqüências de suas ações. Apesar de se encontrar um volume bastante grande de estudos sobre os efeitos da tecnologia na forma e no nível de emprego, ou sobre as consequências excludentes do processo de modernização em populações menos favorecidas, são poucos, de fato, os estudos especificamente voltados para a análise de impactos sociais resultantes de programas de P&D. A maior parte do material produzido sobre impactos sociais versa sobre impactos de grandes investimentos produtivos (público e privado), como a instalação de polos industriais, a construção de grandes barragens e de hidrelétricas, a instalação de plantas siderúrgicas, entre outros. Embora tais estudos possam contribuir com a avaliação de impactos sociais gerados pela pesquisa agropecuária, eles não são exatamente apropriados para o fim ¹ O termo metodologia é entendido aqui não como uma disciplina. Porém não deixa de considerar o que se refere Thiollent (1988), ou seja, a metodologia serve para experimentar novos métodos que remetem aos modos efetivos de captar e processar informações e resolver problemas teóricos e práticas de investigação. Neste caso, trata-se mais de experimentar alguns métodos e técnicas com vistas a identificar impactos sociais. ² P&D é um método fortemente utilizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) em todo o Brasil. 11 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.10-16 que se propôs alcançar na experiência aqui apresentada, que teve como foco a avaliação dos impactos sociais na vida dos agricultores familiares da comunidade São Jorge, que passaram a produzir pimenta longa, em caráter experimental, com o apoio da Embrapa Amazônia Oriental, a qual reuniu um grupo de pesquisadores em diversas áreas do conhecimento, com o intuito de domesticar essa cultura, bem como produzir informações para subsidiar todo o sistema de cultivo em desenvolvimento. Estamos considerando como impactos sociais, as mudanças (positivas e/ou negativas) que ocorreram na comunidade e na vida dos agricultores, geradas a partir da intervenção da Embrapa no sistema de cultivo desses agricultores que, antes da entrada da pimenta longa³ em seus sistemas de produção, viviam do cultivo de mandioca para autoconsumo e comercialização de excedente da produção de farinha de mandioca. Concordamos com Quirino e Macedo (2000), quando consideram que os aspectos que devem ser privilegiados são o comportamento humano individual e coletivo, principalmente aquele relacionado ao processo de produção, ao emprego, a saúde, a renda, a educação e a satisfação. Porém, também achamos importante considerar os aspectos destacados por Amartya Sen, ao tratar do desenvolvimento como liberdade, o qual considera importante que projetos de desenvolvimento devem expandir as capacidades (capabilities) “das pessoas de levar o tipo de vida que elas valorizam – e com razão.” (SEN, 2009, p. 32). O que Sen (2009) sugere nada mais é do que fortalecer as capacidades das pessoas no sentido de elas alcançarem o que elas próprias desejam. Isso significa ter a liberdade para escolher o seu próprio modelo de desenvolvimento, e não receber um modelo pronto, com características fortemente exógenas, introduzido na comunidade de forma autoritária, sem considerar a capacidade de participação dos grupos sociais. O trabalho apresenta os elementos importantes para o desenvolvimento de trabalhos dessa natureza, ou seja, de P&D no âmbito de projetos agropecuários junto à agricultura familiar, bem como sua aplicação, seguida de uma síntese dos resultados obtidos na avaliação dos impactos diretos do projeto Pimenta Longa, isto é, impactos de primeiro nível, que na classificação de Bonacelli e Marciel (2000) é quando os agentes impactados estão diretamente ligados com a instituição que promove tais impactos. Para melhor visualização, os impactos foram classificados como: impactos positivos – aqueles que geram benefícios aos agentes impactados (agricultores e/ou comunitários) e impactos negativos – aqueles que não conseguem promover benefícios ou satisfação aos agentes impactados. 3 3 ³ Planta pioneira, semiperene, que ocorre espontaneamente em áreas de vegetação secundária no estado do Acre, com potencial para o cultivo intensivo. A espécie produz um óleo essencial extraído de suas folhas, com um alto teor de safrol, que é usado na indústria de perfumaria (GATO et al, 1998). 3 Elementos Importantes para Aplicação da Metodologia 12 Procurou-se levar em consideração as propostas metodológicas apresentadas por Bonacelli e Marciel (2000). Porém, o presente trabalho não se deteve exclusivamente a elas, pois se distingue das demais na medida em que se introduziu a Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.10-16 participação dos beneficiários do projeto (os produtores de pimenta longa) na pesquisa. Para isso, utilizou-se técnicas como: entrevistas semiestruturadas e a realização de Workshops com os agricultores familiares da comunidade São Jorge, especialmente (mas não exclusivamente) aqueles envolvidos com o Projeto supracitado. Tomou-se como referencial os resultados do diagnóstico realizado por Gato et al (1996) e transformados em indicadores por Oliveira (2000). Com isso, foi possível adquirir um panorama das mudanças promovidas pelo Projeto Pimenta Longa no período de 1997 a 2000, quando a Embrapa Amazônia Oriental iniciou o processo de “transferência de tecnologia” (ROCHA NETO et al, 2001) na Comunidade São Jorge. Ressalta-se que, os instrumentos escolhidos (entrevistas e Workshops) para o desenvolvimento da pesquisa, mostraram-se bastante eficientes, uma vez que permitiram momentos individuais e coletivos, tanto com o grupo de agricultores envolvidos com o projeto, quanto com familiares destes agricultores, que de alguma forma se envolviam no sistema de cultivo, bem como com alguns vizinhos que pretendiam futuramente participar do projeto. Os vizinhos foram importantes para a pesquisa, pois se tratava de um olhar de fora do projeto, mas de dentro da comunidade. Eles mostravam-se bastante curiosos com os resultados que a pimenta longa poderia gerar na vida dos agricultores, mas não se sentiam a vontade para participar provavelmente porque se tratava de algo novo, que eles nunca tinham trabalhado, por isso tinham receio em levar para dentro de suas unidades de produção. Discutindo os Impactos do Projeto Observamos que a intervenção da Embrapa provocou um impacto positivo no processo de organização formal e fortalecimento da união entre comunitários, levando-se em consideração, especialmente, que o projeto finalmente começou a inserir as mulheres em atividades comunitárias, produzindo alguns resultados práticos, tais como a promoção de uma união e troca de informações entre os agricultores familiares. O Projeto promoveu um avanço expressivo no processo de informação e geração de conhecimento na comunidade, especialmente quando se avalia o perfil dos produtores de pimenta longa e os Agentes Comunitários de Desenvolvimento exante a implementação do projeto. Isso pôde ser comprovado comparando-se a participação e maior ação dos comunitários em trabalhos individuais e coletivos exante e durante a implementação do projeto pimenta longa. Não foi possível pontuar os impactos do projeto sobre a saúde das famílias de agricultores, haja vista que, segundo a coordenação do projeto não foi possível mobilizar os agentes envolvidos neste processo. Porém, isso não deveria ser um empecilho para que o projeto fornecesse alguns subsídios que estariam ao alcance dos pesquisadores, tais como articulação com organizações de saúde, no sentido de 13 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.10-16 4 O grupo de Agentes Comunitários de Desenvolvimento foi constituído a partir do Projeto, composto por jovens filhos e filhas de agricultores da comunidade, que foram capacitados para dar apoio técnico aos associados da Associação de Produtores Rurais Acorda Jabuti, sobretudo aos produtores de pimenta longa. 4 14 fomentar campanhas educativas e/ou informativas sobre profilaxia de doenças de ocorrência frequente na comunidade, bem como formas mais audáveis de produção e consumo de alimentos, o que envolve não só o tema da saúde, mas também o ambiental. Quanto aos impactos negativos, observamos que o Projeto Pimenta Longa teve dificuldade para atender a demanda dos produtores com relação ao aumento da renda familiar. Este fato gerou muita insatisfação e naquele momento afirmávamos que poderia gerar problemas graves no futuro, se não se pensasse com urgência em estratégias de administração do problema de forma participativa, quem sabe até com os mesmos instrumentos utilizados para o desenvolvimento da pesquisa, pois são os agricultores os principais atores desse processo, os quais deverão ter a oportunidade de discutir com os pesquisadores e técnicos da pesquisa sobre os problemas identificados por ambos. Alguns comunitários e produtores demonstraram insatisfação com o processo de escolha dos atuais produtores de pimenta longa. Eles alegaram que quem fez a escolha foram os técnicos da Embrapa Amazônia Oriental e que os mesmos não tinham condições de saber quem apresentava potencial para plantar pimenta longa. Os agricultores atribuíram a esse fato a desistência de alguns produtores em relação ao projeto. Este é um impacto relevante que salienta o caráter não participativo praticado na fase inicial do referido projeto. Porém, como bem observou Oliveira (2002), uma tecnologia pode ser facilmente adotada, mas só será de fato apropriada pelos agricultores se a mesma convergir com o sistema de saber dos mesmos, o que parece que não era exatamente o caso da pimenta longa, uma vez que a mesma era disseminada pela Embrapa para se constituir como uma alternativa para agricultores que tradicionalmente trabalhavam com o cultivo de culturas alimentares para o autoconsumo, tendo como principal produto excedente a farinha de mandioca, garantindo a comercialização para fora da comunidade, sobretudo na sede do município. Observa-se que todos os impactos negativos identificados pela pesquisa, estão relacionados com a insatisfação dos produtores. O que nos parece menos problemático, pois estes impactos são mais simples de serem contornados do que aqueles que provocam mudanças irreversíveis na vida das pessoas envolvidas. Para que estes impactos não interfiram de forma tão negativa na vida dos agricultores é importante que projetos dessa natureza não deixem de se preocupar com a comunicação entre os parceiros (ou envolvidos no projeto). E, para que o mesmo venha a dar certo, não deve prescindir de diálogo entre os interessados, priorizando uma relação onde o poder de decisão sobre o projeto não pode vir a ser unilateral. Nesse sentido, podemos afirmar que os agricultores devem ter total liberdade para opinar sobre os rumos da pesquisa. Assim, o pesquisador estará contribuindo de fato para o desenvolvimento de sistemas de cultivo com impactos mais positivos na vida dos agricultores, uma vez que estes interlocutores, beneficiários dos empreendimentos de ciência e tecnologia agropecuária, sempre saberão avaliar sobre o desenvolvimento e resultado da pesquisa agropecuária, através de um saber Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.10-16 tradicional, importante, por isso deve ser considerado pelo saber técnico e científico, igualmente importante. Considerações Finais Pode-se dizer que os métodos e técnicas experimentados para avaliar os impactos sociais, gerados a partir do Projeto Pimenta Longa, se mostraram enriquecedores para a avaliação, no sentido de privilegiar o ponto de vista dos agricultores e pesquisadores envolvidos com a pesquisa agropecuária. Todavia, a presente pesquisa, isto é, a Avaliação de Impactos Sociais – gerados pelo Projeto Pimenta Longa na Comunidade São Jorge – embora tenha produzido elementos importantes para o processo de pesquisa, a mesma não foi concluída, uma vez que avaliamos as ações de desenvolvimento do projeto, antes (exante) e durante, mas não após (ex-post) a sua implementação. O que indica uma fase importante da metodologia de avaliação de impactos, que neste caso não foi experimentada. Nesse sentido, podemos prever que os métodos aplicados nas fases anteriores também poderão servir para a fase ex-poxt. Portanto, sugere-se como proposta de continuidade e conclusão da pesquisa, que se avaliem os mesmos impactos na atual circunstância, ou seja, doze anos após a implementação do projeto, pois se sabe hoje que este projeto não foi totalmente apropriado pelos agricultores, sendo o mesmo extinto. Porém, não deixa de ser importante resgatar os dados aqui apresentados, uma vez que podem contribuir com a aprendizagem de pesquisadores, técnicos e agricultores em projetos semelhantes. Diante desse fato, gera os seguintes questionamentos: será que esse projeto deixou alguma marca na vida dos agricultores? Se sim, é importante saber quais. Isso constitui uma agenda de pesquisa relevante, que poderá gerar resultados significativos para a pesquisa científica e para as políticas públicas, no sentido de fornecer subsídios para novos projetos de pesquisa e desenvolvimento, ou projetos de pesquisa participativa, ou mesmo de desenvolvimento e extensão rural. 15 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.10-16 Referências BONACELLI, M. B. M.; MARCIEL, A. Avaliação de impactos sociais. In: Politicas públicas para inovação tecnológica na agricultura do estado de São Paulo: Métodos para avaliação de impactos de pesquisa. I. Revisão de literatura: Impactos econômicos, sociais, ambientais e de criação de competências. Campinas: Universidade Estadual. Instituto de Geociências, 2000. 65 p. GATO, Rubenise Farias et al. Pimenta longa: produção de mudas por sementes. Cartilha institucional. Belém: EMBRAPA-CPATU, 1998. 12 p. Diagnóstico Técnico Sócio Econômico da Comunidade de São Jorge, Município de Igarapé Açu, PA. Belém, 1996. Não publicado. OLIVEIRA, Carlos Douglas de Sousa. Percepção dos agricultores familiares da Comunidade São João sobre tecnologia de não-queima dos roçados. Belém: UFPA-NEAF. Dissertação de Mestrado, 2002. 159 p. Diagnóstico Sócio Cultural da Comunidade São Jorge Jabuti, Município de Igarapé Açu – PA. Belém; [S.n.], 2000. 29p. Relatório do Trabalho de Consultoria realizado para a Embrapa Amazônia Oriental/ DFID, fevereiro-março, 2000. QUIRINO, T. R.; MACÊDO, M. M. C. Impacto social de tecnologia agropecuária: construção de uma metodologia para o caso da Embrapa. Cadernos de Ciência e Tecnologia, Brasília, v.17, n.1, 2000. p.123-127. ROCHA NETO, Olinto Gomes, et al. Levantamento do potencial dos agricultores do nordeste paraense e microrregião castanhal para produção de óleo essencial a partir do cultivo de pimenta longa. Relatório Técnico-científico. Belém: Embrapa Amazônia oriental, 2001. SEN, Amartya A perspectiva da liberdade. In: Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 27-50. THIOLLENT, M. O papel da metodologia. In: ______. Metodologia de pesquisa-ação. São Paulo: Cortez. Coleção Temas Básicos de Pesquisa-Ação, 1988. p. 24-27. 16 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.17-34 A Produção de Artesanato para o Mercado como Motivação para a Fundação da Terra Indígena BEIJA-FLOR Aureliano Marques Pinheiro* RESUMO Neste trabalho são abordados aspectos da produção de artesanato e sua relação com a criação da Terra Indígena Beija-Flor e de sua organização social. Como contextualização, discute-se a visibilidade dos povos tradicionais, entre eles os indígenas a partir da Política Nacional do Meio Ambiente. É apresentado o processo de transformação da Comunidade Indígena Beija-Flor em Terra Indígena, contemplando os interesses e os conflitos decorrentes do mesmo. A origem da comunidade está relacionada com a produção de artesanato para o mercado, e, para embasar este aspecto, abordou-se sobre o significado da cultura material, relacionado com a importância das técnicas nas atividades humanas e arte dos povos indígenas. Utilizou-se de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo, através de entrevistas com formulários, obtendo-se como resultado a identificação da tipologia do artesanato produzido na comunidade, tais como adornos, armas e jogos, instrumentos musicais e ritualísticos, trançados, bem como os aspectos sociais e econômicos relacionados no processo de produção de artesanato, as etnias, o artesanato característico de cada povo, matéria-prima e local de obtenção da mesma e o significado do artesanato para cada etnia. Palavras-chave: território, terra indígena, produção de artesanato ABSTRACT This paper will talk about aspects of craft production and its relation to the creation of the Indigenous Land Beija-Flor and social organization. As contextualization, we discuss the visibility of traditional peoples, including indigenous people from the National Environment Policy. The article discusses the transformation of Beija-Flor Indigenous Community in Indigenous Land, covering the interests and conflicts arising from this process.The origin of the community is related to the production of handicrafts for the market, and to support this aspect, we dealt the meaning of material culture related to the importance of the techniques in human and art of indigenous peoples. We used the literature and field research through interviews with forms, obtaining as a result the identification of the type of crafts produced in the community, such as ornaments, weapons and games, musical instruments and ritual, woven objects, and the social and economic aspects related to the production of handicrafts, ethnic backgrounds, crafts typical of every people, raw materials and obtaining the same place and meaning of the craft for each ethnicity. Key words:territory, indigenous land, handicraft production * Licenciado em História Pela Universidade Estadual do Ceará-UECE; especialista em Ciência Política pela Universidade Luterana do BrasilULBRA; Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas. Professor da Educação Básica Federal (disciplina de História) no Colégio Militar de Manaus, desde setembro de 1995; professor substituto na Universidade Federal do Amazonas de 1995/1996, ministrando as disciplinas de Ciência política, Sociologia e Sociologia Agrária; professor do Centro Universitário do Norte-UNINORTE de 1999 a 2006, ministrando as disciplinas de Sociologia, Ciência Política, Elementos de História do Brasil e do Amazonas, Teoria e prática do Ensino de História e Geografia, História do Brasil e Coordenação de Estágio Supervisionado; professor da Faculdade Lasalle-Manaus, de 2007 à 2012, ministrando as disciplinas de Sociologia e Ciência política. [email protected] 17 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.17-34 Introdução 18 A colonização do europeu na América implicou na dispersão de vários povos indígenas de seus territórios originais e na formação de comunidades em outros espaços. Os povos indígenas que se estabeleceram em outras localidades, passaram a viver da agricultura de pequena escala, da criação de animais para consumo doméstico e também da produção de artesanato para comércio, compondo os ganhos que garantem o consumo de bens que foram introduzidos no seu meio pela sociedade envolvente e que deixam de ser dispensáveis. Ao se estabelecerem em comunidades, os indígenas têm, inevitavelmente, intensificadas suas relações com outros povos não-indígenas, e, como o exemplo da Comunidade Indígena Beija-Flor, em Rio Preto da Eva, Amazonas, procuram desenvolver novas atividades econômicas, como a produção de artesanato para consumo interno e o comércio, combinando o tempo da produção tradicional com a produção voltada para o mercado. No ano de 1991, o americano Richard Melnik, reuniu, em uma comunidade nas adjacências da área urbana de Rio Preto da Eva - Amazonas, famílias indígenas de várias etnias, formando o que se tornaria a Terra Indígena Beija-Flor. A expectativa era de criar uma fundação denominada Beija-For, destinada a dar apoio a estas famílias na confecção de artesanato, divulgando e comercializando, garantindo o sustento das mesmas. A Terra Indígena Beija-Flor é um local de apoio para vários povos indígenas do interior do Amazonas, servindo, em determinados momentos, como um local de trânsito no deslocamento de indivíduos de várias etnias, sendo que alguns chegam à terra e outros vão embora, na medida em que a necessidade se faz presente, havendo etnias que têm representantes permanentes, garantindo o território da comunidade. Após um longo litígio sobre a posse da terra onde está estabelecida a Comunidade Indígena Beija- Flor, em virtude do falecimento do fundador e ações de procuradores do mesmo, houve o reconhecimento legal da área como terra indígena, conforme Lei Orgânica do Município de Rio Preto da Eva nº 302 de 29 de outubro de 2008. Com a situação de estabelecimento tranquilizada, a comunidade Indígena Beija-Flor pôde passar a usufruir de autonomia, sendo este fator de grande importância para preservar suas peculiaridades socioculturais. A comunidade passou a viver não só de práticas assistencialistas, mas, de projetos elaborados a partir de seus interesses e participação. A Comunidade Indígena Beija-Flor é constituída de grupos etnicamente diferenciados e culturalmente multifacetados. O propósito deste trabalho foi realizar uma descrição histórica e social da Terra Indígena Beija-Flor através de uma pesquisa exploratória, utilizando-se o método descritivo, buscando elementos do método etnográfico a partir da observação em campo. Procurou-se fazer uma descrição das ocorrências referente à formação da comunidade e das relações desenvolvidas no espaço com a produção de artesanato (GIL, 1999; FACHIN, 2003). O compromisso maior foi desenvolver a construção do conhecimento sobre o objeto da pesquisa, percebendo-se a arte indígena, ou arte étnica, como elemento de cultura. Buscou-se compreender o processo produtivo de artesanato, na localidade, e os aspectos socioculturais da produção.étnica, como elemento de cultura. Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.17-34 Buscou-se compreender o processo produtivo de artesanato, na localidade, e os aspectos socioculturais da produção. Como embasamento teórico trabalhou-se a importância da legislação e da postura da sociedade diante da diversidade sociocultural brasileira e da visibilidade dos povos tradicionais. Sendo a motivação principal para criação da comunidade a produção de artesanato, buscou-se fazer considerações sobre a cultura material e a importância das técnicas nas atividades humanas, relacionando-as com a arte indígena. Na segunda parte do trabalho aborda-se a criação da Terra Indígena Beija-Flor, considerando o contexto em que a mesma se insere, a tipologia do artesanato na comunidade Indígena Beija-Flor: adornos; armas e jogos; instrumentos musicais e ritualísticos; e, trançados. Ao final, observou-se que o artesanato foi a força motriz no processo de criação da Terra Indígena Beija-Flor, mas que, mesmo que ainda exerça um papel relevante nos dias de hoje (na medida em que define relações de gênero, etnia, entre outas), é praticado por apenas uma pequena parcela dos indivíduos que habitam a Comunidade Beija - Flor I, indicando uma tendência de redução em sua importância dentro da vida social e econômica na comunidade. Visibilidade dos Povos e Comunidades Tradicionais Por muito tempo prevaleceu, no Brasil, a postura positivista de classificação etno-cultural e até regional, vendo-se culturas e povos em estágios inferiores e superiores, fruto da influência do dualismo econômico, (a existência em um mesmo território, justapostos, regiões e setores da economia, avançados e atrasados). Analisando-se as causas da Divisão Internacional do Trabalho (DIT), percebe-se que os países atualmente em desenvolvimento são consequência da exploração colonial europeia. No mundo globalizado, a relação de exploração continua, porém, com outra roupagem. Internamente, sugere-se a comparação dessa relação quando se trata do dualismo econômico para a percepção das diferenças regionais e etno-culturais. Para os que justificam o dualismo econômico, atribuem à existência das diferenças regionais as questões culturais e étnicas, quando são resultados de políticas públicas inadequadas. Considerando-se o Brasil em sua totalidade e adotando-se a postura positivista, ter-se-ia dualismo em escala crescente diante da diversidade regional, étnica e cultural. Reconhecendo-se a existência de povos habitantes do território ao qual se impõe o Estado brasileiro bem antes de seu estabelecimento, e a formação de grupos, em consequência da forma de colonização e exploração do Brasil, que habitam determinadas localidades, mantendo suas tradições e seus modos de vida. Historicamente, verifica-se a ação de especialistas em várias áreas do conhecimento para estabelecer o reconhecimento da importância e da valorização dessa diversidade, emergindo a ordenação jurídica da relação desses grupos com a sociedade brasileira como todo. Os fenômenos de caráter local passaram por um processo de revalorização e redescoberta no âmbito das relações sociais com a universalização das informações e do conhecimento.redescoberta no âmbito das relações sociais com a universalização das informações e do conhecimento. 19 Revista Perspectiva Amazônica Ano Ano33N° N°66 p.p.17-34 XXX 20 Diante dessa nova realidade, tem-se a ação estatal com a ordenação jurídica regulando várias situações distintas. Entre essas regras, encontram-se as Políticas Nacionais de Meio Ambiente, que têm entre seus instrumentos o direito dos povos e comunidades tradicionais, como os povos indígenas, historicamente passivos de sedimentadas opiniões e preconceito. Ao segmento povos indígenas, a preocupação do Estado brasileiro se manifesta bem antes com a Lei 6.001 de dezembro de 1973, que dispõe sobre o Estatuto do Índio, e, embora o título, pelo uso do termo índio torne homogênea uma diversidade, já aparece a ação legal de regulamentação da relação da sociedade brasileira com os povos indígenas de ascendência anterior à formação do povo brasileiro, resultante da colonização portuguesa. Por este Estatuto cumpre à União, Estados e Municípios proteger os povos indígenas e preservar seus direitos, garantir a permanência voluntária dos indígenas em seus locais de origem e colaborar com programas que os beneficie. Pelo Estatuto do Índio, à luz da constituição, os povos indígenas têm a posse permanente das terras que habitam, sendo-lhes reconhecido o direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades existentes nas mesmas, que sejam indispensáveis à sua subsistência ou economicamente úteis. Conforme Arruda (2001), nas sociedades tradicionais existem desigualdades, hierarquias e tensões entre sexos, em termos de classes de idade, de hierarquização de grupos de parentesco, etc. São como os demais segmentos sociais, passíveis de serem atingidas por acontecimentos nos planos do seu ambiente, das relações com outras sociedades, das contradições resultantes das relações entre seus membros, da deterioração de seus órgãos sociais. Sendo, também, latente a ampliação do espaço sociocultural pelos contatos externos e a reconstrução de sua imagem, como sujeitos coletivos definidos por suas tradições, que, entretanto, se reinterpretam no campo sociopolítico da formação da identidade étnica, acompanhando e orientando os processos de reordenação sociais ali desencadeados. O conhecimento dessas nuances torna-se importante, principalmente quando se relaciona com os povos indígenas. Pode-se evitar que ao se mencionar o indígena, não surja, no imaginário dos não índios, a visão de um indivíduo que vive nu, dançando e servido de admiração por usar objetos que a sociedade envolvente lhe apresenta, enfatizando a ideia de que o índio, por não ser “civilizado”, está condenado a viver de forma primitiva e só assim deve ser. Na terra indígena BeijaFlor, por exemplo, percebe-se a forte presença do uso de objetos como aparelhos receptores de televisão, telefone fixo e celular, entre outros, objetos da modernidade. Usam estes objetos porque chegaram até eles; assim como o novo atrai os nãoindígenas porque os objetos de recursos tecnológicos trazem conforto, o mesmo ocorre com o indígena. Se os povos indígenas não tivessem sido forçados ao envolvimento do sistema capitalista, a dinâmica social ocorreria naturalmente, porém, para atender as necessidades dos indígenas e não as do conquistador. As comunidades indígenas possuem, em suas relações, um entrelaçado de deveres, funções e privilégios, baseados em crenças e costumes, definindo leis,autoridade e ordem, em suas relações públicas e particulares, controlados por complexos laços étnicos e de parentesco. Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.17-34 Tradicionalmente, as comunidades se constituem através de processos de territorialização dinâmicos e relacionados à situação que levam em conta a correlação de forças entre o grupo e os demais atores locais. As áreas geográficas, muitas vezes, são dominadas por determinadas etnias reconhecidas pelo seu significado cultural. Estes territórios, positivamente, estão inseridos em um território administrado por um Estado soberano que se põe acima de todas as outras significâncias subjetivas que o mesmo envolve. Entretanto, é importante o reconhecimento jurídico, à luz da Constituição Federal e da legislação pertinente, para a definição dos parâmetros das áreas ocupadas por povos indígenas e comunidades tradicionais. Para Gallois (2001), os povos indígenas reivindicam diversos elementos do desenvolvimento cultural, social, econômico e político, dentro de uma perspectiva de tolerância e igualdade nas condições de acesso ao “desenvolvimento” com o qual eles foram levados a conviver por imposição dos Estados-nações em que foram envolvidos há séculos. Esta participação os inseria num processo de transformação a favor de seus interesses, o que não ocorreu ao longo do processo histórico. O significado desse processo envolve o lugar em que existem as condições necessárias para sobrevivência econômica do grupo, mas que seja também espaço de convivência social em que se dão as práticas sociais, culturais, religiosas e de organização social. Ressalte-se que não cabe a esses povos o pejorativo do selvagem no sentido de liberdade ilimitada, pela ideia de que os indígenas vivem no seio da natureza, fazendo o que querem e podem. Se não existe o rigor de uma rotina a ser cumprida, estão presos a crenças e apreensões irregulares e até fantasmagóricas (MALINOWSKI, 1978). As Políticas Nacionais do Meio Ambiente e seus instrumentos, entre eles, a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, reconhecem a sociedade brasileira como heterogênea, portanto, composta de segmentos regionalizados com hábitos e costumes próprios, valorizando e difundindo a diversidade de cultura em suas manifestações populares, indígenas ou afro-brasileiras. Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (Art. 3º do Decreto 6.040, de 7/2/2007) Os instrumentos legais atuam como marco regulatório das relações sociais, ambientais e econômicas, uma vez que esta heterogeneidade está contida em um território onde existe um Estado soberano. Este ordenamento jurídico plural de existência histórica ganhou força com a Constituição Federal de 1988, que reconheceu a realidade multiétnica brasileira e o Estado como multicultural, valorizando a cultura e reconhecendo o direito originário dos índios, direito esse considerado por muitos como sendo anterior à formação do Estado brasileiro. 21 Revista Perspectiva Amazônica Ano Ano33N° N°66 p.17-34 p.XXX Este ordenamento jurídico plural de existência histórica ganhou força com a Constituição Federal de 1988, que reconheceu a realidade multiétnica brasileira e o Estado como multicultural, valorizando a cultura e reconhecendo o direito originário dos índios, direito esse considerado por muitos como sendo anterior à formação do Estado brasileiro. A importância de leis que regulam as diversas relações em um Estado que intermedia uma sociedade multicultural, revela o Estado de Direito, característico de sociedades livres, onde pensamentos diferentes convivem, se respeitam e combatem o pensamento único. A tendência nessa convivência é ocorrer a mescla de culturas, visões de vida e valores, com a aceitação de pensamentos diversos, desaparecendo o pensamento único, através do diálogo multicultural. O respeito mínimo entre as mais diversas culturas deve conduzir o diálogo multicultural, evitando a uniformização das ideias e o relativismo do pensamento único. No Brasil, a base destas relações está garantida na Constituição Federal de 1988. No que tange o reconhecimento da multiculturalidade e aos direitos étnicoculturais, os artigos 215 e 216, garantem o pleno desenvolvimento da diversidade cultural, ressaltando a tutela das manifestações populares, indígenas, afro-brasileiras e de outros grupos que tenham participado do processo de civilização nacional, reconhecendo, também, os modos de criar, fazer e viver dos povos como patrimônio cultural brasileiro, estendendo, assim, significativamente, a noção de referências culturais e patrimônio cultural nacional (Constituição Federal de 1988). A Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais acompanha a Constituição Federal, sendo importante que os direitos garantidos pela legislação ordinária, à luz constitucional, não sejam ressignificados em prejuízo dos povos e que sua interpretação seja adequada ao exercício efetivo da diversidade cultural. O Significado da Cultura Material 22 A manifestação cultural de uma sociedade expressa através de elementos materiais, elaborados através de suas subjetividades, garante pelo interesse de seus contempladores, viver uma espécie de imortalidade. Concretamente, a manifestação é exposta pela obra do artista que, ao ser apreendida e decifrada por quem tenha os meios de fazê-lo, passa a ser considerada como bem simbólico de determinada cultura. Os esquemas de interpretação que são a condição da apropriação do capital artístico ou, em outros termos, a condição da decifração das obras de arte oferecidas à determinada sociedade, em dado momento do tempo, estabelecem o grau de competência artística a ser avaliado (BOURDIEU; DARBEL, 2007). Para Leví-Strauss (apud NOVAES, 1999), a função da arte é de selecionar e ordenar as informações do mundo exterior que nos chegam, através dos sentidos. arte é a possibilidade de oferecer a passagem da natureza (do objeto) à cultura (a representação plástica do objeto).O objeto artístico é um signo quando consegue exprimir características fundamentais, tanto ao signo quanto ao objeto que nele ficavam dissimuladas. Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.17-34 Essas propriedades do objeto, evidenciadas pela obra do artista, são, para Lévi-Strauss, também comuns à estrutura e ao modo de funcionamento do espírito humano. Assim, a arte é arte quando ela traduz a estrutura comum ao espírito e à coisa. Vários povos indígenas de sociedade hierarquizada usam elementos de arte significantes na representação dessa hierarquia, de acordo com sua organização social, no interior da sociedade e outros povos, bem como frente à própria natureza, na transformação desta em objetos de representação cultural. Essa transformação é a arte. Para Boas (1996), isso ocorre quando o tratamento técnico alcança um grau de excelência e domínio dos processos de tal modo que venham a existir formas típicas, e as simples formas podem ser julgadas do ponto de vista da perfeição. O julgamento da perfeição da técnica é, essencialmente, um julgamento estético. Boas estuda a arte pelo apreço aos estudos das representações. A arte nasce da reação da mente a uma forma, que assume um valor estético. Para Geertz (1997), a conexão com a realidade local é que revela o poder construtivo de uma sociedade porque a unidade da forma e do conteúdo é um feito cultural e, que, uma ciência do significado da arte deve explicar esse feito prestando atenção ao que se fala e ao que se fala além do discurso, reconhecidamente, estético. Discorda dos argumentos de que povos iletrados não refletem sobre o diferencial de formas e conteúdos numa produção artística, cabendo, este exercício, a culturas mais desenvolvidas, por ser a arte uma atividade diferenciada. Considera um equívoco o fato de haver uma subestimação da dinâmica interna da arte nas sociedades iletradas e uma superestimação da autonomia das sociedades letradas. “A capacidade que um homem possa ter para distinguir uma certa forma, ou uma relação entre formas, irá influenciar a atenção com que ele examina um quadro” (BAXANDALL, apud GEERTZ, 1997). As habilidades, tanto do observador quanto do artista, não são inatas, mas adquiridas através da experiência total de vida, da forma como se vê o mundo. A beleza é como um artefato natural, mas que os objetos e instrumentos foram inventados para ressaltá-la. O artista trabalha com a capacidade de seu público ver, ouvir, tocar e de todas as formas e relações possíveis, com certa compreensão. E, apesar do fato de algumas dessas capacidades serem inatas, são ativadas e passam a existir verdadeiramente com a experiência de uma vida em que o público se depara com diversos tipos de coisas que são sentidas e sobre as quais pode pensar ou reagir. Assim, “a arte e os instrumentos para entendê-la são feitos na mesma fábrica” (GEERTZ, 1997). Assis (2006) entende que os objetos, uma vez incorporados, passam por uma transformação e, conforme Godelier (apud Assis 2006, p.236), “não é o objeto que cria as diferenças, são as lógicas diferentes dos domínios da vida social que lhes conferem sentidos diferentes, à medida que ele se desloca de uma para outra e muda de função e de uso”. Abordando mais especificamente a produção de artefatos pelos povos indígenas, Ribeiro (2005) afirma ter verificado que os grupos étnicos buscam estreitar uma dependência mútua, na medida em que, além da divisão sexual do trabalho artesanal no interior de cada tribo, ocorre uma divisão do trabalho intertribal em que cada uma delas se abstém de confeccionar os artefatos que as outras produzem, embora possam fazêlos. A produção de artefatos pelos povos indígenas é em primeiro plano com objetivo 23 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.17-34 p.XXX Ano utilitário, sem deixar de contemplar, com muita relevância um significado simbólico e hierárquico e valor estético, funcionando como empblemas de identidade étnica. A Importância das Técnicas nas Atividades Humanas A origem da Comunidade Indígena Beija-Flor tem relação direta com a produção de artesanato por indivíduos de várias etnias, onde cada um que se estabeleceu, ou se estabelece, nesse espaço, aplica, na produção de seus artefatos, a técnica adquirida no desenvolvimento de seu aprendizado de artesão, conforme os sentimentos, símbolos e significados de sua etnia. Pode-se fazer o embasamento teórico desse cenário com a abordagem de Mauss (2011), quando expressa que os diversos movimentos do corpo humano em vários lugares, como o andar, movimento das mãos, entre outros, entende que são resultados da educação que internaliza uma prática transformada em técnica, que resulta no habitus dos indivíduos, variáveis, dependendo dos tipos de sociedades, educação e conveniência, não sendo um jeito natural entre os adultos, mas aprendido, uma vez que, diferente do animal irracional, as técnicas desenvolvidas pelos humanos são transmitidas para outros. A relação entre o homem e a natureza, ou entre o homem e o meio, será mais proveitosa quanto mais forem desenvolvidas as técnicas, porque as técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem produz e cria espaço. O aprendizado das técnicas percorre no indivíduo nas fases da infância, adolescência e adulta, sendo mais marcante na adolescência. Todavia, sempre será possível uma adaptação, uma vez que o primeiro e mais natural instrumento do homem é o seu próprio corpo, que se encontra em adaptação constante, pelas imposições do próprio corpo e da sociedade. Idade e sexo determinam as diferenças das técnicas, pois cada um tem seu senso de adaptação e coordenação dos movimentos. Essa forma de ver a técnica não é, todavia, completamente explorada. (SANTOS, 2006; MAUSS, 2011). As técnicas são construídas através de um sistema de aprendizagem desenvolvido para atender as necessidades dentro do grupo social. Santos (2006) tem uma noção mais abrangente sobre a técnica. Entende que a palavra técnica deve ser considerada em sentido mais largo, e não no sentido estreito, limitado às aplicações mecânicas, devendo se estender a tudo que pertence à indústria e à arte, em todos os domínios da atividade humana. Para ele, a ideia da técnica como sistema já estava presente na obra de Sorre de 1948, quando este já estava convencido de que os estudos deveriam levar em conta, simultaneamente, as técnicas da vida social, da produção de energia, da conquista do espaço e da transformação das matérias-primas. A Arte Indígena 24 As artes de modo geral e a arte indígena compõe-se de estilo, simbolismo, elementos decorativos e conteúdo mítico-religioso. Para Lagrou (2010), não há, entre os povos indígenas, uma distinção entre objetos produzidos para serem usados e os para serem contemplados, quer dizer, não há a preocupação em distinguir artefatos de arte, observando que nem a arte conceitual entre os não índios chegou a levantar esta questão. Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.17-34 E, Ribeiro (1989), aborda que, levando-se em conta a natureza da matéria-prima, as técnicas empregadas e o fim a que se destina o artefato, na qualidade de elemento de cultura, a arte indígena tem sido descrita, pelos etnólogos, como cultura material, ou seja, como manufatura resultante de conhecimento tecnológico, ressaltando-se o valor utilitário e técnico, passando a segundo plano o componente artístico que detém. Percebe-se assim o valor utilitário da produção material dos povos indígenas, mas não se pode desconsiderar o aspecto artístico dos seus artefatos. São objetos que condensam ações, relações, emoções e sentidos, porque é através dos artefatos que as pessoas agem, se relacionam, se produzem e existem no mundo (RIBEIRO, 1989; LAGROU, 2010). Além dos artefatos utilitários, os povos indígenas brasileiros produzem objetos de conteúdos mais simbólicos, como: adornos corporais, insígnias de status, instrumentos musicais (de uso ritual ou lúdico), atendendo aos objetivos práticos e refletindo a realidade do seu universo cultural, estruturação interna, funcionalidade e ideologia. Entretanto, não deve parecer que a cultura material dos povos indígenas brasileiros é estática, pois, sendo um elemento de cultura, muda e se transforma, continuamente, no tempo e no espaço, em virtude de vários fatores, entre eles, padrões culturais distintos, em seus estilos e funções, disponibilidade de matérias-primas, influência de outros estilos e as que sofrem cada artesão em particular (RIBEIRO, 1988; 1989). O Surgimento da Comunidade Indígena Beija-Flor Através dos relatos de lideranças entrevistadas, de registros na revista Nova Cartografia Social da Amazônia – Indígenas na Cidade de Rio Preto da Eva, Comunidade Indígena Beija-Flor, em Rio Preto da Eva Amazonas, e no livro Terras Indígena nas Cidades – Lei Municipal de desapropriação nº 302 Aldeia Beija-Flor, em Rio Preto da Eva, será apresentado um exemplo de formação e consolidação de uma comunidade indígena, conforme postulado acima, a Comunidade Indígena Beija-Flor, em Rio Preto da Eva Amazonas. A comunidade foi criada em 1991 pelo norte-americano Richard Melnik. A ideia era montar algo semelhante a uma cooperativa, na qual os indígenas, vindos do interior do Estado e da cidade, produziriam artesanato para ser comercializado fora do país. Um dos projetos que o norte-americano tinha era criar uma comunidade indígena que pudesse dar apoio aos índios da cidade e oferecer, a estes, a possibilidade de resgate cultural, principalmente aos que já habitam na cidade há mais tempo. A criação da Fundação BeijaFlor apoiaria os indígenas na confecção de artesanato. Muito provavelmente, a motivação de famílias de várias etnias para o deslocamento para outra região, deveu-se a uma condição de sobrevivência insatisfatória na região de origem ou o aceno de uma possibilidade promissora de trabalho e negócio. A venda do artesanato produzido na comunidade ficaria mais fácil do que quando viviam em seus locais de origem. Morando em Rio Preto da Eva, pela proximidade de Manaus, ficaria mais fácil escoar o artesanato produzido para o exterior, proposta inicial do norte-americano ao motivar os indígenas para se fixarem na comunidade. 25 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.17-34 p.XXX Ano A partir de 1991, vários povos se estabeleceram na comunidade: SateréMawé; Tukano, Desano, Tuyuca, Apurinã, Baniwa, Arara, Marubo, Mayuruna, entre outros, com o objetivo de trabalhar com artesanato para o comércio local e exterior. As etnias mais permanentes na comunidade são Arara, Baniwa, Dessano, Saterémawé, Tukano e Tuyuka. Não havia ajuda do poder público, e da FUNAI, obtém apenas assistência jurídica. Apesar de comporem uma só comunidade, cada etnia conserva suas tradições e rituais próprios. As várias etnias que formam a comunidade (Beija-Flor I), foco deste trabalho, são compostas de crianças e adultos, com a maioria alfabetizada em língua portuguesa, o idioma geral na comunidade. O conhecimento da língua portuguesa não implica em descaracterização cultural dos membros da comunidade, mas, sim, em uma necessidade de sobrevivência, na relação com a sociedade envolvente e de comunicação entre as diferentes etnias. A Comunidade Indígena Beija-Flor representa uma grande experiência, na percepção da transformação da cultura de cada etnia, uma vez que está inserida em área urbana, espaço onde as transformações são mais intensas. A Transformação da Comunidade na Terra Indigena Beija-Flor A denominação da comunidade origina-se do nome de um estabelecimento comercial de venda de artesanato, Casa do Beija-Flor, que existia no centro de Manaus nos anos de 1970, pertencente ao norte-americano Richard Melnyk. O estabelecimento comercial vendia artesanato produzido por vários indígenas. Nas adjacências de Manaus, onde hoje se situa o município de Rio Preto da Eva, o Sr. Richard Melnyk adquiriu uma área de 81,20 há, na década de 1980, visando o estabelecimento de uma comunidade indígena, passando a convidar indígenas de diversas etnias para aí residirem. O objetivo do norte-americano era ter a produção de artesanato dos indígenas com exclusividade, para vender em sua loja, em Manaus, e exportar para os Estados Unidos, Inglaterra e outros países, situação comparável a dos mercadores da fase que antecedeu à Revolução Industrial. Entende-se que a diversidade de grupos étnicos possa ter, no início, dificultado as relações de interação entre os indígenas que se estabeleceram no local (FARIAS JÚNIOR, 2009). A partir de negociações do proprietário da área, aonde ia se constituindo a Terra Indígena Beija-Flor, com a prefeitura de Rio Preto da Eva, a área reduziu-se em 41,63 ha. Com o falecimento do Sr. Richard Melnyk, teve início os conflitos pela posse da terra a partir das ações de Antônio Tadeu, intitulado procurador do falecido proprietário da terra. A área, situada no perímetro urbano de Rio Preto da Eva, aos poucos vai deixando de ser imóvel urbano e se constituindo no espaço que passaria a ser o território reivindicado pelos indígenas da Comunidade Beija-Flor (ibid). Conforme o mesmo autor, o Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia – PNCSA, realizou, nos dias 19 e 20 de outubro de 2007, uma Oficina de Mapas na Comunidade Indígena Beija-Flor, definindo-se a produção de um fascículo com o 26 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.17-34 título Indígenas na cidade de Rio Preto da Eva – Comunidade Indígena Beija-Flor, por decisão dos próprios indígenas participantes do projeto. O importante dessa definição é que deixa-se de se abordar, de forma genérica, sobre indígenas, para se referir a um grupo específico formado por indivíduos de várias etnias, mas, com compartilhamento de práticas político-organizativas e práticas econômicas comuns. Dessa forma, as diferenças convergem para uma situação aglutinadora. Por tratar-se de uma comunidade constituída por indivíduos de várias etnias, consequentemente de costumes, tradições e língua diferentes, passaram a existir dificuldades de relacionamento. Na formação da Comunidade Beija-Flor, o processo foi de construção do entendimento, sem de haver diferenças. No começo da fundação da Comunidade Beija-Flor, como foram convidados vários parentes de várias etnias, então, no começo, nós tivemos um pouco de dificuldade de comunicação. Por ser de tribos diferentes, de línguas diferentes. Então nós tivemos um problema também, de comunicação. Mas, aos poucos, nós fomos tentando superar, a entender cada parente, os pensamentos deles também. E teve também alguns problemas de tribos, assim com outras etnias eles diziam: “a minha é mais forte, a minha é melhor, a sua é mais fraca. Eu sou bom pescador, eu sou bom caçador, você não é como eu!” Então tivemos esse tipo de conflito, esse problema no começo. Mas hoje, depois que nós começamos a entender e a respeitar cada decisão dos parentes (Fausto Andrade, 33 anos, etnia Sateré-Mawé) (ibid, p.30). A forma jurídica da Comunidade Indígena Beija-Flor é dada pela Associação Etno-Ambiental Beija-Flor, que aglutina, na comunidade, os pensamentos e ações políticas diferentes. As articulações políticas se desenvolvem em torno dos indivíduos de duas etnias predominantes, Tukano e Sateré-Mawé. Na atualidade, mais quatro comunidades (Beija-Flor II, III, IV e V) orbitam em torno da Comunidade Beija-Flor I. Em entrevista a Farias Júnior (2009), o tuxaua fausto Andrade declara que a Beija-flor I é como a base central das comunidades do Rio Preto da Eva, como casa de apoio e reunião com outras lideranças, representantes das comunidades do Rio Preto da Eva, na busca de soluções para os problemas das comunidades na área de saúde, de educação, e os problemas jurídicos e tudo o mais que houver. As outras comunidades trabalham com agricultura, caça, pesca e produção de carvão. Para a Comunidade Beija-Flor I, a fonte econômica maior é o artesanato, que a partir da venda, compra outras mercadorias e trocam com os produtos das outras comunidades. O apoio a outras famílias indígenas e comunidades tem contribuído para o fortalecimento da Comunidade Beija-Flor. A persistência na ideia do apoio pelos indígenas, como característica da comunidade, foi intensificando a consolidação da ocupação e desenvolvendo as relações sociais no local que, por se tratar de grupos e pensamentos diversos, não evita o aparecimento de conflitos. No entanto, ser da Comunidade Beija-Flor é ser indígena e contribuir para a construção de um grupo social e, politicamente, representado por uma só identidade: a indígena, sem, no entanto, haver a negação das identidades étnicas de seus indivíduos, através da cultura, língua e costumes. As divergências contribuem para a produção de conhecimento e crescimento e são inerentes a qualquer grupo social. As diversidades culturais se encaradas 27 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.17-34 p.XXX Ano racionalmente, ao produzirem conhecimento e implicarem em crescimento, tornamse elementos aglutinadores. Portanto, as dificuldades maiores na construção da Terra Indígena Beija-Flor não foram as causadas pelos conflitos internos, mas as provocadas pelos agentes externos. Por se localizar em área de perímetro urbano, passiva dos olhares da especulação imobiliária e da expansão urbana, as ameaças externas unem as famílias para combaterem os agentes externos e protegerem seus recursos naturais que garantem a sua reprodução física e social. A reclamação da propriedade da terra da Comunidade Beija-Flor, em Rio Preto da Eva, partiu de Arlene Glória Alves Monteiro, que alegava ter comprado a área em 2 de outubro de 1997, do Sr. Richard Melnyk. A reclamante apresentava a escritura de compra e venda assinada não pelo norte-americano Richard Melnik, mas por procuração por Antônio Tadeu Drumond Geraldo, o vendedor, esposo de Arlene, pelo valor de R$ 2.000,00. Através dessa estratégia, o procurador teria todos os direitos de tomar posse da área e loteá-la para venda. Consta, em um dos documentos do processo judicial do litígio da área, datado de 03 de agosto de 1995, que o Sr. Richard Melnik havia entrado com uma ação de revogação de procurações contra Antônio Tadeu (ibid). De acordo com Farias Júnior (2009), os fascículos do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia – PNCSA, em conjunto com o mapa situacional, têm sido ferramentas importantes na explicitação de situações localizadas. Com a presença de autoridades municipais, movimento indígena, pessoas do município, de pesquisadores e da coordenação do PNCSA e da Funai, os indígenas fizeram o lançamento do fascículo referente a situação geográfica e social, na Comunidade Beija-Flor I, no dia 01 de outubro de 2008, que passou a ser utilizado como instrumento de suas reivindicações para solucionar os conflitos ora apresentados. Os indígenas passaram a desenvolver uma articulação política, junto às autoridades municipais, para que elaborassem uma lei de desapropriação da área, ocupada por eles, em benefício da Comunidade Beija-Flor, apresentando o fascículo e o mapa numa reunião da Câmara Municipal de Rio Preto da Eva, Amazonas. Essa ação resultou na aprovação do Projeto de Lei em 29 de outubro de 2008. Tem-se, então, a Lei Orgânica Municipal No. 302 sancionada pelo Prefeito Fullvio da Silva Pinto, em 29 de outubro de 2008. Tal dispositivo legal prevê a desapropriação urgente, por ser de caráter social de interesse público. Segundo o Art. 2, da referida Lei, a mesma baseia-se na Lei 4123/62, Art. 2, inciso IV (ibid). Farias Júnior (2009), afirma que, para o tuxaua Fausto Andrade, o “mapa situacional” e o fascículo do qual faz parte o mapa, foram utilizados pelos indígenas da Comunidade Beija-Flor nas negociações que precederam à sanção da Lei que garantiu juridicamente o território indígena. Desse modo, a Terra Indígena BeijaFlor foi constituída por um dispositivo legal de ordem municipal, que reconhece sua legítima posse dentro da cidade. 28 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.17-34 Pesquisa e Método A pesquisa de campo deste trabalho ocorreu na Comunidade indígena BeijaFlor, situada no município de Rio Preto da Eva, Amazonas, com o trabalho se iniciando com as negociações com as lideranças e a permissão concedida por aprovação do Conselho da Comunidade (LAPASSADE apud FINO, s/d), bem como a aprovação do Comité de Ética em Pesquisa-CEP-UFAM e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa-CONEP. Buscou-se descrever o processo de produção de artesanato e sua relação com a organização social da comunidade. Para elaborar a contextualização do trabalho e, consequentemente, seu referencial teórico, utilizou-se de pesquisa bibliográfica exaustiva com interpretação e citação de obras de autores das áreas relacionadas. A pesquisa de campo foi realizada através de entrevistas, com aplicação de formulário na amostra de 11 indivíduos, dos sexos masculino e feminino, no universo dos maiores de 14 anos de idade. Por se objetivar um trabalho descritivo, o método utilizado foi o descritivo combinado com aspectos do método etnográfico, pelo fato do estudo concentrar-se em trabalho relacionado à cultura humana. Identificaram-se as variações dos tipos de artesanatos e o reconhecimento destes como aspecto específico de um contexto cultural mais amplo. As dificuldades que se apresentaram são comuns a quaisquer observações sobre fenômenos sociais, sendo importante que as informações foram obtidas de indivíduos diretamente envolvidos no processo (MAUSS, 2010). A Comunidade Indígena Beija-Flor é constituída de crianças, jovens e adultos, masculinos e femininos, o que vale ressaltar que esta pesquisa tem como amostra apenas os indivíduos que trabalham com artesanato, e que a mesma representa um aspecto, entre outros, das relações que se desenvolvem no referido espaço. O perfil dos indivíduos e as relações descritas neste trabalho referem-se à citada amostra, que é significante por referir-se ao principal elemento motivador do processo formador da comunidade. Inseriu-se, na comunidade pesquisada, onde foram feitas as entrevistas e obtidos os dados para se compreender as razões do seu estabelecimento, a relação do artesanato com a cultura de cada etnia, e, as relações étnicas, de gênero e etárias entre os indivíduos no processo de produção dos artefatos. A constatação de um fato liga a outro fato de modo sistemático e coerente. A diversidade étnica na comunidade faz com que as diferenças de tipos e estilos apareçam, mesmo com o convívio entre indivíduos de grupos étnicos diversos, mantendo-se em seus artefatos os traços que representam a cultura de cada etnia. (MAUSS, 2010). As Relações Decorrentes da Produção de Artesanato Sobre o significado do artesanato, 100% dos entrevistados declararam representar a cultura da sua etnia, sendo composto de significado na forma material e imaterial. Todavia, como característica dessa comunidade, observa-se as relações sociais desenvolvidas desde a sua formação e com o trabalho na produção de artesanato e seus fins. O principal fim é a produção de artefatos para venda, pelo próprio artesão 29 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.17-34 p.XXX Ano como meio de sobrevivência, declarado por 100% dos constituintes da amostra da pesquisa. Foi identificada, também, a forma de utilização do dinheiro obtido como resultado da produção e venda dos artefatos. Sendo a produção e comércio de artefatos individual, o controle do resultado segue a mesma forma. Entretanto, houve, entre os pesquisados quem declarasse que, se o trabalho for feito em conjunto, o dinheiro será dividido, e, os que afirmaram destinar um percentual para a Associação Etnoambiental Beija-Flor, referencial jurídico da comunidade. Classificou-se o artesanato produzido na comunidade em quatro tipos de artefatos/ adornos: tipo anel, banco, brinco, cestinha, chaveiro, cinto, cocar, colar, fivela, miniatura de maloca, miniatura de canoa, pulseira, soutiens, tiara e xoró; armas e jogos: tipo arco/flecha e zarabatana; instrumentos musicais e ritualísticos: tipo buzina, flauta, japurutu, maracá, pau-de-chuva, pega moça e tambor; e, trançados: tipo abajur, abano, balaio, cesto, esteira, peneira e tipiti. De acordo com Ribeiro (1988), a tipologia de artesanato indígena adorno se classifica em adornos plumários da cabeça, usados na face ou no crânio; adornos plumários do tronco; adornos plumários dos membros; adorno de materiais ecléticos da cabeça, do tronco e dos membros, ornamentos de materiais da flora, da fauna e de produto industrial. Os adornos podem ser usados como adereço pessoal, ritual ou cotidiano, definidor da condição etária, sexual, social e étnica. Identificou-se na Comunidade Indígena Beija-Flor 15 diferentes tipos de artefatos dentro da tipologia adorno. Percebeu-se que os artefatos da tipologia adorno são de grandes variedades e de diversidade de produtores, com maior participação nos artefatos colar (64%) e xoró (56%), diversificando-se, assim, o “saber fazer”, a técnica e a arte. Ribeiro (1988) inclui na tipologia armas todos os objetos perfuradores, as de arremesso simples arrojadas manualmente como as lanças, e, as de arremesso complexo, lançadas com o auxílio do arco. Contemplam também os dardos atirados do propulsor, as armas de sopro como as zarabatanas e os artefatos de proteção do corpo do atirador e defesa das aldeias. Na Comunidade Indígena Beija-Flor a tipologia armas e jogos não apresenta muitas variações de itens, embora sejam artefatos que fazem parte do modo de vida os povos indígenas, utilizados na defesa, captura de seres para a alimentação e diversão. Os tipos de armas foram dois os identificados, e, nestes tipos de artefatos percebeu-se que são poucos os indivíduos envolvidos em sua produção, com maior participação na confecção de zarabatana (18%). O trabalho de Ribeiro (1988) identifica grande quantidade de espécies de instrumentos musicais indígenas, e, diante dessa diversidade, acredita-se que para o objetivo deste trabalho não cabe descrever todos, visto que a intenção é se utilizar de uma referência para embasar a pesquisa realizada e não, simplesmente, uma reprodução do que já existe. Assim sendo, usar-se-á, brevemente, descrições genéricas nesta referência. Os instrumentos de sopro com palheta, em que o ar é 30 movimentado pelas pulsações de uma palheta ou lingueta, que pode ser uma peça Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.17-34 introduzida no instrumento, quanto recortada no topo do que se sopra; os que emitem som com o sopro contra um gume, característico das flautas; os que emitem som através dos lábios vibrantes do executante, como no caso dos instrumentos de tipo trompete. Outros tipos de instrumentos musicais indígenas são identificados e descritos por Ribeiro (1988), como os de percussão entre eles o chocalho tubular e o tambor, entre outros. Na comunidade Beija-Flor, a exemplo da tipologia adorno, embora de modo menos expressivo, a tipologia instrumentos musicais e ritualísticos apresenta considerável variações de itens, sendo identificados sete (7), mas com poucos indivíduos envolvidos na produção. Conforme Ribeiro (1988), a tipologia de artesanato indígena trançado, diversifica-se e varia conforme à necessidade a ser atendida: trançado para uso e conforto doméstico, compreende a esteiraria usada para sentar e dormir, para abanar e atiçar o fogo e proteger a carga das canoas, bem como a cestaria de utensílios; para caça e pesca engloba os cestos armadilhas para caça e pesca e a esteira-barragem para a pesca; para processamento de mandioca brava, venenosa, em sua transformação em alimento; como meio de transporte de carga que compreende cestos de tamanho avantajado e diferentes formas, adaptados para carregar nas costas com alça cingindo a testa ou duas alças para os braços, à maneira de mochila, destinados ao transporte de carga; para uso e adorno pessoal como atavios trançados para ornamentar o corpo, cestos-bolsos para a guarda e transporte de pequenos objetos. Na comunidade Beija-Flor os trançados apresentam variedade étnica e de itens na sua produção. Foram oito (8) os tipos de artefatos identificados, com menor participação de produtores em relação ao total da amostra. Na comunidade Beija-Flor a confecção dos artefatos para adornos ocorre entre as etnias Sateré-mawé, Arara, Dessana e Tukano. Armas e jogos entre Saterémawé e Tuyuka. Instrumentos musicais e ritualísticos entre Sateré-mawé, Tukano e Tuyuka. Os trançados entre Tuyuka e Tukano. Não há divisão sexual do trabalho, um mesmo tipo de artefato é confeccionado por indivíduos de ambos os sexos, bem como não há distinção etária, pois, há indivíduos de diversas faixas confeccionando o mesmo tipo de artefato. A distinção identificada foi na tipologia, decorrente da diversidade étnica dos habitantes do local. Entretanto, como existem uniões exogâmicas, ocorre caso em que o(a) parceiro(a) confecciona o artefato da tipologia do(a) outro(a). A situação acima descrita faz com que se perceba o envolvimento de gêneros, faixas etárias e grupos étnicos diversos, relacionados na produção dos artefatos. A matéria-prima usada na confecção de artesanato na Comunidade Indígena Beija-Flor, é na maior parte retirada da floresta do Rio Preto da Eva, na área pertencente à comunidade, nas margens dos rios e beira de estrada, outra parte vem de outras regiões do Amazonas, como o Alto Rio Negro, sendo usados, também, insumos industrializados. Produzir artesanato para o mercado local, nacional e internacional foi a intenção do norte-americano ao reunir os primeiros indígenas nas adjacências da área 31 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.17-34 p.XXX Ano urbana do município de Rio Preto da Eva.Produzir artesanato para o mercado local, nacional e internacional foi a intenção do norte-americano ao reunir os primeiros indígenas nas adjacências da área urbana do município de Rio Preto da Eva. Indígenas de diferentes etnias chegam, outros vão embora, mas a comunidade continua crescendo, principalmente depois do reconhecimento da área pelos órgãos públicos como Terra Indígena. A atividade de produção de artesanato tem perdido a finalidade de garantir a sobrevivência dos membros da comunidade, posto que apenas 11 indivíduos foram identificados como produtores de artesanato dentro dessa realidade. Todavia, a maioria afirma saber diferenciar o que é do indígena e do não indígena, e, que preferem manter os elementos da tradição indígena, como dança, instrumentos, enfim, as atividades culturais, para não perderem os costumes da etnia. A comunidade conta atualmente com casa de farinha, transporte utilitário de mercadorias que são produzidas nas comunidades Beija-Flor II, III, IV e V e para o que for necessário. Dispõe também do serviço de saúde indígena e de escola indígena com professor qualificado pela rede oficial. Isso tudo faz parte da transformação por que tem passado o modo de vida dos próprios povos indígenas em geral. Entretanto, pode-se observar que a tradição da cultura indígena é algo que é preservado. Quando os visitantes são brindados com pinturas no corpo de símbolos das etnias, estas são feitas pela população jovem. O professor da escola de educação básica é um indígena com a educação voltada para os costumes indígenas. É relevante entender esse jeito orgulhoso e vaidoso de ser e querer continuar sendo indígena. Nas festas comemorativas ou em apresentações que atendem à curiosidade dos não-indígenas, crianças e adultos se envolvem com adereços e instrumentos de suas culturas. Pensa-se ser interessante analisar a decisão do maestro da comunidade, da etnia dessana, que esteve presente nos momentos de dificuldades decorrentes do litígio da terra, quando houve o reconhecimento e a tranquilidade, como disse o tuxaua Fausto “agora podemos dormir em paz”, resolveu voltar para suas origens, o Alto Rio Negro. Muito se pode discutir e aprender. Considerações Finais 32 O envolvimento, por um sistema que tem força desestruturante, transforma os sistemas simbólicos dos povos indígenas, mudando seus instrumentos de comunicação e significados. A formação de comunidades indígenas pode ser entendida como uma forma de sobrevivência desses povos. Presume-se que o desencaixe de indígenas do seu modo de vida, deixando seu local de origem para se encaixarem em outro modo, em outro lugar, não ocorra naturalmente. Isso decorre do fato de que o lugar onde viviam não ofereça ou tenha perdido a capacidade de oferecer oportunidades, gerando expectativas de mudança, para melhor, onde os mesmos pretendam se estabelecer. Busca por melhores condições de saúde, educação, etc., são exemplos disso. Entende-se que a formação de comunidades por indígenas em espaços diferentes dos locais de origem representa uma mudança de contexto considerável, Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.17-34 principalmente quando indígenas de diferentes etnias passam a viver num mesmo território, em muitos casos, já urbanizados. Um dos elementos identificadores dessa transformação é a forma como passam a ocorrer as transações comerciais, deixando a troca de objetos pelo uso do dinheiro, porque se estabelecem em outros espaços onde a relações sociais influenciam o novo comportamento dos indivíduos por oportunizarem o contato com pessoas detentoras de outras culturas, necessitando elaborar novos significados e representações. No novo território passa a exigir relações sociais diferenciadas e novos papéis dos indivíduos. Este movimento pode ser interpretado enquanto desencaixe dos povos indígenas, seguido de um reencaixe junto a uma nova estrutura, movimento este que é vivido pelos indígenas da Terra Indígena Beija-Flor. Referências ARRUDA, RINALDO SÉRGIO VIEIRA. Imagens do Índio: Signos da Tolerância. In: GRUPIONI,Luís Donizete Benzi, VIDAL, Lux, FISCHMANN, Roseli. Povos Indígenas e Tolerância – construindo práticas de Respeito e solidariedade. São Paulo: EDUSP, 2001. ASSIS, VALÉRIA SOARES DE. 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ISSN 1676-8965, dezembro de 2010. 34 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.35-46 Os Fundamentos da População na Análise do Crédito: Uma Amostra em dois bairros de Santarém-PA. Aurecley Gomes da Silva* Francisco Edson Sousa de Oliveira** RESUMO O trabalho vem expor e ilustrar a necessidade (em seu caráter social) e viabilidade (por seu custo financeiro), de implantação da pesquisa e construção de um guia financeiro, no que concerne a avaliação das diferentes opções de crédito como produto financeiro para o cidadão santareno, que necessita neste momento de assistência administrativo-financeira para melhor compreender e gerenciar seus recursos, mais precisamente suas fontes de financiamentos (créditos). Trabalhamos nesta pesquisa, a coleta, tabulação e análise de dados, pretendendo identificar quais as principais instituições credoras; quais produtos financeiros de créditos o cidadão de Santarém mais consome e quais critérios ele utiliza para escolha do melhor produto, dentre tantas ofertas no mercado local. Palavras-chave: Crédito, cidadão, administrativo-financeira ABSTRACT The work comes to expose and illustrate the need (in its social character) and feasibility (by its financial cost), search deployment and building a financial Guide, in relation to an assessment of the different options of credit financial product for the citizen who needs right now santareno of administrative and financial assistance to better understand and manage their resources, more precisely their sources of financing (credits). We work in this research, the collection, tabulation and analysis of data, intended to identify what are the main creditor institutions; What financial products claims the Santarém citizen consumes more and what criteria it uses for choosing the best product, among so many offerings in the local market. However, through research and is legally based on financial management concepts, we strive to provide an informational base capable of guiding the citizen of this city when the choice of the best and most suitable products. Key words:credit, financial-administrative, citizen *Administrador de empresa graduado, com especialização em recursos financeiros. Professor dos cursos de Administração e Gestão empresarial das Faculdades Integradas do Tapajós. Administrador efetivo da Prefeitura Municipal de Santarém e Assessor administrativo de empresas. **Possui graduação em Letras pelo Instituto Luterano de Ensino Superior de Santarém (1994), mestrado em Gestão do Desenvolvimento e Cooperação Internacion pela Universidade Moderna (1999) e doutorado em Literatura Geral e Comparada - Universite de Limoges (2006). Atualmente professor - Faculdades Integradas do Tapajós. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração escolar, escola rural e comunidades. 35 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.35-46 XXX Ano Introdução Em meio às grandes corporações e multinacionais que dominam os fatores que formam o mercado capitalista mundial, com a produção de bens e serviços, as instituições financeiras surgem e assumem a posição privilegiada das mais rentáveis e mais lucrativas organizações empresariais do mercado global. Seus produtos, indispensáveis ao desenvolvimento de qualquer empreendimento empresarial, também se firmam como necessários e até fundamentais para manutenção dosistema econômico e da família que atualmente não passa sem um produto financeiro de crédito. Não é difícil compreender a importância do crédito como fonte de recursos para empresas e mais especificamente para o cidadão, esse produto financeiro vem facilitar a satisfação das necessidades desses agentes e torna possível a realização dos sonhos de muitos. Todavia, quando o assunto é crédito, todo cuidado é pouco, pois são tantas as instituições financeiras e muito mais, é o número e diversidade de linhas de créditos (produtos financeiros), colocadas à disposição do público consumidor através de intermediários financeiros no mercado de créditos. Fatores como prazos, sistemas de amortização, encargos financeiros, garantias e taxas de juros, constituem alguns dos muitos conceitos a serem considerados na análise financeira das opções que envolvem fontes de financiamentos como origem de recursos, seja para pessoa jurídica ou física, sendo esta última o foco do nosso trabalho. As dificuldades em encontrar atendimento especializado, pessoal devidamente capacitado e treinado, que ofereçam esclarecimento e detalhamento dos muitos fatores que compunha os produtos de créditos, nas empresas que atuam neste segmento em Santarém. Exige ainda hoje da população local e pouco esclarecida em finanças, mesmo em pleno século XXI _época marcada pela informatização e pelo alto e facilitado fluxo de informações_ recorrer à indicação de amigos, conhecidos ou funcionários mal orientados, quando da necessidade de se obter uma nova fonte de financiamento (crédito), quando não, aceitam a oferta do primeiro que lhe propõem alguma facilidade na consecução desse produto, como “parcelas que cabem no seu bolso”. Buscamos então através deste trabalho, Identificar quais os critérios utilizados hoje pelo cidadão santareno para analisar e avaliar as diversas opções de crédito destinado à pessoa física (como um produto financeiro), que são colocadas à disposição do público consumidor através dos agentes intermediários do mercado financeiros de créditos em Santarém, cidade alvo do trabalho em questão. Base Teórica 36 Os empréstimos através do mercado de crédito aqui no Brasil, mais precisamente em Santarém do Pará, constituem um importantíssimo meio de capitalização e uma forma ponderada de satisfazer necessidades, realizando sonhos de pessoas e objetivos de empresas. Contabilmente, os empréstimos são conhecidos como “capital de terceiros”. Entendamos aqui o capital como o conjunto de bens, Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.35-46 direitos e obrigações de um particular e o capital de terceiros como a parcela correspondente às obrigações assumidas. Para Montana e Charnov (1998, p. 67), “capital de terceiro é aquele dinheiro emprestado à organização para ser usado em negócio”. Já para Gitman (2004, p. 264): “Capital de terceiros inclui todos os empréstimos de longo prazo contraídos pela empresa, incluindo as obrigações emitidas” e de uma forma mais sucinta afirma Ribeiro (2003, p. 55): “Corresponde a parte do patrimônio que a empresa deve a terceiros”. São normalmente negociados através de intermediários financeiros do mercado de crédito como as empresas financeiras, os bancos e outros, devidamente legitimados pelas autoridades monetárias do país, essas entidades constituem o sistema financeiro nacional e respondem pela transferência de recursos dos agentes superavitários para os deficitários. Mas, como em todo e qualquer empreendimento empresarial, trabalhar com empréstimos também têm seus riscos e consequentemente seus custos, que naturalmente serão repassados ao tomador final deste produto, o consumidor. Os agentes denominados credores (financeiras e bancos), fazem esforços para captar recursos na praça a ponto de reunir um volume satisfatório de fundos, que venham suprir as requisições de montantes feitas por seus clientes emprestadores e que ainda lhes possibilite, através de suas operações, proverem-lhes de um retorno digno e satisfatório. Nesta operação os credores captam pequenos volumes de fundos de numerosos poupadores e aplicadores, denominados de agentes superavitários por possuírem excedente de capital, para dispor de linhas de crédito que atendam àqueles necessitados de empréstimos, também conhecidos como agentes deficitários, já que possuem carência de numerário. Há, portanto nesta atividade, um sacrifício e uma estrutura para captação de recursos a ser remunerada pelo tomador que terceiriza serviços à financeira, incumbida da responsabilidade de encontrar os poupadores e aplicações que buscam a melhor opção de investimento para o seu dinheiro, ou seja, uma remuneração favorável (altas taxas de juros) proporcional aos riscos existentes em determinada operação financeira, assim, cabe aos intermediários financeiros, oferecerem vantagens e garantias de retorno a estes investidores. Segundo Groppelli e Nikbakht (2006, p. 53): Risco, ou incerteza acerca do futuro, também causa um declínio no valor do dinheiro. Como o futuro é incerto, o risco aumenta com o passar do tempo. A maioria das pessoas deseja evitar o risco, assim, valorizam mais o dinheiro agora do que a promessa do dinheiro no futuro. Eles se dispõem a entregar seu dinheiro pela promessa de recebê-lo no futuro apenas se forem adequadamente recompensadas pelo risco a ser assumido. Entretanto, essas ações tornam onerosa a transação financeira para o consumidor final deste tipo de produto, sendo o risco o principal fator de influência sobre o custo do crédito. Risco para Mellagi e Ishikawa (2003, p. 209): “É a possibilidade do tomador de empréstimo não honrar seus compromissos de pagamento”. Fica evidente neste tipo de transação financeira, a existência de uma dinâmica das taxas de juros (compensação do credor e custo do tomador) negociadas pelas 37 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.35-46 p.XXX Ano instituições credoras com seus clientes (emprestadores) no mercado de crédito e que em parte define o custo do dinheiro (crédito) para as pessoas e empresas, sendo esta determinada pela soma da taxa de juros oferecida coma incentivo aos agentes superavitários e a taxa estipulada para remuneração dos intermediários financeiros, conhecida como spread. Segundo Fortuna (2002, p. 149), “spread é a diferença entre o custo do dinheiro tomado e o preço do dinheiro vendido, como, por exemplo, na forma de empréstimo”. Já para Andrezo e Lima (2002, p. 2): “A diferença entre a remuneração paga pelos tomadores de recursos e o custo do dinheiro captado dá-se o nome de spread.”. Neste momento, faz-se necessário compreender que os intermediários financeiros utilizam esta dinâmica em suas operações e essa por sua vez, vem diferenciar o custo do crédito, variando entre as empresas credoras como base de negociação com seus clientes, por isso, há de ser considerada pelo tomador em potencial ao analisar as opções deste produto financeiro existentes no mercado onde está inserido. Buscando desta forma, construir e manter uma harmonia na relação credor e emprestador fazendo um casamento adequado das informações, combinando o crédito desejado com a capacidade de pagamento, garantindo assim para si mesmo a qualidade de bom pagador e com isso, a abertura de muitas portas, criando cada vez mais, novas e melhores oportunidades de negócios. O Crédito O crédito é, portanto, um produto negociado no mercado financeiro, mais precisamente no mercado de crédito, tendo por objetivo suprir a carência de recursos de pessoas e empresas pela ampliação do poder de compra, que se dá com a transferência de fundos dos agentes superavitários para os deficitários por intermédio das instituições financeiras. Segundo Schirickel (1995, p. 25): Crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente, após decorrido o tempo estipulado. Esta parte do patrimônio pode estar materializada por dinheiro (empréstimo monetário) ou bens (empréstimo para uso, ou venda com pagamento parcelado, ou a prazo). 38 Este produto, ofertado pelas instituições financeiras da região de Santarém, irá em parte compor a origem de recursos tanto do cidadão quanto de empresas na formação do montante de capital a disposição desses agentes. Das muitas operações relacionadas pelas instituições financeiras destacamos aquelas que atendam, pelo menos em parte, os interesses do cidadão, como a conta garantida e o financiamento de bens e serviços de consumo duráveis, relacionando assim os mais usuais dos inúmeros produtos ou linhas de crédito existentes no mercado financeiro de crédito em Santarém (área de abrangência da pesquisa), originárias dessas duas atividades e destinadas a suprir as necessidades de recursos dos agentes deficitários. Mas, não podemos deixar de considerar a importância da divisão desses produtos de acordo com as características do consumidor final (pessoa Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.35-46 física e jurídica). Logo, segue algumas das muitas linhas de créditos destinadas à pessoa física (foco do trabalho) encontradas em Santarém do Pará: · Adiantamento imposto de renda pessoa física- IRPF; · Aquisição de veículo; · Bens duráveis; · Cheque especial; · Compra de dívida; · Crédito aporte; · Crédito automático · Crédito direto ao consumidor- CDC · Crédito diretíssimo; · Crédito para material de construção; · Crédito pessoal MBA; · Débito em conta; · Desconto em folha; · Empréstimo consignado; · Empréstimo em cheque; · Empréstimos pessoais; · FINAME; · Financiamento de veículo; · Leasing de veículo; · Microcrédito; · Nota promissória 13º salário; · Nota promissória rural; · Penhor. · PRONAF e; · Refinanciamento de veículo; Existe uma grande quantidade de linhas de crédito no mercado santareno a disposição do cidadão e apesar de muitas terem a mesma finalidade, ou seja, destinarem-se ao mesmo propósito, recebem denominação diferente, que varia de instituição para instituição de acordo com a política de gestão e o discernimento de cada uma. Essa diferenciação de nomes só vem dificultar o trabalho de análise e avaliação desses produtos financeiros e para quem não dispõe de embasamento científico na área de finanças, a coisa tende a ficar ainda mais complicada, pois se amplia o leque de informação a ser considerada no processo de avaliação, com a grande diversidade desses produtos. Metodologia Este trabalho está fundamentado numa pesquisa de campo, com a distribuição aleatória e posterior coleta de 200 (duzentos) questionários em dois bairros da cidade de Santarém, sendo 100 (cem) direcionados a profissionais liberais e acadêmicos das Faculdades Integradas do Tapajós (FIT), outros 100 39 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.35-46 XXX Ano (cem) direcionados a profissionais liberais e acadêmicos das Faculdades Integradas do Tapajós (FIT), outros 100 (cem) a residentes domésticos, numa proporção amostral de aproximadamente um questionário para cada grupo de trinta pessoas da população dessas duas comunidades (bairros do Aeroporto Velho e Maracanã). A necessidade de investigar os fatos e produzir os indicadores que determinam as escolhas e as perspectivas da população santarena diante das opções oferecidas pelo mercado, no que diz respeito a produtos financeiros de créditos, proporciona um enfoque quantitativo com pressupostos empírico-analítico ao trabalho, nos permitindo através da dedução evidenciar com determinado rigor, as relações existentes no processo de análise e avaliação de produtos financeiros, que estabelecem as causas dos acontecimentos, tratados como as escolhas do cidadão em relação a opções de créditos, e os efeitos por elas gerados. Podemos assim isolar e mensurar os acontecimentos que influenciam as decisões da população, quando da definição e escolha deste ou daquele produto de crédito, desta ou daquela instituição financeira e de posse de tais informações, identificamos a tendência que guia e conduz o cidadão em suas buscas por produtos financeiros dentro do mercado de crédito em Santarém, região Oeste do estado do Pará. A análise dos dados coletados se dará através de medidas e procedimentos estatísticos que serão apresentados por meios de gráficos, ampliando com isso, a possibilidade e a facilidade de visualizar e interpretar as informações contidas nos mesmos. Propomos evidenciar a viabilidade, necessidade e opinião pública sobre a implantação de um guia financeiro com enfoque na pessoa física, ou seja, criação de um instrumento que oriente e norteie o cidadão e a família santarena, ao analisar, avaliar e optar por um determinado produto de crédito como meio de satisfazer as mais diversas necessidades desse público consumidor. Resultado da Pesquisa Os informantes deste trabalho foram orientados e garantidos quanto ao anonimato. E o resultado dos dados coletados através de questionários foi analisado e interpretado em conjunto com demais materiais, para maior clareza foram todos tabulados e ordenados. Assim, conciliando as informações, obtivemos a porção de respostas para cada questão levantada. Também foram utilizados gráficos, que servirão para ilustrar e facilitar a análise dos dados, estes apresentam em cores os diversos padrões de respostas e em número percentual, a proporção daquelas com mesmo resultado. Este critério de análise possibilita mensurar e avaliar o trabalho através da confrontação das informações. Desta forma, pudemos determinar que dos 200 entrevistados em Santarém, 78% deles utilizam os bancos comerciais como principal intermediário financeiro, enquanto 15% preferem as agências de factoring e apenas 7% buscam outras instituições para suas operações financeiras de crédito. 40 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.35-46 Figura 1: Gráfico das Instituições Preferidas O produto mais consumido entre os pesquisados com 62% de ocorrência é o cartão de crédito, em seguida vem o cheque especial com 23% das indicações e os 15% restantes buscam outros. Figura 2: Gráfico de Produtos Consumidos Quanto ao tipo de informação solicitada durante aquisição de um crédito, considerando o nível de importância pelas convicções do cidadão santareno, a taxa de juros apresentada na operação, ocupa o primeiro lugar com 54% das respostas seguida pelo prazo para liquidação da dívida com 31% das respostas, o juro acumulado durante todo o período de transação fica com 15% das afirmações. Figura 3: Gráfico de Informações Solicitadas A análise do produto em negociação é feita por 69% dos participantes através de simples comparação das taxas de juros, enquanto 31% preferem tomar os juros como critério, assim, o menor define o melhor. 41 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.35-46 p.XXX Ano Figura 4: Gráfico de Critério de Análise São poucos os entrevistados que afirmam fazer uso de um tipo de ferramenta financeira em suas análises e avaliações sobre o crédito como produto financeiro, totalizando 15% os que dizem trabalhar com algum tipo de tabela, 7% os que se utilizam a técnica da taxa interna de retorno e 15% faz uso do cálculo do valor futuro, entretanto, 63% das respostas representam os que não operam com qualquer ferramenta financeira. Figura 5: Gráfico das Ferramentas de Análise Dentre os pesquisados 69% esclarecem suas dúvidas em relação as suas transações financeiras com a própria instituição credora, contudo, 31% deles não procuram esclarecimento algum em relação aos fatores que compunham o produto de crédito em negociação. Figura 6: Gráfico de Esclarecimento de Dúvidas 42 Quando questionados sobre a autoavaliação econômico-financeira, as respostas em relação a como produzir orçamentos foram definidas por 23% das pessoas, simplesmente analisando quanto gastam, 31% quanto ganham e do total entrevistado apenas 39%. Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.35-46 Figura 7: Gráfico da Avaliação Econômico-Financeira A liquidez, principal indicador de estabilidade financeira, é definida por 62% dos cidadãos pesquisados como uma simples comparação entre as receitas e as despesas e 38% nem se preocupam com esse indicador. Figura 8: Gráfico da Definição de Liquidez Dos informantes deste trabalho, 24% confirmam ter endividamento superior a 50% e outros 38% dizem estar endividados abaixo de 50%. Todavia, os 38% restantes sequer conhecem seu nível de endividamento. Figura 9: Gráfico do Endividamento Ao perguntarmos, qual dúvida sobre finanças gostariam de esclarecer? Do total questionados, 38% gostariam de saber mais sobre os juros reais das transações financeiras que realizam, já 15% tem dúvidas quanto aos meios que determinam as taxas de juros envolvidas nas negociações com crédito e os 47% restantes demonstram interesse em saber calcular os juros incorridos, de forma parcial e/ou integral, nas atividades financeiras. 43 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.35-46 p.XXX Ano Figura 10: Gráfico de Dúvidas Existentes Todas essas informações foram extraídas das tabelas e gráficos que padronizam as respostas em relação às questões levantadas com o trabalho facilitando a análise que confirma, o cartão de crédito como o produto mais consumido, os bancos comerciais como instituições mais procuradas, a taxa de juros como informação mais relevante para o cidadão santareno, as instituições financeiras como principal fonte de esclarecimento para o consumidor de crédito em Santarém e a revelação de que são poucos, os indivíduos preocupados com o planejamento financeiro, que se dá através do orçamento, ou com nível de endividamento e de liquidez, indicadores responsáveis pela formação da capacidade de assumir e pagar dívidas. Esses indicadores refletem as perspectivas e preferências da população investigada sobre os produtos financeiros de crédito e expõem os fundamentos financeiros do cidadão na análise e avaliação das muitas opções de crédito disponíveis no mercado financeiro de crédito em Santarém. Conclusão 44 O mercado brasileiro passa por um período em que o setor financeiro ocupa posição privilegiada entre os demais, sendo o que mais cresce no país. Para a população, isso se traduz em tempos de crédito farto e facilitado, momento em que o dinheiro praticamente bate à nossa porta, é preciso ser forte para resistir às tentações que acompanham o crédito, como poder satisfazer e realizar desejos e sonhos de consumo, já que os recursos necessários estão à disposição para uso. Todavia, não se pode esquecer, muito menos desprezar as implicações que envolvem uma operação de crédito, ou seja, tomar um empréstimo. Temos impostos, tarifas bancárias, taxas de juros, prazos de amortização entre outros fatores que caracterizam esse tipo operação e que precisam da nossa atenção. A análise e a avaliação dos fatores que compunham os produtos financeiros de créditos, não é uma tarefa das mais fáceis, principalmente para quem tem pouca ou nenhuma instrução sobre finanças e tão pouco conhece os atributos da administração financeira, como é o caso da população santarena, enfatizado neste trabalho. O cidadão, como pessoa física e foco deste trabalho, faz pouco ou nenhum uso das ferramentas financeiras ao analisar suas transações com produtos de créditos, mesmo expressando ter muitas dúvidas em relação a termos financeiros, quase a metade dos consumidores não buscam esclarecimentos a respeito dos mesmos. Para essas Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.35-46 pessoas os bancos comerciais representam seu principal intermediador financeiro e o cartão de crédito, o produto de crédito mais consumido. Todavia, a maioria desses indivíduos se quer procuram determinar sua real capacidade de assumir uma nova obrigação e pouco se preocupam em estipular suas condições de liquidá-la. Enfatizado e exposto no conteúdo do trabalho, esse tipo de atitude só vem agravar e tornar evidente a falta de conhecimento e base insegura da população, para o gerenciamento financeiro familiar. Alguns estudos confirmam que a qualidade de vida e o pagamento de juros são grandezas inversamente proporcionais, isso quer dizer que quem paga muitos juros tende a ter pouca qualidade de vida, essa afirmação quando somada ao pouco conhecimento de finanças do cidadão santareno, só vem justificar o porquê de tantas dificuldades financeiras e como consequência, problemas de endividamento; pessoais; de saúde; de relacionamentos; entre outros pelas quais muitos brasileiros estão passando, em virtude de sua instabilidade econômico-financeira. Para tanto, antes de assumir uma obrigação financeira, avalie a real necessidade daquele bem ou serviço, é sempre bom definir com antecedência a sua atual situação financeira, que se dá confrontando as receitas futuras com as despesas previstas para o mesmo período, acompanhar constantemente o endividamento, evitando que os gastos não previstos no orçamento (planejamento) ultrapassem 25% de toda receita. É sempre bom pagar a vista e preservar o direito de pedir descontos, evite entrar no limite e cheque especial devido às taxas elevadas, em se tratando de pré-datado e pagamento mínimo do cartão de crédito, todo cuidado é pouco, pois se faz necessário muita atenção e controle para evitar transtornos e dissabores no futuro. Perceba a existência da diferença, entre o poder gastar parte do que se ganha com entretenimento e ter que usar esta parcela dos recursos disponíveis para pagar dívidas. Não há nada de extraordinário nessa afirmativa que a possa dificultar a compreensão, o que poderia ser transformado em benefícios e prazer é utilizado para pagar as obrigações e os juros acumulados. Todavia, essa é a realidade e o dilema enfrentado por muitos em Santarém e no Brasil. O nosso trabalho, só vem expor os fundamentos financeiros do cidadão na análise e avaliação de opções de créditos em Santarém, revelando fatos, que nos permitem determinar, após análise criteriosa dos dados colhidos e apresentados neste estudo, o baixo nível de esclarecimento da população em relação a finanças, mas precisamente sobre produtos de crédito, e a pouca preocupação deles como consumidores deste tipo de produto na hora de produzir análise e controle de sua posição econômico-financeira, assim como, gerir e avaliar suas fontes de recursos. Como ferramenta norteadora e guia do cidadão que busca conhecimentos financeiros para garantir maior controle e melhores critérios de decisão em finanças, o trabalho expressa plena aprovação dos pesquisados que aspiram à criação de um manual financeiro mais direcionado às suas necessidades cotidianas e que sejam menos complexo possível. 45 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.35-46 p.XXX Ano Referências ANDREZO, A. F e LIMA, I. S. Mercado Financeiro: aspectos históricos e conceituais. São Paulo: Pioneira Tomson Learning, 2002. FORTUNA, E. Mercado Financeiro: Produtos e serviços. 15ª ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. GITMAN, L. J. Princípios da Administração Financeira. 10ª ed. São Paulo: Pearson Addson Wesley, 2004. GROPPELLI, A. A e NIKBAKHT, E. Administração Financeira. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006. MONTANA, P. J. e CHARNOV, B. H. Administração. São Paulo: Saraiva, 1998. RIBEIRO, O. M. Contabilidade Básica Fácil. São Paulo: Saraiva, 2003. SANVICENTE, A. Z. Administração Financeira. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1987. SCHIRICKEL, W.K. Analise de Crédito: Concessão e gerencia de empréstimos. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 1995. 46 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.47-56 Comunidades Ribeirinhas da Amazônia: Relato de Experiência Franciane Aguiar Santana* RESUMO As comunidades ribeirinhas da Amazônia têm sido alvo de várias pesquisas de cientistas. O objetivo deste estudo é relatar a experiência vivida por acadêmica do último ano de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará, em comunidades ribeirinhas localizadas em Aveiro e Belterra, no Pará. Matérias e métodos: O relato de experiência se deu em comunidades ribeirinhas, as margens do Rio Tapajós, dos municípios de Aveiro e Belterra-PA, através da Unidade Móvel – Abaré. A coleta de dados consistiu no levantamento bibliográfico e de campo. Resultados e discussões: Diante de uma natureza exuberante e da biodiversidade que cerca as comunidades ribeirinhas deste estudo, esconde também o lado da dificuldade vivida por esse povo, revelando a falta de políticas públicas voltadas para estas, nos setores da saúde, saneamento básico e outros. Quando o assunto é família, nas comunidades ribeirinhas percebe-se que na maioria das vezes estas são numerosas. Além de disso, em sua maioria, revelam uma condição de saneamento básico inadequada, favorecendo o aparecimento das chamadas parasitoses e infecções. Quanto à saúde nessas comunidades, as dificuldades enfrentadas ficam ainda mais sensíveis. Assim, pode-se perceber a existência de apenas um posto de saúde localizado em uma das comunidades, mostrando a precariedade no acesso aos serviços de saúde por estes povos. Considerações Finais: O Abaré busca atender algumas necessidades básicas dessa parcela da população amazônica. Assim, se apresenta como uma oportunidade ímpar os profissionais de saúde que queiram conhecer a realidade das comunidades ribeirinhas que ficam localizadas ao longo do Rio Tapajós. Palavras-chave: Comunidades ribeirinhas, relato de Experiência, Abaré ABSTRACT The riverside communities in the Amazon have been the target of several research scientists. The objective of this study is to report the experience of the last academic year of Nursing, University of Pará, located in riverside communities in Belterra and Aveiro, in Pará. Materials and methods: The experience report came in riverside communities, the banks of the Rio Tapajós, the cities of Aveiro and Belterra-PA through the Mobile Unit - Abare. Data collection consisted of literature and field. Results and discussion: Facing an exuberant nature and biodiversity surrounding coastal communities of this study, also hides the side of the difficulty experienced by these people, revealing the lack of public policies for those in the sectors of health, sanitation and other. When it comes to family, the riverside communities realize that in most cases these are numerous. Besides this, mostly reveal a condition of inadequate sanitation, favoring the emergence of calls and parasitic infections. Regarding health in these communities the difficulties are even more sensitive. Thus, one can see that there is only one health post located in a community showing of poor access to health services for these people. Final Thoughts: The Abare seeks to meet some basic needs of this segment of the population Amazon. Thus, presents itself as a unique opportunity healthcare professionals who want to know the reality of coastal communities that are located along the Rio Tapajos. Key words:Riparian Communities, Experience report, Abaré * Graduando em Enfermagem na Universidade do Estado do Pará; Engenheira Florestal graduada pela Universidade Federal Rural da Amazônia; Pós- graduando em Sociedade, Meio Ambiente e Desenvolvimento sustentável na Amazônia pela Universidade Federal do Oeste do Pará; [email protected] 47 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.47-56 XXX Ano Introdução As comunidades ribeirinhas da Amazônia têm nos últimos tempos, sido alvo de várias pesquisas de cientistas que se interessam em conhecer e entender como é a vida dos ribeirinhos dessa região. Dessa forma, Diegues (apud FRAXE, 2007) percebe que as populações tradicionais possuem um modo de vida específico, uma relação única e profunda com a natureza e seus ciclos, uma estrutura de produção fundamentada no trabalho da própria população, com utilização de técnicas baseadas na disponibilidade dos recursos naturais existentes dentro de fronteiras definidas, adequando-se ao que a natureza tem a oferecer, e também manejando quando necessário. Em tais populações, ocorre uma constante difusão de saberes através das gerações como forma de eternizar a identidade do grupo. Para o ribeirinho, o rio institui o alicerce de sobrevivência dos ribeirinhos, graças, sobretudo às terras férteis de suas margens, além de se apresentar como via de transporte. Geralmente os ribeirinhos dividem o tempo entre a agricultura (roçados) e a pesca artesanal, o que consiste a pesca de subsistência. Segundo Souza et al. (apud FRAXE, 2007), a atuação de médicos, dentistas e outros agentes de saúde especializados nas comunidades é fato raro e esporádico, principalmente nos locais mais afastados, e este isolamento impõe dificuldades enormes, que fazem com que as populações tradicionais da Amazônia busquem muitas vezes, nas plantas medicinais que cultivam, o tratamento profilático para as doenças. No entanto, as comunidades ribeirinhas da Floresta Nacional do Tapajós pertencentes aos municípios de Aveiro, Belterra e Santarém, no Estado do Pará, podem contar com os serviços de saúde prestados pela Unidade de Saúde MóvelAbaré. O que de fato ameniza a carência dessas comunidades relacionadas à saúde. O objetivo deste estudo é relatar a experiência vivida por acadêmica do último ano de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará, em comunidades ribeirinhas localizadas nos municípios de Aveiro e Belterra-PA. Materiais e Métodos O relato de experiência se deu em comunidades ribeirinhas localizadas na Floresta Nacional do Tapajós, as margens do rio Tapajós, dos municípios de Aveiro e Belterra-PA, através da Unidade Móvel de Saúde- Abaré, financiada pelo Ministério da Saúde. A Floresta Nacional do Tapajós foi criada em fevereiro de 1974, através do Decreto n° 73.684 publicado pelo Presidente da República Emílio Médici. Está situada na região do médio Amazonas, incorporando áreas de terras pertencentes aos municípios de Belterra, Aveiro, Rurópolis e Placas no Estado do Pará, possui uma área de aproximadamente 600 mil hectares e é limitado a Oeste pelo rio Tapajós e a Leste pela Rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163). Possui uma população de 48 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.47-56 aproximadamente 1100 famílias distribuídas em 25 comunidades, localizadas, em sua maioria as margens do rio Tapajós (SOARES, 2006, p.18). A experiência da acadêmica ocorreu em dois períodos: 04 a 14 de Outubro de 2010 e 03 a 08 de Agosto de 2011. Durante esse período a acadêmica de enfermagem, da Universidade do Estado do Pará, esteve prestando assistência de enfermagem no Barco Abaré, juntamente com a equipe da Unidade de Saúde, hoje pertencente ao Ministério da Saúde. O Abaré atende aproximadamente 15.000 beneficiários de 73 comunidades nas duas margens do rio Tapajós, promovendo o acesso aos programas da atenção básica como pré-natal, PCCU, planejamento familiar, imunizações, saúde oral, saúde da criança, atendimentos médicos, pequenas cirurgias, atendimentos ambulatoriais e realizações de exames de rotina. Por este motivo o barco ganhou o nome de Abaré - sugerido pelos próprios comunitários – que, em tupi, significa o amigo cuidador (PROJETO SAÚDE E ALEGRIA, 2010). Vale ressaltar, que o Abaré está equipado com sala odontológica e de obstetrícia, equipamentos para exames clínicos básicos completos, entre outros, além de dispor de instrumentos de comunicação e educação, com espaços para palestras e oficinas de capacitação. Além disso, tem uma ambulancha, facilitando o resgate de pacientes nos casos emergenciais. Contudo, a metodologia utilizada consistiu no levantamento bibliográfico e no trabalho e observação de campo. Fundamentação Teórica O conceito de população tradicional é um conceito bastante debatido entre os pesquisadores, não existindo definição universalmente aceita. Entretanto, vem sendo largamente empregado como autodenominação de populações rurais quando na exigência de seus direitos a território e políticas públicas que atendam as suas especificidades e respeitem seus conhecimentos, sua cultura e suas práticas (COLCHESTER, 2000; CASTRO, 2000 apud FRAXE, 2007). Quando as chuvas enchem os rios e riachos, esses inundam lagos e pântanos, marcando o período das cheias que, por sua vez, regula a vida dos ribeirinhos. A ideia de comunidade é frequentemente associada a uma configuração espacial física: o bairro, o povoado, os moradores de uma bacia ou ribeirinhos. Essa visão de comunidade, que ignora as diferentes relações sociais existentes não é a ideal quando o objetivo é a promoção do desenvolvimento (LEROY apud FRAXE, 2007). Os ribeirinhos são pessoas instaladas às margens dos rios, que desenvolvem permanentemente uma estreita relação com o ambiente, a qual se manifesta numa intensa interação. Isso pode ser revelado em diversos aspectos do cotidiano em relação à conservação do solo, da água, da fauna e da flora que caracterizam a condição sociocultural das comunidades ribeirinhas. Deste modo, as comunidades ribeirinhas revelam suas especificidades que 49 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.47-56 p.XXX Ano Deste modo, as comunidades ribeirinhas revelam suas especificidades que puderam ser percebidas por, Silva (2009), onde relata que nessas localidades, “o homem auxilia a mulher na aquisição de alimentos para a criança e na construção da casa que protege o concepto”. Segundo Silva (2006, apud COSTA, SARMENTO, 2008, p.47), em virtude do isolamento de seus núcleos populacionais, resultado de difícil acesso e distribuição dispersa destes núcleos, a realidade dessas populações revela uma grande desigualdade de acesso aos serviços públicos de saúde em comparação com as áreas urbanas. As populações que vivem nas comunidades ribeirinhas, que apesar da riqueza e extensão da região, constituem uma população que clama por melhoria de condições de bem-estar econômica e social. Além disso, deve ser considerada a insuficiência dos meios de transporte e comunicação que estas comunidades enfrentam. Assim, a via fluvial é a mais utilizada forma de transporte nessas localidades (COSTA, SARMENTO, 2008, p.47). No entanto, apesar das dificuldades citadas acima, as comunidades ribeirinhas podem contar com um barco itinerante, o Abaré, sob a administração do município de Belterra que oferece atendimento à saúde, através de um roteiro de viagens mensais atendendo os municípios de Aveiro, Belterra e Santarém. Resultados e Discussão Durante as viagens realizadas pode-se identificar um pouco do que é a vida do povo ribeirinho. Diante de uma natureza exuberante e da biodiversidade que cerca as comunidades ribeirinhas da Flona Tapajós, esconde também o lado da dificuldade vivida por esse povo, como se pode observar em alguns momentos deste trabalho, revelando muitas vezes, a falta de políticas públicas voltadas para estas comunidades. No entanto, o trabalho realizado pelo Abaré é de esplêndido valor e importância para as comunidades ribeirinhas atendidas pela equipe de profissionais de saúde que durante o ano percorre o Rio Tapajós levando Saúde e Alegria aos ribeirinhos, que aguardam pela passagem do Abaré nas margens de suas comunidades. Além disso, essa Importância é considerada partindo-se da ausência dos serviços de saúde na maioria das comunidades. Algumas vezes, as condições para a embarcação “atracar” na margem das comunidades se torna difícil. Isso ocorre no período em que o rio diminui de volume, ou seja, no período da seca, prevista para os meses de setembro e outubro. Essa situação faz com que o Abaré fique no “meio do rio” e os comunitários através das “voadeiras” (Transporte fluvial) se dirijam até a Unidade Abaré. 50 Vale ressaltar, o trabalho também dos arte-educadores, como são chamados os palestrantes que levam educação em saúde para os ribeirinhos, e algumas vezes se transformam em “palhaços” e levam a alegria as crianças e adultos das comunidades ribeirinhas da Flona tapajós, durante as viagens. Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.47-56 Contudo, a vida nas comunidades ribeirinhas será demonstrada através de pontos centrais para melhor entendimento sobre as dificuldades diárias destas. Família Quando o assunto é família, nas comunidades ribeirinhas percebe-se que na maioria das vezes estas são numerosas, sendo a média geral para todas as comunidades de 5,4 pessoas morando em cada casa, como revela o Instituto da Amazônia- Imazon (2009). No entanto, também nota-se que em algumas famílias o número de pessoas residindo na mesma casa chega a 10 pessoas. Chama atenção esse número por alguns motivos, como o tamanho da moradia que muitas vezes, consiste em pequenos cômodos, sem considerar o fato em que a casa apresenta geralmente dois quartos apenas. De longe se percebe que uma família com grande número de pessoas, de fato estes passaram por algumas privações, principalmente em comunidades ribeirinhas, onde sabe-se que o acesso a alguns serviços básicos como educação e saúde são precários. Vale ressaltar, que a família ribeirinha vive da pesca artesanal e de roçados que são atividades voltadas apenas a sua subsistência. No entanto, a bolsa família do governo federal, também chega a estas comunidades para ajudar na renda das famílias. Saneamento Básico As instalações sanitárias são as chamadas “Cistinas” ou de “buraco”, onde os dejetos são descartados diretamente no solo, sem nenhum tratamento, o que leva a contaminação do solo, consequentemente dos lençóis freáticos. A água chega até as casas através de “baldes” que são levados, geralmente pelas mulheres, que buscam a água no rio. Algumas vezes a distância entre a casa e o rio ou igarapés é bastante significativa, fazendo com que essas mulheres tenham que caminhar pelo menos 30 minutos, trazendo o balde com água na cabeça. Sendo essa água utilizada para fazer as refeições diárias e para beber. Quanto ao banho este é realizado também no rio ou nos igarapés, além da lavagem de roupa da família. Contudo, as comunidades ribeirinhas deste estudo, em sua maioria, estão dentro do contexto citado acima, revelando uma combinação de falta de água potável e instalações sanitárias inadequadas. Trata-se de um ambiente que favorece o aparecimento das chamadas parasitoses e infecções. Segundo estudos da Unicef (2004), a Região Norte apresenta condições de saneamento básico piores que as do Nordeste, região esta que se caracteriza pelo baixo poder aquisitivo da população e por alguns dos mais desfavoráveis indicadores do país. Saúde Quando se fala em saúde em comunidades ribeirinhas, as dificuldades enfrentadas por este povo ficam ainda mais sensíveis. 51 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.47-56 XXX Ano Pois durante a viagem pode-se comprovar a existência de apenas um posto de saúde localizado em uma das comunidades. O que de fato revela a precariedade no acesso aos serviços de saúde por estes ribeirinhos, e o que aumenta a importância do trabalho realizado pelo Abaré e por aqueles que algumas vezes voluntariamente, prestam assistência na Unidade Abaré. Durante os atendimentos no Abaré, observou-se também o problema considerado de Saúde pública, que é a gravidez precoce. No entanto, vale ressaltar que um dos motivos é a falta de informação de algumas famílias relacionada às probabilidades legais para, por exemplo, garantir pelo menos, que o pai da criança ajude financeiramente à adolescente, caso ele se recuse a assumir a paternidade. No entanto, deve-se ressaltar o trabalho realizado pelo conselho tutelar nas comunidades ribeirinhas da Flona Tapajós de Belterra-PA que buscam zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. A importância deste foi comprovada através de visitas domiciliares realizadas juntamente com os membros destes. Atividades Realizadas Durante a Viagem Pré-natal O Pré-natal realizado no Abaré segue o que é preconizado pelo Ministério da Saúde (MS, 2006) onde mostra os passos que devem ser seguidos desde a primeira consulta. Na primeira consulta de pré-natal, deve ser realizada anamnese, abordando, aspectos epidemiológicos, além dos antecedentes familiares, pessoais, ginecológicos e obstétricos e a situação da gravidez atual. O exame físico deverá ser completo, constando avaliação de cabeça e pescoço, tórax, abdômen, membros e inspeção de pele e mucosas, seguido por exame ginecológico e obstétrico. Nas consultas seguintes, a anamnese deverá ser breve, abordando aspectos do bem-estar materno e fetal. Inicialmente, deverão ser ouvidas dúvidas e ansiedades da mulher, além de perguntas sobre alimentação, hábito intestinal e urinário, movimentação fetal e investigação sobre a presença de corrimentos ou outras perdas vaginais. Quanto aos exames solicitados durante o Pré-natal, estes eram realizados no Abaré, sendo entregue a gestante no máximo duas horas depois, entre os exames solicitados estão: Glicemia, um exame na primeira consulta e outro próximo à 30ª semana de gestação; ABO-Rh, hemograma completo, na primeira consulta; VDRL, um exame na primeira consulta e outro próximo à 30ª semana de gestação; Urina tipo 1, um exame na primeira consulta e outro próximo à 30ª semana de gestação;Testagem anti-HIV, com um exame na primeira consulta e outro próximo à 30ª semana de gestação e Sorologia para hepatite B (HBsAg). 52 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.47-56 Além dos exames solicitados, as gestantes recebem o suprimento de ferro (Sulfato Ferroso e Ácido Fólico) e são orientadas a realizar a imunização antitetânica ainda pno Abaré e Exame Preventivo (PCCU), quando necessário. PCCU No Brasil, a principal estratégia utilizada para detecção precoce/rastreamento do câncer do colo do útero é a realização da coleta de material para exames citopatológicos cervico-vaginal e microflora, conhecido popularmente como exame preventivo do colo do útero; exame de Papanicolau; citologia oncótica; PapTest (MS,2006). Contudo, deve-se recordar que antes de iniciar a coleta, o profissional de saúde necessita dar início a um diálogo aberto e que possa transmitir confiança para a mulher que irá realizar o exame. Além disso, deve coletar informações como: se está grávida ou suspeita (caso afirmativo não colher material da endocervical; se já teve filhos por parto normal; se é virgem (para facilitar a escolha do especulo mais adequado); se faz uso de anticoncepcional, tratamento hormonal, submeteu-se à radioterapia pélvica; a data da última menstruação; se há sangramento após as relações sexuais; se utiliza duchas ou medicamentos vaginais ou realizou exames intravaginais (durante 48 horas antes da coleta); se teve relações sexuais durante 48 horas antes da coleta. Lembrando que as mulheres atendidas pelo Abaré, quando necessário recebiam a medicação vaginal logo após a coleta do PCCU, sendo orientadas a retornar na próxima viagem do Abaré para receberem o resultado do exame. Planejamento Familiar A política do planejamento familiar vem sendo desenvolvida pelo Ministério da Saúde em parceria com estados, municípios e sociedade civil organizada, no âmbito da atenção integral à saúde da mulher, do homem e dos (as) adolescentes, enfatizando-se a importância de juntamente com as ações de planejamento familiar promover-se a prevenção do HIV/Aids e das outras doenças sexualmente transmissíveis (MS , 2005). Assim, de acordo com este contexto, o Abaré tem realizado o Planejamento Familiar nas comunidades ribeirinhas ao longo do rio Tapajós, através da disponibilização dos métodos anticonceptivos para as mulheres que comparecem no navio para realizar consultas médicas e de enfermagem. Além disso, a assistência em planejamento familiar inclui acesso à informação e a todos os métodos e técnicas para concepção e anticoncepção, cientificamente aceitas, e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, de acordo com a Lei do Planejamento Familiar, Lei n.º 9.263/1996. Durante a viagem pode-se observar uma boa aceitação das mulheres ribeirinhas quanto ao programa planejamento familiar, haja vista, que a maioria dessas mulheres é multípara e não faziam uso de nenhum método contraceptivo. 53 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.47-56 p.XXX Ano Programa de Crescimento e Desenvolvimento (CD) Segundo o Ministério da Saúde, a criança menor de 2 anos cresce rápido e por isso necessita de uma alimentação saudável para fornecer a quantidade de energia e outros nutrientes essenciais para garantir o seu crescimento e desenvolvimento normal, inclusive o desenvolvimento adequado do seu cérebro. Além disso, para ter uma alimentação saudável o bebê precisa, até os 6 meses, ser amamentado exclusivamente ao seio (sem dar água, chá ou qualquer outro alimento) e, depois do sexto mês, precisa comer outros alimentos e continuar mamando no seio até pelo menos 2 anos de idade, porque após os 6 meses, o leite materno sozinho não é suficiente para cobrir as necessidades nutricionais da criança, para que ela cresça e se desenvolva bem (MS, 2004) . Assim, de acordo com este contexto, o acompanhamento da criança através do CD, faz com que, os profissionais da saúde possam identificar as crianças que estão em risco nutricional. Tomando de imediato as decisões necessárias durante o atendimento na unidade de serviço. Portanto, no Abaré, às crianças passam por uma triagem onde é verificado o peso, altura, perímetro cefálico (PC) e Torácico (PT). Em seguida realiza-se o exame físico completo e, quando necessário, transcrição da medicação como polivitaminas e sulfato ferroso. Sendo algumas vezes necessária a solicitação de exames parasitológicos (EPF). Vale ressaltar, que as mães recebem orientações quanto à alimentação e higiene de suas crianças. Consulta de Enfermagem para HAS Antes de falarmos da consulta de enfermagem em indivíduos com HAS, faz-se necessário, destacar que a abordagem multiprofissional é de fundamental importância no tratamento da hipertensão e na prevenção das complicações crônicas. Assim como todas as doenças crônicas, a hipertensão arterial exige um processo contínuo de motivação para que o paciente não abandone o tratamento. Sempre que possível, além do médico, devem fazer parte da equipe multiprofissional os seguintes profissionais de saúde: enfermeiro, nutricionista, psicólogo, assistente social, professor de educação física, farmacêutico e agentes comunitários de saúde (MS, 2006). Quanto à consulta de enfermagem para Pacientes de HAS, o enfermeiro deve aborda fatores de risco, tratamento não-medicamentoso, adesão e possíveis intercorrências ao tratamento, encaminhando o indivíduo ao médico, quando necessário Imunização No Brasil, o Ministério da Saúde oferece gratuitamente um grande número de vacinas contra diversas doenças graves. É muito melhor e mais fácil prevenir uma doença do que tratá-la, e é isso que as vacinas fazem. Elas protegem o corpo humano contra os vírus e bactérias que provocam vários tipos de doenças graves, que podem afetar seriamente a saúde das pessoas e inclusive levá-las à morte. A vacinação não apenas protege aqueles que recebem a vacina, mas ajuda a comunidade como um todo. Assim, o Abaré leva às comunidades ribeirinhas ao longo do rio Tapajós, diversas vacinas além das de rotina, as de campanha também e dessa forma, atendem uma grande 54 demanda, principalmente, de crianças. Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.47-56 Outras atividades realizadas no Abaré Entre as demais atividades realizadas no Abaré estão: tarefas na central de material esterilizado e visitas domiciliares. Considerações Finais O Abaré oferece as comunidades ribeirinhas uma assistência de saúde adequada e busca atender algumas necessidades básicas dessa parcela da população amazônica, através de serviços de odontologia e de obstetrícia, exames clínicos básicos completos, palestras e oficinas de capacitação voltadas para a comunicação/educação. Assim, o Abaré se apresenta como uma oportunidade ímpar para acadêmicos de Enfermagem e outros profissionais de saúde que queiram conhecer a realidade das comunidades ribeirinhas que ficam localizadas ao longo do Rio Tapajós. No entanto, acima das dificuldades vividas por essas comunidades, encontra-se um povo que vive feliz naquela natureza exuberante e que reconhecem e respeitam o trabalho realizado pelo Abaré nessas comunidades. Referências ABARÉ Unidade Móvel Fluvial. Secretária Municipal de Belterra, 2010. BAUCH, S.; SILLS, E.; SAMPAIO, L. SILVA, P.. Meios de vida nas comunidades ribeirinhas da flona do tapajós: um acompanhamento ao longo dos anos. Imazon. Belém- PA, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Os Dez passos para a alimentação saudável de crianças menores de 2 anos : orientações práticas para as mães / Cristina M. G. Monte (et al.). -Vitória : [s.n.], 2004. 48 p. : il. BRASIL. Ministério da Saúde. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada – manual técnico/Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas – Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 163 p. color. BRASIL. Ministério da Saúde. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama / Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília, 2006. Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos: uma prioridade do governo/Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas – Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 24 p. color. Hipertensão arterial sistêmica para o Sistema Único de Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília ; 2006. 58 p. COSTA, R.D.; SARMENTO, T.L.P. Percepções das populações ribeirinhas de comunidades da reserva extrativista Tapajós-arapiuns (RESEX) em relação à atuação da Unidade Móvel de Saúde Abaré. 2008. 47f.Trabalho de Conclusão de Curso.Universidade do Estado do Pará; Santarém-PA; 2008 55 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.47-56 FRAXE, T.J.P.; PEREIRA, H.S.; WITKOSKI, A.C. Comunidades ribeirinhas amazônicas: modos de vida e uso dos recursos naturais. Manaus: EDUA, 2007. 224 p. SILVA, R. F. Valores culturais que envolvem o cuidado materno ribeirinho: Subsídios para a Enfermagem. 2009. 98 fls. xi Dissertação (mestrado em Enfermagem). Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Rio de Janeiro. 2009. SOARES E. S. Desafios, resultados, ameaças e oportunidades em unidade de conservação na Amazônia: A Floresta Nacional do Tapajós. Santarém: IBAMA-Promanejo, 2006. SOSNISKI, C.S.,(Cood). PESQUISA SOCIOECONÔMICA E DE SAÚDE: Uma análise das condições de vida da população assistida pelo navio Abaré.Projeto Saúde & Alegria; Santarém-PA, 2008. TEIXEIRA, P.; BRASIL, M.; SANTOS, C. A; OLIVEIRA, R. M. Ser criança na Amazônia: uma análise das condições do desenvolvimento infantil na região Norte do Brasil. Unicef. Belém-PA, 2004. ______. Lei n. 9.263, de 12 de janeiro 1996. Regula o § 7º do art. 226 da Constituição Federal, que trata do planejamento familiar, estabelece penalidades e dá outras providências. 56 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.57-63 A Educação: A Razão da Inteligência Grega Prof. Dr. Edivaldo da Silva Bernardo* RESUMO O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a razão da inteligência ou conhecimento do povo grego. Com base em pesquisa bibliográfica e fundamentada na obra Paidéia: a formação do homem grego, de Werner Wilhelm Jaeger, infere-se que a educação na Grécia foi fundamental para que a sociedade se aperfeiçoasse durante mais de mil e quinhentos anos, para chegar a um apogeu em certo momento de sua história. Os gregos desenvolveram um conceito de cultura, no sentido essencial, do caráter formativo, educativo, harmonizando matéria e espírito para a formação do homem. Quando o povo grego chega a ter consciência de si próprio, descobre, pelo caminho do espírito, as leis e regras objetivas, cujo conhecimento dá ao raciocínio e a ação uma autoafirmação, antes não conhecida. Assim, a pesquisa mostra que a inteligência grega foi adquirida por meio do processo educativo milenarmente, numa concepção de unidade entre homem e espírito, valores e princípios, que nortearam o comportamento do povo e da sociedade para ações e atitudes de nobreza, enfim, em todas as formas de sobrevivência desta nação. Eis a razão de tanto saber. Palavras-chave: Grécia, educação, sociedade ABSTRACT This article proposes a reflection about the reasons for the intelligence and knowledge of ancient Greeks. Based on literature review especially concentrated on Paidea, from Werner Wilhelm Jaeger, we observe that education was key to the development of Greek society for over one thousand five hundred years, achieving the highest moment in its history. The Greeks have developed a concept of culture, I its essence, of a formative and educative character, harmonizing matter and spirit for the development of men. When the Greek people find self-conscience through the spirit, they discover laws and objective rules, and this knowledge give self-assurance to their rationale and actions unknown before. Thus, this research shows that the Greek intelligence has been achieved through a long educational process, in a concept of unity between man and spirit, values and principles, that have driven the behavior of people and society for noble actions and attitudes, in all forms of survival of this nation. This is the reason of all that knowledge. Key words:Greece, education, society *Doutor em Filologia Clássica com qualificação em História e Literatura Leon Espanha, Profº Adj. Do Programa de Letras Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) e-mail [email protected] 57 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.57-63 p.XXX Ano Introdução A Educação é um fator comum e universal do homem, naturalmente, ela apresenta meios que levam muito tempo a chegar à plena consciência naqueles que a tiveram e praticaram, por isso mesmo, é relativamente demorado a percepção de uma educação evoluída. Toda nação que chega a um certo estágio de desenvolvimento, naturalmente se vê inclinada, à prática educativa. Assim, ela é o início pelo qual a humanidade conserva e repassa suas características físicas e espirituais. Na medida em que as coisas vão mudando, também mudam as pessoas, mas a essência continua a mesma, pois seres humanos e animais, como seres físicos, mantêm sua existência pelo processo natural de procriação. No entanto, o homem, porém, consegue conservar e propagar sua existência social e espiritual, por meio da vontade própria do consciente e da racionalidade. Desta forma, só o homem tem liberdade de escolha em função da razão, perpetuando a espécie pela consciência, fazendo a história através da experiência e deixando para o futuro uma perspectiva de transformação. Na educação moderna, pela natureza das necessidades sociais e humanas, a educação deve ser entendida e trabalhada de forma interdisciplinar, na qual o aluno é agente ativo, comprometido, responsável, capaz de planejar suas ações, assumir responsabilidades, tomar decisões, diante dos fatos e interagir no meio em que vive, contribuindo, desta forma, para a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Já o conceito de educação pensada pelos gregos, fundamenta-se em suas realidades mítico-religiosa. Uma educação consciente, de uma certa forma, pode até mudar a natureza do homem, e suas características, aumentando-lhe a capacidade a um nível superior, mas o espírito humano leva naturalmente a descobri-se e cria pelo próprio conhecimento do mundo externo e interno, melhores condições de sobrevivência. Pela sua própria forma de manutenção e transmissão, o homem, quanto ao físico e espírito é este conjunto que chamamos de educação. É pela educação que o ser humano se auto afirma e se lapida num esforço consciente e racional para chegar ao mais alto grau de desenvolvimento intelectual, firmando-se, assim, dentro de uma contingência espiritual, capaz de fazê-lo transmitir às gerações futuras toda uma gama de experiências benéficas a um fim. A Formação do Homem na Grécia A educação é o processo que se engaja na vida e no crescimento da sociedade, possibilitando no seu destino exterior como na sua estruturação interna o desenvolvimento social. Fica dependente da consciência de valores as transformações, capazes de legitimar os princípios válidos para a sociedade. A solidez das normas e regras aceitas correspondem a estabilidade dos fundamentos educacionais. Sabe-se que os homens aspiram à honra para assegurar o seu valor próprio, a sua virtude. Deste modo, aspiram a ser honrados pelas pessoas sensatas que os conhecem, e por causa do seu próprio e real valor. Reconhecem assim como mais alto esse mesmo valor (GIORDANI, 1980,p. 31). 58 Apesar do pseudo desenvolvimento cultural ocorrido com os povos orientais, desde a China até o Egito, a rigidez de seus valores radicalizaram as transformações, e as Revista Perspectiva Amazônica instabilidades político-sociais não permitiram a esses povos, a alcançar um estágio superior pela educação. Desta forma, o progresso propriamente dito começa com a educação dos gregos. Tudo iniciado pela literatura. Ano 3 N° 6 p.57-63 O helenismo ocupa uma posição singular. A Grécia representa, em face dos grandes povos orientais, um progresso fundamental, um novo “estádio” em tudo o que se refere a à vida dos homens na comunidade. Esta fundamenta-se em princípios completamente novos. Por mais elevados que julguemos as realizações artísticas, religiosas e políticas dos povos anteriores, a história daquilo a que podemos em plena consciência chamar cultura só começa com os gregos (ISAAC, 1964, p. 134). É por isso, por que, no decorrer da história, volta-se constantemente à Grécia, como forma de inspiração e fonte para a elaboração do conhecimento. Quando se fala da grandeza do povo grego envolve-se nesse raciocínio analítico, concepções de valor cultural, uma vez que a harmonia entre a educação e espírito condicionam o apogeu de uma inteligência invejável. Não que os gregos tenham sido únicos. Outros povos não tiveram pouco a oferecer. Mas, a variedade das reflexões sobre quase todos os ramos do conhecimento humano, deixado pelos gregos, para o mundo até nossos dias, é algo inestimável. Contanto que, embora outras contribuições tenham sido deixadas à posterioridade por outras nações não chegaram a ter a importância das deixadas pelos Helenos. Não é possível descrever em poucas palavras a posição revolucionadora e solitária da Grécia na história da educação humana... e foi sob a forma de Paidéia, de cultura, que os gregos consideraram a totalidade de sua obra criadora em relação aos outros povos da antiguidade de que foram herdeiros. Augusto concebeu a missão do Império Romano em função da ideia da cultura grega. Sem a concepção grega da cultura não teria existido 'a antiguidade' como unidade histórica, nem o ' mundo da cultura' ocidental (WERNER, 1989, p.430) Assim, a palavra cultura deriva para um universalismo, onde caracteriza todos os hábitos e costumes de um povo, não mostrando a concepção de humanidade herdada dos gregos. Os gregos desenvolveram um conceito de cultura, no sentido essencial do caráter formativo, educativo, harmonizado matéria e espírito para a formação do homem. Hoje, a generalização da palavra está deteriorada, uma vez que ela não significa o sentido primeiro na cosmovisão antropológica dos Helenos. É necessário que se adentre na análise do espírito grego, para se beber na fonte do originário, elementos que ajudam a estabelecer paradigmas que condicionam a postura e o comportamento humanos. “ O mundo grego não é só o espelho onde reflete o mundo moderno na sua dimensão moderno, na sua dimensão cultural e histórica ou um símbolo da sua autoconsciência racional. O mistério e deslumbramento originário cerca a primeira criação de seduções e estímulos sem eterna renovação!” (WERNER, 1989, pg. 320). Não se trata de oferecer privilégios únicos a um povo, mas trata-se de reconhecer valores que influenciam até hoje o pensamento intelectivo do homem ocidental. Quando o povo grego chega a ter consciência de si próprio, descobre, pelo caminho do espírito as leis e regras objetivas, cujo conhecimento dá ao raciocínio e à ação uma auto-afirmação, antes não conhecida. Os gregos tiveram um senso congênito do que significava a natureza, dando importância fundamental a cosmologia como também da índole humana, quanto 59 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.57-63 p.XXX Ano conhecimento do espírito, da alma. Por isso, o conceito de natureza pensada por eles, tinha inegável origem na sua constituição espiritual. “... Deve-se deixar aos deuses a tarefa de se ocupar com o universo. O homem deve se preocupar com aquilo que lhe diz respeito mais diretamente, pois o conhecimento verdadeiro só se pode ter da alma” (MAGNE, 1971, pg. 139). Todavia, bem antes de o espírito grego conceber essas ideias eles já consideravam as coisas do mundo, numa perspectiva harmoniosa, sem que nada pudesse existir isoladamente, mas sim como um todo ordenado num entrelaçamento vivo, onde tudo ganhava posição e sentido. A tendência do espírito grego para a clara apreensão das leis do real, tendência patente em todas as esferas da vida-pensamento, linguagem, ação e todas as formas de arte. Radica-se nesta concepção do ser como estrutura natural, amadurecida, originária e orgânica (JAEGUER, 1989, p. 108). Portanto, o desenvolvimento intelectual dos gregos em todos os ramos do conhecimento, baseia-se na sua cosmovisão, quanto à natureza cósmica e quanto natureza humana. Suas reflexões e sua arte não foram gratuitas, tinha no intrínseco um caráter pedagógico, por conseguinte educativo. Sempre se questionou: De onde vieram os gregos? Quem são os gregos? E a resposta que concilia essa curiosidade é dada através do processo educativo deste povo. Tinham sim, um conceito, uma visão de mundo, uma regra a seguir, uma norma a respeitar, mas acima de tudo uma disciplina, que junta aos outros valores os transforma em clássicos. A Educação na Arte Grega 60 Pode-se considerar que o estilo e a visão artística dos gregos surgem, no primeiro momento, como dom natural para o estético. Na oratória grega encontra-se os mesmos princípios formais que pode-se encontrar na escultura ou na arquitetura, daí as formas literárias aparecem organicamente. Nessas condições, de ansiar pela busca do abstrato, refletindo o observável, os gregos chegaram ao clímax do conhecimento, do questionamento de todas as coisas, que e a filosofia. Por inerência educativa, o povo é filósofo, visto que buscaram as suas leis, na própria natureza, para aplicá-la ao homem. Sendo os gregos um povo altamente reflexivo era natural a sua busca para explicação das coisas. Primeiro, tentaram explicar a origem do universo, educando gerações e mais gerações para serem dignas da criação. Segundo, buscaram refletir a natureza humana, ou seja, saiu do mocrocosmo para explicar o microcosmo, o próprio homem. Foi tendo essa visão universalizante de natureza, quanto cosmo e quanto homem, que os gregos obtiveram a harmonia entre corpo e o espírito. Foi pela educação que se deu a evolução do espírito, como elemento fundamental na valorização das atitudes e comportamentos, no aspecto social, quanto ao seu trabalho, no aspecto produtivo, pois, colocar estes conhecimentos como força formativa a serviço da educação e formar por meio deles verdadeiros homens, com o oleiro modela a sua argila e o escultor as suas pedras, é uma ideia ousada e criadora que só podia amadurecer no espírito daquele povo artista e pensador. Haja vista que também viram Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.57-63 que a educação tem de ser um processo de construção consciente, para valorização da vida. Na aspiração, à forma como elemento de domínio nas artes e nas coisas da vida, foi que perceberam as leis que regem a natureza humana e que se estrutura a sociedade. Tendo eles - os gregos – uma visão cristalina dos princípios naturais da vida do ser humano e das normas e valores que servem de paradigma para suas forças corporais e espirituais, a educação tinha de adquiri a mais alta importância na formação do homem grego. ... A essência da educação do povo grego consiste na modelagem dos indivíduos pela norma da comunidade. Os gregos foram adquirindo gradualmente consciência clara do significado deste processo. Por fim, através de um esforço continuado a uma fundamentação, mais segura e mais profunda que a de nenhum povo da terra, do problema da educação (JAEGER, 1989, p. 65). A concepção educativa do povo grego, não foi um processo efêmero ou sasonal, mas uma introspecção do abstrato a partir do objetivo, do real, e acima de tudo, do observável quanto realidade. Uma nação que inicia a sua formação histórica de uma forma fragmentária a nível de cultura e de raça e chega em alguns séculos no mais alto estágio de pensamento filosófico e artístico e ainda reflexivo, quanto conhecimento humano, não pode ter adquirido tudo por mero acaso, não fosse uma concepção sistematizadora de normas e princípios. O conceito de coletivo que fundamentava a ação educadora dos gregos está na sua própria obra, não a obra plástica, estática, pictórica arquitetonica, mas essencialmente da dinâmica pela palavra, pela reprodução de sons, do ritmo. É aí que centraliza a ação dos educadores proveniente dos poetas, desde os mais recentes de sua época como dos filósofos pós-socráticos e dos legisladores na formação das leis. Com efeito, os valores são adquiridos pela educação e incorporados à sociedade como bens coletivos, pois Quem está impregnado de auto-estima deseja antes viver um breve período no mais alto gozo a passar por uma longa existência em indolente repouso prefere a viver só um ano por um fim nobre, a uma vida por nada; escolhe antes executar uma única ação grande e magnífica, a fazer uma série de pequenas insignificações”, assim, os gregos se educaram, assim se formaram como nação (MONROE, 1972, pg.282). A Inteligência Grega Afirma PETRIE (1968, pg, 190) que, Conta Platão que era opnião geral no seu tempo ter sido Homero o educador de toda a Grécia. Desde então, a sua influência estendeu-se muito além das fronteiras da Hélade. Nem a apaixonada crítica filosófica de Platão conseguiu abalar seu domínio, quando buscou limitar o influxo e o valor pedagógico de toda a poesia. A concepção do poeta como educador do seu povo no sentido mais amplo e profundo da palavra, foi familiar aos gregos desde a sua origem e manteve sempre a sua importância. Refletindo o desenvolvimento intelectual dos gregos, nossas conclusões chegam ao óbvio, uma vez que toda nação desenvolve-se na proporcionalidade da evolução educativa do seu povo. Assim, os gregos chegaram ao topo do patamar do saber, porque dos seus valores estavam condicionados a uma educação natural, partindo da própria produção artística. 61 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.57-63 p.XXX Ano Homero foi iniciador desta pedagogia com as obras Ilíadas e a Odisséia. Através dos séculos, todos os valores correspondentes ao heroísmo, a honra, a bravura e ao relacionamento com os deuses foram incorporados no seio da coletividade, transformando-se no bem precioso para formação do homem em sociedade. Foi a partir deste processo educativo que provém a inteligência grega. E isto não é demonstrado só nos poemas homéricas, mas basicamente em toda a obra artística produzida por este povo. Hesíodo considerado o segundo grande poeta grego, também produziu uma obra voltada para a formação educativa dos gregos, evidenciando desde a justiça do estado e o direito do homem. Toma isto em consideração: atende a justiça e esquece a violência. É o uso que Zeus impõe aos homens: Os peixes e os animais selvagens e os pássaros alados podem devorar-se uns aos outros porque entre eles não existe o direito. Mas aos homens concedeu ele a justiça o mais alto dos bens (DIAKOU,1976,p. 127). Assim, esses valores passaram a representar um estado de espírito. Hesíodo, poeta campesino, busca através da didática poética, enculcar no homem de seu tempo, o sentido abstrato de valores nunca antes refletidos, é no intuito educativo de Hesíodo que está a verdadeira raiz de sua poesia. Daí, a importância igual ou maior tem o fato de o povo grego considerar definitivamente Hesíodo um educador orientado para o ideal do trabalho e da estrita justiça, incorporando ao meio campesino, simples motivações que pudessem transformar o homem na sua essência, fazendo-o um continuador da sua obra didática-a poesia. Por outro lado, o poeta espartano Tirteu, fez uma poesia onde as palavras e os conceitos conduzem os homens ao respeito do Estado, ao sacrifício e a guerra. Não pode-se dizer que a Esparta foi uma cidade grega sem grandes influências na formação educativa do homem. A educação aí se manifesta nos poemas de Tirteu na ânsia de um bem mais alto, através do heroísmo. Diz JAEGER que “ A morte é bela quando é a de um herói. E se é herói quando se morre em pela pátria. Esta ideia dá a morte o sentido de um holocausto da própria pessoas em prol de um valor mais consistente” (1989, pg, 320), não fugindo assim, de mostrar ao homem espartano uma formação duradoura para a reprodução de grandes feitos. Mas vai ser com Sófocles que inicia um movimento espiritual de incalculável importância para a posteridade. É a origem da educação no sentido primeiro da palavra. O conceito de virtude sempre esteve vinculado com a questão educativa, pois, foi das necessidades mais profundas da vida do Estado que nasceu a ideia da educação, a qual reconheceu no saber e a nova e poderosa força espiritual daquele tempo, para a formação dos homens, buscando em toda a atividade humana, uma postura diante da vida da sociedade, seguindo paradigmas passados, conscientemente de geração em geração. Nesse processo de evolução educativa para formar o homem grego e consequentemente, justificar sua inteligência no conhecimento do homem e do não se pode deixar de destacar os sofistas, que são considerados os fundadores da ciência da educação, visto que estabeleceram os fundamentos da pedagogia JAEGER afirma que, 62 ... Ninguém compreendeu e descreveu de modo tão adequado as circunstâncias políticas que condicionaram o otimismo educacional dos sofistas como o seu grande crítico, Platão. O seu protágoras continua a ser a fonte para onde sempre se Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.57-63 tem valor: a prática educativa e o mundo das ideias dos sofistas surgem nele numa grande unidade histórica e revelam-se de maneira incontestável os seus pressupostes políticos e sociais ( 1989, p. 149). Assim, os sofistas, embora vivendo um momento especial na sociedade grega, criaram condições para divulgar sua filosofia, mas acima de tudo solidificar um conceito novo de educação que vai ajudar o povo grego a continuar produzindo sabedoria. Igualmente, muitos filósofos fizeram obras, cujo conceito básico era a pedagogia. Portanto, todo tipo de produção artística, provenientes dos gregos tinha cunho educativo, o que transformou esse povo no mais sábio do mundo. Pois, foi através da interação entre o processo histórico da formação do homem grego e o processo espiritual que os gregos chegaram a criar ou elaborar seu ideal de humanidade. E todos esses processos se fundamentam na educação, onde a harmonia entre o homem e espírito, homem e natureza, fazem desse povo - os gregos -a grande Referências DIAKOV, V. E KOVALEV S. História da antiguidade – Grécia. Lisboa: Estampa, 1976. GIORDANI, Mário Curtis. História da Grécia. Petrópolis: Vozes, 1986. JAEGER, Werner Wilheim. Paidéia. A Formação do homem grego. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1989. MAGNE, Augusto. História da literatura grega clássica. São Paulo: Anchieta, 1971. MONROE, Paul. História da educação. Rio de Janeiro: Nacional, 1972. PETRIE, A. Introducion AL estúdio de Grécia. México: Fondo de Cultura Econômica, 1968. ROSTOVTZEFF, Michel Ivanovitch. História da Grécia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1968. SCIACCA, Michele. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1962. TAYLOR, Sherwood. Pequena história da ciência. São Paulo: Martins Fontes, 1973. 63 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.64-78 Estudos de Métodos de Coleta de Mosquitos (Diptera: Culicidade) Alternativos ao deAtração Humana Paoola Cristina Bezerra Vieira* Inocêncio de Sousa Gorayeb** RESUMO Houve uma evolução dos tipos de armadilhas ao longo do tempo e vários métodos de captura de mosquitos foram desenvolvidos, porém nenhum obteve rendimento semelhante à coleta direta por atração humana. Este trabalho teve por objetivo testar métodos de captura de culicídeos alternativos ao método de atração humana, incluindo o desenvolvimento de novas técnicas, que podem substituir o método tradicional de captura direta em humanos. O estudo foi desenvolvido próximo ao Parque Estadual do Utinga no município de Ananindeua, estado do Pará, Brasil. Os métodos utilizados foram: armadilhas CDC, CDC UV, Shannon, armadilha desenvolvida por J. A. Rocha, armadilha desenvolvida por I. S. Gorayeb e captura direta em humanos. As armadilhas foram instaladas em seis pontos, por seis noites consecutivas. Foram capturados 13.099 espécimes de Culicidae distribuídas em sete gêneros e 27 espécies, sendo Anopheles triannulatus a mais abundante. A captura por atração humana foi o método que coletou maior diversidade e abundância de mosquitos, seguido pela armadilha de Shannon para abundância e pela armadilha de Gorayeb para diversidade. Palavras-chave: Culicidae, Diptera, métodos de coleta, armadilhas, Amazônia oriental ABSTRACT There was an evolution of the types of traps over time and various methods of capturing mosquitos were developed, but none achieved similar performance to direct human bait. This study aimed to test methods of capturing Culicidae alternative method of human attraction, including the development of new techniques, which can replace the traditional method of direct human bait. The study was conducted near the “Parque Estadual do Utinga, Ananindeua, Pará, Brazil”. The methods used were: CDC traps, CDC UV, Shannon trap developed by J. A. Rocha, trap developed by I. S. Gorayeb and collection by human attraction. The traps were installed in six points for six consecutive nights. 13,099 specimens of Culicidae were captured, distributed in seven genera and 27 species, Anopheles triannulatus being the most abundant. Capturing by human attraction method was collected higher diversity and abundance of mosquitoes, followed by Shannon trap for abundance and Gorayeb trap for diversity. Key words: Culicidae, Diptera, collection methods, traps, eastern Amazon *Parte da dissertação de mestrado ao Programa de Pós-graduação em Zoologia da Universidade Federal do Pará e Museu Paraense Emilio Goeldi. Coordenadora da Entomologia do Laboratório Central do Estado do Pará (LACEN) da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (SESPA), graduada em biologia pela Universidade Federal do Pará e mestrado pelo Programa de Pósgraduação em Zoologia da Universidade Federal do Para / Museu Paraense Emílio Goeldi, Pará, Brasil. **Pesquisador da Entomologia, Coordenação de Zoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, Pará; graduado em biologia pela Universidade Federal do Pará; especialista, mestre e doutor pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; pós-doutorado na “Florida State Collections of Arthropods, University of Florida, Gainesville, USA”. 64 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano Introdução Nos últimos anos, uma variedade de alternativas à coleta por atração humana direta tem sido utilizada para estimar populações de mosquitos. Essa variedade inclui coletas com pulverização à base de piretroides, armadilhas com animais iscas, abrigos para repouso de mosquitos, redes eletrônicas, armadilhas com odores para atrair insetos picadores e armadilhas de luz (SEXTON et al, 1986; RUBIO-PALIS; CURTIS, 1992; RUBIO-PALIS, 1996; BURKETT et al, 2001; SITHIPRASSANA et al, 2004; OKUMU et al, 2010a; OKUMU et al, 2010b), além de armadilhas utilizando animais como atrativos, odores lácteos, meias de nylon com odores humanos, CO2, octenol, entre outros (OKUMU et al, 2010a; OKUMU et al, 2010b; OWINO, 2010; JAWARA et al, 2009; GAMA et al, 2007; HIWAT et al, 2011). Há também um longo histórico de uso de armadilhas alternativas para coletar anofelíneos na América Latina e no Caribe (PRITCHARD; PRATT, 1944; BUSTAMANTE; PIRES, 1949; WILTON, 1975; LOURENÇO-DE-OLIVIERA, 1984). Apesar dos vários métodos utilizados para amostrar as populações de adultos, nenhum deles é tão eficiente como a coleta por atração humana direta para estudos de comportamento das espécies antropofílicas. Os resultados são diretos e importantes para: análises das espécies; capacidade vetorial; taxas de infecção; comportamento intra e peridomiciliar; atividades horárias de hematofagia; sazonalidade; respostas a substâncias repelentes; dentre outros. No entanto, esse método tem sido ultimamente usado com maior cautela, pois expõe os coletores ao risco de contraírem doenças veiculadas por mosquitos. A coleta por atração humana direta foi praticamente desautorizada, mas, apesar disso, muitas pesquisas continuaram sendo desenvolvidas porque não existiam métodos alternativos com a mesma eficiência de captura e que correspondessem às relações naturais entre as populações de espécies de mosquitos e humanas. O Manual de Entomologia e Controle de Vetores da Organização Mundial de Saúde (WHO, 2003) define como um fator determinante da transmissão da malária o número de vetores que picam humanos, portanto é importante saber: quais espécies de anofelinos picam humanos e quais picam animais; quais são vetores de malária; frequência de ataque do vetor; se o vetor ataca fora ou dentro das residências; pico de atividades hematofágicas das espécies vetoras; e sazonalidade. Este manual orienta também que, nas coletas de mosquitos em humanos, devem-se tomar cuidados adequados e eficazes para evitar contrair malária. Além disso, os mosquitos devem ser coletados antes que piquem as pessoas. Devem ser mensuradas as taxas de busca aos humanos em vez das taxas de picadas dos mosquitos. Existem preocupações éticas porque as pessoas estão em risco de infecção. Estas preocupações devem ser consideradas antes de utilizar esta técnica. Recomenda-se evitar o uso desta técnica especialmente se existem outras que possibilitem estimar as taxas de mosquitos que buscam picar as pessoas. Em 2008, no “II Seminário Internacional de Ferramentas e Instrumentos Utilizados no Controle de Vetores” formou-se um “Grupo de Trabalho sobre captura de mosquitos utilizando atração humana” que emitiu um importante parecer 65 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano técnico, a Normatização da Captura por Atração Humana (Ministério da Saúde do Brasil, 2008) e, em consequência disso, vários avanços foram alcançados para a proteção dos coletores contra as picadas dos mosquitos durante as coletas por atração humana. O Ministério da Saúde do Brasil vem induzindo, incentivando e apoiando pesquisas para o desenvolvimento de novos métodos que possam avançar os procedimentos de coletas alternativas ao de atração humana direta. Okumu et al (2010a) comentaram que o Plano de Ação Global para Malária da OMS prioriza a realização de proteção com mosquiteiros tratados com repelentes e inseticidas residuais intradomiciliares, junto com diagnóstico e tratamento (WHO, 2009), mas também a eliminação da transmissão da malária (WHO, 2009; ROBERTS; ENSERINK, 2007). Apesar destes esforços, há preocupações crescentes porque as ferramentas existentes podem não ser adequadas para alcançar estes objetivos e porque alternativas ou intervenções complementares são urgentemente necessárias (WHO, 2009; ROBERTS; ENSERINK, 2007; TANNER; SAVIGNY, 2008; TAKKEN; KNOLS, 2009; GREENWOOD, 2009; HEMINGWAY et al, 2006). O uso de métodos alternativos para coletar culicídeos que tragam resultados como os citados acima terá implicações importantes para programas de prevenção de várias doenças veiculadas por mosquitos, como dengue, febre amarela, filarioses e, principalmente, a malária, no Brasil. Um método alternativo à coleta direta por atração humana pode diminuir consideravelmente o risco de contrair doenças, principalmente para as pessoas que trabalham rotineiramente com entomologia e saúde pública, além de possibilitar o avanço das pesquisas com espécies antropofílicas. Neste trabalho, se compara a capacidade operacional de cinco métodos de coleta de culicídeos (dos quais três utilizam humanos como atrativos e os dois outros não o fazem) com o método tradicional de atração humana direta. Assim, a cobertura de um programa de saúde pode ser aumentada e as novas técnicas de controle podem ser avaliadas com menores riscos. Metodologia Aspectos Éticos Seguindo orientação da Resolução 196/1996 (CONEP, 1996), este trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Instituto Evandro Chagas/SVS/MS. Todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido elaborado para este estudo. Área de Estudo 66 O estudo foi realizado em uma área privada, no município de Ananindeua, Pará, Brasil, que faz limite com o Parque Estadual do Utinga em Belém, Pará, Brasil, localizada nas coordenadas geográficas 01º24'35,60”S 48º24'30,87”W. Ao longo de sua extensão existe uma floresta com tipologia predominante de floresta de terra firme e outras tipologias como: florestas de várzeas (alta e baixa), matas secundárias, igapós e macrófitas aquáticas nos lagos Água Preta e Bolonha (IMBIRIBA JUNIOR; COSTA, 2003). Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.64-78 Métodos de Captura Métodos que envolvem humanos como atrativo a) GORAYEB (Anexo -Figura 1) - Uma nova armadilha para captura de mosquitos com atração humana foi desenvolvida por Inocêncio de Sousa Gorayeb (pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi), buscando não submeter pessoas as picadas e diminuir o esforço de trabalho no ato de capturar. Esta armadilha foi pela primeira vez testada neste experimento. A armadilha é composta basicamente de duas pirâmides sobrepostas e conectadas; uma, superior, de plástico preto resistente (lona plástica), que não permite a passagem do ar ventilado; outra, interna, de tecido telado fino (filó), que permite bem a passagem de ar, mas não permite a passagem dos mosquitos. Um frasco coletor posicionado no topo da pirâmide superior, feito de pedaços de canos de PVC de 75 mm de diâmetro, que contém vedação superior com filó e ventoinha, que produz corrente de ar de direção antigravitacional, mantém os mosquitos aprisionados. Um sistema de ventiladores, posicionados perto do chão, acionados por corrente elétrica de 12 volts de uma bateria de 60 Hz, empurra os culicídeos para cima. Seu funcionamento consiste em manter uma pessoa sentada em uma cadeira, dentro da armadilha, protegida por tela de filó. Os mosquitos são empurrados para a parte superior da armadilha por correntes de vento acionadas pelos ventiladores, que funcionam em intervalos temporais reguláveis. A patente desta armadilha foi registrada no INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial em 30 de junho de o 2010, pelo protocolo N 0000221003638702, PI 1002058-6 A2, tendo como depositante o Museu Paraense Emílio Goeldi, como inventor Inocêncio de Sousa Gorayeb e como procuradora Lenice de Melo Soares (SANTOS; OLIVEIRA) (INPI - Revista da Propriedade Industrial, 2011). b) ROCHA (Anexo -Figura 2) - Desenvolvida por José Almir Moraes da Rocha (professor da Faculdades Integradas do Tapajós, Universidade do Estado do Pará e Universidade Federal do Oeste do Pará). Consiste em uma pessoa permanecer deitada em uma rede de dormir, protegida por telas de filó. O princípio está baseado no aprisionamento de mosquitos que são atraídos para a pessoa na busca de repasto sanguíneo; ficam presos em compartimentos (câmaras), não atingindo a pessoa. Após o período de coleta, a pessoa, com auxílio de um aspirador de sucção, coleta todos os mosquitos presos nas câmaras da armadilha. A armadilha está descrita na tese de doutorado de Rocha (2005) e foi testada pela primeira vez nos experimentos deste trabalho. É constituída por uma rede de dormir e um mosquiteiro, adaptados. Este último é feito de filó, sendo composto de uma parte central (câmara de proteção), à qual o usuário tem acesso por uma abertura com zíper. Após sua instalação na câmara, essa abertura é isolada pelo fechamento do zíper. Nas partes superior e inferior da câmara de proteção, há compartimentos que percorrem toda a sua extensão; nestes há várias aberturas que possibilitam tanto a entrada dos mosquitos que estão à procura de repasto sanguíneo, como a introdução 67 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano do aspirador para a retirada dos mosquitos das câmaras. A armadilha é suspensa pelos punhos da rede e fica distendida com o auxílio de varetas colocadas nas câmaras superior e inferior. A parte inferior e dos punhos da armadilha são feitas de um tecido mais resistente (brim). A parte inferior é esticada por apoios de cordões fixados no solo. c) SHANNON – Desenvolvida por Shannon (1939) para ser utilizada com isca animal, porém já sofreu diversas modificações. Neste trabalho, utilizamos uma versão modificada desta armadilha, que consiste em um grande compartimento de 160 cm de comprimento por 130 cm de largura e 90 cm de altura, com septo central de 160 cm de comprimento por 200 cm de altura, e toda feita de um tecido resistente de algodão. Na parte superior da armadilha, pelo lado de dentro, próximo ao septo central, foi colocada uma lâmpada fluorescente, que serviu de atrativo para os mosquitos. Duas pessoas coletoras, totalmente protegidas, percorriam a armadilha em intervalos de 30 min coletando, com aspiradores elétricos de sucção, os mosquitos atraídos. Métodos que não utilizam humanos como atrativo a) CDC (Centers for Disease Control) – As armadilhas luminosas do tipo CDC (SUDIA & CHAMBERLAIN, 1962) atraem os insetos a uma pequena fonte de luz de tungstênio. Quando estes se aproximam da luz são sugados para o interior da armadilha por uma ventoinha. Os insetos coletados por este método permanecem vivos no compartimento receptor. A armadilha CDC consiste em um cilindro de acrílico transparente de aproximadamente 20 cm de comprimento e 10 cm de diâmetro. Na parte superior, há uma pequena lâmpada e, logo abaixo, uma ventoinha que produz uma corrente de ar com direção gravitacional e funciona por uma corrente de 6 ou 12 v. Uma bandeja de alumínio cobre a armadilha, protegendo-a da chuva. Na parte inferior, acopla-se um saco de tecido de tela fina (organza), onde os insetos ficam aprisionados. b) CDC UV – Descrita por Wilton e Fay (1972). Esta armadilha é uma versão modificada da armadilha de luz CDC. Ela consiste em um cano de PVC de aproximadamente 15 cm de comprimento e 10 cm de diâmetro; na parte inferior, há uma pequena lâmpada ultravioleta e, logo acima, uma pequena ventoinha com ventilação direcionada para cima. Acima desta, está o saco de tecido (organza), onde os insetos ficam aprisionados; acima do saco de coleta, há uma bandeja de metal que serve de proteção da chuva. A diferença para a CDC normal é que a luz é ultravioleta em vez da luz incandescente amarela de tungstênio, e a ventilação é invertida, ou seja, antigravidade: o ventilador empurra os mosquitos para cima, onde são aprisionados no coletor de tecido de malha fina. Captura por atração humana direta As coletas por atração humana direta foram feitas com auxílio de tubos de ensaio contendo papel toalha umedecido com acetato de etila. Quando o mosquito pousa sobre a pele, o tubo de ensaio é colocado sobre o mosquito, que voa para dentro dele. Em seguida, o tubo é fechado com algodão. Os tubos foram colocados em sacos plásticos separados a cada hora. As pessoas que atuaram como coletores foram devidamente treinadas, visando a captura dos mosquitos antes de serem picadas, diminuindo o risco de contraírem doenças. 68 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.64-78 Desenho Experimental As coletas foram realizadas durante seis dias no mês e replicadas por três meses consecutivos, no período de setembro a novembro de 2006, durante os dias de lua nova, para evitar a influência da luz da lua nas armadilhas (RUBIO-PALIS, 1992). Na área experimental fez-se um transecto onde os seis métodos de coleta foram instalados, em seis pontos diferentes (P1-P6), com 100 m de distância um do outro. Em cada mês foi feito um desenho de replicações 6 x 6 durante seis noites consecutivas, e cada armadilha foi rotacionada ponto a ponto, a cada noite. As armadilhas funcionaram das 18 às 22 horas. Os insetos coletados foram acondicionados e transportados para o laboratório, onde foram identificados com auxílio das chaves de Faran e Linthicum (1981) e Consoli e Lourenço-de-Oliveira (1994). Os indicadores para comparação entre os métodos são a densidade e a diversidade de mosquitos coletados. As comparações foram testadas utilizando-se os métodos distância euclidiana para definir as armadilhas com eficiências mais semelhantes e o método ANOVA para comprovar se há diferença significativa entre os métodos testados. Os testes foram feitos utilizando-se o pacote estatístico Bioestat 5,3 (AYRES et al, 2007). Resultados Durante o estudo, foram coletados 13.099 espécimes de Culicidae, representados por 27 espécies, sendo Anopheles triannulatus Neiva & Pinto, 1922, com 4.180 espécimes, a mais abundante (Anexo -Tabela 1). O método por atração humana direta foi o que coletou maior quantidade de mosquitos, com 6.316 exemplares, seguido da armadilha Shannon, que capturou 2.639 espécimes de culicídeos, sendo as armadilhas CDC e CDC UV pouco eficientes na coleta de espécimes desses mosquitos (Anexo -Figura 3). A análise multivariada (distâncias euclidianas) demonstrou que a armadilha mais semelhante ao método por atração humana direta em abundância de mosquitos coletados por ponto foi a armadilha Shannon, com 4,08 de distância, seguida da armadilha Gorayeb, com 4,52 de distância. As armadilhas CDC, CDC UV e Rocha foram as que mais se diferenciaram do método por atração humana direta, com 5,98; 6,90 e 6,82 de distância, respectivamente (Anexo -Figura 4). A análise entre as armadilhas demonstrou que, quando comparadas com o método por atração humana direta, apenas a armadilha Shannon mostrou-se significativamente semelhante na captura em número de mosquitos (p>0,05). O método por atração humana direta, além de ter sido eficiente para o número de mosquitoscoletados,tambémfoioquecoletouomaiornúmerodeespécies,com25nototal, seguido da armadilha Gorayeb, com 19 espécies.Aarmadilha CDC UV foi a que coletou o menornúmerodeespécies,apenasnove(Anexo -Figura5)Aanálisedadistânciaeuclidiana mostrou que a armadilha Gorayeb foi a que mais se aproximou do método por atração humana direta, com 2,96 de distância, apesar de mostrar-se significativamente diferente do métodoporatraçãohumanadireta(p<0,05)(Anexo-Figura6). 69 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano Ao analisar os pontos de coleta a ANOVA demonstrou que não há diferença significativa entre os pontos de coletas amostrados (p>0,05) e mostrou também que não há diferença significativa no número de espécies capturadas nos diferentes pontos (p>0,05). Ao comparar as médias do número de mosquitos capturados por métodos com atrativos humanos e métodos sem atrativos humanos, as análises estatísticas mostram que há diferença significativa entre ambos (p<0,05). Os métodos que utilizam humanos como atrativos são mais eficientes do que os que não os utilizam, mas não há diferença significativa entre os pontos de coleta (p>0,05). Discussão 70 Rubio-Palis e Curtis (1992) ao avaliar o número de espécimes coletados constataram que o número de mosquitos coletados em captura por atração humana foi significativamente maior que os coletados pelas armadilhas CDCs; os dados do presente estudo reforçam os acima citados, pois a avaliação dos métodos utilizados neste trabalho demonstrou que o método por atração humana direta foi o que coletou maior abundância. Estudos de Sexton et al (1986) e Rubio-Palis (1996), demonstraram que a armadilha CDC UV foi mais eficiente que outros métodos experimentados, incluindo o de atração humana, quando associadas à componentes químicos. Esta discrepância pode ser justificada pela ausência das espécies mais abundantes na área estudada em Belém, além de que esta armadilha não foi testada associada com CO2 e Octenol. Burkett et al. (2001) compararam diversas armadilhas com a armadilha de Shannon e mostraram que esta foi mais eficiente para a captura de mosquitos anofelinos, reforçando os dados deste trabalho. As análises estatísticas mostraram que a armadilha de Shannon pode ser uma possível substituta ao método de captura por atração humana direta, quando se quer analisar a densidade de anofelinos capturados, pois os resultados apresentaram significância, no entanto não podemos desconsiderar o fato da armadilha de Shannon também utilizar indiretamente a atração humana. A armadilha desenvolvida por Rocha não foi tão eficiente quanto as outras. Esta armadilha parece ser eficiente apenas quando a quantidade de mosquitos no local é muito alta, pois, no primeiro mês de amostragem, quando houve alta abundância de mosquitos, ela capturou um número elevado de culicídeos; no entanto, nos outros meses de coleta, em que houve um declínio na quantidade, esta armadilha coletou pouquíssimos exemplares. Das armadilhas que utilizam humanos como atrativos, esta é a que proporciona maior conforto à pessoa, pois esta fica deitada numa rede durantetodo período de coleta, sem empreender esforços na captura de mosquitos, além de não se expor a picadas, pois ela fica protegida por um mosquiteiro. Hiwat (2011) comparou três diferentes tipos de armadilhas com a captura direta em humanos e observou que nenhuma das armadilhas testadas, mesmo quando associadas a CO2, foi tão eficiente quanto a atração direta, resultados que também foram observados neste experimento. Além da eficácia deste método, tanto para diversidade Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.64-78 quanto para densidade, podemos observar também que ele apresenta outras vantagens, tais como: melhor qualidade do material coletado (o que facilita na identificação) e maior seletividade (pois apenas os anofelinos são capturados). Porém, a principal desvantagem deste método é que a pessoa coletora fica exposta às picadas de mosquitos, e, consequentemente, mais suscetível a contrair doenças transmissíveis por vetores, além de sofrer maior desconforto. Tal fato faz com que a utilização deste método seja objeto de diversas discussões éticas que não aconselham seu uso. Após a realização desses experimentos, alguns aparatos de coleta de mosquitos foram desenvolvidos e merecem ser testados com as espécies brasileiras e comparados com os métodos apontados no presente artigo. Por exemplo, Okumu et al (2010a) desenvolveram um aparato que denominaram Ifakara Odor-Baited Station que é uma cabana em forma de caixa, feita de tela, sobre uma armação de madeira (de 1,5 m x 1,5 m x 1,75 m), com sete aberturas para a entrada de mosquitos. Esta estação pode ser utilizada tanto para capturar como para contaminar mosquitos com substâncias. O mesmo grupo de pesquisa do Ifakara Health Institute, na Tanzânia (OKUMU et al (2010b), desenvolveu uma substância sintética que é mais atrativa para mosquitos que os humanos. A armadilha desenvolvida por Gorayeb também pode ser utilizada sem uma pessoa como atração, e, em vez disso, pode funcionar com substâncias atrativas (INPI, 2011); também ela precisa ser testada em localidades com altas populações de Anopheles darlingi, principal vetor da malária no Brasil. Conclusão A partir dos resultados obtidos nesta pesquisa, observou-se que nenhum dos métodos testados pode ser utilizado com a mesma eficácia obtida pelo método de atração humana direta. No entanto, é possível que duas ou mais das melhores metodologias testadas possam ser utilizadas de forma associada, para que se possa aproximar dos resultados obtidos pelo método de atração humana. Ao comparar os métodos que utilizam humanos como atrativo (armadilhas Gorayeb, Rocha e Shannon), concluiu-se que nenhum deles é significativamente semelhante ao método de atração humana direta na captura de culicídeos, porém a armadilha que obteve resultados mais próximos, ao se avaliar diversidade de espécies capturadas, foi a Gorayeb. Quando o objetivo for analisar diversidade, a armadilha Gorayeb, apesar de não ser significativamente semelhante, foi a que mais se aproximou do método de captura por atração humana direta e pode ser uma possível substituta ao método. No entanto, quando o objetivo for avaliar a densidade de mosquito, a armadilha Shannon foi a que mais se aproximou do método de captura por atração humana direta, mostrando-se significativamente próxima a este para coleta de anofelinos. Assim, esta armadilha pode ser uma possível substituta para o método de atração humana direta. 71 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano Referências AYRES, M.; AYRESJR, M. ; AYRES, D. L. & SANTOS, A. A. S. Bioestat 5,3 – Aplicações estatísticas nas áreas das ciências bio-médicas. 5ª ed. Belém. 2007. A c e s s o e m 2 3 / 0 1 / 2 0 1 3 , d i s p o n í v e l e m : http://mamiraua.org.br/downloads/programas . BURKETT, D.A.; LEE, W. J.; LEE, K. W.; KIM, H. C.; LEE, H. I.; LEE, J. S.; SHIN, E.H.; WIRTZ, R. A.; CHO, H. W.; CLABORN, D. M.; COLEMAN, R. E. & KLEIN, T. A. Light, carbon dioxide, and octenol-baited mosquito trap and hostseeking activity evaluations for mosquitoes in a malarious area of the Republic of Korea. 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Journal of the American Mosquito Control Association. 1986; 2:168-173. 2003; 107p. 74 Revista Perspectiva Amazônica Tabela 1 – Espécies e número de exemplares de Culicidae coletados pelos seis métodos utilizados em Ano 3 N° 6 p.64-78 Ananindeua, Pará; número de exemplares acumulados de todas as coletas. (AHD = atração humana direta). CDC Shannon Gorayeb AHD Rocha Total UV Aedeomyia sp. Teobald, 1901 6 13 8 27 Anopheles darlingi Root, 1926 21 4 7 3 23 2 60 A. deaneorun Rosa-Freitas, 1989 1 4 5 A. intermedius Peryassú, 1908 1 2 3 A. triannulatus Neiva &Pinto, 1922 428 161 1227 418 646 300 4180 A. braziliensis Chagas, 1907 2 8 10 A. nuneztovari Gabaldon, 1940 89 68 320 9 52 10 548 A oswaldoi Peryassú, 1922 9 9 Anopheles sp. 161 31 427 323 201 34 1177 Coquillettidia nigrans, Coquillett 1904 27 22 84 199 218 4 554 Coquillettidia sp.1 57 46 97 113 284 24 621 Coquillettidia sp.2 10 14 37 85 3 149 Culex coronator Dyar &Knab, 1907 6 6 3 15 120 3 153 C. portesi Senevet &Abonnene, 1941 5 1 54 60 C. spissipes Theobald, 1903 8 15 12 38 73 Culex sp.1 94 91 244 774 27 1230 Culex sp.2 72 24 122 154 988 10 1370 Mansonia amazonensis Theobald, 1901 32 39 111 1 183 M. humeralis Dyar &Knab, 1916 21 42 197 675 13 948 M. titillans Walker, 1848 32 36 64 100 403 32 667 Ochlerotatus fulvus Wiedemann, 1928 3 3 6 O. hortator Dyar &Knab, 1907 9 7 16 O. scapularis Rondani, 1848 68 315 6 389 O. serratus Theobald, 1901 5 85 74 199 4 367 Ochlerotatus sp. 6 6 11 4 27 Psorophora cingulata Fabricius, 1805 4 6 10 P. ferox Humboldt, 1819 11 30 41 Não identificados 3 2 20 138 52 1 216 1045 402 2659 2195 6316 482 13099 Total Sinal convencional utilizado (-): Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento Espécies CDC Figura 1 – Armadilha Gorayeb, testada pela primeira vez nesta pesquisa. 75 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano Figura 2 - Armadilha Rocha, testada pela primeira vez nesta pesquisa. Figura 3 – Número de exemplares de Culicidae coletados nos seis métodos testados, no Parque Estadual do Utinga, município de Ananindeua, Pará. (AH = Atração humana; CDC = Armadilha CDC; CDC UV = Armadilha CDC com luz ultravioleta). 76 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.64-78 Métodos Figura 4 – Distâncias euclidianas entre os seis métodos experimentados, baseadas na abundância de Culicidae capturados. Quanto menor valor apresentado no gráfico mais semelhante os métodos são quanto a culicidiofauna amostrada. Figura 5 – Número de espécies de Culicidae coletadas nos seis método testados no Parque Estadual do Utinga, município de Ananindeua, Pará. (AH = Atração humana; CDC = Armadilha CDC; CDC UV = Armadilha CDC com luz ultravioleta). 77 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.64-78 p.XXX Ano Métodos Figura 6 – Distâncias euclidianas entre os seis métodos experimentados, baseadas na diversidade de Culicidae capturados. Quanto menor o valor apresentado no gráfico mais semelhante são as armadilhas quanto a culicidiofauna amostrada. 78 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.79-84 A Interferência do Estresse na Qualidade de Vida do Profissional de Enfermagem Jeyse Aliana Martins Bispo* Domingas Machado da Silva** Eloane Hadassa Sousa Nascimento*** Jacqueline Silva dos Santos**** RESUMO O presente estudo realizado por meio de revisão de literatura, visa compreender a interferência do estresse na qualidade de vida do profissional de enfermagem, com abordagens reflexivas verificando as condições geradoras de estresse e as consequências destes para o Profissional de enfermagem enquanto ser biopsicossocioespiritual e emocional que possui suas particularidades e necessita também de cuidados, pois é passível de adoecer, mas que ao avaliar as condições que ofertam o estresse será possível evitá-lo e obterá maior realização pessoal e profissional. Conclui-se, que os fatores são multicausais, portanto cabe ao próprio profissional avaliar as condições que estão propícias a adquirirem o estresse seja em qualquer meio ou condições a que estão inseridos, compreender o significado dos riscos é, buscar estratégias para a promoção de sua qualidade de vida, buscando a realização pessoal e profissional. Palavras-chave: Qualidade de vida, Estresse, Profissional de Enfermagem ABSTRACT The present study by means of literature and literature review aims to understand the influence of stress on quality of life of nursing professionals, reflective approaches to verifying the conditions of stress and their consequences for the Nurse as a bio-psycho-socio-spiritual and emotional that has its peculiarities and also needs care, it is likely to get sick, but to evaluate the conditions that offer stress you can avoid it and get greater personal and professional fulfillment. It is concluded that the factors are multifactorial, so it is up to the very professional evaluate the conditions that are conducive to acquire stress is by any means or conditions to which they belong, understand the significance of the risks is to develop strategies to promote their quality of life, seeking personal and professional fulfillment. Key words: Quality of life, Stress, Professional nursing *Graduada em Enfermagem e Administração de Empresas, Especialista em Gestão e Docência na Educação Superior, Mestranda em Bioengenharia, docente das Faculdades Integradas do Tapajós (FIT). [email protected] **Acadêmica do 5° semestre de Enfermagem (FIT), Técnica de Enfermagem. [email protected] ***Acadêmica do 5° semestre de Enfermagem (FIT), [email protected] ****Acadêmica do 5° semestre de Enfermagem (FIT), Técnica de Enfermagem. [email protected] 79 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.79-84 p.XXX Ano Introdução Conceituadamente o estresse é o conjunto de reações do organismo a agressões de origens diversas, capazes de perturbar-lhe o equilíbrio interno (FERREIRA, 2000). De certa forma, interfere na qualidade de vida dos indivíduos predispostos constantemente aos fatores que os desencadeiam, tais como, as condições de vida, de trabalho, fatores sociais e ambientais. A fisiologia do estresse envolve mecanismos hormonais que começam no cérebro com o estímulo da neurohipófise e desencadeiam uma cascata de eventos que englobam as glândulas da suprarrenal, que agem sobre o estômago, o coração, o sistema linfático, mobilizando inclusive o sistema imunológico que, além de deixar o organismo com as defesas comprometidas, baixam também os níveis de endorfinas e serotonina que elevam a autoestima do ser humano (GUYTON e HALL, 2006). Desta forma, uma pessoa estressada fica com baixa autoestima, diminui o rendimento no campo profissional, intelectual, e outros. A responsabilidade e o compromisso profissional da enfermagem proporcionaram mudanças significativas no contexto do cuidar em saúde, tornando possível acompanhar a evolução científica e tecnológica aperfeiçoando a eficácia dos serviços prestados, sobretudo identificar e avaliar as possíveis condições geradoras de estresse no seu ambiente de trabalho, para que seja resolvido e o profissional não adoeça, repercutindo no bem-estar a si mesmo, nas relações interpessoais e na assistência prestada. Este trabalho visa compreender a interferência do estresse na qualidade de vida do profissional de enfermagem, com abordagens reflexivas verificando as condições geradoras de estresse e as consequências destes para o profissional de enfermagem enquanto ser biopsicossocioespiritual e emocional que possui suas particularidades e necessita também de cuidados, pois é passível de adoecer, mas que ao avaliar as condições que ofertam o estresse será possível evitá-lo e obterá maior realização pessoal e profissional. Uma vez que, a essência do trabalho do enfermeiro está centrada no cuidado ao ser humano, contraditoriamente esse profissional poderá estar vivendo de forma descuidada, o que poderá repercutir na assistência prestada ao paciente. (ARAÚJO, 2009). Métodos 80 Revisão de literatura realizada por meio de artigos publicados em base de dados da Scielo utilizando os descritores: qualidade de vida, estresse e profissional de enfermagem, no entanto observou-se pouca produção científica com a temática abordada, para tanto se torna necessário que mais pesquisas sejam realizadas com o intuito de proporcionar maior qualidade de vida para o profissional de enfermagem uma vez que, sua atuação como profissional de saúde é de extrema importância para a sociedade. Analisando e verificando as condições geradoras de estresse e as consequências destes para o profissional de enfermagem enquanto ser biopsicossocioespiritual e emocional que possui suas particularidades e necessita Revista Perspectiva Amazônica necessita também de cuidados, pois é passível de adoecer, mas que ao avaliar as condições que ofertam o estresse será possível evitá-lo e obterá maior realização pessoal e profissional. Ano 3 N° 6 p.79-84 Resultados e Discussão A enfermagem é uma ciência humana, de pessoas e experiências com campo de conhecimento, fundamentações e práticas do cuidar dos seres humanos que abrange do estado de saúde aos estados de doença, mediada por transações pessoais, profissionais, científicas, estéticas e políticas (FIGUEIREDO, 2011). Acompanhando, desta forma, a evolução científica e tecnológica renovando suas práticas e saberes. Em contrapartida o desafio de se ter uma boa qualidade de vida, no que se refere ao ajustamento salarial, em decorrência de suprir suas necessidades de aquisição de bens materiais, acesso ao lazer, desporto, assim como na realização de projetos de vida. Submetem-se a uma excessiva jornada de trabalho o que implica diretamente na produtividade e consequentemente essas condições de trabalho geram desequilíbrio biopsicossocioespiritual e emocional (HADDAD, 2000). O trabalho de enfermagem torna-se penoso e estressante, pois a necessidade de autoafirmação, manutenção de status e problemas psíquicos de alguns trabalhadores podem gerar a necessidade de manutenção de estratificação, resultando em ausência de senso de comunidade entre os membros da equipe, culminando por contribuir negativamente para a qualidade de vida no trabalho (FARIAS e ZEITOUNER, 2007). As relações interpessoais prejudicadas na equipe de enfermagem resultam no estresse e no desgaste da qualidade dos serviços prestados uma vez que, não há a parceria e cooperação necessária para a produção de resultados satisfatórios. A comunicação e o respeito são as bases para a reestruturação e o fortalecimento da equipe, para a organização e aprimoramento pleno das funções realizadas no cuidar. Boas relações interpessoais no campo de trabalho da Equipe de Enfermagem configuram-se mecanismos essenciais e estratégicos para minimizarem os fatores estressantes no ambiente de trabalho. Farias e Zeitouner (2007) apontam como indicadores de qualidade de vida no trabalho: a inter-relação pessoal, a comunicação interprofissional, as condições de trabalho, a organização e divisão do trabalho, os direitos no trabalho, a motivação e segurança. Avendaño (1997) ressalta que, no mundo globalizado, a enfermagem vem atuando na América Latina com deficiência de recursos humanos e materiais em relação à demanda assistencial, deficiência de equipamentos, altas cargas físicas, inadequação na organização dos serviços e nas políticas de pessoal, problemas de relação com a equipe de saúde e com a direção de serviços e deterioração da saúde dos enfermeiros, entre outros. Nestas condições, observa-se a frustração profissional, a fadiga e o estresse que interferem diretamente na qualidade de vida dos profissionais de enfermagem, assim como interferem na eficácia dos serviços prestados. Pela falta de condições de trabalho Farias e Zeitouner (2007) apontam que a Enfermagem é referida como profissão de alto risco. 81 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.79-84 p.XXX Ano Rodrigues (1999) enfatiza que a motivação no trabalho é sensação interna positiva que o indivíduo experimenta para a realização das tarefas, esse sentimento possibilita a prevenção do estresse e posterior qualidade de vida e auto realização, necessária para a harmonia do biopsicossocioespiritual e emocional desses profissionais de saúde evitando o surgimento dos agravos. O que contribui significativamente para a eficiência e eficácia da assistência prestada aos pacientes, e a comunidade de modo geral. Bulhões (1998) refere que a violência ou insegurança, quer no percurso trabalho-casa, ou na própria unidade de saúde, tem sido considerada como estressor laboral. Conforme Farias e Zeitouner (2007), as agressões verbais e físicas contra o pessoal de Enfermagem têm sido praticadas predominantemente por pacientes e seus familiares. Nestas circunstâncias os profissionais de enfermagem estão predispostos a adoecerem, no ambiente de trabalho, pois, o estresse psicológico resulta no estresse físico. Em uma pesquisa realizada com os profissionais de Enfermagem no setor de Urgência e Emergência, para caracterização dos sintomas físicos de estresse na equipe de pronto atendimento, os autores enfatizaram que os sintomas apresentados por conta do estresse nesses colaboradores foram: dor de cabeça, sensação de fadiga, dores nas pernas e taquicardia (FARIAS, 2011). Felli (2007) relaciona uma série de problemas de saúde que acometem os profissionais de Enfermagem, como as doenças infecciosas, infectocontagiosas e parasitárias; os distúrbios osteomusculares; os problemas cardiovasculares e respiratórios; as alergias; os transtornos psíquicos e comportamentais; os acidentes com exposição aos fluídos corpóreos e uma variada sintomatologia, como dores, ansiedade e outros. Segundo Silva (2006) o estresse não é uma doença em si, mas pode chegar a ser, caso o indivíduo se submeta a uma ação constante de agentes estressores, podendo desencadear um estresse crônico. Este estresse é chamado de Síndrome do Desgaste Profissional ou Burnout caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal. O estresse relaciona-se como sendo uma das causas do absenteísmo dos profissionais de enfermagem, autores caracterizam o trabalho de enfermagem como insalubre e penoso (SANCINETTI, 2009). Por conseguinte, considera-se que o estresse interfere na qualidade de vida dos profissionais de enfermagem, causando desgaste físico, mental e social. Assim como, também, reduz a qualidade da assistência prestada para a sociedade. Considerações Finais 82 É desafiador mudar essa realidade, no entanto são necessárias ações de caráter preventivo que venham proteger a saúde dos profissionais de Enfermagem, para que possam exercer suas atividades com segurança e motivação, uma vez que aumenta sua autoestima, satisfação no meio social e consigo mesmo, uma gerência, sobretudo Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.79-84 participativa possui a potencialidade de corrigir as falhas, ouvindo as necessidades dos trabalhadores e implementando-as de acordo com as necessidades no contexto que a enfermagem está inserida, pois cada espaço possui suas especificidades de acordo com a realidade e os riscos a que se submetem esses profissionais No âmbito da comunidade, de políticas públicas e de organizações, tornam-se necessárias para valorização da classe, na busca de melhores condições de trabalho e qualidade de vida desses profissionais. Ademais, cabe ao próprio profissional avaliar as condições que estão propícias a adquirirem o estresse seja em qualquer meio ou condições a que estão inseridos, compreender o significado dos riscos é, sobretudo ser autor da própria história em busca de novos horizontes para desempenharem bem seu papel na sociedade como também sua autorealização pessoal e profissional, frente às exigências de um mercado cada vez mais competitivo, que busca um profissional completo e capaz de reagir a diversas situações, portanto, torna-se imprescindível que este colaborador seja vigilante de sua própria saúde preservando-a de modo que não venha a adoecer. A reflexão quanto às condições e a qualidade da assistência de enfermagem são essenciais para que avalie suas práticas enquanto Ser cuidador que busca em sua essência preservar a vida e a saúde dos seres Humanos. Referências ARAÚJO, G. A. et al. Qualidade de vida: percepção de enfermeiros numa abordagem qualitativa. Rev. Eletr. Enf.-2009. 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O plasma rico em plaquetas (PRP) apresenta-se como recurso terapêutico nas lesões musculares, graças aos fenômenos biológicos da ação dos fatores de crescimentos liberados pelo PRP assim que estimulados, reduzindo o tempo de recuperação e favorecendo o retorno dos atletas as atividades de forma segura e eficaz. Palavras-chave: Plasma rico em plaquetas, Lesões musculares, Lesões no Futebol ABSTRACT Muscle injury is a major cause of complaint in the offices of orthopedic and sports medicine, and is one of the major causes of limitation and delay the return of sports activities. The platelet-rich plasma (PRP) protocol associated with physical therapy appears to be a therapeutic option in their lesions. PRP releases growth factors that act directly on chemotaxis, extracellular matrix formation, regulates the synthesis of DNA and proteins at the injury site, stimulates the proliferation of collagen, and stimulate fibroplasia and angiogenesis, improving tissue repair, thereby the healing process of injury, reducing the time of return activities safely, and reduce the chances of lesional recurrence. Key words: Muscle injuries, Platelet rich plasma, Growth factors * Médico radiologista. Membro do departamento médico do Paysandu Sport Club. **Médico ortopedista. (Hospital do Coração – São Paulo) ***Discentes do curso de fisioterapeuta da Universidade da Amazonia (UNAMA). 85 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.85-102 p.XXX Ano Introdução 86 Cerca de 400 milhões de pessoas praticam o futebol no mundo todo, independente de faixa etária e diferentes níveis. Destes, 30 milhões estão no Brasil. Em todo o mundo, existem mais de 200 milhões de atletas licenciados pela Federação Internacional de Futebol (FIFA) (SILVA et al, 2005). Diferente de um passado recente, o futebol de hoje vive uma fase de supervalorização financeira do referido esporte. Segundo Ribeiro e Costa (2006), por se tratar de um esporte de alta popularidade mundial, o interesse científico aumenta a cada dia, principalmente no que diz respeito a lesões. Devido maior exigência física, de força, e nos treinos, ocorrem danos que antes não havia, aumentando o número de lesões e a elaboração de planos preventivos de possíveis lesões parece ser crucial para aumentar o rendimento da equipe (PLENTZ, 2008; MOTTA, 2006). No futebol as lesões mais comuns são as entorses de tornozelo e lesões musculares, onde os grupamentos isquiotibiais são os mais acometidos (GÓMEZ PIQUERAS, 2008). Segundo Laurino et al (2000), lesão muscular esquelética pode acontecer em qualquer indivíduo que se submeta a prática de treinamento físico e resultam em alterações nos treinos, como frequência, forma, intensidade e duração por período igual ou superior a uma semana. Para melhor compreender as lesões musculares é necessário conhecer o sistema músculo-esquelético. A origem de uma fibra muscular se dá em um osso ou tecido conectivo denso, e através de uma inserção tendínea, se insere a outro osso (FERNANDES, et al, 2011). Para gerar movimentos, alguns músculos atravessam uma ou mais articulações. Músculos com funções posturais têm como características ser uniarticulares, planos, largos, com velocidade de baixa contração e com capacidade de geração e manutenção de força contrátil grande, geralmente são mais profundos (FERNANDES, et al, 2011). Já os músculos biarticulares possuem alta velocidade de contração, porém a menor capacidade de suportar tensão e geralmente estão localizados em compartimentos superficiais (FERNANDES, et al, 2011). Uma amplitude maior de movimento é observada nos músculos fusiformes, enquanto que os músculos penados realizam maior força contrátil (FERNANDES et al, 2011). A contração muscular está relacionada diretamente ao comprimento da fibra. As fibras musculares geralmente são menores que o ventre muscular devido sua distribuição oblíqua no interior do mesmo (FERNANDES, et al, 2011). As lesões musculares podem ser por trauma direto ou indireto. Traumas diretos podem ser oriundos de ferimentos contusos ou penetrantes. Ferimentos contusos são causados por laceração das fibras teciduais por esmagamento devido ação direta das forças sobre as mesmas e são caracterizados por alteração da arquitetura fibrilar, perda da continuidade das fibras e coleções. As lesões penetrantes produzem óbvio dano tecidual e o diagnóstico geralmente é clínico, onde exames complementares tem indicação para dimensionar a mesma ou investigar possíveis complicações. Revista Perspectiva Amazônica As lesões indiretas geralmente acometem grupamentos musculares que atravessam duas articulações e expostos a cargas de grande intensidade durante o estiramento das fibras em contrações excêntrica. Essas lesões na maioria de vezes acometem a junção miotendínea e é mais comum em jovens. Dependendo da complexidade lesional, as mesmas podem ser classificadas em grau I, II ou III. Lesão grau I não há rotura ou coleção associadas; as lesões grau II e III evidenciam-se por alteração da arquitetura e descontinuidade do padrão fibrilar e coleções adjacentes (Lourenço RB et al, 2008). Ano 3 N° 6 p.85-102 As lesões musculares são muito comuns, sendo estas causadas, principalmente, por contusões e excessivas forças musculares, muitas vezes limitando pessoas de suas atividades de vida diária e, quando ocorrem na prática esportiva, é muito comum ser responsável pelo afastamento dos treinamentos e competições. Por outro lado, a grande incidência de lesões musculares vem resultando em aumento proporcional de estudos relacionados não somente com o processo de regeneração muscular, mas também com os tratamentos das diversas lesões que acometem o sistema musculoesquelético (CONTE, et al, 2002). Porém, para estudar lesão muscular é necessário conhecer o sistema músculo esquelético. Fibras musculares geralmente se originam em um osso ou tecido conectivo denso e se inserem a outro osso através de uma inserção tendínea. As lesões musculares podem ser causadas por contusões, estiramentos ou lacerações. A força tênsil exercida sobre o músculo leva a um excessivo estiramento das miofibrilas e, consequentemente, a uma ruptura próxima à junção miotendínea (FERNANDES, et al, 2011). Estiramentos ou rupturas musculares são tipicamente observados nos músculos superficiais que trabalham cruzando duas articulações, como o músculo reto femoral, semitendíneo e gastrocnêmio. A atual classificação das lesões musculares separa as lesões entre leve, moderada e grave e depende dos aspectos clínicos revelados. Contudo, nos últimos anos o uso de fatores de crescimento em lesões musculares tem sido utilizado para acelerar a cicatrização tecidual com a ideia de um retorno mais rápido às atividades sem restrições. O Plasma Rico em Plaquetas (PRP) é definido como um volume da fração do plasma de sangue autólogo com uma concentração de plaquetas acima do valor inicial. As plaquetas contêm um grande número de fatores de crescimento e citosinas que teriam um papel fundamental na regeneração óssea e maturação dos tecidos moles (VENDRAMIN, et al, 2006). A utilização do PRP consiste na inversão de relação de glóbulos vermelhos no sangue que são menos úteis no processo de cicatrização e aumento de plaquetas para a recuperação, visto que a utilização do PRP está aumentando para melhorar o tratamento de diferentes patologias ortopédicas (SOARES, et al, 2010). Desta forma, esta pesquisa justifica-se por a técnica do PRP ser uma nova forma de tratar vários problemas musculoesqueléticos, sendo amplamente utilizado na prática clínica em lesões ortopédicas, com o objetivo de analisar o uso do PRP como opção terapêutica no processo de cicatrização muscular, tendo como questão norteadora saber se a aplicação do PRP irá influenciar no processo de cicatrização de lesão muscular. 87 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.85-102 Referencial Teórico Anatomia e Fisiologia do Sistema Músculo Esquelético Os músculos são, individualmente, a maior massa de tecido corporal, correspondendo a 40-45% do peso do indivíduo, podendo ser divididos segundo sua estrutura (cardíaco, liso e esquelético ou voluntário), ação, localização, forma, origem/inserção, número de divisões e direção de suas fibras. O sistema muscular esquelético constitui a maior parte da musculatura do corpo. Essa musculatura recobre totalmente o esqueleto e está presa aos ossos, sendo responsável pela movimentação corporal (GUYTON, HALL, 1996). Cada músculo compreende fibras ou células musculares longas, delgadas, cilíndricas que se estendem por todo o seu comprimento, assim, essas células podem ser muito mais longas. Cada célula ou fibra muscular multinucleada é conectada às células musculares paralelas e circundada por uma camada de tecido conjuntivo denominada endomísio. Tais fibras são, então, agrupadas em feixes mantidos juntos por outra camada de tecido conjuntivo, denominada perimísio (figura 01). Esse grupo revestido ou feixe de fibras é denominado de fascículo (MAGEE, 2005). Figura 01: Representação esquemática da anatomia do músculo. Fonte: Dias, 2011. 88 Os grupos de fascículos, feixe de fibras, cada qual com vasos sanguíneos e tecidos nervosos associados, são mantidos bem unidos por outra camada de tecido conjuntivo denominado epimísio (Figura 01). Os fascículos circundados por epimísio, que percorrem todo o comprimento do músculo esquelético, são então completamente circundados por um tecido conjuntivo importante denominado fáscia (WILMORE, et al, 2010). A fáscia é um tecido conjuntivo resistente, denso e forte que recobre todo o músculo e, então, estende-se além do músculo em si, para se tornar o tendão fibroso. É a fusão de todas as três camadas internas de tecido conjuntivo do músculo esquelético. A fáscia separa os músculos uns dos outros, permite o movimento sem atrito e forma o tendão com o qual o músculo é conectado ao osso. Isoladamente, cada uma das fibras é uma célula alongada (SERNIK, 2009). O músculo esquelético é dividido em dois tipos de fibras, dependendo de sua atividade metabólica e sua função mecânica. As fibras tipo I, conhecidas como vermelhas, lentas, têm baixa velocidade de contração e grande força de contração. Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.85-102 p.XXX Ano Elas funcionam aerobicamente e são resistentes à fadiga. As fibras tipo II, conhecidas como fibras rápidas ou brancas, são subdivididas em dois tipos, de acordo com seu nível de atividade metabólica. Ambos os tipos são fibras de contração rápida e têm elevadas força e velocidade de contração, que muitas vezes podem ser a causa das lesões musculares (FARINTTI, MONTEIRO, 2000). Lesões Musculares As lesões musculares (figura 02) ou distensões musculares são aquelas onde há ruptura de fibras musculares, na junção músculo-tendão, no tendão ou na inserção óssea de uma unidade músculo-tendínea. Existem várias classificações para estabelecer o nível das lesões musculares (CONTE, et al, 2002). Figura 02: Representação esquemática da lesão muscular. Fonte: Oliveira, 2011. Leva-se em consideração o grau de comprometimento das fibras musculares, elas podem ser classificadas como: lesão de grau I, onde ocorre a ruptura mínima das fibras ocasionando leve dor, edema residual e desconforto local; lesão de grau II, onde ocorre laceração muscular com significante hemorragia, onde o paciente pode apresentar dor moderada, edema e impotência funcional, e lesão de grau III, como sendo aquela onde ocorre completa perda de função e continuidade da maior parte ou de todo o músculo, o paciente já apresenta edema e dor intensa (BARROSO, THIELE, 2011). O processo de cicatrização dos tecidos moles é constituído por três fases, iniciando-se pela fase inflamatória aguda, onde há rotura de fibras colágenas e de vasos sanguíneos que leva a hemorragia e uma resposta humoral, com ativação da cascata de coagulação e liberação de fatores inflamatórios quimioterápicos e vasoativos. Haverá formação de edema como resultado do processo hemorrágico, associado à vasodilatação, e de aumento da permeabilidade vascular local. Os sinais e sintomas inflamatórios desta fase são exuberantes, com calor local, vermelhidão, edema, dor e incapacidade funcional. A duração desta fase é aproximadamente de três dias (GOGIA, 2003). 89 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.85-102 A fase de reparação tecidual proliferativa inicia-se durante as primeiras 24 horas e intensifica-se a partir do terceiro dia. Haverá aumento da produção de fibroblastos, que estarão com atividade máxima infiltrando-se nos tecidos lesados. Sua função principal é a de sintetizar fibras colágenas, depositadas em um padrão aleatório. Ao mesmo tempo, haverá neoformação vascular, com estabelecimento de novos capilares anastomóticos permeáveis à passagem sanguínea e à drenagem de exsudato inflamatório. A remoção de células mortas e coágulos sanguíneos, realizada pelos macrófagos, estão também intensificados. Esta fase tem duração aproximada de três semanas (BALBINO, et al, 2005). Na fase de remodelação tecidual cicatricial, a área traumatizada já está cicatrizada basicamente pelas fibras colágenas, e os sinais e sintomas clínicos, bastante diminuídos. Entretanto, este tecido neoformado está desalinhado e estruturalmente desorganizado, assemelhando-se a um gel com pouca força de tensão. A capacidade de resistência tecidual aumentará proporcionalmente ao realinhamento das fibras colágenas. Esta fase tem duração de alguns meses, podendo chegar até um ano e meio, nos casos de lesão ligamentar (WATKINS, 2000). As lesões em tecidos moles podem ser causadas basicamente por sobrecarga repetitiva (uso excessivo) ou por traumatismo local direto, onde ocorre o amassamento de tecidos moles (pancada, cortes, perfuração), e indireto caracterizado por: uso excessivo, mal uso, hipercontração, mudanças rápidas de direção e parada repentina. Lesões geradas pelo acúmulo de reforços repetitivos (microtraumatismos de repetição) que excedem a capacidade de recuperação tecidual (GOGIA, 2003). As sobrecargas repetitivas, sem a adequada cicatrização tecidual, levam a um ciclo vicioso de irritação inflamatória local, retenção de metabólitos, dor, isquemia, edema e contratura muscular reflexa. A evolução do processo reacional causará reação fibrosa e encurtamento dos tecidos envolvidos (ANDREOLI; WAJCHENBERG,& PERRONI; COHEN,M. & ABDALLA, 2003). Diversas são as situações que podem levar a este tipo de lesão: atividades ocupacionais, onde esforços repetitivos são empregados na execução de determinada tarefa (digitadores e datilógrafos, operários de fábricas que executam movimentos repetitivos específicos); atividades esportivas praticadas ocasionalmente por indivíduos sedentários, com idade acima de 35 anos (“atleta de fim de semana”), onde não há adequação para esforço realizado, somando-se a capacidade de reparação diminuída pela idade e pelo descondicionamento corpóreo; atividade esportiva intensa, realizada por indivíduo atleta profissional, jovem, treinando muitas horas ao dia, no limite de sua capacidade adaptativa fisiológica, onde pausas não suficiente de intervalos entre os treinos levam à sobrecarga repetitiva (MOREIRA, et al, 2003). Inicialmente o sítio da lesão é o local submetido aos esforços repetitivos, e com o evoluir do quadro, incapacidades secundárias podem instalar-se. É muito importante à análise individual de caso para caso, para elucidação de fatores associados que possam estar aumentando o potencial de traumatismo tecidual. Fatores extrínsecos ao indivíduo, como equipamentos, posturas inadequadas, têm que ser levados em conta na análise global do caso (SANTOS, 2006). 90 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.85-102 p.XXX Ano O maior risco de lesão muscular ocorre durante a contração excêntrica, pois, neste tipo de ação, realiza-se trabalho de força e de alongamento ao mesmo tempo, aumentando, assim, o “stress” sobre os tecidos. As lesões ocorrem porque as ações de alongamento provocam uma extensão além do normal de alguns sarcômeros, causando, desta forma, danos aos mesmos (GANTUS, 2002). Diagnóstico Clínico da Lesão Muscular O diagnóstico da lesão muscular inicia-se com uma história clínica detalhada, seguida por um exame físico com a inspeção e palpação dos músculos envolvidos, assim como os testes de função com e sem resistência externa. O diagnóstico é fácil quando uma típica história de contusão muscular é acompanhada por um evidente edema ou uma equimose distal à lesão (Figura 03) (FERNANDES, et al, 2011). Figura 03: Contusão muscular e equimose do MMII direito. Fonte: IOT-HC-FMUSP, 2008. Exames complementares Pequenos hematomas superficiais e aqueles que são profundos podem ser de difícil identificação. Exames de imagem como ultra-sonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética proveem informações úteis para se verificar e determinar a lesão com maior precisão (FERNANDES, et al, 2011). A ultrassonografia (Figura 4) é tradicionalmente considerada o método de escolha para o diagnóstico da lesão muscular, visto que é um método de imagem relativamente barato e que possibilita avaliar dinamicamente a contração e rotura muscular. Possui a desvantagem de ser examinador-dependente (LOW, REED, 2001). F ig u ra 0 4 : U ltra -s o m n a c ic a tr iz a ç ã o m u s c u la r F o n te : IO T -H C -F M U S P , 2 0 0 8 . 91 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.85-102 A ressonância magnética (Figura 5) substitui a ultrassonografia na avaliação de muitas doenças musculoesqueléticas. Possui boa sensibilidade para edemas, cálculo do tamanho do hematoma e avaliação de desinserções musculotendíneas. Contudo, assim como a tomografia, é um exame estático (HAGE, IWASAKI. 2009). Figura 05: Ressonância Magnética de lesão muscular Fonte: IOT-HC-FMUSP, 2008. Além do papel diagnóstico, a USG possui importância terapêutica, possibilitando intervenções localizadas para aspiração. Permite, ainda, a injeção dirigida possibilitando respostas terapêuticas rápidas e efetivas, com redução da morbidade. Assim como guiar na aspiração de hematomas e injeção do PRP rico em fatores de crescimento (SILVA; LAURINO, 2006; LOURENÇO, et al. 2008). Figura 06: Aplicação de PRP guiado pela ultra-sonografia Fonte: Banco de dados do autor, 2009. Novas Tendências no Tratamento de Lesões Musculares: Plasma Rico em Plaquetas(PRP) 92 O uso dessa técnica teve início há mais ou menos 10 anos, quando cirurgiões dentistas de Barcelona, descobriram que a sua aplicação potencializava a capacidade de cicatrização dos tecidos, particularmente em implantes dentários, em cerca de 5 vezes, à capacidade natural e espontânea do organismo em realizá-la (GONZALEZ, 2006). Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.85-102 p.XXX Ano Durante vários anos tentou-se a utilização do sangue total para atuação tecidual, mas depois se percebeu que este procedimento não tinha resultado satisfatório. Portanto ao se trabalhar com plaquetas, nada mais lógico de que pensar em se colocar diretamente o sangue no local da lesão, já que este tem uma grande quantidade de plaquetas. O que se sabe hoje é que este sangue não é suficiente para expressar os fatores de crescimento, já que a quantidade de plaquetas está diretamente relacionada à melhor função e maior ativação dos fatores de crescimento (LAGUNAS, 2006). O PRP é uma concentração autóloga de plaquetas em um pequeno volume de plasma, com a consequente presença de fatores de crescimento (FC) liberados por estas plaquetas, além de proteínas osteocondutoras, que também servem de matriz para migração epitelial e formação óssea e de tecido conectivo (VENDRAMIN, 2006). As plaquetas (Figura 07) atuam no processo de hemostasia, cicatrização de feridas e reepitelização. O PRP tem entre 1.000.000 e 1.500.000 plaquetas por microlitros. É um hemocomponente autógeno usado para liberar FCs em altas concentrações no local onde se pretende reparar um defeito ou uma lesão tecidual, levando à aceleração do processo cicatricial. Os fatores de crescimento estimulam principalmente a reepitelização, a angiogenêse, a mitose celular, a síntese de colágeno, a quimiotaxia dos neutrófilos, macrófagos e fibroblastos e a produção linfócitos com a produção de interleucinas (MAN et al., 2001). Figura 07: Figura representativa do plasma sanguíneo. Fonte: Carla, 2010. Nas cirurgias em que se trabalha com retalhos cutâneos, inclusive mamoplastias, abdominoplastias e ritidoplastias, o PRP ajuda na hemostasia e estimula o desenvolvimento da neovascularização, diminuindo assim complicações como hematomas, seromas e sofrimento vascular dos retalhos. Estas propriedades podem ser empregadas para melhorar o tratamento de feridas no membro inferior que costumam evoluir com uma cicatrização mais lenta e com a incidência de complicações nos retalhos locais, maior que em outras partes do corpo (VENDRAMIN, 2006). 93 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.85-102 O gel de PRP é obtido através da adição de gluconato de cálcio ao PRP. Estes ativam o sistema de coagulação, resultando na gelação do PRP, o que facilita sua aplicação em diversas cirurgias e também ativam as plaquetas. Inicialmente o PRP era obtido através de máquinas de plasmaferese e utilizava-se a trombina bovina para sua ativação. O interesse em facilitar sua obtenção e diminuir os custos fez com que surgissem algumas máquinas automatizadas e diversos protocolos, inclusive com substituição da trombina bovina por trombina autóloga (VENDRAMIN, 2006). As máquinas automatizadas com seus "kits" tornam simples a obtenção do PRP, porém os custos ainda são elevados. Assim, alguns protocolos foram criados para se obter pequenas quantidades de PRP e trombina autólogos, utilizando-se centrífugas comuns e reduzindo muito os custos na preparação do produto (LAGUNAS, 2006). Procedimento de Aplicação do PRP O plasma rico em plaquetas é produzido após punção venosa de uma pequena quantidade de sangue do paciente (figura 08), cujo volume é submetido à centrifugação em alta velocidade, separando as hemácias das plaquetas (DUGRILLON, et al, 2002). Figura 08: Representação de retirada de sangue. Fonte: Almeida, 2012. O sangue é centrifugado a 3.200 rotações por minutos (figura 09). Após a centrifugação, o plasma pobre em plaquetas (fica na região mais superior), seguido do plasma rico em plaquetas e das células brancas e em último plano as hemácias (depositadas na região mais inferior do dispositivo) (EFEOGLU, 2004). Figura 09: Figura representativa do sangue sendo centrifugado. 94 Fonte: Almeida, 2012. Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.85-102 p.XXX Ano Com a centrifugação de uma porção de sangue do paciente, pode-se obter um concentrado de plasma rico em plaquetas (Figura 10), PRP autólogo, o qual possui uma abrangência em sua utilização, principalmente em articulações cronicamente lesadas, comprometimentos ligamentares, fechamento de cicatrizes, reconstituição tecidual, bem como na diminuição da perda de sangue no pós-cirúrgico e também nas cirurgias que necessitem de enxertos, sobretudo ósseos (DEVOS, et al, 2010). Figura 10: Figura representativa do sangue. Fonte: Almeida, 2012. Resultados e Discussão A análise da área da lesão muscular mostrou que, após a aplicação do PRP a lesão apresentou sinais de melhoria com formação de tecido cicatricial, essa melhora clínica pode ser justificada pela aplicação do PRP diretamente na lesão, o qual segundo Laguna (2006) libera fatores de crescimento, que estimulam a angiogênese, promovendo crescimento vascular e proliferação de fibroblastos que por sua vez proporcionam um aumento na síntese de colágeno. Esses benefícios se mantiveram durante todo o tratamento. Na análise inicial, a ultrassonografia realizada no paciente, após 48 horas à lesão muscular sofrida, mostra que o valor da área lesionada é de 2.8 centímetros (Figura 11). Figura 11: U ltrassono grafia de lesão grau II do m úsculo bíceps fem oral. Fonte: B anco de dados do H ospital P orto D ias, 2010. 95 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.85-102 Dois dias (48 horas) após a aplicação do PRP, foi novamente realizado a ultrassonografia, onde observam-se sinais de cicatrização com redução da área de lesão para 0.75 centímetros (Figura 12). Figura 12: Ultrassonografia de lesão grau II do músculo bíceps femoral. Fonte: Banco de dados do Hospital Porto Dias, 2010. Fonte: Banco de dados do Hospital Porto Dias, 2010. Quatro dias depois (96 horas) pós-aplicação PRP, o exame de controle pósprocedimento apresentou uma diminuição ainda maior da área de lesão, sendo esta de 0.48 centímetros (Figura 13). F igura 13: U ltrasso nografia de lesão grau II do m úsculo bíceps fem oral. F onte: B anco de dados do H ospital P orto D ias, 2010. 96 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.85-102 p.XXX Ano Seis dias (144 horas) após o procedimento, o exame de imagem (figura 14) mostra que a medida da área que inicialmente era de 2.8 cm, regrediu em 6 dias com cicatrização completa. Tais valores estão dispostos no gráfico 01, para a análise geral da cicatrização muscular, onde verificou-se redução de 100% em sua área total. Esses achados são de extrema importância clínica, principalmente ao se considerar o tempo do processo de cicatrização muscular que, segundo Noonan (1999), pode durar meses. Figura 14: Ultrassonografia de lesão grau II do músculo bíceps femoral. Fonte: Banco de dados do Hospital Porto Dias, 2010. Gráfico 01: Representação esquemática da cicatrização muscular. Fonte: Pinto, 2012. 97 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.85-102 Os recursos utilizados para a sugestão de elaboração de protocolo de tratamento fisioterapêutico podem ser associados ao PRP, visando uma maior aceleração no processo de cicatrização, força e resistência tecidual, para um retorno ainda mais rápido às suas atividades diárias, onde baseado em estudos, Marques (2009) diz que a cinesioterapia caracteriza-se por meio de programas de exercícios que visam melhor condicionamento muscular. Já o alongamento segundo Rocha et al. (2006) tem como objetivo geral, entre outros, recuperar ou restabelecer a amplitude de movimento normal das articulações e a mobilidade dos tecidos moles que a cercam. Kannus et al, (1992), relata que, após uma lesão, o alongamento muscular controlado e movimentos articulares melhoram, respectivamente, a orientação das fibras de colágeno e a atrofia causada com a imobilização. Deste modo, a reabilitação por meio da cinesioterapia, além de acelerar o processo regenerativo, direciona a um rápido e completo retorno as atividades diárias e esporte (MARQUES, 2009). No entanto, embora o tratamento por meio da mobilização venha se mostrando um método muito favorável e eficaz, ele é alvo de alguns estudos e discussões em relação ao tempo de início da mobilização. Lehto (1991) mostra em estudos que a mobilização imediatamente após a lesão pode causar novas rupturas e fraqueza do tecido na área lesada, devendo ser evitada nos primeiros dias após a lesão. Outro recurso utilizado na sugestão do protocolo fisioterapêutico é a eletroterapia que segundo Agne (2005) é a utilização da corrente elétrica no corpo humano com fins terapêuticos para proporcionar efeitos como: analgesia, relaxamento muscular, metabólico, descontraturante, etc. Estudos prévios relatam que o uso do ultrasom melhorou a angiogênese e acelerou a produção de força após lesão muscular induzida pela contração (YOUNG; DYSON, 1990). Oron, (2001), utilizaram o laser em lesão muscular, e relatam melhora da regeneração, evidenciada através da comparação com grupos controle. A crioterapia por sua vez, segundo Oliveira, et al. (2007), tem efeito analgésico, promove a vasoconstrição, controla hemorragia e edema. Contudo ainda como recurso fisioterapêutico, porém em uma fase mais tardia, exercícios pliométricos, pois segundo Santos, Piucco, Reis (2007), a pliometria é uma técnica que visa aumentar a potência muscular e melhorar o rendimento atlético e pode ser de grande valia pós-PRP. Conclusão O uso do Plasma Rico em Plaquetas (PRP) associado a fisioterapia no tratamento das lesões musculares se mostrou eficaz em acelerar o processo de cicatrização tecidual, conforme mostra a literatura. Contudo, novos estudos relacionados ao assunto serão importantes para a elaboração de protocolos, ratificando os benefícios do Plasma Rico em Plaquetas visando oferecer força e resistência ao músculo lesionado, promovendo um retorno rápido e seguro dos atletas a suas atividades de vida diária. 98 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.85-102 p.XXX Ano Referência Bibliográfica FERNANDES, T.L.; PEDRINELLI, A.; HERNANDEZ, A.J. Lesão muscular: fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e apresentação clínica. 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Os resultados obtidos a partir das simulações mostram que o aumento no valor do GoP influencia na perda de frames, que por sua vez, causa um impacto na qualidade do vídeo transmitido. ABSTRACT This work presents a comparative study of metrics for Quality of Experience (QoE) in a LTE network (Long Term Evolution) for different values of GoP (Group of Pictures), using flow control and QoS (Quality of Service) mapping between the eNB and the UE. The comparisons made in this paper, discuss the metrics: PSNR (Peak Signal to Noise Ratio), SSIM (Structural Similarity Index) and VQM (Video Quality Metric). The results obtained from the simulations show that increasing the value of the GoP influences the loss of frames, which impacts the quality of transmitted video. *Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET)-Curso de Bacharelado em Ciência da Computação-Universidade da Amazônia (UNAMA) CEP 66060-902-Belém-PA-BRASIL. [email protected] **Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET)-Curso de Bacharelado em Ciência da Computação-Universidade da Amazônia (UNAMA) CEP 66060-902-Belém-PA-BRASIL. [email protected] ***Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET)-Curso de Bacharelado em Ciência da Computação-Universidade da Amazônia (UNAMA) CEP 66060-902-Belém-PA-BRASIL. [email protected] ****Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET)-Curso de Bacharelado em Ciência da Computação-Universidade da Amazônia (UNAMA) CEP 66060-902-Belém-PA-BRASIL. [email protected] 103 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.103-113 Introdução Atualmente, há uma gama de serviços de telecomunicações que transmitem voz, vídeo e dados através de complexas redes de transmissão, sendo que em alguns casos, o serviço não tem uma qualidade aceitável pelo usuário final [Begazo et al 2011]. Nas últimas décadas, as redes móveis têm permitido grandes avanços e mudanças nos sistemas de comunicação, garantindo maior mobilidade e disseminação de conteúdo. A Tecnologia LTE (Long Term Evolution) é a evolução da tecnologia de rede móvel padronizada pelo 3GPP (3rd Generation Partnership Project), que utiliza novos sistemas de múltiplo acesso a interface aérea, para prover novos serviços e aplicações de conteúdo, tais como, MMOG (Multimedia Online Gaming), TV Móvel, Web 2.0, streaming de vídeo, download de músicas e muitos outros [McQueen 2009]. As redes de celular da próxima geração estão sendo criadas para facilitar o tráfego de comunicações de dados em alta velocidade, além das chamadas de voz. Novos padrões e tecnologias estão sendo implementados para permitir que redes sem fio substituam linhas de fibra óptica ou cobre entre pontos fixos afastados por vários quilômetros (acesso sem fio fixo) [Rappaport 2009]. Um dos desafios na concepção das redes de próxima geração consiste no desenvolvimento de arquiteturas que viabilizem tanto a continuidade do serviço quanto a visão centrada no usuário, por meio do suporte adequado à QoE (Quality of Experience) para aplicações multimídia, e que proporcionem sempre a melhor conectividade aos usuários móveis [Silva et al 2010]. Com a evolução dos meios de telecomunicações e o rápido crescimento das redes sem fio, surge a necessidade da implementação de soluções que trafeguem dados de maneira mais rápida e eficaz, como no caso das redes 4G, como exemplo, a rede LTE. A proposta deste trabalho é avaliar o desempenho da tecnologia de rede móvel LTE, baseada em métricas de QoE na disseminação de conteúdo multimídia. Avaliar a transferência de vídeos para diferentes valores de congestionamento e GoP, utilizando o controle de fluxo e mapeamento de QoS na rede de acesso LTE, compreendido entre a eNB e o UE. O artigo está organizado da seguinte forma: Na seção 2 são apresentados os trabalhos relacionados. A seção 3 apresenta uma abordagem sobre a rede LTE. As métricas de Qualidade de Experiência são mostradas na seção 4. As simulações e resultados finais, apresentados na seção 5. E a seção 6 apresenta as conclusões e trabalhos futuros. Trabalhos Relacionados Esta seção apresenta alguns estudos que já foram realizados, a fim de promover uma melhor qualidade do tráfego de vídeo, levando em consideração as características deste tipo de fluxo. Alguns fatores importantes para as 104 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.103-113 p.XXX Ano funcionalidades destes mecanismos são também apresentados com o objetivo de estabelecer metas gerais, as quais qualifiquem um bom desempenho nos mesmos. No trabalho [Linn et al 2010], propõe-se um mecanismo de descarte para diferentes taxas de perda de pacotes. Durante o congestionamento da rede, pacotes menos visíveis ou com menor impacto no HVS (Human Visual System), são descartados até que haja uma redução no congestionamento. O algoritmo proposto no artigo apresenta melhores resultados que o descarte aleatório realizado pela rede local, além da técnica de descarte de apenas quadros B, em períodos de congestionamento. O trabalho faz aferições baseando-se apenas na métrica VQM, mas não realiza experimentos levando em consideração outras métricas, como PSNR, SSIM ou diferentes valores de codificação. Em [Trindade et al 2012], foi proposto um experimento com a rede LTE envolvendo transmissões de vídeo, com o objetivo de avaliar a qualidade apresentada dos vídeos transmitidos, utilizando as métricas de QoE, tais como, PSNR e SSIM. Os resultados apresentados são somente para o GoP (Group of Pictures) de valor 30, não levando em consideração outros valores para o mesmo. Em [Begazo et al 2011] são realizados testes com um cenário de emulação de rede, onde são parametrizadas diferentes condições de rede, considerando um serviço de vídeo streaming, para o qual são consideradas diferentes qualidades de vídeo, utilizando as métricas PSNR, SSIM e VQM. Os resultados mostram que a qualidade de vídeo é afetada diretamente pelos fatores de degradação de rede, como o atraso e a perda de pacotes. Na literatura, existem propostas de avaliação de desempenho e provisionamento de QoE para rede LTE, considerando GoPs altos e codificação baixa. No entanto, essas avaliações não possuem características de congestionamento da rede utilizando serviços adicionais, tais como, serviço de voz e fluxo de dados. A proposta apresentada neste artigo utiliza o provisionamento de QoE, baseado no controle de fluxo e mapeamento de QoS na rede LTE no NS-2. O controle de fluxo, bem como o mapeamento de QoS são realizados entre os componentes da arquitetura que são a eNB e o UE. REDE LTE A rede LTE é um novo padrão de tecnologia de banda larga móvel padronizada pela 3GPP, e está sendo desenvolvida para ser utilizada pelas operadoras de redes móveis como evolução das redes 3G (Terceira Geração), resultando, assim, nas Redes 4G (Quarta Geração), tendo como motivação assegurar a continuidade da competitividade do sistema 3G para o futuro, maior demanda dos usuários por maiores taxas de dados, qualidade de serviço e baixa complexidade [3GPP TR 36.300 2010]. A arquitetura LTE foi projetada para suportar de forma eficiente vários tipos de serviços, em especial orientados a pacotes como, por exemplo, o VoIP. A arquitetura LTE está dividida, segundo [Holma e Toskala 2009], em quatro principais domínios de alto nível: UE (User Equipment), E-UTRAN (Evolved UTRAN), EPC (Evolved Packet Core) e Services. 105 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.103-113 Basicamente, a LTE é uma evolução da tecnologia GSM/WCDMA (Global System for Mobile Communications/Wideband Code Division Multiple Access), que é uma tecnologia de rede que leva ao CDMA de banda larga, também conhecido como UMTS (Universal Mobile Telecommunications System) [Rappaport 2009]. Métricas de QoE A avaliação da qualidade de vídeo é realizada por métricas objetivas e subjetivas. As métricas subjetivas são baseadas na percepção humana e as métricas objetivas são baseadas em modelos matemáticos, para estimar a média das opiniões dos usuários. Neste trabalho, foram utilizadas as métricas objetivas: PSNR (Peak Signal to Noise Ratio), SSIM (Structural Similarity Index) e VQM (Video Quality Metric) [Begazo et al 2011], descritas a seguir. O PSNR é uma métrica objetiva que compara a qualidade do vídeo recebido pelo usuário em relação ao vídeo original. O PSNR é derivado de outra métrica, denominada de Mean Squared Error (MSE), que calcula a média de erro de variação de um atributo real, em relação ao qual esse mesmo atributo foi estimado, ou seja, compara a qualidade do frame original [Malkowski and Classen 2008]. O PSNR, desta forma, determina o valor máximo de luminosidade para cada pixel, comparando a taxa de erro do vídeo recebido. Conforme cita [Trindade et al 2012], a métrica SSIM, diferentemente do PSNR, que somente compara a taxa de erro do vídeo recebido em relação ao vídeo original, avalia o vídeo recebido considerando outros fatores, como o HVS. Surgindo em função de o HVS ser altamente eficiente em extrair informações visuais das imagens/vídeos e não das taxas de erro, o SSIM analisa a similaridade de cores, luminosidade e estrutura. O SSIM é expresso em valor decimal, entre 0 (zero) e 1 (um). Quanto mais próximo de 0 (zero), pior é a qualidade do vídeo, e quanto mais próximo de 1 (um), melhor é a qualidade do vídeo. Os valores extraídos do frame recebido pelo usuário e do frame original são armazenados em vetores, separadamente, sendo um vetor para cada cor. Posteriormente, obtém-se a média de cada vetor, e a combinação dessas três médias gera o valor do SSIM, indicando a qualidade do vídeo [Gao 2009]. A métrica VQM, assim como as demais, baseia-se na comparação do vídeo recebido pelo usuário em relação ao vídeo original, comparando o brilho e o contraste. Conforme afirma [Gelonch 2010], essa métrica é mais completa que PSNR e SSIM, pois avalia a distorção das cores, dos pixels, o ruído e se o vídeo está distorcido. O VQM é dado por um número real, onde quanto mais próximo de 0 (zero), melhor será a qualidade do vídeo, o que indica uma menor distorção em relação ao vídeo original. 106 Revista Perspectiva Amazônica SIMULAÇÕES E RESULTADOS Ano33N° N°66 p.103-113 p.XXX Ano Nesta seção são destacados os procedimentos e as descrições do sistema de simulação, bem como os resultados obtidos no desenvolvimento deste trabalho. Ilustra o cenário de simulação e a avaliação de QoE, através das métricas PSNR, SSIM e VQM. Apresenta também, o comportamento da rede LTE na transmissão de conteúdo multimídia com controle de fluxo entre a eNB e o UE, tal como, vídeo utilizando diferente GoP e taxas de congestionamento. Para avaliar esse trabalho, foram realizadas simulações conduzidas no módulo LTE, no NS-2 (Network Simulator 2), versão 2.33, desenvolvido por [Qiu et al 2009]. Para transmissão de vídeos foi utilizado o framework Evalvid. O modelo de topologia simulado para a rede LTE está ilustrado na Figura 1. Este modelo foi definido por [Qiu et al 2010], com um Server responsável por prover os serviços de vídeo, FTP e VoIP, um MME/S-GW, um eNBs e um UE. Neste último, estão acoplados os agentes de recepção p a r a o s t r á f e g o s U D P e T C P. Figura 1. Cenário da Simulação para a Rede LTE. O tráfego FTP é transmitido através do protocolo TCP, a uma taxa de dados de 512 kbps, com tamanho de 1500 bytes. O tráfego VoIP é transmitido através do protocolo UDP, a uma taxa de dados de 8 kbps, com tamanho do pacote de 1500 bytes. Na simulação, o fluxo de vídeo utilizado foi o Highway, taxa de dados de 512 kbps, composto de 2000 quadros, incluindo 223 quadros I, 445 quadros P e 1332 quadros B, resolução de 352 x 288, 30 fps e GoP: 5, 10, 20 e 30. Além das especificações e padrões de vídeo, FTP e VoIP, a Tabela 1 apresenta os principais parâmetros utilizados na simulação. Os parâmetros mostrados nesta tabela estão relacionados ao ambiente de simulação proposto em [Qiu et al 2010]. 107 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.103-113 Tabela 1. Parâmetros de simulação. Parâmetros Vídeo Resolução Quadros I Quadros P Quadros B Total de Quadros Taxa de Frames GoP FTP VoIP Tempo de Simulação Número de Simulações Intervalo de Confiança Framework de Vídeo Simulador Valor Utilizado Taxa 512 kbps 352 x 288 223 quadros 445 quadros 1332 quadros 2000 quadros 30 fps 5, 10, 20 e 30 Taxa 512 kbps Taxa 8 kbps 66 s 100 95 % Evalvid NS-2 2.33 e Módulo LTE Para as métricas coletadas nas simulações, utilizou-se um nível de confiança de 95% para análise dos resultados, além de analisar os dados quantitativos das métricas de QoE para PSNR, SSIM e VQM em sua média, desvio padrão e variância. Na transmissão de conteúdo multimídia, para que os requisitos sejam atendidos em diferentes níveis de serviços na rede LTE, é primordial utilizar mecanismos de controle de fluxo, controle de admissão, reserva de recurso, entre outros. Os resultados apresentados neste artigo avaliam as métricas de QoE, utilizando o controle de fluxo entre a eNB e o UE na transmissão de vídeo, bem como o mapeamento de QoS, para diferentes níveis de congestionamento na rede. Os resultados obtidos em estudos baseados em métricas de QoE, podem servir para melhorar os serviços de aplicações multimídias. Desta forma, a primeira análise realizada foi quanto a métrica de PSNR, considerando diferentes níveis de congestionamento (0 – 100 %) durante o processo de transmissão do vídeo Highway na rede LTE, conforme ilustra a Figura 2. Os resultados demostram que o controle de fluxo entre a eNB e o UE foi mais efetivo para o GoP 5, apresentando uma excelente qualidade de vídeo, segundo mapeamento de valores de PSNR para MOS (Mean Option Score) [Piamrat et al 2009]. Nota-se que a medida que o congestionamento aumenta a qualidade do vídeo diminui, de acordo com o nível de PSNR. Para o GoP 10, a qualidade do vídeo apresentou um nível regular. E os demais GoPs (20 e 30), níveis pobres da qualidade do vídeo, devido a maior dependência de pacotes e codificação baixa. Comparando o GoP 5 com o nível de PSNR do GoP 20 (pior caso), a diferença máxima atingiu 47,75 % em 50 % de congestão. A partir da congestão de 75 %, para o GoP 5, o nível da qualidade de vídeo decai para um nível bom e em 100 % de congestionamento para um nível regular. 108 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.103-113 p.XXX Ano A segunda análise realizada para o controle de fluxo foi quanto ao nível da métrica SSIM. A Figura 3 apresenta a distribuição dos níveis da métrica SSIM em relação à variação do congestionamento. Para a distribuição da métrica SSIM, o vídeo com GoP 5 obteve o melhor desempenho, valores mais próximos de 1. No entanto, esse nível decai a partir da congestão de 75 %, confirmando os níveis apresentados para a métrica de PSNR. Para os vídeos de GoP 10, 20 e 30, os valores de SSIM apresentaram valores inferiores, evidenciando os valores apresentados na métrica de PSNR, devido a maior dependência de pacotes e codificação baixa. Observa-se que para o GoP 5, a porcentagem máxima, comparada ao pior caso (GoP 20), para a congestão de 50 %, é de aproximadamente 11,91 %. 109 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.103-113 p.XXX Ano A Figura 4 ilustra a distribuição dos níveis da métrica VQM, para as mesmas condições de congestionamento na rede LTE das métricas anteriores. Os resultados comprovam que o controle de fluxo entre a eNB e o UE é mais eficaz para o GoP 5, ao contrário do pior caso para o GoP 20. Figura 4. VQM para fluxo de vídeo Highway 352 x 288, com diferentes GoPs. A métrica VQM destaca que quanto menor o valor, melhor será a qualidade do vídeo, pois avalia a qualidade das cores, dos pixels, ruído, cor e distorção do vídeo. Para os vídeos de GoP 10, 20 e 30, os valores de VQM apresentaram valores superiores, enquanto no vídeo de GoP 5, os valores de VQM estão mais próximos de 0, portanto, apresentando melhor qualidade de vídeo. Comparando o GoP 5 (melhor caso) com o nível de VQM do GoP 20 (pior caso), a diferença máxima foi de 83,55 % para o congestionamento em 50 %. Observa-se que, a partir da congestão de 75 %, para o GoP 5, o nível da qualidade de vídeo decai, comprovando os resultados das métricas anteriores. Conforme os valores médios das métricas PSNR, SSIM e VQM, Tabela 2, congestionamento de 50 %, o vídeo recebido de acordo com o controle de fluxo na rede LTE, para o melhor caso (GoP 5) e pior caso (GoP 20), apresentam respectivamente, qualificação do vídeo como Excelente e Pobre. T a b e la 2 . R e s u lta d o s d a s m é tr ic a s d e Q o E p a r a o tr á f e g o d e v íd e o n a R ed e L T E . 110 G oP 5 P S N R [d B ] 4 2 ,6 1 S S IM 0 ,9 7 VQM 0 ,5 5 G oP 20 2 2 ,2 7 0 ,8 5 3 ,4 5 Q u a lid a d e E x c e le n te P o b re Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.103-113 p.XXX Ano A Tabela 3 ilustra a sequência de quatro quadros de frames do vídeo Highway, frame 1280. Observa-se que, o vídeo recebido para o GoP 5 apresentou melhor qualidade com o controle de fluxo entre eNB e o UE da rede LTE. A continuidade da excelente qualidade de vídeo é a mesma, conforme os resultados das métricas de QoE. A qualidade do vídeo piora para o aumento do GoP, evidenciando os piores casos no GoP 20 e 30. Os resultados mostram que, a medida que o GoP aumenta de tamanho, a perda de frames é bem maior, apresentando um impacto bem maior na qualidade do vídeo. O controle de fluxo, aliado ao mapeamento de QoS entre o eNB e o UE, melhorou as métricas de QoE para GoP 5. Isso devido a importância do agrupamento de quadros, além do processo de atualização mais rápida dos frames. Em GoPs altos, os níveis de congestionamento possibilitaram que a qualidade do vídeo caísse significativamente, conforme as métricas de QoE. Tabela 3. Frames do vídeo Highway, para diferentes GoPs. Frame 1280 – GoP 5 Frame 1280 – GoP 10 Frame 1280 – GoP 20 Frame 1280 – GoP 30 111 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.103-113 p.XXX Ano Conclusões e Trabalhos Futuros A partir das análises realizadas com os resultados das simulações para o cenário apresentado, foi observado que as métricas de QoE para a transmissão de conteúdo multimídia apresentaram melhores níveis para o GoP 5 e níveis mais baixos para o GoP 20. O controle de fluxo, aliado ao mapeamento de QoS entre o eNB e o UE, melhorou as métricas de QoE para o GoP 5, devido a importância do agrupamento de quadros, além do processo de atualização mais rápida dos frames. Para valores altos de GoPs, conforme os níveis de congestionamento foram sendo elevados, houve uma queda significante nas métricas de QoE e na qualidade do vídeo. Para trabalhos futuros, propõe-se um estudo utilizando outras métricas de QoE, entre elas, métricas subjetivas como, por exemplo, o MOS. Propõe-se também, a realização de outras simulações utilizando vídeos com maiores tempos de execução. Referências BEGAZO, D., RODRIGUEZ, D. E RAMÍREZ, M. (2011) Avaliação de Qualidade de Vídeo sobre uma Rede IP usando Métricas Objetivas, In: Conferência Iberoamericana em Sistema, Cibernética e Informática CISCI 2011, Orlando, USA, . v. I. p. 226-229. MCQUEEN, D. (2009) The momentum behind LTE adoption, IEEE Communications Magazine, vol. 47, no. 2, pp. 44–45, Feb. RAPPAPORT, T. S. (2009) Comunicações Sem Fio: Princípios e Práticas, Pearson Prentice Hall, 2ª edição, São Paulo. HOLMA, H. AND TOSKALA, A. (2009) LTE for UMTS OFDMA and SC-FDMA Based Radio Access. John Wiley & Sons. SILVA, D., JÚNIOR, J., COELHO, M. E DIAS, K. (2010) Arquitetura Heterogênea com Gerenciamento da QoE e Suporte a Handover Transparente através de um Sistema Fuzzy-Genético, In: XVI Simpósio Brasileiro de Sistemas Multimídias e Web – 2010, Belo Horizonte, MG. LINN, T., SHIN, J. AND COSMAN, P. (2010) Packet Dropping for Widely Varying Bit Reduction Rates using a Network-based Packet Loss Visibility Model, In: IEEE, 2010 Data Compression Conference, pp. 445-454. 112 TRINDADE, G., SILVA, E. E PEREIRA NETO, A. (2012) Avaliação na Transmissão de Vídeo em Rede LTE Utilizando Métricas de QoE, In: I Workshop de Ciência e Tecnologia da Amazônia, 2012, Belém. I Workshop de Ciência e Tecnologia da Amazônia. Revista Perspectiva Amazônica 3GPP TR 36.300 V10.1.0. (2010) Evolved Universal Terrestrial Radio Access (E- UTRA) and Evolved Universal Terrestrial Radio Access Network (E-UTRAN); Overall description; Stage 2 (Release 10). Disponível em: www.3gpp.org. Ano33N° N°66 p.103-113 p.XXX Ano MALKOWSKI, M. AND CLASSEN, D. (2008) Performance of Video Telephony Services in UMTS using live measurements and Network Emulation, Wireless Personal Communications, Springer, v.46, n.1, pp. 19-32. GAO, X. (2009) Image Quality Assessment based on Multiscale Geometric Analysis, Image Processing, IEEE Transactions on, IEEE, v.18, n.7, pp.1409-1423. GELONCH, A. (2010) A Real Time Emulator Demonstrating Advanced Resource Management Solutions, Wireless Personal Communications, Springer, v.54, n.1, pp. 123-136. Proceedings of the XII SIBGRAPI Proceedings of the XII SIBGRAPI (October 1999) 101-104 (October 1999) QIU, Q., JIAN, C., PING, L., ZHANG, Q., AND PAN, X. (2009) LTE/SAE Model and its Implementation in NS 2, Fifth International Conference on Mobile Ad-hoc and Sensor Networks MSN' 09, pp. 299 - 303. QIU, Q., JIAN, C., PING, L., AND PAN, X. (2010) Hierarchy Virtual Queue Based Flow Control in LTE/SAE, Second International Conference on Future Networks ICFN'10, pp. 78 - 82. PIAMRAT, K., VIHO, C., KSENTINI, A., AND BONNIN, J. (2009) Quality of Experience Measurements for Video Streaming over Wireless Networks, Sixth International Conference on Information Technology ITNG 09, pp. 1184 - 1189. 113 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 p.114-124 VRML e JAVASCRIPT: Integração de Linguagens para criar matrizes de objetos tridimensionais em tempo de execução Rafael Brelaz* RESUMO Este artigo tem como objetivo apresentar alguns resultados obtidos com a criação de matrizes de objetos tridimensionais por meio da integração entre as linguagens VRML e JavaScript. A necessidade de integração neste caso, ocorre devido a algumas limitações da VRML que são supridas com o uso de uma linguagem de programação para auxiliar na instanciação dinâmica de conjuntos de objetos. A criação de matrizes de elementos tridimensionais usando VRML e JavaScript oferece várias vantagens para desenvolvedores que precisam elaborar Ambientes Virtuais de forma mais ágil e evitar o dispêndio proveniente das translações manuais muitas vezes necessárias, porém, existem restrições relativas quanto as relações que são estabelecidas entre a complexidade e quantidade de objetos virtuais com a quantidade de memória volátil disponível para visualização do espaço virtual. ABSTRACT This article aims to present some results obtained by creating arrays of three-dimensional objects through integration between the languages VRML and JavaScript to be built in this case is due to some limitations of VRML that are fixed with the use of another language programming to assist in the dynamic instantiation of sets of objects. The creation of arrays of three-dimensional elements using VRML and JavaScript offers several advantages for developers who need to build virtual environments more agile and avoid the expense of translations from manuals often necessary, but there are restrictions on how the relationships are established between the complexity and amount of virtual objects with the amount of volatile memory available for viewing the virtual space. *Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) Santarém – PA – Brasil [email protected], [email protected] 114 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.XXX XXX Ano Introdução A Virtual Reality Modeling Language (VRML) surgiu na década de 90 como a primeira definição normalizada do espaço tridimensional na Internet [Henriques e Sampaio, 2002]. Existem basicamente duas formas de interação que podem ser realizadas com a VRML: a utilização de captura dos eventos ocorridos na aplicação e a captura de eventos disparados em uma aplicação externa onde é necessária outra linguagem de programação [Sousa e Kniess, 2004]. Como a VRML não possui suporte nativo à estruturas de seleção e repetição é possível o uso de outras linguagens por meio do nó Script para que possam ocorrer processamentos de decisão e interação [Delaiba e Junior, 2006], [Pacheco, 2004] e [Fernandes e Pires, 2000]. Em casos como na concepção de vários objetos com características geométricas idênticas é possível replicar os elementos manualmente e atribuir coordenadas, cujo incremento é calculado pelo desenvolvedor ou usar propriedades de outras linguagens que permitam a criação e atribuição de coordenadas de forma automática. O uso de scripts para realizar cálculos de processamento em VRML ocorre frequentemente com a utilização das linguagens JavaScript, Java e VRMLscript (que é uma derivação de JavaScript assim como a ECMAScript) [Nadeau, Moreland e Hech, 1998]. Com JavaScript podemos criar efeitos especiais nas páginas e definir interatividades com o usuário [Delaiba e Junior, 2006]. Desta forma, foi escolhida a linguagem JavaScript por esta ser capaz de solucionar o problema, da replicação manual dos objetos especificando suas coordenadas geográficas uma a uma, e por estar disponível na maioria dos navegadores e não necessitar de instalações ou configurações adicionais para disparar as ações programadas. A criação de Ambientes Virtuais requer noções de sistemas em tempo real, orientação a objetos, redes, modelagem geométrica, modelagem física, multitarefas, entre outras habilidades [Kirner, et al, 1996]. Ter o domínio destas propriedades contribui para que desenvolvedores possam criar sistemas cada vez mais robustos, escaláveis e confiáveis para uma clientela cada vez mais exigente. A criação de conjuntos de objetos com o uso de scripts permite poupar o tempo dos desenvolvedores agilizando o processo de construção de Ambientes Virtuais. Este trabalho tem como objetivo demonstrar os resultados alcançados com o uso das linguagens VRML e JavaScript para concepção de matrizes de objetos tridimensionais de forma automática. Os tópicos a seguir abordarão desde os trabalhos correlatos encontrados na literatura durante o desenvolvimento deste artigo, passando pelo contexto de desenvolvimento, algumas questões relativas a VRML e JavaScript, o problema e as soluções encontradas e finalmente os resultados alcançados apresentando um exemplo onde foi utilizada a integração das duas linguagens para solucionar um caso específico: criação de uma matriz tridimensional de livros para a Biblioteca Rui Barata da Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus de Santarém, atual Campus Rondon da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). 115 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.XXX XXX Ano Trabalhos Correlatos A criação de mundos virtuais em VRML é uma boa alternativa para apresentar ambientes com Realidade Virtual não imersiva na Web, permitindo um desenvolvimento rápido com base em geometrias predefinidas ou na criação e articulação de polígonos para especificar detalhes nos objetos da cena. O que acontece no entanto é que a VRML é uma linguagem de modelagem, e por esta limitação, não permite o uso nativo de estruturas de seleção e repetição como pode ser visto em linguagens de programação como Java, PHP, Python, entre outras. Por este motivo, em situações onde é preciso usar algumas estruturas próprias de linguagens de programação, se faz necessária a integração que a VRML permite por meio de seu nó Script, como na criação de vários objetos em sequência no caso de uma estrutura de repetição. Poucos trabalhos tem analisado essa questão no sentido de explorar os pontos relativos à renderização dos objetos na cena, tempo de resposta, testes de consumo de memória, tempo de processamento, entre outras características que podem ser estudadas nessa integração entre VRML e uma linguagem de script auxiliar, neste caso a JavaScript, ou uma linguagem mais elaborada, robusta e pesada, como o Java por exemplo. Apenas no trabalho de [Fernandes e Pires, 2000] é que foi possível encontrar um estudo, pelo menos em parte, semelhante ao proposto neste artigo. Em [Fernandes e Pires, 2000] é apresentada uma ferramenta, a VRML+: uma plataforma de desenvolvimento rápido de mundos VRML, cuja função é disponibilizar um preprocessador pra converter os códigos desenvolvidos na VRML+ em código VRML equivalente. Um dos pontos do artigo trata da utilização da plataforma no que diz respeito a estruturas de repetição para criar vários postes, sem ter o trabalho manual de criar objeto por objeto e ir deslocando este pelo ambiente virtual. A integração entre VRML e JavaScript proposta neste artigo, para criar matrizes de objetos em tempo de execução, não foi encontrada em nenhum outro trabalho pesquisado na área de Realidade Virtual. Este fato proporciona ao artigo em questão um caráter inovador, no intuito de analisar os resultados desta integração para instanciação dinâmica de objetos num cenário específico. Contexto de Desenvolvimento No ano de 2007 foi criado no antigo Campus de Santarém da UFPA, atual UFOPA – Campus Rondon, um grupo de estudos para modelar a Universidade em questão. Idealizado pelo professor Mestre Cássio David Borralho Pinheiro, o grupo formado pelos então alunos de graduação da Faculdade de Sistemas de Informação da UFPA: Rafael Brelaz Sampaio, Idelvandro José de Miranda Fonseca e Luiz Felipe de Sousa, ficou responsável por criar o Campus Virtual de Santarém (CVSUFPA). 116 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.XXX XXX Ano A princípio a finalidade do projeto era estudar tecnologias de Realidade Virtual para Web e então desenvolver o Campus Virtual, porém ao aprofundar os conhecimentos no assunto outras possibilidades foram acrescentadas pelos integrantes ao escopo do projeto, conforme [Brelaz et al, 2010]: · Permitir o conhecimento colaborativo entre seus participantes e consequentemente aos interessados em assuntos correlatos ou similares à Realidade Virtual; · Desenvolver e/ou adaptar mecanismos de coordenação, análise e construção de softwares ao escopo do projeto; · Criar Sistemas de Realidade Virtual com foco em arquitetura de edificações, na relação ensino/aprendizado, simulação de ambientes reais e suas aplicações no contexto da Web; · Fazer um ambiente computacional que simule a estrutura da UFPA em Santarém, permitindo aos visitantes virtuais conhecer suas edificações e interagir com objetos no cenário; · Produção de materiais técnicos, científicos e didáticos para disseminação da tecnologia, desenvolvimento da sociedade e construção do conhecimento; A linguagem a princípio sugerida pelo idealizador do projeto foi a VRML, devido a sua facilidade de instalação e uso, o fato de ser voltada para a Web, além da sua popularidade e a consequente abundância de materiais disponíveis na Internet. Levando em conta que a princípio o propósito era a simples modelagem da Universidade, a linguagem cumpriu perfeitamente a função esperada no intuito de mostrar visualmente as características do Campus de Santarém da UFPA. No contexto do CVS-UFPA, um dos principais pontos desenvolvidos foi a Biblioteca Virtual Rui Barata (BVRB), para permitir aos usuários virtuais conhecer a estrutura arquitetônica do ambiente, bem como a disposição dos objetos presentes nela. É neste ponto que surge a necessidade de encontrar uma alternativa eficaz para evitar a criação manual, texturização e devida replicação no ambiente virtual dos livros da BVRB. As figuras 1 e 2 mostram imagens da antiga biblioteca do Campus de Santarém da UFPA criada com o uso da linguagem VRML. 117 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.XXX XXX Ano Figura 1. Visualização das mesas para estudo na BVRB Figura 2. Visão do balcão onde ficam os bolsistas e funcionários para entregar os livros aos usuários da biblioteca VRML e JAVASCRIPT 118 A integração entre as duas linguagens ocorre por meio do nó Script. Após o estabelecimento das variáveis em VRML é chamado o arquivo ou especificado o código que irá realizar algum processamento. Terminada a elaboração do script o próximo passo é o estabelecimento de rotas que integrem funções em VRML com os cálculos realizados em JavaScript. Dentre as possibilidades de integrar VRML a outra linguagem de programação foi escolhida a JavaScript por ser a que mais conciliou a relação eficiência, facilidade de uso e disponibilidade nos navegadores, além do fato de ser facilmente substituída por versões correspondentes como VRMLscript ou ECMAScript. A necessidade de usar outra linguagem para realizar processamentos de repetição ocorreu devido a grande quantidade de livros que teriam que ser criados com seus atributos de textura e localização no espaço tridimensional da BVRB, somado isto à limitação da VRML para tal quesito como já mencionado anteriormente. Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.XXX XXX Ano Problemas e Soluções Como a VRML tem suas restrições foi necessária a utilização da linguagem JavaScript juntamente ao VRML para realizar algumas tarefas [Delaiba e Junior, 2006]. Para realizar cálculos complexos é necessária a integração com outra linguagem que realize os processamentos e repasse os resultados dos cálculos ao browser para que possam ser atualizadas as informações no Ambiente Virtual. Para criar conjuntos de objetos em VRML duas alternativas são facilmente percebidas: a concepção manual e a integração com uma linguagem de programação. No primeiro caso é preciso instanciar e posicionar objetos no espaço tridimensional de maneira individual, ou seja, cada objeto é replicado e inserido no mundo virtual um a um, demandando significativo tempo e paciência aos desenvolvedores. Na segunda alternativa, que foi a utilizada neste artigo, pode ser usada uma estrutura de repetição disponível em outra linguagem de programação integrando duas linguagens: uma para processamento de cálculos e outra para exibição das propriedades da Realidade Virtual com os resultados gerados. A possibilidade de integração proporcionada pela VRML permite que a criação de conjuntos de objetos com características semelhantes seja facilitada com a construção dinâmica de vários elementos sem a necessidade de replicação e posicionamento manual de matrizes de objetos. Resultados Para criar matrizes de objetos tridimensionais em tempo de execução foi realizada a integração entre as linguagens JavaScript e VRML no intuito de conceber, colorir e posicionar objetos no cenário virtual idealizado. A princípio foi analisado o desempenho com base na quantidade de memória e objetos para a criação de livros em uma biblioteca virtual para conferir ao visitante do Ambiente Virtual uma visualização adequada, conforme o planejado pelos desenvolvedores da BVRB. Foram utilizadas variáveis e estruturas de repetição para deslocar os objetos criados de forma dinâmica e modelar uma matriz tridimensional de livros, onde cada elemento possui uma cor determinada aleatoriamente com a ajuda de uma função para geração de valores aleatórios para os valores RGB (Red, Green, Blue). O acionamento do script inicia quando o avatar do usuário se aproxima do objeto e dispara o sensor de proximidade (ProximitySensor) que é o gatilho para a criação da matriz tridimensional de livros. Qualquer distância entre o avatar e o primeiro livro da biblioteca, que seja menor que a quantidade de unidades de medidas determinada no código em VRML para disparar a ação, faz com que seja executado o script de criação de livros por meio de uma rota (ROUTE) que interliga o nó sensor ao nó script. A partir desse momento, a relação entre quantidade de memória volátil disponível e a quantidade de objetos que se deseja criar passa a ser a questão mais importante a ser analisada neste contexto. A figura 3 mostra o diagrama de estados do cenário em questão criado com o auxílio da ferramenta Astah Community [Astah, 2012]. 119 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.XXX XXX Ano Figura 3. Diagrama de estados do cenário proposto para criação dinâmica de objetos 120 Como para este caso são usadas três estruturas de repetição alinhadas de modo que seja criada uma matriz tridimensional, ocorre um grande consumo de memória volátil, pois a cada interação as variáveis em JavaScript são atualizadas e novos cálculos são gerados. Ao sair do laço, a variável que armazenou os códigos dos objetos em VRML e seus respectivos atributos é adicionada ao navegador para que este possa acrescentar as instruções geradas ao Ambiente Virtual. Esta etapa gera um grande custo computacional pelo fato de serem gerados vários objetos, neste caso, livros que possam representar superficialmente o acervo de uma biblioteca virtual como pode ser visto em [Brelaz et al, 2010]. Pelo fato de criar várias linhas de código e armazená-las em uma dada variável, ao acontecer o repasse dessas informações ao navegador pode ocorrer uma demora acima dos limites que permitam uma visualização em tempo de execução ou o mais próximo possível disso. Alguns testes foram feitos em um computador com processador dual 1.6 Giga Hertz, 1 Giga Byte (GB) de memória volátil e placa de vídeo com 64 Mega Bytes (MB). Devido ao fato do processador ser dual foram distribuídas as funções para que os processos de usuário pudessem ser realizados por um núcleo e o navegador com uma biblioteca virtual e o script para criação dos livros tivesse atenção especial com um núcleo direcionado para a aplicação estudada. É importante frisar neste ponto, que o presente trabalho não tem como pretensão apontar resultados com base em análises de desempenho computacional e técnicas precisas para este fim, mas sim demonstrar os resultados alcançados por meio da experiência adquirida com a ajuda de algumas propriedades disponíveis no sistema operacional, pois não foram realizados estudos profundos sobre o funcionamento do sistema operacional utilizado e questões norteadoras e/ou específicas. A proposta deste artigo limita-se a demonstração dos resultados para uma qualidade de visualização em tempo real ou o mais próximo possível disso, evitando travamentos e/ou perda de quadros que possam prejudicar a sensação de realidade ao visitar um Ambiente Virtual que contenha algum script para criação dinâmica de Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.XXX XXX Ano objetos virtuais. Desta forma, o objetivo proposto é analisar a viabilidade da integração entre VRML e JavaScript para criação automática de objetos em tempo de execução em contextos particulares, neste caso a criação de livros, demonstrando até que ponto a relação entre memória volátil e quantidade de objetos pode influenciar em uma visualização adequada do ambiente. A tabela 1 apresenta as quantidades de objetos e memória volátil utilizadas, sendo que os processos do sistema operacional iniciam com 350 MB de memória já usados que passam para 400 MB com o carregamento da biblioteca e dependendo da quantidade de objetos assume estados finais diferentes para depois de executado o script de criação dos livros. Tabela 1. Demonstração das relações entre a quantidade de memória volátil e objetos instanciados em tempo de execução Objetos Pico de Memória Consumo Script Estado Final 1920 1,3 GB 900 MB 490 MB 1728 1,1 GB 700 MB 480 MB 1536 0,98 GB 600 MB 472 MB 1344 0,86 GB 460 MB 465 MB 1152 0,75 GB 350 MB 455 MB 960 0,65 GB 250 MB 447 MB Na criação da matriz tridimensional de livros nas estantes da biblioteca virtual foram utilizados valores fixos para os deslocamentos nos eixos Y e Z, pois estes representam as quantidades de prateleiras e estantes onde os objetos ficaram posicionados. Apenas o valor do eixo X foi modificado com alterações que variaram entre 10 e 5 unidades de medida da VRML para cada bloco ou conjunto de livros, sendo dois blocos para cada compartimento de uma determinada prateleira, conforme pode ser visto na figura 4. Figura 4. Livros posicionados ao longo do eixo X nas estantes formando dois blocos de 5 a 10 unidades de medida VRML, conforme os testes realizados 121 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.XXX XXX Ano Como a quantidade de memória volátil disponível era 1 GB, qualquer pico de memória acima deste valor provocou o uso de memória do Hard Disk (HD) e a consequente degradação do desempenho do sistema pelo uso de memória não volátil. As figuras 5 e 6 a seguir, mostram o resultado da integração entre VRML e JavaScript para criar matrizes de objetos automaticamente e permitir a coloração de cada elemento por meio de uma função aleatória que gera valores entre 0 e 1 conforme o padrão RGB. Figura 5. Visão do corredor de livros formado com o acionamento do script Figura 6. Visão panorâmica da matriz tridimensional de livros criada por meio da integração entre VRML e JavaScript 122 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.XXX XXX Ano Conclusões A VRML é uma ferramenta bastante útil para construção de mundos virtuais na Web, pois possibilita a elaboração de ambientes de forma rápida e intuitiva, o que facilita sua disseminação para que interessados em criar espaços virtuais em computador possam optar por esta alternativa, já que a linguagem consegue aliar uma boa relação entre curva de aprendizado e resultados. Um problema, no entanto, é o fato da VRML ter algumas limitações que dificultam determinadas possibilidades que são facilmente implementadas em outras linguagens, entre elas a utilização de estruturas de seleção e repetição que na VRML necessitam de outra linguagem para acrescentar tais características. Neste trabalho foram usadas a VRML e a JavaScript para criar uma matriz tridimensional de livros em uma biblioteca virtual. Durante os estudos realizados foi possível perceber que mesmo com o uso de uma linguagem auxiliar para agilizar a construção de mundos virtuais, a VRML ainda apresentou algumas limitações quanto à viabilidade de uso desta alternativa. Pelos resultados alcançados foi possível perceber que é necessário analisar a relação entre memória volátil disponível e quantidade/complexidade de objetos adicionados ao navegador. Foram apresentadas duas alternativas para criar matrizes tridimensionais em VRML: a manual e a automática. Pelo que foi percebido durante os estudos, para criar matrizes tridimensionais usando a abordagem automática os desenvolvedores necessitam calcular o custo computacional requisitado para que haja uma visualização ideal ou o mais próximo disso para o usuário final do Ambiente Virtual. No caso da abordagem que usa o script para criar objetos devem ser indicados os requisitos mínimos de memória para uma visualização sem perdas de quadro e sem travamentos, para que os usuários possam ter acesso aos resultados pretendidos pelos programadores, e não julguem os ambientes pelas limitações de suas máquinas, mas possam gozar de todas as estratégias disponíveis para criar mundos virtuais de forma mais rápida, eficiente e inteligente. Existe ainda a possibilidade de criar algo semelhante a [Fernandes e Pires, 2000] para gerar o código diretamente no arquivo de forma estática ao invés da abordagem dinâmica proposta neste artigo. Ambas as soluções tem suas vantagens e desvantagens, conforme os objetivos, o cenário e os atributos que se deseja utilizar no mundo virtual construído. A abordagem dinâmica, por exemplo, proporciona um código mais bem elaborado e menor, porém com desempenho fortemente limitado às configurações de hardware. Já a abordagem estática tende a ser mais robusta em termos de desempenho e menos eficiente na questão de engenharia e espaço em disco. Este artigo analisou a integração entre VRML e JavaScript para criação dinâmica de objetos em um Ambiente Virtual, a biblioteca BVRB. Como principal contribuição foram apresentados dados relativos ao desempenho do Ambiente Virtual em vários cenários, a proposta de integrar as linguagens usadas neste trabalho para permitir a criação dinâmica de mundos virtuais, bem como uma breve análise do custo / benefício de criar objetos em sequência de forma estática e dinâmica, conforme os requisitos que se pretende alcançar. 123 Revista Perspectiva Amazônica Ano33N° N°66 p.p.XXX XXX Ano Trabalhos Futuros Nesta etapa foi analisada a integração entre VRML e JavaScript para criação de matrizes de objetos tridimensionais com base em resultados principalmente qualitativos e alguns poucos dados quantitativos. Para as próximas etapas será feita uma análise mais rigorosa a respeito do desempenho da abordagem apresentada, usando técnicas e conceitos com base em um estudo mais aprofundado em relação a Avaliação de Desempenho de Sistemas (ADS) que usem esta integração para instanciar conjuntos de objetos em tempo de execução. Em outro trabalho ainda não publicado, pelo mesmo autor deste artigo, também foi criada uma ferramenta para gerar códigos de forma estática utilizando a linguagem de programação Java. Sendo assim, também será feita uma análise mais detalhada em relação as vantagens e desvantagens das abordagens estática e dinâmica mencionadas no tópico anterior deste artigo, e desta forma mostrar em que situações seria viável optar por esta ou aquela abordagem. Referências ASTAH COMMUNITY. Disponível em <http://astah.net/editions/community>. Acesso em 17 de Fevereiro de 2012. BRELAZ, R.; FONSECA, J. DE M.; SOUSA, L. F. E PINHEIRO, C. D. B. 2010. Campus Virtual de Santarém: Visualização Tridimensional da Biblioteca Rui Barata para Permitir Acesso a sua Estrutura Arquitetônica e Disposição de Objetos. ERIN 2010. DELAIBA, V. H. B. E JUNIOR, E. A. L. (2006). Realidade Virtual no Contexto da Eficiência Energética: Estudo e Desenvolvimento de Ambientes Virtuais, como Ferramenta de Suporte para Aplicação Direta no Estudo de Motores Elétrica e na Eficiência Energética. FERNANDES, A. R. E PIRES, H. C. (2000). VRML+: Uma Plataforma de Desenvolvimento Rápido de Mundos VRML. In: 9° Encontro Português de Computação Gráfica, Marinha Grande, 16-18 de Fevereiro de 2000. HENRIQUES, P. G. E SAMPAIO, A. Z. (2002). Simulação Visual na Construção de Edifícios. In: XIV Congresso Internacional de Ingeniería Gráfica, realizado em Santander, Espanha, 5-7 junho de 2002. KIRNER, C. et al. Sistemas de Realidade Virtual, Apostila do I Ciclo de Palestras de Realidade Virtual, Universidade Federal de São Carlos, Outubro 1996, http://www.dc.ufscar.br/∼ grv/tutrv.htm 124 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 6 1. A revista “Perspectiva Amazônica” publicará artigos originais, artigos de revisão, resenhas, relatos de caso e ensaios, desenvolvidos por pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisa, que tenham caráter científico, sejam inéditos e versem sobre qualquer área do conhecimento e preferencialmente que possuam alguma relação com a realidade Amazônica. Artigo científico “é parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento” (ABNT. NBR 6022, 2003, p. 2). Os artigos originais apresentam temas ou abordagens inéditas, ao passo que os artigos de revisão analisam e discutem trabalhos já publicados sobre um determinado tema. Resenhas são revisões críticas de livros e de publicações científicas ou de interesse científico, nacionais ou estrangeiros. Uma resenha deve resumir, analisar, comparar e opinar sobre a obra em questão, constituindo portanto contribuição teórica ou científica ao campo. Relatos de caso são relatos de experiências vivenciadas adaptadas ao uso didático. Os relatos devem analisar a situação em exame e propor questões para reflexão, contextualizando o caso dentro da área do conhecimento e suas implicações nesta área. Ensaios são opiniões aprofundadas obtidas através da análise de um assunto. São exposições objetivas, lógicas, críticas e originais sobre determinado tema, pelo qual o autor pode transmitir informações e ideias. 2. Os trabalhos serão submetidos ao Conselho Editorial da revista que os encaminhará a dois Avaliadores conforme área de conhecimento e disponibilidade, para que emitam o parecer favorável ou desfavorável à publicação do artigo. O(s) avaliador(es), ao apreciar(em) o trabalho, não terá(ão) conhecimento de sua autoria. 3. O encaminhamento do manuscrito deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, reafirmando que o material não foi publicado e nem está sendo submetido a outro periódico. 4. Ao enviar o trabalho para análise o(s) autor(es) concorda(m) com todos os termos das normas de publicação e abre(m) mão de qualquer ação com relação a estes. As Faculdades Integradas do Tapajós, o Conselho Editorial e os Avaliadores da Revista “PERSPECTIVA AMAZÔNICA” não se responsabilizam, nem de forma individual nem de forma solidária, pelas opiniões, idéias e conceitos emitidos nos textos, que são de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es). 5. As pesquisas que envolvam seres humanos ou animais devem apresentar na metodologia que os experimentos foram realizados em conformidade com a legislação vigente sobre o assunto adotada no país, de preferência com prévia aprovação do Comitê de Ética correspondente. 6. Os Avaliadores podem aceitar ou não os trabalhos submetidos e, eventualmente, sugerir modificações ao(s) autor(es), a fim de adequar os textos à publicação. Nesse sentido, só serão publicados os trabalhos que recebam parecer favorável, e que tenham sido ajustados conforme indicação dos avaliadores. 7. Os trabalhos não aceitos para publicação ficarão à disposição do autor até três meses após a comunicação do resultado. 8. Os autores terão direito a dois exemplares da revista na qual seu trabalho foi publicado. 9. Os trabalhos serão aceitos em fluxo contínuo e caso aprovados publicados conforme a edição semestral. NORMAS PARA PUBLICAÇÃO GERAIS 125 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO 126 ESPECÍFICAS Na primeira página do arquivo deverá constar: a) título e subtítulo (se houver); b) autoria: nome completo do(s) autor(es) na forma direta, acompanhados de um breve currículo que o(s) qualifique na área do artigo; c) órgão financiador (se houver); d) resumo e abstract (máximo de 200 palavras); e) palavras-chave (no mínimo três); 2. O corpo do texto dos artigos originais deve apresentar, sempre que possível, a seguinte estrutura: a) introdução; b) fundamentação teórica; c) metodologia ou material e métodos; d) resultados; e) discussão; f) conclusões; h) referências. 3. Nos artigos de revisão, resenhas, relatos de caso e ensaios não será exigida a estrutura comum aos artigos originais. 4. As referências devem ser apresentadas conforme norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em ordem alfabética, com entrada pelo último sobrenome do (s) autor (es). Quando houver mais de um trabalho do mesmo autor citado, deve-se seguir a ordem cronológica das publicações. 5. As figuras e tabelas devem ser sempre em preto e branco, apresentadas em folha separada do texto e com numeração específica para cada categoria, acompanhadas das legendas, créditos e fonte. As tabelas e figuras devem ser executadas no mesmo programa usado na elaboração do texto. 6. As características técnicas dos trabalhos devem ser as seguintes: a. Editor de texto: Word 97 ou superior b. Fonte: Times New Roman, 12 c. Espaçamento: 1,5 linhas d. Papel: A4 e. Alinhamento: Justificado f. Margens: Superior: 3cm, Inferior: 3cm, Esquerda: 2cm, Direita: 2cm g. Extensão: De 08 a 20 páginas, incluindo a primeira página (título, autor, abstract, conforme item 1.) 7. Os trabalhos deverão ser entregues com cópia digital (em cd ou e-mail) e duas cópias impressas, enviados para: Revista “PERSPECTIVA AMAZÔNICA” Faculdades Integradas do Tapajós Coordenação de Pesquisa e TCC Rua Rosa Vermelha, 335 – Aeroporto Velho 68010-200 Santarém – Pará – Brasil e-mail: [email protected]