A FILOSOFIA DO GALHO TORTO E OS
EXERCÍCIOS
© Dr. Alessandro Loiola
A cena se repete várias vezes por semana e, em algumas semanas, várias
vezes por dia: um pouco acima do peso e com a pressão levemente aumentada, ela
entra no consultório trazendo os exames de controle. Confiro tudo, anoto tentando
fazer aquele ar de suspense e, quando começamos a conversar sobre algumas
orientações, ela dispara a frase clássica: “Ah, doutor, estou com 50 ou 60 e alguns
anos de idade e nunca fui muito de praticar exercícios... De que adianta começar
agora?”. Certo. Lá vamos nós de novo. Abre parênteses.
A ciência vem mostrando que a filosofia de vida “galho que nasce torto,
morre torto” é um grande equívoco. É possível mudar a sua história, sim. Ao avaliar
mais de 700 adultos com idades 40 e 70 anos de idade, pesquisadores da
Universidade de Heidelberg, na Alemanha, descobriram que aqueles que
praticavam alguma forma de atividade física desde a juventude possuíam um risco
60% menor para doenças do coração, quando comparados a adultos sedentários da
mesma idade.
A grande surpresa foi observar que pessoas que só começaram a se
exercitar regularmente após os 40 anos de idade também apresentavam um risco
55% menor para doenças do coração, em relação às pessoas que não se
exercitavam. Ou seja: mesmo que você nunca tenha praticado exercícios na sua
vida, começar a fazer o quanto antes é capaz de reduzir seu risco cardíaco.
Independente da sua idade.
Além de reduzir a possibilidade de doenças no coração, praticar exercícios
regularmente aumenta a flexibilidade, o equilíbrio, o tônus muscular e a saúde
óssea; diminui a insônia, a tensão, o estresse e o risco de diabetes; alivia as dores
musculares e articulares; incrementa sua auto-estima; controla o apetite e
aumenta os níveis de HDL, o colesterol bom.
Acredite em mim: adicionar exercícios à sua rotina diária lhe trará ainda
mais energia. Coloque esta dica no topo da sua lista de prioridades. Nadar, pedalar,
fazer danças aeróbicas ou jogar tênis são boas escolhas. Até mesmo uma
caminhada leve de 30 minutos, 4 a 5 vezes por semana, é uma alternativa prática,
eficaz e barata para reduzir seu risco cardíaco.
Mas atenção! Não tente dar uma de valente ou espertinha. Oriente-se com
seu médico sobre qual exercício melhor se adapta às suas necessidades e, quando
estiver por conta própria na academia ou na pista, vá com calma. Você não precisa
correr e tropeçar na própria língua, bufando e suando até a última gota. Se tiver
escolhido caminhar na esteira, comece com um percurso de 2 a 4 Km, aumentando
um pouco a cada semana. A meta deve ser completar 25-30 Km a cada 7 dias.
“Mas eu não agüento fazer 30 minutos de exercícios de uma só vez”. Sem
problema. Você pode dividir sua atividade física em duas ou três partes iguais. Faça
uma caminhada de 15 minutos pela manhã e outra igual no final da tarde. Porém,
se, mesmo dividindo a carga, você sentir tonteira, falta de ar intensa, dor no peito,
palpitações ou vertigens, pare os exercícios e procure seu médico. Estes sintomas
significam que você deve reavaliar seu condicionamento físico e a intensidade dos
exercícios propostos.
Exercícios curtos de alta intensidade aumentam os níveis de colesterol ruim
e o risco de doenças cardíacas. Aquela pelada no final de semana com os amigos,
se não for acompanhada de uma preparação física regular durante a semana, pode
lhe trazer mais prejuízos que benefícios. Cuidado com isso.
E se a ficha caiu e você decidiu começar agora, tome cuidado também com
as companhias: nem todo mundo se sente feliz com o sucesso do outro. Ver
alguém que leva uma vida saudável incomoda demais quem não leva. Por isso,
procure se cercar de pessoas que apóiam abertamente seu novo estilo de vida e
siga em passo firme sempre adiante: ser responsável com seu corpo não é apenas
a melhor escolha para você. É, de longe, a mais certa. E fecha parênteses.
--Dr. Alessandro Loiola é médico, escritor, palestrante, autor de “Vida e Saúde da
Criança” e “Crianças em forma: saúde na balança” ( www.editoranatureza.com.br ).
Atualmente reside e clinica em Belo Horizonte, Minas Gerais.
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ESTA CRÔNICA FOI ORIGINALMENTE PUBLICADA NO JORNAL ESTADO DE MINAS
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