PRÓLOGO Eu já não sabia mais o que era sonho ou realidade. Tudo estava confuso. Eu estava morrendo, mas não conseguia entrar em desespero. Não conseguia me preocupar com este simples fato, que provavelmente, assustaria a maioria das pessoas do mundo. Eu simplesmente me preparei para o inevitável, pensando apenas no que aconteceria com o resto deles. O que eles irão fazer? Qual seria a atitude deles? Continuariam brigando... Buscando com todas as suas armas, uma forma de se vingarem? Provavelmente sim. Entretanto, por mais que eu concorde com esse desejo de vingança, eu sei que eles nunca conseguiram vencer. Lutaram por nada! CAPÍTULO 1 SÃO PAULO- 10 DE FEVEREIRO DE 1985 É incrível como uma parcela da população é completamente tapada. Eu estava lendo o jornal, como faço todas as manhãs e me deparei com uma manchete que relatava a estupidez da humanidade. A manchete dizia: MILIONARIO MORRE E DEIXA FORTUNA PARA A AMANTE. O milionário era um senhor de 78 anos de idade, casado com uma senhora de 75 anos, tinha filhos e netos. Começou a ter um relacionamento com uma jovem de 25 anos, e depois do “pobre” senhor passar todos os seus bens para a mulher, ele acidentalmente morre. Coitado. A mulher chamava-se Anne Carter, e morava numa mansão em Lãs Vegas (a cidade do pecado). O nome do falecido não foi divulgado. Essa informação prova como as pessoas são vulneráveis diante de algo “bonito”. As mulheres normalmente por dinheiro, e os homens por um par de pernas, seios, bunda... Todas as pessoas são fracas por alguma coisa. _Que foi Lucas? Aconteceu alguma coisa?_ minha irmã perguntou _Você esta com um uma cara esquisita. _Nada. Estava apenas pensando. Já esta pronta? Temos que ir logo para o serviço ou vamos chegar atrasados para a reunião de hoje. _Já estou pronta. Afinal, essa reunião é para decidirmos o que mesmo? _Para ser sincero, eu não tenho idéia. A única coisa que falaram é que teria uma reunião ás nove da manhã. Ainda não sei o que eles querem comigo, eu não tomo nenhuma decisão na empresa, sou apenas um contador. _E eu então?! Eu sou uma estagiaria. Quase não tenho função, sirvo de tapa buraco, quebra galho... Sou apenas para isto. Vamos logo, estou achando que vem noticia ruim por aí. _Acha que seremos demitidos?_ela não respondeu, ficou calada enquanto pegava sua bolsa e abria a porta. Eu a entendia, caso fossemos demitidos, teríamos que dar adeus ao nosso carro, ao nosso apartamento novo, a faculdade que ela estava fazendo. Teríamos que desistir de tudo o que construímos. Isso era demais para ela. Saímos de casa sem dizer uma palavra. No geral, não conversávamos muito. Sempre fomos bem calados, principalmente um com o outro. Mas naquele dia não queríamos realmente conversar, estávamos preocupados demais para falarmos alguma coisa. Comecei a pensar em outros empregos que eu poderia procurar; quais os gastos que eu deveria cortar; pensei em formas de podermos nos manter caso fossemos demitidos. Não tive muito sucesso. Nós não gastávamos muito para ter o que cortar; não havia muitos empregos disponíveis, principalmente na minha área de trabalho: números. Eu poderia ser professor, mas com o salário que recebem, eu não conseguiria me sustentar. Eu teria que olhar os classificados. Comecei a lembrar a matéria do jornal que relatava a historia do “pobre” milionário. Aquele nome não me era estranho: Anne Carter... Esse nome me era muito familiar... _Você já ouviu falar de alguma Anne Carter? _Se eu não estiver enganada, é uma das criadoras da ‘Sciensce Accounting’. Por quê? _O que? Ela é uma das criadoras da empresa onde trabalhamos? Tem certeza disso? Como eu não sei sobre isto? _Você nunca se interessa pelos assuntos chatos e desnecessários da empresa. _Você se interessa? _Não. Mas depois que eu comecei a trabalhar na mesma sala daquela estagiaria chata que eu nunca lembro o nome, comecei á saber até os pequenos detalhes da empresa e da vida dos funcionários. _Quais são os outros criadores da empresa? _Michele, Karen, Albert, Samira, Dennis Luís, Miranda, Rodrigo, Helena, Yuan Li, Michael e Milena. _E Anne Carter. Hoje eu li uma matéria sobre ela. _Sobre o milionário? _É... Ela é bem esperta, não acha? _Digamos que ela sabe escolher bem os seus namorados. Este a deixou mais rica ainda. Acho que precisarei de um homem idiota e rico assim. _Acha que isso será realmente necessário? _Bom... Segundo o seu forte pessimismo< nós seremos demitidos hoje na reunião. Então eu preciso pensar em muitas possibilidades para conseguir dinheiro. _Existem muitas esquinas em São Paulo. Você pode começar a visitá-las. _Idiota. Estou pensando em muitas possibilidades, menos essa. Que horror! _Estava brincando com você. Ainda não sei no que irei fazer quando ficarmos desempregados. Pensei em na profissão de professor, mas seria pedir para passar fome. O salário é muito baixo. Sem contar que os pagamentos sempre atrasam. Essa não seria uma boa escolha. _É verdade._Bianca ficou em silencio durante alguns minutos. Parecia estar pensando em algo muito importante. Eu a deixei com os seus pensamentos. Estava ansioso demais para puxar assunto. Na verdade, eu queria era estar em casa. Não indo para uma reunião aonde provavelmente eu iria me ferrar legal. Saco! Ficamos em silêncio até chegarmos à empresa. Não foi algo desagradável, sempre fomos bem calados um com o outro. Nós nos entendíamos assim. Eu não a perturbava, nem ela á mim. Liguei o rádio; estava tocando uma música antiga: THE BEATLES eu acho. Uma música boa, relaxante... Mesmo assim eu não conseguia me sentir bem, todas as partes do meu corpo estavam me avisando que não era para eu estar indo para esta reunião. Era bem mais que apenas um mau pressentimento. Era como se algo realmente assustador e medonho estivesse prestes a acontecer. Eu não estava bem. Meu instinto dizia para eu manobrar o carro ali mesmo e ir embora. Eu deveria ter feito isso. Mas não fiz. Vocês não sabem como me arrependo de não ter ido embora naquele momento. Minha vida não teria se tornado na loucura que em que estou vivendo agora. Quando chegamos à empresa, fomos direto para a sala de reuniões. Dentro da sala estavam dois homens e uma mulher. Eu não os conhecia, mas pude notar que não eram do Brasil: eram certinhos demais, usavam roupas que não eram muito apropriadas para o clima. Dos homens, um era chinês. Não era baixo e nem alto, e tinha traços de chinês. O que dizer? Ele era chinês, não há o que dizer. A mulher deveria ter a altura de Bianca, 1metro e 68centimetros de altura. Talvez um pouco mais baixa. Era magra, branca com os cabelos ondulados e os olhos castanhos. Muito linda. Tinha um ar de superioridade, como se naquele ambiente ela fosse a pessoa mais esperta e linda. As bonitas são sempre metidas. O outro homem era muito alto. Mais alto que eu, que tenho 1 metro e 95 cm de altura. Era do tipo muito forte, que vivia na academia ou numa loja de bombas para fortalecer e aumentar os músculos dos cavalos. Era moreno, com o cabelo liso, curto e preto. Ele nem me olhou, ficou encarando Bianca como se ela fosse um bife suculento e macio. _ Bom dia senhor Lucas e senhorita Bianca _o chinês nos cumprimentou calmamente _ Como estão? _Bem... _Bianca o respondeu _ Não é necessário toda essa formalidade conosco. Quem são vocês? Estamos aqui devido a uma reunião... Espere... Como você sabe nossos nomes? _ Nós... _ a mulher começou a falar_ Nós também estamos aqui devido à reunião. Nós a marcamos porque precisávamos nos comunicar com vocês dois sobre um assunto que nos interessa muito. _ela me olhou antes de continuar _ Meu nome é Miranda, estes são Yuan Li _ acenou para o chinês _ e Albert _ olhou para o cara alto. _Tudo bem... _ comecei _Qual é o motivo desta reunião tão urgente? O que os senhores e a senhora quer? No que podemos ser uteis? _ Você é direto, gosto disso _Miranda falou_ Eu também serei bem direta. Sentem-se para que possamos conversar melhor. _Todos se sentaram inclusive eu_ bom... Nós somos os criadores da “Sciensce Accouting”, e estamos aqui para lhes fazer uma proposta. Na verdade não será bem uma proposta, porque vocês não poderão fazer escolha alguma. _A senhora não esta sendo direta... _Por favor, não me interrompa. Eu chegarei logo na questão. E por favor, não me chame de senhora, eu sou apenas alguns anos a mais que você. A “proposta” é na verdade um desejo nosso. Meu e de todos os outros que criaram a empresa. Fizemos uma pesquisa sobre todos os funcionários de todas as empresas que temos espalhadas pelo mundo. Dessas pesquisas, descobrimos que vocês dois são os únicos irmãos gêmeos que tem o sangue AB UNIVERSAL. _E... _ Já estou chegando La Lucas, acalme-se. Bom, vocês foram escolhidos para participarem de uma experiência cientifica. Como cobaias. Olhei para eles me perguntando o que eles estavam realmente pensando. Bianca começou a rir. Ela sempre foi descontrolada em situações bizarras como essas. Todos olharam para ela, e mesmo assim Bianca não parava de rir freneticamente. Tive que lhe dar um beliscão para que ela parasse. Mas na verdade, eu não a culpo por rir. Eu estava com muita vontade de cair na gargalhada ali mesmo, mas me contive. Bianca conseguiu parar de rir e Miranda continuou: _Eu sei, é difícil de acreditar. Mas isso é verdade, vocês irão participar dessa experiência. Não irei mentir para vocês como fizeram conosco. Estou sendo direta para que vocês possam entender bem. Fui clara? Alguém tem alguma duvida? _ Na verdade eu tenho muitas duvidas._ Bianca começou _ Primeiro: por que vocês acham que nós iremos concordar com essa babaquice? Segundo: por que nós dois? Existem milhares de pessoas no mundo que poderiam ser candidatos á cobaias, Por que logo nós? _ Eles não estão acreditando em nós _ Yuan Li falou para Miranda como se eles estivessem explicando algo simples a uma criança com deficiência mental. _ Isto é sério, não iríamos sair de Las Vegas para brincar com vocês. Nós os escolhemos não apenas pelo fato de vocês terem este tipo sanguíneo. Vocês dois são sozinhos, sem família, não tem um número muito grande de amigos. Isso tudo para nós e perfeito. _ Muito obrigada por dizer que ninguém se importa conosco. Isso foi realmente muito bom. _ Estamos falando apenas a verdade. _ OK senhor Yuan Li, segundo vocês nós dois não temos “uma vida social”. Mas nem um fracassado se entrega de bandeja para os tubarões. _ Isso é verdade. Mas vocês não terão escolha. _ Isso tudo é ridículo! Ou isso é uma pegadinha idiota ou vocês enlouqueceram! _ Bianca falou _ Vamos fingir que não aconteceu nada aqui, que vocês não enlouqueceram e nem fizeram essa proposta idiota para nós, tudo bem?! _ Me desculpe _ Albert falou _ Isso não será possível. Vocês irão para Las Vegas hoje ainda. _ Já chega! _ gritei_ Isso é realmente muito ridículo. Eu não sou obrigado a ouvir babaquices a essa hora da manha. Bianca e eu saímos da sala e seguimos em direção a saída da empresa. _ O que você acha? _ Não sei... _ pensei um pouco _ Acho que preciso de um café para assimilar melhor tudo o que aconteceu dentro daquela sala. Tudo esta confuso, muito louco. _ Acho que vamos precisar de muito mais que um café. Eles são idiotas. Parecia que estávamos num desses seriados americanos. _ Eu senti a mesma coisa _ saímos da empresa e fomos direto para a cafeteria. Enquanto estávamos tomando nosso café, percebi que havia uma mulher sentada um pouco mais afastada da nossa mesa. De inicio, achei que eu a conhecia de algum lugar, mas não sabia exatamente de onde. Ela nos encarava muito, sem desviar os olhos em momento algum. Eu tentava não olhá-la, mas era impossível: ela ficava me observando minuciosamente, aquilo me irritava muito, me dava vontade de chegar até ela e lhe perguntar se eu estava com algum defeito no rosto. Ela era bonita (ainda é muito gata), mais baixa que Bianca com certeza era, deveria ter 1metro e 60 cm talvez; magra com feições miúdas. Era uma mulher pequena, com belas pernas sem duvida. Cabelo curto, preto com mechas roxas. Todas as pessoas ficavam olhando para ela se perguntando se ela era louca. Ela tinha um estilo punk, meio adolescente rebelde. Muito linda. Ela parou de me encarar e olhou para o lado como se alguém a chamasse. Depois, levantou, pagou a conta e saiu sem olhar para mim novamente. Talvez ela nem estivesse me encarando talvez eu estivesse apenas paranóico por causa da reunião maluca. _ Vamos embora. Eu estou querendo dormir de novo. _ E a empresa Lucas? Temos que voltar para o trabalho. _ Sinceramente a ultima coisa que eu quero e pretendo fazer hoje é voltar para aquela empresa onde só tem malucos idiotas. Quero ir embora. Vamos? _ Vamos então. Paguei a conta e depois fomos em direção ao estacionamento onde estava meu carro. Bom, onde estava, porque quando chegamos lá, meu carro havia sido substituído por um entulho de ferro retorcido e quebrado. Parecia que muitos elefantes haviam pisoteado meu carro. Aquilo me deu vontade de chorar. Eu só tinha pagado duas prestações dele, e agora... Ele estava destruído. Havia um bilhete em cima da monte de ferro retorcido que dizia: “Descubra quem é?“ _ Foram os idiotas! _ Bianca gritou _ Eles... Eles são psicopatas. Precisamos chamar a polícia. _ E falar o quê? Que os criadores e donos da empresa de contabilidade “Science Accouting” destruíram nosso carro porque nós não acreditamos na historia maluca que eles nos contaram?! Acho que nós dois acabaríamos presos. _ E nós não vamos fazer nada? _ Eu vou para casa. Agora. _ Você é muito frouxo e medroso. Seguimos andando em silencio. Não havia o que falar. Eu estava com vontade de chorar por causa do estado em que encontrei meu carro. O pior é que eu não podia fazer nada, ninguém acreditaria na minha historia. Entramos num ônibus. Por sorte, estava praticamente vazio. Bianca se sentou ao lado de um cara que usava um blusão de frio preto com capuz que cobria quase o rosto todo. Eu me sentei ao lado de uma ruiva muito gata. O lado bom daquele dia louco é que eu estava vendo muitas mulheres lindas. Mas meu pensamento ainda estava no meu carro destruído no estacionamento. _ Gosta de jogos senhor Hubermann? _ a ruiva me perguntou. _ O que? _ Gosta de jogos? Porque nós iremos brincar um pouco de “O MESTRE MANDOU.” Se você me obedecer, ganha um premio... _ Quem é você? _ Sou o que você quiser. Meu nome é Helena Rocon. _ Você esta com eles... Aquilo não pode ser verdade, é loucura demais... _ Tentamos usar um método menos violento e vocês não aceitaram. Tivemos que chamar a atenção de outra forma. Tudo foi pensado, porque nós sabemos tudo o que vocês iriam fazer. É melhor não encher nosso saco mais e obedecer direitinho, por que caso aconteça mais algum imprevisto, quem irá se ferrar será a Bianca. Fui bem clara ou você quer que eu desenhe?! _ Tudo bem, apenas me responda algumas coisas ok?! _ Claro! O que você quer perguntar? _ O que vocês querem fazer comigo e com Bianca, afinal? _ Acho que Miranda já lhe explicou isto. Nós iremos para Las Vegas, onde vocês serão nossos hospedes até o dia da aplicação da formula. _ Las Vegas... Para a mansão de Anne Carter. _ Helena assentiu _ Por que vocês querem tanto realizar este experimento? Qual o objetivo disso tudo? _ Vingança! _ ela sorriu _ Lembra da morena que você viu na cafeteria? _ eu fiz que sim ainda confuso _ Ela é Milena Sokol, acabou de sair da sua casa com roupas e documentos. Acho que tudo o que ela pegou será suficiente. _ Como ela entrou lá sem...? _ela me olhou sorrindo _ Minha chave sumiu semana passada... Vocês a roubaram. _ Não. Nós apenas pegamos a chave emprestada. E vocês não precisaram mais dela. _ Ela deu de ombros. _ Milena já chegou ao aeroporto, Helena? _ perguntou o motorista. _ Não, mas chegará lá antes de nós, não se preocupe. Yuan, Albert e Miranda já estão lá. _ ela me olhou novamente _ o motorista ali chama - se Michael Stryker, o de capuz ao lado da sua irmã é o Dennis Luís e o grandão ali sozinho é o Rodrigo Lins. _ Acha realmente necessário toda esta apresentação? _ ela me olhou calmamente e não disse nada. Apesar da naturalidade com que ela agia, eu tinha a sensação que ela me escondia algo. Ela começou a rir. _ Não tenho nada para esconder de você. _ Como você fez isso? _Nós não somos como resto da humanidade. Temos poderes, dons, maldições... Escolha o nome que quiser. O Rodrigo levita as coisas, Dennis hipnotiza as pessoas, Michael é super gênio. E eu viajo pelo tempo. _ Viaja pelo tempo? Vai para o passado e para o futuro? É isso? _ Sim. Legal não é?! _ Deve ser. Sei lá... Saber tudo o que está prestes a acontecer, poder modificar as coisas... Isso deve ser muito interessante. _ É difícil modificar o futuro, ele sempre muda muito. Não é algo fácil. Mudanças na maioria das vezes são complicadas. Olhei para Bianca. Ela parecia bem calma, como se não soubesse de nada do que estava acontecendo ali. Isso me deixou bem, mas aquilo era muito estranho, até mesmo para ela. _ Ela sabe de tudo, não fique tão preocupado._ Helena falou. _ Obrigado por ler minha mente novamente _ falei sarcasticamente.