História ETAPA Questão 1 Observe e compare as imagens seguintes. Egito antigo: O Escriba Sentado. século XXVI a.C. Grécia clássica. Míron: Discóbolo. cerca de 450 a.C. a) Cite uma diferença na forma de representação do corpo humano numa e noutra escultura. b) Explique a importância da escrita para o Estado egípcio na época dos faraós e a dos jogos olímpicos para as cidades gregas do século VIII a.C. ao V a.C. Resposta a) Podemos destacar as seguintes diferenças entre ambas as esculturas: l o escriba encontra-se sentado; o atleta em pé, em posição de movimento; l é discernível na escultura grega a preocupação com o movimento e com a idealização da forma física do atleta, que não se encontra no escriba; l no primeiro caso registra-se o culto à escrita e no segundo, o culto ao esporte; l no caso particular d'O Escriba Sentado, escultura da fase áurea do Antigo Império no Egito (séculos XXX-XXIII a.C.), notam-se não apenas a postura estática, mas também hierática, ou seja, dotada de formas rígidas e majestosas, conferindo certa dignidade intraduzível ao personagem e reconhecendo seu destacado papel entre os egípcios. Quando comparada à escultura grega, a egípcia possui uma expressão vazia, desprovida de sentido, enquanto a grega expressa esforço e tensão do atleta. l para o Discóbolo, famosa escultura da era clássica na Grécia (séculos V-IV a.C.), é importante destacar ainda o recurso a um sistema de pesos e contrapesos que garante à escultura um delicado – porém extraordinário – sentido de equilíbrio. b) Na época dos faraós, a escrita era utilizada, de maneira geral, com a finalidade de registrar os eventos econômicos, sociais, culturais e religiosos ligados à gestão de um Estado complexo e populoso. A escrita era exercida por um grupo social específico, os escribas, ligados ao governo; poucos tinham acesso a uma cultura literária. Já, por sua vez, com relação à importância dos Jogos Olímpicos para as cidades-estado gregas, pode-se destacar, em primeiro lugar, o aspecto religioso dos mesmos, os quais eram feitos em homenagem aos deuses gregos (em especial a Zeus). Além disso, evidencia-se nos jogos uma das características integradoras, do ponto de vista cultural, dos povos gregos, apesar das suas respectivas divisões políticas concretizadas com a formação de diversas "pólis". Por último, cabe citar também o fato de os Jogos Olímpicos, tanto no que concerne à forma, quanto à ação, serem a realização dos ideais de homem do mundo grego. Questão 2 Pregada por Urbano II, a primeira cruzada... [estendeu-se de 1096 a 1099]. O sucesso dos pregadores faz dela uma cruzada popular (aventureiros, peregrinos). É um choque militar, político, mas também cultural e mental, pois a cruzada dilata o espaço e o tempo. (P. Tétart, Pequena história dos historiadores.) O que foi escrito sobre a primeira cruzada aplica-se, de maneira geral, às demais. a) Qual era a finalidade imediata das cruzadas? b) Além das alterações culturais e mentais, as cruzadas provocaram modificações de ordem comercial no continente europeu. Discorra sobre essas últimas. Resposta a) A finalidade imediata das Cruzadas era libertar os chamados lugares santos do domínio muçulmano. b) As Cruzadas tiveram um papel importante para dinamizar as relações comerciais entre o Oriente Próximo e o Ocidente Europeu e se inserem em VUNESP ETAPA história 2 um processo mais amplo que ficou conhecido como Renascimento Comercial, no qual as atividades mercantis passam a ter um papel cada vez mais importante no conjunto das atividades econômicas. O fluxo dos ricos produtos do Oriente, das especiarias (cravo, canela, pimenta, noz-moscada) aos artigos de luxo (porcelanas, tapetes, jóias, tecidos finos), cobiçados desde a Antiguidade, pôde ser retomado, dinamizando centros importantes no Norte da Itália (Veneza, Gênova) e da Alemanha (Lübeck, Bremen), além dos Países Baixos (Antuérpia, Bruges). Esse comércio externo foi também responsável pela retomada do próprio comércio interno europeu (vinhos, azeite, pescado, madeira, tecidos de lã, metais). Questão 3 A ocupação de regiões da África e da Ásia, levada a efeito por potências européias no decorrer do século XIX, não se fez pacificamente, a despeito da supremacia bélica dos conquistadores. a) Cite dois conflitos nas áreas dominadas, decorrentes do processo mencionado. b) Aponte e comente um motivo que justifique o interesse das potências européias nessas áreas. Resposta a) Podemos citar a conquista da Argélia na primeira metade do século XIX, realizada pelos franceses; a chamada Guerra dos Bôeres (1898-1902), na África do Sul; a Guerra dos Boxers (1900) e a Guerra do Ópio (1839-1842) na China; e a Guerra dos Sipaios (1857-1858) na Índia, contra os ingleses. Para além desses conflitos deve-se destacar os movimentos de resistência ao domínio europeu em outras regiões da África, como, por exemplo, na Etiópia. b) A partir da segunda metade do século XIX, a Revolução Industrial deixa de ser um fenômeno exclusivamente britânico e se estabelece uma acirrada concorrência entre as potências industriais por mercados de consumo, fontes de matérias-primas e áreas onde pudessem investir excedentes de capitais. Nesse contexto, as áreas periféricas às potências industriais passam a ser objeto de disputa, dando origem ao estabelecimento de áreas de exploração, entrepostos comerciais e colônias que deveriam preencher as necessidades econômicas daquelas potências. Para além desses, havia interesses políticos e estratégicos, como por exemplo, o controle de rotas marítimas e criação de bases militares, entre outros. Questão 4 ... a ajuda prestada a Franco pela Alemanha e pela Itália (abrangendo tanto mercadorias estratégicas como armas) foi mais regular e substancial que a concedida ao governo pela Rússia ou pelo comércio internacional de armamentos [...] A simpatia generalizada que a causa governista desfrutava nas esquerdas da Europa e da América do Norte, no entanto, contrabalançou em parte essa ajuda. (Hugh Thomas, A Guerra Civil Espanhola – 1936-1939.) Baseando-se no texto, responda. a) Quais regimes políticos estavam instalados na Alemanha e na Itália no momento da Guerra Civil? b) Explique como a situação política internacional favorecia os militares liderados por Franco, em prejuízo do governo constitucional de Madri. Resposta a) Na Itália era o fascismo, desde 1922, e na Alemanha era o nazismo, desde 1933. b) A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) desenrolou-se em uma conjuntura política internacional bastante tensa que antecedeu a eclosão da Segunda Guerra Mundial. As agressões nazistas, particularmente na Europa Central, e as agressões do Império do Japão no Extremo Oriente, ocupavam o primeiro plano das atenções mundiais, o que de alguma forma deixou espaço aberto para a vitória de Franco na Espanha e mesmo para a consolidação do salazarismo em Portugal. Deve-se levar em consideração também a "política de apaziguamento" inglesa, a partir da qual não houve intervenção a favor do governo republicano de Madri, cujo caráter de esquerda afastava as potências liberais (Inglaterra, França e EUA), temerosas de uma aproximação da Espanha em relação à URSS. Questão 5 Nós, americanos, somos um povo peculiar, escolhido – o Israel de nosso tempo; carregamos a arca das liberdades do mundo (...). Deus predestinou, e a humanidade espera grandes feitos da nossa raça; e grandes coisas senti- VUNESP ETAPA história 3 mos em nossa alma. O resto das nações precisa, brevemente, estar na nossa retaguarda. Somos os pioneiros do mundo; a guarda avançada mandada através da terra virgem de coisas não experimentadas, para abrir no Novo Mundo um caminho que é nosso ... (Herman Melville. White Jacket, 1850.) Considerando o trecho do escritor norte-americano, responda. a) Que doutrina esse texto expressa? b) Tendo em vista o cenário internacional contemporâneo e a atuação dos EUA, é possível estabelecer alguma relação entre a atual política externa norte-americana e as idéias expressas no texto? Justifique sua resposta. Resposta a) O texto não expressa uma única doutrina, pois é passível de mais de uma interpretação. A primeira é que o texto é uma declaração tipicamente nacionalista, doutrina muito expressiva no século XIX. Para além do caráter nacionalista, há no texto um componente imperialista sobre o sentido de uma missão que os Estados Unidos têm em relação ao resto do mundo. No plano interno, o texto também pode servir como um reforço à chamada Doutrina do Destino Manifesto, elaborada naquela época, a qual afirmava que era destino dos Estados Unidos se estenderem do Atlântico ao Pacífico, o que supunha a conquista de territórios sob outras soberanias no Oeste. b) De uma certa forma, é possível estabelecer uma relação, na medida em que o texto exalta o sentido de missão dos Estados Unidos no mundo – "carregamos a arca das liberdades do mundo (...) o resto das nações precisa (...) estar na nossa retaguarda" – que presentemente é também veiculado pela administração republicana e acompanhado com fatos, para além dos discursos, como, por exemplo, a intervenção no Iraque à revelia da Organização das Nações Unidas. Questão 6 A cana-de-açúcar começou a ser cultivada igualmente em São Vicente e em Pernambuco, estendendo-se depois à Bahia e ao Maranhão a sua cultura, que onde logrou êxito – medíocre como em São Vicente ou máximo como em Pernambuco, no Recôncavo e no Maranhão – trouxe em conseqüência uma sociedade e um gênero de vida de tendências mais ou menos aristocráticas e escravocratas. (Gilberto Freyre, Casa-Grande e Senzala.) Tendo por base as afirmações do autor, a) cite um motivo do maior sucesso da exploração da cana-de-açúcar em Pernambuco do que em São Vicente. b) Explique por que o autor definiu “o gênero de vida” da sociedade constituída pela cultura da cana-de-açúcar como apresentando “tendências mais ou menos aristocráticas”. Resposta a) Os autores que tratam desta questão chamam a atenção para os condicionamentos naturais que favoreceram o litoral nordestino, quando comparado ao litoral vicentino. O litoral vicentino era estreito e alagadiço. O litoral nordestino era extenso e beneficiado pelo solo de massapé, próprio para a cultura da cana-de-açúcar. Deve-se destacar também o fato de que a capitania de São Vicente era muito mais distante da Metrópole do que a de Pernambuco, tornando os fretes marítimos caros. Assim, em pouco tempo, a produção açucareira nordestina superou com vantagem a produção vicentina. b) Tratava-se de uma atividade de produção em larga escala voltada para o mercado externo. Os investimentos iniciais eram altos e exigiam grande concentração de capital. A forma de organização da atividade econômica em grandes unidades de produção impunha limites à distribuição da renda, dando origem a uma elite proprietária de muitos escravos e de grandes extensões de terra, daí o caráter "aristocrático" na sociedade gerada pela economia açucareira. Questão 7 Imprensa, universidades, fábricas – nada disso nos convinha, na opinião do colonizador. Temiam os portugueses deixar entrar aqui essas novidades e verem, por influência delas, escapar-lhes das mãos a galinha dos ovos de ouro que era para eles o Brasil. (Isabel Lustosa, O nascimento da imprensa brasileira.) Com base nas análises da autora, responda. a) Que fato alterou a política metropolitana em relação à colônia brasileira na primeira década do século XIX? b) Por que a imprensa, as universidades e as fábricas eram tidas pelos colonizadores como uma ameaça? Resposta a) Foi a transferência da família real para o Brasil (1808-1821). O Rio de Janeiro passava a ser a VUNESP história 4 sede do Império Colonial português. Tomam-se uma série de medidas, das quais uma das mais importantes foi a abertura dos portos às nações amigas (1808), pondo fim ao sistema de monopólios. É também criada a Imprensa Régia e revogado o Alvará de Dona Maria I, baixado em 1785, que até então proibia a existência de manufaturas no Brasil. b) A Colônia fora concebida com a finalidade de complementar a economia metropolitana como mercado consumidor forçado e mercado fornecedor forçado de produtos para a Metrópole. Dessa forma, para tal finalidade era dispensável a existência de imprensa, universidades ou fábricas. As autoridades metropolitanas consideravam a imprensa e a universidade uma ameaça porque poderiam servir de veículos de propagação de idéias que condenavam a existência de colônias. Já quanto às fábricas, consideravam que uma produção de manufaturas na Colônia poderia concorrer com a produção de manufaturas na Metrópole (já em si bastante frágil). Questão 8 A respeito da passagem da Monarquia para a República no Brasil, a historiadora Emília Viotti da Costa afirmou: Duas linhas de interpretação surgiram já nos primeiros anos: a dos vencedores e a dos vencidos, a dos republicanos e a dos monarquistas, aos quais vieram juntar-se com o tempo alguns republicanos que, desiludidos com a experiência, aumentaram o rol dos descontentes... a) Como os monarquistas entenderam a deposição de Pedro II e a instalação da República no Brasil? b) Indique um motivo que explique a desilusão de alguns republicanos com o regime instituído. Resposta a) Os monarquistas entenderam a deposição de Pedro II e a instalação da República como um golpe de Estado no qual os militares tiveram um papel decisivo. b) Entre os republicanos podemos identificar uma corrente que se expressava, de maneira geral, por intermédio do Partido Republicano, que via na proposta de um novo regime a possibilidade de realizar reformas há muito solicitadas e que não eram atendidas, como a abolição da vitaliciedade do Senado e a adoção de um modelo de descentralização político-administrativa para a Monarquia. ETAPA Portanto, a República significava a realização de reformas políticas sem grandes transformações estruturais com a finalidade de atender ao interesse de elites emergentes, especialmente aquela ligada à cafeicultura, que não se sentia devidamente representada no regime monárquico e este não lhe oferecia melhores perspectivas. Outra corrente era a dos membros da oficialidade jovem do exército, influenciados pelos ideais políticos do positivismo. Para eles, a monarquia era identificada ao atraso e a república ao progresso. Diferentemente da corrente dos chamados "republicanos históricos", associados ao Partido Republicano, os jovens militares não se sentiam comprometidos com o regime representativo, democrático. Muitos entre eles eram defensores do que chamavam de "ditadura republicana", um regime político autoritário, dirigido por uma elite com uma formação intelectual suficientemente poderosa para imprimir as mudanças que consideravam necessárias para o país. Para essa corrente, era muito cara a proposta da separação da Igreja e do Estado, por exemplo. Finalmente, pode-se distinguir uma outra corrente, ideologicamente heterogênea, de uma certa forma inspirada nas revoluções sociais do século XIX que concebiam a república como um regime fundado na mais ampla participação popular, comprometido com as aspirações populares, como era, por exemplo, o grupo daqueles republicanos associados a Silva Jardim. Assim, de uma certa forma, tanto os militares inspirados no positivismo, como os republicanos que sonhavam com uma democracia participativa, viram frustrado o seu projeto. Questão 9 As grandes noites do teatro Amazonas chegavam ao fim. [...] Manaus despediu-se definitivamente do antigo esplendor no carnaval de 1915. No mesmo ano, o preço da borracha caiu verticalmente. Em 1916 já não houve carnaval. [...]. [Manaus e Belém] começaram a entrar num marasmo típico dos centros urbanos que viveram um luxo artificial. (Márcio Souza, A Belle-Époque amazônica chega ao fim.) Considerando o texto, responda. a) Por que “o preço da borracha caiu verticalmente” a partir de 1915? b) Por que a crise da economia da borracha produziu estagnação econômica na região amazônica, enquanto no sul do país a crise da economia cafeeira não levou a semelhante marasmo econômico? Apresente uma razão desta diferença. VUNESP ETAPA história 5 Resposta a) Devido à concorrência da produção da borracha no Sudeste Asiático e, posteriormente, ao desenvolvimento da produção da borracha sintética. b) A economia da borracha, florescente na região Norte do país entre o final do século XIX e início do XX, gerou um enorme excedente econômico, cuja utilização não-produtiva foi uma das suas marcas características (vide a própria suntuosidade do Teatro de Manaus citada no texto). Já na economia cafeeira paulista evidenciou-se a utilização de grande parte dos lucros dos fazendeiros do café, seja de forma direta (isto é, os próprios fazendeiros como investidores), ou indireta (bancos, casas comerciais, etc.) em atividades industriais diversas (especialmente bens de consumo não duráveis), bem como em infra-estrutura (ferrovias, usinas elétricas, etc.). Deve-se salientar também que o ciclo da borracha foi mais curto do que o cafeeiro, fato este agravante da estagnação econômica no Norte do país após 1915. Além disso, faz-se fundamental citar o caráter tipicamente extrativista da cultura da borracha – tal como foi, durante o Brasil Colônia, os casos do pau-brasil e da mineração –, o que não demandava inversões consideráveis em meios de produção para a obtenção do bem citado; já o caso do café foi diferente, pois a sua criação dependia de uma mínima estrutura "industrial" para cultivá-lo e vendê-lo no mercado (beneficiamento do café, sacaria, etc.), bem como de serviços em geral. Por último, no plano institucional, deve-se ressaltar que o nível de renda dos cafeicultores foi mantido graças à política de valorização do café. Os empresários da borracha não contaram com semelhantes incentivos. Questão 10 No Brasil, nos últimos anos, têm ocorrido vários movimentos sociais no campo. O gráfico fornece dados recentes sobre esses movimentos. (Ministério do Desenvolvimento Agrário. O Estado de S.Paulo, 28.05.2004.) Considerando o atual momento dessa mobilização social, responda. a) Qual é o objetivo principal do MST (Movimento dos Sem Terra) e de outros movimentos de luta no campo? b) Como explicar os números apresentados pelo gráfico? Resposta a) Tais movimentos propõem a realização de uma reforma agrária. b) O número de oito invasões no início do ano deve-se a uma trégua dada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ao governo Lula. A intensificação das ocupações no período pode ser explicada pela política ambígua do Ministério do Desenvolvimento Agrário, às frustrações e impaciência em relação ao ritmo da reforma agrária, que foi propagandeada pelo Partido dos Trabalhadores na oposição como dependente apenas da vontade política. Quando assumiram o governo, provavelmente se deram conta de que determinadas decisões não dependem somente de um "ato de vontade".