NEOLOGIA LEXICAL: ESTUDO DOS SUFIXOS VERBAIS –AR E –IZAR NA FORMAÇÃO DE NOVOS LÉXICOS DO CAMPO SEMÂNTICO DA ALIMENTAÇÃO NO PORTUGUÊS FALADO EM PONTA PORÃ/BRASIL – PEDRO JUAN CABALLERO/PARAGUAI Raquel Pereira Maciel PG/UFMS Justificativa A língua é muito importante para o homem. É ela que define a interação com o exterior e com os demais indivíduos do seu meio social. Por ser um fato social, como concebe Saussure (1989), as relações entre língua e sociedade tem sido motivo de muitos estudos, pois as ações humanas estão inteiramente ligadas às estruturas da língua e à dinâmica da linguagem no processo da comunicação linguística (ELIA, 1987). E ao tomar por base os estudos sociolinguísticos podemos afirmar que as diferentes formas de falar de uma determinada região estão inteiramente ligadas a fatores históricos, linguísticos e sociais como gênero, idade, profissão, escolaridade do falante (TARALLO, 2001), o que nos leva a inferir que estes fatores influenciam diretamente na língua e a maneira característica do falar de cada indivíduo. O léxico de uma língua vive em constantes mudanças (CARVALHO, 1989). A mesma autora aborda esse assunto explicitando que o léxico vive em expansão devido à interação e a incorporação das experiências pessoais e sociais da comunidade que a fala. Desse modo, podemos dizer que os falantes de uma língua estão em constante aprendizado, conceituando e atribuindo significados as novas palavras, que surgem para inteirar espaço em branco de seu sistema léxico gramatical (ALBERTI, 2005). Para Alves, 2004 a neologia na língua portuguesa vêm recebendo influências de unidades lexicais de outros sistemas lingüísticos, como da língua Tupi, Guarani e Espanhol; que é a realidade da região de fronteira em questão. Por esse motivo, que realizar uma pesquisa no âmbito sociolingüístico da neologia lexical, mais especificamente os empréstimos lingüísticos e a formação lexical por sufixos verbais, -ar e -izar; se faz importante, para sabermos que tipo de influências e mudanças está ocorrendo no sistema lingüístico da região em questão. Pois Alves assim reporta ao estudo da neologia lexical: O estudo da neologia lexical de uma língua permite-nos analisar a evolução da sociedade que dela se utiliza, pois as transformações sociais e culturais refletem-se nitidamente no acervo léxico dessa comunidade. Por isso, o estudo sistemático da neologia no português brasileiro é, sob a perspectiva lingüística, a análise dos processos de formação de novas palavras; do ponto de vista extralingüístico, constitui o estudo da evolução da sociedade brasileira. (ALVES, 1994, p. 87 apud ALBERTI, 2005, p. 13). No entanto, a experiência vivida no lugar proposto para o estudo tem instigado em aprofundar e pesquisar as questões da língua, uma vez que o encantamento por um tema é o motivador para querer conhecer intrinsecamente a cultura e as representações do pensamento dos costumes locais. E esses conceitos são percebidos na língua. Pois Alves, 2004 afirma que os empréstimos lingüísticos se dão por meio do contato intimo entre a comunidade de fala portuguesa e outros povos; situação nitidamente observada na região de fronteira entre as cidades Ponta Porã/Brasil e Pedro Juan Caballero/Paraguai. Por conseguinte, estudar os neologismos do campo semântico da alimentação na fala fronteiriça; sufixos verbais –ar e –izar, de origem Guarani, será de grande valia aos estudos culturais e sobretudo, lingüísticos. Pois a riqueza de expressões existentes na região nos leva a querer imortalizar, em forma de pesquisa, a dinâmica dessas linguagens peculiares, que caracterizam a identidade do povo que ali habita. Objetivos Específicos: – Pretende-se estudar os neologismos por empréstimo, por meio da derivação sufixal. Mais especificamente nos sufixos –ar e –izar do campo da alimentação de origem Guarani. Pois são os sufixos que possuem mais freqüência na formação de unidades lexicais neológicas. – Observar e analisar as possíveis variantes lingüísticas ou sociais que podem exercer influências no uso desses sufixos verbais. Pois a região em questão possui três línguas em contato, no qual poderão existir itens lexicais tomados por empréstimos do Guarani, responsáveis por inovações na Língua Portuguesa, que caracterizam a fala da região de fronteira entre Brasil – Paraguai. Pois ao visitar a região, logo se percebe a existência de um linguajar peculiar, diferente de outros lugares fronteiriços. Pois além da proposta de estudo no campo lexical, levaremos em consideração a identidade, que contribuirá em divulgar os costumes e a cultura do povo que habita essa região. Objetivos Gerais: Sabendo que o léxico é a parte da língua mais vulnerável a mudanças e recebe mais influências, sejam interna ou externa ao sistema lingüístico, pretendemos verificar em que aspectos da língua portuguesa (se lexical, morfológico, sintático ou semântico) esses vocábulos se destacam no linguajar local. Além de a pesquisa contribuir para o fortalecimento da linha de pesquisa em que se insere. Metodologia Para a realização desse estudo será adotado o método de pesquisa de campo, com gravação de entrevistas em que o falante será estimulado a falar espontaneamente sobre assuntos referentes ao seu cotidiano (TARALLO, 2001 e LABOV, 1983). Os tópicos de conversação serão selecionados de forma que o falante se sinta o mais à vontade possível para narrar o seu ponto de vista sobre assuntos como infância, brincadeiras de infância, escola (ensino aprendizagem), festas populares, namoro, noivado, casamento e outros assuntos de seu interesse. Serão entrevistados informantes, levando em consideração o gênero, uma vez que “as diferenças mais evidentes entre a fala de homens e mulheres se situam no plano lexical” e, parece natural admitir que, determinadas palavras soam melhor na boca de um homem do que da boca de uma mulher, o que evidencia que homens e mulheres falam de formas distintas (PAIVA, 2004, p. 33-34). A idade do falante também é um fator importante nessa pesquisa e vai variar entre 17 a 25 anos, 26 a 50 anos e falantes com 51 anos em diante, pois é fácil perceber que há diferenças lingüísticas devidas à idade do falante (NARO, 2004). Para Labov (1972) ( apud MONTEIRO, 2000, p. 59) acredita que há diferenças marcantes entre a linguagem de pessoas de mais idades e de adolescentes, basta mencionar que aqueles mantêm certas construções léxicas ou sintáticas que podem parecer estranhas aos falantes mais jovens. O nível de escolaridade dos falantes selecionados para essa pesquisa vai variar entre analfabetos e alfabetizados que tenham cursado até o ensino fundamental, pois segundo VOTRE (2004), o domínio maior ou menor do registro culto padrão da língua depende de muitas variáveis, inclusive do nível de escolaridade do falante que desempenha um papel crítico na configuração geral do domínio da língua e no uso de um determinado vocábulo. Essas entrevistas serão realizadas na residência ou no local de trabalho do falante, pois como visamos a trabalhar a linguagem espontânea, são, justamente, nesses locais em que o falante se sente à vontade para falar de fatos importantes de sua vida, como o tópico “perigo de vida”, por exemplo, que segundo Labov (1983) e Tarallo ( 2001) ao falar sobre fatos corriqueiros do seu dia a dia, o falante deixa o seu lado emocional vir à tona, não se preocupando com a maneira de falar, é, justamente, esse falar espontâneo o objeto de estudo da sociolingüística. Essas entrevistas serão esquematizadas em questionamentos abertos e/ou fechados (se necessários), gravadas em aparelho mp3, armazenadas eletronicamente e transcritas de acordo com as normas do projeto NURC/São Paulo, com adaptações para a linguagem popular. Lembrando que tais entrevistas também farão parte do banco de dados do português falado que ficará à disposição de outros pesquisadores interessados no estudo do português falado. Referências Bibliográficas ALBERTI, Janaina Ramos. Neologia Lexical: Um estudo da fala e da vida de bilíngües português-fala dialetal italiana (RCI- RS). Dissertação de mestrado, Universidade de Caxias do Sul – UCS, 7 de setembro de 2005. ALVES, Ieda Maria. Neologismo Criação lexical. São Paulo: Atica, 2004. CARVALHO, Nelly. Emprestimos linguisticos. Sao Paulo: Atica, 1989. 79. ..... 2.ed. Sao Paulo: Brasiliense, 1991. ELIA, Sílvio. Sociolingüística – uma introdução. Rio de Janeiro LABOV, Willian. Modelos sociolingüísticos. Madrid: Cátedra, 1983. MONTEIRO, José Lemos. Para compreender Labov. Petrópolis – RJ: Vozes, 2000. NARO, Anthony. Idade. In: MOLLICA, Maria Cecília e BRAGA, Maria Luisa (orgs). Introdução à sociolingüística – o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2004. PAIVA, Maria da Conceição. Sexo. In: MOLLICA, 2004. TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingüística. São Paulo: Ática, 2001. VOTRE, Sebastião. Escolaridade. In: MOLLICA, 2004.