FN3 – Reações Nucleares Uma reação nuclear ocorre quando uma partícula interage com um núcleo, produzindo um núcleo residual, geralmente radioativo, e uma partícula emergente. 14 7 N 24He F O11H N 24 F O11p 14 7 18 9 18 9 17 8 17 8 A reação acima representa uma das primeiras experiências, nas quais se observa uma transmutação nuclear (Rutherford em 1919). A reação nuclear descrita acima também pode ser representada da seguinte forma: 14 N , p 17O Nesta reação, um átomo de nitrogênio foi transformado em um átomo de oxigênio. Renato Semmler Reações Nucleares 14 7 N 24He F 18 9 17 8 O11H Nesta equação, os símbolos usados à esquerda representam os reagentes: 4He representa a partícula incidente e o 14N representa o núcleo alvo. O símbolo entre colchetes representa o núcleo instável (altamente instável), formado como resultado da captura de uma partícula alfa pelo núcleo de nitrogênio. Este núcleo instável é chamado de núcleo composto. Os símbolos usados à direita representam os produtos: 1H (o próton emitido) representa a partícula emergente e o 17O representa o núcleo produto. Renato Semmler Reações Nucleares As leis que governam as reações nucleares são: - conservação do número de massa; - conservação da carga; - conservação de energia; - conservação da quantidade de movimento linear e angular. Em 1936, Bohr, estudando as reações nucleares, observou que elas ocorrem em duas etapas: I) Formação de um núcleo composto em um estado altamente excitado. II) Decomposição do núcleo composto, sendo que os produtos da reação independem do modo como o núcleo composto foi formado. Renato Semmler Reações Nucleares Representação de uma reação nuclear: x X Y y reagentes produtos onde x = partícula incidente X = núcleo alvo Y = núcleo produto y = partícula emergente Representação de uma reação nuclear na forma reduzida: X x, y Y Renato Semmler Reações Nucleares antes depois Y y x X Renato Semmler Reações Nucleares Uma reação nuclear pode ser analisada quantitativamente em termos de energias e massas dos núcleos e partículas envolvidas. Consideremos um projétil x incidindo sobre um núcleo alvo X, inicialmente em repouso. Como resultado da colisão, consideremos que foi produzido um núcleo residual Y e uma partícula y: x X Y y Sabendo que a energia total de uma partícula ou átomo é a soma da energia de repouso e da energia cinética, do princípio de conservação da energia, a energia total antes e depois deve ser igual. Assim temos: m c x 2 Ec ( x ) mX c 2 Ec ( X ) mY c 2 Ec (Y ) my c 2 Ec ( y ) onde Ec representa a energia cinética. A energia de repouso é dada pela equação de Einstein E0 = m0c2, sendo m0 a massa de repouso. Renato Semmler Reações Nucleares Desde que o núcleo X esteja em repouso, podemos considerar Ec(X) =0. Se nós representarmos as massas de repouso de X, Y e y por mX , mY e my podemos escrever a equação anterior como: m c x 2 Ec ( x ) mX c 2 0 mY c 2 Ec (Y ) my c 2 Ec ( y ) mx c 2 mX c 2 mY c 2 my c 2 Ec (Y ) Ec ( y ) Ec ( x ) m x mX mY my c 2 Ec (Y ) Ec ( y ) Ec ( x ) Conforme já vimos anteriormente, uma quantidade importante para o estudo das reações é o chamado valor Q da reação, que é definido como sendo a diferença entre a energia cinética dos produtos da reação e da partícula incidente. Desta forma temos: Q Ec (Y ) Ec ( y ) Ec ( x ) e Q mx mX mY my c 2 • A grandeza Q é também chamada Balanço de Energia de uma Reação Nuclear. Ela pode ser determinada tanto pela diferença de energias como pela diferença de massa. Renato Semmler Reações Nucleares - Se Q > 0 Ocorre liberação de energia cinética às custas da massa reação exoenergética (exotérmica). Podem ocorrer sem estímulo externo. A energia cinética dos produtos é maior que a dos reagentes. A massa total dos reagentes é maior que a dos produtos. - Se Q < 0 reação endoenergética (endotérmica). Precisa energia extra, de fora do sistema, para induzir a reação. Para que uma reação endotérmica possa ocorrer, é necessária uma energia limiar (threshold), que é o menor valor da energia que a partícula incidente deve ter para que a reação nuclear seja energeticamente possível: m Elimiar Eth Q1 x mX - Se Q = 0 espalhamento elástico, tanto a energia total como a energia cinética se conservam. Renato Semmler Reações Nucleares A probabilidade de uma reação ocorrer depende: da energia de excitação e da posição dos níveis excitados do núcleo composto, da energia da partícula incidente e do tipo de núcleo alvo. Seja a reação: 14 7 N 24He178O11H O valor Q da reação é dado por: Q M x M X MY My c 2 Q 4,002603250 14,003074005 16,999131501 1,007825032 931,5 Q 0,01279278 931,5 Q 1,19MeV a reação é endotérmica. A energia limiar para esta reação é dada por m Eth Q1 x mX 4,002603250 Eth 1,191 Eth 1,53MeV 14 , 003074005 Renato Semmler Tipos de reações Espalhamento Elástico xX Xx X x, x X A partícula incidente é do mesmo tipo que a partícula emergente, ou seja, os produtos finais da reação são idênticos aos iniciais. No espalhamento elástico só há transferência de energia cinética entre projétil e alvo. A energia cinética total do sistema é a mesma antes e após a colisão. Neste caso, o valor Q da reação é igual a zero. 1 1 p168O168O11p Op, p168O 16 8 Renato Semmler Tipos de reações Espalhamento Inelástico x X X* x X x, x X * A partícula incidente é do mesmo tipo que a partícula emergente, ou seja, os produtos finais da reação são idênticos aos iniciais. No espalhamento inelástico, o núcleo alvo é deixado em um estado excitado (X*). A energia cinética total do sistema é diminuída no valor correspondente à energia de excitação cedida ao núcleo alvo, ou seja, parte da energia cinética do sistema é gasta na excitação do núcleo alvo. n168O168O* 01n 1 0 On, n 168O * 16 8 Renato Semmler Tipos de reações As outras reações representam diferentes tipos de transmutações nucleares, nas quais o núcleo produto pode ser formado em seu estado fundamental ou em seu estado excitado. Os núcleos produtos excitados usualmente decaem muito rapidamente para o estado fundamental por meio da emissão de radiação gama. Reação (, n) 4 2 He 49Be126C 01n 9Be12C n 9 4 O nêutron foi descoberto por Chadwick em 1932 bombardeando-se berílio com partículas alfa. Be , n 126C Reação (, p) 4 2 He147N 178O11H 14 7 N , p 178O A primeira reação nuclear obtida por Rutherford em 1919. A transmutação do nitrogênio foi a primeira reação nuclear induzida artificialmente. Renato Semmler Tipos de reações Reação (, n) – reação fotonuclear 12H 11H 01n 2 1 H , n 11H Radiação gama de alta energia podem arrancar nêutrons do núcleo. São os chamados fotonêutrons. Reação (, n) 178O126C 24He01n O ,n 126C 17 8 Reação (p, ) H 37Li 48Be 1 1 7 3 Li p, 48Be Renato Semmler Tipos de reações Reação (p, ) H 36Li 23He 24He 1 1 6 3 Li p, 23He Reação (d, n) 2 1 H 126C137N 01n Cd, n 137N 12 6 Reação (d, p) 2 1 H 126C136C 11H Cd, p 136C 12 6 Renato Semmler Tipos de reações Reação (n, p) n168O167N 11H 1 0 On, p 167N 16 8 Reação (n, ) Reação de captura radioativa por nêutrons térmicos 27 28 n13 Al 13 Al 1 0 27 13 28 Al n, 13 Al Reação (n, ) Reação utilizada para a detecção de nêutrons n105B37Li 24He 1 0 10 5 Bn, 37Li Renato Semmler Tipos de reações Fissão Nuclear - reação nuclear que ocorre mediante incidência de nêutrons com qualquer energia cinética em nuclídeos físseis, por exemplo: 235 92 Nuclídeo físsil U 01n nêutron incidente 140 53 I produtos de fissão Y 301n 93 39 nêutrons emitidos ν antineutrinos β raios-gama prontos Raios gama de decaimento partículas beta negativas Renato Semmler Tipos de reações Renato Semmler Tipos de reações Emissão de ~ 2,5 nêutrons (em média) Reação em cadeia Fissão nuclear Fonte de energia Liberação de ~ 200 MeV (em média) Energia elevada Renato Semmler Tipos de reações Um nuclídeo pode ser produzido através de diferentes reações nucleares: 23 Nan, 24Na 24 Mg n, p 24Na 27 Al n, 24Na 23 Nad , p 24Na 26 Mg d , 24Na 27 Al d , p 24Na 25 Mg , p 24Na 27 Al ,2 pn 24Na 27 Al p,3 pn 24Na Renato Semmler Tipos de reações Diferentes produtos podem ser obtidos a partir do mesmo núcleo alvo e do mesmo projétil: 25 12 27 13 Al 12H Si Mg 24He 28 13 Al 11H 29 14 Si 01n 28 14 24 11 Na11H 24He Renato Semmler Tipos de reações Reação direta A partícula incidente e o núcleo alvo têm uma interação de curta duração (10-22s), podendo haver troca de energia ou de partículas entre eles. Não há formação de núcleo composto e ocorre interação entre partícula incidente e nucleons individuais do alvo; Nas reações de Stripping, um núcleo é transferido do projétil para o alvo: 239 1 d 238 92 U 93 Np 0 n 2 1 239 1 d 238 92 U 92 U 1p 2 1 Nas reações pick-up ocorre o processo inverso. Como exemplo na reação abaixo, um dêuteron captura um nêutron do alvo e emerge da reação como um 3H. 2 1 237 3 d 238 U U 92 92 1t Renato Semmler Tipos de reações Reações nucleares predominantes para vários intervalos de energia Renato Semmler Secção de choque A probabilidade de uma reação nuclear ocorrer é expressa em termos da secção de choque da reação que descreve quantitativamente a interação do nêutron com a matéria. O diâmetro do núcleo é da ordem de 10-12 cm. Assim, a área da secção geométrica do núcleo é da ordem de 10-24 cm2. A secção de choque corresponde à área efetiva com que o projétil “vê” o núcleo. Por conseguinte, a secção de choque () é da ordem de 10-24 cm2. 1barn = 1b = 10-24 cm2. O significado físico de é a probabilidade de um nêutron do feixe interagir por meio desta reação. nêutrons/cm3 alvo átomos/cm3 Nêutrons espalhados Renato Semmler Secção de choque Consideremos um feixe paralelo monoenergético colimado incidindo sobre um alvo fino de espessura x e área A. nêutrons/cm3 x I0 I(x) Nêutrons espalhados alvo átomos/cm3 A intensidade de nêutrons (I0) incidindo no alvo é dado por: I0 nv I nêutrons cm nêutrons 0 cm3 s cm2s Renato Semmler Secção de choque Se N é o número de átomos por cm3 do alvo, Ndx é o número de átomos por cm2 para a espessura dx. A variação na intensidade dI = I - I0 (infinitesimal desde que as partículas passem através de uma espessura dx) depende do número de átomos por unidade de área (Ndx), da intensidade (I0 I) e da secção de choque (): dI NdxI O sinal negativo indica que a intensidade diminui quando o feixe de nêutrons passa através do alvo devido à reação das partículas do feixe com os átomos do alvo. dI Ndx I I x dI I I N 0 dx 0 ln I I I0 N x 0 x Renato Semmler Secção de choque ln I ln I0 Nx ln I Nx I0 I e Nx I0 I I0e Nx onde o produto N é chamado secção de choque macroscópica (), sendo expressa em cm-1 e representa a probabilidade do nêutron sofrer interação com os átomos de um material de 1 cm de espessura. N Renato Semmler Secção de choque Secção de choque (n, ) – 10B Lei 1/v v 0 2200m / s E kT v E0 25,26meV 2kT m h 2mE o 0 1,80 A (v ) 0 v0 v T 293,16K (E ) 0 E0 E Renato Semmler Secção de choque Renato Semmler Secção de choque Renato Semmler Secção de choque Renato Semmler