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Da Vice Província à proclamação oficial da elevação à Província regular
da Ordem: Frei Urbano Grigório de Souza e o processo de Independência
dos Frades Menores Capuchinhos da Bahia e Sergipe (1970 – 1983).
Daniel Bohana Bastos1
RESUMO
A Bahia do século XVII é ainda aquela sede da colônia portuguesa, local onde se instalaria a
primeira capital do Brasil. Por questões econômicas, militares, questões de localização, foi aqui
que se começou a pensar em uma administração mais coesa que sustentasse os interesses
de sua Metrópole. Aqui também chegaram muitas ordens religiosas que consideravam a
região como propícia a conquistar novas almas através de suas evangelizações, ao mesmo
tempo contribuindo para a pratica expansionista de Portugal. Uma dessas ordens foi a dos
Capuchinhos. Franceses e italianos chegaram com o mesmo objetivo: missionar. E, então,
começaram a inscrever na história da Bahia o nome de seus personagens, através de
suas atuações na região do Rio São Francisco junto aos nativos. É a partir daí que a ordem
começou a se estabelecer, se instalar e evoluir rumo à emancipação.
PALAVRAS-CHAVE
Capuchinhos. Missionários. Bahia. Hospício. Independência.
ABSTRACT
Bahia seventeenth century that is still the headquarters of the Portuguese colony, where
they would install the first capital of Brazil. On economic issues, military, issues of location,
it was here that he began to think of a more cohesive government that supported the
interests of his homeland. Here also reached many religious orders who considered the
region as favorable to conquer new souls through their evangelizations while contributing
to the practical expansion of Portugal. One of these was the Capuchin order. French and
Italian arrived with the same goal: mission. And so began the history of Bahia enter the
name of his characters through their actions in the Rio Sao Francisco with the natives. It is
from here that the order began to settle down, settle and move toward emancipation.
INTRODUÇÃO
O presente artigo visa discutir, através de uma pesquisa bibliográfica, a atuação dos
capuchinhos na Bahia. Inicialmente fazendo um breve histórico da ordem que aqui chegou
ainda no século XVII com o objetivo de catequizar os índios, apontando para a evolução
que a ordem sofreu desde sua chegada até a proclamação de sua independência, e,
destarte, assinalar a emancipação como resultado de um processo longo, mas natural
a partir do momento que a concebemos como fruto do trabalho missionário necessário
ao século proposto que viu na Bahia uma rota para os trabalhos que seriam exercidos
também na África.
Graduado em Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Católica do Salvador (2009)
e aluno do curso de Especialização em História Social e Econômica do Brasil da Faculdade São Bento da
Bahia (2011).
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Os motivos para tanto parte do pressuposto de que, em termos bibliográficos, pouca
coisa se produziu. Principalmente a partir do ano de 1970, quando a Custódia Provincial
instaurada ainda em 1937, passa ao status de Vice-Província da Ordem Capuchinha. A partir
daí, o ideal de independência começa a surgir, dado, principalmente, ao crescimento da
ordem em nosso Estado e em Sergipe. Já que muitos estudos apontam para personagens
históricos da ordem, nada mais justo do que homenagear o Frei Urbano Grigório de Souza,
baiano e primeiro Provincial da ordem independente.
Portanto, o nosso trabalho, Da Vice Província à proclamação oficial da elevação à
Província regular da Ordem: Frei Urbano Grigório de Souza e o processo de Independência
dos Frades Menores Capuchinhos da Bahia e Sergipe (1970 – 1983), tem por objetivo,
pensar o processo de emancipação destacando a figura do Frei Urbano sob a ótica da pouca
bibliografia que trata sobre o assunto. Mas deixando aberta uma porta que dá acesso à uma
enorme perspectiva para contribuir com os estudos sobre a ordem durante esse período e
sobre o personagem que comandou os tramites que desaguou na independência.
UM BREVE OLHAR SOBRE A HISTÓRIA DOS CAPUCHINHOS NA BAHIA
A história da ordem dos Capuchinhos na Bahia nos remete ao século XVII, quando
da chegada dos frades de origem francesa. Chegaram enviados pela Congregação da
Propagação da Fé – uma medida pontifícia que visou maior liberdade de atuação dos
seus missionários em terras estrangeiras – com o intuito de evangelizar os nativos da
região do Rio São Francisco. Nesse período inicial, merece destaque o Frei Martinho de
Nantes, que dirigiu as missões do Rio São Francisco exercendo um profícuo trabalho junto
às aldeias indígenas Contudo, o trabalho desses missionários franceses não perdurou por
muito tempo. O pequeno número de frades franceses e as dificuldades encontradas para a
realização das atividades religiosas, propostas pela missão francesa no Brasil, são fatores
que devem ser levados em consideração para a análise da expulsão desses capuchinhos
da Bahia. Claro que outros fatores estão relacionados a esse acontecimento. Questões
políticas também estão envolvidas nesse processo, principalmente em se tratando da Lei
do Padroado que impedia a livre atividade missionária.
Os capuchinhos voltam a atuar na Bahia a partir de 1705. Dessa vez, a Congregação
da Propagação da Fé envia frades italianos para a realização dos trabalhos religiosos. A
essa época, o Hospício de Nossa Senhora da Piedade já estava funcionando, mas seria
ampliado pelos novos missionários capuchinhos vindos de diversas províncias italianas.
Somente a partir de 1712, com a criação da Prefeitura Apostólica com o nome de Missão
da Bahia ou do Rio São Francisco, os capuchinhos passam a ter uma sede permanente
na Bahia. Sob a chefia do Frei Miguelângelo de Nápoles, primeiro Prefeito Apostólico,
as missões ganham um novo rumo, uma nova estrutura, as bases para o crescimento e
afirmação da ordem dos capuchinhos em solo baiano.
O presente trabalho tem por finalidade contribuir com os estudos referentes a essa
ordem religiosa na Bahia. É importante repensar as transformações ocorridas desde a
sua fixação em Salvador, e perceber a evolução oriunda do crescimento dos capuchinos e
sua consequente disseminação para outros municípios. Com o passar dos anos a missão
religiosa ganhou ares de importância, ganhou reconhecimento e mais trabalho. Mas, quais
os principais fatores para o crescimento da ordem capuchinha na Bahia? O que favoreceu
as transformações? O que a fez evoluir e se estabelecer em terras portuguesas?
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É relevante pensar a construção do Hospício de Nossa Senhora da Piedade como ponto
de partida para responder essas questões. Outrossim, essa conquista não foi a única
responsável pela implantação da Igreja e da ordem dos Capuchinhos na Bahia. O seu
processo de estabelecimento perpassa por quatro etapas, o que equivale a mais de três
séculos de presença capuchinha na Bahia, até a elevação a Província regular da Ordem
(1983). Essa quinta e última etapa, objeto de nosso estudo, representa a independência
desses capuchinhos italianos em relação à Província das Marcas de Ancona, da Itália, a
quem estavam submetidos desde 1892.
Um breve olhar sobre essa longa história, nos faz acompanhar a trajetória dos frades
capuchinhos italianos durante as etapas supracitadas. Por isso nos vale uma abreviada
análise. A primeira etapa dos trabalhos capuchinhos estava entregue aos franceses. Em
poucas palavras, eram missões religiosas que visavam, através do sistema de aldeamento,
catequizar os índios. Os missionários se dirigiam a uma determinada região, principalmente
nas proximidades do Rio São Francisco, onde havia um bom número de nativos, e ali se
estabeleciam para a realização das suas atividades religiosas. Lá estudavam a língua
dos indígenas e buscavam “civilizar” os índios em prol da fidelidade ao Cristianismo e da
subserviência (será que esse termo cabe nessa análise?). Ainda nessa primeira etapa foi
iniciada a construção do hospício, que, no estudo de Cassiana Maria Mingotti Gabrielli
(2009), em sua interessante dissertação de mestrado sobre os capuchinhos bretões
no Brasil, funcionou como um estabelecimento de hospedagem para os missionários
capuchinhos que aqui chegavam e que daqui partiam para a África ou de volta ao seu país
de origem, servindo como ponto de repouso e tratamento de doenças.
Mas, expulso os franceses, por motivos vários e controversos, a segunda etapa dos
trabalhos capuchinhos é confiada aos frades italianos. Segundo o Reverendo Padre Frei
Vittorino Pietro Regni, autor de uma série de três volumes sobre os Capuchinhos na Bahia,
com informações precisas baseadas em uma extensa pesquisa nos arquivos relacionados
à ordem, tanto no Brasil – e principalmente na Bahia – quanto no mundo, discute esse
acontecimento com fundamentos ligados aos documentos da época. Regni alerta para
três questões preponderantes para a saída dos capuchinhos franceses da Bahia.
Primeiro não concorda com a ideia de que teriam saído da missão na Bahia por questões
meramente políticas. Para o autor, o trabalho dos capuchinhos bretões condizia com a política
colonial portuguesa já que buscavam sempre a dilatação da igreja e a conquista da terra.
Esses fatores provam, na visão do autor, que não havia um motivo claro para a oposição
da Coroa portuguesa (REGNI, 1988, p. 234). Mesmo assim, Portugal sempre esteve atento
aos passos dos franceses em suas colônias, principalmente pelo fato de a França estar em
franco crescimento econômico e com interesses colonialistas bem delineados. O que não
aconteceu com os frades italianos. A Itália dividida do século XVIII causava menos temor em
relação à concorrência colonialista. Contudo, Regni defende que, ainda assim, o governo
português dava preferência ao trabalho missionário dos capuchinhos franceses.
Em uma segunda abordagem dos fatos, Regni aponta em direção ao Juramento de Fidelidade
que deveria ser prestado pelos missionários ao Rei português “como salvo-conduto para a entrada
nas colônias” (p. 236), respeitando os direitos e privilégios que a Coroa portuguesa recebeu,
durante os séculos, da Igreja Católica, principalmente no que tange “à posse e organização
de igrejas em seus territórios” (p. 236). Em outras palavras, os missionários deveriam prestar
juramento de fidelidade segundo a Lei do Padroado. Essa medida tornava as missões muito
dependentes do poder civil, retirando a liberdade de atuação religiosa de qualquer missionário que
aqui estivesse. Por isso a importância da Congregação da Propagação da Fé, que visou diminuir o
quanto fosse possível, os laços que prendiam os missionários ao poder do rei português.
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Esse, certamente, foi o principal entrave entre capuchinhos franceses e a Coroa portuguesa.
A intervenção da Propagação da Fé no processo missionário certamente foi o estopim para
a retirada dos frades bretões. O juramento deveria ser feito a qualquer custo, pelos que
aqui já se encontravam e pelos que pretendiam vir. Outros fatos se fizeram presentes para
as discordâncias entre a Coroa portuguesa e a Santa Sé, o primeiro exigia o juramento de
fidelidade enquanto o segundo sustentava a ideia da liberdade de atuação religiosa.
A terceira e conclusiva análise de Regni põe as ações diplomáticas entre as partes
envolvidas como preponderantes no processo de expulsão dos frades franceses do Brasil,
que contou ainda com um quadro agravante de baixo número de frades bretões atuando
nas missões por conta do juramento de fidelidade. Foi uma extinção gradual, por falta de
forças renovadoras (p. 233). Saíram, enfim, em 1702 sob decreto do rei português.
Somente no ano de 1705, para dar continuidade aos trabalhos franceses, chegam
os capuchinhos italianos. Sob todas as normas, começam o itinerário sertão adentro,
quando, em 1712, é criada a Prefeitura Apostólica, com sede no Hospício de Nossa
Senhora da Piedade, o que estabelece de uma vez por todas, a permanência de um grupo
de ordenados capuchinhos na Bahia. A então denominada Missão da Bahia ou do Rio
São Francisco possuía um número considerável de frades italianos vindos de diversas
províncias da Itália para a realização dos trabalhos religiosos da ordem, até o decreto de
1892, expedido pela Congregação dos Negócios Estrangeiros, que submete a Prefeitura
Apostólica das Missões da Bahia à Província das Marcas de Ancona. Essa medida visou a
concentração de decisões referentes à missão apenas a uma província italiana.
Essa segunda etapa missionária dos capuchinhos é a mais duradoura (1712 – 1892),
aja vista que a elevação da Missão da Bahia à Custódia Provincial da Bahia e Sergipe só
vai acontecer no ano de 1892, o que caracteriza a terceira etapa da nossa análise.
A insistência nos programas de aldeamentos indígenas favoreceu o surgimento de muitas
vilas, paróquias e párocos. Isso contribuiu, e muito, para uma diminuição considerável no
número de missões. Ora, à medida que os aldeamentos eram fixados, a missão ficava “presa”
a uma determinada região, o que contribuiu, também, para o projeto português de colonizar o
interior do Brasil – o que garantia a proteção contra invasores, por exemplo. Nesse período de
trabalho missionário percebe-se, claramente – e Frei Carlos Zagonel (2001), em obra publicada
com o apoio da Conferência dos Capuchinhos do Brasil destaca isso – o envolvimento da
Custódia Provincial na construção de igrejas, conventos e seminários. Em Capuchinhos no
Brasil, encontramos as “algumas pinceladas básicas da presença dos Capuchinhos no Brasil”
(p. 7), que nos trazem, mesmo na visão romântica do autor sobre a atuação desses missionários
no nosso país, informações interessantes sobre as etapas aqui destacadas. Para Zagonel, os
investimentos em obras sociais, assistenciais e espirituais marcam o período da Custódia
Provincial, com um significativo crescimento da ordem religiosa na Bahia proporcionado,
principalmente, pela construção de seminários para formação de novos religiosos. A atuação
de alguns frades, nesse período, merece destaque na obra de Zagonel.
É esse “boom” capuchinho na Bahia que vai abrir as portas para a elevação à categoria de
Vice-Província da Bahia e Sergipe (1970 – 1983). Essa nova etapa de atuação capuchinha é
uma espécie de continuísmo do período de custódia, já que tem como características principais
a construção de novos seminários e de novas paróquias. No entanto, as grandes preocupações
desse período foram com a renovação da vida religiosa e a retomada das missões populares,
quando por iniciativa do Frei Urbano Grigório de Souza é solicitada a independência da ordem.
Destaque para a atuação desse personagem na luta pela “emancipação”.
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FREI URBANO GRIGÓRIO DE SOUZA
Nascido em 25 de maio de 1942 em Sapeaçu2, Paróquia de Cruz das Almas, na Bahia,
sendo filho legitimo de Manoel Grigório de Souza e Helena Maria de Souza, Urbano Grigório
de Souza decidiu dedicar-se à vida religiosa aos 19 anos de idade, ou seja, em 1961. Sua
primeira profissão religiosa foi no ano seguinte e a profissão perpétua em 1965, sendo
ordenado Presbítero em 1967. De 1969 a 1980 assumiu diversos cargos na Ordem, dentre
eles o cargo de Vice-provincial, sendo o primeiro brasileiro a ocupar o lugar de Superior Maior
na Vice-Província. Em 1980 foi reeleito Vice-Provincial e em 1983 foi eleito e confirmado
o primeiro Provincial da recém criada Província Nossa Senhora da Piedade da Bahia e
Sergipe. Na década de 1990 foi residir na cidade de Feira de Santana assumindo os ofícios
de Missionário, Vigário paroquial e Pároco de Santo Antônio e Superior da Fraternidade. Foi
ainda Ministro Provincial e Assistente Regional da Ordem Franciscana Secular, foi transferido
para a Fraternidade de Jaguaquara e ainda desenvolveu um grande e importante apostolado
acompanhando diversos grupos e movimentos como assistente regional.
Frei Urbano estudou Filosofia em Alagoinhas – cidade da Bahia – e de 1964 a 1968
cursou Teologia na Pontifícia Universidade de Loreto, na Itália. Foi estudar no Instituto
d’Estudes Françaises de Turaine, na Universidade de Poitiers; obteve Licenciatura em
Filosofia e Pedagogia de Orientação Educacional pela Faculdade Dom Bosco, em São João
Del Rey – Minas Gerais. Fez curso de Franciscanismo no Rio de Janeiro e falava muito bem
italiano, francês, espanhol e latim.
Todas essas atribuições favoreceram a uma formação religiosa visionária e
reconhecidamente importante, a ponto de ser eleito o primeiro capuchinho brasileiro a
assumir o cargo máximo da ordem na Bahia. A 2 de julho de 1983, a Vice-Província da
Bahia e Sergipe foi elevada à categoria de Província da Bahia e Sergipe graças aos esforços
contínuos da ordem aqui estabelecida, mas, principalmente, à atuação de Frei Urbano,
que levantou os dados necessários para a elaboração de um relatório minucioso sobre as
condições em que se encontravam a Vice-Província, apontando os fatores que favoreciam
a proclamação da Província independente, estando sempre em contato com os superiores
maiores em busca de mais respaldo para os seus objetivos. Os dados impressionam.
Segundo Zagonel, a ordem contava, nesse período, com “62 religiosos professos e 10
casas residenciais [...] eram assistidas e administradas pelos Capuchinhos da Província
da Bahia e Sergipe, 19 paróquias” e estavam sempre em apoio à igreja local (ZAGONEL,
2001, p. 221). É a passagem da Vice-Província para a elevação à Província autônoma da
Ordem a finalidade do nosso estudo.
UM APANHADO BIBLIOGRÁFICO
Cabe-nos um parêntese. A maior parte dos estudos dedicados aos capuchinhos no
Brasil trata dos trabalhos realizados tanto por franceses quanto por italianos. Os estudos
buscam a atuação desses em outros estados, como Pernambuco e Maranhão, por exemplo.
Enfocam muita a questão da expulsão dos capuchinhos franceses do Brasil, a atuação da
ordem junto às diversas comunidades indígenas, os embates travados com os donos das
terras e de escravos e, claro, há um destaque interessante sobre a intervenção ou missão
religiosa enviada a Canudos no tempo de Antônio Conselheiro.
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Município do Estado da Bahia localizado no Recôncavo baiano a 163 km da capital Salvador.
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No que tange a trabalhos sobre os capuchinhos na Bahia, há uma clara menção a
estudos mais amplos que tratam sobre a história do nosso estado e que, neste, tratam de
discutir sobre a ordem sob o ponto de vista da construção do Hospício de Nossa Senhora
da Piedade. Como aponta Regni, é assim com Rocha Pita e com Frederico Edelweiss, por
exemplo (REGNI, 1988, p. 181 - 184).
Já Fidelis M. Primeiro, em obra de 1942, há uma clara preocupação em tornar público
as atividades capuchinhas no Brasil. O autor faz uma análise mais global das atuações
religiosas da ordem nas colônias portuguesas, sobre as missões implantadas nessas
regiões e o papel dos frades capuchinhos franceses e italianos. A construção do Hospício
de Nossa Senhora da Piedade é outro tema presente no livro. Um motivo mais que justo
para erigi-lo estava no fato de que a Bahia era uma espécie de “entreposto missionário”
em uma rota marítima Portugal  Brasil  África  Portugal.
A cidade da Baía de Todos os Santos, metrópole do grande
país do Brasil, é o porto em que toca a maior parte dos
missionários Capuchinhos, destinados ao reino do Congo, na
ida àquelas apostólicas missões, quando em Portugal não
há navios diretos para Angola. Muito mais na volta daqueles
missionários por se ir à Baía esperar navegação propícia para
a Europa. Muitas vezes é preciso lá esperar alguns meses e
até um ano (PRIMEIRO, 1942, p. 124).
Apesar de apontar para o empenho dos italianos solicitando e demostrando a urgente
necessidade dessa construção, já que os mesmos sempre que não encontravam
navios em Portugal rumo às missões na África precisavam vir para o Brasil em busca
de condução, reconhece que foram os franceses os responsáveis pela construção do
hospício, principalmente porque eram esses os responsáveis pelas missões na colônia
portuguesa da América.
Trabalhos mais recentes incluem os capuchinhos baianos no processo da reforma católica.
É o caso da dissertação de mestrado de Cristina Ferreira (2005). Nela a autora visa discutir
a participação dos frades menores capuchinhos na reforma promovida pelo arcebispado da
Bahia entre os anos de 1889 a 1924. Outro trabalho recente é de Cassiana Maria (2009).
Sua dissertação de mestrado trata mais da presença dos capuchinhos bretões no Brasil,
mas dedica um pequeno capítulo à questão da construção do hospício em nosso estado.
Mas é Pietro Vittorino Regni o maior estudioso da ordem dos Capuchinhos na Bahia.
Autor de três volumes sobre a temática, Regni trata de nos informar sobre a presença e
atuação dos frades franceses e italianos, sobre a administração das Províncias italianas,
sobre a Província das Marcas de Ancona, num elaborado volume que trata dos períodos
da Prefeitura e da Custódia até a elevação a Província. Quando das comemorações da
proclamação, Regni fora convidado a palestrar sobre a importância dessa elevação à
Província. Em seu discurso, afirma ser interessante tornar público a história do Convento
da Piedade. E com brevidade, conta a história da ordem na Bahia, principalmente no que
concerne à construção do convento. Nesse ínterim, não deixa de reconhecer que foram os
franceses os responsáveis pela construção.
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O PROCESSO DE EMANCIPAÇÃO
Pois bem, o processo para a independência fora intenso. Outras Vice-Províncias do
Brasil já haviam se elevado à categoria de Província, e a da Bahia e Sergipe passaram
a almejar a mesma situação. As correspondências emitidas durante esse período,
destacadas em Província de Nossa Senhora da Piedade – Bahia e Sergipe, livro
que celebrou a proclamação da Província e os 300 anos de fundação do Convento
Nossa Senhora da Piedade, de 1983, trazem o passo a passo dos procedimentos
necessários para a elevação. A preocupação das partes envolvidas era a mesma:
continuar com uma política de evangelização e implantação da ordem mesmo após
a emancipação da então Vice-Província. Um dado que denota a importância dessa
emancipação reside no fato de que, desde 1972, a Província das Marcas de Ancona
se dizia impossibilitada de enviar novos frades para a Bahia. No entanto, com os
seminários aqui inaugurados, formavam-se novos religiosos apitos ao trabalho
missionário, o que se tornou um respaldo considerável para a proclamação da
independência da ordem. O bom número de frades nativos significou um novo “salvoconduto” na história dos capuchinhos na Bahia.
As movimentações para a Proclamação foi logo intensa. O então Vice-Provincial, Frei
Urbano, deixa claro em suas correspondências que o objetivo da emancipação sempre foi
o de consolidar a implantação e o crescimento da Ordem nos estados da Bahia e Sergipe,
sem ter que desatar os laços com a Província Mãe. Dessa forma, apresentou os diversos
aspectos da história e da vida da Vice-Província até receber, em 23 de Setembro de
1982, a aprovação para tornar os Capuchinhos na Bahia independentes. A notícia chegou
ao Convento da Piedade com alvoroço, mas fez-se logo necessário preparar-se para a
Proclamação de Província.
As condições do trabalho religioso implantadas na Vice-Província, tais como a formação
de novos religiosos, o trabalho apostólico e a economia suficiente, foram entendidas como
satisfatórias para a elevação. Dessa forma, o processo de evolução capuchinha na Bahia
chegava ao seu status máximo.
A data da proclamação fora logo instituída pelo Ministro Geral da Ordem, bem como os
procedimentos para a eleição do Provincial. Obviamente, dada a luta e responsabilidade
do Frei Urbano, ele próprio foi eleito o Provincial da Ordem dos Frades Menores
Capuchinhos da Bahia e Sergipe. Durante as comemorações, no dia 2 de julho de 1983,
vários convidados marcaram presença na cerimônia. Personalidades como o Arcebispo
da Bahia, Dom Avelar Brandão Vilela, o representante da Universidade Federal da Bahia,
Professor José Calasans, a Diretora do Centro de Estudos Baianos, Professora Consuelo
Pondé e o Professor Candido da Costa e Silva, orador naquela ocasião que palestrou sobre
as atividades missionárias dos capuchinhos na Bahia e, ainda, Carlos Zagonel, Presidente
da Confederação dos Capuchinhos no Brasil, dentre vários outros religiosos.
Independentemente do árduo trabalho emancipatório, a Ordem Capuchinha atravessava
mais um momento de conquista em sua história. Na Bahia e Sergipe, a novata Província
agora estava responsável pelo trabalho religioso de várias cidades. São elas:
1. Salvador: de onde fluíram as energias emancipatórias e onde se encontra o Hospício
da Piedade. Sede das decisões Provinciais.
2. Esplanada: local onde se encontra o segundo convento levantado pelos capuchinhos
na Bahia, construído em 1904.
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3. Alagoinhas: aberta em 1940 como um Seminário. Com o passar dos anos, os
capuchinhos chegaram a ser os únicos sacerdotes de toda a região.
4. Jaguaquara: fundada em 1943, foi um centro de atendimento paroquial.
5. Vitória da Conquista: atuante desde 1951, começou como Seminário e depois Igreja.
6. Feira de Santana: Casa de formação erigida em 1951. Funcionou como colégio e
chegou a abrigar mais de dois mil alunos. Foi em Feira de Santana que os Capuchinhos
criaram a Rádio Sociedade de Feira com o intuito de levar a mensagem religiosa a
mais fiéis.
7. Itabuna: de 1963. Inicialmente serviu para formação de jovens seminaristas e
depois passou a ser residência paroquial. Mas a presença dos Capuchinhos nessa
região data de 1958, quando lá chegaram e ajudaram a construir a Igreja Matriz da
cidade.
8. Aracaju: apesar dos Capuchinhos terem chegado a Sergipe desde 1951, só se
fizeram presentes em Aracaju no ano de 1961, quando construíram uma casa de
formação.
9. Seabra: por falta de sacerdotes, Seabra funcionou apenas como uma casa
residencial, inaugurada em 1966.
10. Valéria: outra casa de formação aberta em 1980.
11. Cotegipe: última fundação Capuchinha na Bahia, datada de 1983. É uma Casa
Paroquial de apoio a outras Dioceses. Representa uma reaproximação com o Rio
São Francisco.
A imprensa baiana destacou fervorosamente as comemorações e a importância da
emancipação Capuchinha na Bahia. A exemplo do jornal A Tarde, que considerou o momento
como de suma relevância para a Bahia, destacando a história das missões capuchinhas
junto ao Rio São Francisco e o desenvolvimento da ordem em solos baianos.
Também as diversas cartas parabenizando a ação do Frei Urbano e a emancipação
são fontes a serem consultadas e melhor analisadas, já que vários outros Provinciais
Capuchinhos do Brasil manifestam a alegria com o objetivo alcançado em 1983.
CONCLUSÃO
Mas, no fim, o que vale é o resultado de séculos de atuação capuchinha. Como em
um projeto bem definido, a história dos Capuchinhos na Bahia perpassou por etapas que
consagraram as suas atuações e motivaram muitos jovens a seguirem o mesmo destino em
prol de uma assistência religiosa à população. Claro que inicialmente os interesses estavam
voltados para a evangelização indígena e apoio aos colonos portugueses. Mas não devemos
deixar de avaliar o trabalho missionário dessa ordem pelo fato de estar ou não envolvido com
a política portuguesa da época. Deve-se, sim, pensar a trajetória e evolução dos Capuchinhos
sob a ótica de seu crescimento e, cada vez mais, afirmação na Bahia e no Brasil.
O processo emancipatório que se deu na Bahia não foi por um mero acaso ou,
simplesmente, por conta das dificuldades da Província das Marcas em enviar ajuda.
Muito pelo contrário, a Vice-Província permaneceria com esse status se não fosse pelo
seu crescimento e importância. Até mesmo a economia suficiente para se manter forte é
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fruto do digno trabalho da ordem, especialmente, na Bahia. E essa análise é facilmente
percebida através das casas de formações, seminários, paróquias e conventos, construídos
com o intuito de dar suporte às práticas aqui exercidas e que servem para a sustentação
da Província da Bahia e Sergipe.
O trabalho responsável é logo reconhecido. E muitos foram os frades reconhecidos por
sua atuação. De Frei Martinho de Nantes, capuchinho francês que aqui chegou sem prestar
o juramento de fidelidade ao rei português, passando por Frei Miguelangelo de Nápoles,
capuchinho italiano responsável por administrar a Prefeitura Apostólica, até o Frei Urbano
de Souza, capuchinho baiano que lutou pela independência da ordem dos capuchinhos
na Bahia, muitos outros nomes se destacaram por seu trabalho dedicado e controverso,
como foi o caso do Frei João Evangelista do Monte Marciano em Canudos.
Esse artigo trás uma pequena contribuição à história dos capuchinhos na Bahia e deixa
aberta a possibilidade de se estudar a Província dos Frades Menores Capuchinhos da Bahia
e Sergipe a partir do ano de 1983. Ver como se comportou a partir da independência, que
outros projetos foram postos em prática, quais os caminhos seguidos pelo Frei Urbano,
o primeiro Provincial que ainda assumiu o mesmo posto em outra oportunidade (1995 –
1998) mas faleceu no ano de 2004, aos 62 anos, e ver como se comportaram as cidades
anexas à Província diante da nova realidade.
REFERÊNCIAS
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