PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO BAIXADA CUIABANA - MT Vitor Hugo Garbin CONSULTORA TERRITORIAL Medson Janer da Silva – RNC/SDT SISTEMATIZAÇÃO ANDRESSA OLIVAL ARTICULADOR TERRITORIAL Novembro de 2006 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES AMM CMDRS Associação Mato-grossense de Municípios CEDRS Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável CIAT Comissão de Instalação das Ações Territoriais COMPRUP Cooperativa Mista dos Produtores Rurais de Poconé CONDRAF Conselho nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável COORIMBATÁ Cooperativa de Pescadores CONAB Companhia Nacional de Abastecimento CONSAD Conselho de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local CONTAF BC Conselho Territorial da Agricultura Familiar da Baixada Cuiabana CPT Comissão Pastoral da Terra DFDA Delegacia Federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário DT Desenvolvimento Territorial EMPAER Empresa Mato-grossense de Assistência Técnica e Extensão Rural FCR Fundação Cândido Rondon FETAGRI FUNDAPER Federação dos Trabalhadores na Agricultura Fundação de Amparo à Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IDH Índice de Desenvolvimento Humano IDHM Índices de Desenvolvimento Humano Municipal INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INDEA Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grasso INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira INTERMAT Instituto de Terras de Mato Grosso MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário. MT Mato Grosso N Norte NE Nordeste OGU Orçamento Geral da União ONG Organização não Governamental. ONU Organização das Nações Unidas. OSCIP Organização da Sociedade Civil Pública PA Projeto de Assentamento PNCF Programa Nacional de Crédito Fundiário PPA Plano Pluri Anual PROINF Programa de Apoio à Infra-estrutura e Serviços Territoriais PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PTDRS Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável 2 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário SECITES Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior SEDER Secretaria de Estado de Desenvolvimento Rural SEPLAN Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral SETEC Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica SNIU Sistema Nacional de Indicadores Urbanos STR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais SEBRAE Serviço de Apoio às Pequenas e Microempresas SDT Secretaria de Desenvolvimento Territorial UFMT Universidade Federal do Mato Grosso UNIC Universidades Integradas de Cuiabá UNIVAG Universidade de Várzea Grande VPB Valor Bruto da Produção 3 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário LISTA DE TABELAS Tabela 1. Municípios que formam o território da Baixada Cuiabana e ano de criação. 11 Tabela 2. Evolução da população no território da Baixada Cuiabana entre 1996 e 2004. 22 Tabela 3. Relação entre a população rural e o número de trabalhadores rurais nos municípios da Baixada Cuiabana. 25 Tabela 4. Relação entre a população urbana e número de trabalhadores nas empresas formais nos municípios da Baixada Cuiabana. 25 Tabela 5. Valores da receita orçamentária, arrecadação do ICMS e transferência de capital da União e Governo Estadual para os municípios da Baixada Cuiabana em 2000. 26 Tabela 6. Número de estabelecimentos e área ocupada municípios do território da Baixada Cuiabana nos 29 Tabela 7. Número total de famílias assentadas no território da Baixada Cuiabana. 30 Tabela 8. Principais instituições de apoio identificadas, principais potencialidades e limitantes para sua ação. 40 Tabela 9. Lista de atores entrevistados para avaliação do capital social e complementação das informações secundárias. 41 Tabela 10. Principais informações identificadas nas análises dos dados primários e secundários no território da Baixada Cuiabana 43 Tabela 11. Quilombolas do território da Baixada Cuiabana. 46 Tabela 12. Terras indígenas, área, etnia, população e situação jurídica atual no território da Baixada Cuiabana 47 4 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário LISTA DE FIGURAS Figura 1. Microrregiões do território rural da Baixada Cuiabana 17 Figura 2. Mapa dos territórios rurais no Brasil 17 Figura 3. Brasil e Regiões 52 Figura 4. Estado do Mato Grosso com o território destacado 55 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Estratégia Metodológica de Apoio ao Desenvolvimento Territorial 12 Quadro 2. Atividades desenvolvidas durante a vigência do convênio FCR/SDT/MDA. 13 Quadro 3. Visão de Futuro do território da Baixada Cuiabana. 51 Quadro 4. Projeto da central de comercialização da agricultura familiar 54 Quadro 5. Unidade piloto de capacitação de agricultores familiares 55 Quadro 6. Projeto de educação do campo na Baixada Cuiabana 55 5 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário SUMÁRIO TERRITÓRIO DA BAIXADA CUIABANA .................................................. 7 ESTADO DE MATO GROSSO ................................................................. 7 1. APRESENTAÇÃO GERAL ................................................................. 7 2. INTRODUÇÃO................................................................................ 10 2.1 PROCESSO METODOLÓGICO ...................................................... 11 2.1.2 Metodologia das Oficinas ............................................................. 11 2.1.3 Oficinas Realizadas..................................................................... 12 2.2. INSTITUCIONALIDADE................................................................. 14 2.2.1 CONTAF-BC .............................................................................. 14 2.2.2 Descrição do CONTAF-BC........................................................... 14 3. DIAGNÓSTICO ............................................................................... 15 3.1 MAPAS ........................................................................................ 16 3.2 CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO ............................................ 17 3.2.1 Identidade .................................................................................. 17 3.2.2 Contexto sócio-econômico ........................................................... 20 A. Índices demográficos: a dimensão do rural no território da Baixada Cuiabana ........................................................................................... 20 Município .......................................................................................... 22 B. A pobreza no território da Baixada Cuiabana ...................................... 22 C. A economia do território da Baixada Cuiabana: a produção agropecuária e o setor formal urbano .......................................................................... 23 D. Características gerais da atividade agropecuária .............................. 27 E. Análise Sistêmica............................................................................ 32 E.1 Subsistema de Produção................................................................ 32 E.2 Subsistema de Transformação........................................................ 35 E.3 Subsistema de Comercialização...................................................... 35 3.2.3 Institucionalidades....................................................................... 36 A. Ambiente institucional de apoio......................................................... 36 3.3 ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE SISTÊMICA E DA QUALIDADE DE VIDA DO TERRITÓRIO ....................................................................... 41 3.3.1 Aspectos básicos sobre o capital social no território da Baixada Cuiabana. .......................................................................................... 41 A. Aspectos metodológicos .................................................................. 41 Entrevistados ..................................................................................... 41 B. Quadro Resumo ............................................................................. 43 C. Questões relevantes ....................................................................... 45 4. VISÃO DE FUTURO ........................................................................ 47 SONHO ............................................................................................. 51 SONHO ............................................................................................. 52 5. EIXOS INTEGRADORES ................................................................. 53 6. PROJETOS ESTRATÉGICOS .......................................................... 53 7. AGENDA DAS AÇÕES TERRITORIAIS ............................................. 56 8. CRÉDITOS..................................................................................... 56 10. DATA E LOCAL............................................................................. 56 6 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO DA BAIXADA CUIABANA ESTADO DE MATO GROSSO 1. APRESENTAÇÃO GERAL A decisão do Governo Brasileiro em propor uma política nacional que apoiasse o desenvolvimento sustentável dos territórios rurais, foi resultado de um processo de acúmulos e de reivindicações de setores públicos e organizações da sociedade civil, que avaliaram como sendo necessária a articulação de políticas nacionais com iniciativas locais, segundo uma abordagem inovadora. Esta decisão teve como resultado a proposta de criação da Secretaria de Desenvolvimento Territorial, no âmbito do MDA, e a formulação de dois programas nacionais apresentados no âmbito do Plano Plurianual do Brasil, 20042007. Esses programas, a própria SDT, os demais órgãos da administração pública federal com ações confluentes no desenvolvimento sustentável, os governos estaduais e municipais, e um vasto número de organizações da sociedade civil e movimentos sociais, além das próprias populações dos territórios rurais, constituem a base política, institucional e humana desta proposta. O enfoque territorial implica no desenvolvimento endógeno e na autogestão. As regiões mais carentes de desenvolvimento são exatamente aquelas que apresentam os mais altos índices de analfabetismo e que sofrem, desde muito tempo, processos de exclusão social, de migração e de desqualificação dos serviços públicos. Essas regiões estão dentre as mais pobres do País e, geralmente, possuem capital social pouco desenvolvido, devido a fatores econômicos (falta de meios, pobreza, desemprego); sociais (dependência, subordinação, pouca organização social); geográficos (isolamento, dificuldade de comunicações, limitantes naturais); educacionais (educação formal deficiente, analfabetismo, baixa informação e capacitação); e práticas políticas (pouca participação, clientelismo). Esses elementos desfavoráveis reduziram dramaticamente as chances da cidadania e da participação, acentuando as assimetrias sociais, econômicas e 7 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário políticas. Em algumas partes, os fatores desagregadores são parcialmente compensados por forte identidade cultural e pela solidariedade, desenvolvidas sobre práticas sociais de Fé, de trabalho conjunto, compartilhamento de recursos naturais escassos e uso comum da terra para criação de animais. Em várias partes, o crescimento e institucionalização do capital social são vistos como uma espécie de ameaça ao poder político local, sendo mesmo comum que ocorram manifestações de alguns líderes locais contra as ações que procuram mediar demandas sociais e políticas públicas, já que a gestão social aparece como uma reivindicação em quase todos os fóruns, associações, sindicatos e outras formas de organização social. São também regiões de capital natural pressionado por escassos recursos, como o semi-árido, ou por desequilíbrios eminentes, como a Amazônia, que requerem sistemas de apropriação fundados na preservação e na gestão cautelosa dos recursos naturais. Portanto, dificultam a apropriação pelo homem do capital natural, ou cobram dele o esgotamento precoce dos recursos naturais, reduzindo seus rendimentos e dificultando as condições de reprodução. Quanto aos condicionantes humanos, social, político e ambiental, as indicações são as recorrentes de todos os estudos, demandas e propostas: - Prioridade para a educação formal, acesso aos serviços de saúde e oportunidades de trabalho, de tal forma a reconstruir o capital humano no espaço de uma geração; - Mobilização, organização, valorização cultural, capacitação, participação e desenvolvimento institucional, para construir o capital social; - Renovação das práticas políticas e garantia de acesso às políticas públicas, para redução da dependência e avanço da gestão social; - Inovações com tecnologias apropriadas e ecologicamente amigáveis, valorização dos recursos locais, difusão de conhecimentos contextualizados, “saber fazer” democratizados, diversificação econômica, para melhor usar os recursos naturais e preservar o ambiente. Em todos os casos, faz-se necessário: investimentos públicos e privados focados nos territórios, proteção social dos grupos mais frágeis, informação, capacitação e assistência técnica de qualidade. Sem esquecer os enfoques 8 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário transversais temáticos da maior importância, tais como gênero, geração, raça e etnia. A SDT adotou da academia a definição de território: É um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, compreendendo cidades e campos, caracterizado por critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições, e uma população, com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coesão social, cultural e territorial. E para território rural a seguinte definição: São os territórios, conforme anteriormente, onde os critérios multidimensionais que os caracterizam, bem como os elementos mais marcantes que facilitam a coesão social, cultural e territorial, apresentam, explicita ou implicitamente, a predominância de elementos “rurais”. Nestes territórios incluem-se os espaços urbanizados que compreendem pequenas e médias cidades, vilas e povoados. E para microrregiões rurais: As microrregiões rurais são aquelas que apresentam densidade demográfica menor do que 80 habitantes por km² e população média por município até 50.000 habitantes. Com este enfoque definiu os critérios de seleção dos territórios rurais, a saber: Lista classificatória das microrregiões nos estados; número de agricultores familiares;número de famílias assentadas; municípios já beneficiados pelo PROINF e pobreza rural (menor IDH). Os quais, depois de selecionados em reuniões do CMDRS, movimentos sociais, associações e entidades representante da agricultura familiar, ocorrerá a homologação pelo CEDRS. 9 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário 2. INTRODUÇÃO O território da Baixada Cuiabana é formado por 13 municípios ao redor da capital do Estado, Cuiabá. Apesar de grande parte dos municípios ter sido fundada a partir de 1950, a colonização da região data do ano de 1.700, com a fundação de Cuiabá. Posteriormente, todos os municípios do território seriam derivados de Cuiabá. Este fato faz com que a população da Baixada Cuiabana esteja na raiz cultural da população do estado de Mato Grosso. A Tabela 1 apresenta todos os municípios que formam o território, bem como a distância para a capital e o seu ano de criação. Atualmente, este território é composto por 13 municípios. A Tabela 1 apresenta todos os municípios que formam o território, bem como a distância para a capital e o seu ano de criação. Tabela 1. Municípios que formam o território da Baixada Cuiabana e ano de criação. Município Ano de Criação Distância para Cuiabá (Km) Acorizal 1953 58,7 Barão do Melgaço 1953 128,7 Chapada dos Guimarães 1953 62,8 Cuiabá 1719 - Jangada 1989 72,6 Nobres 1963 142,0 Nossa Senhora do Livramento 1883 32,3 Nova Brasilândia 1979 194,6 Planalto da Serra 1993 253,8 Poconé 1831 94,8 Rosário Oeste 1833 124,0 Santo Antonio do Leverger 1899 34,0 Várzea Grande 1948 7,0 Fonte: SEPLAN – MT, 2005. 10 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário 2.1 PROCESSO METODOLÓGICO No desenvolvimento das atividades na Fase I (Quadro 1) ocorreram oficinas de sensibilização, mobilização e articulação, assim como a constituição do CIAT, ND e NT. A CIAT através do ND articulou-se politicamente com os CMDRS e as secretarias municipais de agricultura e com a Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado do Mato Grosso para estabelecer um arranjo político na implementação de ações de desenvolvimento territorial na Baixada Cuiabana. Na Fase II a qual se refere ao planejamento e gestão do desenvolvimento, realizou-se a oficina de gestão e planejamento territorial da CIAT e a oficina de concepção básica do desenvolvimento territorial. Assim como, os estudos propositivos , as linhas estratégicas do desenvolvimento territorial, modelo de gestão e elaboração de projetos setoriais e específicos. 2.1.2 Metodologia das Oficinas Quadro 1: Estratégia Metodológica de Apoio ao Desenvolvimento Territorial. FASES I - FASE DE II - FASE DE III- FASE DE SENSIBILIZAÇÃO, PLANEJAMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE MOBILIZAÇÃO E GESTÃO DO PROJETOS, CONTROLE ARTICULAÇÃO DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO Tempo total desde SETEMBRO DE 2003 A início AÇÃO DE APOIO – OFERTA MAIO DE 2004 A JUNHO JUNHO 2005 A MAIO DE 2004 2005 NOVEMBRO 2005 Oficina Nivelamento Oficina Planejamento e Oficina Gestão, Conceitual e Metodológico Gestão Territorial (CIAT) Monitoramento e (Estadual) Oficina Concepção Avaliação do Oficina Nivelamento Básica do Desenvolvimento Conceitual e Metodológico Desenvolvimento (Territorial) Territorial Rural Territorial Consultorias: Estudo Propositivo (FCR) 11 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário AÇÃO DE AUTO- Acordo territorial, Formação de grupos de Organização dos Arranjos Compromissos territoriais trabalho setores Institucionais; priorizados Articulação de Políticas Constituição dos CIAT’s, Aprofundar o Públicas; Núcleos Dirigente e conhecimento da Monitoramento e Operacional, realidade; Avaliação dos Programas Levantamento de Definição das linhas e Projetos. ORGANIZAÇÃO – e governamentais, DEMANDA Informações Preliminares. estratégicas do DT; Consultorias: PLANO Consolidar um modelo de SAFRA (Fundação gestão; Cândido Rondon) Elaboração de projetos setoriais e específicos. 2.1.3 Oficinas Realizadas Na Fase III e no 2° e 3° Ciclos (Quadro 2) foram realizadas seis oficinas e um curso como parte da estratégia da elaboração PTDRS. Ainda nessa fase a SDT/MDA discute nos territórios e também na Baixada Cuiabana a importância da educação do campo e o desenvolvimento territorial. Para tanto foi realizado um seminário estadual com as lideranças do setor. Quadro 2 – Atividades desenvolvidas durante a vigência do convênio FCR/SDT/MDA. ATIVIDADES LOCAL DATA Várzea Grande 08 a 10/06/05 Cuiabá 20 e 21/09/05 Várzea Grande 18 e 19/11/05 Cuiabá 16 e 17/11/06 Plano Safra Territorial da Baixa Cuiabana Território Nov/05 a Mar/06 Estudo Propositivo da Baixada Cuiabana Território 2004/2005 Cuiabá 23 e 24/11/05 Planejamento e Gestão Territorial (CIAT) (1ª Oficina da Fase II) Gestão, Monitoramento e Avaliação do Desenvolvimento Territorial Rural Sustentável (Fase III) Monitoria e Avaliação do PTDRS (1ª Oficina do 2° Ciclo) Seminário Estadual de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial Monitoramento das Ações Territoriais (Oficina 12 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário estadual) Monitoria e Avaliação do PTDRS (2ª Oficina do 2° Chapada dos Ciclo) Guimarães Monitoria e Avaliação do PTDRS (1ª Oficina do 3° Santo Antônio do Ciclo) Leverger Curso para Núcleos Diretivos e Técnicos das CIATs sobre gestão do PTDRS Monitoria e Avaliação do PTDRS (2ª Oficina do 3° Ciclo) 24 a 26/01/06 27 a 29/03/06 Cuiabá 04 a 07/04/06 Nobres 08 a 10/05/06 Por decisão em plenária do território a CIAT foi transformada em Conselho da Agricultura Família da Baixada Cuiabana (CONTAF-BC). Destaca-se como uma ação de relevância do CONTAF-BC a sua nucleação em três microrregiões, a saber: - Microrregião I: Acorizal, Jangada, Nobres e Rosário Oeste; - Microrregião II: Barão do Melgaço, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio do Leverger, Poconé e Várzea Grande; e - Microrregião III: Chapada dos Guimarães, Cuiabá, Nova Brasilândia e Planalto da Serra. Figura 1 : Microrregiões do território rural da Baixada Cuiabana Esse reagrupamento de municípios em microrregiões facilitou a participação e a discussão das ações territoriais, garantido as diversidades e 13 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário identidades locais. Bem como, facilitou a execução dos trabalhos do Projeto de Ações de Formação de Gestores Públicos Municipais em Desenvolvimento Territorial realizado em convênio com a OSCIP CREATIO. 2.2. INSTITUCIONALIDADE 2.2.1 CONTAF-BC Toda a estratégia de apoio ao desenvolvimento dos territórios rurais que está sendo implementada pela SDT/MDA desde 2003, está alicerçada na concepção de que o território rural deve se constituir em um espaço de integração, articulação e concertação da diversidade de atores sociais, identidades culturais, interesses políticos e políticas públicas que nele se manifestam. Cada território se caracteriza pela diversidade de visões e interesses que buscam construir espaços de concertação, onde ocorrem articulações, entendimentos e negociações. Este espaço deve ser um fórum privilegiado e se constituir numa nova institucionalidade, agora de âmbito territorial, onde seja garantida e legitimada a presença dos diversos atores sociais existentes no espaço do território. A Resolução no 52 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CONDRAF), de 16 de fevereiro de 2005, preconiza que as institucionalidades territoriais devem construir espaços nos quais “a gestão social do desenvolvimento territorial deve ser concretizada por meio de espaços de debate e concertação, com transparência e participação”. 2.2.2 Descrição do CONTAF-BC A configuração do CONTAF-BC é composta de 13 vagas para as Prefeituras Municipais, 13 para os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STR), 13 para os Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural (CMDR), uma vaga para a FETAGRI, uma para a EMPAER, uma para o INCRA e uma para a SEDER. Em 2005, ampliou-se a plenária com novas instituições: DFDA/MDA, UFMT, CREATIO, COORIMBATÁ, UNIC. Tal configuração tem demonstrado uma 14 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário dinâmica diferenciada nas discussões acadêmicas em torno das ações práticas do território. O Núcleo Diretivo não sofreu mudanças desde a sua constituição em 2004. Sendo constituído das seguintes instituições: Coordenação do STR de Várzea Grande, suplência da FETAGRI e secretaria do CMDR de Cuiabá e pela SEDER. O Núcleo Técnico em seu início foi constituído por técnicos da SEDER, EMPAER, FETAGRI, Prefeituras Municipais, INDEA, UNIVERSIDADES e INTERMAT. Em 2005, o NT foi ampliado com a presença de escolas Técnicas e outras Universidades (UFMT, UNIC) e ONG´s. 3. DIAGNÓSTICO O diagnóstico preliminar foi desenvolvido a partir de dados secundários junto a órgãos oficiais estaduais e federais, como IBGE, Ministério da Saúde, Ministério da Fazenda, Secretarias de Governo do Estado de Mato Grosso. Consta de informações sobre o perfil demográfico do território do Baixada Cuiabana, indicadores sócio-econômicos, aspectos quantitativos da produção agropecuária e da agricultura familiar, além de informações sobre as demandas e ofertas de políticas públicas orientadas para o desenvolvimento rural sustentável. A coleta de dados secundários foi complementada pela análise de documentos e diagnósticos já realizados sobre o território do Baixada Cuiabana. 15 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário 3.1 MAPAS Figura 2 - Territórios rurais no Brasil Fonte: SDT/MDA. Outubro/2006 Figura 3 - Brasil e Regiões 16 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Figura 4 - Estado do Mato Grosso com o território destacado 3.2 CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO 3.2.1 Identidade Segundo o Professor João de Medeiros Alves da UFMT, a história de Mato Grosso iniciou-se, em 1719, nas margens do rio Coxipó-Mirim, com a descoberta de ouro pelos homens que acompanhavam o bandeirante Pascoal Moreira Cabral. Com o sucesso da mineração e a necessidade de garantir para Portugal, a posse de terras além do Tratado de Tordesilhas, foi criado em 1748 a Capitania de Mato Grosso, sendo a primeira capital Vila Bela da Santíssima Trindade, na extremidade oeste do território colonial. Para trabalhar na mineração, chegaram, no século XVIII, em Mato Grosso, os primeiros escravos de origem africana. Como resistência à escravidão, as fugas foram constantes, sendo individuais ou coletivas, formando diversos 17 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário quilombos. Por ocasião da presença da capital "Vila Bela da Santíssima Trindade" a região do vale do rio Guaporé foi onde houve maior concentração dessas aldeias de escravos fugitivos. Como por exemplo, o quilombo do Piolho ou Quariterê, no final do século XVIII, localizado próximo ao rio Piolho, ou Quariterê, reuniu negros nascidos na África e no Brasil, índios e mestiços de negros e índios (cafuzos). José Piolho, provavelmente foi o primeiro chefe do quilombo. Depois, assumiu o poder sua esposa, Teresa. Fugidos da exploração branca, os habitantes do quilombo conviviam comunitariamente em uma fusão de elementos culturais de origem indígena e africana. Os homens caçavam, lenhavam, cuidavam dos animais e conseguiam mel na mata; as mulheres preparavam os alimentos e fabricavam panelas com barro, artesanato e roupas. Outros quilombos também foram organizados em terras mato-grossenses durante os séculos XVIII e XIX, podendo ser registrados aqui, apenas para exemplificar, os quilombos "Mutuca" e "Pindaituba", situados na Chapada dos Guimarães, os "Sepoutuba" e "Rio Manso", próximos a Vila Maria (atual Cáceres). A historiadora Elizabeth Madureira refere-se à organização de 11 quilombos em Mato Grosso, porém registra o pouco que ainda foi percorrido e pesquisado sobre o assunto. De acordo com o SEBRAE MT, a história da Baixada Cuiabana está alicerçada na comunidade de São Gonçalo Beira. Localizada na margem esquerda do Rio Cuiabá e pertence ao distrito do Coxipó da Ponte, na capital do Estado de Mato Grosso. Os moradores se orgulham de seus laços de parentesco e de um passado de mais de 270 anos de história. A vida em São Gonçalo nunca foi muito fácil. Enquanto o meio ambiente permitiu, seus moradores tiraram o sustento da natureza: os alimentos eram cultivados à beira do Rio Cuiabá, que também fornecia o peixe, a madeira apanhava-se em suas matas e o barro era tirado de suas barrancas. O pequeno excedente que geravam era vendido para a compra de sal, ferramentas e roupas. Tudo isso foi possível até a década de 1970. Como as atividades pesqueiras e agrícolas definharam, uma das alternativas foi o artesanato. Os ribeirinhos de São Gonçalo foram buscar na tradição de fazer cerâmica um modo de sobrevivência. Entretanto, pouco conhecedores dos mecanismos do mercado, não sabiam comercializar seus 18 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário produtos. O Estado encontrou nesse espaço um meio de ajudá-los. A proposta era que os ceramistas fizessem e levassem seus produtos a um local estabelecido, onde recebiam o pagamento antecipado. Ao Estado, caberia a divulgação do trabalho artesanal como marca identitária do povo mato-grossense. No final da década de 1990, tais produtos já não tinham tanta aceitação no mercado. Sobreveio nova crise. Sem qualificação técnica, como fazer? Acostumados a depender do Estado, como adquirir novos conhecimentos e disposição para enfrentar um mercado altamente competitivo? Como superar a inércia de longos vinte anos sob a “proteção” estatal? Como aprender a sair da comunidade com suas próprias pernas? Assim como o artesanato também foi com os produtos agrícolas. Com a modernização dos gêneros alimentícios, os agricultores familiares da Baixada Cuiabana perderam sua inserção no mercado. Segundo o Estudo Propositivo da SDT/MDA (2005) do território o antigo processo de colonização, todas as manifestações culturais típicas do povo matogrossense podem ser observadas na região, desde a culinária até a maneira de falar e a relação entre população e meio ambiente, sendo esta raiz histórica e cultural semelhante o grande fator de coesão interna do próprio território. É importante destacar ainda que a exploração do ouro e a produção agropecuária, executadas pelo trabalho escravo, fizeram com que os municípios da região possuam atualmente grande porcentagem da população formada por afrosdescendentes e de origem indígena. Este processo de colonização foi extremamente traumático para a população local tradicional. Índios e ribeirinhos foram constantemente expulsos de suas áreas a medida em que a fronteira agrícola avançava, incluindo também garimpos e outras formas de exploração, permanecendo apenas nas áreas de baixa fertilidade de solo. Muitos dos problemas hoje vividos pela agricultura familiar só podem ser analisados a luz destes acontecimentos (como, por exemplo, a baixa produtividade das áreas e os hábitos tradicionais de produção). A identidade cultural da população local pode ser caracterizada como o grande elemento que garante a coesão social no território. Esta forte ligação histórica entre os habitantes por um lado traz grandes possibilidades de desenvolvimento de ações conjuntas uma vez que a população local se reconhece como única. No entanto, de outro lado, a população deve lutar contra o 19 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário isolamento para outras regiões. Encontrar estratégias de desenvolvimento em conjunto com outros territórios e parceiros do estado e que respeitam a identidade histórica cultural da região deve ser o principal desafio a ser vencido na Baixada Cuiabana. 3.2.2 Contexto sócio-econômico Desde já é importante ressaltar a grande diferença existente entre os municípios de Várzea Grande e Cuiabá e o restante dos municípios em praticamente todos os itens apresentados. Assim, os índices médios não são uma boa referência para o completo entendimento da situação do território. Desta forma, sempre que necessário, os dados de Cuiabá e Várzea Grande serão apresentados em separado. A. Índices demográficos: a dimensão do rural no território da Baixada Cuiabana Analisando os dados sobre a população da Baixada Cuiabana, observa-se que o território ocupa somente 8,5% da área total do estado, mas possui 36,5% da população total. No entanto, a população não está igualmente distribuída nos municípios do território. Assim, em relação a população total, deve-se dividir a região em pelo menos três grupos. O primeiro grupo é formado por Cuiabá e Várzea Grande, possuindo a maior parte da população da região e a menor porcentagem de população rural: mais de 83% da população total e somente 1,55% da população rural presente no território. Estes municípios caracterizam-se por apresentar características urbanas, diferenciando-se dos demais. O segundo grupo é formado por municípios entre 10.000 e 30.000 habitantes, correspondendo a pouco mais de 13% da população total do território. Fazem parte deste grupo os municípios de Chapada dos Guimarães, Nobres, Nossa Senhora do Livramento, Rosário Oeste, Poconé e Santo Antônio do Leverger (média de 10.670 habitantes/ município). O índice de urbanização é variado, ficando acima de 55% em todos os municípios, com exceção de Santo Antônio do Leverger e Nossa Senhora do Livramento. Já o último grupo está formado pelos municípios de Acorizal, Barão de 20 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Melgaço, Jangada, Nova Brasilândia e Planalto da Serra, possuindo menos de 10.000 habitantes (média/município de 3.880 habitantes). Estes dois últimos grupos possuem em média uma relação população rural/população urbana muito próxima (cerca de 40% da população rural em relação à urbana). Considerando todos os municípios, o território possui somente 8% da população na área rural. No entanto, excetuando Cuiabá e Várzea Grande a população rural na Baixada Cuiabana passa a representar 40,02% da população total do território. A diferença entre estes dois municípios e os restantes também pode ser observada na densidade demográfica, ficando em média 223 habitantes/ Km2 em Cuiabá e Várzea Grande e somente 3,00 habitantes/ Km2 nos municípios restantes. Com relação ao índice de dependência, chama a atenção que todos os municípios do território, com exceção de Várzea Grande e Cuiabá, possuem índice maior do que a média do Estado (54,9%). Além disso, destaca-se o município de Jangada, com mais de 75% da população em situação de dependência. Este fato demonstra que nos municípios do território como um todo, e em especial em Jangada, existe uma quantidade grande de moradores que dependem de recursos externos para a sua manutenção. Este fato pode estar relacionado com o desinteresse de muitos jovens em permanecer no campo, fazendo com que a aposentadoria seja uma das principais fontes de recursos para os moradores do território, conforme destacado por diversos produtores entrevistados. A Tabela 2 apresenta os dados relativos à evolução da população total dentro do território da Baixada Cuiabana. Considerando todos os municípios observa-se que o território bem apresentando crescimento ligeiramente inferior ao crescimento do Estado de Mato Grosso. No entanto, quando Cuiabá e Várzea Grande são retirados, observa-se que a população da Baixada está praticamente estagnada, com muitos municípios apresentando fortes reduções na população, como Barão do Melgaço, Nova Brasilândia e outros com crescimento praticamente nulo (Acorizal, Nobres, Poconé, Santo Antônio do Leverger). 21 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Tabela 2. Evolução da população no território da Baixada Cuiabana entre 1996 e 2004. Município 1996 20041 2000 Variação Acorizal 5.993 5.817 6.024 0,52 Barão do Melgaço 7.852 7.667 6.806 -13,32 14.598 15.736 16.960 16,18 433.355 482.498 516.148 19,11 6.630 7.097 7.912 19,34 Nobres 15.266 14.942 15.339 0,48 Nossa Senhora do Livramento 10.899 12.141 12.812 17,55 Nova Brasilândia 5.938 5.786 Planalto da Serra 2.638 2.889 2.927 10,96 Poconé 30.595 29.970 31.144 1,79 Rosário Oeste 16.019 18.450 18.197 13,60 Santo Antonio do Leverger 15.314 15.431 15.453 0,91 Várzea Grande 193.401 214.842 237.067 22,58 a) Total do Território 758.498 833.266 891.931 17,59 b) Total sem Cuiabá e V. Grande 131742 135926 138716 5,29 2.235.832 2.504.353 2.699.950 20,76 Chapada dos Guimarães Cuiabá Jangada c) Total do Estado de Mato Grosso 5.142 -13,41 Fonte: SEPLAN, 2005. De forma geral, os dados sobre a população na Baixada Cuiabana reforçam o quadro de diferenças em Cuiabá e Várzea Grande, municípios com características urbanas e que vêm crescendo em número de habitantes, e os demais municípios, com características rurais, que vêm perdendo ou mantendo sua população estagnada ao longo dos anos. B. A pobreza no território da Baixada Cuiabana Em média, o território da Baixada Cuiabana possui Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) superior ao estado e ao país: 0,793 no território, 0,773 no Estado e 0,7666 no Brasil. No entanto, ao excluirmos os dois maiores municípios da região o IDH médio apresenta uma queda expressiva, indo de 0,793 para 0,697, menor do que a média do Estado de Mato Grosso e do Brasil. 22 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário A grande diminuição do IDH ao excluir Cuiabá é Várzea Grande se deve ao fato de serem os únicos municípios com índice superior a média do MT e do Brasil. Para estes municípios destaca-se o componente educacional na formação do índice. Deve-se ressaltar, no entanto, uma diferença entre estes dois municípios: o baixo valor do IDH Renda para Várzea Grande em relação à Cuiabá (0,692 no primeiro e 0,790 no segundo), demonstrando que parece haver problemas com relação à geração de renda em Várzea Grande. O componente do IDH que mais influencia negativamente na média do território é a renda. É este componente que apresenta as maiores diferenças em relação ao Estado e ao Brasil. Além disso, também é o componente que mais se diferencia entre todos os municípios do território e Cuiabá/Várzea Grande (diferença de 22% entre a média do território com e sem estes municípios). Em relação à porcentagem de domicílios em situação de pobreza1 também devem ser observados os dados de Cuiabá e Várzea Grande de forma isolada ao restante dos municípios. Excluindo estes municípios, observa-se que mais de 40% dos domicílios restantes se encontram em situação de pobreza, sendo os dois municípios com maior porcentagem Nossa Senhora do Livramento (46,7%) e Barão de Melgaço (44,5%). C. A economia do território da Baixada Cuiabana: a produção agropecuária e o setor formal urbano O território da Baixada Cuiabana é responsável por quase 50% da renda mensal total do Estado de Mato Grosso. No entanto, este valor não está igualmente distribuído nos municípios do território. Ao retirar Cuiabá e Várzea Grande, esta relação cai para somente 7,14%. O mesmo é observado em relação à renda per capita. Estes dois municípios possuem renda superior a média do Estado do MT, fazendo com que a média do território fique inclusive superior ao estado. No entanto, os demais municípios, sem exceção, apresentam renda per capita muito abaixo do Mato Grosso (63% menor). Estes valores explicam em parte o baixo IDH Renda identificado anteriormente nos municípios e demonstram ainda uma forte concentração de renda dentro do território. 1 Saneamento inadequado e cujos responsáveis têm renda de até 1 SM/mês e freqüentaram 23 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Com relação ao Valor da Produção Animal e Vegetal, observa-se que o território é responsável por somente 4,5% do valor produzido no Estado. Neste caso, os municípios que apresentaram maiores valores da produção são Chapada dos Guimarães, Poconé e Santo Antônio do Leverger. Estes municípios apresentaram, em media, produção com o valor de R$ 13.592.333,00/ ano (ainda considerada pequena em relação a população rural). Já os municípios que possuem o menor valor da produção são Barão do Melgaço, Jangada, Nova Brasilândia e Várzea Grande, com média de R$ 2.315.000,00/ ano. O restante dos municípios apresentou média de R$ 6.524.000,00/ ano. Mesmo considerando os municípios com maior VBP Animal e Vegetal, observas-se que a quantidade de riquezas geradas na área rural do território é muito pequena. De acordo com observações feitas e discussões em conjunto com atores locais, a baixa produtividade na região, a existência de produtos com baixo valor de mercado e a falta de beneficiamento da produção, aliados aos problemas de comercialização da produção, podem explicar em parte este quadro. Esta hipótese será melhor trabalhada posteriormente, quando serão apresentados os dados específicos da agricultura familiar. Os dados referentes ao número de trabalhadores nos municípios revelam que o território é responsável por 10,4% dos trabalhadores rurais do Estado e por 46% dos trabalhadores nas empresas formais urbanas. No entanto, os trabalhadores das empresas estão concentrados em Cuiabá e Várzea Grande. Retirando-se estes municípios do cálculo, o território fica responsável por somente 1,5% dos trabalhadores nas empresas. Estas informações comprovam que enquanto Cuiabá e Várzea Grande possuem características urbanas, estando sua economia baseada nesta área, o restante dos municípios depende diretamente do meio rural. Nestes municípios, para cada 27 habitantes, existe 1 trabalhador no setor formal urbano, enquanto que em Cuiabá e Várzea Grande esta taxa é de 4,8 habitantes para cada trabalhador urbano. Os dados das Tabelas 3 e 4 revelam que o município de Várzea Grande apresentou em 1996 uma quantidade reduzida de trabalhadores rurais em relação a população rural (cerca de 50 moradores na área rural para cada trabalhador rural). Mesmo o município de Cuiabá apresentou relação alta entre população rural e trabalhadores rurais. Isto significa provavelmente que muitos habitantes da 24 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário área rural de Várzea Grande não exercem atividade nesta área, trabalhando no centro urbano do município. Em média, mesmo considerando Cuiabá e Várzea Grande, existem cerca de 1,82 moradores das áreas rurais para cada trabalhador nesta área dentro da Baixada. Tabela 3. Relação entre a população rural e o número de trabalhadores rurais nos municípios da Baixada Cuiabana. Município População Trabalhadores Rural Rurais 3.213 Acorizal Relação entre População Rural e Trabalhadores Rurais 2.093 1,54 Barão do Melgaço 4.342 2.445 1,78 Chapada dos Guimarães 7.868 2.866 2,75 Cuiabá 6.452 2.324 2,78 Jangada 3.792 2.936 1,29 Nobres 3.738 3.478 1,07 Nossa Senhora do Livramento 7.302 4.762 1,53 Nova Brasilândia 1.965 980 2,01 Planalto da Serra 1.341 1.068 1,26 Poconé 8.331 3.591 2,32 Rosário Oeste 5.613 4.588 1,22 Santo Antonio do Leverger 10.164 2.672 3,8 Várzea Grande 15.282 309 49,46 Média do Território 79.403 34.112 2,33 Média sem Cuiabá e Várzea grande 56.253 30.937 1,82 Fonte: Adaptado de IBGE, 1996. Tabela 4. Relação entre a população urbana e número de trabalhadores nas empresas formais nos municípios da Baixada Cuiabana. Município População Urbana Trabalhadores Relação entre nas empresas População urbana e formais Trabalhadores formais Acorizal 2.780 26 106,92 Barão do Melgaço 3.510 98 35,82 Chapada dos Guimarães 6.730 817 8,24 426.903 136.415 3,13 2.838 140 20,27 Cuiabá Jangada 25 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Nobres 11.528 900 12,81 Nossa Senhora do Livramento 3.597 89 40,42 Nova Brasilândia 3.973 106 37,48 Planalto da Serra 1.297 33 39,30 Poconé 22.264 893 24,93 Rosário Oeste 10.406 400 26,02 5.150 1.724 2,99 Várzea Grande 178.119 24.678 7,22 Média do território 679.095 166.319 4,08 74.073 5.226 14,17 Santo Antonio do Leverger Média sem Cuiabá e Várzea grande Fonte: Adaptado de IBGE, 1996. Já a relação entre moradores da área urbana e trabalhadores nas empresas formais demonstra que de maneira geral, são necessários diversos moradores para a existência de um trabalhador. Além disso, Cuiabá influencia demasiadamente os dados da região. Os dados reforçam a importância do rural dentro do território. A tabela 5 apresenta os dados obtidos junto ao Sistema Nacional de Indicadores Urbanos (SNIU), especificando o orçamento de alguns municípios da Baixada Cuiabana. Apesar do SNIU não apresentar nos dados de 100% dos municípios do Estado, a tabela permite reforçar a discrepância entre os Cuiabá e Várzea Grande e os demais municípios do território, tanto em relação ao orçamento quanto em relação ao ICMS arrecadado e mesmo nos valores de repasse do Governo Federal. Tabela 5. Valores da receita orçamentária, arrecadação do ICMS e transferência de capital da União e Governo Estadual para os municípios da Baixada Cuiabana em 2000. Receita 1 Município Orçamentária (Reais) Acorizal 1.881.235,24 ICMS (Reais) Transferência de Capital (Reais) 302.125,77 0,00 Barão de Melgaço - - - Chapada dos Guimarães - - - 354.592.046,89 59.895.717,37 11.041.250,55 2.815.036,31 490.034,47 260.000,00 Cuiabá Jangada 26 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Nobres 6.849.829,08 2.400.710,94 50.000,00 Nossa Senhora do Livramento 3.586.568,00 418.406,00 1.296,00 Nova Brasilândia 5.396.446,21 525.339,36 471.000,00 11.163.357,86 1.466.802,28 1.101.851,24 Rosário Oeste 7.079.767,05 867.375,37 454.873,80 Santo Antônio do Leverger 7.334.872,10 1.198.836,69 1.483.444,21 96.156.107,00 14.235.687,74 21.955.566,00 1.195.621.605,77 296.096.236,40 86.847.611,42 41,56 27,63 42,40 Planalto da Serra Poconé Várzea Grande Total do território (a) Total do Estado (b)2 a/b Fonte: SNIU, 2005. 1. Só foram obtidos dados referentes a 10 municípios. 2. Considerou-se 88 municípios no Estado. D. Características gerais da atividade agropecuária Com relação a distribuição da área dentro da Baixada Cuiabana, não existem grandes diferenças entre os municípios. Em geral, os municípios destinam menos de 1% da sua área para as culturas permanentes. A área destinada para as culturas temporárias possui variação um pouco maior. Municípios como Jangada, Nobres, Acorizal, Chapada dos Guimarães, Planalto da Serra e Santo Antônio do Leverger destinam entre 1 a 5,5% da área para estas culturas. O restante possui menos de 1% da área destinada a este tipo de cultura. A pastagem também está bem distribuída nos municípios, variando de 25 a 50% da área. A área de floresta fica em torno de 20% dos municípios (área de cerrado). Os dados sugerem que a pecuária pode estar representando um papel importante na região em detrimento das lavouras. Além disso, chama a atenção a pequena porcentagem de área de florestas no território. Considerando os dados gerais do Estado do Mato Grosso e da Baixada Cuiabana, observa-se que o território possui características muito próximas às características médias do Estado: poucas áreas de culturas permanentes, áreas um pouco maiores para culturas temporárias, grandes áreas destinadas para pastagens (com a exceção de que na Baixada Cuiabana estas áreas são predominantemente de pastagens naturais, ao inverso do que ocorre no Estado, 27 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário onde o predomínio é de pastagens plantadas), poucas áreas destinas para descanso ou sem utilização. A maior diferença entre as características médias do Estado e da Baixada Cuiabana pode ser observada com referência a área de matas e florestas nativas, uma vez que enquanto a média do Estado é de 43%, na Baixada é de somente 23,69%, indicando que provavelmente grande parte do cerrado da região já se transformou em pastagens ou foi derrubada para o crescimento das cidades, principalmente Cuiabá e Várzea Grande. Os dados referentes a área dos estabelecimentos nos diferentes municípios revelam que, em média, mais de 50% dos estabelecimentos rurais do território possuem menos de 50 hectares. Dentro desta média encontram-se municípios como Acorizal, Barão do Melgaço, Cuiabá, Jangada, Rosário Oeste e Várzea Grande. Destacam-se ainda os municípios de Chapada dos Guimarães, Poconé e Planalto da Serra, que possuem mais de 50% dos estabelecimentos com mais de 100 hectares. Comparando os dados médios do território com os dados do Estado de Mato Grosso, observa-se que existem duas diferenças grandes: a maior porcentagem de estabelecimentos com até 10 hectares (19,8% no território e 12,4% no Estado) e a menor porcentagem de estabelecimentos entre 50 e 100 hectares (13,5% no território e 18,8% no Estado). No entanto, estes dados são muito diferentes dos dados de Santa Catarina. Neste estado, mais de 65% das propriedades possuem até 20 hectares e somente 0,7% mais de 500 hectares (estas porcentagens são de 30,4% e 16,5% na Baixada Cuiabana). Quando são analisandos os dados referentes a área ocupada pelos diferentes estabelecimentos fica demonstrada a grande concentração de terras dentro do território. Conforme apresentado na Tabela 6, enquanto os estabelecimentos com até 100 hectares representam mais de 60% do número total, eles ocupam somente pouco mais de 2,00% da área do território. Por sua vez, os estabelecimentos com mais de 100 hectares são cerca de 37% do total e ocupam mais de 97% da área do território. 28 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Tabela 6. Número de estabelecimentos e área ocupada nos municípios do território da Baixada Cuiabana. Até 100 hectares Mais de 100 Municípios % do Número total de Estabelecimentos % da Área Total % do Número total de Estabelecimentos % da Área Total Acorizal Barão do Melgaço Chapada dos Guimarães Cuiabá Jangada Nobres Nossa Senhora do Livramento Nova Brasilândia Planalto da Serra Poconé Rosário Oeste Santo Antônio do Leverger Várzea Grande 76,79 73,53 38,66 73,35 88,55 76,27 56,59 48,09 30,77 36,83 64,18 53,32 84,29 9,76 1,10 2,71 7,13 10,23 12,43 4,94 2,61 1,65 0,88 4,07 0,77 5,16 23,21 26,47 61,34 26,65 11,45 23,73 43,41 51,91 69,23 63,17 35,82 46,68 15,71 90,24 98,90 97,29 92,87 89,77 87,57 95,06 97,39 98,35 99,12 95,93 99,23 94,84 Média do Território Fonte: Adaptado de IBGE, 1996. 62,15 2,87 37,85 97,13 Existem no território da Baixada Cuiabana cerca de 8.500 famílias assentadas pela Reforma Agrária (incluindo projetos administrados pelo INCRA, INTERMAT e projetos Casulos). Estas famílias estão presentes em 104 projetos de assentamentos. Os municípios que mais possuem famílias assentadas são Rosário Oeste, Nobres, Nossa Senhora do Livramento, Poconé e Santo Antônio do Leverger. Planalto da Serra, Barão de Melgaço e Nova Brasilândia são os municípios com menor quantidade de projetos de assentamento e famílias assentadas. A Tabela 7 apresenta a lista completa dos assentamentos do território da Baixada Cuiabana, especificando o nome dos PAs e o número de famílias assentadas. Deve-se chamar a atenção que os dados foram obtidos diretamente junto ao INCRA mas foram encontradas algumas incoerências, como duplicidade de PA listado com diferentes números de famílias assentadas. 29 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Tabela 7. Número total de famílias assentadas no território da Baixada Cuiabana. Município No. de PA Média de Assentados/ PA Nome do PA No. de Famílias Acorizal 4 159,50 Águia Baús Beira Rio Perdiz 191 50 264 133 Barão de Melgaço 1 144,00 Acorizal 144 Chapada dos Guimarães 3 133,00 Barra do Ribeirão Jangada Roncador Quilombo 28 260 111 Cuiabá 6 139,33 Aguaçu Pai Joaquim Pedra Noventa Serra das Laranjeiras Três Barras Tucum 35 97 500 43 65 96 Jangada 8 90,75 Canoa Furada Girassol Paredão Ribeirão das Pedras Rio Cuiabá Samambaia Tira barro Vida Nova 22 308 69 28 9 46 45 199 Nobres 4 238,50 Coqueral Quebó Novo Horizonte Sela Dourada Serragem 728 25 128 73 Nossa Senhora do Livramento 22 47,55 Aterrado Barreiro e Caninana Brumado do Livramento Buriti do Atalho Campinas I Campo Alegre de Baixo Carrapatinho e Limoeiro Cascavel Coxos Estrela do Oriente Figueiral Francisco J.Nascimento Furnas do Livramento Jacaré Lajinha de Cima Nova Esperança Pai André Pedra Branca 24 59 24 31 15 54 43 96 96 80 74 103 24 49 64 60 26 18 30 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Quilombo I Santana Sucuri Volta do Bananal 34 44 15 13 Nova Brasilândia 2 126,00 Fica Faca Santa Rosa 107 145 Planalto da Serra 1 17,00 Vinagre Lote 31 17 Poconé 13 56,15 Agroana/ Girau Água Vermelha Campo Limpo Capão Verde I Colônia Figueira I e II Furnas do Buritis João Ponce de Arruda Matadouro Morro Cortado Pantanalzinho Piuval Santa Filomena Xafaris 273 55 50 14 33 28 52 41 49 17 20 79 19 Rosário Oeste 26 63,96 Bakari Belga Bororo Cachoeirinha Canário Cardeal Chapadão Curió Forquilha do Rio Arruda Forquilha do Rio Manso João de Barro Kadvel Karajás Mandiocal Nossa Senhora da Esperança Pavão Praia Rica Raizama Santa Helena III Soco Tamoio Tijuca Tucano Tupinambé Xavante I Xodoro 7 117 50 70 7 23 72 17 167 17 45 81 37 55 17 76 6 14 17 78 Barra do Arica Berrando Alto brejinho Brejinho III 30 100 60 30 Santo Antônio do Leverger 11 114 368 29 19 63 97 31 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Fazenda Pantanalzinho Morro Grande Pontal da Glória Resistência Ribeirão da Glória Santana do Taquaral Vale São Vicente Várzea Grande 3 Total 104 Total no Estado de MT 457 A/B 22,76 Fonte: INCRA, 2005. 110,33 Dorcelina Folador Nossa Senhora Aparecida I Sadia III 102 170 40 139 100 120 38 97 76 40 140 151 8.566 77.520 11,05 Os assentamentos realizados na Baixada Cuiabana representam 22,76% dos assentamentos realizados no Estado de MT, sendo que possuem 11,05% das famílias assentadas no estado. Com relação ao número de famílias/ projeto, chama a atenção a quantidade de famílias assentadas em Nobres (cerca de 238 famílias/ projeto de assentamento, devido a existência de um grande projeto – Coqueiral Quebó). Em média, cada assentamento do território possui 102 famílias – no entanto existe muita variação dentro dos municípios. E. Análise Sistêmica A análise sistêmica demonstrou que os subsistemas do território apresentam baixa complexidade. A produção está centrada em alguns poucos sistemas de produção principais, com pouca relação entre si. A transformação dos produtos ainda é bastante reduzida e a comercialização centralizada em poucos agentes. Destaca-se, no entanto, a presença marcante dos atravessadores, desempenhando um papel central de ligação entre os diferentes subsistemas. A seguir serão discutidos aspectos específicos de cada subsistema. E.1 Subsistema de Produção O Subsistema de Produção pode ser caracterizado através de algumas atividades principais: a produção de mandioca, hortaliças, gado de leite e gado de corte, além da produção de cana de açúcar. Outros sistemas de produção, como 32 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário banana, abacaxi e caju e outras frutas aparecem pontualmente em alguns municípios e ainda sim na grande maioria das vezes como complemento de renda. Estes sistemas de produção não estão totalmente articulados. Com exceção da produção de leite e animais para o corte, presente em praticamente todas as propriedades (garantindo a renda diária dos produtores), os produtores não possuem grande diversificação da produção. Geralmente a cultura da mandioca prevalece sendo que os demais produtos são destinados ao autoconsumo e o excedente destinado para a venda. Um ponto importante é que a produção de mandioca está fortemente associada pelos consumidores com os municípios da Baixada Cuiabana. Os dados sócio-econômicos apresentados comprovam que os produtores encontram-se atualmente descapitalizados e sem capacidade de investimento. Chama a atenção que alguns municípios com grande quantidade de assentados e de agricultores familiares possuem dificuldade de acesso ao crédito (Nobres e Jangada, por exemplo, foram alguns dos municípios que menos acessaram recursos do PRONAF em 2004). Este fato pode ter origem na falta de títulos da terra, desarticulação dos produtores ou mesmo devido a problemas de inadimplência. Grande parte dos produtores está desarticulada. Não há iniciativas conjuntas de produção, transformação ou distribuição dos produtos. Também não existem grandes cooperativas de produtores que sirvam de exemplos na região (foram citadas apenas 2 cooperativas no território). Esta desorganização traz prejuízos diretos para os produtores uma vez que de forma isolada torna-se difícil garantir a produção padronizada em quantidade e qualidade durante o ano, havendo grandes perdas em relação ao preço final do produto. De acordo com alguns entrevistados, atualmente o preço da farinha de mandioca encontra-se abaixo da média justamente pelo aumento exagerado e descontrolado da produção. Também foi citada a tentativa de criação de uma cooperativa no município de Rosário Oeste para organizar a produção e o beneficiamento da mandioca (fecularia). No entanto, exigências relacionadas a área mínima de plantio de mandioca está impossibilitando a participação de grande parte dos agricultores familiares na região. 33 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Uma atividade extremamente importante para a região é o turismo. Alguns municípios, tais como Poconé ou Chapada dos Guimarães possuem uma imagem fortemente ligada a esta atividade. No entanto, atualmente a agricultura familiar está excluída dos benefícios do turismo. Algumas iniciativas para inserir os agricultores nesta atividade estão sendo desenvolvidas mas ainda em caráter pontual (cursos de capacitação). Neste sentido, é fundamental definir com mais precisão como a agricultura familiar poderá ser inserida nesta atividade (feiras, artesanatos, visitas, alojamentos etc.), para então desenvolver as capacitações e investimentos em infra-estrutura necessários. Com respeito ao sistema de produção de leite, observou-se a falta de infraestrutura básica de produção. Animais não adaptados a produção de leite associados à má qualidade dos pastos resulta em uma produção direcionada prioritariamente para autoconsumo, com pequeno excedente sendo vendido. Além disso, a criação de bezerros e animais de corte torna-se um complemento importante para a renda dos produtores. Estas atividades funcionam como geração de renda contínua aos agricultores da região, mas não são capazes de mantê-los. Um ponto extremamente importante e que foi mencionado é que cada vez menos os jovens participam das atividades agropecuárias. Foi preocupação constante de muitos entrevistados o abandono dos jovens do meio rural. As principais razões citadas que levariam os jovens a este comportamento seriam a baixa renda obtida com a atividade agropecuária, a falta de educação básica e técnica no meio rural e o desprestígio da atividade agropecuária. Já com respeito ao papel das mulheres na produção, observou-se que, apesar de ainda desempenham um papel considerado secundário pelos agricultores secundário, já existem no território iniciativas para aumentar a participação e o reconhecimento das mulheres. Alguns municípios já contam com Associações específicas de mulheres. Trata-se de uma iniciativa que deve ser estimulada no território. Alguns entrevistados citaram duas medidas consideradas como fundamentais e que estão diretamente relacionadas com o Subsistema de Produção: o mapeamento preciso da produção, identificando os principais grupos produtores dentro de cada municípios e a organização destes grupos de produtores, muito embora os entrevistados não tenham explicitado arranjos específicos da produção. 34 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário E.2 Subsistema de Transformação Considerando as duas principais cadeias de produção do território identificadas (mandioca e hortaliças), pode-se observar um baixo nível de transformação dos produtos da agricultura familiar. Grande parte dos produtos é vendida in natura, sem sofrer qualquer processo de industrialização ou agregação de valor. A produção de leite não é industrializada dentro do território, sendo transformada em laticínios localizados principalmente na região de Diamantino. Ressalta-se que parte da produção de leite também é distribuída diretamente aos consumidores. O mesmo foi observado com respeito a produção de carne: os produtores vendem o produto diretamente aos supermercados (abate ilegal). Apesar de existir um frigorífico em Várzea Grande, ele não atende especificamente a agricultura familiar. Com respeito a mandioca, apesar de muitos produtores fabricarem a farinha de mandioca na propriedade, as embalagens não são adequadas para serem destinadas diretamente ao consumidor final. O produto é vendido geralmente em sacos de 45 Kg, enquanto o consumidor procura pequenas embalagens de 1 Kg. Desta forma, um atravessador geralmente adquire o produto e embala. De acordo com alguns entrevistados, este processo gera um acréscimo de mais de 100% no preço da farinha de mandioca. Produtores que encontram nichos de mercado específicos (venda direta para restaurantes ou bares de Cuiabá e Várzea Grande) também conseguem obter este nível de preço. Existem casos pontuais de agroindústrias que beneficiam parte da produção do território, como a despolpadeira localizada em Jangada ou a fábrica de balas de banana em Nossa Senhora do Livramento. Além disso, chama a atenção a importância do beneficiamento caseiro de frutas realizado por grande parte dos produtores (fabricação de doces). E.3 Subsistema de Comercialização A comercialização no território da Baixada Cuiabana é feita basicamente dentro dos dois principais pólos urbanos: Cuiabá e Várzea Grande. Se por um lado estes pólos concentram grande parte da população do Estado, por outro o 35 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário comércio de alimentos é feito de forma extremamente concentrada (foram citados 2 grandes mercados nestes municípios). Um problema citado por muitos entrevistados foi a colocação de produtos de outros Estados nestes centros comerciais a um preço mais competitivo do que os produtos da Baixada Cuiabana – este fato se deve as grandes compras feitas por estes centros de distribuição e ao baixo custo de frete de retorno dos caminhões que distribuem carne para outros Estados. Já o comércio nos municípios menores se encontra extremamente fragilizado: faltam espaços físicos adequados para distribuir os produtos, falta organização da produção de maneira a facilitar o comércio e a população consumidora nestes municípios é de baixa renda. Algumas medidas no sentido de organizar as feiras municipais estão sendo realizadas, mas ainda com caráter muito tímido. Um exemplo que demonstra a falta de organização deste setor é o fato de que os comerciantes dos municípios menores precisam adquirir os produtos alimentícios em Cuiabá para revender nas cidades, gerando acréscimo de custo. É importante destacar que o comércio interno no território, apesar de limitado, é importante para a circulação de recursos dentro dos municípios. A atual desarticulação interna traz prejuízos diretos aos produtores. Foram citados, por exemplo, a venda dos produtos da agricultura familiar oriundos dos municípios da Baixada Cuiabana para Cuiabá e Várzea Grande para depois serem repassados novamente aos municípios, a um custo muito superior, demonstrando incoerência dentro do Subsistema. 3.2.3 Institucionalidades A. Ambiente institucional de apoio Foram identificadas diversas instituições que realizam trabalhos de apoio à agricultura familiar dentro do território da Baixada Cuiabana, a saber: Escola Técnica de São Vicente; Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais; SEBRAE; Universidades (UFMT e UNIVAG); FUNDAPER/ EMPAER; Associação Mato-grossense dos Municípios; CONSAD; ONGs; CPT; Cooperativas (COMPRUP e COORIMBATÁ); Governo. A seguir será feita uma 36 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário breve descrição do tipo de serviço realizado por cada instituição. A EMPAER atua através de programas de extensão rural, principalmente o programa Vida Nova, cujo principal objetivo é resgatar a qualidade e a quantidade de alimentos destinados ao autoconsumo nas propriedades rurais. O programa envolve financiamentos para a estruturação de pequenos sistemas de produção em torno do domicílio do agricultor e a realização de capacitações. Atualmente o programa Vida Nova estruturou propriedades modelos nos municípios, sendo a próxima etapa a divulgação e difusão das tecnologias. A meta do programa é atingir famílias em praticamente todos os municípios do território. Com respeito a outras ações da EMPAER, foram constantes as críticas relacionadas à falta de recursos humanos e estrutura de trabalho. O sistema atual de assistência ao crédito (2 visitas anuais) também foi motivo de crítica por parte dos agricultores. O SEBRAE atua principalmente através dos Arranjos Produtivos Locais, cujo foco na região está centrado nas áreas de confecção, móveis, piscicultura, artesanato, desenvolvimento de empreendedorismo, turismo de negócios, flores tropicais e folhagens e varejo competitivo. De todos estes eixos de ação, somente a piscicultura, artesanato e a produção de flores possuem como público alvo específico agricultores/produtores familiares da região. Os projetos também estão centrados em sua maioria nos municípios de Cuiabá e Várzea Grande. Duas universidades dentro do território, Universidade de Várzea Grande e Universidade Federal de Mato Grosso, realizam projetos específicos de capacitação e pesquisa na região. Deve-se destacar que alguns produtores entrevistados citaram que estes trabalhos pouco agregam diretamente aos agricultores familiares – geralmente os resultados das pesquisas ou dos trabalhos realizados não são compartilhados com os produtores. Observa-se um grande potencial de envolvimento das universidades, muito embora as atividades de extensão ou as pesquisas de campo estejam relacionadas muito mais com iniciativas individuais de docentes do que uma política definida de tais órgãos. Também foram observadas ações importantes da Associação MatoGrossense de Municípios (AMM). Estas ações geralmente concentram-se em capacitações e assessoria a prefeitos e secretários municipais. A articulação e envolvimento político da AMM poderá viabilizar alguns projetos importantes para a região. Além da AMM, foi criado o Conselho de Segurança Alimentar e 37 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Desenvolvimento Local. O CONSAD possui atualmente dois projetos dentro do território, relacionados com a agroindustrialização e estruturação de uma re solidária de comercialização – estas ações podem e devem ser articuladas com as ações de desenvolvimento territorial. Foram identificadas ainda duas cooperativas com trabalhos relevantes para o território, apesar de pontuais. A COORIMBATÁ é uma cooperativa criada em 1997, com sede no município de Várzea Grande-MT. Atua nas áreas de pesca artesanal, artesanato, produção, industrialização e pesquisa cientifica. Conta atualmente com 38 cooperados, sendo a maioria composta por pescadores e artesãos com baixo nível de escolaridade. Apesar da ação discreta, a COORIMBATÁ inova na sua gestão, uma vez que congrega produtores e professores universitários, relacionando pesquisa e produção rural. Ressalta-se que, no entanto, esta forma de gestão foi considerada por alguns entrevistados como sendo “artificial”. A COMPRUP – Cooperativa Mista dos Produtores Rurais de Poconé foi criada em 1994, através da união de 20 associações de produtores rurais, tendo assessoria da CPT. A cooperativa baseou sua ação na industrialização e comercialização dos produtos (principalmente cana de açúcar, banana, abacaxi, farinha de mandioca, rapadura, melado e doces). No entanto, problemas na regularidade e qualidade da produção comprometeram os resultados finais. Apesar de alguns benefícios gerados, a cooperativa ainda não conseguiu atingir grande parte da população rural da região. Atualmente possui 150 cooperados. É interessante destacar que existem outras instituições com trabalhos no território: algumas ONGs (Instituto Centro de Vida, Instituto Creatio, Alternativa Consultoria) e a Comissão Pastoral da Terra foram citados por alguns entrevistados. Estes trabalhos baseiam-se geralmente na capacitação de produtores e/ou em técnicas comunitárias de comercialização de produtos (como, por exemplo, a horta comunitária existente em Chapada dos Guimarães sob coordenação da CPT). No entanto, ainda é necessário um mapeamento mais detalhado destas instituições no sentido de identificar sua área de atuação e a contribuição que poderiam ter em programas mais amplos de desenvolvimento. Outras instituições e suas principais ações: - Escola Técnica de São Vicente: a escola de formação técnica de Cuiabá 38 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário atua principalmente no ensino, pesquisa e extensão rural. Destaca-se como a única escola técnica do território. - Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais: atua através de projetos de capacitação diretamente com produtores e produtoras rurais. Desenvolve trabalhos específicos de reconhecimento do trabalho das mulheres na produção rural e capacitação de jovens. Através também dos Sindicatos, outros projetos estão sendo implementados no território, como a parceria com o Ministério da Saúde para implementar ações de Educação em Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos com enfoque na igualdade de gênero – esta ação irá atender 5 municípios do território (Acorizal, Chapada dos Guimarães, Jangada, Nossa Senhora do Livramento e Santo Antônio do Leverger), sendo baseada na capacitação de dirigentes sindicais, lideranças comunitárias, agentes comunitários de saúde e conselheiros (as). De maneira geral, observou-se que as instituições de apoio realizam importantes trabalhos pontuais mas que, isoladamente, não estão resultando em mudanças significativas na realidade total dos agricultores da região. É necessário definir um eixo comum, envolvendo são apenas cadeias específicas ou segmentos dos subsistemas, mas sim todo o complexo formado pela produção/ transformação/ comercialização. Além disso, observa-se em alguns momentos, duplicidade de ações, como por exemplo, a proposta do CONSAD e a proposta da Central de Abastecimento em Cuiabá. Muitos entrevistados destacaram ainda a importância do envolvimento do INDEA nas ações de desenvolvimento rural. Atualmente, de acordo com os entrevistados, este órgão se mantém fora das discussões sobre o desenvolvimento da Baixada Cuiabana, atendo-se unicamente a fiscalização dos produtos de origem animal. Sendo eminentemente um órgão relacionado à inspeção e qualidade dos produtos de origem animal, seu envolvimento foi considerado fundamental (mesmo porque muitas das ações desejadas pelos atores para o território passam pela industrialização dos produtos da agricultura familiar, o que está diretamente relacionado a área de atuação do INDEA). É importante frisar ainda que muitos entrevistados citaram as dificuldades para a obtenção de crédito. De acordo com estes entrevistados, a obtenção do PRONAF A não é problemática, o que não ocorre com os demais tipos de 39 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário financiamento. As dificuldades se devem principalmente, para os entrevistados, ao despreparo dos funcionários do Banco do Brasil e a falta de sincronia entre a obtenção do financiamento e o tempo adequado para o plantio (fazendo com que muitas vezes os financiamentos sejam viabilizados em épocas ruins para a agricultura). A Tabela 8 apresenta as principais instituições de apoio identificadas no território, bem como alguns pontos fortes e limitações observadas (foram apenas colocadas as instituições mais citadas pelos entrevistados). Tabela 8 - Principais instituições de apoio identificadas, principais potencialidades e limitantes para sua ação. Instituição Pontos Fortes Observados Possibilidade de articulação entre Pesquisa e Extensão. Grande número de acadêmicos que podem ser envolvidos em projetos de desenvolvimento rural (corpo técnico). Corpo docente qualificado e interessado nas questões práticas do desenvolvimento. Falta de recursos específicos para a extensão universitária. Falta de planejamento para ações conjuntas e coordenadas entre as diversas faculdades para ações mais efetivas. Pouco envolvimento dos produtores nas ações desenvolvidas. Formação técnica e estrutura instalada. Articulação direta com agentes governamentais. - Falta de recursos humanos e materiais. Descrença por parte dos produtores. - Visão territorial já bem definida. Possibilidade de envolvimento e articulação com prefeitos e secretários. - Falta de envolvimento dos produtores. - Possibilidade de trabalhar o empreendedorismo e a visão de negócio. - Ação restrita. Falta de foco definido na agricultura familiar. - Órgãos verdadeiros de representação dos agricultores. Relativa capacidade de mobilização dos produtores. Universidades - EMPAER - AMM e CONSAD SEBRAE Sindicatos e Associações dos Trabalhadores Rurais Limitações Observadas - - - - Ações pontuais de sucesso relativos à capacitação e comercialização de produtos. - Envolvimento político das - - ONGs, CPT CONSAD - Falta de proposta definida de desenvolvimento rural. Pouco diálogo efetivo com a base (falta estrutura para efetivar este diálogo). Pouca capacidade de expansão. Falta difusão dos resultados para estimular o debate e a reflexão no restante do território. Pouco envolvimento. 40 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário prefeituras - Necessidade de envolver todos Capacitação para agroindústrias os municípios do território. e agregação de valor Fonte: Estudo Propositivo do território da Baixada Cuiabana, 2005. - 3.3 ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE SISTÊMICA E DA QUALIDADE DE VIDA DO TERRITÓRIO 3.3.1 Aspectos básicos sobre o capital social no território da Baixada Cuiabana. A. Aspectos metodológicos Para a análise do capital social foram realizadas entrevistas semi estruturadas com diversos atores do território. Para cada entrevistado foi elaborada uma lista de tópicos para discussão, lista relacionada à área de atuação do entrevistado. Os principais pontos citados durante a entrevista foram transcritos e categorizados em alguns itens, a saber: sobre a participação dos agricultores; sobre os órgãos de representação dos agricultores; participação de jovens e mulheres; envolvimento com a discussão do território; percepções sobre o subsistema de produção, sobre o subsistema de transformação, sobre o subsistema de comercialização e propostas de desenvolvimento para o território. Foram entrevistados líderes sindicais, representantes governamentais e de instituições de apoio à agricultura familiar, além de serem realizadas visitas a dois municípios do território para entrevistas com produtores rurais da região, conforme a Tabela 9. Tabela 9. Lista de atores entrevistados para avaliação do capital social e complementação das informações secundárias. Classes - Líderes Sindicais - Órgãos governamentais - Instituições de apoio Entrevistados Presidentes dos STRs de Várzea Grande, Acorizal, Nossa Senhora do Livramento e Chapada dos Guimarães. Delegado do MDA; Secretário Adjunto da SEDER; Técnicos da SEDER (2); Superintendência da Baixada Cuiabana – SEDER. Docente da Universidade Federal de Mato Grosso; 41 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Associação Mato-grossense de Municípios. - Conselhos Municipais Cuiabá - Visita a produtores dos municípios Acorizal e Jangada. Fonte: Estudo Propositivo do território da Baixada Cuiabana, 2005. A análise do capital social no território está dividida em 2 pontos fundamentais: o espaço de participação e trabalho dos órgãos de representação dos produtores e o envolvimento dos produtores nas questões sobre o território. Espera-se com isso avaliar não apenas as oportunidades de participação dos trabalhadores rurais nas decisões políticas referentes ao desenvolvimento territorial, mas acima de tudo como vem sendo exercida esta participação. Com respeito aos órgãos de representação dos produtores, destacam-se 3: os conselhos municipais de desenvolvimento rural (CMDR), os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e as Associações de Produtores. Todos os municípios possuem CMDRs mas, de acordo com alguns entrevistados, estes não possuem ação estratégica, estando ainda demasiadamente relacionados aos prefeitos ou secretários de agricultura, não funcionando de forma independente. Além disso, foram citados problemas relacionados com a representatividade dos produtores, centralizada historicamente nos mesmos indivíduos. Foram relatadas a realização de atividades de capacitação para os dirigentes dos conselhos, mas, segundo os entrevistados, ainda não acarretaram em mudanças significativas de comportamento. Com respeito aos STRs e Associações, alguns entrevistados relataram o não repasse de informações aos produtores. De acordo com os presidentes dos STRs entrevistados, o diálogo com a base é muito precário, sendo um dos motivos a falta de recursos financeiros ou materiais que viabilizem o diálogo constante entre sindicato e trabalhadores rurais. Disto resulta, para grande parte dos entrevistados, a dificuldade de união dos atores da Baixada na construção de um projeto em conjunto. Com referência as associações, apesar de haver um grande número de entidades, não há ação efetiva na direção da organização da produção. Alguns produtores, ao serem indagados sobre o que faziam nas associações, não souberam responder ou indicaram que a associação não possuía nenhuma ação específica. Alguns STRs se articularam com as associações trazendo a discussão 42 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário sobre a produção para dentro do ambiente sindical. Apesar de pontuais, estas experiências podem trazer vantagens aos produtores principalmente por facilitar a organização da produção. Outro ponto pesquisado foi o nível de participação dos produtores tanto na produção quanto na vida cotidiana. Neste sentido, os entrevistados relataram que existe um sentimento de descrença com formas cooperativas de trabalho, sentimento este devido principalmente a projetos executados na região e que não obtiveram êxito (citaram como exemplos uma cooperativa de crédito e projetos relacionados ao caju, entre outros). Esta descrença dificulta a mobilização dos produtores e, conseqüentemente, a própria organização da produção. Observou-se que a discussão sobre o território não chegou à base. Nenhum produtor entrevistado nos dois municípios visitados conhecia os trabalhos que estavam sendo realizados. Desta forma, toda a discussão sobre os projetos e a construção do Plano de Desenvolvimento para o território está centralizada nos líderes sindicais. Mesmo havendo forte ligação cultural entre todos os habitantes do território da Baixada Cuiabana é fundamental um envolvimento maior dos produtores nas decisões, garantindo assim a coesão dentro dos projetos e da proposta de desenvolvimento territorial. Os relatórios das oficinas de capacitação do MDA demonstraram que foram programadas reuniões e assembléias com os produtores, o que não deve ter ocorrido. B. Quadro Resumo A Tabela 10 apresenta o resumo com as principais considerações sobre a agricultura familiar no território da Baixada Cuiabana. Nesta tabela são apresentadas as informações consideradas prioritárias até o presente momento. Estas informações serão utilizadas diretamente para a construção das propostas de desenvolvimento no território da Baixada Cuiabana. Tabela 10. Principais informações identificadas nas análises dos dados primários e secundários no território da Baixada Cuiabana. Variáveis Índices demográficos Principais Pontos Observados ¾ ¾ Território ocupa pequena área do Estado, mas concentra mais de 38% da população. Grandes diferenças entre os municípios de Cuiabá e Várzea Grande e os 43 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário ¾ ¾ Indicadores da pobreza ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ A economia do território ¾ ¾ ¾ ¾ Educação ¾ ¾ ¾ ¾ Características do setor agropecuário ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ Agricultura familiar Capital social ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ ¾ restantes. Estes dois municípios apresentam características essencialmente urbanas. No entanto, a sua parte rural possui características semelhantes aos demais municípios. Elevada razão de dependência média (66,34%) em especial em Jangada (75,80%). Elevado IDH médio (0,793), mas com forte discrepância entre os municípios do território, em especial com relação a Cuiabá e Várzea Grande. Baixo IDH renda para praticamente todos os municípios do território. Elevada porcentagem de municípios em situação de pobreza (40,3% sem Cuiabá e Várzea Grande). Baixo valor da produção animal e vegetal em relação ao Estado (somente 4,5%). Renda mensal do território concentrada em Cuiabá e Várzea Grande. Concentração dos trabalhadores nas empresas formais urbanas em Cuiabá e Várzea Grande. Pequeno espaço para estes trabalhadores nos demais municípios. Baixo orçamento municipal e arrecadação de ICMS na maioria dos municípios do território. 1,95 moradores para cada trabalhador rural (sem Várzea Grande – 50 moradores/ trabalhador rural). Porcentagem de analfabetos: 7,55% em Cuiabá e Várzea Grande e 23,2% no restante dos municípios. Porcentagem de chefes de família com menos de 4 anos de estudo: 23,0% para Cuiabá e Várzea Grande e 58,0% para o restante dos municípios. Índice de escolarização: mais de 95%. Problemas com referência ao número de escolas rurais e a qualidade do ensino oferecido. Poucos cursos direcionados aos jovens e adultos. Atividades mais desenvolvidas no território: Pecuária (55,41%), Lavouras Temporárias (21,96%) e Produção Mista (11,78%). As demais atividades somadas representam somente 10,83% dos estabelecimentos. Média de 600 estabelecimentos rurais/ município, com 4,33 trabalhadores/ estabelecimento. Mais de 90% dos produtores rurais do território são proprietários da terra. Homens: 66% dos trabalhadores ocupados nas atividades agropecuárias. Concentração da terra: estabelecimentos com até 50 hectares representam mais de 50% do número total, ocupando somente 2,54% da área do território. Estabelecimentos com mais de 500 hectares são 19,2% do total e ocupam mais de 91% da área do território. Concentração da produção: mais de 45% do VBP dos municípios está localizado nas propriedades acima de 1.000 hectares. Atividades que mais geram riquezas: criação de animais de grande porte e lavouras temporárias. Baixa rentabilidade da produção agropecuária (R$ 2.614,35/ ano/ trabalhador). 10% dos estabelecimentos familiares do Estado. Mais de 67% dos estabelecimentos familiares dentro do território, ocupando somente 8,3% da área no meio rural. Ocupa mais de 60% dos trabalhadores. Baixa rentabilidade/ trabalhador (abaixo da média do Estado). Mais de 76% dos agricultores familiares do território: “quase sem renda” (52,7%) ou “renda baixa” (23,4%). Problemas de representatividade nos CMDR. Falta de diálogo entre representantes e produtores rurais. Descrença e desconhecimento de formas cooperativas e associativas de trabalho. Grande número de associações, porém sem ação definida para organizar 44 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário a produção. Fonte: Estudo Propositivo do território da Baixada Cuiabana, 2005. C. Questões relevantes Os atores relacionados ao subsistema de produção estão com suas estratégias voltadas quase que exclusivamente para dentro do território – a busca de comercialização em Cuiabá e Várzea Grande. Não foram citadas estratégias para colocação dos produtos em outros mercados dentro ou mesmo fora do Estado. Os produtores encontram-se descapitalizados e sem capacidade de investimento. Os problemas com a questão fundiária (falta de titulação de terras) e as queixas constantes do serviço prestado pelos bancos faz com que a obtenção de créditos também fique comprometida. A resolução de tais conflitos é de fundamental importância para o território. O fortalecimento do comércio local passa neste sentido também pela melhoria da economia dos pequenos municípios. Investimentos em infraestrutura, na capacitação profissional e educação básica devem ser prioridades. A dependência econômica total de Cuiabá e Várzea Grande pode limitar o desenvolvimento dos demais municípios do território. Um ponto interessante e que poderia ser melhor trabalhado dentro do território é a compra casada com a CONAB. No de 2004 não foi realizada nenhum compra pela CONAB no território, sendo que este pode ser um caminho importante para fortalecer os mercados institucionais e garantir uma renda mínima aos produtores durante o ano. No entanto, para efetivar esta compra torna-se fundamental, novamente, a organização da produção. Atualmente é difícil analisar a situação do território da Baixada Cuiabana sem passar pela produção de mandioca. No entanto, é preciso inovar sobre esta produção: organizar sua oferta, pensar formas alternativas de utilização e de comércio. A agregação de valor aos produtos da agricultura familiar também é fundamental, tendo em vista que atualmente ela é bastante reduzida. Outro ponto que vem sendo trabalhado na região é o turismo. Esta é uma atividade que constantemente aparece como um potencial da região (alguns municípios estão fortemente associados à esta atividade). No entanto, torna-se de 45 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário fundamental importância envolver mais o agricultor familiar, definindo seu papel na região uma vez que alguns entrevistados demonstraram resistência quanto a mudança do agricultor familiar para um “empresário de turismo”. Finalizando, cabe destacar algumas questões específicas identificadas no território, como a situação dos quilombolas. Estão presentes na Baixada Cuiabana a maior parte dos remanescentes de quilombos do Estado de MT, conforme listado na Tabela 11. De acordo com os atores locais, os quilombolas encontram-se em difícil situação, tanto pela baixa renda quanto pelas baixas condições de vida. Ações emergenciais junto a este público devem ser desenvolvidas. Tabela 11. Quilombolas do território da Baixada Cuiabana. Município Quilombolas Cuiabá Abolição, São Gerônimo, Aguassú e Coxipó-açu. Acorizal Distrito de Baús, distrito de Aldeias. Chapada dos Lagoinha de Cima, Lagoinha de baixo e Cachoeira do Bom Jardim. Guimarães Cabeceira do Santana, Jacaré de Cima (dos pretos), Barreiro, Sesmaria Nossa Senhora do Boa Vida Quilombo Mata Cavalos, Carrapatinho, Entrada do Bananal, Livramento Tatu, Aterrado, Serra das Araras. Jejum; Chumbo; Cagado; Canto do Agostinho; Campina de Pedra; Morrinhos; Minadouro 2; Imbé; Pedra Viva; Boi de Carro; Capão Verde; Passagem de Carro; Varal; Morro Cortado; Curralinho ; Rodeio; Céu Poconé Azul; Sete Porcos; Campina Verde, Campinas 2; Monjolo; Coitinho; Laranjal; Aranha; Chafarriz/Urubamba; Pantanalzinho; Retiro; São Benedito. Além disso, a Tabela 12 apresenta a população indígena dentro do território da Baixada Cuiabana. Como pode ser observado na tabela, apesar de presentes, representa somente uma pequena parcela da população indígena do estado. 46 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Tabela 12. Terras indígenas, área, etnia, população e situação jurídica atual no território da Baixada Cuiabana Município Nome Área (ha) Etnia População Situação Em identificação Barão de Melgaço Baía dos Guató 19.164 Guató 87 Barão de Melgaço Periguara 10.740 Bororo 96 Homologada e Regularizada Homologada e Nobres Santana 35.471 Bakairi 198 Regularizada Santo Antônio do Santa Cristina 25.694 Bororo 358 Demarcada Leverger População Total Indígena da Baixada Cuiabana % em relação a população total indígena 739 2,75 4. VISÃO DE FUTURO O Quadro 3 contém a expressão do desejo; a definição de como e onde quer estar o território da Baixada Cuiabana em um espaço temporal de cincos anos. Originado de um exercício coletivo dos atores sociais, como se fosse um sonho coletivo, traz a concepção ou imagem do que desejam alcançar ou obter no espaço-tempo determinado. É com base nessa visão de futuro que o território definiu o que quer, o que fará, com quem contará, enfim, definiu o que deverão providenciar (a planificação) para alcançá-lo. A visão de futuro antecipa possíveis desdobramentos da ação racional e organizada dos atores sociais do território sobre a sua realidade e seu contexto, expressando o seu desejo de mudança enquanto segmento da sociedade que se define como agricultura familiar. A visão de futuro portanto, torna-se um instrumento fundamental para dimensionar as possibilidades de realização do desejo territorial, contribuindo na orientação do diagnóstico, na definição dos objetivos específicos, metas e estratégias de desenvolvimento territorial sustentável. 47 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Com base na visão de futuro, o território tem condições de iniciar o seu processo de planejamento estratégico, pois concebeu coletivamente o que quer, gerando uma imagem de como estará quando chegar no prazo que determinou. Este momento foi indispensável para que o território pudesse dar início ao seu planejamento. Observaram-se as condições internas do território, suas potencialidades, dificuldades e o contexto sócio-político organizativo, bem como a forma de interação dessa perspectiva com as condições futuras do contexto externo. Esta confrontação do endógeno (condições internas) com o exógeno (contexto externo) permitiu definir um cenário desejado plausível. O território no exercício de construção de sua visão de futuro determinou como poderão controlar as ações e não ficar a revelia de qualquer mudança de rumo, pois possui claro o lugar para onde querem ir e o estado que querem alcançar. A função da visão de futuro é não ver os problemas, nem as dificuldades; mas sim as oportunidades internas e externas que o território terá para transformar em sucesso sua ação no presente. Enfim é a expressão do sonho coletivo dos atores sociais do território para uma vida melhor, de um cotidiano transformado e melhorado, com os interesses coletivos devidamente expressos; grupos e segmentos interessados devidamente representados e comprometidos. Na interpretação dos atores sociais do território a situação, elencadas nos dez pontos abaixo, traduz mas claramente as expectativas da visão de futuro: 1. Existe uma disparidade econômica e social entre os municípios do território: enquanto Cuiabá e Várzea Grande se destacam como pólos econômicos e com IDH superiores ao do Estado e do Brasil, os municípios restantes apresentam problemas principalmente com referência a renda: é preciso pensar formas de aumentar a renda da população dos pequenos municípios da Baixada. 2. A população do território ainda apresenta baixa escolarização e baixa qualidade de ensino no meio rural, estimulando a saída dos jovens para as cidades. 3. Grande número de pessoas vivendo no meio rural, principalmente fora dos dois centros principais do território. Grande concentração de terras 48 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário e renda – as pequenas propriedades, grande maioria em praticamente todos os municípios, ocupam uma pequena parcela da área e produzem muito pouco. Apesar da importância para os municípios menores, a agricultura familiar possui baixa eficiência econômica, estando inclusive abaixo da média estadual e nacional. 4. Grande parte dos produtores não conhece o conceito de território e suas implicações para o desenvolvimento. 5. O baixo preço obtido pelos produtos e a conseqüente baixa renda dos produtores podem ter suas raízes nos seguintes aspectos: ¾ Desorganização total da produção local (grande número de pequenos produtores vendendo o mesmo produto de forma isolada). ¾ Desconhecimento por grande parte dos produtores de experiências positivas de associativismo/ cooperativismo. Em geral observou-se descrença neste tipo de ação. ¾ Baixo valor agregado dos produtos (baixo nível de industrialização): geralmente os produtos são vendidos “in natura” para atravessadores ou mesmo diretamente para os consumidores. ¾ Enfraquecimento do comércio local (dentro dos municípios). Apesar de algumas iniciativas no sentido de realizar feiras municipais, este comércio ainda é extremamente incipiente. 6. Comercialização concentrada nas mãos de poucos atores, com forte destaque para os atravessadores. 7. Existem algumas instituições desenvolvendo atividades pontuais e desarticuladas no território – cada instituição apresenta características próprias, com limitações e potencialidades específicas. Necessidade de articulação maior entre estes órgãos no planejamento e execução de ações 8. Necessidade de resgatar a participação efetiva dos produtores junto aos órgãos de representação: Sindicatos, Associações e Conselhos Municipais. 9. Necessidade de implementar políticas efetivas de desenvolvimento que congreguem não apenas a questão produtiva, mas também a educação de jovens e a saúde. 10. Necessidade urgente de ações efetivas para a regularização da terra e 49 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário o acesso à luz elétrica. Isto posto, os agricultores familiares entenderam que para ter uma melhoria de qualidade de vida no território serão necessárias as seguintes ações: - Maior conhecimento da gestão e planejamento da produção, mercado e comercialização; - Trabalhar de forma cooperativista; - Central de comercialização da agricultura familiar. 50 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Quadro 3. Visão de Futuro do território da Baixada Cuiabana. SONHO Educação do Campo Centro de comercialização Regularização Fundiária Organização da Produção/ Certificadora para produtos orgânicos Assistência técnica e extensão rural ampla AÇÃO Capacitação formal e informal para a agricultura familiar com foco na cidadania e no desenvolvimento sustentável Capacitação em organização da produção, comercialização e cooperativismo, associativismo Fazer um diagnóstico das propriedades do território,integração dos movimentos sociais Capacitação dos produtores, reuniões, encontros, dia de campo. Capacitação e qualidade RESULTADOS ESPERADOS RESPONSÁVEIS PELAS AÇÕES FONTE DE RECURSOS ENCAMINHAMENTOS Melhoria da qualidade de vida Poder publico municipal, sistema “S”, sociedade civil, instituições de ensino União, Estados e Municípios Criar o Grupo de Trabalho de Educação do Campo (formal e informal) Geração de emprego e renda,com melhoria na qualidade de vida Câmara SEDER PRONAF estrutura Governo Estado Fixar os agricultores no campo Governo poder público e movimentos sociais Linhas disponíveis Reunião do território com gestores do INCRA, INTERMAT e SEDER Agregação de valor à produção, geração de renda, diversificação da produção e melhoria na qualidade de vida. SEBRAE, ONGs, EMPAER, Universidades, Poder Público e organizações sociais. Governamentais e não governamentais, Recursos humanos Ponto de discussão da entidade de comercialização que irá gerenciar o centro de comercialização PRONAF Capacitação. Acompanhar as discussões da ATER; Articular um programa de extensão com residência de técnicos recém formados na agricultura familiar Assistência eficaz técnica técnica, Governos Federal e Estadual. Infrae do Criar comissão para acompanhar o projeto. Cont. 51 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário SONHO AÇÃO RESULTADOS ESPERADOS RESPONSÁVEIS PELAS AÇÕES FONTE DE RECURSOS ENCAMINHAMENTOS Inclusão social Geração de emprego e renda e aquisição de conhecimento Qualidade de vida e cidadania Poder público e Secretarias Órgãos competentes - Valorização e reconhecimento da agricultura natural e extrativismo Buscar a produção já existente na agricultura familiar e padronizar a produção e agregação de valor Reestruturação dos assentamentos existentes Inclusão de mulheres e juventude no processo de desenvolvimento sócio econômico do território Ampliação do programa de varredura e reordenamento fundiário em todo o território, reestruturação de todos os assentamentos existentes no território. Fortalecer o projeto mulher cidadã e trabalhadora rural e ampliar no território; Capacitação da juventude e resgate da auto-estima; Fortalecer o projeto minha primeira terra do PNCF; Fortalecer o PRONAF Mulher e juventude Promover o lazer e alternativas de renda para a juventude Reconhecimento e fortalecimento de uma renda alternativa Núcleo técnico e Núcleo diretivo Estadual,federal, municipal Propriedades regularizadas, acesso á créditos, auto-estima CIAT, Núcleo Técnico, Núcleo Dirigente, CEDRS E CMDRS Governo do estado/ federal diminuição do êxodo de rural da juventude, empoderamento das mulheres e juventude CIAT, sistemas “S”, Governos federal e estadual, Núcleo Técnico e Núcleo Dirigente - Procurar outras formas de utilização, industrialização dos recursos naturais existentes no território. Valorização dos recursos naturais. Que os assentamentos recebam os recursos necessários a sua estruturação; Verificar possibilidades de revitalização das infraestruturas. O programa de capacitação do centro de comercialização deve ter como foco também, a capacitação direcionada para as beneficiárias do projeto mulher cidadã. Influenciar as ofertas de capacitação para o território, visando fortalecer as ações afirmativas de gênero. 52 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário 5. EIXOS INTEGRADORES Os eixos integradores construídos pelo território da Baixada Cuiabana nortearam o processo de construção do PTDRS de forma didática através da sistematização e organização das propostas oriundas das forças vivas do território (atores sociais). Objetivou-se dessa maneira formar um conjunto articulado de diretrizes e prioridades convergentes para o PTDRS, levando em consideração as diferentes dimensões do desenvolvimento sustentável. Essas dimensões foram determinadas a partir das percepções dos atores sociais do território. O território da Baixada Cuiabana definiu assim os seus eixos aglutinadores: I. Organização da produção e comercialização II. Geração de Renda III. Pesquisa de tecnologias apropriadas para a Agricultura Familiar IV. Educação do Campo V. Regularização fundiária A base da definição e construção dos eixos foi a visão de futuro que os atores sociais dos territórios construíram ao longo do processo de gestão social oportunizado pela SDT em forma de oficinas, cursos e seminários. A partir dos eixos foram definidos e estruturados os projetos setoriais e específicos. Esses projetos estão amarrados entre si nos diferentes eixos aglutinadores e devem responder as demandas específicas do território. 6. PROJETOS ESTRATÉGICOS Com base nas discussões contidas no Quadro 3, o CONTAF-BC, aprimorou e sistematizou os seguintes projetos estratégicos: 53 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Quadro 4. Título Eixo Classificação Resultados esperados Localização A quem se destina Justificativa Objetivo Meta Estratégias Modelo de Gestão Custo Entidades Financiadoras Projeto da central de comercialização da agricultura familiar Instalação de centros de recebimento da produção da agricultura familiar dos municípios da Baixada Cuiabana Organização da comercialização e produção da agricultura familiar Estruturante e associativo - Eliminação do intermediário - Aumento de renda do produtor - Diminuição do custo para o consumidor - Melhoria da qualidade do produto - Garantia de abastecimento do mercado Em todos os municípios da Baixada A todos os agricultores familiares da Baixada Cuiabana - O centro de comercialização por si só não garante a comercialização dos produtos. - Os produtores encontram-se atualmente isolados e não possuem condição de transporte da mercadoria. - Facilita a organização da central de comercialização Receber, selecionar, quantificar e embalar os produtos oriundos dos agricultores dos municípios do território - Construção de 13 centro de recebimento no prazo de 180 dias - Mobilizar e sensibilizar os agricultores sobre a necessidade dos centros - Mobilizar e sensibilizar as autoridades locais - Contatos com os agentes financeiros Formação de uma equipe de gestão em cada município R$ 50.000 cada unidade (total R$ 650.000,00) BB, BASA, BNDES, Gov. do Estado, MDA, Cooperativa de crédito 54 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Quadro 5. Título Eixo Classificação Unidade piloto de capacitação de agricultores familiares Unidade piloto de capacitação de agricultores familiares na comercialização coletiva de seus produtos Organização da comercialização e produção da agricultura familiar Associativa e demonstrativo - Forte presença dos atravessadores - Desmotivação para a produção - Já foram feitos vários treinamentos porém com pouca aplicação prática Justificativa Objetivo específicos - Descrença por parte dos agricultores em experiências que não sejam de curto prazo - Possibilidade de utilização do mercado “Verdão” Capacitar os agricultores familiares para a venda coletiva dos produtos em uma unidade piloto - Aplicar em forma piloto os ensinamentos do curso de comercialização conjunta. - Capacitar comunidades para a comercialização conjunta - Garantir um espaço no Verdão para a agricultura familiar - Capacitar 20 agricultores - Disponibilizar uma linha telefônica no Verdão para aos AF - Garantir um espaço de comercialização no Verdão - Definir equipe de 3 pessoas para a atuação no Verdão Quadro 6. Projeto de educação do campo na Baixada Cuiabana Título Eixo Classificação Resultados esperados Localização A quem se destina Justificativa Objetivos específicos Escola da Família Agrícola Educação do campo Inovador, demonstrativos, sociocultural e estrutural Qualificação dos atores envolvidos no processo, inclusão social, resgate da identidade, amento da qualidade de vida das pessoas do meio rural, redução do êxodo rural Municípios que formam o território da baixada Cuiabana Implantar escolas da família na baixada cuiabana - Modelo de educação não atende a demanda - Elevado índice de analfabetismo e IDH no estado de MT - Importância do desenvolvimento social e cultural para as demais dimensões do desenvolvimento Implantar escolas da família na baixada cuiabana Promover a inclusão social Melhorar o ensino Formar profissionais voltados a agricultura familiar Redução da desistência escolar 55 PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL TERRITÓRIO RURAL DA BAIXADA CUIABANA – MATO GROSSO Ministério do Desenvolvimento Agrário Instalar bibliotecas rurais Metas Aumentar em 75% o índice de escolaridade das famílias. Reduzir e 50% da desistência escolar 7. AGENDA DAS AÇÕES TERRITORIAIS No ano de 2004 os investimentos do PRONAF – infra-estrutura foram de R$ 1.200.933,44 na construção do centro de comercialização para agricultores familiares e a aquisição de equipamentos no Município de Várzea Grande, contemplando todos os municípios do território, além dos municípios dos territórios do Baixo Araguaia e do Portal da Amazônia. Foram empregados no custeio de atividades complementares ao investimento o valor de R$164.669,39 em uma pesquisa de mercado nas principais cidades do estado. Os projetos em 2005 foram na ordem de R$ 333.621,56 através do PROINF, contemplando a aquisição de caminhões e um automóvel para a central de comercialização, além da aquisição de 13 kits de equipamentos de irrigação para a instalação de unidades demonstrativas em cada município do território. Em 2006 os recursos foram na ordem de R$ 470.000,00 na aquisição de caminhões através do PROINF. O custeio foi da ordem de R$ 53.896,91 para atividades junto aos agricultores familiares na área da organização da produção e comercialização e na elaboração de projetos técnicos. 8. CRÉDITOS SDT > do Secretário ao Consultor Territorial CEDRS > Presidente e Secretário Executivo CONTAF-BC > Denominação, Núcleo Diretivo, Núcleo Técnico CREATIO/FCR Outros > Comissão ou Grupo de Trabalho de elaboração 10. DATA E LOCAL Campo Grande- MS/ Novembro de 2006 56