D I Á LO G O S S O B R E CO O P E R AT I V I S M O Evolução do Cooperativismo no Mundo © Fundação Sicredi 1ª edição, 2015 – Diálogos sobre Coopera vismo, 1 Coleção Crescer Programa de Aculturamento dos Colaboradores ao Coopera vismo e Formação Con nuada de Coordenadores de Núcleo do Sistema. A presente obra foi desenvolvida pela Fundação Sicredi, em representação às en dades integradas ao Sistema de Crédito Coopera vo (coopera vas Singulares, Centrais, Confederação e Banco Coopera vo), em parceria com Ins tuto Criar e MPQuatro Produções. Realização Fundação de Desenvolvimento Educacional e Cultural do Sistema de Crédito – Fundação Sicredi. Consultoria educacional e edição de textos Daniela Hae nger e Max Günther Hae nger – Ins tuto Criar Ltda. Produção de Vídeos MPQuatro Produções Diagramação e Arte Final Marcos Filomena D229e DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO É uma série de encontros com convidados especiais, que colocam em pauta os assuntos exclusivos do dia a dia das Coopera vas de Crédito Sicredi. A inicia va celebra o diálogo e a cooperação como fontes de novos aprendizados, visa ao Aculturamento dos colaboradores ao Coopera vismo, e integra as ações de formação con nuada dos Coordenadores de Núcleo. A ideia é criar espaços para que cada colaborador possa cooperar com o seu conhecimento, seja ao par cipar presencialmente de um encontro ou acessando os vídeos e os cadernos temá cos com os destaques da programação, disponibilizados no site do Programa Crescer. Acesse h ps://crescer.sicredi.com.br Dasenbrock, Manfred Alfonso. Evolução do coopera vismo no mundo / Manfred Alfonso Dasenbrock. – Porto Alegre: Fundação Sicredi, 2015. 16p. (Diálogos sobre Coopera vismo, 1) 1. Formação coopera va. 2. Coopera vismo de crédito. I. Título. II. Diálogos sobre coopera vismo. III. Dasenbrock, Manfred Alfonso. CDU 334.732.2 Copyright by Fundação Sicredi. Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Saudação a todos! Parabenizo a Fundação Sicredi pela iniciativa e a todos os que estão envolvidos com essa ideia. É uma satisfação estar aqui e trocar alguma informação. Sou Manfred Alfonso Dasenbrock. Eu presido o Conselho da SicrediPar desde 2009, sou presidente da Central Paraná/São Paulo/Rio de Janeiro desde 2006, membro do Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito (Woccu), e também eleito presidente do Conselho do Fundo Garantidor das Cooperativas de Crédito do Brasil, em 2013. Meus pais são imigrantes da Europa, vieram no pós-guerra aqui pro Brasil e trouxeram na sua bagagem o espírito de cooperação e solidariedade. Foram fundadores de uma cooperativa agropecuária nos anos de 1960; e, nos anos de 1980, da Cooperativa de Crédito da região de Medianeira, no oeste do Paraná. Então, eu tenho uma trajetória ligada toda vida ao cooperativismo, nessa bagagem do espírito familiar, espírito de cooperação e, principalmente, espírito de solidariedade. Quando você está na posição de coordenar, de presidir, você tem o grande desafio de dar os encaminhamentos. Você abre a discussão e normalmente é o último a votar, o último a dar o encaminhamento. Quero dar a minha opinião enquanto Presidente do Conselho [da SicrediPar], mas também trazer a opinião das Cooperativas da Central que presido. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Qual a sua visão de cooperativismo? Eu trago uma primeira visão de que eu gosto muito, do Ram Charam, chamado “guru da governança”. Ele expressa coisas importantes que o mundo vive, uma nova fase de governança que saiu dos regimes militares, de estruturas estratégicas. Ele diz claramente e tem a ver com a nossa missão: “Somente as empresas que conquistam os corações e mentes de sua força de trabalho serão capazes de criar valor no curto e no longo prazos, aquelas que investirem em pessoas terão performance sustentável” (Ram Charam). Missão Sicredi: como sistema cooperativo, valorizar o relacionamento, oferecer soluções financeiras para agregar renda e contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos associados e da sociedade. Não adianta enquanto empregador contratar qualquer um de vocês pela inteligência, pela capacidade de entrega, pelo desempenho, pelas notas de faculdade ou por aquilo que a gente é capaz, isto seria contratar mesmo, mas nós precisamos do coração. O coração é muito mais, é o engajamento: a gente tem que gostar do Sicredi, tem que amar o Sicredi, senão é melhor outra organização, porque aqui todos nós somos associados. Quem é o empregador? Somos nós mesmos, nós somos proprietários, somos sócios. A segunda [visão] é um pouco da história pessoal de cada um de nós. Cada um de nós tem raízes e as raízes são globais. Poucos aqui no Brasil, especialmente na região Sul, são nativos. O Sicredi é construído em cima de várias etnias, várias religiões, então ele consegue efetivamente ser neutro nessa questão. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 A gente tem que se honrar da nossa história, isso nos traz muito à visão do cooperativismo. Cada um de nós tem que pesquisar um pouco a história dos nossos familiares e dos nossos pais, a gente vai ver que tem muita riqueza, que nos orgulha bastante. Qual a inspiração do modelo Sicredi? O nosso modelo Sicredi tem uma inspiração europeia. Tudo gira em torno do Raiffeisen... Assim como o Desjardins no Canadá e outros precursores. Apesar das experiências anteriores ao Raiffeisen, o modelo que ele estabeleceu é considerado genuíno, deu inspiração ao Padre Amstad e aos seguidores daqui. Vou citar o exemplo da Cooperativa de Castro, no Paraná. A última imigração da Europa pra cá [1952], veio com uma cooperativa constituída e tinha esses pilares: a educação era o ponto principal, a religião (tinham as suas igrejas em volta, eles são evangélicos), e a cooperativa como a parte do negócio, o business. É um pouco do triple bottom line, Educação se a gente for traduzir também: o econômico, o social e o ambiental. Inspiração Europeia Então, nossa inspiração é europeia, mas muito genuína. Cooperativa Religião Friedrich Wilhelm Raiffeisen liderou associações agrícolas baseadas na ajuda mútua, desde meados dos anos de 1840. Fundou a Heddesdorfer Darlehnskassenveirein (Associação de Caixas de Empréstimo de Heddesdorf), em 1864. Alphonse Desjardins foi precursor da primeira cooperativa de crédito das Américas, chamada Caisse Populaire de Lévis, fundada em 1900, no Quebec, Canadá. O padre jesuíta Theodor Amstad fundou a primeira cooperativa de crédito do Brasil e da América Latina, em 1902, na Linha Imperial, em Nova Petrópolis/RS. A Sparkasse Amstad foi semente da Sicredi Pioneira, e influenciou a criação e integração de outras Caixas Rurais nas primeiras décadas do século 20. A Política de Sustentabilidade Sicredi fundamenta-se na abordagem triple bottom line (TBL): uma instituição sustentável gera resultado econômico, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente e melhora a qualidade de vida das pessoas com as quais interage. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo E a nossa filosofia? Quando a gente fala dos princípios que a alicerçam, a gente tem que estar repetindo eles sempre. Quando a gente fala em adesão voluntária e livre, claro que o gerente da Unidade tem que ter meta, tem que correr atrás, mas ele tem liberdade de ficar ou sair. Quando o associado quer sair, a gente pergunta o porquê, liga pra ele, pede pro conselheiro visitar – tudo isto faz parte – , mas ele tem ao final a liberdade. A gestão democrática: o cooperativismo faz um grande serviço para a nação, especialmente para a civilização atual, porque é um modelo democrático, porque nós votamos tudo. A participação econômica, a autonomia e independência de cada cooperativa, dentro da sua realidade. A educação, formação e informação... É toda uma filosofia muito importante. Eu tenho o dever de investir em educação, de atuar na formação dos colaboradores, na formação dos associados, faz parte da minha lógica, do meu DNA. Filosofia do Cooperativismo Modelo de Governança Acionistas Sócios Tradicional Cooperativa A intercooperação, o crédito faz melhor do que todos [os ramos do cooperativismo], porque tem um produto que é a moeda, hoje tem também os serviços, mas consegue fazer isso muito bem com os outros ramos, de forma interdependente. O interesse pela comunidade, o mais novo [dos princípios], que se mostrou um diferencial enorme e que pra nós tem grande valor. O modelo de governança também precisa ser entendido. No modelo tradicional, tem o principal acionista e os acionistas minoritários. O nosso modelo é invertido, nós temos os sócios e aqui [embaixo] está o presidente. É a pressão que está em cima de você: três milhões de associados, eles são os donos do processo, você está a serviço deles. Nós temos que nos alicerçar em saber a diferença de um banco e de uma cooperativa, e a gente tem que ter convicção disso. A hora que vacilar [dizendo] “nós somos que nem um banco”, “nós somos banco” – pronto, você misturou tudo e confundiu a cabeça do cidadão. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Quais os principais movimentos do cooperativismo no mundo? Tem o Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito [WOCCU], do qual o Sicredi é integrante, uma liderança de mais ou menos 200 milhões de associados. E o modelo chamado banco cooperativo, um modelo europeu, tem outros 200 milhões. Chega a praticamente 500 milhões de associados ao redor do mundo, associados em cooperativas de crédito ou bancos cooperativos. Infelizmente, na Europa, eles cederam na visão da bancarização. Culpo um bocado a Margaret Thatcher, ela desmutualizou o cooperativismo na Inglaterra, então a dificuldade do ressurgimento. Agora tem problemas sérios na Itália, na França e na Áustria, onde as leis estão limitando, por exemplo: se chegar a R$ 500 milhões de ativos, tem que desmutualizar na Itália, [a cooperativa] tem que virar um banco, tem que devolver capital para os associados. Então tem um movimento ali bastante complicado. [Vejamos] os principais movimentos ao redor do mundo, que são inspiradores aos demais... O Rabobank, nosso parceiro com o Rabo Development, que participa da nossa sociedade e tem uma inspiração importante na Holanda. Aqui, talvez um dos poucos modelos em que eles procuram entender o cooperativismo na sua essência. Nos outros países, eles atuam como uma sociedade anônima, por exemplo, no Paraguai é um banco normal que visa lucro. O negócio deles na Califórnia visa lucro, na Uganda visa lucro, na Espanha visa lucro, apesar de ter a vocação, de estar vinculado ao agro... DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Esse modelo alemão é um modelo [mutual] bastante pujante, ele tem ativos significativos. E o modelo canadense, também bastante inspirado no Desjardins, que foi colega de Raiffeisen. O modelo francês é um misto também (o Desjardins, quando imigrou para o Canadá, levou ensinamentos), e tem tudo a ver com a origem rural. Já o modelo americano tem a ver com associações de funcionários. As cooperativas nasceram desse movimento e hoje são – só nos Estados Unidos – 100 milhões de associados. Numa população de 250 [milhões], 100 milhões são associados em FIRST CLASS cooperativas de crédito de origem básica mutual. AMERICAN Quando o movimento trabalhista evoluiu nos Estados Unidos, começaram a fazer pagamentos pelas associações. Aqui também algumas nasceram dessa forma, depois recrudesceu um pouco a questão associativa e as cooperativas criaram um vínculo rural. A livre admissão, mais um modelo, outro modelo, especialmente do Sicoob em outros estados, também mutual, exceto Santa Catarina, Minas, Espírito Santo, de origem rural, os demais [estados] têm bastante a ver com a origem de associação de funcionários. C R E D I T U N I O N Agora estão surgindo alguns movimentos de ressurgimento do cooperativismo, por exemplo, na Coreia. Na Índia houve algum avanço, depois a legislação podou bastante, eles estão com bastante dificuldade. A China com alguns movimentos, mas movimentos do Estado, então é bastante complicado, não é democrático. Nós tivemos sorte quando Mário Kruel Guimarães teve papel de destaque no movimento de retomada do cooperativismo de crédito no Brasil. No início da década de 1980, criou e presidiu a Central das Cooperativas de Credito do RS (Cocecrer/RS), origem do Sicredi. o Mário Kruel Guimarães começou o movimento de retomada do cooperativismo no Brasil, e foi inspirador inclusive para outros movimentos. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Que estratégias norteiam a visão global do cooperativismo? Quando a gente fala aqui da visão global, é um pouco da visão do Conselho Mundial (Woccu). Marco Regulatório Nós temos que estar atentos a toda questão da regulação, ao nosso lobby. A Itália, por exemplo, recentemente perdeu muita coisa porque não tinha uma frente organizada, e está perdendo direitos que tinha conquistado. A gente tem que estar atento, e aí tem todo um trabalho junto com o Federal Reserve, junto com o Comitê da Basileia e o Banco Central Europeu. O Comitê da Basileia é regulador e os outros são influenciadores – o Federal Reserve dos Estados Unidos e o Banco Central Europeu. O resto do mundo segue a dança dos maestros da Basileia, não o maestro de Viena, mas os maestros da Basileia. Inclusão financeira A inclusão financeira será feita pelos novos meios de pagamento. Essa é a grande sacada quando se fala de educação cooperativa. É só pegar a geração [atual], como ela gostaria de ser atendida. Apoio às pequenas cooperativas de crédito O apoio às pequenas cooperativas de crédito é importante, e o Sicredi é exemplo para o mundo. Recentemente recebemos um prêmio nesse processo, porque fizeram a análise do Sicredi e entenderam que uma cooperativa pequena é tão bem tratada como uma grande. Uma cooperativa pequena tem a mesma condição porque ela paga o mesmo preço pela participação, então ela não fica inibida. Nos outros países, as grandes simplesmente têm uma força de pressão nos seus conselhos e impõem para as pequenas regras realmente de extorsão. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Inclusão de jovens A inclusão de jovens é um movimento no mundo inteiro, e o Sicredi é vanguarda em algumas frentes do nosso Programa Touch. Claro que os produtos têm que ir se moldando, mas já começa a haver um entendimento de que o jovem no Sicredi é bem-vindo. E aí tem um desafio muito grande: nós temos que adaptar as nossas regras, os nossos regulamentos, para essa inclusão. Por exemplo, quando eu falo na missão “valorizar o relacionamento”, eu estou dizendo isso para um jovem. E o jovem diz assim: “Cadê o touch? Como é que eu faço para acessar? Eu tenho que seguir aquela regra antiga? Eu tenho que levar a papelada lá no banco? Que negócio é esse?”. Qual a sua análise sobre a presença nacional do Sicredi? Ano passado [2014], na Austrália, o Sicredi foi reconhecido como outstanding dos membros na questão das cooperativas, dizendo que as pequenas, as médias e as grandes são iguais, e no crescimento do número de associados. O nosso crescimento é linear, já de uma década ou mais, vem crescendo todo mês entre 20-25 mil associados, isso foi observado de forma constante, analisaram cinco anos, pegaram todos os dados. Eles fizeram essa análise e, para nós, foi essa satisfação. Em 2014, a Confederação Interestadual das Cooperativas Ligadas ao Sicredi recebeu o prêmio World Council of Credit Unions Outstanding Membership Growth Award, pelo excelente crescimento no número de associados. Nós estamos retomando o plano estratégico. É o ano de encaminhar os próximos cinco, estamos falando de 2020, e um vetor importante é bom compartilhar: a nossa decisão é ter o Sicredi com presença nacional e com atuação regional. Quando estamos falando em presença nacional, estamos falando que nós vamos para o Amazonas, para o Nordeste, Minas, Bahia. A gente está dizendo isso abertamente, é uma fase nova da terceira onda. Tudo isso está em discussão no Conselho e no fórum dos presidentes também, e deve ser firmado agora no fórum de agosto. É importante dizer “presença nacional” – pode ser por meio de pagamentos, de cooperativas regionais, por novas centrais... DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Quando a gente fala que o Sicredi é a 6ª rede de atendimento, e você pega e soma todas as cooperativas, você chega na 2ª rede, só perde para o Banco do Brasil. Nós somos a 6ª rede desse ranking; em termos de clientes associados, a 10ª; em ativos, a 11ª; em crédito rural, a 3ª, só perde para o Banco do Brasil e o Bradesco, pelo volume. Em números de operações, nós estamos bem à frente, estamos em 2º lugar, no Paraná somos o 1º. E como explicar o nosso modelo de organização? O modelo não é mandatório? A SicrediPar não tinha que estar em cima e todo mundo embaixo? Não. Você tem todo esse modelo associados, cooperativas, centrais, tem pessoas, a governança ordenada, e, a partir daí, você tem um banco, tem as instituições, mas todo mundo voltado para atender os três milhões de associados. É importante fazer essa tradução para todos que estão a sua volta entenderem esse organograma e "linkar" isso com a história. Por que tem uma cooperativa singular, uma central, uma confederação? A inspiração está no modelo Raiffeisen, ele dizia isso. O Amstad, o padre, entendeu isso. Mário Kruel, na reconstrução, entendeu isso, pelo menos na pesquisa feita – e tem vários documentos da Trajetória Sicredi, acho que é um trabalho fantástico, feito para os estudiosos, para as gerações que estão vindo... O porquê está muito claro, explicado, pelo menos quando a gente vai fazer a pesquisa. Tem o modelo hoje que está intrigando um pouco as pessoas, um modelo chamado cooperativas com áreas não contínuas ou não contíguas. É uma nova história que está sendo construída, porque... DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo hoje é possível atender associados a uma distância de mais de 1000km, 5000km, porque você tem a governança organizacional, você tem o voto do delegado, você tem meios de controle, tem toda uma questão que é bastante lógica. O cenário aponta para mudanças nas estratégias do Sicredi? Quando se fala da missão, de valorizar o relacionamento, se nós estamos falando que jovem é importante para o Sicredi, vamos arregaçar as mangas e acertar essa questão. O relacionamento não é aquele feito como antigamente: o café e o chimarrão, e sentar ali em volta e bater-papo. Claro que tem isso, mas o relacionamento precisa ser retomado, tem vertentes no planejamento estratégico que vão chamar essa atenção. Nós colocamos primeiro o relacionamento e depois os negócios, esse é o jeito Sicredi. Somos uma entidade sem fins lucrativos, deu R$ 1,2 bilhão no ano passado. Para quê? Interesse pela comunidade, esse dinheiro fica na comunidade. Quanto vai gerar ao longo do tempo, nas crises, especialmente? Quem hoje está sendo mais bem visto na crise de mercado e tal, como foi em 2008, 2009? Foram as cooperativas de crédito. Na tradução da missão é sempre importante a gente fazer essa reflexão... Sobre o nosso norteador estratégico como instituição financeira cooperativa, nós temos que atualizar a nossa visão para o futuro. [O Sicredi] já é compreendido como instituição financeira cooperativa comprometida com o desenvolvimento econômico e social. Onde o Sicredi está presente ninguém duvida, então dá para modernizar isso. O sócio tem individualidade? Tem, tem o sigilo bancário, etc. No desenvolvimento das pessoas, nós temos que investir. Quando eu estou fazendo treinamento, capacitação, isso é um valor nosso, faz sentido pra gente. Como Sicredi nós brigamos por isso. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 [O respeito às] normas oficiais internas é algo significativo, assim como a transparência, talvez um dos maiores valores. Mas tem que ter coisa para mostrar, então, ser eficaz também: você não perder dinheiro; você não dilapidar o patrimônio; fazer crescer o patrimônio; não enterrar o talento, fazer ele se desenvolver. O que dizer sobre a atualização do marco regulatório no Brasil? O marco regulatório das cooperativas no Brasil talvez seja o melhor do mundo, hoje. O que ainda tem de problema é a reserva de mercado, ainda origem do regime militar. Uma prefeitura não pode operar com o Sicredi... O recurso do Sescoop tem que ficar no Banco do Brasil, na Caixa [Federal], não pode circular pelo Sicredi. Felizmente, a Frencoop [Frente Parlamentar do Cooperativismo] está trabalhando nesse sentido, para mudar a legislação. Tem o Projeto de Lei nº 100, de 2011, com um deputado lá de Minas Gerais que foi presidente da Cooperativa, Domingos Sá, que defendeu com muita propriedade na última reunião do CECO [reunião de abril de 2015, do Conselho Especializado do Ramo Crédito]. É um marco [regulatório] importante porque nós somos participantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN). A Lei 5764 [Lei do Cooperativismo] é a que dá o embasamento. Desde 1988 querem mudar essa lei, o que toda hora volta para trás... As cooperativas de produção, as comerciais e as outras cooperativas também querem mexer, especialmente no ato cooperativo, pelo movimento que tem. É a nossa lei maior, de 1971, vejam bem, muita coisa aconteceu nesse período, mas ela ainda é atual. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Na minha visão, a gente tem que manter a Lei 5764 como nosso chão e avançar com a Lei 130. Tem coisas que dá para avançar. Nós temos a Lei 130, que nos dá identidade, essa sim precisa até ter alguns avanços, e as resoluções do Banco Central nos norteiam. Ele é um grande parceiro das cooperativas, entende que o único agente capaz de concorrer com a avareza dos bancos são as cooperativas. Que entidades representam hoje o cooperativismo no Brasil? O Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (aqui eu falo um pouco da instituição lobista) é muito observado também quando o mundo olha para o Sicredi, porque nós temos a livre admissão. Vai sair a nova resolução, vai dar uma abertura maior e a grande diferença é o seguinte: nós somos cooperativas e temos um banco – aliás, no Brasil tem dois bancos cooperativos, tratados de modo diferente dos outros bancos. O banco não visa resultado, ele tem que crescer, etc., mas é o grande prestador de serviço, ele faz a interface com o Sistema Financeiro Nacional. Quando nós olhamos o nosso Fundo Garantidor, temos em volta dessa mesa todas as cooperativas de crédito do Brasil. Nós temos o Sicredi, o Sicoob, a Confesol, as Unicreds, as Centrais Independentes, que tem parceiras nossas no norte e nordeste, a Sicredi Blumenau, a Uniprime, e a OCB [Organização das Cooperativas Brasileiras] representa as cooperativas solteiras ou independentes ou não filiadas a centrais. É uma reunião realmente interessante, a cada dois meses, claro que falamos bastante dos desafios do Fundo. A gente arrecada hoje 11 milhões por mês, já temos 250 milhões de patrimônio, não usamos nada ainda porque os sistemas são solidários. Não tem nenhum sinal de uma cooperativa ser liquidada. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Quem mais faz propaganda do Fundo Garantidor é o sistema Confesol, a Unicred também, porque reverteram o dinheiro do fundo que eles tinham para dentro do resultado, o Sicoob também fez isso. O resultado desse ano estava atomizado porque reverteram todos os fundos para dentro dos resultados, apresentando R$ 2 milhões de resultado… Nós decidimos diferente: manter os nossos fundos, apenas administramos um pouco o fundo de depósito, que a gente incorporou no fundo de solidez. CECO Os países de fora olham para o Brasil e dizem assim: “vocês conseguiram se organizar, todas as cooperativas em torno do Fundo, e vocês fizeram uma organização lobista”. Nós temos a nossa Frencoop mais organizada do que a dos Estados Unidos. Lá eles fazem a organização regional, mas têm uma forma de arrecadação de dinheiro diferente da nossa. [No Brasil] as organizações estaduais contribuem com os políticos, principalmente lá pelo Paraná, que tem uma visão um pouquinho diferente. A gente contribui financeiramente, só que, agora, as pessoas jurídicas não podem contribuir mais, tem que ser pessoa física... A Fr e n co o p te m u m a a g e n d a legislativa importante, com os principais projetos. É um trabalho que a OCB faz muito bem. E quando a gente fala da relação com o Banco Central, é uma relação que alguns países talvez não tenham melhor. A nossa é organizada, nós temos um convênio da OCB com o Banco Central, assinado em 2010, eles levam muito a sério. As reuniões do CECO, por exemplo, têm um período em que os técnicos do Banco Central sentam com a gente, com grupo técnico e coordenação, discutem normas, regulamentos. Uma relação muito aberta, muito clara. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo E quanto às boas práticas de governança como forma de representação? A nossa pesquisa de clima, a própria satisfação do associado em relação ao atendimento, é um índice ótimo: 60% da pesquisa NPS e 80% de favorabilidade, isso é coisa para poucos. Quando a gente fala em favorabilidade, nós temos exemplos. Quando chamam, por exemplo, o Sicredi para participar das conferências mundiais, para fazer exposição das práticas, eles querem saber: “O que tem por trás desse movimento, que cresce mais de 20% ao ano?”. Isso ao longo dos últimos 10-15 anos, e tem perspectiva de nesse ano continuar crescendo, mesmo com a crise. Aí você começa a entender a nossa posição do investimento em pessoas, reconhecido por um agente externo: está numa posição de 38º, é o 3º em cooperativas e 1º em instituição financeira. E tem uma coisa virtuosa no Sicredi: os presidentes das cooperativas estão comprometidos com essa causa. Eles gostam de fazer o Crescer. Eles gostam do Pertencer, de fazer reuniões de núcleo, assembleias de núcleo, de fazer esse exercício, dá uma estabilidade para a governança. Nas crises tem se mostrado mais efetivo do que o modelo tradicional, [porque] tem regra, tem regulamento... A gente tem que se orgulhar disso, falar disso, O Programa Crescer tem como objetivo qualificar a participação dos associados na gestão e no desenvolvimento da cooperativa, e o Pertencer busca aprimorar o processo de gestão e desenvolvimento das cooperativas integrantes do Sicredi. traduzir isso para dentro da Casa, tem que falar com propriedade que é um diferencial que os outros não têm. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Como ser cooperativa em grandes movimentos e em grandes cooperativas? Eu não tenho medo de pensar em cooperativas grandes, em termos de ativos, em termos de número de associados, em termos de estrutura, porque, hoje, pelo nosso modelo, a governança segue as melhores práticas de mercado, você sabe quem se reporta a quem. A governança dita o sucesso do empreendimento. Quais os principais desafios do Sicredi para os próximos anos, para decolar de fato no cenário financeiro? Nós precisamos ter um investimento maior em TI [tecnologia da informação]. Acho que esse é um ponto para poder competir, porque, quando você compara o número de associados com os outros bancos, eles têm proporções bem maiores, a diversidade é maior. O segundo [ponto] é não se desvirtuar da capacitação em todos os níveis. Estudar, estudar, estudar. A organização tem que dar o suporte, tem que ter a visão da flexibilidade de horário, da flexibilidade da questão das imersões, dos intercâmbios, da formação externa, da visão externa. Isso não pertence só aos presidentes e aos diretores executivos, precisa permear toda a organização. O terceiro ponto, que eu acho fundamental, é consolidar aquilo que a gente inventa. Se nós temos o Programa Crescer, temos que cuidar para não criticar e sempre pensar em contribuir para melhorar. Nós temos que persistir naquilo em que nós acreditamos, nos nossos programas, na nossa causa, persistir, melhorar, reformular, para poder avançar. A gente não pode abrir mão do ser cooperativo. A grande sacada está nos nossos valores. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Manfred Alfonso Dasenbrock 20 de maio de 2015 Diálogo 1: Evolução do Cooperativismo no Mundo Como o senhor vê esse movimento dos bancos comunitários? A questão da inclusão financeira é um novo movimento de responsabilidade social de governo. Quando eu olho a camada da sociedade que tem necessidade, eu posso me aproximar dela, mas eu não tenho o dever porque eu sou uma organização não governamental, privada. Quem tem o dever é o governo para o qual a gente contribui com tributos. Pode sim uma cooperativa decidir, através de uma ação de assembleia, por iniciativa de aproximação, oferecer soluções ou coisas dessa natureza. É um movimento ascendente no mundo, especialmente para países que saíram de guerras, e as cooperativas têm necessidade de se aproximar. Então, eu acho que é um movimento crescente e a gente pode se aproximar, ver aquilo que pode fazer, muitas vezes são iniciativas que surgem a partir do debate e da necessidade. Qual sua mensagem final para nossos colegas colaboradores? Eu quero dizer que trabalhar no Sicredi deve ser um orgulho para todos, porque tem uma causa nobre. E não só dedicar a sua capacidade intelectual, mas também abraçar de coração, porque faz diferença para as pessoas que usufruem desse serviço. Então, dentro desse espírito, eu chamo todos a ombrearem e se engajarem nessa causa, que a causa é nobre. DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO Diálogo na Prática Após a leitura deste caderno sobre o tema Evolução do Cooperativismo no Mundo, propomos que você ou o seu grupo faça um momento de reflexão... • Que visão você(s) tem sobre o cooperativismo de crédito? Em que medida essa visão se aproxima daquela apresentada pelo convidado Manfred Alfonso Dasenbrock? • Quais as boas práticas de governança vigentes no dia a dia da sua Cooperativa? O que ainda precisa ser aprimorado nesse sentido? • Na sua opinião ou do grupo, em que medida os aspectos a serem valorizados nos colaboradores do Sicredi, indicados pelo nosso convidado, fortalecem o relacionamento diário com os associados? Por quê? • Quais os benefícios para os associados Sicredi da sua região, em fazer parte de uma organização com presença nacional e atuação regional? E os associados, por sua vez, como eles podem contribuir com o crescimento da sua Cooperativa?