|3| ZERO HORA > SEGUNDA | 10 | JANEIRO | 2011 Mais difícil do que negócio da Arena A Dirigentes gremistas tiveram a certeza de que tudo estava certo por mais de uma vez.Atenderam às exigências de Assis e só começaram a desconfiar de que“a coisa tinha ido para o brejo”– conforme as palavras de Ricardo Vontobel – quando, na coletiva do Copacabana Palace, Ronaldinho não falou nada do que o seu irmão e empresário havia dito que ele falaria. pesar dos percalços, o negócio evoluiu bem. O vice-presidente Ricardo Vontobel revelou que o “Projeto Ronaldinho” estava bem fechado, que tinha “possibilidades muito boas de ser um grande sucesso”. A OAS, parceira do clube na construção da Arena, era uma das maiores interessadas nas tratativas. Queria o jogador como garoto-propaganda do novo estádio gremista e ainda tinha ideias para usar a sua imagem em projetos fora do Brasil. A nova fornecedora de material esportivo, Topper, também topou desde o primeiro momento. Negociou a camisa, a nova 10 de Ronaldinho, que teria até um patrocinador especial, diferente dos demais, e seria lançada na última semana de fevereiro. Na venda da nova camisa, 40% seria de Ronaldinho, 40% da Topper, e 20% do Grêmio. Na noite de 19 de dezembro de 2010, o contrato entre clube e jogador foi concluído. Na residência de Vontobel, num condomínio de luxo da Capital, reuniram-se o dono da casa, Paulo Odone, Antônio Vicente Martins, o vice de marketing Paulo César Verardi e Assis. Trincharam costelas muito elogiadas, beberam cerveja, água mineral e vinho. E brindaram o sucesso do negócio, cada um com sua bebida. Um dia depois, na casa de shows que Assis ergueu na Zona Sul, ocorreu um fato que embeveceu os dirigentes gremistas. Durante a apresentação do cantor Belo, Ronaldinho pegou o microfone e avisou que iria cantar.Quando todos esperavam um samba, a banda atacou com o Hino do Grêmio. Ronaldinho levantou os braços e entoou a plenos pulmões os versos compostos por Lupicínio Rodrigues.A plateia delirou. O vídeo da performance parou na internet, os acessos foram às alturas, e a torcida gremista começou a acreditar cada vez mais que o jogador voltaria para a casa que o formou. Nos dias seguintes, porém, a situação começou a ficar nebulosa. A todo momento Assis pedia que fosse incluída nova cláusula no contrato. – Ele parecia não saber o que queria – observou Vicente Martins – Numa negociação, as partes sempre têm um objetivo. O Assis, não. Ele vai e volta a todo momento. Havia cada vez mais exigências Na segunda-feira, dia 3, Vicente Martins participou de uma reunião na empresa de Assis, na zona sul da Capital. O encontro começou às 22h e terminou à 1h.Vicente foi para casa com a certeza de que tudo estava alinhavado. Na terça, Assis pediu para que fosse feita nova rodada de conversas – tinha outras exigências. Desta vez, a reunião se estendeu das 18h às 3h da madrugada. Ao sair da empresa do irmão de Ronaldinho, um dirigente gremista comentou: – Como é difícil negociar com o Assis. Nunca vi nada parecido nos meus anos de Grêmio... – Difícil? – rebateu o outro. – Foi mais fácil fechar as negociações do projeto da Arena com a OAS! O negócio da Arena remonta a quase R$ 1 bilhão. O de Ronaldinho envolveria cerca de R$ 100 milhões entre todas as partes. Os ganhos de Ronaldinho seriam de R$ 10 milhões por ano em salários e mais R$ 10 milhões em publicidade. DIÁLOGO ENTRE DIRIGENTES DO GRÊMIO AO SAIR DA EMPRESA DO IRMÃO E EMPRESÁRIO DE RONALDINHO: ‘‘ Como é difícil negociar com o Assis. Nunca vi nada parecido nos meus anos de Grêmio... ‘‘ Difícil? Foi mais fácil fechar as negociações do projeto da Arena com a OAS! Mas, aparentemente, o acerto agora era definitivo. A essa altura, porém, os jogadores já estavam sentindo a invasão contínua do assunto Ronaldinho no próprio vestiário do Olímpico. Falava-se muito no projeto da contratação e muito pouco da disputa da Libertadores 2011, prioridade do clube nesta temporada e cuja estreia está cada vez mais próxima – o jogo de ida contra o Liverpool, em Montevidéu, será no próximo dia 26. Do Rio, Assis mandaria uma senha Na quarta-feira, Assis viajou para o Rio a fim de conversar com o vicepresidente do Milan,Adriano Galliani, para obter a bênção italiana e, enfim, assinar com o Grêmio. A primeira grande surpresa foi o anúncio da entrevista coletiva no Salão Cristal do Copacabana Palace, na quinta-feira, às 15h. Vontobel ligou para Assis, preocupado: – O que significa isso? Assis pediu que ficasse tranquilo. E combinou uma senha com o dirigente gremista: – O Ronaldo vai dizer que está voltando para casa. Isso quer dizer que está tudo certo com o Grêmio. Mas, durante os 39 minutos da entrevista, Ronaldinho não deu essa declaração. – Senti que a coisa tinha ido para o brejo quando o Ronaldinho respondeu: “O Grêmio está na minha cidade, o Palmeiras tem o Felipão e o Flamengo tem esta torcida. E o Flamengo é o Flamengo” – recordou Vontobel. SEGUE >