Nova Escola On-line - O site de quem educa
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Índice da edição 186 - out/2005
Sala de aula
Empreendedorismo na escola: que negócio é esse?
O tema, tão relacionado ao campo da administração, está cada vez mais presente nas
escolas. Natural. Desde a Educacão Infantil, os alunos aprendem a ter autonomia e
iniciativa, qualidades indispensáveis aos bons profissionais
Arthur Guimarães
Tarcísio Mattos/Tempo
Venda de nuggets na hora do recreio no Centro Educacional Menino Jesus, em Florianópolis: alunos aprendendo a criar o próprio
negócio
Empreendedorismo é uma expressão que vem do mundo dos negócios. O termo, porém, tem
tudo a ver com educação. Afinal, um dos objetivos da escola, desde a Educação Infantil, é
formar alunos autônomos - é nessa fase que as crianças aprendem a ir ao banheiro sozinhas!
Cabe aos professores desenvolver nos alunos um conjunto de competências que os tornem
capazes de tomar decisões, traçar planos e organizar os recursos necessários para chegar ao
sucesso. Hoje, muitas escolas estão dando a essa prática um novo sentido, mais voltado ao
competitivo mundo do trabalho.
A iniciativa tem tudo para dar certo. Muitas das habilidades que os estudantes desenvolvem
ao longo da escolaridade são exigidas de um empreendedor ou de um profissional
competente. Eles precisam saber superar obstáculos, ter iniciativa, assumir desafios, exigir
qualidade, planejar e estabelecer metas. Alunos que têm noções de empreendedorismo
aprendem conceitos e conhecimentos que fazem parte do currículo e que mais tarde vão
ajudá-los a entrar no mercado de trabalho sem depender das vagas de emprego, cada vez
mais escassas.
"Bons profissionais e líderes empresariais ou comunitários devem saber calcular riscos e
enfrentar frustrações, além de ter autonomia para traçar metas", afirma Augusto de Franco,
coordenador-geral da Agência de Educação para o Desenvolvimento (AED), programa público
desenvolvido em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) e entidades internacionais.
Fernando Dolabela, autor de livros sobre empreendedorismo, vê no tema a oportunidade para
os jovens começarem a perceber a responsabilidade que têm na construção do próprio
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destino. Para ele, empreender significa acreditar que pessoas e comunidade são capazes de
se desenvolver pela cooperação: "Se a turma aprender isso, criar uma empresa ou conseguir
emprego vira desafio fácil de enfrentar".
Como ensinar os alunos a planejar e a realizar seus projetos
Para passar o conceito à garotada, Augusto de Franco diz que só é preciso ter disposição
para encorajar o aluno a exercitar a imaginação e a planejar o futuro. Cabe ao professor
identificar os estudantes que tenham habilidades espontâneas para a tarefa e ajudar todos a
encontrar caminhos que possibilitem realizar seus projetos. "Alunos criativos ou persistentes
costumam ser rotulados de indisciplinados, mas essas são as características de
empreendedores em potencial", explica Mara Sampaio, gerente de educação do Sebrae de
São Paulo.
Professores precisam ser capacitados para tratar o tema
Pedro Motta
Fábrica Tá Limpo, na Escola Municipal Israel Pinheiro, em Belo Horizonte: jovens descobrem caminhos para o futuro
O empreendedorismo pode ser incorporado às demais disciplinas, com o próprio corpo
docente se encarregando dos conteúdos. Esse foi o caminho adotado por algumas escolas
municipais de São José dos Campos (SP) e de Belo Horizonte. Antes, contudo, os
professores receberam capacitação com consultores ou empresas especializadas na área. Já
o Centro Educacional Menino Jesus, colégio particular de Florianópolis, deixou o assunto a
cargo de empresários e administradores de empresas de verdade. Eles mostram aos jovens,
de maneira lúdica, como agem em seus negócios e com o que se preocupam no dia-a-dia.
Há três anos, um dos alunos da 6ª série da Escola Municipal Israel Pinheiro, na periferia de
Belo Horizonte, surpreendeu o professor ao responder a uma pergunta simples: Qual é o
sonho de vocês? O garoto disse: "Quero trabalhar no tráfico pra conseguir dinheiro pra minha
família". O susto motivou uma conversa entre os professores. "Percebemos que a vontade do
garoto era somente ter condições de sustentar a família. E o tráfico, até então, era sua única
opção", conta Guido Rodrigues, professor de Educação Física.
Para que aquele estudante e todos os outros atingissem seus objetivos, por caminhos que
não fossem o crime, a escola optou por ensinar empreendedorismo no Ensino Fundamental.
"Eu e os colegas já estávamos tendo palestras sobre o assunto. Durante nossos estudos,
descobrimos que a escola tinha potencial para montar uma fábrica de produtos de limpeza e
então começamos a investir nisso", lembra a vice-diretora Geralda Vieira.
O professor Guido - que também é formado em química - foi atrás das fórmulas dos produtos.
A direção pediu à prefeitura apoio financeiro para iniciar o pequeno negócio. Em menos de
dois meses, a cooperativa Tá Limpo começou a funcionar. Atualmente, os criadores não
estudam mais na escola, mas seus sucessores mostraram que também têm espírito
empreendedor: eles multiplicaram o número de mercadorias produzidas. Entre os clientes
estão mais de 20 escolas municipais. Tirando os gastos com a compra de material, cada um
dos 25 participantes do projeto ganha em média um salário mínimo por mês. "Já consigo
ajudar a minha família. Aliás, estou até montando uma empresa própria: uma filial na minha
casa", diz o estudante Carlos Chaves, 15 anos.
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Da 5a à 8a série, a preparação para o futuro está no currículo
No Centro Educacional Menino Jesus, o empreendedorismo faz parte do currículo. Os
professores ajudaram na montagem do projeto e deixaram os conteúdos para administradores
de empresas que, voluntariamente, dão aulas uma vez por semana. O projeto começa na 5ª
série. "Nessa fase, conversamos sobre a evolução do conceito de trabalho, de desemprego e
de pobreza", explica George André Vieira, um dos educadores responsáveis pela disciplina.
Na 6ª, a turma coloca a mão na massa organizando rifas e eventos que tragam recursos para
a realização da festa junina. Assim atua a Casa Barraca, empresa cujo lucro é destinado à
festa de formatura da 8ª série. Nessa atividade, os alunos fazem a compra dos produtos,
montam as barracas, calculam as despesas e fazem a previsão da arrecadação. "Eles se
divertem e têm o primeiro contato com responsabilidades de verdade", conta o educador.
As turmas de 7ª série, por sua vez, montam um detalhado plano de negócios para, no ano
seguinte, colocá-lo em prática. Já na 8ª série, cada classe instala na própria escola um
negócio que tem de funcionar de verdade. "Pode ser loja de crepe, lanchonete, promotora de
eventos... Só precisa dar lucro", enumera George. Antes de partir para o Ensino Médio, os
alunos fazem o trabalho de conclusão de curso, quando apresentam o empreendimento e um
diagnóstico de seu funcionamento, como se fosse uma pequena auditoria. "É um projeto
interdisciplinar, em que a correção dos textos é feita pelos professores de Língua Portuguesa
e os gráficos são analisados pelos de Matemática", diz o educador. "Unindo diversas áreas do
saber e conceitos vindos do mundo dos negócios, ampliamos as habilidades dos alunos e
mostramos novas opções para o seu futuro", conclui George.
Um negócio para cada idade
Montar uma empresa talvez seja uma tarefa que assuste os alunos do Ensino Fundamental.
Mas abrir uma loja de balas pode ser uma diversão! Há sugestões de negócio para cada série
trabalhar conceitos de empreendedorismo - que aparecerão em maior ou menor grau
dependendo da maturidade da turma - enquanto desenvolve habilidades e conteúdos
presentes no currículo.
CONTEÚDOS,
CONCEITOS DE
HABILIDADES E
SÉRIE NEGÓCIO
EMPREENDEDORISMO
COMPETÊNCIAS
Ser capaz de ouvir o que o
colega diz e de interpretar
novas propostas;
compreender e realizar
operações de soma e
subtração.
1ª
LOJA DE DOCES
Técnicas de negociação,
compra e venda e
manipulação de dinheiro.
2ª
OFICINA DE
BRINQUEDOS
COM MATERIAL
RECICLÁVEL
Trabalhar com diferentes
Planejamento e
materiais; reciclar; criar
desenvolvimento de
autoconfiança e estabelecer
relacionamentos interpessoais. relações interpessoais
baseadas na confiança.
FEIRA DE
FRUTAS
Definição de possíveis
clientes; técnicas de
comunicação e vendas; e
identificação de concorrentes.
3ª
Utilizar diferentes unidades
de medida; aprender o valor
nutritivo de produtos naturais;
e formular perguntas e
suposições coerentes,
criativas e enriquecedoras.
Explorar modalidades de
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4ª
5ª
6ª
7ª
8ª
LOCADORA DE
GIBIS
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linguagem e leitura (para
Pesquisa de mercado para
obter informações, para se
definição do negócio e do perfil divertir); e identificar
do cliente; e iniciativa.
diferentes elementos no
texto, como o humor.
ARTESANATO
Desenvolvimento da
criatividade; e definição do
local de funcionamento da
empresa.
Conhecer e divulgar
manifestações artísticas e
populares; aprender sobre a
composição de materiais; e
aplicar fórmulas para o
cálculo do balanço de
vendas.
OFICINA DE
ESTAMPARIA
Definição do investimento
necessário e das ações de
marketing para a divulgação
da empresa.
Criar oportunidades para
desenvolver diversas formas
de expressão; e estudar
medidas geométricas
complexas.
SHOWROOM DE
PAPEL
Definição dos recursos
humanos e materiais; e
identificação de fornecedores.
Conscientizar-se sobre a
necessidade de preservação
do meio ambiente; e
conhecer a composição dos
materiais.
NEGÓCIO
PRÓPRIO
Identificação das
necessidades do mercado e
das concorrentes;
planejamento; e iniciativa.
Quantificar o material
necessário para produção do
bem ou prestação de serviço;
calcular custos; definir preço;
e elaborar textos.
Quer saber mais?
Centro Educacional Menino Jesus, R. Esteves Junior, 696, 88015 - 130, Florianópolis, SC, tel.
(048) 222 - 1899
Escola Municipal Israel Pinheiro, R. Desembargador Bráulio, 1147, 30285 - 170, Belo Horizonte,
MG, tel. (031) 3483 - 1333
Fernando Dolabela, tel. (31) 3284 - 3591, www.dolabela.com.br
Junior Achievement do Brasil, tel. (51) 3025 - 9900, [email protected],
http://www.jabrasil.org.br/
Sebrae, tel. 0800 - 78 - 0202, www.sebrae.com.br
BBLIOGRAFIA
O Empreendedorismo na Escola, Coleção Escola em Ação, Rede Pitágoras, 248 págs., Ed.
Artmed, tel. 0800-703-3444, 44 reais
Pedagogia Empreendedora, Fernando Dolabela, 144 págs., Ed. de Cultura, tel. (11) 5549 - 3660,
25 reais
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