Robin Macgregor 11.471, Focalizando os Pobres 6/03/03 Tarefa 2 Introdução Num refrescante tom de crítica otimista, os artigos discutidos lançaram uma luz positiva sobre os assuntos de reforma política, implementação e a burocracia nos projetos de desenvolvimento. Vários temas subjacentes perpassaram as leituras e chamaram minha atenção no que se referem a promover o bom desempenho nesses projetos: responsabilidade, competição e lições transmissíveis. Os artigos fizeram-me sensível a uma gama de assuntos dentre esses temas, inclusive os efeitos do nível de autonomia e autoridade de uma agência numa reforma bem sucedida; o significado das pressões internas e externas das demandas por reforma; e a incidência de corrupção. Responsabilidade Final Pressões internas e externas por reforma Antes desta série de leituras, eu achara o conceito de responsabilidade final bastante ambíguo. Assim, fiquei contente com a definição concreta de Fox de responsabilidade como uma "conformidade aumentada com os compromissos oficiais de reforma” (Fox: 303, 1998). Ele destacou dois tipos principais de pressões de reforma: a externa, baseada na alegação de que as grandes burocracias não estão predispostas a ter autocrítica; e a interna, baseada na alegação de que a aprendizagem institucional pode conduzir à ação corretiva sem pressão externa. Achei seu argumento equilibrado, pois sintetizou essas duas perspectivas através de sua explicação a respeito da experiência do Banco Mundial com a reforma das políticas de restabelecimento no início dos anos 90. Nas palavras de Fox "as pressões externas habilitaram aqueles, dentro da instituição, que já haviam ‘aprendido’ ... num processo de interação recíproca [onde] críticos externos e reformistas internos ... fortalecem-se (uns aos outros)” (Fox: 308, 1998). Por exemplo, os milhares de cartões postais de ONGs alemãs que invocaram a responsabilidade do Banco Mundial pelo descumprimento das diretrizes do restabelecimento (entre outras coisas), que tiveram o impacto de fazer com que a revisão da Força Tarefa fosse aberta ao público. Tal transparência, externamente forçada, com certeza aumentou a influência de reformistas internos como Michael Cernea. A noção de reforma interna e externa também foi representada na história de Joshi sobre a Associação do Serviço Florestal em Bengala Ocidental. Nesse caso, Joshi descobriu uma interessante aberração na atribuição habitual da literatura de desenvolvimento da reforma às pressões internas ou externas (ou uma combinação das duas). Ele achou que o sindicato dos silvicultores, embora ligado ao estado, tinha dissidentes que finalmente realinharam suas lealdades com os aldeões para afetar a mudança. A formação de Comitês de Proteção à Floresta representou uma impressionante nova abordagem que enfatizava a responsabilidade compartilhada na administração das florestas do estado. Tendler falou sobre o conceito de pressões de reforma em sua descrição do Programa de Agente de Saúde no Ceará, Brasil. Esse programa, dirigido pelo estado, capacitou agentes de saúde de baixa qualificação e baixos salários com grande autonomia formal e status. O estado também educou a comunidade quanto ao papel dos trabalhadores e dos prefeitos, 2 transformando-os em "monitores públicos informados de um programa novo, no qual o potencial para o abuso era alto" (Tendler: 44, 1997). O nível de tensão (isto é, de pressão externa) entre os agentes de saúde mantidos pelo estado, os prefeitos dos municípios nos quais trabalhavam e a comunidade asseguravam mínima corrupção ou desvio dos objetivos indicados. Este relato acrescentou à minha compreensão de supervisão e contrapesos como forças positivas em projetos de desenvolvimento. Autonomia e Autoridade A importância da autonomia e da autoridade no conceito de responsabilidade foi-me esclarecida em parte através do relato de Tendler sobre processos bem sucedidos de reforma em seu capítulo "Reinventando os Projetos". Particularmente, fiquei enaltecido por sua descrição do efeito da "tomada-de-posse” – onde um uma agência motivada, de “melhor-desempenho” assumiu as tarefas de outra agência (seja de modo informal, seja com o apoio governamental) para melhor coordenar tais tarefas. Os sucessos resultantes realçam o lado positivo do controle centralizado no nível da execução, uma vez que deu à agência “tomadora-de-posse" autonomia e autoridade para seguir adiante. Tendler fez outra observação interessante concernente à relação entre a agência, o usuário, e o provedor de serviços. Num esforço para aumentar a responsabilidade, propôs sujeitar a agência implementadora à pressão da demanda, reestruturando a rede de financiamento para dar aos usuários, ou "demandantes", autonomia e autoridade para selecionar e contratar os serviços de agências provedoras. Achei essa idéia particularmente poderosa em seu potencial para aumentar a responsabilidade dos provedores em relação aos demandantes através da nítida identificação dos padrões de desempenho para tarefas estritamente especificadas. 3 Competição Fiquei surpreso com a definição positiva de competição que emergiu das leituras. Jain e Moore enfatizaram a importância de ver os programas bem-sucedidos de micro-crédito como pequenas empresas, em razão desses micro-programas manterem os custos baixos, oferecendo um atraente conjunto de produtos (empréstimos) e impondo o reembolso. A competição entre os vários micro-programas por sócios e pelo apoio dos doadores teve o benefício de uma maior preocupação com o oferecimento de serviços que atraíssem os mutuários (as comunidades pobres). Corrupção Algo que achei particularmente atraente foi a análise de Bunker dos diferentes níveis de corrupção entre dois projetos semelhantes. Para o projeto menos corrupto, o "Projeto B", Bunker descobriu que, ao informar práticas corruptas, a relação entre as agências se transformava numa 'vigilância antagônica’. Ele concluiu que a competição entre agências tinha o benefício de reduzir a corrupção, "assegurando a mútua vigilância dos atores envolvidos, e impedindo as oportunidades para a trama ou a aquiescência necessárias para que a corrupção ocorra" (Bunker: 217, 1985). Numa nota à parte, achei interessante observar as manifestações espaciais deste tipo de competição: os agentes do Projeto A tendiam a viver nas mesmas agrovilas (aumentando, assim, suas interações num nível social), enquanto os agentes do Projeto B viviam separados dos membros de outras agências. O artigo de Jain e Moore sobre micro-crédito também dá a perceber que o estilo de vida isolado, de campus, era incentivado como uma maneira de “isolar os empregados das pressões sociais que pudessem afetar de modo adverso o desempenho de seu trabalho“ (Jain e Moore: 19, 2003). Essa observação leva-me 4 a desejar saber quais são as verdadeiras trocas. É melhor promover o isolamento social da equipe de funcionários de uma agência no esforço de controlar a corrupção? Ou podem as exterioridades da socialização entre as partes e a formação de laços compensar os riscos de corrupção? Lições Aprendidas: Conhecimento Transferível Esta coleção de artigos armou-me de algum sentido dos elementos que promovem o sucesso nos projetos de desenvolvimento. Penso que o esclarecedor artigo de Jain e Moore é uma advertência mais abrangente acerca do potencial para a má interpretação de modelos – nos quais a ênfase das relações públicas pode ocultar os verdadeiros componentes de sucesso. A importância da boa qualidade, das relações entre trabalhador-cliente é outra grande lição mencionada por muitos dos artigos. Em sua descrição do Agente de Saúde no Brasil, Tendler destacou os benefícios (tais como a maior dedicação e o melhor desempenho por parte dos agentes) em construir relações honestas e respeitosas entre trabalhador-cliente. Sua descoberta final das semelhanças entre os resultados nos programas iniciados através de vários setores dá apoio adicional a esta lição. O benefício das relações positivas também é refletido na formação de alianças entre os silvicultores da linha de frente e os aldeões no estudo de caso de Joshi sobre o Oeste de Bengala. A auto-avaliação também foi um componente inestimável, que acrescentou à dedicação do pessoal nos estudos de caso do micro-crédito. Achei a série de lições de Tendler de seu artigo "Reinventando os Projetos" muito claros e realistas em seu potencial de transmissibilidade. A facilidade de tarefa, a ausência de 5 pressão, os incentivos internos e o envolvimento em nível local são indicadores úteis para predizer um bom desempenho. Ao todo, fiquei satisfeito com o tom construtivo e as lições otimistas dos artigos e espero que os sucessos que relatam possam fornecer a base para uma futura ação progressiva no campo de desenvolvimento. 6