A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM DIADEMA ATRAVÉS DOS ARQUIVOS ESCOLARES: O CASO DA E.E JOÃO RAMALHO Reginaldo Alberto Meloni – UNIFESP - [email protected] Giseli de Oliveira Cardoso – UNIFESP - [email protected] Mara Regina Prata Walério – UNIFESP - [email protected] Palavras-Chave – Diadema, Arquivos Escolares, Ensino de Ciências Naturais Introdução Este trabalho é o resultado parcial de um projeto que está sendo desenvolvido pelo grupo de pesquisa em História da Educação da UNIFESP/Campus Diadema que tem como meta verificar as concepções e a prática do ensino de Ciências Naturais e Química na educação básica entre os anos 1945 e 19801. Parte dessa investigação foi realizada tendo como objeto de estudo a instituição de educação básica chamada Escola Estadual João Ramalho, na cidade de Diadema. Esse texto apresentará o trabalho realizado nessa escola até o momento. Objetivos O Objetivo deste trabalho foi verificar a prática de ensino de Ciências Naturais e Química desenvolvida na EE João Ramalho no período compreendido entre os anos 1949 e 1979. O recorte temporal inicia-se com a fundação da escola e termina com a criação nesse estabelecimento de ensino do curso de 2º grau. A hipótese a ser testada é que a apropriação do conhecimento ocorre de forma específica em função do local e do tempo de acordo com os usos que são feitos (CERTEAU, 2003) das ideias e das propostas para a educação. Foi com essa perspectiva que foi escolhido como objeto de estudo o município de Diadema do período entre os anos sessenta e oitenta do século passado e, particularmente, a EE João Ramalho. Por que foi escolhido o município de Diadema? Ao longo dos caminhos que os primeiros jesuítas trilharam para subir a Serra do Mar vindos da Vila de São Vicente a caminho de fundarem a Vila de São Paulo de Piratininga, foram fundados muitos pequenos povoados, dos quais boa parte desapareceu. Diadema sobreviveu e muito bem. As avenidas Antônio Piranga e Piraporinha, próximas ao centro da cidade, por exemplo, são remanescentes das trilhas que os primeiros e poucos moradores fizeram, ao se fixar na região, vindos de São Paulo através de uma via de ligação que existiu entre a então Freguesia de São Bernardo e a Vila de Santo Amaro. Até o final dos anos 1950, a região era composta por vilas, povoados e bairros pertencentes à cidade de São Bernardo do Campo. O processo de emancipação levou anos, mas em primeiro de janeiro de 1960, Diadema tornou-se o mais novo município da Grande São Paulo. O desenvolvimento do novo município ganhou força com a instalação de grandes indústrias multinacionais ao longo da Via Anchieta e a instalação de pequenas e médias empresas nacionais fornecedoras das grandes montadoras. Diadema viveu um crescimento vertiginoso em suas duas primeiras décadas de existência. A cidade tinha 12 mil habitantes em 1960, 79 mil em 1970 e 228 mil em 1980. No início, a maior parte de sua população era formada por famílias de trabalhadores migrantes pouco qualificados que vieram em busca dos empregos oferecidos pelas indústrias da região e fixaram-se na cidade por encontrarem nela terrenos baratos e acessíveis, porém desprovidos de qualquer infraestrutura urbana. Até a década de cinquenta, as poucas salas de aula que havia estavam dispersas e mal equipadas, embora quase sempre dirigidas por professoras bem intencionadas como, por exemplo, a escola de Vila Conceição que será tratada mais a frente. Além das metalúrgicas, as indústrias químicas também tiveram um grande desenvolvimento na região. Ao todo, o número de vagas nas empresas aumentou de 628 em 1959 para 5.098 em 1969 (Diadema Jornal). No entanto, a maior parte dessas vagas não era ocupada pelos trabalhadores residentes na região devido à baixa instrução e, consequentemente, era necessário que trabalhadores qualificados viessem de outras regiões do país e até do exterior. É nesse contexto de demanda por trabalhadores com conhecimentos básicos e técnicos, que se torna propício investigar o desenvolvimento da educação em Ciências Naturais e Química nesse município. O desenvolvimento da educação em Diadema Desde o inicio havia muitos problemas na organização da educação de Diadema, pois a demanda era muito grande, os prédios existentes não comportavam o grande número de alunos, e o número de escolas estava muito aquém da necessidade, o que exigia alguns rearranjos para suprir a demanda. Um exemplo clássico é o prédio da Antonio Piranga que foi utilizado por várias instituições diferentes: o primeiro grupo escolar, o primeiro ginásio estadual, o primeiro colégio estadual, a primeira escola Estadual de primeiro e segundo graus e, atualmente, uma escola municipal. Nessa época, o governo estadual propôs aos municípios uma parceria para a construção de novas escolas, mas a prefeitura de Diadema não aceitou essa parceria alegando considerar o município “cidade dormitório”. Além da carência de espaços, a maioria das escolas era de madeira e flutuava nas enchentes nos períodos de chuva. Ainda em 1972 havia mais de 3.000 crianças fora das escolas e os que conseguiam fazer suas matrículas estudavam em prédios que de modo geral ofereciam sérios riscos (Diadema Jornal, 1972). Um exemplo dessa situação caótica é o prédio onde funcionava o Grupo Escolar João Ramalho onde muitas vezes era impossível ministrar aulas em virtude das enchentes. Para aumentar o número de vagas muitas escolas ofereciam apenas duas horas de aulas, mas isso ainda era insuficiente e o legislativo municipal sugeriu diminuir os períodos para apenas uma hora de aula (Diadema Jornal, 1972). Em 1975 Diadema possuía dois estabelecimentos de ensino de 2° grau totalizando 519 alunos distribuídos da seguinte forma: 45 na 1ª série no Ginásio Estadual do bairro de Piraporinha e 474 na “EE Senador Filinto Muller” sendo 211 na 1ª série, 146 na 2ª série e 117 na 3ª série. No primeiro grau estavam matriculados 25.539 alunos em 22 escolas. Nessa época na EEPG João Ramalho estudavam 2.502 alunos divididos em quatro períodos (67 classes), sendo duas especiais com 28 alunos (Diadema Jornal, 1975). EE João Ramalho: apontamentos sobre sua história A EE João Ramalho, assim como Diadema, também é uma sobrevivente, pois a maioria das escolas que foram criadas na mesma época foi fechada quando suas professoras não puderam mais ministrar as aulas. O primeiro indício da existência da escola data de 1922 e se resume a uma sala na Rua Maria Eugenia s/n, com o nome de Escola da Vila Conceição (anexo 1) (ESQUÍVEL, 1988) Por volta de 1928 essa escola foi transferida para Rua Antônio Piranga, s/n, vestiário do campo de futebol do clube Vila Conceição (anexo 2), onde funcionavam duas salas mistas multi seriadas. Nessa época a “escolinha” conseguiu sua primeira ampliação. Dona. Silvia diretora da escola pediu ao empresário da ELNI, Sr. Evaristo Gomes Fernandes, que lhe doasse mais duas salas porque ela não estava mais conseguindo atender a demanda de crianças e o empresário pediu a ela que fizesse um esboço do que ela necessitava (ESQUIVEL, 1988). Conta-se que Dona Élida, esposa do empresário, não aceitou que construíssem apenas quatro salas de aulas e propôs uma planta que foi plenamente aceita pelo empresário, na qual era previsto um prédio com dois andares contendo seis salas em cada um deles. Pensando estar tudo acertado a diretora foi até a secretaria de educação pedir a liberação para construção, o que não foi possível, pois o terreno não era de propriedade da prefeitura. Somente após descobrir o proprietário do terreno, o Sr. Artur de Sampaio Moreira da usina Vigor e conseguir deste a doação, foi possível a construção do prédio. Durante os oito meses em que se deu à construção da nova escola as aulas foram ministradas em salas cedidas pela população local e a nova escola foi inaugurada em 1950, como Grupo Escolar João Ramalho (anexo 3) (Decreto N. 20.196 de 10 de janeiro de 1951) ou como era chamado Grupo Estadual (ESQUÍVEL, 1988). Em 1954, quando Diadema foi elevado a distrito, trezentos estudantes do Grupo Estadual participaram das festividades (Folha do Povo, 1954). É curioso observar que a Diretoria de Ensino da Região de Diadema informa que o decreto de criação da escola é o de N. 17698 de 14 de janeiro de 1949. No entanto, o referido decreto é de 26 de novembro de 1947 e trata da aprovação da consolidação das leis sobre educação determinada pelo então governador do Estado Adhemar de Barros, em maio desse mesmo ano e não da criação da escola de Diadema. Ou seja, ainda há contradições em algumas informações básicas sobre a história dessa escola. Em 1961 foi publicado o decreto de criação do Ginásio Estadual de Diadema (Lei N. 6.342, de 28 de setembro de 1961). Em 1962 começou a funcionar a parte administrativa (anexo 4), mas as aulas só se iniciaram em 1963 e como o Ginásio não possuía prédio próprio, aconteciam no período noturno em salas cedidas pelo Grupo Estadual (Diadema Jornal, 1963). Em 1962 foi aprovada a desapropriação de um imóvel no centro da cidade para a construção do Grupo Escolar (Decreto N. 39.736, de 5 de fevereiro de 1962), mas somente em 1968 foi inaugurado oficialmente o novo espaço cujo endereço atual é Rua Manoel da Nóbrega. Em 1970 foram criadas salas de aula para alunos do Ginásio Estadual no prédio onde funcionava o Grupo Escolar João Ramalho para facilitar o acesso das crianças à escola. Em maio de 1971 os alunos do curso Ginasial participaram da XI Feira de Ciências da cidade de São Paulo (Diadema Jornal, 1971). Em 1973 o Grupo Escolar foi unificado com o Ginásio Estadual e a escola passou a ser denominada Unidade Integrada de Ensino João Ramalho2. Dois anos depois (1975) o Grupo Escolar e o Ginásio Estadual fora integrados e a escola passou a chamar-se Escola Estadual de Primeiro Grau João Ramalho (Decreto N. 5637 de 19 de fevereiro de 1975) e, finalmente, em 1979, para Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus João Ramalho. Assim, as principais informações sobre a trajetória dessa instituição são as seguintes: Ano Informações 1922 Escola da Vila Conceição localizada na Rua Maria Eugenia s/n. 1928 A escola passou a ter duas salas de aula e foi transferida para o vestiário do campo de futebol do clube Vila Conceição, localizado na Rua Antonio Piranga, s/n. 1951 Inauguração do Grupo Escolar João Ramalho. O novo prédio foi construído em um terreno doado pelo Sr. Artur de Sampaio Moreira da usina Vigor à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. As obras foram custeadas pelo Sr. Evaristo Gomes Fernandes, a pedido da primeira diretora do grupo escolar, Dona Sylvia Ramos Esquivel. 1961 Decreto de criação do Ginásio Estadual de Diadema (Lei N. 6.342, de 28 de setembro de 1961). 1962 Imóvel cedido para construção do prédio do Grupo Escolar João Ramalho no centro de Diadema. Início das atividades do Ginásio Estadual de Diadema. 1968 Inauguração do prédio do Grupo Escolar na Rua Manoel da Nóbrega, onde funciona atualmente a EE João Ramalho. 1970 Criação das salas de aula para alunos do Ginásio Estadual no prédio onde funcionava o Grupo Escolar João Ramalho. 1973 O Grupo Escolar foi unificado com o Ginásio Estadual e a escola passou a ser denominada Unidade Integrada de Ensino João Ramalho 1975 A escola passou a chamar-se Escola Estadual de Primeiro Grau João Ramalho 1979 A partir desse ano a escola passou a denominar-se Escola Estadual de Primeiro e Segundo graus João Ramalho Em resumo, por ser uma das mais tradicionais instituições de ensino do município de Diadema, a EE João Ramalho é um ótimo ponto de partida para se entender o percurso da educação em Ciências Naturais nesta região do Estado de São Paulo. A elaboração e o desenvolvimento desse projeto de História da Educação O projeto começou a ser organizado no inicio de 2011, pelo grupo de pesquisa em História da Educação organizado com alunos do curso de Licenciatura Plena em Ciências da Universidade Federal de São Paulo/Campus Diadema. O primeiro passo foi estabelecer o contato com a instituição de ensino, visando apresentar o projeto para direção da escola, bem como verificar as possibilidades para o desenvolvimento do trabalho, ou seja, se havia material para a realização da pesquisa e se a escola apoiaria o projeto. O segundo passo foi apresentar o projeto também aos professores para a discussão e aprovação pela comunidade escolar. A apresentação foi feita por todo o grupo de pesquisa3 durante as reuniões de ATPC, uma no período da tarde e outra no período da noite. Durante a apresentação os professores demonstraram interesse pelo projeto ressaltando que tal iniciativa nunca havia ocorrido na escola e que resgatar a memória da escola seria de extrema importância para os alunos, funcionários e professores já que geraria uma identificação entre a escola e a comunidade. Durante as reuniões alguns professores colaboraram com as suas memórias, informando inclusive que no ano de 2012 a escola comemoraria 50 anos e que o projeto colaboraria para as comemorações. É importante ressaltar que esses 50 anos referem-se ao inicio das atividades do Ginásio Estadual de Diadema e ao decreto de desapropriação do atual terreno da escola para a construção da mesma, dados esses obtidos durante a pesquisa, pois muitos desconheciam a história da escola anterior a esse período. Como esses contatos foram feitos no final do 1º semestre, os trabalhos foram iniciados no semestre seguinte. Metodologia O trabalho iniciou-se com o levantamento do material existente na escola. Foi verificado que havia um conjunto pequeno de materiais para o ensino das Ciências Naturais em uma sala isolada sem uso e, no subsolo, um conjunto de documentos antigos armazenados em dois armários e um arquivo. O grupo decidiu que o mais urgente era a organização dessa documentação, pois só a partir dela poderíamos pesquisar os outros materiais encontrados e aprofundar a investigação sobre o ensino de ciências que era o principal objetivo. O primeiro passo foi estudar as técnicas de manuseio desse material e desenvolver uma metodologia de trabalho. Esse processo foi feito a partir do estudo do Manual de Trabalho em Arquivos Escolares do Centro de Referência Mario Covas e dos textos desenvolvidos pelo grupo Civilis da Faculdade de Educação da Universidade de Campinas (MENEZES, 2009 e MENEZES, 2011) que vem desenvolvendo trabalho semelhante nas escolas mais antigas dessa cidade. Após essa etapa, no segundo semestre de 2011, iniciou-se o trabalho com os documentos. No primeiro contato foi verificado que em sua maioria tratava-se de cadernos e livros com conteúdos pedagógicos e administrativos. Todos os documentos estavam encapados e acondicionados em dois armários e um arquivo. No geral a documentação apresentava bom estado de conservação. Alguns estavam com a lombada deteriorada. Organização do arquivo Para identificar e catalogar os documentos, foi utilizado como modelo a ficha desenvolvida pelo grupo Civilis (MENEZES, 2011, pp. 107 a 112). O conjunto de documentos foi chamado de Fundo Escolar João Ramalho. No item Grupo foram colocadas as diferentes denominações da escola. Em Sub Grupo, foi descrita a característica do documento, ou seja, se o mesmo era administrativo ou pedagógico. Em Titulo foi colocado o titulo que era encontrado no documento. A Data se refere à data em que o documento foi iniciado e encerrado. Em Nível todos os documentos encontrados nessa fase da pesquisa são classificados como item documental. Em Dimensão além de serem preenchidas as medidas do documento foi especificado também o número de páginas de cada documento bem como quantas páginas foram utilizadas e em Estado de conservação as condições de conservação do documento, especificando as avarias encontradas. Em Conteúdo foi descrito o conteúdo do documento e em Nota qualquer outra informação adicional, bem como os anexos e os adendos. A catalogação foi realizada em duplas da seguinte forma: um lia e analisava os documentos e o outro fazia as anotações. Durante esse processo muitas informações sobre a escola foram encontradas. Os documentos já catalogados eram separados por grupo e por data e, no final da catalogação do acervo, foram acondicionados em caixas de arquivo morto. Uma das principais dificuldades encontradas durante esse período foi em relação a organização, pois os documentos estavam no subsolo da secretaria da escola onde também estavam os documentos em uso, e por varias vezes tiveram que ser organizados novamente pois após serem catalogados, foram encontrados desorganizados. Analise dos documentos encontrados Foram catalogados 256 documentos que se referem ao período de 1949 a 1990 e estão divididos conforme tabela abaixo: Fundo Escolar João Ramalho Documentos Administrativos Escola da Vila Conceição Grupo Escolar João Ramalho Ginásio Estadual de Diadema Unidade Integrada de Ensino João Ramalho Escola Estadual de Primeiro Grau João Ramalho Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus João Ramalho 01 70 16 20 30 73 Documentos Pedagógicos 0 20 09 03 03 11 Dos documentos catalogados 82% são documentos com conteúdos administrativos, que se dividem entre Livros de ponto, Memorandos, Livros de matriculas, Despesas médicas, Livros de correspondências, Livros de atas, Inventário de materiais existentes, entre outros. Apenas 18% são de conteúdos pedagógicos divididos entre Atas de exames, Registro de resultados finais, Registros de notas, Atas de conselhos de série e classe e Atas de reuniões pedagógicas. O único documento encontrado da Escola da Vila Conceição é um Livro de registro de correspondências, que abrange o período de 1949 a 1958. Tal como acontece em boa parte dos acervos escolares, a maioria dos documentos encontrados é do tipo administrativo. Além desses, há nove documentos nos quais o Grupo não foi identificado e por isso ainda não foram incluídos na análise. A análise preliminar dos documentos encontrados contribuiu para a sistematização da história da escola. Com o objetivo de resgatar a memória escolar, o grupo foi convidado a expor esta história, em um evento, “Revivendo Décadas”, provido pela instituição de ensino, que contou com o envolvimento dos alunos e docentes. Foi encontrado neste acervo indícios que comprovam um movimento para construção de um laboratório e compra de equipamentos como, por exemplo, uma nota de compra de microscópios. Em conversa informal com ex-alunos constatou-se que houve um espaço onde eram feitos experimentos de ciências naturais. Catalogo Digital Assim que se começa a trabalhar com qualquer tipo de acervo surge à necessidade de organizar esses materiais de forma sistemática e isso não foi diferente para o caso dos documentos encontrados na EE João Ramalho. Além do catálogo com suporte em papel, o grupo decidiu organizar também um catálogo digital. A iniciativa de se organizar um catálogo digital se justificava por vários motivos, dentre eles, a facilidade em se analisar o acervo. O catalogo digital torna a consulta mais cômoda e o trabalho mais rápido e eficaz. Mas essa não foi a única motivação. Desde o inicio houve a preocupação em como a comunidade da EE João Ramalho poderia realmente se apropriar dessa material, ou seja, conhecer o teor e reconhecer sua importância, já que esses documentos revelam sua história como instituição de ensino. Nesse sentido, o catalogo digital facilita o acesso de um número maior de pessoas da comunidade. O primeiro passo foi a escolha de um sistema de gerenciamento de banco de dados (SGBD) e diversos fatores tiveram que ser analisados como acessibilidade, custo, design interativo, opções de consultas e relatórios e uma biblioteca pré-incorporada de modelos de aplicativos de rastreamento, que permitam rastreamentos funcionais sem exigir um profundo conhecimento em banco de dados. Ao final optou-se pelo Microsoft Office Access®, que fornece um conjunto de ferramentas, que permite que qualquer pessoa comece rapidamente a rastrear, relatar e compartilhar informações em um ambiente gerenciável. Foi criada então uma tabela para o armazenamento dos dados básicos de cada documento semelhante à tabela criada para catalogar os documentos manualmente e durante a análise dos primeiros documentos foi inserido um campo de observações onde informações relevantes para a pesquisa foram descritas. Todas as informações contidas na ficha manual foram repassadas ao Catalogo Digital o que facilitará futuras pesquisas, bem como o andamento do projeto. Com o catálogo digital é possível fazer uma pesquisa previa do conteúdo do documento sem manusear o mesmo garantindo a sua preservação e organização. Considerações finais Desde os primeiros passos, verificou-se que somente seria possível fazer uma aproximação da escola em tempos passados se o acervo documental e de materiais pedagógicos fosse recuperado. Com isso, o grupo de pesquisa decidiu em paralelo ao estudo das características socioculturais do município e do levantamento da legislação educacional do período, identificar e catalogar os documentos do período em estudo. Esse trabalho vem recuperando uma fonte de pesquisa inestimável para a compreensão da educação na região do ABCD paulista e, especialmente, para preservação de uma das mais tradicionais instituições de ensino daquele município. Nesse momento o projeto já cumpriu com o primeiro objetivo, que consistia em terminar a organização dos documentos e disponibilizar a documentação e o Catálogo Digital para a escola e toda a comunidade. Após essa fase, a prioridade será a de traçar o desenvolvimento do ensino das Ciências Naturais e Química na região, no período de 1960 a 1980 a partir do acervo da escola, da legislação da época e dos materiais didáticos encontrados na EE João Ramalho. Finalmente, o grupo de pesquisa tem como objetivo identificar os professores de Ciências Naturais e Química e os alunos do período em estudo, a partir dos documentos encontrados e desenvolver um trabalho de história oral sobre a educação em ciências nessa região. Notas 1 Esse projeto recebe o apoio da FAPESP 2 Os dados relativos aos anos setenta foram obtidos no Arquivo da EE João Ramalho 3 Nesse momento o grupo de pesquisa contava com os alunos Danilo Aparecido Marcelino e Larissa Pereira Inácio, além dos autores desse artigo. Bibliografia CERTEAU, M. de, A Invenção do Cotidiano, Petrópolis: Vozes, 2003; LOPES, A. C., A Disciplina Química: currículo, epistemologia e história, in LOPES, Alice Casimiro, Currículo e Epistemologia, Ijuí: Unijuí, 2007; Manual de Trabalho em Arquivos Escolares do Centro de Referência Mario Covas; MENEZES, M.C. (coord.) et al. Inventário Histórico Documental. Escola Normal de Campinas (1903-1976). De Escola Complementar a Instituto de Educação. Campinas: FE/UNICAMP, 2009; MENEZES, M.C., Descrever os documentos – construir o inventário – preservar a cultura material escolar. Revista Brasileira de História da Educação, SBHE, Campinas-SP: Editora Autores Associados,V.11, n.1 (25), pp. 93-116, 2011; RAMOS ESQUIVEL, Sylvia, Diadema¨: sua história, São Paulo: João Scortelli Editora, 1988; SANTOS, Wanderley dos, História do Município de Diadema, in memorian (1951/1996); Folha do Povo, 1922 a 1958. Centro de memória de São Bernardo do Campo; A Vanguarda, 1958 a 1960. Centro de memória de São Bernardo do Campo; Diadema Jornal, 1960 a 1967 e 1971 a 1979. Centro de Memória de Diadema; Diário do Grande ABC (artigos de Ademir Médici); Diadema Jornal, 1968 a 1969. Câmara Municipal de Diadema; Entrevista com o Memorialista Walter Carreiro; Referências na web São Paulo. Decreto N. 20.196 de 10 de janeiro de 1951. Dá denominação a Grupo Escolar. Disponível em <(http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1951/decreto%20n.20.196,%20de%2 010.01.1951.htm)> . Acesso em: 15/10/2012; São Paulo. LEI N. 6.342, de 28 de setembro de 1961. Dispõe sobre a criação de um ginásio estadual no Município de Diadema.Disponível em <(http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1961/lei%20n.6.342,%20de%2028.09.19 61.htm)>. Acesso em 15/10/2012; . São Paulo. Decreto N. 39.736, de 5 de fevereiro de 1962. Dispõe sobre a desapropriação de imóvel situado no distrito e município de Diadema, comarca de São Bernardo do Campo, necessário à construção do Grupo Escolar do Centro. Disponível em <(http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1962/decreto%20n.39.736,%20de%2 005.02.1962.htm)>. Acesso em 15/10/2012. São Paulo. Decreto N. 5.637, de 19 DE fevereiro de 1975. Dispõe sobre integração e denominação de unidades escolares. Disponível em <(http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1975/decreto%20n.5.637,%20de%20 19.02.1975.htm)>. Acesso em 05/02/2013. Anexo 1. Escola da Vila Nova Conceição Anexo 2. Ao fundo o vestiário onde funcionavam as salas de aula. Anexo 3. Foto do novo prédio do Grupo Escolar João Ramalho Anexo 4. Foto do local onde funcionava a parte administrativa do Ginásio Estadual de Diadema e do Grupo Escolar João Ramalho.