ID: 51246496
10-12-2013
Tiragem: 38650
Pág: 13
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 26,92 x 24,37 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 1
Reitor da Universidade do Algarve é
‘decisor político’ que foi actor e cantor
Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas reúne-se hoje em Faro para analisar o futuro do ensino
superior. O novo reitor da UAlg, António Branco, promete ser determinado na negociação com o Governo
JOANA BOURGARD
Ensino superior
Idálio Revez
um investigador de origem polaca
que fala cinco ou seis línguas e reside
no Algarve há três décadas.
A gravata não é peça de vestuário que
lhe assente bem, e o blazer também
não faz muito o seu estilo. António
Branco foi actor e cantor — com passagem pelos concursos do Festival da
Eurovisão — e entra em cena dentro
de momentos como reitor da Universidade do Algarve (UAlg). Filho de
António Jorge Branco (jornalista) e
sobrinho de José Mário Branco (cantor), o novo reitor, que toma posse no
próximo dia 18, promete correr riscos e apostar na internacionalização.
O principal problema da UAlg, diz
António Branco, reside na falta de
financiamento para segurar a estrutura e exportar conhecimento. Uma
dificuldade comum aos restantes estabelecimentos de ensino superior
do país, reconhece. Porém, Branco
recusa a ideia de ficar a ver passar navios. “O reitor é um decisor político”,
proclama em entrevista ao PÚBLICO, deixando um aviso ao ministro
da Educação. “Vou ser determinado na negociação com o Governo”.
Por coincidência, o Conselho de
Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) reúne-se hoje na Universidade do Algarve para debater a reorganização da rede de ensino superior
e analisar a redução do financiamento público às universidades, previsto
no Orçamento do Estado. “Não há
nenhuma maneira, a não ser política,
de resolver o problema da Universidade do Algarve e das outras”, adverte. Amanhã é a vez de o secretário
de Estado do Ensino Superior, José
Ferreira Gomes, lançar a “primeira
pedra” na construção do edifício do
Departamento de Medicina e Ciências Biomédicas da UAlg. E o que é
que vai fazer? “Vou dizer que não há
Reitor vai aos mercados
António Branco, novo reitor da Universidade do Algarve, promete “um novo olhar” sobre a instituição
nenhuma medida, por mais criativa, por mais rigorosa, que consiga
recuperar um défice de dois milhões
em 12 meses, isso não é possível do
ponto de vista financeiro”.
O sobrinho de José Mário Branco
foi actor profissional entre 1979 e
1983, na companhia Teatro do Mundo, em Lisboa, e, em 1980, concorreu ao Festival da Eurovisão, interpretando Página em Branco, letra
de sua autoria, e música de Gustavo Sequeira. Chegou ao Algarve em
1991, quando só passava um filme
por semana, no cinema de Santo
António. O Algarve, nessa altura,
recorda, “não tinha praticamente
vida cultural, ou tinha muito pouca
e muito escondida”.
A Universidade mexeu com a re-
gião e a abertura ao exterior passou
a ser feita não apenas pelos milhares
de turistas que chegam no Verão ao
aeroporto de Faro. O facto de existir agora um homem das artes e humanidades à frente da UAlg, numa
altura em que as finanças dominam
as atenções, permite antecipar uma
mudança de mentalidades.
António Branco, eleito à primeira
volta numa corrida em que disputava a liderança com Efigénio Rebelo e
Adelino Canário, observa: “O futuro
das universidades está na internacionalização”, e o Algarve neste domínio, sublinha, goza do privilégio
da localização geográfica, do clima
e de já possuir uma “larga experiência” na conquista de alunos, por
via do programa Erasmus, e de pro-
fessores estrangeiros que se fixaram
na região.
O reitor insiste na ideia de que é
necessária uma “mudança de olhares, virados para dentro e fora da instituição”. Diz que gosta de correr riscos — “estar vivo é correr riscos” — e
fala de forma solta, como se estivesse
a montar uma peça de teatro na qual
não pode prescindir de nenhum actor da companhia. “Quero uma gestão participativa — isto é uma palavra que caiu em desuso —, mas, para
mim, é muito importante”, enfatiza.
A instituição, diz, “já é cosmopolita,
mas não é olhada dessa maneira”. O
novo reitor promete assim imprimir
um “novo olhar” à instituição que vai
dirigir — não será por acaso que escolheu para vice-reitor, Tomask Boski,
A Universidade do Algarve tem disponíveis 48 cursos de licenciatura e
mestrado integrado. A oferta, diz o
reitor, é idêntica à da Universidade
de Coimbra e mais do que a Universidade Nova de Lisboa. “Há claramente
aqui uma desajustamento qualquer,
porque a dimensão não é comparável”, sublinha António Branco, defendendo que é necessário “ajustar
a oferta e capacidade” da instituição.
“Vamos ter que renovar a oferta formativa nalgumas áreas”, admite. Porém, entende que não se pode deitar
fora aquilo em que tanto se investiu.
A área das engenharias é um exemplo. “Nesta área [engenharias], neste
momento, não temos alunos e temos
capacidade instalada — professores
e laboratórios”.
Confrontado com o problema da
oferta maior do que a procura, o
reitor tenciona ir aos mercados. “A
lusofonia é, para nós, um universo
muito interessante”, diz, defendendo
a ideia de que é preciso “reinventar a
formação e pôr os professores a dar
novos cursos — o país não se pode
dar ao luxo de deitar fora aquilo em
que tanto investiu, seria um desperdício enorme”. Por isso, quando
interrogado sobre eventuais despedimentos de pessoas, responde: “O
despedimento seria um desperdício,
o país está aqui a investir há 34 anos,
a formar pessoas, a solução não seria mandá-las embora — para onde
e porquê?” A diminuição do recrutamento, comenta, “não é só um
problema das universidades, é um
problema da sociedade, as famílias
não têm dinheiro para mandar os filhos estudar”.
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Reitor da Universidade do Algarve é `decisor político` que foi actor e