8º UNICULT NUM SEI SÓ SEI QUE FOI ASSIM Autor(es) IJUCIARA APARECIDA F DO PRADO Desenvolvimento Farei uma prosa de forma bem irreverente sendo eu um homem ser de palavras Enjoado da vida pacata no campo o filho mais velho do mestre Nono de Jequitibá comunicou ao pai que iria embora ganhar o mundo Nono tentou fazer em poucas palavras que ainda tinha tempo de falar ao filho uma senha para abrir o melhor caminho perguntou ao rapaz se ele queria levar muita benção e pouco dinheiro ou muito dinheiro e pouca benção Considerando-se erudito frente ao pai que era iletrado escolheu receber muito dinheiro e pouca benção fez o desejo do filho deu a ele bastante dinheiro e o rapaz partiu sentindo se realizado Jequitinho o filho caçula mesmo condoído pelo pai decide também partir e diz ao pai que partiria também As palavras do filho enlearam os pensamentos do velho Jequitibá mas ele lembrou-se dos planos projetos que tinha pra seu filho caçula sabia que aquela experiência seria guardada em sua memória até o dia de sua morte e fez um breve julgamento essa vida é mesmo digna de ser vivida Acordou com o grito mudo da sua dor e viu diante de si o jovem rapaz com suas malas pronto para partir O velho refutou contra seus sentimentos e retomou consciência de si viu que seu filho também era portador de um nome esse menino também tinha direito de construir sua história de sofrer as próprias dores e alimentar suas esperanças Recuperou-se e disse com a voz mansa Meu filho é doloroso mas é necessário que seu velho pai reconheça que o mundo mudou lembrei-me de todas as alegrias que me deste por isso não posso lhe privar de algo que posso apenas fazer palpites vá conhecer o mundo Com o mesmo intuito de chegar ao íntimo do filho fez ao mais novo a mesma pergunta que fizera ao mais velho Você quer levar muita benção e pouco dinheiro ou muito dinheiro e pouca benção O rapazinho pensou em fazer a mesma escolha do irmão porém o olhar de amor do pai o levou a um ato quase mágico naquele momento e a força do sobrenome despertou-lhe a reflexão o seu pai havia conquistado aquele pequeno império com pouco dinheiro a custa de trabalho E das bênçãos e reconhecimentos das pessoas que o agradeciam por doação das horas de prosa com àqueles que buscavam nele algum conhecimento sobre muitas coisas que sabia e tinha imenso prazer em ensinar bem por isso ganhara como um troféu o titulo de Mestr Subitamente respondeu ao pai que queria muita benção e pouco dinheiro Com os olhos cheios de lagrimas que se mesclavam pela tristeza da partida do filho e pela alegria de saber que dali partiria um verdadeiro Jequitibá disse Sente-se meu filho pois para lhe dar muita benção carece que você se tarde um tanto mais a partir Mestre realmente tinha a vocação de uma linguagem simples entretanto até estrelas e pedras o entendiam Amado Vais deparar nesse mundão de meu Deus com pessoas boas e más e algumas delas com discurso bonito de só vê a fala pode dizer o que não quer dizer e você observe atentamente para avaliar se elas são ou não confiáveis pois existe uma distancia grande entre o falar e o agir as palavras às vezes são que nem presente de grego Outra coisa A preocupação com os outros é o nosso inferno atenta a isso não abandone nunca os seus sonhos e sua realização por aquilo que os outros vão pensar de você e não se esqueça de que tudo depende da maneira que dizes as coisas Mestre Nono sabia que poderia em apenas uma trindade vocabular ter abençoado seu filho mas usou o discurso pois ele que faz O mundo não disse apenas Vá com Deus três palavrinhas corriqueiras mas que diriam tudo àquilo que Mestre Jequitibá disse ao seu filho nesse discurso sabia que cada palavra ou grupo de palavras é uma metáfora Vá com Deus é sucinto no entanto portador dos maiores e melhores votos àquele a quem é dito são bem dizeres como que estejas sempre protegido meu zelo é para que estejas longe dos males que os homens podem te causar tenhas sempre o caminho sem pedras que tudo te corra bem que se aperfeiçoe que confie em você mesmo porque é especial que seja sempre leal consigo e com os outros que sejas feliz honrado e tantas mais inefáveis e aspirações benévolas Por fim o velho saudou seu amado Jequitinho como ele o chamava dando-lhe a benção entregou a ele um saquinho com um vidrinho de arco um pouco de tarco uma verva e disse filho confie que eu te amo e que o meu amor te acompanhará sempre E assim com muita benção e pouco dinheiro ele partiu Caminhou por muitas estradas atravessou muitos rios passou por vales e por montanhas passou calor e frio viu lugares lindos e conheceu de perto a pobreza e a fome esteve com mulheres muito inteligentes e com algumas desequilibradas viu terras de guerra e de paz e a cada casa em que era acolhido contava o conto de fadas que seu pai inventara e lhe contava todas as noites Seu Nonô não podia ler histórias pois não era alfabetizado contudo era o que podemos chamar de Mestre ignorante Jequitinho tinha o dom, era um verdadeiro contador de histórias era capaz como seu pai de tornar as coisas pelas s palavras muito mais interessantes Ainvenção do velho Jequitibá dizia que um tocador de sanfona de apelido Zé Risonho, foi trabalhar em sítio como vigilante noturno de uma horta O patrão era um homem muito rico e poderoso mas muito sovina não dava uma folha de alface sequer para ninguém já que o contratou avisou que se faltasse um pé verdura da sua plantação o serviçal seria punido com rigor e mandado embora sem direito algum Deitado na rede em frente ao portão da imensa horta ele ouviu uma voz que cantava uma melodia estranha mas ao mesmo tempo muito alegre dizia mais ou menos assim Piriá mandinguê arroz mandinguê mandioca furrubê Ficou ouvindo tentando descobrir de onde viria aquela voz já tão tarde numa noite tão escura O ritmo o contagiou ele pegou o seu fole como chamava a sanfona e começou acompanhar a música de repente ele avistou um cavalo alazão velho e mancando Então ele perguntou quem está ai E o cavalo respondeu Eu Era o cavalo falando O susto foi enorme que quase a sanfona foi pro chão Cavalos não falam Eu não só falo como também canto e se não estivesse com a pata machucada me arriscaria a tocar um baião pra você, eu sou um cavalo encantado Zé quis ajudar o cavalo apressou-se em pegar umas ervas para curar seu ferimento curou até uma bicheira que ele tinha na testa em formato de cruz Zé perguntou se Alazão estava com sede e ele estar caminhando a mais de 40anos para achar alguém que pudesse escutá lo sim com muita sede e também com fome O rapaz pegou água fresca da sua botija e decidiu apanhar a alface se garantnido pelo argumento de quemnegaria comida para alguém com fome principalmente sendo ele um cavalo velho doente encantado um ser que fala Abriu a porteira e mandou o cavalo comer a vontade Satisfeito deitou-se ao lado da rede e disse Rapaz esteja onde estiveres, quando você precisar de mim chame pelo Rei dos cavalos Alazão Zé jogou sobre o Alazão uma pequena manta e dormiu também No dia seguinte o cavalo já não estava mais lá ele correu até a horta lá não faltava uma alface sequer as verduras tinham ficado mais bonitas ele pensou que tudo não passara de um sonho Zé resolveu ir participar de uma competição da qual o vencedor seria marido da princesa Indiara O cavaleiro que conseguisse tirar o anel do dedo da moça com a ponta da espada sem feri-la seria o felizardo e futuro rei da cidade chamada Ondeopeixepára Comprou do patrão um cavalo e foi Na cidade seu cavalo foi roubado e teve a informação que para competir precisava usar armadura Avexado resolveu voltar para o sítio sendo impossível competir sem cavalo e sem a vestimenta exigida Sentou-se a sombra de uma arvore para ver os pássaros cantar e pegar o cominho de volta quando sua contemplação foi interrompida pelo grito do povo A princesa Indiara Viu então a belíssima moça acenando pro povo escoltada pelos Três Mosqueteiros Quando ela passou perto do Zé e seus olhares se cruzaram eles descobriram que não poderiam mais viver longe um do outro, seus corações foram arrebatados, ele pegou a sanfona e tocou para ela uma música “Por causa dela sou rapaz muito capaz de trabalhar, todos os dias todas noites capinar, eu sei carpir porque minh’alma está arada roceada capinada com a foiçada dessa luz do teu olhar. A princesinha se apaixonou por ele mas teve que seguir conforme as leis impunham Ela chorou porque sabia que aquele humilde rapaz com sua sanfona jamais poderia ser o rei e ele chorou por ser um pobre rapaz No caminho de volta ele se lembrou do sonho e sem nenhuma certeza chamou em voz alta Valha-me Rei dos cavalos Alazão Apareceu um cavalo branco lindo como nunca se havia visto sua crina chegava a brilhar com a luz do luar na sua testa um pingente de diamantes e rubis em formato de cruz o arreio era trabalhado em ouro e jades no suporte lateral tinha a mais bela espada de prata já vista antes na terra eram de sobre o arreio havia uma armadura, tão ou mais bonita que a dos Mosqueteiros O cavalo disse _ demorou em que precisasse de mim sanfoneiro eis me aqui O rapaz não se continha de tanta alegria perguntou como podia um cavalo velho e feio ter se tornado um animal tão precioso Alazão falou que depois de ser alimentado não pelas alfaces mas pela virtude que vinha de dos homens cada dia se fortalecera quanto melhores homens houvesse no mundo mais encantamento eles encontrariam em suas vidas e também que tudo o que o homem faz de bom ou de ruim ele recebe de volta um milhão de vezes mais vestiu sua roupa e montou o cavalo que de tão veloz parecia voar para chegar a tempo no torneio Na competição o jovem sanfoneiro fez muito sucesso e conseguiu ser o vencedor Sobre o cavalo encantado e com a espada e tirou o anel do dedo da princesa Tudo que houve ali naquele reino “Olho nenhum viu ouvido nenhum ouviu mente nenhuma jamais imaginou que tamanha felicidade beleza e amor pudessem caber dentro de uma cidade E viveram felizes para sempre Em todos lugar que Jequitinho passou deixou a marca sua e do seu pai Depois de muito tempo chegou a uma cidade bonita onde decidiu se estabelecer fez amizade com um político que o convidou para jantar no intuito de que rapaz trabalhasse para ele Sem dinheiro para se manter Jequitinho aceitou o convite Chegou a casa de seu anfitrião Na mesa viu que todos estavam colocados ao seu lado sentou-se uma belíssima moça que se apresentou como filha do homem No meio do jantar entre a boa conversa que seguia começou a sentir em seu ventre um desconforto absurdo e deu-lhe uma insuportável vontade de fazer um pum Se contorceu discretamente segurou o máximo que foi possível porém no seu mais sutil movimento um estrondo ecoou e todos olharam pra ele A vergonha do pobre foi tanta que no mais profundo desespero a única coisa que ele disse foi Ai meu Deus Antes a terra abrisse e eu entrasse dentro Num piscar de olhos a terra se abriu e ele caiu num profundo buraco Tocou o chão um homem franzino de bigodinho disse Moço me ajude os guardas do rei num rompante os guardas chegaram e os prenderam E foram levados à presença do rei que disse bigodinho Você é o único nesse reino que pode interpretar o meu sonho e vai fazê-lo agora mas antes vais me dizer quem é este AI Imediatamente Jequitinho se apresentou estou ao seu dispor O rei perguntou se ele sabia interpretar sonhos percebendo o temor do homenzinho viu que sua palavra como o seu pai dissera tinha o poder da vida e da morte Majestade O conhecimento serve a necessidade de viver e principalmente se souber qual o foi o sonho escreverei com meu próprio sangue uma resposta digna de sua majestade No sonho perdi nove dedos das mãos Jequitinho indagou baixinho o homenzinho O que têm respondido os sábios para o rei E o homem disse cada dedo perdido era um de seus assessores que seria morto o moço se viu em uma situação funesta não tinha dom de interpretar sonhos temeu por sua vida E então senhor João de Jequitibá o que me diz Como seu pai ao se lembrar do amigo Ruben Alves dizia Os Antigos quando queriam prognosticar o futuro sacrificavam os animais consultavam-lhes as entranhas Eu não preciso disso O seu sonho vossa majestade é que dentre todos os assessores em seu reinado o rei é quem terá o triunfo de sobreviver a muitas guerras Salve o rei anunciaram ao povo as boas novas e todos celebraram a vida longa de seu rei O rei fez com que Jequitinho pegasse o cajado que representava autoridade máxima naquele reino o rei deu a ele tudo estudou leu e conheceu muitas coisas das quais só conhecia de ouvir falar Nesse momento o político começou a bater palmas e todos da mesa se levantaram para aplaudir o moço que teve uma estratégia invejável diante de uma situação extremamente constrangedora Foi contratado e ainda é o braço direito do político que hoje se tornou o atual presidente daquele país Toda essa história eu ouvi da boca do próprio Nonô de Jequitibá Cassirer o filósofo tem razão quando afirma que neste mundo humano a faculdade da fala ocupa um lugar no centro e aproveito ainda para parafrasear Ariano Suassuna a esperteza nas palavras é arma do pobre